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Brasília-DF. Farmacoepidemiologia e Semiologia Elaboração Juliana Meira Guedes Produção Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração Sumário APRESENTAÇÃO ................................................................................................................................. 5 ORGANIZAÇÃO DO CADERNO DE ESTUDOS E PESQUISA .................................................................... 6 INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 8 UNIDADE I SAÚDE PÚBLICA E EPIDEMIOLOGIA ......................................................................................................... 9 CAPÍTULO 1 INTRODUÇÃO À SAÚDE PÚBLICA E À EPIDEMIOLOGIA ............................................................... 9 CAPÍTULO 2 CONCEITOS E TIPOS DE ESTUDOS ........................................................................................... 14 UNIDADE II OS MEDICAMENTOS E A SAÚDE PÚBLICA.............................................................................................. 25 CAPÍTULO 1 FARMACOEPIDEMIOLOGIA ..................................................................................................... 25 CAPÍTULO 2 OUTROS ESTUDOS DE FARMACOEPIDEMIOLOGIA ................................................................... 43 UNIDADE III USO RACIONAL DE MEDICAMENTOS E REAÇÕES ADVERSAS ................................................................ 46 CAPÍTULO 1 O MERCADO FARMACÊUTICO ............................................................................................... 46 CAPÍTULO 2 REAÇÕES E EVENTOS ADVERSOS ............................................................................................ 50 CAPÍTULO 3 RELAÇÃO DA FARMACOEPIDEMIOLOGIA COM RAM/EAMS .................................................... 61 UNIDADE IV DESENVOLVIMENTO DE NOVOS FÁRMACOS ........................................................................................ 64 CAPÍTULO 1 FARMACOLOGIA CLÍNICA ...................................................................................................... 64 CAPÍTULO 2 FARMACOVIGILÂNCIA............................................................................................................ 70 CAPÍTULO 3 MEDICAMENTOS .................................................................................................................... 73 UNIDADE V INTRODUÇÃO À SEMIOLOGIA FARMACÊUTICA ..................................................................................... 76 CAPÍTULO 1 INTRODUÇÃO À SEMIOLOGIA FARMACÊUTICA ........................................................................ 76 CAPÍTULO 2 SEMIOLOGIA FARMACÊUTICA ................................................................................................. 82 CAPÍTULO 3 MÉTODOS A UTILIZAR .............................................................................................................. 93 PARA (NÃO) FINALIZAR ................................................................................................................... 101 REFERÊNCIAS ................................................................................................................................ 104 5 Apresentação Caro aluno A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se entendem necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade. Caracteriza-se pela atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela interatividade e modernidade de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da Educação a Distância – EaD. Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade dos conhecimentos a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos específicos da área e atuar de forma competente e conscienciosa, como convém ao profissional que busca a formação continuada para vencer os desafios que a evolução científico-tecnológica impõe ao mundo contemporâneo. Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo a facilitar sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na profissional. Utilize-a como instrumento para seu sucesso na carreira. Conselho Editorial 6 Organização do Caderno de Estudos e Pesquisa Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos básicos, com questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam tornar sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também, fontes de consulta para aprofundar seus estudos com leituras e pesquisas complementares. A seguir, apresentamos uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de Estudos e Pesquisa. Provocação Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor conteudista. Para refletir Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões. Sugestão de estudo complementar Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo, discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso. Atenção Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a síntese/conclusão do assunto abordado. 7 Saiba mais Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões sobre o assunto abordado. Sintetizando Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos. Para (não) finalizar Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado. 8 Introdução Caro aluno, Esta disciplina tem como objetivo fornecer uma pequena introdução à Saúde Pública conceitos básicos de Farmacologia Clínica e Epidemiologia e Semiologia Farmacêutica. Discutiremos questões referentes à farmacoepidemiologia e sobre as diferentes fases de Desenvolvimentos de Novos Fármacos. Também abordaremos a Segurança nas Etapas de Investigação. Será discutido o uso de Medicamentos e a Farmacovigilância; Reações e Eventos Adversos na Administração de Medicamentos e a Responsabilidade Sanitária. E apresentaremos a nova modalidade de atuação profissional Farmacêutica: Semiologia. Objetivos » Revisar os princípios básicos da Saúde Pública e sua relação com a epidemiologia e metodologia. » Adquirir conhecimento em Farmacoepidemiologia. » Conhecer as características dos principais modelos de estudos epidemiológicos aplicados ao estudo do medicamento. » Analisar e conhecer os conhecimentos básicos sobre a metodologia epidemiológica aplicada ao estudo do risco e do benefício associado ao uso do medicamento. » Compreender o racional de estudos de utilização de medicamentos. » Avaliar e interpretar criticamente os resultados de estudos farmacoepidemiológicos. » Adquirir conhecimentos e discutir do sistema de notificação ao Sistema Nacional de Farmacovigilância. » Conhecer os processos de identificação de reações adversas. » Conhecer e discutir questões importantes como erros na administração de medicamentos. » Introdução ao conceito e métodos de semiologia farmacêutica. 9 UNIDADE ISAÚDE PÚBLICA E EPIDEMIOLOGIA CAPÍTULO 1 Introdução à saúde pública e à epidemiologia Não é fácil obter uma única definição sucinta e clara sobre o conceito de Saúde Pública. Durante anos, vários autores contribuíram com o seu estudo e terminaramaportando cada um a sua definição. Seus conceitos e as suas visões podem abordar desde um conceito mais político, como também um conceito de serviços de saúde, ou então conceitos de saneamento básico e meio ambiente. É importante entender que a Saúde Pública é uma disciplina que trata da proteção da saúde em nível populacional. Nesse sentido, a Saúde Pública procura melhorar as condições de saúde das comunidades por meio da promoção de estilos de vida saudáveis, das campanhas de sensibilização, da educação e da investigação. Em resumo, ela surge de vários movimentos, tanto na Europa quanto nas Américas, como forma de controlar as endemias e epidemias que ameaçavam a ordem econômica vigente e, depois, como controle social, buscando a erradicação da miséria, desnutrição e analfabetismo existentes na época. Saúde Pública Existem muitas definições sobre o que é a Saúde Pública, mas talvez a que mais se identifica com sua verdadeira essência é a definição de Winslow (1920) e Terris (1991), que conceituam a saúde pública como “a arte e a ciência de prevenir a doença e a incapacidade, prolongar a vida e promover a saúde física e mental mediante os esforços organizados da comunidade” (TERRIS apud PAIM, p.12). 10 UNIDADE I │ SAÚDE PÚBLICA E EPIDEMIOLOGIA Seu diferencial com a medicina é o conceito do coletivo e de comunidade, e entende-se que é na população que se deve focar a solução de problemas e eventos de saúde. São exemplos de preocupação com o conceito coletivo e o entorno: aleitamento materno, hábitos da população, estilos de vida, se fumam, como é a dieta e o nível de nutrição, as atividades físicas que realizam, a habitação e a existência de um saneamento básico, cloacas, boas condições de trabalho, educação, apoio social para famílias, educação, promoção, atenção materna infantil, prevenção e controle de doenças endêmicas, DST, distribuição de medicamentos básicos, entre outros. Em nossa Constituição Federal de 1988, a Saúde Publica e o direito à saúde são vistos entre os artigos 196 e 200, que falam sobre as responsabilidades e direitos de cada cidadão e reúnem um conjunto de ações voltadas à promoção, à proteção e à recuperação da saúde. Encontramos, no primeiro e no segundo artigos, o conceito do direito à saúde, em que o dever do Estado é garantir não apenas serviços públicos de promoção, proteção, assistência e recuperação da saúde, mas de adotar políticas econômicas e sociais que melhorem as condições de vida da população. E com essa visão surge o Sistema Único de Saúde ─ SUS, Sistema Público de Saúde brasileiro, ao qual e a outros setores da Administração Pública é atribuído o dever de cuidar da população e de sua saúde. Com a criação do SUS, toda a população brasileira passou a ter direito a saúde universal, equitativa e gratuita, que deve ser fornecida pelos três órgãos federativos, e não somente do Estado. Esses órgãos federativos são responsáveis também pela saúde da população: União, Estados, Distrito Federal e os Municípios. Esse novo conceito de saúde considera alimentação, moradia, saneamento, meio ambiente, trabalho, educação, transporte etc. fatores determinantes; impõe aos órgãos que compõem o Sistema Único de Saúde o dever de identificar esses fatos sociais e ambientais, e ao Governo o de formular políticas públicas condizentes com a elevação do estilo e modo de vida da população. Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação. Art. 197. São de relevância pública as ações e serviços de saúde, cabendo ao Poder Público dispor, nos termos da lei, sobre sua regulamentação, fiscalização e controle, devendo sua execução ser feita diretamente ou 11 SAÚDE PÚBLICA E EPIDEMIOLOGIA │ UNIDADE I através de terceiros e, também, por pessoa física ou jurídica de direito privado. Fonte: (Constituição Federal – Artigos 196 a 200 – Seção II – DA SAÚDE). Acessem o site da OMS e descubram quais são as funções essenciais da Saúde Pública: <http://www.who.int/en/>. Você poderá escolher o idioma inglês ou espanhol. Aqui <http://www.conselho.saude.gov.br/14cns/docs/constituicaofederal. pdf> podemos encontrar todos os artigos relacionados ao Direito à Saúde e à Constituição Federal de 1988. Epidemiologia A Epidemiologia e a Saúde Pública sempre caminharam juntas e, por isso, foram se definindo e fazendo sentido em conjunto desde muito tempo. Para a Saúde Pública, seu elemento principal e diferencial de estudo é a saúde coletiva, saúde e bem-estar da comunidade e da população. No final do século XIX, houve uma explosão de doenças infecciosas, epidemias e endemias que preocuparam e mobilizaram toda a área de saúde dessa época, e é justo nesse momento que se inicia a produção de medicamentos em grande escala. Com essa grande produção, tempos depois, surge o uso abusivo de medicamentos, as reações adversas aos medicamentos, a resistência da ação medicamentosa e não controle de doenças infecciosas na população. É a medida que aumenta o número de medicamentos no mundo e também a preocupação por parte dos profissionais da área de saúde em como utilizar devidamente esse “recurso”. Por isso, a contribuição da epidemiologia ao estudo dos medicamentos nas sociedades, apesar de ser um tema ainda pouco conhecido, é muito importante. Vários acontecimentos no decorrer da história nos mostram que conhecer bem a utilização de um medicamento é muito significativo. Em 1937, mais de 100 crianças morreram nos Estados Unidos (EUA) ao utilizar um dos primeiros antibióticos, que, em sua composição, continha uma base de elixir de sulfanilamida e, como veículo, o dietilenoglicol. Apesar de o conhecimento dos efeitos tóxicos do solvente serem bem estabelecidos naquela época, não eram conhecidos pelo próprio fabricante do elixir. http://www.who.int/en/ http://www.conselho.saude.gov.br/14cns/docs/constituicaofederal.pdf http://www.conselho.saude.gov.br/14cns/docs/constituicaofederal.pdf 12 UNIDADE I │ SAÚDE PÚBLICA E EPIDEMIOLOGIA Um ano depois desse incidente, uma lei nos Estados Unidos criou a Food and Drug Administration (FDA), que previa que as indústrias farmacêuticas deveriam, por lei e supervisão desse órgão, fornecer a eles todos os dados clínicos sobre segurança de novos medicamentos antes da permissão para a sua comercialização. Depois, outro ocorrido marcante foi no início da década de 1950, quando casos de uso terapêutico de cloranfeniclol, outro antibiótico de amplo espectro, eficaz contra bactérias gram-negativas, gram-positivas e riquetsias, induziu em alguns pacientes a anemia aplástica, tipo de anemia que ocorre quando a medula óssea produz em quantidade insuficiente os três diferentes tipos de elementos sanguíneos: glóbulos vermelhos, glóbulos brancos e as plaquetas como efeito adverso. Em 1960, o FDA lançou um programa de notificação de efeitos adversos causados pelos medicamentos. Nesse mesmo momento também publicou os primeiros estudos de utilização de medicamentos, em que falava sobre a comercialização, a distribuição, a prescrição, a dispensação e o uso de medicamentos em uma sociedade, enfatizando especialmente as consequências médicas, sociais e econômicas que resultam dessa utilização. Relacionado ao uso de medicamentos, o fato mais marcante ocorreu em 1961 e foi conhecido como o surto de focomelia, que atingiu vários países onde o produto era comercializado. Alguns dados nos mostram que mais de 10.000 crianças nasceram deformadas em consequência do uso da talidomida por mães durante a gestação; aproximadamente 5.000 recém-nascidos sobreviveram a esse fato. A utilização de um único comprimido já podia resultar em focomelia. A Talidomida foi desenvolvida como um sedativo anti-inflamatório, mas seu efeito adverso resultou nafocomelia. Focomelia é uma síndrome caracterizada pela aproximação ou encurtamento dos membros junto ao tronco do feto, tornando-os semelhantes aos de uma foca. Ela provoca graves defeitos e más-formações visuais, auditivas, da coluna vertebral e, em casos mais raros, do tubo digestivo e problemas cardíacos. Quando finalmente se realizaram os estudos epidemiológicos do uso da talidomida, comprovou-se que os seus efeitos eram teratogênicos, ou seja, podem gerar um defeito congênito durante a gestação do feto. Com o FDA nos Estados Unidos, o medicamento talidomida já havia sido retirado do mercado com o alerta de alguns efeitos colaterais indesejáveis, como o hipotireoidismo 13 SAÚDE PÚBLICA E EPIDEMIOLOGIA │ UNIDADE I e neuropatia periférica, e praticamente não houve incidentes relacionados ao seu uso e a focomelia. E foi nesse cenário que se iniciaram os primeiros estudos com enfoque na utilização racional de medicamentos, com base na necessidade de se conhecer e relatar os problemas relacionados à medicação e à elevada morbidade e mortalidade associada ao uso inadequado dos medicamentos. Em 1965, o medicamento volta ao mercado brasileiro e hoje ainda faz parte dele, com outras indicações. Mas, sabendo-se dos seus efeitos teratogênicos, a Talidomida é um medicamento vigiado por nossa autoridade sanitária e por força da Portaria no 354, de 15 de agosto de 1997, proibida para mulheres em idade fértil e grávidas em todo o território nacional. E para o sexo masculino, conforme a Resolução no 140/2003 da ANVISA, a bula do medicamento informa que “os homens que utilizam a Talidomida e mantém vida sexual ativa com mulheres em idade fértil, mesmo tendo sido submetidos à vasectomia, devem ser orientados a adotar o uso de preservativo durante o tratamento” e ainda “sobre a importância dos usuários não doarem sangue ou esperma”. E seu uso vem acompanhado de uma notificação ao usuário e um termo de consentimento para seu uso. Podemos citar outros vários casos, mas o mais importante foi aprender com esses grandes sustos mundiais e, a partir de então, entender que a ideia do medicamento como produto de qualidade e segurança absoluta deve ser questionada. O avanço da farmacologia clínica e de seus conhecimentos sobre o efeitos dos medicamentos nos permite compreender mais claramente a diferença sobre os efeitos terapêuticos e os efeitos indesejáveis, ambos presentes durante o uso de um medicamento. A indústria farmacêutica é um dos maiores complexos industriais no mundo. Por isso, à medida que aumenta o número de medicamentos no mundo, e apesar dos novos e sofisticados métodos para a produção, maior é a necessidade de estudá-los, e esse também é um dilema da Farmacoepidemiologia. 14 CAPÍTULO 2 Conceitos e tipos de estudos Conceito de epidemiologia A palavra Epidemiologia deriva de três vocábulos gregos: EPI – que significa “sobre”; DEMOS – que quer dizer “população”; e LOGOS – que pode ser traduzido como “tratado”, “estudo”. Ou seja, Epidemiologia é o ramo da Ciência de Saúde que estuda o que ocorre sobre a população. Ela é considerada como uma disciplina básica da Saúde Pública, que se ocupa de uma dimensão coletiva utilizando métodos de estudos biológicos. A epidemiologia tem sido indicada, há quase meio século, para o uso diverso, como a descrição de doenças em populações, identificação de grupos suscetíveis, além da avaliação de serviços, programas e ações de saúde (MORRIS, 1975). Tradicionalmente, é o estudo das relações dos diferentes fatores que determinam a frequência e distribuição das doenças em uma comunidade, assim como o conhecimento de dados para a intervenção orientada ao controle e erradicação dessas doenças. Deve-se observar que a Epidemiologia preocupa-se com a saúde coletiva, e não somente de um indivíduo. Também se preocupa com as condições que dizem respeito ao estado de saúde do entorno da população. Na prática da investigação epidemiológica, nos locais de saúde e nos institutos sanitários, a epidemiologia desenvolveu primeiramente seu interesse em alguns eventos ou problemas de saúde que, por diversas razões, foram classificadas como prioridade. Devido a isso, desenvolveu-se a epidemiologia de doenças infecciosas, crônicas e degenerativas, de acidentes, mentais e recentemente as doenças ambientais. Tempos depois surgiu a epidemiologia clínica, que é a aplicação de princípios e métodos epidemiológicos em problemas encontrados na clínica médica, analisando e medindo as observações científicas em medicina. A epidemiologia clínica procura responder essas questões e ajudar a tomar decisões com a melhor evidência disponível. Tem sua derivação da epidemiologia porque foi 15 SAÚDE PÚBLICA E EPIDEMIOLOGIA │ UNIDADE I desenvolvida por epidemiologistas que utilizaram métodos que analisam os cuidados administrados aos doentes individuais e os expõe ao contexto de um grupo maior da população de que o doente faz parte. Os objetivos principais desse tipo de modalidade são: definições de normalidade e anormalidade, validade dos testes de história natural e prognóstico das doenças, a efetividade do tratamento e prevenção na prática clínica, análise de riscos e benefícios dos procedimentos diagnósticos e terapêuticos e avaliação dos serviços de cuidados de saúde (<http://whqlibdoc.who.int/publications/2010/9788572888394_por.pdf>). E, por fim, surgiu a epidemiologia social, que analisa os determinantes sociais do processo saúde-doença. O que distingue a epidemiologia social das outras abordagens epidemiológicas é que aqui se analisa a evolução do processo de saúde com as condições de seu entorno e a educação recebida pela população analisada. Analisam-se discussões, questões locais, regionais, estaduais, nacionais e internacionais, os mercados financeiros, o lixo, pobreza, as catástrofes ambientais, o desemprego, a desnutrição, a precariedade do trabalho, o trabalho escravo e as condições de vida em escala mundial. Todas essas informações e toda essa investigação dos cuidados de saúde podem ser muito úteis para gestão, recomendações, melhores práticas etc. A utilização efetiva da epidemiologia no planejamento das ações em saúde é um assunto muito importante por sugerir uma tomada de decisão e por refletir na prevenção de doenças e promoção da saúde de toda a população. Estudos epidemiológicos A investigação epidemiológica consiste na aplicação de estudos que relacionam fatores e doenças, e também estratégias com a finalidade de analisar os dados obtidos, visando à melhoria da saúde da população. Praticamente os estudos Epidemiológicos se dividem e se fundamentam nos seguintes métodos: » descritivos: estudos de simples descrição e da distribuição dos problemas e/ ou eventos de saúde em determinadas populações e/ou diferentes grupos de uma mesma população, em que se identificam os grupos de risco, as suas características e as suas necessidades. A epidemiologia descritiva examina a incidência (casos novos) ou a prevalência (casos existentes); » analíticos: são estudos desenhados especialmente para examinar a validade de algumas hipóteses e questões científicas que relacionam http://whqlibdoc.who.int/publications/2010/9788572888394_por.pdf 16 UNIDADE I │ SAÚDE PÚBLICA E EPIDEMIOLOGIA eventos, como uma suposta “causa” e um dado “efeito”, ou “exposição” e “doença”. Ou seja, ele pode começar em um estudo descritivo, em que se selecionam grupos ou determinadas populações e se realizam estudos que procuram esclarecer uma dada associação entre uma exposição, em particular, e um efeito específico previamente já formulado. Sempre haverá dois grupos, já que o estilo dos estudos analíticos é comparativo. Com isso, haverá no mínimo dois grupos de indivíduos estudados: o grupo “estudo” e o grupo de comparação, conhecido como “grupo controle”; » experimental: são estudos em que se manipulam, modificações de frequência, intensidade da suposta causa e resultados. Aqui o investigador intervém,manipulando pequenos estímulos e possibilidades, e questiona se a determinada intervenção funciona e qual é o seu efeito e resultado. Portanto, podemos definir esse tipo de estudo como um teste ou até uma comparação. A intervenção experimental pode ser uma nova droga a ser testada ou uma nova conduta de tratamento. Como é o investigador quem diz para quais indivíduos vai dar a intervenção e quais vão continuar recebendo a antiga intervenção ou nenhuma, ele tem a possibilidade de tornar os dois grupos estudados muito semelhantes entre si utilizando uma escolha do tipo aleatória ou randomizada, que poderia ser por sorteio ou escolha ao azar; » observacionais: nesse método, o investigador do estudo não intervém, mas realiza as medições e as investigações necessárias na sua amostra. São conhecidos como desenhos epidemiológicos, em que os grupos de estudo e o de controle estão separados com as características já existentes nos indivíduos de cada grupo que os diferenciam. Esses desenhos são classificados como: Transversal, Coorte, Caso-Controle e Ecológico. Em realidade, devido a algumas características de cada grupo, podemos observar que um tipo de estudo tem uma próxima etapa que seria o outro tipo de estudo. Em todos estudos se incluem critérios de observações, análises, pesquisa analítica e experimentos. Analisam-se tempo, local e características dos indivíduos, e estes são fatores determinantes, assim como os outros fatores analisados: físicos, biológicos, sociais, culturais e comportamentais que já sabemos, entendendo o que é Saúde Pública e Epidemiologia, que podem influenciar a saúde: condições relacionadas à saúde incluem doenças, causas de mortalidade, hábitos de vida (como tabagismo, dieta, atividades físicas, estilo de vida etc.), provisão e uso de serviços de saúde e de medicamentos. 17 SAÚDE PÚBLICA E EPIDEMIOLOGIA │ UNIDADE I O esquema da divisão desses estudos e suas próximas etapas são: » descritivos; » analíticos: › experimentais; › observacionais: · transversal; · coorte; · caso controle; · ecológicos. Estudos epidemiológicos: observacional transversal O estudo transversal, também conhecido como estudo de prevalência, tem como objetivo principal medir a prevalência de determinado evento. É o mais utilizado em epidemiologia, já que apresenta muitas vantagens. Para a realização de um estudo transversal, o investigador tem que, primeiro, definir a questão a responder; depois, definir a população a estudar e selecionar um método de escolha da amostra; e, por fim, definir os fenômenos a estudar e os métodos de medição das variáveis de interesse. Vantagens A maior vantagem dos estudos transversais é que permitem tirar conclusões sem a existência de um período de seguimento. Essas questões tornam os estudos transversais mais baratos, mais rápidos, mais fáceis em termos logísticos e não sensíveis aos problemas como as perdas de seguimento e outros, característicos de outros estudos, como os estudos longitudinais. Esse tipo de estudo é a única maneira de calcular a prevalência das doenças e dos fatores de risco. São também estudos adequados à análise de redes de causalidade. Desvantagens A maior desvantagem é a impossibilidade de estabelecer relações causais, já que não podem provar a existência de uma sequência temporal entre exposição ao fator estudado e o subsequente desenvolvimento da doença. 18 UNIDADE I │ SAÚDE PÚBLICA E EPIDEMIOLOGIA O fato de nos estudos transversais só se poder medir a prevalência, e não a incidência, torna limitada a informação produzida por esse tipo de estudo no que diz respeito à história natural das doenças e ao seu prognóstico. Nos estudos transversais, temos a população-alvo e, a partir dela, a amostra a estudar: 1. expostos e doentes; 2. expostos e não doentes; 3. não expostos e doentes; 4. não expostos e não doentes. Estudos epidemiológicos: observacional coorte Nos estudos de coorte, o investigador forma os grupos de expostos e não expostos a determinado fator de interesse, ou entre as pessoas que já apresentam cada uma das condições que ele deseja analisar, e os segue durante algum tempo para verificar os efeitos da exposição, por comparação dos dois grupos. O termo coorte é utilizado para designar um grupo de indivíduos que têm em comum um conjunto de características e que são observados durante determinado período de tempo com o intuito de analisar a sua evolução. Em estudo de coorte é, inicialmente, agrupado um conjunto de indivíduos conhecidos como coorte que não apresentam o resultado esperado outcome. Dessa maneira, estudamos como a presença de determinada característica influencia no aparecimento de determinada doença e comparamos os riscos de desenvolver a doença daqueles que têm tal característica com o risco daqueles que não a têm. Vantagens Os estudos de coorte são a melhor alternativa aos estudos experimentais, que são muitas vezes inviáveis em investigação. Uma das principais vantagens desses estudos é ser o melhor método de estudar a incidência e história natural das doenças. Os estudos de coorte são estudos prospectivos que permitem uma medição das variáveis, porque se determinam exposições no presente sem ter que recorrer à memória dos indivíduos, ou outras fontes indiretas, o que poderia ser relevante para determinação. 19 SAÚDE PÚBLICA E EPIDEMIOLOGIA │ UNIDADE I Com ele, as determinações são feitas antes de o resultado esperado, geralmente uma doença, ter acontecido, evitando, assim, o enviesamento inerente à determinação da exposição em um indivíduo que conhece o seu estado de doente. Ainda relacionado com o carácter prospectivo dos estudos de coorte está o fato de estes permitirem apresentar resultados com crescentes tempos de seguimento, aumentando, assim, à medida que o tempo de seguimento se torna mais longo, o número de casos e o poder estatístico do estudo, à custa de um modesto aumento no custo do estudo. Desvantagens Cientificamente falando, a maior desvantagem dos estudos observacionais de coorte é estarem sujeitos aos erros sistemáticos dos estudos experimentais, uma vez que não se controla diretamente a exposição ao fator em estudo. Importante exemplo desse tipo de erro são os fatores de confusão que as pessoas que são expostas a um determinado fator de risco, provavelmente, diferem do grupo de não expostos com que são comparados em muitos outros fatores para além daquele que se pretende estudar. Como exemplo de este tipo de erro, estão os fatores de confusão, já que as pessoas que estão expostas a um determinado fator de risco, diferem do grupo dos não expostos, em muitos outros fatores também. Se tais fatores estiverem relacionados com a doença, poderão ser eles que figurarão nos resultados, e não o fator que se pretende estudar.. A esses outros fatores que estão associados simultaneamente à doença em estudo e ao fator em causa e que confundem a relação entre este e a doença dá-se o nome de fatores de confusão. Outro fator de desvantagem é que esse estudo podem tornar mais caro e mais difícil e também a dificuldade no seguimento dos doentes nos estudos de coorte já que se deve prolongar por um período de tempo suficientemente longo como para permitir que o risco inerente à exposição se manifeste. A principal limitação para o desenvolvimento de um estudo de coorte, além do seu custo financeiro, é a perda de participantes ao longo do seguimento por conta de recusas para continuar participando do estudo, mudanças de endereços ou emigração. Os custos e as dificuldades de execução podem comprometer o desenvolvimento. Estudos epidemiológicos: observacional caso-controle Nos estudos de caso-controle, o investigador forma dois grupos, o grupo de doentes e o grupo de não doentes, entre as pessoas que já apresentam cada uma das condições para 20 UNIDADE I │ SAÚDE PÚBLICA E EPIDEMIOLOGIA estimar fatores de risco para a doença, comparando as exposições a que os dois grupos estiveramsujeitos. Os estudos de caso-controle e os estudos de coorte podem ser utilizados para investigar a etiologia de doenças ou de condições relacionadas à saúde entre idosos, determinantes da longevidade; e para avaliar ações e serviços de saúde. Os estudos de coorte também podem ser utilizados para investigar a história natural das doenças. Nos estudos caso-controle, primeiramente, identificam-se indivíduos com a doença (casos) e, para efeito de comparação, indivíduos sem a doença (controles). Os estudos caso-controle e os estudos de coorte podem ser utilizados para investigar a etiologia de doenças ou de condições relacionadas à saúde entre idosos, determinantes da longevidade; e para avaliar ações e serviços de saúde. Os estudos de coorte também podem ser utilizados para investigar a história natural das doenças. Vantagens » Rápidos e baratos quando comparados com outros desenhos; » Particularmente bons no estudo de doenças com períodos de latência muito longos. » Ótimos para estudar doenças raras. » Pode estudar múltiplos fatores de risco de uma doença. » Promovem poucas perdas. Desvantagens » Ineficiente para estudar exposições raras. » Não mede diretamente as incidências, a não ser que seja um estudo de base populacional. » Em algumas situações, não se pode medir o tempo entre exposição e doença. » Susceptível a erros, principalmente de seleção ou de aferição (recordatórios). Quando falamos de exposição, entendemos: selecionam-se as pessoas com a doença (são os casos); comparam-se com as pessoas sem a doença (são os controles); e se analisam os fatores de risco (exposição). 21 SAÚDE PÚBLICA E EPIDEMIOLOGIA │ UNIDADE I Estudos epidemiológicos: observacional ecológico Utilizam como unidade de observação grupos de indivíduos, e não indivíduos isolados. Estudam a ocorrência de doença em um grupo de indivíduos em função das características desse grupo. Servem essencialmente para levantar hipóteses para estudos analíticos. Nos Estudos Ecológicos, as medidas usadas representam características de grupos populacionais em que é possível analisar a frequência de uma enfermidade ou problema de saúde com uma visão coletiva, bem limitada e definida. Podemos analisar comunidades, municípios, cidades, regiões ou países. Mas sempre tendo como princípio populações em que determinada exposição é mais frequente terão maior incidência de doenças causadas por esta exposição. Vantagens » Rapidez e baixo custo. » Úteis para levantar hipóteses e avaliar programas de saúde. » Constituem, às vezes, a única alternativa razoável quando há grande homogeneidade populacional em relação à exposição (por exemplo: poluição do ar e doenças respiratórias). Desvantagens » Limitado às doenças que têm registro. » Falta controle na qualidade dos dados. A limitação que ocorre nesse estudo é o que chamamos de falácia ecológica, ou seja, pode surgir uma associação entre uma exposição e evento ao nível da população que não permite afirmar que a exposição está mais presente naqueles que adquirem a doença. Esses estudos, no entanto, ajudam a identificar fatores que merecem uma investigação mais detalhada por meio de estudo com maior capacidade analítica. Por exemplo, a demonstração de uma relação entre venda de cigarros per capita e mortalidade de doença cardiovascular (DCV) em estudos ecológicos motivou o planejamento de estudos Caso-Controle e Coorte que vierem a demonstrar de forma bem mais convincente que o hábito de fumar é um dos fatores determinantes de DCV, particularmente doença coronariana e acidente vascular cerebral. 22 UNIDADE I │ SAÚDE PÚBLICA E EPIDEMIOLOGIA Medidas de frequências As medidas de frequências nos estudos epidemiológicos compreendem medidas estatísticas (média, mediana, modo), as frequências absolutas e relativas, os coeficientes e as taxas. São as medidas básicas da ocorrência das doenças em determinada população e período. Para o cálculo dos coeficientes ou taxas, considera-se que o número de casos está relacionado ao tamanho da população que lhes deu origem. O numerador refere-se ao número de casos detectados que se quer estudar (por exemplo: mortes, doenças, fatores de risco etc.), e o denominador refere-se a toda população capaz de sofrer aquele evento – é a chamada população em risco. O denominador, portanto, reflete o número de casos acrescido do número de pessoas que poderiam tornar-se casos naquele período de tempo. Às vezes, dependendo do evento estudado, é preciso excluir algumas pessoas do denominador. As taxas interessam particularmente a epidemiologia, porque são utilizadas para medir o risco de saúde por meio de um coeficiente. É simplesmente a expressão matemática da relação entre o numerador e o denominador comum em um determinado tempo. São exemplos de taxas: taxa de mortalidade, taxa de mortalidade por causa específica e taxa de mortalidade infantil. Algumas taxas particulares apresentam um maior valor em epidemiologia; » Taxa de Incidência ou Frequência: a incidência mede o número de casos novos de uma doença, episódios ou eventos na população dentro de um período definido de tempo e é um dos melhores indicadores para avaliar se uma condição está diminuindo, aumentando ou permanecendo estável, pois indica o número de pessoas da população que passou de um estado de não doente para doente; » Incidência Cumulativa = número de casos no decorrer do período/população exposta no início do período; » Taxa de Prevalência: a prevalência (P) mede o número total de casos, episódios ou eventos existentes em determinado ponto no tempo. É 23 SAÚDE PÚBLICA E EPIDEMIOLOGIA │ UNIDADE I o coeficiente da proporção de casos ou eventos em uma população delimitada em um tempo determinado; » Coeficiente de Prevalência = número de casos existentes/número de pessoas na população; » Taxa de Letalidade: número de pessoas falecidas durante um período. » Taxa de Mortalidade: o número de óbitos. Medidas de efeito e associação » Risco Relativo (RR): expressa uma comparação matemática entre o risco de enfermar-se em um grupo exposto a um fator qualquer e o risco em um grupo não exposto ao mesmo fator. » RR = índice de incidência entre o grupo exposto/índice de incidência entre os nãos expostos = (1,0 ausências de associação). É de grande importância porque expressa o risco de um grupo com um fator, por exemplo, homens hipertensos, fumantes etc., em comparação a um grupo de referência sem esse fator, mulheres, não fumadoras, pressão estável etc. Não indica a frequência, mas indica a medida que está aumentando esse risco. Determina que um paciente talvez se encontre em um grupo de alto risco para que assim possa se prevenir. É muito útil para descobrir e estudar a etiologia de uma enfermidade. » Razão de Prevalência (RP): é um sucessor do RR, estimado a partir de dados de estudos de tipo coorte transversal. » Razão de Produtos Cruzados ou Odds Ratio (OR): em inglês, Odds significa chance e Ratio razão. Em estudos em que não podemos utilizar RR, utilizaremos OR, ou quando a doença ou o evento é pouco frequente. » OR = probabilidade de não ocorrer/probabilidade de um acontecimento ocorrer ou OR = odds de desenvolver a doença nos não expostos/odds de desenvolver a doença nos expostos. » Risco Atribuído (RA): mede a magnitude de um risco absoluto (frequência) que se pode atribuir a um fator particular, como o tabagismo. 24 UNIDADE I │ SAÚDE PÚBLICA E EPIDEMIOLOGIA » RA = índice de frequência entre os expostos – índice de frequência entre os não expostos. Análise de dados A análise de dados de um estudo epidemiológico depende do tipo estudo de seu objetivo. » Obtenção de medidas de frequência: › em estudos transversais, obtêm-se estimações de prevalência; › em estudos experimentais e de coortes, obtêm-se incidências; › em estudosde casos e controles, obtêm-se odds de exposição para casos e controles: odds de exposição dos casos: casos expostos/casos não expostos; e odds de exposição de controles: controles expostos/ controles não expostos. » Obtenção de medidas de associação: medem a magnitude e o sentido da relação de duas variáveis: › em um estudo de coorte experimental, calcula-se o RR a partir das medidas de incidência; › nos estudos de casos e controles, calcula-se OR a partir da odds casos e da odds controles. Um dos aspectos fundamentais da Epidemiologia é a quantificação de problemas relacionados com a saúde de uma população. A possibilidade de medir a frequência absoluta de uma doença, assim como também suas variáveis, suas áreas geográficas predominantes, são elementos básicos para a investigação e para as profilaxias de distintas doenças. 25 UNIDADE IIOS MEDICAMENTOS E A SAÚDE PÚBLICA CAPÍTULO 1 Farmacoepidemiologia Os medicamentos essenciais são de fundamental importância no âmbito do Sistema Único de Saúde. Eles têm como objetivo principal satisfazer as necessidades prioritárias de cuidados da saúde e são considerados como os mais seguros para responder às necessidades da população Se a população tem à disposição no SUS os medicamentos mais seguros e eficazes, do ponto de vista das evidências científicas, isso diminui muito o risco de problemas relacionados com a farmacoterapia. Estão definidos em uma lista e passaram por uma seleção em que se analisaram critérios embasados em evidências científicas, entre elas a melhoria da qualidade de atenção à saúde, mais eficácia na gestão dos medicamentos e prescrições médicas com mais qualidade. Conheça mais a lista de Medicamentos RENAME no link abaixo: <http:// bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/relacao_nacional_medicamentos_ rename_2017.pdf>. Conceito de farmacoepidemiologia Quando um novo fármaco é lançado no mercado, minimamente devemos saber que durante seu desenvolvimento e sua fabricação se observaram as seguintes características: a. características físico-químicas; http://www.institutosalus.com/noticias/sus/saude-publica-no-brasil-uma-visao-geral http://www.institutosalus.com/noticias/uso-racional-de-medicamentos/conduta-baseada-em-evidencias-como-ferramenta-para-a-tomada-de-decisao-em-saude http://www.institutosalus.com/noticias/uso-racional-de-medicamentos/conduta-baseada-em-evidencias-como-ferramenta-para-a-tomada-de-decisao-em-saude http://www.institutosalus.com/noticias/uso-racional-de-medicamentos/prescricao-racional-de-medicamentos-aspectos-legais-e-recomendacoes http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/relacao_nacional_medicamentos_rename_2017.pdf http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/relacao_nacional_medicamentos_rename_2017.pdf http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/relacao_nacional_medicamentos_rename_2017.pdf 26 UNIDADE II │ OS MEDICAMENTOS E A SAÚDE PÚBLICA b. perfil de atividades farmacológicas sobre modelos experimentais in vivo e in vitro; c. perfil de toxicidade experimental aguda, subaguda e crônica; d. características farmacocinéticas; e. atividade farmacológica e seus efeitos farmacológicos no homem; f. dados de toxicidade aguda (e às vezes crônica) no homem e dados comparativos com alternativas terapêuticas obtidas a partir de ensaios clínicos controlados. A farmacologia é uma disciplina que estuda os efeitos dos fármacos, suas aplicações, benefícios, nova utilização em seres humanos por meio da Farmacologia Clínica, sendo em grupos ou em pacientes individuais, como vimos anteriormente. Podemos dizer que se trata de uma área de Ciências de Saúde que tem como objetivo principal atingir o uso racional de medicamentos. A farmacoepidemiologia é considerada como o resultado do casamento entre a farmacologia e a epidemiologia. É definida como o estudo do uso e dos efeitos dos medicamentos no conjunto das pessoas, sendo sua principal preocupação os efeitos adversos identificados após a comercialização dos produtos. (STROM, 1994) Outra definição interessante de Farmacoepidemiologia é de Porta e Hartzema (1989): “é uma nova disciplina no campo da pesquisa com fármacos; é definida como a aplicação do conhecimento epidemiológico, dos métodos e da lógica dos estudos dos efeitos e dos usos dos fármacos em populações humanas”. E uma terceira definição: “é a vigilância da vida do medicamento na comunidade, que é descrita mediante técnicas adequadas, padronizadas e comparáveis, aparecendo na literatura farmacológica como o conjunto de fatos relevantes sobre a relação do fármaco com a medicina, produzidos no cenário científico e com imagem pública” (LAPORTE; TOGNONI, 1989). O medicamento tem se convertido em elemento importante na recuperação e garantia da qualidade de vida da sociedade. Sabemos que os progressos da terapêutica medicamentosa têm sido notáveis, desde muito tempo. Com isso, os medicamentos se converteram em elementos poderosos para diminuir o sofrimento humano, produzir a cura, prolongar a vida e retardar o surgimento de complicações associadas a doenças, facilitando, assim, o convívio entre o indivíduo e sua enfermidade. 27 OS MEDICAMENTOS E A SAÚDE PÚBLICA │ UNIDADE II Estudos Epidemiológicos de Medicamentos Estudos de Utilização de Medicamentos – EUM Abordar epidemiologicamente o uso de um medicamento impõe reconhecer que sua utilização não é somente na busca de um resultado farmacoterapêutico, se não como a sociedade o utiliza, e o que esse uso gera nessa sociedade. A análise dessa prática deve buscar demonstrar como os padrões de condutas individuais e coletivas se comportam e como são construídas perante esse grande mercado farmacêutico. Se o objeto de epidemiologia é entendido como estudar e conhecer as “doenças em populações”, podemos entender a disciplina de farmacoepidemiologia como o consumo dos medicamentos pela população do lugar. A OMS define a utilização de medicamentos como “a comercialização, distribuição, prescrição e uso de medicamentos em uma sociedade, com ênfase especial sobre as consequências médicas sociais e econômicas resultantes” (OMS, 1977). Os estudos relacionados a medicamentos e seu uso são conhecidos como EUM, “Estudos de Utilização de Medicamentos”, e são aqueles que, independentemente do método e do objetivo, buscam esclarecer tais aspectos. Esses estudos nos oferecem uma visão geral, ou de particularidades, da questão do uso de medicamentos em uma sociedade. Seria como entender esse consumo e seus impactos na sociedade. Objetivos da EUM » Descrição do uso de medicamentos. » Valoração qualitativa do uso de medicamentos. » Intervenção para solucionar os problemas identificados. » Identificação e analises de problemas de uso de medicamentos. » Análises e desenvolvimento de ações para solucionar os problemas encontrados. » Análises dos efeitos das ações encontradas. Aspectos médicos » Benefícios: eficácia na prevenção, alívio e cura das doenças e de seus sintomas e complicações; 28 UNIDADE II │ OS MEDICAMENTOS E A SAÚDE PÚBLICA » Risco: efeitos adversos em curto e longo prazo; fatores especiais de risco com provável determinação genética, doença e ambiente, nutrição, idade, sexo, gravidez, amamentação etc. » Relação benefício/risco: como a prescrição e uso inapropriados reduzem os benefícios e incrementam os riscos. Aspectos econômicos » Preços e custos dos medicamentos; produção local versus importação; custos de novos fármacos em comparação com os já existentes e com medicamentos genéricos; custos do tratamento farmacológico. » Relação custo/eficácia/segurança em comparação com os aspectos assinalados. » Destinação atual e futura dos recursos nacionais (capital, pessoal, instalações) no orçamento dos setores de saúde e de medicamentos. Aspectos sociais » Atitudes em relação aos fármacos e à saúde, tendências atuais na “cultura do medicamento” versus a persistência ou ressurgimento da medicina tradicional. » Abuso de fármacos e a dependência química(causas e consequências). » Uso inapropriado dos medicamentos (prescrição incorreta ou uso de automedicação, de medicamentos recomendados por família, amigos, vizinhos). » Discriminação e injustiça social (a falta de disponibilidade de medicamentos para os que dele necessitam). Problemas detectados na EUM » Oferta inadequada – excessiva ou insuficiente. » Uso de medicamentos ineficazes ou ineficientes. » Fraude ou falsificação de medicamentos. » Abuso ou excesso de utilização absoluta de medicamentos. » Abuso ou excesso de utilização relativa de medicamentos. 29 OS MEDICAMENTOS E A SAÚDE PÚBLICA │ UNIDADE II » Mau uso na prescrição de medicamentos. » Mal uso de medicamentos. Alguns exemplos de problemas detectados pela EUM » Nifedipina em lugar da clortalidona ou atenolol. » Betabloqueadores na prevenção de IAM (Infarto Agudo do Miocárdio). » Elevadas Doses de Benzodiazepínicos em pessoas idosas. » Alto índice de pessoas com hipertensão apesar de todas as opções de tratamentos. Muitos estudiosos e pesquisadores brasileiros vêm se dedicando cada vez mais a estudos de utilização de medicamentos por meio da EUM, incorporando aspectos relevantes no contexto da saúde pública. Por isso, entender que saúde pública nos dias de hoje enxerga muito mais do que doenças infectocontagiosas é muito importante. Os estudos nascem de preocupações sanitárias que procuram gerar informações que possam ser usadas para melhorias na realidade observada. Na área farmacêutica, é dada mais ênfase aos estudos farmacoepidemiológicos que utilizam métodos quantitativos, porém reconhecendo que a utilização de medicamentos é um fenômeno complexo, resultado de abordagem qualitativa que pode colaborar na compreensão do fenômeno “utilização de medicamentos”, possibilitando a geração de práticas profissionais, como prescrição e atenção farmacêutica, culturalmente mais apropriada. A farmacoepidemiologia é a ciência que estuda o uso e os efeitos benéficos e adversos dos medicamentos em grandes populações a partir do método epidemiológico. Detecta riscos associados ao uso generalizado de medicamentos e sua efetividade, emprega conceitos da farmacologia clínica e da epidemiologia e seu desenvolvimento está centrado no estudo da segurança dos fármacos na etapa de pós comercialização e no âmbito dos estudos de utilização de medicamentos (EUM). Estudos farmacoepidemiológicos Vamos relacionar os estudos epidemiológicos com a farmacologia. Estudos descritivos Esse tipo de estudo não tem como objetivo avaliar associações entre causas e efeitos, mas muitas vezes esse tipo de estudo tem por base dados estatísticos de mortalidade. 30 UNIDADE II │ OS MEDICAMENTOS E A SAÚDE PÚBLICA Portanto, pode-se, nesse tipo de estudo, analisar dados como mortes por sexo, mortes por idade, por grupos étnicos, por períodos (ano ou meses) condições climáticas ou até por localização geográfica. Em farmacoepidemiologia, esse tipo de estudo tem sido muito utilizado para conhecer aspectos importantes da utilização de medicamentos por determinados grupos de população ou regiões. Com isso, pode-se estudar a interação do uso de medicamentos com a assistência sanitária que corresponde a essa localização, e como é a incidência do uso de determinados medicamentos, como foram prescritos, ou como a cultura da automedicação. Por meio dessa análise, podemos estudar os medicamentos como indicadores da prevalência de problemas médicos e da maneira como os profissionais de saúde interagem com a comunidade utilizadora desse serviço na seleção de soluções que envolvam a intervenção farmacológica. Algumas estratégicas estudadas: 1. análise da oferta de medicamentos; 2. estudos quantitativos de consumo de medicamentos; 3. estudos sobre a qualidade de consumo de medicamentos; 4. estudos sobre as prescrições médicas e hábitos de prescrições; 5. estudos de cumprimento na utilização da prescrição; 6. vigilância orientada a problemas na utilização de medicamentos. Para o desenvolvimento desses estudos, existe uma metodologia comum, com base em uma classificação de medicamentos e no reconhecimento da existência de diferentes técnicas para a quantificação e qualificação de consumo. Drug Utilization Research Group (DRUG) é um grupo da OMS que recomenda a classificação para esses tipos de estudos. Esse método recomendado chama-se Classificação Anatômico-Terapêutico-Químico, ATC. Análise da oferta de medicamentos A análise da oferta de medicamentos tem como fonte de dados de registros nacionais, os catálogos oficias de origem nacional e os catálogos oferecidos pela indústria farmacêutica. Esses catálogos fornecem ao estudo informações sobre o consumo, a oferta e a qualidade de ambos, ou seja, a qualidade do consumo e a qualidade da oferta. 31 OS MEDICAMENTOS E A SAÚDE PÚBLICA │ UNIDADE II Um exemplo desse estudo foi baseado no DEF, Dicionário de Especialidades Farmacêuticas. Um exemplar do ano 1989/1990 foi analisado. Um total de 95 medicamentos foi analisado, dos quais 27,4% continham uma única substância ativa e 69,5% eram constituídos por dois ou mais princípios ativos. Os medicamentos utilizados para baixar o nível de estresse e ansiedade da vida (calmantes, tranquilizantes, antidepressivos, ansiolíticos) contribuíram com quase 70% das associações encontradas e representavam quase 50% do total de medicamentos indicados para tal fim (GOMES, Maria Jose et.al. Ciências Farmacêuticas: “Uma abordagem em Farmácia Hospitalar”. São Paulo. Editora Atheneu, 2000.). Os autores desses estudos alertaram sobre a deficiência e algumas distorções contidas no DEF quando comparadas com as leituras científicas de cada droga, o que ficou sugeriu a omissão das indústrias farmacêuticas para não prejudicar a oferta e o consumo. Estudos quantitativos de consumo Os estudos quantitativos de consumo geram informações sobre tendências comparadas de consumos de diversos produtos sobre as motivações dos médicos e permitem as análises entre regiões e períodos. Para esse estudo, utilizam fontes sobre as vendas privadas e para instituições como hospitais, sanatórios e instituições públicas. A quantificação do consumo pode enfocar diferentes aspectos, como preços, unidades vendidas e unidades consumidas. A quantificação econômica do consumo expressa, por exemplo, como se comporta a verba destinada à área de saúde de cada região, ou de determinado sistema de saúde de um país. Pode-se analisar também o consumo de determinado princípio ativo, ou grupo terapêutico, unidades vendidas, comprar lugares de consumo, tipo de consumidor e períodos de consumo. Para enfrentar tais dificuldades em relação ao consumo abusivo e indiscriminado, foi determinada a dose diária definida (DDD), que representa a dose média diária de todos os medicamentos ou fármacos na sua dose ideal, indicada por literatura científica de seu laboratório fabricante. Assim, a DDD é uma unidade técnica que permite as comparações nesse tipo de estudo. Não interferem nesse estudo os preços de cada medicamento, que podem variar, por exemplo, em cada país. 32 UNIDADE II │ OS MEDICAMENTOS E A SAÚDE PÚBLICA Estudos sobre a qualidade de consumo Os estudos sobre a qualidade de consumo enfocam amostras de medicamentos mais vendidos, mais receitados, mais utilizados em hospitais e serviços de saúde. Informam a qualidade de seu uso e a evolução do usuário. Esse tipo de estudo pode ser utilizado também para identificar a necessidade de intervenções específicas como o esclarecimento à população quanto a seu uso adequado, a formação e educação continuada de profissionais de saúde para a prescrição racional, identificação de populações em risco de consumo crônico de medicamentos inadequados. É utilizado para avaliar a qualidade do uso de medicamentos por meio da análise do padrão do uso, do grau de concordância com listas de medicamentos essenciais, do valor terapêutico e das interações medicamentosasentre o uso. Estudos de hábitos de prescrição médica Os estudos de hábitos de prescrição médica utilizam as amostras de prescrições nas comunidades, nos serviços de saúde e nos hospitais. Em geral, fornecem a prevalência da prescrição médica em determinado grupo ou local. Podem também gerar informações sobre a relação entre a indicação e a prescrição. Esse tipo de estudo pode servir para que os planejadores, administradores, investigadores e docentes façam comparações básicas entre diferentes estabelecimentos e em diferentes momentos: a. descrever práticas atuais de tratamento; b. comparar condutas prescritivas entre estabelecimentos de características similares; c. monitorar periodicamente e supervisionar as condutas na prescrição e uso de fármacos; d. avaliar o efeito de uma intervenção que tenha sido desenhada para mudar práticas de prescrição. Estudos de cumprimento da prescrição Os estudos de cumprimento da prescrição apresentam técnicas indiretas ou diretas para a obtenção desses dados, mas nunca foi fácil avaliar o cumprimento da prescrição médica em qualquer tipo de estudo. 33 OS MEDICAMENTOS E A SAÚDE PÚBLICA │ UNIDADE II As principais informações obtidas nesses estudos são: a prescrição comparada com o uso real; o grau de informação do paciente sobre sua doença e sobre os efeitos da medicação, indicadores da qualidade da relação médico/paciente. As técnicas indiretas incluem: curso clínico, detecção de marcadores fisiológicos, impressão do médico, entrevistas estruturadas, controle de repetição de prescrições, contagem de comprimidos, monitorização da medicação. E, nas técnicas indiretas, temos a determinação do fármaco, um metabólito ou um marcador em líquidos orgânicos, dos quais avaliaram os níveis plasmáticos do fármaco e dos seus metabólitos e analisam a estabilidade dos coeficientes do nível/dose e os níveis sanguíneos constantes, partindo do princípio de que os doentes que cumprem a prescrição apresentariam coeficientes de nível/dose e níveis totais plasmáticos constantes. Métodos simples como a contagem dos comprimidos ou da prescrição raramente são exatos, e a monitorização plasmática ou a contagem eletrônica raramente são simples, apesar de serem mais exatas. Tanto os próprios doentes como os médicos têm tendência para sobrestimar o cumprimento da prescrição e, infelizmente, não existe nenhum método 100% confiável para quantificar o cumprimento da prescrição. A partir de fontes de informações como as histórias clínicas, os conhecidos como pacientes-problema ou tratamentos-problema, pode-se obter uma descrição detalhada de critérios de utilização de fármacos e de técnicas e protocolos terapêuticos. Hoje em dia, existem aparelhos que registram o tempo preciso de abertura de um blister de comprimidos para monitorizar se o doente cumpre a prescrição farmacológica. No entanto, esse aparelho de alta tecnologia não é infalível, dado que não registra o número de comprimidos retirados de cada vez e não podem inevitavelmente provar que os comprimidos foram realmente. Em outros estudos sobre cumprimento da prescrição médica, muitos fatores diferentes influenciam o cumprimento da medicação, principalmente o fato de que as pessoas que vivem sozinhas ou que tomam dois ou mais medicamentos evidencia a falta de cumprimento da prescrição. Inclusive, podemos ressaltar também a falta de cumprimento nos horários recomendados para tomar os comprimidos, por exemplo, de 8 em 8 horas ou de 12 em 12 horas. 1. Estudos de consumo – descrevem quais medicamentos são empregados e em que quantidade. 2. Estudos de prescrição-indicação – descrevem as indicações de utilização de determinado fármaco ou grupo de fármacos. 34 UNIDADE II │ OS MEDICAMENTOS E A SAÚDE PÚBLICA 3. Estudos indicação-prescrição – descrevem os fármacos utilizados em uma determinada indicação ou grupo de indicações. 4. Estudos sobre o esquema terapêutico – descrevem características da utilização prática dos medicamentos (doses, acompanhamento dos níveis plasmáticos, duração do tratamento, observância). 5. Estudos dos fatores que condicionam os hábitos de prescrição e dispensação – descrevem características dos prescritores, dos dispensadores, dos pacientes e de outros elementos atinentes aos medicamentos e sua relação com os hábitos de prescrição e dispensação. 6. Estudos das consequências práticas da utilização dos medicamentos – descrevem benefícios, efeitos indesejáveis e custos reais do tratamento farmacológico que podem expor sua ligação com as características da utilização dos medicamentos. 7. Estudos de intervenção – descrevem as características da utilização dos medicamentos vinculados a um programa de intervenção concreta sobre seu uso. Estudos ecológicos Os estudos ecológicos podem ser chamados também de estudos de correlação e são estudos de execução relativamente fácil e comparam indicadores globais de áreas geográficas distintas ou de uma mesma área geográfica em diferentes períodos. A unidade de análise são populações ou grupos de pessoas, fato que não permite fazer a associação individual entre a exposição e a doença. A associação observada entre variáveis de um grupo não representa necessariamente a associação existente no nível individual, mas estudos ecológicos, entretanto, têm frequentemente proporcionado um proveitoso início para pesquisas epidemiológicas mais detalhadas. Vejamos um exemplo da utilidade desse tipo de estudo em farmacoepidemiologia, relatado por Stolley. Na Inglaterra, durante um século, antes de 1960, as taxas de mortalidade por asma permaneceram muito estáveis e baixas, em torno de 0,5 mortes por 100.000 pessoas. A análise rotineira de estatísticas vitais mostrou a ocorrência de uma epidemia. Em 1961, essas taxas de mortalidade começaram a aumentar rapidamente, especialmente nas faixas etárias entre 5 e 34 anos. 35 OS MEDICAMENTOS E A SAÚDE PÚBLICA │ UNIDADE II Depois de 1967, essas taxas começaram a declinar, aproximando-se dos níveis pré-epidêmicos nos anos de 1970. Fonte: Stolley PD. The use of case-control studies in pharmacoepidemiology. In.: Strom BL, Velo G. Drug epidemiology and post-marketing surveillance. New York, Plenum Press: 49-52, 1992. Várias investigações epidemiológicas analisam o aumento de uma taxa de mortalidade em determinado período ou em uma região. Embora produzam informações úteis para a avaliação epidemiológica de medicamentos, os estudos de correlação têm sérias limitações, particularmente se a proporção da população que está usando a droga é pequena. Em geral, eles somente podem ser utilizados como uma evidência auxiliar para estudos baseados em métodos mais rigorosos. Estudos transversais Esse tipo de estudo é muito comum na investigação epidemiológica. Também conhecidos como estudos de prevalência, os estudos transversais medem, em uma população previamente delimitada, a exposição a um ou mais fatores e o efeito da doença ou condição. Operacionalmente são estudos fáceis de realizar e de custo relativamente baixo, e informações obtidas são de muita utilidade na avaliação das necessidades de saúde das populações e no planejamento das ações para enfrentá-las. Dois autores, Rouquayrol e Almeida Filho, identificaram cinco subtipos de estudos transversais: Estudos de grupos de tratamento Esses estudos utilizam registros institucionais e, a partir da procedência do paciente, identificam a base populacional para o cálculo das prevalências. Suas estimativas são influenciadas pela quantidade, qualidade e distribuição dos serviços, sendo difícil operacionalizá-lo em locais em que a organização do sistema de saúde é incipiente ou precária. Ademais, esse subtipo de estudo somente é eficaz quando as doenças são graves, e o tratamento se impõe. Estudos em populações especiais Os estudos desse tipo desenvolveram um interessante estudo transversal que investiga padrões de consumo de medicamentos em populações especiais. Inquéritos na atençãoprimária Os estudos desse tipo são viáveis do qual existem redes regionalizadas de atenção primária organizada. A fonte de dados pode ser tanto os registros institucionais quanto 36 UNIDADE II │ OS MEDICAMENTOS E A SAÚDE PÚBLICA um instrumento de detecção de casos aplicado a uma amostra ou à totalidade dos usuários do serviço em um período definido de tempo. Inquéritos domiciliares de morbidade Nesse estudo, é necessária a definição, por meio de amostragem ou recenseamento, de uma base populacional para o estudo. Todos os indivíduos incluídos na investigação são então examinados. Para minimizar a baixa confiabilidade do exame e da história clínica, devem-se utilizar entrevistas estruturadas e procedimentos diagnósticos padronizados. Estudo transversal multifásico Esse estudo constitui um aperfeiçoamento do subtipo anterior, melhorando a relação custo-efetividade. Inicialmente, aplicam-se instrumentos simplificados a toda a população ou amostra, triando para um exame mais completo aqueles participantes suspeitos de serem portadores da condição enfocada, uma vez que atingiram pontos de corte em instrumentos de detecção. Fonte: ROUQUAYROL, M. Z.; ALMEIDA FILHO, N. Desenhos de pesquisa em epidemiologia. In.: Epidemiologia e Saúde. 5.ed. Rio de Janeiro, Medsi: 149-170, 1999. Estudos transversais realizados em populações usuárias de serviços específicos podem fornecer informações importantes para a organização desses serviços. Discutir resultados, alertar para o alto consumo de medicamentos sem uma necessidade comprovada, os riscos para a saúde que estes podem causar, a alta taxa de disponibilidade de medicamentos nos domicílios e risco de intoxicações que podem produzir quando mal utilizados, o elevado consumo de analgésicos, assim como os medicamentos para o aparelho respiratório e digestório, as distorções terapêuticas e às vezes a má distribuição social da incidência desses problemas. Ainda pode-se citar a falta de informação a respeito do uso de medicamentos. Todas essas questões geram dados estatísticos em tipo de estudo. Esses dados poderão ser utilizados para a organização do nosso sistema de saúde e da assistência farmacêutica e, quando exemplificados, permitem conhecer melhor os determinantes e o padrão de consumo de medicamentos na população. Desse modo, podem contribuir significativamente tanto para o planejamento e organização das ações de saúde quanto para reorientar as práticas assistenciais, na perspectiva de uma utilização mais racional dos medicamentos em nosso país. 37 OS MEDICAMENTOS E A SAÚDE PÚBLICA │ UNIDADE II Estudos caso-controle O desenho desse tipo de estudo possibilita a comparação entre dois grupos de pessoas. Um dos grupos é composto por pessoas com determinada doença ou determinado evento, e essas pessoas são denominadas casos. O outro grupo é composto por pessoas com características semelhantes aos casos, exceto pelo fato de que não sofrem a doença ou desse evento, e essas pessoas são denominadas controles. A comparação entre os dois grupos tem por objetivo identificar diferenças de exposição, no passado, a uma ou mais variáveis que possam ter contribuído para a ocorrência da doença/evento. Quando se comprova a associação estatisticamente significante entre uma variável e a doença/evento, esta passa a ser denominada fator de risco para aquela doença/evento. As principais vantagens desse desenho são: custo relativamente barato, facilidade na execução e grande utilidade na investigação de causas de doenças/eventos, especialmente quando se trata de casos raros. Estudos caso-controle podem ser particularmente úteis quando o pesquisador procura estudar várias possíveis causas de uma única doença, uma vez que ele pode estudar qualquer número de exposições como potenciais fatores de risco usando os mesmos casos e controles. Os principais problemas relacionados a esse método incluem sua incapacidade de estimar o risco, sua vulnerabilidade e sua complexidade analítica. Para se obter a máxima similaridade entre casos e controles, deve-se considerar na escolha dos controles: » área geográfica de origem; » fatores socioeconômicos; » fatores culturais da comunidade; » a instituição ou serviço de saúde em que tenham sido atendidos previamente. Em geral, a coleta de dados em estudos do tipo caso-controle é conduzida por meio de entrevistas pessoais ou por consulta a registros médicos. Devem-se padronizar rigorosamente os instrumentos, fontes de dados e critérios de atribuição de exposição entre os grupos do estudo, com o objetivo de obter um dado de exposição válido e confiável, tanto para os casos quanto para os controles. 38 UNIDADE II │ OS MEDICAMENTOS E A SAÚDE PÚBLICA Em farmacoepidemiologia, esse tipo de desenho tem sido muito utilizado em estudos de reações adversas a medicamentos (RAM), podendo contribuir também, mas com pequena intensidade, na avaliação dos benefícios de um medicamento. Estudos de coorte Nesse tipo de estudo, seleciona-se um grupo de pessoas de uma população que, no início do estudo, não sejam portadoras da doença ou de um evento que se quer estudar, e avalia-se se a exposição a uma determinada variável contribui para o desenvolvimento dessa doença, por exemplo. Os participantes são classificados em dois subgrupos, segundo a presença ou ausência de exposição a um potencial fator de risco para a doença/evento. As variáveis de interesse são especificadas e medidas, e o estudo de coorte é acompanhado para ver se surge o desenvolvimento de novos casos da doença e se diferem entre os grupos, conforme a presença ou não da exposição. O grupo deve ser o mais homogêneo possível quanto às demais características, como a faixa etária, local de residência ou de trabalho, atividade ocupacional etc. O desenho é simples e não apresenta dificuldades para sua análise, e os estudos são os que produzem a melhor informação sobre a etiologia das doenças e a medida mais direta do risco para desenvolvê-la. Além disso, como recrutam pessoas saudáveis no seu início, os estudos de coorte permitem investigar se os potenciais fatores de risco enfocados estão relacionados a uma ampla variedade de desfechos (doenças/eventos) e não apenas a um deles, como ocorre nos estudos caso-controle. Por outro lado, uma vez que a doença pode ocorrer somente após longos períodos de exposição, esse método pode requerer um período prolongado de acompanhamento, o que resulta em um custo relativamente alto, e talvez até uma maior chance de perdas durante o acompanhamento por diversos motivos. Outro problema relacionado aos estudos de coorte é sua inadequação quando a doença/evento é rara nos dois grupos (expostos e não expostos), situação em que pode ser difícil garantir um número de participantes suficientemente grandes para obter resultados válidos. Por exemplo, é necessário monitorar uma coorte com mais de 8.000 pessoas para garantir um poder estatístico de 80% na detecção de um evento (RAM) que ocorre uma vez a cada 5.000 pacientes expostos a determinado medicamento. 39 OS MEDICAMENTOS E A SAÚDE PÚBLICA │ UNIDADE II Os participantes devem constituir um grupo o mais homogêneo possível quanto às características de faixa etária, local de residência ou de trabalho, atividade ocupacional etc. Tal grupo homogêneo, assim definido, denomina-se coorte. O termo “coorte” designava originalmente as unidades de combate das legiões romanas, identificadas nos campos de batalha pelo uniforme padronizado.(Rouquayrol MZ, Almeida Filho N. Desenhos de pesquisa em epidemiologia. In.: Epidemiologia e Saúde. 5.ed. Rio de Janeiro, Medsi: 149-170, 1999.) Essa análise requer medidas de associação que serão comparadas: Risco Relativo (Razão de Incidências) e o Risco Atribuível (Diferença de Incidências), e os dados dos estudos serão comparados e também suas proporções entre indivíduos que desenvolvem a doença/evento no período de estudo, entreexpostos e não expostos, permitindo o cálculo de medidas de incidência e de estimativas de risco. A análise comparativa produz medidas de associação que expressam, respectivamente, o Risco Relativo (Razão de Incidências) e o Risco Atribuível (Diferença de Incidências). Como consequência do fato de quais fatores de exposição e doença são considerados sequencialmente durante o período de seguimento do estudo, seus resultados, em geral, permitem o estabelecimento da sequência temporal da associação. (Rouquayrol MZ, Almeida Filho N. Desenhos de pesquisa em epidemiologia. In.: Epidemiologia e Saúde. 5.ed. Rio de Janeiro, Medsi: 149-170, 1999) Um estudo farmacoepidemiológico de coorte pode ser prospectivo quando for desenvolvido simultaneamente com os eventos clínicos e observação. Os resultados nos pacientes são desconhecidos no início do estudo; retrospectivos quando se estudam exposições e eventos que ocorreram antes do início do estudo, mas é importante que os pacientes sejam recrutados para o estudo com base na presença ou ausência de determinada exposição, e os dois grupos devem ter uma doença ou condição clínica, assim como outras características que proporcionem a cada grupo uma probabilidade igual de exposição ao medicamento. Uma boa leitura está disponível em: <http://www.scielosp.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102- 311X2004000100017>. http://www.scielosp.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-311X2004000100017 http://www.scielosp.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-311X2004000100017 40 UNIDADE II │ OS MEDICAMENTOS E A SAÚDE PÚBLICA Figura 1. Exemplo de estudo de coorte ambispectivo é um estudo multicêntrico de vigilância pós- comercialização. Fonte:< http://200.145.142.234/Metodologia/f-aula_6/01-estudos_de_coorte.htm>. Acesso em: 7 abr. 2015. Os estudos de coorte podem ser utilizados em farmacoepidemiologia para avaliar: 1. o efeito de medicamentos em longo prazo; 2. efeitos cuja frequência seja muito baixa em uma população; 3. a efetividade de medicamentos na prática cotidiana, em situações reais; 4. os modificadores da eficácia do medicamento, como medicações simultâneas, estilo de vida ou severidade da doença; 5. a eficácia de um medicamento para uma indicação para a qual a droga não foi originalmente aprovada. Ensaio clínico randomizado É o desenho de estudo experimental utilizado para analisar uma nova forma terapêutica ou preventiva. A população participante do estudo é distribuída aleatoriamente em dois grupos, denominados grupo de tratamento e grupo controle. Os participantes do grupo de tratamento são expostos a determinada intervenção, e os do grupo controle não sofrem essa exposição. A intervenção estudada pode ser uma nova droga ou conduta médica. Os estudos de ensaios clínicos randomizados constituem uma ferramenta essencial na construção de evidências científicas para a prática clínica e para a saúde pública. São diferentes dos estudos observacionais porque, nos ensaios clínicos, é feita uma intervenção. Em geral, são estudados dois grupos: controle e tratado. Avaliam-se prospectivamente os resultados comparando os dois grupos. http://200.145.142.234/Metodologia/f-aula_6/01-estudos_de_coorte.htm 41 OS MEDICAMENTOS E A SAÚDE PÚBLICA │ UNIDADE II A randomização garante, se o tamanho da amostra é suficientemente grande, que os determinantes conhecidos e desconhecidos do resultado estejam igualmente distribuídos entre os grupos de tratamento e de controle. Outro procedimento, o duplo-cego, tornou-se padrão nos ensaios clínicos de medicamentos: o placebo recebido pelo grupo controle deve ser idêntico no tamanho, na cor, consistência e sabor ao do medicamento recebido pelo grupo de tratamento. O objetivo desse procedimento é assegurar que nem os pacientes nem os investigadores saibam quem está recebendo tratamento ativo ou placebo, diminuindo a possibilidade de introdução de vieses no estudo. Além disso, uma precisa definição das medidas de resultado, a padronização de técnicas de mensuração, seu teste e calibração visando garantir a reprodutibilidade da mensuração são estratégias para minimizar o erro aleatório nesse tipo de estudo. Esses tipos de estudos enfrentam problemas que, nos outros estudos, não foram falados. São problemas éticos e logísticos, além de serem caros. Hoje em dia, existem comissões de ética que regulamentam esse tipo de estudo. Em farmacoepidemiologia, são frequentemente utilizados pela indústria farmacêutica para demonstrar a eficácia de determinado medicamento e convencer as agências reguladoras de que o produto pode ser comercializado. População-alvo A população de interesse em um estudo é chamada de população-alvo. E essa população-alvo pode ser: usuários de medicamentos, população-alvo do pesquisador, população elegível, população de estudo, população da pesquisa ou população distribuída no atributo. A definição deve ser clara, e a escolha da população deve ser eficiente. A população de usuários de medicamentos compreende os usuários que são portadores de determinada doença, dentro de uma região geográfica limitada e com características que devem ser conhecidas, já que essas características são fatores importantes que influenciam ou não nos resultados. Essa população reflete a cultura sanitária e a qualidade do sistema de saúde local, por exemplo: acesso do usuário ao sistema de saúde, suas noções de quais serviços deve procurar, disponibilidade técnica de diagnóstico, entre outros. Amostragem, coleta de dados, questionários, formulários e entrevistas são os meios de realizar esses estudos. 42 UNIDADE II │ OS MEDICAMENTOS E A SAÚDE PÚBLICA A escolha do delineamento epidemiológico apropriado à avaliação da eficácia e da segurança dos medicamentos depende dos objetivos do estudo. E cada desenho de estudo epidemiológico tem um papel apropriado no progresso científico e a decisão de desenvolver um estudo farmacoepidemiológico, que pode ser considerada como semelhante à decisão regulatória sobre a aprovação de um medicamento para comercialização ou a decisão clínica quanto à prescrição de um medicamento. Em cada caso, a tomada de decisão envolve a ponderação dos custos e riscos da terapia e seus benefícios. Os principais custos são obviamente os destinados ao desenvolvimento do estudo. E entre os riscos de desenvolver um estudo farmacoepidemiológico estão as possibilidades de identificar uma reação adversa associada ao medicamento, quando de fato isso não ocorre, ou prover falsas garantias quanto à segurança do medicamento. Esses riscos podem ser minimizados pelo desenho apropriado do estudo, por pesquisadores capacitados e uma interpretação dos resultados obtidos. Os benefícios dos estudos farmacoepidemiológicos envolvem a regularização do medicamento no mercado, a área legal, clínica e comercial. Cada uma será de importância para diferentes organizações e indivíduos envolvidos na decisão de iniciar um estudo. 43 CAPÍTULO 2 Outros estudos de farmacoepidemiologia Grupo de investigação da utilização de medicamentos A Organização Mundial da Saúde (OMS) definiu os EUM como o grupo que se ocupa da comercialização, distribuição, prescrição e uso dos medicamentos em uma sociedade, consequências médicas, sociais e econômicas resultantes. O grupo de especialistas conhecido como Drug Utilization Research Group (DURG) propõe uma definição menos geral: os trabalhos de investigação sobre os aspectos quantitativos e qualitativos dos determinantes do uso de medicamentos e de seus efeitos em pacientes específicos ou em uma população geral. A utilização dos medicamentos se considera um indicador sociossanitário, sendo os EUM a ferramenta que nos permite sua avaliação e posterior planejamento de estratégias de intervenção. O processo de avaliação de qualquer medicamento inclui três passos complementares:
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