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Contribuição da Inteligência Policial para Análise Criminal

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Contribuição da Inteli-
gência Policial para Análise 
Criminal
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Valdiná Alves Feitosa2
Carlos Vinícius Delatorres G. de Carvalho3
Resumo: O presente artigo tem o objetivo de demonstrar qual a contribuição 
da atividade de Inteligência (AI) para análise criminal (AC). Nesta pesquisa, o mé-
todo utilizado foi o de pesquisa bibliográfica, que permite analisar e explicar o 
problema fundamentando-se essencialmente nas contribuições secundárias. In-
formações e dados publicados em obras de vários autores que tratam do tema. 
Identificou-se dentre as várias possibilidades da AI formas de subsidiar de ma-
neira relevante a AC, para contribuir de forma efetiva na prevenção e repressão 
criminal. A importância para a redução e controle da criminalidade, que ambas 
atividades funcionem de forma constante e integradas dentro dos órgãos de 
Segurança Pública, no intuito, de otimizar e maximizar os resultados proporcio-
nando a sociedade a tão almejada sensação de segurança.
Palavras-chave: atividade de inteligência; controle da criminalidade; segurança 
pública.
Introdução
Uma das preocupações da sociedade moderna tem sido com a vio-
lência que domina as cidades, de norte a sul do país. É recorrente na mí-
dia a explosão da violência e com isso, tem-se disseminado a sensação de 
insegurança por parte da sociedade. Os governos estaduais têm tenta-
do de várias formas conter o avanço da violência e com isso, a Atividade 
de Inteligência (AI) e a Análise Criminal (AC) tem ganhado espaço, como 
ferramentas de suporte, no assessoramento das autoridades, no intuito, 
que sejam tomadas as melhores decisões para políticas de Segurança Pú-
blica e redução/controle da criminalidade.
A AC é definida por Gottlieb (1988, p.13) como sendo um conjunto 
de processos sistemáticos direcionados para o provimento de informa-
1- Artigo apresentado ao Curso de Análise Criminal como um dos pré-requisitos para conclusão do curso 
sob a orientação de conteúdo do Professor Nelson Gonçalves de Souza e orientação metodológica da 
Professora Karoline Andrade de Alencar Isecke.
2- Major da Polícia Militar do Distrito Federal. 
3- Capitão da Polícia Militar do Distrito Federal.
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ção oportuna e pertinente sobre os padrões do crime 
e suas correlações de tendências, de modo a apoiar as 
áreas operacional e administrativa no planejamento 
e distribuição de recursos para prevenção e supres-
são das atividades criminais, conforme a Lei n 9.883 
(BRASIL,1999), é a atividade que objetiva a obtenção, 
análise e disseminação de conhecimentos dentro e 
fora do território nacional sobre fatos e situações de 
imediata ou potencial influência sobre processo deci-
sório e a ação governamental e sobre a salvaguarda e 
a segurança da sociedade e do Estado. 
Verifica-se da conceituação da AC e AI que am-
bas produzem produtos diferentes, cada um com sua 
especificidade e relevância, com objetivo de assesso-
rar os tomadores de decisão, sendo cada produto di-
ferenciado de acordo com a demanda de seu cliente 
permitindo sempre a melhor escolha. 
1 - Metodologia
As atividades em tela serão abordadas, no pri-
meiro momento, de forma individual, com um pe-
queno histórico e conceituação, por meio da revisão 
de literatura, e na conclusão será elencada a contri-
buição da Inteligência na Análise Criminal.
2 - Resultados e discussão
2.1 - Análise Criminal
Análise Criminal é o estudo sistemático dos 
problemas relacionados à criminalidade e desordem 
urbana, bem como outras questões relacionadas 
com o emprego da polícia, incluindo dados socioeco-
nômicos, demográficos, espacial, temporal e fatores 
que podem ajudar a polícia e outros órgãos da ad-
ministração estatal, na contenção da criminalidade, o 
controle e redução da desordem urbana, prevenção 
do crime e auxilia a avaliação de atividades e políti-
cas públicas voltadas para atividades desta natureza 
(SANTOS, 2012).
Segundo dados históricos (DEVON; CORN-
WALL, apud DANTAS; SOUZA, 2004) a AC surgiu na 
Inglaterra feudal, na metade do século XVIII. 
No século XIX, Robert Peel revolucionou a Po-
lícia Metropolitana de Londres, hoje Scotland Yard. 
A ele pode ser creditado os primeiros trabalhos de 
análise criminal da polícia moderna. Dele partiu a 
identificação de padrões de crimes, como também a 
elaboração dos conceitos de modus operandi e a clas-
sificação de crimes e criminosos. Além disso, deve-se 
ao inglês a utilização desses conceitos na prevenção 
e investigação criminal (DANTAS; SOUZA, 2004).
O novo formato como se tratou combate ao 
crime, gerando na verdade um modelo da atividade 
policial, que resultou no sucesso e uso para o restante 
do mundo, sobretudo para os países de origem an-
glo-saxônica, destacando-se os Estados Unidos, que 
adotou e modernizou a Análise Criminal (GOTTLIEB, 
1998).
August Vollmer foi considerado o pai da mo-
derna gestão científica da atividade policial norte-a-
mericana, introduziu nos EUA, no início do século XX, 
a técnica inglesa de classificação sistemática de crimi-
nosos conhecidos e seus respectivos modus operandi 
(GOTTLIEB, 1998). 
No ano de 1922 o Federal Bureau ofInvestigation 
(FBI) criou o programa Uniform Crime ReportProgram 
(UCR). Este programa buscava a Uniformização dos 
Relatórios Criminais, padronizou relatórios de ocor-
rências criminais, criando então o banco nacional de 
crimes (MACA, 2007). John Edgar Hoover, que dirigiu 
o FBI por um período considerável, criou e aplicou a 
utilização de modernas técnicas investigativas, trans-
formando a análise criminal em modelo de excelên-
cia policial (DANTAS; SOUZA, 2004).
Segundo Dantas e Souza (2004), os funda-
mentos da moderna análise criminal, de acordo com 
o exame dos trabalhos de Fielding, Vollmer, Wilson 
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e Hoover apontam as seguintes linhas mestras: dis-
ponibilidade de grandes volumes de dados sobre o 
crime, propriamente acumulados e sistematizados; 
existência de ferramentas de processamento e análi-
se (manuais ou automatizadas); e, profissionalização 
técnica dos agentes policiais, especialmente capaci-
tados para funções de Inteligência Policial e Análise 
Criminal.
Já no Brasil, ainda de acordo com Dantas e Sou-
za (2004), a produção desse tipo de conhecimento 
ainda é escassa e circunscrita a alguns acadêmicos ou 
profissionais bastante especializados da gestão poli-
cial.
Para Ferro (2006), a Análise Criminal (AC) é um 
recurso aplicado na produção de conhecimento po-
licial no contexto da atividade de Inteligência de Se-
gurança Pública (ISP). Com a AC é possível identificar, 
avaliar e acompanhar sistematicamente o fenômeno 
da criminalidade em massa. 
As espécies de Análise Criminal são: Análise de 
Inteligência, Análise de Operações e Análise Investi-
gativa. Gottlieb (1998) estabelece uma interessante 
correspondência de atividades para cada tipo citado 
de análise:
Análise Criminal: quem está fazendo o quê con-
tra quem?
Análise de Inteligência: quem está fazendo o 
quê junto com quem? 
Análise de Operações: como a organização está 
utilizando seus recursos? 
Análise Investigativa: por que alguém está fa-
zendo tal coisa?
(GOTTLIEB, 1998, p. 05)
Gottlieb (1998) estabelece ainda que para cada 
um dos tipos de análise acima existirão três processos 
básicos de análise: tática, estratégica e administrativa.
2.2 - Atividade de Inteligência
O vocábulo inteligência, do latim intelligentia, 
significa a faculdade de entender, de compreender; 
destreza, habilidade para escolher os métodos e ob-
ter um bom resultado Ferro (2006).
A atividade de Inteligência (AI) é muito antiga 
e Ferro (2006) cita com bastante sabedoria dois fatos 
que ilustram perfeitamente a necessidade de infor-
mação para tomada de decisão, a saber: no primeiro, 
cronologicamente, a Bíblia Sagrada, em seu antigo 
Testamento, narra que Moisés, no episódio em que 
os espiões foram enviados à terra de Canaã (Bíblia 
Sagrada, Livro dos Números – Cap. 13, Versículos 17-
20), orienta quanto o levantamento das informações 
pertinentes:
Tomem este caminho, e subam a montanha,e 
vejam qual é a terra; e o povo que nela habita, 
se é forte ou fraco, poucos ou muitos; e vejam 
o lugar onde eles vivem, se é bom ou mal, e em 
que cidades eles moram, se fortificadas ou não; 
e como é a terra, se acidentada ou plana, se há 
florestas ou não.
(BÍBLIA, Livro dos números, Capítulo 13, Versícu-
los 17-20, 1952, p. 138).
E segundo Tzu (1983), autor do clássico A Arte 
da Guerra, 500 anos antes de Cristo, afirmava a neces-
sidade da Atividade de Inteligência:
Os espiões são os elementos mais importantes 
de uma guerra [...] Se você conhece o inimigo e 
conhece a si mesmo, não precisa temer o resul-
tado de cem batalhas. Se você se conhece, mas 
não conhece o inimigo, para cada vitória ganha 
sofrerá uma derrota. Se você não conhece nem 
o inimigo nem a si mesmo, perderá todas as ba-
talhas [...] Dessa maneira, apenas o governante 
esclarecido e o general criterioso usarão as mais 
dotadas Inteligências do exército para fins de 
Inteligência, obtendo, dessa forma, grandes re-
sultados.
Tzu (1983, p.111).
 
O panorama Nacional da AI pode ser esque-
matizado com a Inteligência “clássica” ou “de Estado” 
e o Subsistema de Inteligência de Segurança Pública 
(SISP), sendo a primeira definida segundo o art. 1º, § 
2º, do Decreto 4.376/2002, que regulamentou a Lei 
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9.883/1999, como sendo a inteligência a atividade 
de obtenção e análise de dados e informações e de 
produção e difusão de conhecimentos, dentro e fora 
do território nacional, relativos a fatos e situações 
de imediata ou potencial influência sobre o proces-
so decisório, a ação governamental, a salvaguarda e 
a segurança da sociedade e do Estado; que instituiu 
o Sistema Brasileiro de Inteligência (SISBIN) e criou a 
Agência Brasileira de Inteligência (ABIN), ambos com 
a finalidade de fornecer subsídios ao presidente da 
República nos assuntos de interesse nacional.
 O segundo foi criado pelo Decreto 3.695/2000, 
que estabeleceu como seu órgão central a Secretaria 
Nacional de Segurança Pública (SENASP), com a fina-
lidade de coordenar e integrar as atividades de inte-
ligência de segurança pública em todo o país, bem 
como suprir os governos federal e estaduais de infor-
mações que subsidiem a tomada de decisões neste 
campo. O SISP é um subsistema por ser parte do Sis-
tema Brasileiro de Inteligência (SISBIN). Compõem 
o SISP, além da SENASP, os Ministérios da Justiça, da 
Fazenda, da Defesa e da Integração Nacional e o Ga-
binete de Segurança Institucional da Presidência da 
República. Também podem integrar o SISP os órgãos 
de inteligência de Segurança Pública dos Estados e 
do Distrito Federal.
As fases que compõem o ciclo da Atividade 
de Inteligência, dentro de uma perspectiva acadê-
mica, segundo Pacheco (2005), promotor de justiça, 
são: identificação das necessidades informacionais 
do usuário final (requerimento ou determinação da 
produção de determinada informação/conhecimen-
to), planejamento da obtenção dos dados/informa-
ções requeridos, gerenciamento dos meios técnicos 
de obtenção, obtenção (coleta ou busca) dos dados/
informações, processamento dos dados/informações 
(organização, avaliação e armazenagem), produção 
do conhecimento (análise, interpretação e síntese 
dos dados/informações), disseminação do conhe-
cimento, uso do conhecimento e avaliação do ciclo 
(feedback quanto ao uso do conhecimento para aper-
feiçoamento do ciclo de inteligência).
Ainda com a colaboração de Pacheco (2005):
As subdivisões de um órgão de Inteligência são: 
a) análise ou atividade de inteligência stricto 
sensu (produção de conhecimento, que é docu-
mentado e disseminado na forma de relatórios 
de inteligência, a saber: informe, apreciação, 
informação e estimativa); b) contra-inteligência 
(proteção dos dados, informações e conheci-
mentos de uma instituição, por meio da segu-
rança do pessoal, segurança da documentação 
e material, segurança das áreas e instalações, e 
segurança dos sistemas de informações – co-
municações e informática); c) operações de in-
teligência (busca do dado e/ou da informação 
negados ou não-disponibilizados). 
Pacheco (2005).
Considerações Finais
A luz dos conceitos estudados, verifica-se a 
contribuição da AI principalmente na espécie da AC, 
a Análise Criminal de Inteligência, pois o seu foco é 
combater a atividade criminosa de natureza organi-
zada, com a resposta da indagação “Quem esta fazen-
do o que junto com quem?” Sendo primordial a iden-
tificação de relação entre pessoas e organizações, a 
busca da liderança e suas conexões, compreender 
a hierarquia da organização, monitorar a movimen-
tação cotidiana da organização para identificar sua 
rotina, bem como pontos fracos e informantes em 
potencial, sendo utilizada principalmente nos crimes 
como: tráfico, contrabando, jogo, prostituição, rou-
bos de carga entre outros.
A AI para ser mais efetiva na contribuição pre-
cisa alimentar a AC com dados negados obtidos em 
operações de inteligência, coleta e análise de dados, 
para serem processadas pelo analista com a utiliza-
ção de suas ferramentas tecnológicas, otimizando o 
tempo e podendo ser utilizadas com proveito pelos 
órgãos operacionais, significando resultados palpá-
veis como a prevenção do crime, ou precaver o sur-
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gimento de uma nova modalidade criminal ou pelo 
menos a identificação de autoria.
Para atingir resultados mais expressivos dentro 
da Segurança Pública, é necessário o trabalho inte-
grado entre ambas as atividades, pois são instrumen-
tos de produção de conhecimento, e quanto maior a 
comunicação e interação, melhor e mais rápido será 
o produto a ser disseminado as autoridades que po-
derão implementar melhores respostas as atividades 
criminosas.
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