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Marina Cardoso Hematologia 1 Introdução São um grupo de desordens heterogêneo caracterizado por: anemia + depósitos de ferro nas mitocôndrias dos eritroblastos (as mitocôndrias carregadas de ferro se depositam na periferia dos eritroblastos, formando um “anel de ferro”) → Sideroblastos em anel. Patogênese e Fisiopatologia Independente da causa, a patogênese das Anemias Sideroblásticas (AS) tem como base um distúrbio na síntese do heme, desde que não seja carência de ferro. Deficiências enzimáticas ou defeitos nas mitocôndrias podem prejudicar a síntese do heme, ocasionando duas consequências: (1) prejuízo na síntese da Hb → hipocromia e anemia. (2) acúmulo de ferro na mitocôndria Fisiologicamente, o heme inibi a captação do ferro pelo eritroblasto (feedback negativo). Com pouco heme, o ferro continua se acumulando, formando os sideroblastos em anel. O ferro acumulado na mitocôndria é potencialmente lesivo ao eritroblasto, sendo então destruído na própria medula → eritropoiese ineficaz. É o que explica a ocorrência de uma leve hiperplasia eritroide na MO, sem reticulocitose periférica. A redução de síntese do heme + eritropoiese ineficaz estimulam a absorção intestinal de ferro. Após vários anos, o pcte evolui com sobrecarga de ferro: Heterocromatose Eritropoiética (é o mesmo fenômeno que ocorre nas talassemia). A morbidade das AS (principalmente hereditárias) vem da sobrecarga de ferro em alguns tecidos → hepatoesplenomegalia, lesão hepática e cardíaca. O distúrbio na síntese do heme que causa a AS depende do tipo de AS: Hereditário (ligado ao X): Mutação na ALA sintase, primeira enzima da síntese protoporfirínica. A ALA tem como principal cofator a vitamina B6. Nas variantes mutantes dessa enzima, a reação só ocorre na presença de doses suprafisiológicas de B6. Outra forma hereditária é causada por mutação na enzima hABC7. Adquirida Idiopática: Não está bem elucidado o mecanismo, mas supõe-se mutações no DNA mitocondrial. Ocorre prejuízos na ação da enzima que converte Fe3+ em Fe2+. O Fe3+ não consegue se incorporar à protoporfirina IX. Adquirida Reversível: Causada por drogas ou distúrbios de oligoelementos. • Etanol. • Isoniazida, pirazinamida e cloranfenicol. • Deficiência de cobre → nutrição parenteral total, gastrectomia e reposição desnecessária de sais de zinco. Quadro Clínico e Diagnóstico Características comuns a todas: as hemácias circulantes, provenientes dos sideroblastos em anel, são microcíticas e hipocrômicas (produção inadequada de Hb). Contudo, frequentemente encontramos duas populações de eritrócitos: uma micro-hipo e outra normo ou macro → dimorfismo eritrocitário. Obviamente, reflete-se no aumento do RDW. No esfregaço de sangue periférico da AS são vistas hemácias tanto micro quanto macro. Na forma herdada, predominam os micrócitos (baixo VGM), enquanto na forma adquirida, geralmente predominam os macrócitos (aumento de VGM). No laboratório do ferro temos: • Ferro sérico alto (aumento da captação intestinal) >150µg/dl. • Ferritina sérica normal alta ou alta > 100- 200ng/dl • TIBC normal • Saturação de transferrina alta 2 Lembre! (cai em prova) → suspeitar de AS sempre que o achado paradoxal de HIPOCROMIA + FERRO SÉRICO ALTO, saturação de transferrina elevada e ferritina sérica alta. Outro achado importante das AS são os corpúsculos de Pappenheimer → precipitados de ferro no esfregaço de sangue periférico que ocorrem quando as hemácias retém as mitocôndrias sideróticas por um breve período. O diagnóstico de AS só se confirma de uma forma: Aspirado de MO (mielograma) contendo mais de 15% de Sideroblastos em anel. AS Hereditária Forma menos comum. Assume grande importância clínica pelo potencial de reversibilidade com tratamento. Tem grande semelhança laboratorial com a anemia ferropriva (micro-hipo) então cuidado! Repor ferro em paciente com AS pode acelerar o processo de hemocromatose. É mais comum em homens (ligada ao X). O grau de anemia é variável, leve a grave (HB<7). A anemia é do tipo microcítica e hipocrômica com intensa anisocoria e poiquilocitose. AS Adquirida Idiopática Há grandes indícios que a AS adquirida idiopática seja uma desordem mielodisplásica: após a mutação de um clone progenitor hematopoiético ou eritroide, esse clone ganha “vantagem proliferativa”, então as células derivadas desse clone começam a se sobressair na medula. O clone defeituoso é o que caracteriza a síndrome mielodisplásica e nesse caso o defeito é um distúrbio na síntese do heme. Caracteriza-se por adultos de meia idade ou idosos, sem preferência de sexo, com anemia leve a moderada que progride até um grau de estabilidade. Hemocromatose eritropoiética pode ocorrer e justifica a hepatoesplenomegalia em 1/3 a ½ dos casos. A anemia é normo ou levemente macrocítica. Pode ser normo ou hipocrômica. A macrocitose é proveniente do predomínio de macrócitos sobre os micrócitos no sangue periférico. Os micrócitos são provenientes dos sideroblastos em anel, enquanto os macrócitos são derivados das células normais, mas que possuem tempo de maturação reduzido devido ao ambiente de hiperplasia medular. A AS adquirida é dividida em dois subgrupos: • Anemia Sideroblástica Pura: as demais alterações displásicas medulares são inexistentes. – Expectativa de vida semelhante ao normal e pouca chance de LMA • Forma verdadeiramente mielodisplasia: ou “anemia refratária com sideroblastos em anel”, nesses casos, a displasia medular é encontrada em sua forma típica. – Sobrevida reduzida, 5% de chance de transformação leucêmica. AS Adquirida Reversível • Alcoolismo: Podem ocorrer sideroblastos em anel em 20-30% dos alcoólatras, sobretudo na associação à desnutrição. Geralmente macrocítica. As alterações persistem por 7-10 dias após a interrupção do consumo de álcool. • Outras causas: Drogas: Izoniazida, pirazinamida e clorofenicol. AS Adquirida Reversível • AS Hereditária: Responde em 40-60% dos casos a reposição de doses suprafisiológicas de pirodoxina (Vit B6) = 100-200 mg/dia 3 meses. • AS Adquirida Idiopática: Não costuma responder a nenhum tratamento. Em relação à Hemocromatose Eritropoética, devemos fazer o acompanhamento pela ferritina sérica. Ferritina sérica > 500ng/ml = terapia de redução do acúmulo de ferro corporal. Se anemia leve (Hg>9), tratamento é flebotomia repetida. Nos casos mais graves/ refratários = quelante de ferro desferoxamina. Esplenectomia é contraindicada pelo alto risco de evento tromboembólico no pós-operatório.
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