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1 EQUIPAMENTOS ELÉTRICOS AULA 6 Prof. Eduardo da Silva 2 CONVERSA INICIAL Olá, seja muito bem-vindo(a) a esta aula! Nela, faremos uma viagem pelo setor elétrico brasileiro e ver como aplicá-lo. Vamos estudar quais são os critérios e entender como se faz um projeto das estruturas básicas do setor, desde a usina geradora de energia até a rede secundária de distribuição. Vamos lá então? Mãos à obra e bons estudos! TEMA 1 – CARACTERIZAÇÃO DO SISTEMA ELÉTRICO BRASILEIRO É difícil de imaginar a nossa vida hoje sem eletricidade, não é mesmo? Pois é, mas essa estrutura que conhecemos hoje é bem recente: o Brasil está há pouco mais de 100 anos com energia elétrica, sendo que as primeiras instalações ocorreram na metade do século XIX e foram destinadas ao transporte, sistemas de iluminação e à indústria. Além das grandes usinas hidrelétricas, existem pelo menos seis outras fontes responsáveis pela geração de energia elétrica no Brasil, como a queima de combustíveis fósseis, energia eólica, nuclear, solar, maremotriz, entre outras. 1.1 Sistema Interligado Nacional Uma usina geradora pode apresentar falhas ou baixa produtividade – com a ausência de chuvas por exemplo – e, para suprir a demanda, parte da energia gerada por outra usina passa a ser usada como auxílio no fornecimento para uma região consumidora. Para evitar interrupções no fornecimento, é necessário que os sistemas estejam interligados entre si, como mostra a Figura 1. Chamamos essa estrutura de Sistema Interligado Nacional (SIN), que corresponde a praticamente 98% de toda a energia elétrica consumida no país. Apenas uma parte da região Norte do Brasil se mantém isolada do SIN, devido às grandes distâncias e dificuldades de implantação da rede elétrica por entre a floresta amazônica. 3 Figura 1 – Sistemas interligados Crédito: Millena/Shutterstock; Kittyvector/Shutterstock. A interligação entre as fontes geradoras é muito útil em casos de falhas, mas quando elas acontecem, podem gerar uma situação breve de sobrecarga, podendo desencadear uma sequência de desligamentos e chegar ao que chamamos de “apagão”. Em novembro de 2009, uma falha em uma linha de transmissão que sai da usina de Itaipu deixou quase 60 milhões de pessoas sem energia elétrica, inclusive no Paraguai. Pouco tempo depois, em fevereiro de 2014, onze estados ficaram no escuro devido a um curto-circuito em uma linha de transmissão no estado do Tocantins. Estima-se que quase 6 milhões de pessoas foram afetadas pela ocorrência. 4 Essas e outras falhas deram origem ao Esquema Regional de Alívio de Carga (Erac), que monitora a rede elétrica e prevê um possível desligamento por sobrecarga. Quando se insere uma carga não planejada na rede elétrica, ela provoca um afundamento momentâneo da tensão e reduz a sua frequência nominal. É assim que o Erac funciona: ao perceber que houve uma redução na frequência até um valor determinado, ele atua desligando parte das cargas ligadas a ele. Se a frequência continua caindo, o sistema rejeita as cargas por estágios, de acordo com cada região do país, conforme a Tabela 1. 5 Tabela 1 – Sequência de desligamentos feitos pelo ERAC nas regiões Sul e Sudeste do Brasil Estágio Sudeste Sul Ajuste (Hz) Carga Rejeitada (%) Ajuste (Hz) Carga Rejeitada (%) 1º 58,5 7 58,5 7,5 2º 58,2 7 58,2 7,5 3º 57,9 7 57,9 10 4º 57,7 7 57,6 15 5º 57,5 7 57,3 15 Fonte: ONS, 2019. A Figura 2 mostra quais são e como estão distribuídas as principais fontes de geração de energia elétrica do Brasil, e também é possível perceber a predominância da energia hidráulica, mas também a grande participação das termoelétricas. Figura 1 – Mapa dos empreendimentos de geração de energia elétrica no Brasil Fonte: Adaptado de Aneel, 2019. 6 Saiba mais Se quiser mais informações geográficas sobre o setor elétrico brasileiro, acesse: <https://sigel.aneel.gov.br>. 1.2 Sistema Elétrico de Potência O sistema elétrico de potência brasileiro é composto por sistemas de geração, transmissão e distribuição, de acordo com o diagrama em blocos: Figura 3 – Sistemas de geração, transmissão e distribuição 7 Para exemplificar o sistema elétrico de potência, vamos utilizar o diagrama unifilar da Figura 4, que apresenta três usinas geradoras, um conjunto de linhas de transmissão, uma rede de subtransmissão e redes de distribuição primária e secundária. Figura 4 – Diagrama unifilar de um sistema elétrico de potência Fonte: Adaptado de Mohan, 2013. TEMA 2 – SISTEMAS DE GERAÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA A geração de energia de uma região (continente, país, estado etc.) é dividida em setores, em função das fontes de energia. Chamamos de matriz energética a relação das fontes geradoras e seu percentual individual de produtividade de energia. Nessa relação estão as principais as formas de uso energético, como combustíveis veiculares, aquecimento de fornos e muitas outras, mas em especial, a geração de energia elétrica. Quando relacionamos apenas as fontes capazes de gerar energia elétrica, chamamos de matriz elétrica. 2.1 Geração hidrelétrica A energia hidráulica é considerada uma fonte limpa e renovável de geração de energia elétrica, e como o potencial hídrico do Brasil é muito grande, existe uma certa preferência por essa fonte geradora. 8 Uma unidade de geração hidrelétrica é constituída, basicamente, por uma barragem que obstrui de forma controlada o fluxo de água de um rio, criando um reservatório que aumenta o desnível e, consequentemente, a energia potencial acumulada. A água armazenada é direcionada por um tubo chamado conduto forçado, e no final desse percurso está a turbina, que gira com a força da água. O eixo da turbina está diretamente conectado ao rotor do gerador, que deve manter uma velocidade constante para produzir energia elétrica com uma frequência específica, geralmente 50 Hz ou 60 Hz. A tensão induzida nas bobinas do estator do gerador é direcionada à subestação elevadora de transmissão, como mostra a Figura 5. Figura 5 – Vista lateral de uma unidade de geração hidrelétrica Crédito: Andrea Danti/Shutterstock. 2.2 Geradores Com exceção da energia solar fotovoltaica, o princípio básico da produção de energia está na transformação da energia mecânica em elétrica, https://www.shutterstock.com/pt/g/andreus 9 que ocorre pelo giro de uma turbina. Nós precisamos do movimento de giro de uma turbina para que um gerador produza energia elétrica. O motivo disso está baseado na lei de indução de Faraday, que diz que a variação do campo magnético em uma espira ou bobina produz uma força eletromotriz nas suas extremidades. Um gerador trifásico é composto por duas partes básicas: o rotor, que é a parte girante dessa máquina, e o estator, parte fixa. O rotor é formado por um conjunto de bobinas, chamado enrolamento de campo, que é alimentado com corrente contínua e funciona como um eletroímã. Já o estator é feito de bobinas passivas defasadas em 120º entre elas; o conjunto dessas bobinas recebe o nome de enrolamento de armadura. Conforme o rotor varia o campo magnético nas bobinas do estator, uma tensão é induzida nas suas extremidades produzindo o sistema trifásico, como mostra a Figura 6. Figura 6 – Esquema de funcionamento de um gerador elétrico Saiba mais Conheça os princípios de conversão eletromecânica de energia e o funcionamento de máquinas elétricas rotativas no livro “Máquinas elétricas de Fitzgerald e Kingsley”, do autor Stephen D. Umans, capítulos 3 e 4. 2.3 Geração termoelétrica A geração termoelétrica, ou termelétrica, é a produção de energia elétrica por meio de processos térmicos. Na verdade, a geração de energia 10 elétrica é feita por um gerador igual ao mostrado anteriormente,e a contribuição do calor, nesse caso, é a produção de vapor d’água que moverá a turbina. Atualmente, as termoelétricas utilizam muitas fontes de energia térmica, dentre elas o carvão mineral, os derivados de petróleo, gás natural, energia nuclear, geotérmica e solar. Essa modalidade de geração tem um conjunto de elementos básicos para o seu funcionamento, que, de modo geral, é um elemento produtor de calor para aquecer um compartimento com água (caldeira). O vapor produzido é conduzido à turbina, que está conectada ao eixo do gerador. Assim que o vapor atravessa a turbina, condensa e então a água é bombeada novamente para a caldeira, onde reiniciará o processo, como mostra a Figura 7. Figura 7 – Esquema de funcionamento de um sistema de geração termoelétrica Uma usina nuclear baseia-se no mesmo processo, porém, a fonte de calor é proveniente da fissão nuclear, que libera grandes quantidades de energia usadas para o aquecimento. Esse tipo de fonte tem baixíssima emissão de gases, mas o seu material residual (lixo) é radioativo e acumulativo, podendo levar até algumas centenas de anos para poder ser descartado com segurança. 11 Além da nuclear, existem outras fontes de energia térmica pouco ou nada poluentes. Um exemplo é a geração geotérmica, que é pouco explorada no mundo. Esse tipo de usina aproveita a fonte de calor do interior da terra para aquecer o sistema. Outro exemplo de fonte limpa é a energia térmica do sol, usada em locais onde a insolação é alta durante a maior parte do ano. Essa estrutura utiliza um arranjo de espelhos côncavos, controlados por computador, que acompanham a movimentação do Sol e convergem os raios solares para um ponto determinado, onde ocorre o aquecimento da caldeira, conforme mostra a Figura 8. Figura 8 – Exemplo de geração termoelétrica por aquecimento solar Crédito: Fly_And_Dive/Shutterstock. 2.4 Diagrama unifilar Como vimos, independentemente da fonte de energia que irá movimentar o rotor, o processo de geração de energia é o mesmo. A Figura 9 representa, em forma de diagrama unifilar, a estrutura básica de uma usina com duas unidades geradoras, com tensão de 16 kV, passando por uma subestação elevadora de transmissão que entrega a tensão em 500 kV para o sistema de transmissão. https://www.shutterstock.com/pt/g/Smallcreative 12 Figura 9 – Diagrama unifilar de uma usina com duas unidades geradoras 2.5 Geração eólica A busca por fontes não poluentes e renováveis de energia é constante. Nesse contexto, a geração de energia elétrica a partir da energia eólica é uma solução bastante interessante. Esse tipo de geração utiliza apenas a força do vento para movimentar o gerador, mas antes da instalação desse sistema é necessário realizar um estudo prévio para conhecer as condições do vento no local. Um equipamento de medição como o anemômetro, mostrado na Figura 10, indica a velocidade e direção do vento. Para estimar o potencial de geração, recomenda-se um histograma de pelo menos um ano, para identificar sazonalidade e inconstâncias na velocidade do vento. 13 Figura 10 – Anemômetro de conchas com sensor de direção e velocidade do vento Crédito: Wk1003mike/Shutterstock. Uma unidade geradora eólica é formada pela haste ou torre de sustentação, a qual serve de base para o sistema de guina, responsável por girar o conjunto para direcionar as pás e obter o melhor aproveitamento do vento. O sistema pode ter duas ou três pás, presas ao eixo da caixa de transmissão, composta por engrenagens que adaptam a baixa rotação das pás para a rotação de geração. Saiba mais Nem toda potência disponível é aproveitada pelo aerogerador. Isso motiva o estudo aerodinâmico das pás e estruturas de fixação. Leia mais a respeito no livro “Geração de energia elétrica”, dos autores Manuel R. B. Neto e Paulo Carvalho, capítulo 5. https://www.shutterstock.com/pt/g/weerapat 14 2.6 Tipos de estruturas Uma unidade geradora eólica pode ser do tipo autônoma, ou seja, é usada para gerar energia diretamente para uma carga ou consumidor, ou ainda diretamente conectada para fornecer energia à rede elétrica. A Figura 11 mostra um exemplo típico de estrutura para esse tipo de geração, sendo que o sistema é composto por duas ou três pás conectadas ao eixo da caixa de engrenagens, que aumenta a velocidade de rotação do rotor do gerador. Figura 2 – Estrutura de uma unidade eolioelétrica Crédito: Tatyanatvk/Shutterstock. Assim como nos demais casos, é fundamental que a rotação seja constante, por isso o gerador é equipamento com um controlador que atua sobre as engrenagens para controle da velocidade. Além de monitorar, o aerogerador se adapta às condições do vento, rotacionando no próprio eixo por meio de um sistema de guinada. Algumas estruturas podem contar com um sistema de freios para evitar possíveis falhas ou permitir paradas estratégicas. 2.6 Diagrama unifilar https://www.shutterstock.com/pt/g/tatyanakyz 15 Ao longo do dia pode haver variação de velocidade e direção do vento, e ainda que o sistema de controle atue, muitas vezes não é possível fazer a compensação. Por esse motivo, um sistema de geração eólica utiliza conversores estáticos para produzir uma tensão equilibrada e estabilizada. Um aerogerador produz energia em corrente alternada, porém, com pequenas variações de amplitude. Por isso, passa por um conversor retificador (CA-CC) e posteriormente por um inversor (CC-CA), onde volta a ser de corrente alternada para a conexão com a rede elétrica. A Figura 12 apresenta o diagrama unifilar de um parque eólico de seis unidades geradoras, conectadas a uma linha de transmissão de 230 kV. Figura 3 – Diagrama unifilar de uma unidade geradora eólica conectada à rede 2.7 Geração solar fotovoltaica Albert Einstein e Max Planck estudaram a luz e a sua correspondência com a energia. Os físicos observaram que um feixe de luz que incidia sobre uma placa de metal era capaz de arrancar elétrons, ou seja, em nível atômico a luz se assemelha a um feixe de partículas que carregam uma quantidade de energia, chamadas de fótons. A descoberta, que rendeu a Einstein o prêmio Nobel de Física de 1921, foi a relação da energia da luz com o seu comprimento de onda, ou seja, quanto maior é a frequência da luz (cor), maior é a energia carregada. Os estudos sobre o efeito fotoelétrico da luz evoluíram até que, por volta de 1954, quando os físicos Daryl Chapin, Calvin S. Fuller e Gerald Pearson 16 desenvolveram as primeiras células solares de silício, com propriedades semelhantes ao que usamos hoje. Em uma célula fotovoltaica existem muitas perdas do material, sendo que os módulos de disseleneto de cobre-índio (CIS) têm a eficiência em torno de 13% a 15%, valores típicos para esse tipo de sistema. As células feitas de arseneto de gálio (GaAs) podem conseguir eficiência de até 31%, mas o alto custo a torna inviável de acordo com a aplicação. Assim como na geração eólica, essa fonte é muito variável em função de fatores climáticos, e a sua instalação requer um longo período de acompanhamento da radiação solar. Alguns instrumentos são fundamentais para se realizar um estudo da viabilidade de um sistema fotovoltaico, dentre eles o heliógrafo, usado para verificar a duração do sol ao longo de um dia, o piranômetro, que mede a intensidade da radiação solar que incide sobre uma superfície plana, e o piroeliômetro, que é usado para medir a incidência de luz direta. As chamadas fazendas solares são usinas de geração fotovoltaica que agrupam os painéis ou módulos fotovoltaicos, sendo que cada um deles possui 60 ou 72 células conectadas em série, como mostra a Figura 13. Figura 4 - Exemplo de fazenda solar 17 Crédito: Giggietto/Shutterstock. 2.8 Diagrama unifilar Para os sistemas conectados à rede elétrica (ongrid), as instalações utilizam um número de painéis agrupados de acordo com a potência do inversor. Um sistema fotovoltaico gera energia em corrente contínua, por isso, é instalada uma caixa de conexão CC na ponta de cada grupo, onde também está o inversor. A Figura 14 apresenta o diagrama unifilar de um parque eólico de seis unidades geradoras, conectadas a uma linha de transmissão de 230 kV. Figura 5 – Diagrama unifilar de uma usina de geração solar conectada à rede TEMA 3 – SISTEMA DE TRANSMISSÃO E SUBTRANSMISSÃO As linhas de transmissão são elaboradas depois de um amplo projeto de pesquisa realizado pelo Ministério de Minas e Energia (MME), em parceria com os órgãos envolvidos no setor elétrico, como a Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), a Empresa de Pesquisa Energética (EPE) e também as concessionárias de geração e transmissão de energia elétrica. Como vimos no início desta aula, as tensões de transmissão são acima de 138 kV, o que exige estruturas adequadas em função do nível de tensão, tipos de isoladores, números de condutores por fase e da resistência mecânica necessária, devido ao peso e tração dos cabos condutores, como mostra a https://www.shutterstock.com/pt/g/Giggietto 18 Figura 15. A Tabela 2 apresenta as características elétricas dos tipos de torres apresentadas na Figura 15. Tabela 2 – Características elétricas e construtivas de torres de transmissão e subtransmissão Característica Tipo de Torre A B C D E F G H I J K Condutores por fase 1 1 1 1 1 ou 2 2 2 ou 4 4 4 4 4 Números de isoladores na cadeia 6 ou 7 6 ou 7 9 ou 10 9 ou 10 15 15 ou 16 19 ou 20 24 ou 26 24 24 24 Largura da faixa de passagem nas proximidades da torre [m] 30 30 30 30 30 50 50 40 60 50 50 Fonte: Adaptado de ISA CTEEP, 2020. Figura 6 – Características elétricas e construtivas de torres de transmissão e subtransmissão 19 Um sistema de subtransmissão é responsável por captar a energia das subestações de subtransmissão e transferi-las às subestações de distribuição. Também usam da tensão de subtransmissão, alguns consumidores como por exemplo, indústrias de grande porte, estações de tratamento e bombeamento de água, entre outros. Esse sistema é composto por linhas trifásicas com tensão entre 69 kV e 138 kV, ou mais raramente, em 34,5 kV, com capacidade de transporte de dezenas de MW por circuito. Existem quatro topologias para a ligação de um sistema de subtransmissão: • Radial (A): recebe esse nome porque os circuitos à jusante da subestação de subtransmissão saem de forma radial, ou seja, são circuitos individuais sem que haja encontro ou cruzamento. No caso de um defeito na subestação de distribuição, o circuito pode ser interrompido por completo. • Radial com recurso (B): nessa topologia, os circuitos de subtransmissão são independentes, porém, se ocorre um defeito na subestação de distribuição, uma chave de transferência permite reconectar o sistema a outro circuito de subtransmissão. • Anel ou loop (C): esse sistema mantém os circuitos interligados por meio de dispositivos de manobra, de modo que exista uma redundância para a alimentação das subestações de distribuição. • Reticulado ou grid (D): esse é um sistema típico para regiões com alta densidade de cargas ou circuitos que não possam ser interrompidos. É uma topologia em forma de rede, de modo que os circuitos e de subtransmissão e distribuição encontrem caminhos alternativos para possíveis defeitos. 20 Figura 7 – Características elétricas e construtivas de torres de transmissão e subtransmissão TEMA 4 – SUBESTAÇÕES As subestações (SE) são classificadas de acordo com alguns critérios: • Tipo: particular, industrial ou de concessionária de energia; • Isolamento: convencional (isolada a ar) ou blindada (isolada a gás); • Local de instalação: ao tempo, abrigada ou em armário móvel; • Natureza da corrente: de corrente alternada (CA), conversora de frequência (CA-CA), inversora (CC-CA) ou retificadora (CA-CC); • Função: transmissão, subtransmissão e distribuição; • Relação entre a entrada e saída: para realização de manobra ou transformadora (elevadora ou rebaixadora); • Nível de tensão: baixa tensão (BT – até 1 kV), média tensão (MT – até 34,5 kV), alta tensão (AT – até 230 kV), extra alta tensão (EAT – até 500 kV) e ultra alta tensão (UAT – acima de 500 kV). As instalações de uma subestação podem seguir diferentes arranjos a fim de melhorar aspectos como segurança, flexibilidade de operação, redução de corrente de curto-circuito, otimização dos dispositivos de proteção, facilidade de manutenção e expansão e redução da área construída e custos. 21 4.1 Arranjos típicos de subestações De acordo com o grau de complexidade requerido, existem inúmeras topologias de subestação que podem ser adotadas. A denominação, arranjo ou topologia de uma subestação é usada para definir a forma como as linhas, transformadores e cargas de uma subestação conectam-se entre si. A seguir, são apresentados alguns dos principais arranjos para uma subestação. 4.2 Barramento simples O arranjo do tipo barramento simples, singelo ou duplo, é uma configuração de baixo custo e fácil operação. Costuma ser usado para instalações de pequenas subestações com baixa densidade de cargas, geralmente até 10 MVA. O termo singelo se dá porque a subestação é alimentada por uma única linha de subtransmissão, na topologia radial. Isso torna o arranjo mais vulnerável a falhas, pois há um único disjuntor para a proteção do circuito e, ao atuar, deixa a subestação sem suprimento. 22 Figura 8 – Arranjo de uma subestação de barramento singelo Já o sistema de barramento duplo torna a subestação mais confiável, pois na ocorrência de um defeito, é possível realizar a troca do fornecimento para um circuito auxiliar. Nesse arranjo, é feito um intertravamento para garantir que durante o funcionamento normal da SE, a seccionadora da linha principal, que alimenta a barra de cargas prioritárias, fique na posição normalmente fechada (NF), enquanto a chave da fonte de emergência se mantém na posição normalmente aberta (NA). Somente na ocorrência de um defeito essas chaves se invertem, e assim impede-se a coexistência das fontes no circuito. Ainda assim, se houver problemas na SE, as cargas não prioritárias serão interrompidas. Apesar de parecer, esse sistema não é ininterrupto para as cargas não prioritárias: para realizar a manobra é necessário o desligamento do barramento, e logo depois é feito o restabelecimento do fornecimento. Esse arranjo é tipicamente encontrado em subestações consumidoras do tipo hospital, hotel e alguns tipos de indústrias. 23 Figura 9 – Arranjo de uma subestação de duplo barramento simples 4.3 Barramento principal e de transferência Esse arranjo conta com dois barramentos, um principal e outro de transferência, interligados por um disjuntor. Nessa configuração, o objetivo é possibilitar que o disjuntor principal da subestação possa ser desligado para substituição ou manutenção. Durante o funcionamento normal, o disjuntor principal supre o barramento principal, enquanto o disjuntor de transferência permanece na posição normalmente aberta. Em situação de emergência ou manutenção, o disjuntor principal é retirado de serviço e uma chave by-pass é fechada para alimentar o barramento de transferência. Por fim, o disjuntor de transferência é fechado e passa a substituir o disjuntor principal. Figura 10 – Arranjo de uma subestação com barramento principal e de transferência 24 4.4 Barramento duplo com disjuntor Esse arranjo permite mais flexibilidade, pois qualquer uma das barras poderá ser isolada para manutenção e realiza com mais facilidade a transferência dos circuitos de uma barra para a outra. Essa topologia é típica de instalações de grande porte e comgrande importância. O disjuntor de transferência permite que a manutenção seja feita sem a perda dos circuitos alimentadores, que podem ser conectadas a qualquer barra. Figura 20 – Arranjo de uma subestação com barramento duplo com disjuntor de transferência 4.5 Barramento em anel Esse tipo de barramento forma um circuito fechado por meio de dispositivos de manobras. Embora sua operação seja mais complicada, o custo é aproximadamente o mesmo de uma subestação de barramento simples e mais confiável. Durante o funcionamento normal, cada conjunto formado por linha, transformador e alimentador é alimentado por dois disjuntores separados. Nos casos de emergência, somente o segmento em que ocorre a falha fica isolado. A desvantagem dessa estratégia é que o anel ficará aberto para situações em que disjuntor estiver desligado para fins de manutenção; além disso, os demais disjuntores deverão ser projetados para suportar toda a carga. 25 Figura 21 – Arranjo de uma subestação com barramento em anel Saiba mais Além desses arranjos, o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) descreve outros tipos e aplicações de topologias de instalações. Saiba mais na página do ONS, módulo 10. Disponível em: <http://www.ons.org.br/paginas/sobre-o-ons/procedimentos-de-rede/vigentes>. Acesso em 2 abr. 2020. 4.6 Codificação e nomenclatura As subestações são supervisionadas e controladas por sistemas computadorizados, por isso é muito importante conhecer a nomenclatura e os códigos usados para identificar os equipamentos instalados em uma subestação ou outra estrutura elétrica. De modo geral, identifica-se um equipamento pelo tipo, faixa de tensão e posição da instalação. A codificação se dá por letras e números que pode ter até 5 caracteres, como mostra o exemplo abaixo: 26 Figura 22 – Exemplo de codificação • Primeiro caractere: identifica o tipo do equipamento padronizado por um número de 0 a 9, conforme a Tabela 3. Tabela 3 – Código para o tipo de equipamento Código Equipamento 0 Equipamento não interruptor (transformador, reator, gerador etc.) 1 Disjuntor 2 Religador 3 Chave seccionadora 4 Chave fusível 5 Chave a óleo 6 Chave de aterramento rápido 7 Para-raios 8 Transformador de potencial (TP) 9 Transformador de corrente (TC) • Segundo caractere: define o nível de tensão de operação do equipamento, padronizado por números e cores, conforme a tabela abaixo. 27 Tabela 4 – Código numérico e de cores para o nível de tensão de operação de um equipamento Código Faixa de Tensão Cores 1 1 a 25 kV (13,8 kV) Laranja 2 51 a 75 kV (69 kV) Verde 3 76 a 150 kV (138 kV) Preto 4 151 a 250 kV (230 kV) Azul 5 251 a 550 kV (500 kV) Vermelho • Terceiro e quarto caracteres: o terceiro dígito especifica a função de um equipamento ou a posição de instalação junto ao outro equipamento, que é padronizada por letras, já o quarto dígito é usado para identificar numericamente uma sequência do mesmo equipamento, conforme a Tabela 5. Tabela 5 – Código da função e sequência de um equipamento Código Equipamento Sequência A Transformador de aterramento 1 a 9 B Barramento 1 a 9 D Equipamento de transferência 1 a 9 E Reator 1 a 9 G Gerador 1 a 9 K Compensador síncrono 1 a 9 H Banco de capacitores 1 a 9 PO Para-raios 1 a 9 R Regulador de tensão 1 a 9 T Transformador de potência 1 a 5 T Transformador de serviço auxiliar 6 a 9 X Conjunto de medição 1 a 9 U Transformador de potencial 1 a 9 Z Transformador de corrente 1 a 9 W Resistor de aterramento 1 a 9 Obs.: As letras C, F, I, J, L, M, N, P, S, V e Y são reservadas para nomear linhas de transmissão ou de distribuição. • Quinto caractere: quando necessário, identifica equipamentos similares que operam na mesma faixa de tensão e estão conectados a um terceiro 28 equipamento. Nesse caso, pode ser padronizado por números e/ou letras. A Figura 23 exemplifica uma subestação elevadora de transmissão, e a Tabela 6 apresenta a descrição dos equipamentos de acordo com os seus códigos. Figura 11 – Diagrama unifilar de uma subestação elevadora de transmissão com a nomenclatura padronizada Tabela 6 – Códigos dos equipamentos do diagrama unifilar da Figura 21 Código Descrição 01G1 Gerador 16 kV Posição do gerador 1 11G1 Disjuntor 16 kV Posição do gerador 1 31G1 Chave seccionadora 16 kV Posição do gerador 1 71T1 Para-raios 16 kV Posição do transformador 1 91T1 Transformador de corrente 16 kV Posição do transformador 1 01T1 Transformador de potência 16 kV Posição do transformador 1 95T1 Transformador de corrente 500 kV Posição do transformador 1 65T1 Chave de aterramento rápido 500 kV Posição do transformador 1 75T1 Para-raios 500 kV Posição do transformador 1 85T6 Transformador de potencial 500 kV Transformador de serviço auxiliar 95T6 Transformador de corrente 500 kV Transformador de serviço auxiliar 35T1 Chave seccionadora 500 kV Posição do transformador 1 TEMA 5 – REDES DE DISTRIBUIÇÃO Algumas concessionárias consideram a rede de subtransmissão parte integrante do sistema de distribuição, já outras concessionárias consideram somente as redes abaixo de 34,5 kV parte do sistema de distribuição. De acordo com o relatório da ANEEL, que verifica o número de unidades consumidoras e o consumo de energia (MWh) por nível de tensão, 29 aproximadamente 6% de todo o consumo nacional se dá em tensão de transmissão e subtransmissão. A maior parte desse percentual de consumo de energia é composta por cargas residenciais, comerciais e industriais, que são alimentadas em tensões muito menores que 34,5 kV. Uma rede de distribuição pode ser do tipo primária, com valores típicos para tensão de linha de 34,5 kV (19,92 kV por fase) ou 13,8 kV (7,97 kV por fase); já as redes secundárias operam com tensão 380/220 V trifásica ou com 220/127 V monofásica. Para a maioria das cargas industriais ou residenciais, as subestações de distribuição fornecem energia elétrica por meio de linhas de distribuição em 13,8 kV. Essa tensão é abaixada localmente para alimentar um conjunto de casas, por exemplo, em 220/127 V. Os projetos de redes de distribuição primária, com tensão de 13,8 kV, são realizados pelas concessionárias de energia que operam na região. As normas utilizadas para projeto, instalação e manutenção dessas redes são padronizadas para uso exclusivo dos funcionários, internos ou terceiros. Apesar disso, alguns acessórios e estruturas seguem um padrão que é seguido por praticamente todas as concessionárias. Os consumidores comuns, residências, comércios e pequenas fábricas com potência inferior a 75 kVA, são alimentados diretamente da rede secundária de energia. Porém os consumidores com potência superior a 75 kVA necessitam instalar sua própria subestação de consumidor; por isso, essa estrutura é tipicamente utilizada em comércios, condomínios residenciais e pequenas empresas. A Figura 24 mostra um exemplo de uma subestação aérea, com medição no lado de média tensão; já a Figura 25 apresenta o diagrama unifilar da mesma subestação. As instalações para consumidores em baixa tensão são muito semelhantes a essa, com a diferença que o medidor está no lado do cliente e a potência do transformador é limitada em 75 kVA. 30 Figura 12 – Subestação aérea para consumidores com potência superior a 75 kW Fonte: NT 002/2010 R02. 31 Figura 13 – Diagrama unifilar da subestação aérea apresentada na Figura 24 Quando se trata de instalações para consumidores em média tensão. As subestações aéreas ocorrem em menor número. Para grandes fábricas ou indústrias, as subestações são do tipo convencional e ficam expostas ao tempo, já os demais consumidores adotam a subestação abrigada. Quanto ao tipo de abrigo, podem ser construíd9s em alvenaria ou cubículos metálicos, como mostraa Figura 26. Figura 14 – Exemplo de uma subestação abrigada em cubículo metálico Crédito: Siyanight/Shutterstock. A Figura 27 mostra a divisão interna dos cubículos de uma subestação abrigada em alvenaria, já a Figura 28 mostra seu diagrama. https://www.shutterstock.com/pt/g/Settapong+Dee-ud 32 Figura 15 – Divisão interna de uma subestação abrigada em alvenaria Fonte: Copel, 2018. Figura 16 – Diagrama unifilar da subestação aérea apresentada na Figura 27 Da imagem da Figura 27, os ambientes podem ser descritos como: A) Esse é o ponto de entrega do ramal de entrada. Chega com tensão de 13,8 kV e usa como proteção da rede uma chave fusível e um sistema de para-raios, ligado à haste de aterramento junto à base do poste. 33 B) A entrada de serviço é do tipo subterrânea e deve estar a no máximo 10 metros de distância do ponto de alinhamento com a fachada da rua. Os cabos utilizados até esse ponto de entrada são isolados com terminação ou mufla, fixada em suporte preso à parede. Nesse ponto é instalado um outro sistema de para-raios, devidamente aterrado, e o conjunto de TCs para a medição da energia. C) A partir da mufla de entrada, no ponto B, os condutores são nus ou de pintura isolante. A passagem do ponto B para C se dá por buchas de passagem do tipo interno-interno, e passam pela chave seccionadora tripolar de acionamento manual. Os condutores seguem até o ponto D ancorados por isoladores de apoio. D) Esse é o cubículo que abriga o disjuntor que faz proteção do transformador. E) Nessa etapa final da subestação, a chave seccionadora protege o transformador que rebaixa a tensão de 13,8 kV para 380/220 V. Vale ressaltar que, com exceção do medidor de energia, todos os custos da instalação, incluindo poste, construção da cabine, equipamentos, projeto e mão de obra de execução são por parte do consumidor. FINALIZANDO Nesta aula, aprendemos os princípios de funcionamento, tipos e métodos de uso dos principais equipamentos utilizados em instalações elétricas, desde a geração de energia até o consumidor final. Os assuntos abordados nesta aula nos mostram como são importantes o uso de equipamentos adequados para cada aplicação, e também a simbologia, os diagramas unifilares e a codificação para se compreender bem um projeto elétrico de grande porte. O setor elétrico é um sistema vivo e em constantes mudanças e atualizações, por isso, mantenha-se em dia com os novos equipamentos e tecnologias que chegam ao mercado, para que possa elaborar um projeto oferecendo o que há de melhor a um possível cliente. Sucesso e bons estudos! 34 REFERÊNCIAS ANEEL. Mapa dos empreendimentos de geração de energia elétrica no Brasil. 2019. Disponível em: <https://sigel.aneel.gov.br>. Acesso em: 2 abr. 2020. COPEL – Companhia Paranaense de Energia. NTC 903100 – Fornecimento em tensão primária de distribuição. 2018. Disponível em: <https://www.copel.com/hpcopel/normas>. Acesso em: 2 abr. 2020. ISA CETEEP. Operação e manutenção. 2020. <http://www.isacteep.com.br/pt/negocios/operacao-e-manutencao>. Acesso em: 2 abr. 2020. MOHAN, N. Sistemas elétricos de potência: curso introdutório. Rio de Janeiro: LTC – Livros Técnicos e Científicos, 2013. ONS. Acompanhamento do ERAC: Manual de procedimentos da operação - Módulo 10 - Submódulo 10, n. 21, p. 1-6, 2019. CONVERSA INICIAL TEMA 1 – CARACTERIZAÇÃO DO SISTEMA ELÉTRICO BRASILEIRO Crédito: Siyanight/Shutterstock. FINALIZANDO
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