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Informativo 980-STF (11/06/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 1 
 
Informativo comentado: 
 Informativo 980-STF 
Márcio André Lopes Cavalcante 
 
 
Julgamentos que ainda não foram concluídos em virtude de pedidos de vista ou de adiamento. Serão comentados 
assim que chegarem ao fim: HC 154508/RJ; HC 154508/RJ. 
 
NOVIDADE EXCLUSIVA 
O Clipping das Sessões Virtuais é um trecho do Informativo original do STF no qual são divulgadas apenas as 
ementas dos acórdãos que foram proferidos pelo Tribunal em sessões ocorridas no Plenário Virtual. 
Esses julgados – que não são explicados no original – estão também nos Informativos do Dizer o Direito. 
Os julgados mais relevantes do Clipping das Sessões Virtuais serão sempre comentados nos Informativos do 
DOD, permitindo que você tenha uma atualização completa. 
Assim, quando encontrar essa expressão “(Info 980 – clipping)” ao lado do número do julgado, saiba que se 
trata de um acórdão não explicado no Informativo original, tendo sido divulgado apenas no Clipping, mas 
que o Prof. Márcio irá comentar para você. 
Prepare-se porque agora você irá ouvir muito falar no Clipping :) 
 
ÍNDICE 
 
DIREITO CONSTITUCIONAL 
DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS 
▪ É formal e materialmente inconstitucional lei municipal que proíba a divulgação de material com referência a 
ideologia de gênero nas escolas municipais. 
 
DIREITOS SOCIAIS 
▪ O art. 522 da CLT, que prevê um número máximo empregados que podem ser dirigentes sindicais, é compatível com 
a CF/88 e não viola a garantia da liberdade sindical. 
 
CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE 
▪ Procurador público possui capacidade postulatória para interpor recurso extraordinário em ação de controle 
concentrado de constitucionalidade, desde que o legitimado tenha outorgado poderes. 
 
ADI 
▪ É possível o aditamento da petição inicial da ADI para a inclusão de novos dispositivos legais? 
 
ADPF 
▪ É cabível o ajuizamento de ADPF contra interpretação judicial de que possa resultar lesão a preceito fundamental. 
 
TRIBUNAIS DE CONTAS 
▪ É constitucional dispositivo da CE/SP que preveja que o TCM/SP será composto por cinco conselheiros e que 
obedecerá às normas da Constituição Federal, da Constituição Estadual e as normas pertinentes aos Conselheiros 
do TCE. 
 
ADVOCACIA PÚBLICA 
▪ Técnico superior em Direito de autarquia estadual não pode exercer atribuições de representação jurídica da 
entidade, mas pode fazer atuação jurídica no âmbito interno da autarquia, desde que sob a supervisão de 
Procurador do Estado. 
 Informativo 
comentado 
 
 
 
Informativo 980-STF (11/06/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 2 
DIREITO ADMINISTRATIVO 
ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA 
▪ Nomeação de dirigentes e desnecessidade de prévia aprovação da ALE 
 
DIREITO NOTARIAL E REGISTRAL 
REGIME JURÍDICO 
▪ Lei que trate sobre os cartórios extrajudiciais do DF deve ser de iniciativa do TJDFT, discutida e votada pelo Congresso 
Nacional. 
 
DIREITO PROCESSUAL CIVIL 
COMPETÊNCIA 
▪ Compete ao STF julgar ação proposta por Estado contra União versando sobre imunidade tributária recíproca. 
 
IMPENHORABILIDADE 
▪ São inconstitucionais quaisquer medidas de constrição judicial em desfavor do Estado-membro, das Caixas Escolares 
ou das Unidades Descentralizadas de Execução da Educação UDEs, que recaiam sobre verbas destinadas à educação. 
 
PRECATÓRIOS 
▪ Se um precatório de natureza alimentar é cedido, ele permanece sendo crédito de natureza alimentar e, portanto, 
deverá ser pago de forma preferencial. 
 
DIREITO PENAL 
CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO 
▪ Configura o crime de roubo (e não estelionato) a conduta do funcionário de uma empresa que combina com outro 
indivíduo para que este simule assalta o empregado com uma arma de fogo e, dessa forma, leve o dinheiro da 
empresa. 
 
DIREITO PROCESSUAL PENAL 
COMPETÊNCIA 
▪ Justiça do Trabalho não tem competência penal. 
 
PROCEDIMENTOS 
▪ Momento do interrogatório nas ações penais regidas pela Lei nº 8.038/90. 
 
PROVAS 
▪ Descumprimento do art. 212 do CPP e eventual nulidade processual. 
 
NULIDADES 
▪ A nulidade processual pela não abertura da fase de diligências configura nulidade relativa, devendo ser arguida no 
momento oportuno e com a demonstração de efetivo prejuízo. 
 
DIREITO TRIBUTÁRIO 
IMUNIDADE TRIBUTÁRIA 
▪ Estados-membros, mesmo gozando de imunidade tributária recíproca, devem cumprir as obrigações tributárias 
acessórias. 
 
DIREITO DO TRABALHO E PROCESSUAL DO TRABALHO 
LIBERDADE SINDICAL 
▪ O art. 522 da CLT, que prevê um número máximo empregados que podem ser dirigentes sindicais, é compatível com 
a CF/88 e não viola a garantia da liberdade sindical. 
 Informativo 
comentado 
 
 
 
Informativo 980-STF (11/06/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 3 
 
CONTRATO DE TRABALHO 
▪ A Lei nº 13.467/2017 (Reforma Trabalhista) alterou o § 3º do art. 614 da CLT e vedou expressamente a ultratividade 
das normas coletivas no ordenamento jurídico brasileiro. 
 
TRABALHADORES PORTUÁRIOS AVULSOS 
▪ Trabalhadores portuários avulsos também têm direito a adicional de risco. 
 
COMPETÊNCIA 
▪ Justiça do Trabalho não tem competência penal. 
 
DIREITO CONSTITUCIONAL 
 
DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS 
É inconstitucional lei municipal que proíba a divulgação de material 
com referência a “ideologia de gênero” nas escolas municipais 
 
Importante!!! 
Compete privativamente à União legislar sobre diretrizes e bases da educação nacional (art. 
22, XXIV, da CF), de modo que os Municípios não têm competência para editar lei proibindo a 
divulgação de material com referência a “ideologia de gênero” nas escolas municipais. Existe 
inconstitucionalidade formal. 
Há também inconstitucionalidade material nessa lei. 
Lei municipal proibindo essa divulgação viola: 
• a liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber (art. 
206, II, CF/88); e 
• o pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas (art. 206, III). 
Essa lei contraria ainda um dos objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil, que 
é a promoção do bem de todos sem preconceitos (art. 3º, IV, CF/88). 
Por fim, essa lei não cumpre com o dever estatal de promover políticas de inclusão e de 
igualdade, contribuindo para a manutenção da discriminação com base na orientação sexual 
e identidade de gênero. 
STF. Plenário. ADPF 457, Rel. Alexandre de Moraes, julgado em 27/04/2020 (Info 980 – clipping). 
 
A situação concreta foi a seguinte: 
Em Novo Gama (GO), foi editada a Lei Municipal 1.516/2015, proibindo a utilização em escolas públicas 
municipais de material didático que contenha “ideologia de gênero”: 
Art. 1º Fica proibida a divulgação de material com referência a ideologia de gênero nas escolas 
municipais de Novo Gama-GO. 
Art. 2º Todos os materiais didáticos deverão ser analisados antes de serem distribuídos nas escolas 
municipais de Novo Gama-GO. 
Art. 3º Não poderão fazer parte do material didático nas escolas em Novo Gama-GO materiais que 
fazem menção ou influenciem ao aluno sobre a ideologia de gênero. 
Art. 4º Materiais que foram recebidos mesmo que por doação com referência a ideologia de 
gênero deverão ser substituídos por materiais sem referência a mesma. 
 
 
 Informativo 
comentado 
 
 
 
Informativo 980-STF (11/06/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 4 
Essa lei é constitucional? 
NÃO. O STF entendeu que existe inconstitucionalidade tanto sob o aspecto formal como material. 
 
Inconstitucionalidade formal: Municípios não possuem competência para legislar sobre conteúdo 
programático e outros aspectos pedagógicosO art. 22, XXIV, da C/88 estabelece que a União possui competência privativa para fixar as diretrizes e 
bases da educação nacional: 
Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre: 
(...) 
XXIV - diretrizes e bases da educação nacional; 
(...) 
Parágrafo único. Lei complementar poderá autorizar os Estados a legislar sobre questões 
específicas das matérias relacionadas neste artigo. 
 
Em complemento, a Constituição também conferiu primazia à União ao imputar-lhe a competência para 
estabelecer normas gerais sobre educação e ensino, reservando aos Estados e ao Distrito Federal um 
espaço de competência suplementar: 
Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre: 
(...) 
IX - educação, cultura, ensino, desporto, ciência, tecnologia, pesquisa, desenvolvimento e 
inovação; 
 
Art. 30. Compete aos Municípios: 
(...) 
II - suplementar a legislação federal e estadual no que couber; 
 
No exercício dessa competência legislativa, a União editou a Lei nº 9.394/96, Lei de Diretrizes e Bases da 
Educação (LDB). 
A LDB não traz qualquer proibição quanto à divulgação de material com referência a “ideologia de gênero” 
nas escolas públicas. 
A Lei municipal que proíbe determinados conteúdos nas escolas públicas representa ingerência explícita 
do Poder Legislativo municipal no currículo pedagógico ministrado por instituições de ensino vinculadas 
ao Sistema Nacional de Educação (art. 214, CF/88 c/c Lei Federal nº 13.005/2014) e, consequentemente, 
submetidas à disciplina da Lei Federal nº 9.394/96 (LDB). 
Esse é um assunto que necessita de tratamento uniforme em todo o país, devendo, portanto, ser tratado 
pela União (art. 22, XXIV, da CF/88). 
A eventual necessidade de suplementação da legislação federal, com vistas à regulamentação de interesse 
local, jamais justificaria a edição de proibição à conteúdo pedagógico, não correspondente às diretrizes 
fixadas na LDB. 
Desse modo, os Municípios não dispõem de competência legislativa para a edição de normas que tratem de 
currículos, conteúdos programáticos, metodologias de ensino ou modos de exercício da atividade docente. 
 
Municípios não possuem competência para editar lei proibindo a divulgação de material com referência 
a “ideologia de gênero” nas escolas municipais. 
STF. Plenário. ADPF 457, Rel. Alexandre de Moraes, julgado em 27/04/2020 (Info 980 – clipping). 
 
 
 
 Informativo 
comentado 
 
 
 
Informativo 980-STF (11/06/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 5 
Inconstitucionalidade material 
O STF entendeu também que essa lei municipal é materialmente inconstitucional porque viola dois 
princípios relacionados com o ensino: 
• a liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber (art. 206, II, CF/88); e 
• o pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas (art. 206, III, CF/88). 
 
Art. 206. O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios: 
(...) 
II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber; 
III - pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas, e coexistência de instituições públicas e 
privadas de ensino; 
 
Censura prévia 
A Lei municipal que proíbe a divulgação de material com referência a “ideologia de gênero” nas escolas 
municipais configura censura prévia. 
A lei pretende proibir determinados conteúdos que entende supostamente prejudiciais. 
 
Dignidade da pessoa humana 
O reconhecimento da identidade de gênero é constitutivo da dignidade humana. O Estado, para garantir 
o gozo pleno dos direitos humanos, não pode vedar aos estudantes o acesso a conhecimento a respeito 
de seus direitos de personalidade e de identidade. 
 
Resumindo: 
Compete privativamente à União legislar sobre diretrizes e bases da educação nacional (art. 22, XXIV, 
da CF), de modo que os Municípios não têm competência para editar lei proibindo a divulgação de 
material com referência a “ideologia de gênero” nas escolas municipais. Existe inconstitucionalidade 
formal. 
Há também inconstitucionalidade material nessa lei. 
Lei municipal proibindo essa divulgação viola: 
• a liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber (art. 206, II, 
CF/88); e 
• o pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas (art. 206, III). 
Essa lei contraria ainda um dos objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil, que é a 
promoção do bem de todos sem preconceitos (art. 3º, IV, CF/88). 
Por fim, essa lei não cumpre com o dever estatal de promover políticas de inclusão e de igualdade, 
contribuindo para a manutenção da discriminação com base na orientação sexual e identidade de 
gênero. 
STF. Plenário. ADPF 457, Rel. Alexandre de Moraes, julgado em 27/04/2020. 
 
“Ideologia de gênero” 
Vale ressaltar que a expressão “ideologia de gênero” não é tecnicamente correta. 
O mais adequado é falar em identidade de gênero. 
Identidade de gênero significa a maneira como alguém se sente e a maneira como deseja ser reconhecida 
pelas demais pessoas, independentemente do seu sexo biológico. 
“A identidade de gênero se refere à experiência de uma pessoa com o seu próprio gênero. Pessoas 
transgênero possuem uma identidade de gênero que é diferente do sexo que lhes foi designado no 
momento de seu nascimento. 
Uma pessoa transgênero ou trans pode identificar-se como homem, mulher, trans-homem, trans-mulher, 
como pessoa não-binária ou com outros termos, tais como hijra, terceiro gênero, dois-espíritos, travesti, 
 Informativo 
comentado 
 
 
 
Informativo 980-STF (11/06/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 6 
fa’afafine, gênero queer, transpinoy, muxe, waria e meti Identidade de gênero é diferente de orientação 
sexual. Pessoas trans podem ter qualquer orientação sexual, incluindo heterossexual, homossexual, 
bissexual e assexual.” (Nota Informativa das Nações Unidas. Disponível em https://unfe.org/system/unfe-
91-Portugese_TransFact_FINAL.pdf?platform=hootsuite) 
Nas palavras do Min. Edson Fachin: 
“O reconhecimento da identidade de gênero é, portanto, constitutivo da dignidade humana. O Estado, 
para garantir o gozo pleno dos direitos humanos, não pode vedar aos estudantes o acesso a conhecimento 
a respeito de seus direitos de personalidade e de identidade.” 
 
 
DIREITOS SOCIAIS 
O art. 522 da CLT, que prevê um número máximo empregados que podem ser dirigentes 
sindicais, é compatível com a CF/88 e não viola a garantia da liberdade sindical 
 
O art. 8º, VIII, da CF/88 prevê que os dirigentes sindicais não podem ser demitidos, salvo se 
cometerem falta grave. 
O art. 522 da CLT prevê um número máximo empregados que podem ser dirigentes sindicais. 
Assim que a CF/88 foi promulgada, alguns doutrinadores começaram a sustentar a tese de que 
o art. 522 da CLT não teria sido recepcionado pela Carta Constitucional. Isso porque o inciso I 
do art. 8º da Constituição prevê que a liberdade sindical, ou seja, proíbe que o poder público 
interfira na organização dos sindicatos. 
O TST e o STF não concordaram com essa tese. 
A liberdade sindical tem previsão constitucional, mas não possui caráter absoluto. 
A previsão legal de número máximo de dirigentes sindicais dotados de estabilidade de 
emprego não esvazia a liberdade sindical. 
Essa garantia constitucional existe para que possa assegurar a autonomia da entidade 
sindical, mas não serve para criar situações de estabilidade genérica e ilimitada que violem a 
razoabilidade e a finalidade da norma constitucional garantidora do direito. 
Logo, o art. 522 da CLT foi recepcionado pela Constituição Federal de 1988. 
STF. Plenário. ADPF 276, Rel. Cármen Lúcia, julgado em 15/05/2020 (Info 980 – clipping). 
 
Para mais comentários, veja Direito do Trabalho.CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE 
Procurador público possui capacidade postulatória para interpor recurso extraordinário em ação 
de controle concentrado de constitucionalidade, desde que o legitimado tenha outorgado poderes 
 
Importante!!! 
 Os procuradores públicos têm capacidade postulatória para interpor recursos 
extraordinários contra acórdãos proferidos em sede de ação de controle concentrado de 
constitucionalidade, nas hipóteses em que o legitimado para a causa outorgue poderes aos 
subscritores das peças recursais. 
STF. Plenário. RE 1068600 AgR-ED-EDv/RN, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 4/6/2020 
(Info 980). 
 
 
 Informativo 
comentado 
 
 
 
Informativo 980-STF (11/06/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 7 
Imagine a seguinte situação adaptada: 
O Prefeito do Município de Natal (RN) ajuizou ADI no TJ/RN contra determinada lei municipal, de iniciativa 
parlamentar. 
O TJ/RN julgou improcedente o pedido, declarando a constitucionalidade da lei. 
O acórdão foi publicado e o Prefeito de Natal interpôs recurso extraordinário para o STF. 
O ponto polêmico é que este recurso foi assinado apenas pelos Procuradores Municipais (e não pelo 
Prefeito). 
Vale ressaltar, contudo, que havia, nos autos, autorização para os procuradores municipais recorrerem 
contra as decisões proferidas. 
 
Diante disso, surgiu a dúvida: o Prefeito Municipal também precisaria ter assinado o recurso ou basta o 
Procurador? 
Basta o Procurador. 
Os procuradores públicos têm capacidade postulatória para interpor recursos extraordinários contra 
acórdãos proferidos em sede de ação de controle concentrado de constitucionalidade, nas hipóteses em 
que o legitimado para a causa outorgue poderes aos subscritores das peças recursais. 
STF. Plenário. RE 1068600 AgR-ED-EDv/RN, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 4/6/2020 (Info 980). 
 
No caso concreto, embora a petição de recurso extraordinário não tenha sido subscrita pelo Prefeito, mas 
somente pelos procuradores, sendo um deles o chefe da procuradoria do município, há, nos autos, 
documento com manifestação inequívoca do chefe do Poder Executivo, conferindo poderes específicos 
aos procuradores para instaurar o processo de controle normativo abstrato de constitucionalidade, bem 
como para recorrer das decisões proferidas nos autos. 
 
No mesmo sentido: 
Os Procuradores (do Estado, do Município, da ALE, da Câmara etc.) possuem legitimidade para a 
interposição de recursos em ação direta de inconstitucionalidade. 
STF. 2ª Turma. RE 1126828 AgR/SP, rel. orig. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Cármen Lúcia, julgado 
em 4/2/2020 (Info 965). 
 
Propositura da ação 
A ação direta de inconstitucionalidade deve ser, obrigatoriamente, assinada pelos legitimados do art. 103 
da CF/88 ou, por simetria, pelos legitimados previstos na Constituição estadual. Isso porque o ajuizamento 
ou não da ação é um ato de natureza política. 
Assim, em nosso exemplo, o Prefeito obrigatoriamente teve que assinar essa ADI. 
 
Recursos em ADI 
Por outro lado, os atos subsequentes ao ajuizamento da ação (inclusive a interposição dos recursos) são 
atos de natureza técnica. Logo, devem ser assinados, obrigatoriamente, pelos procuradores da parte 
legitimada. 
Assim, os recursos em ação direta de inconstitucionalidade até podem vir assinados pelo legitimado 
conjuntamente com o Procurador, mas é sempre essencial a presença de advogado. 
 
Cuidado 
Não confundir com este outro julgado, que trata sobre a legitimidade para figurar como recorrente (e não 
sobre assinatura do recurso): 
O Estado-membro não possui legitimidade para recorrer contra decisões proferidas em sede de controle 
concentrado de constitucionalidade, ainda que a ADI tenha sido ajuizada pelo respectivo Governador. 
 Informativo 
comentado 
 
 
 
Informativo 980-STF (11/06/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 8 
A legitimidade para recorrer, nestes casos, é do próprio Governador (previsto como legitimado pelo art. 
103 da CF/88) e não do Estado-membro. 
STF. Plenário. ADI 4420 ED-AgR, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 05/04/2018 (Info 896). 
 
 
ADI 
É possível o aditamento da petição inicial da ADI para a inclusão de novos dispositivos legais? 
 
O aditamento à petição inicial da ação direta de inconstitucionalidade para que sejam 
incluídos novos dispositivos legais somente é possível nas hipóteses em que a inclusão da nova 
impugnação: 
a) dispense a requisição de novas informações e manifestações; e 
b) não prejudique o cerne da ação. 
Assim, por exemplo, se o autor, depois que o processo já está em curso, pede a inclusão no 
objeto da ADI de novos dispositivos legais que ampliam o escopo da ação, esse aditamento 
deve ser indeferido porque isso exigiria que novos pedidos de informações à Assembleia 
Legislativa ou ao Congresso Nacional, bem como novas manifestações da Advocacia-Geral da 
União e da Procuradoria-Geral da República, o que violaria os princípios da economia e da 
celeridade processuais. Ademais, a inclusão dos dispositivos prejudicaria o objeto da ação 
direta, na medida em que ampliaria o seu escopo. 
STF. Plenário. ADI 1926, Rel. Roberto Barroso, julgado em 20/04/2020 (Info 980 – clipping). 
 
Admitindo o aditamento: 
Não há óbice ao aditamento, a fim de incluir os atos normativos editados posteriormente ao ajuizamento 
da ação, os quais não alteraram substancialmente as normas revogadas, padecendo, segunda alega a 
requerente, dos mesmos vícios. 
STF. Plenário. ADI 3502, Rel. Edson Fachin, julgado em 14/02/2020. 
 
Admite-se o aditamento ao pedido inicial formulado pelo Procurador-Geral da República por ocasião de 
seu parecer, em casos em que tal aditamento tenha o objetivo de incluir normas que fazem parte do 
mesmo complexo normativo em que estão inseridas as normas objeto do pedido inicial, desde que lhes 
seja comum o fundamento jurídico invocado. 
STF. Plenário. ADI 5267 AgR, Rel. Luiz Fux, julgado em 23/08/2019. 
 
Não admitindo o aditamento: 
O aditamento da inicial só é possível, observados os princípios da economia e da celeridade processuais, 
quando a inclusão de nova impugnação dispensa a requisição de novas informações. 
STF. Plenário. ADI 4.265, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 09/04/2018. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Informativo 
comentado 
 
 
 
Informativo 980-STF (11/06/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 9 
ADPF 
É cabível o ajuizamento de ADPF contra interpretação judicial 
de que possa resultar lesão a preceito fundamental 
 
Cabe ADPF contra o conjunto de decisões judiciais que determinam medidas de constrição judicial 
em desfavor do Estado-membro, das Caixas Escolares ou das Unidades Descentralizadas de 
Execução da Educação UDEs e que recaiam sobre verbas destinadas à educação. 
STF. Plenário. ADPF 484/AP, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 4/6/2020 (Info 980). 
 
Para mais comentários, veja o tema em Direito Processual Civil. 
 
 
TRIBUNAIS DE CONTAS 
É constitucional dispositivo da CE/SP que preveja que o TCM/SP será composto por cinco 
conselheiros e que obedecerá às normas da Constituição Federal, da Constituição Estadual e as 
normas pertinentes aos Conselheiros do TCE 
 
A Constituição do Estado de São Paulo previu a seguinte regra: 
Art. 151. O Tribunal de Contas do Município de São Paulo será composto por cinco 
Conselheiros e obedecerá, no que couber, aos princípios da Constituição Federal e desta 
Constituição. 
Parágrafo único. Aplicam-se aos Conselheiros do Tribunal de Contas do Município de São 
Paulo as normas pertinentes aos Conselheiros do Tribunal de Contas do Estado.Para o STF, essa previsão não ofende a autonomia municipal nem viola o princípio da simetria. 
Se a Constituição Federal prevê nove conselheiros para a composição do TCU e sete para 
composição dos tribunais de contas dos estados, é razoável que um tribunal de contas 
municipal tenha um número inferior de conselheiros. Desse modo, não se vislumbra nenhuma 
ofensa ao princípio da simetria. 
Vale ressaltar que essa norma da Constituição Estadual não equipara os vencimentos dos 
conselheiros do Tribunal de Contas do Município aos dos conselheiros do Tribunal de Contas 
do Estado. A fixação da remuneração dos conselheiros cabe ao Município (mesmo que em 
valor diverso do fixado para os conselheiros estaduais). 
STF. Plenário. ADI 346/SP e ADI 4776/SP, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgados em 3/6/2020 (Info 980). 
 
Quem realiza o controle externo da Administração Pública? 
Esfera FEDERAL Esfera ESTADUAL Esfera DISTRITAL Esfera MUNICIPAL 
O Congresso Nacional, 
com o auxílio do TCU. 
A Assembleia Legislativa, 
com o auxílio do TCE. 
A Câmara Distrital, com 
o auxílio do TCDF. 
A Câmara Municipal, 
com o auxílio do TCE. 
 
Tribunal de Contas DOS MUNICÍPIOS (Tribunal de Contas dos Municípios do Estado...) – TCM do Estado “X” 
Em regra, a fiscalização dos recursos municipais é feita pelo Tribunal de Contas. No entanto, a CF autoriza 
que seja criado um Tribunal de Contas dos Municípios. 
Este Tribunal de Contas dos Municípios, se criado, tem a função de auxiliar as Câmaras Municipais no 
exercício do controle externo. 
Assim, por exemplo, imagine que exista um Tribunal de Contas dos Municípios na Bahia. Este Tribunal irá 
auxiliar a Câmara Municipal de Ilhéus (BA) a fazer o controle externo dos recursos daquele Município. De 
 Informativo 
comentado 
 
 
 
Informativo 980-STF (11/06/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 10 
igual forma, irá também atuar em relação às contas de Vitória da Conquista, Feira de Santana e todos os 
demais Municípios da Bahia. 
Desse modo, o Tribunal de Contas dos Municípios é um órgão ESTADUAL que atua na fiscalização das 
contas de todos os Municípios de determinado Estado. 
Atualmente, só existem três Tribunais de Contas dos Municípios: na Bahia, em Goiás e no Pará. 
Nos demais Estados onde não há Tribunal de Contas dos Municípios, a competência para realizar essa 
fiscalização é do TCE. 
Vale ressaltar que a CF/88 não proíbe que os Estados criem novos Tribunais de Contas dos Municípios. 
 
Tribunal de Contas DO MUNICÍPIO (Tribunal de Contas Municipal) – TC do Município “X” 
É um órgão MUNICIPAL que tem a função de auxiliar uma única Câmara Municipal no exercício do controle 
externo em relação a um determinado Município. 
Atualmente, só existem dois Tribunais de Contas do Município: o Tribunal de Contas do Município do Rio 
de Janeiro e o Tribunal de Contas do Município de São Paulo. 
Assim, por exemplo, o controle externo em relação às contas do Município de São Paulo é exercido pela 
Câmara Municipal de São Paulo, com o auxílio técnico do TCM de São Paulo. O controle externo em relação 
aos demais Municípios do Estado de São Paulo (exs: Santos, Campinas, Guarulhos etc.) é exercido pelas 
respectivas Câmaras Municipais com o auxílio do TCE de São Paulo. 
A CF/88 proíbe que sejam criados novos Tribunais de Contas do Município: 
Art. 31 (...) 
§ 4º É vedada a criação de Tribunais, Conselhos ou órgãos de Contas Municipais. 
 
Sobre o tema, confira esta didática decisão do STF: 
(...) A Constituição da República impede que os Municípios criem os seus próprios Tribunais, Conselhos ou 
órgãos de contas municipais (CF, art. 31, § 4º), mas permite que os Estados-membros, mediante autônoma 
deliberação, instituam órgão estadual denominado Conselho ou Tribunal de Contas dos Municípios (...) 
incumbido de auxiliar as Câmaras Municipais no exercício de seu poder de controle externo (CF, art. 31, § 1º). 
Esses Conselhos ou Tribunais de Contas dos Municípios - embora qualificados como órgãos estaduais (CF, 
art. 31, § 1º) - atuam, onde tenham sido instituídos, como órgãos auxiliares e de cooperação técnica das 
Câmaras de Vereadores. (...) 
STF. Plenário. ADI 687, Rel. Min. Celso de Mello, julgado em 02/02/1995. 
 
Tribunais de Contas dos Municípios x Tribunal de Contas do Município 
Tribunais de Contas DOS MUNICÍPIOS Tribunal de Contas DO MUNICÍPIO 
Órgão estadual que atua na fiscalização das contas 
de todos os Municípios de determinado Estado. 
Órgão municipal que atua na fiscalização das 
contas de um único Município. 
Atua como órgão auxiliar de todas as Câmaras 
Municipais de determinado Estado no exercício do 
controle externo sobre os respectivos Municípios 
daquele Estado. 
Atua como órgão auxiliar de uma única Câmara 
Municipal no exercício do controle externo sobre 
determinado Município. 
A CF/88 permite que os Estados criem novos 
Tribunais de Contas dos Municípios. 
A CF/88 proíbe que sejam criados novos Tribunais 
de Contas Municipais. 
Atualmente, existem três: TCM/BA, TCM/GO e 
TCM/PA. 
Atualmente, existem dois: TCM/Rio de Janeiro e 
TCM/São Paulo. 
 
Imagine agora a seguinte situação: 
A Constituição do Estado de São Paulo previu a seguinte regra: 
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Informativo 980-STF (11/06/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 11 
Art. 151. O Tribunal de Contas do Município de São Paulo será composto por cinco Conselheiros e 
obedecerá, no que couber, aos princípios da Constituição Federal e desta Constituição. 
Parágrafo único. Aplicam-se aos Conselheiros do Tribunal de Contas do Município de São Paulo as 
normas pertinentes aos Conselheiros do Tribunal de Contas do Estado. 
 
ADI 
A Associação Nacional dos Auditores dos Tribunais de Contas do Brasil (Audicon) ajuizou ADI contra esse 
dispositivo. Para a autora, o número correto, seguindo os preceitos da Constituição Federal, seria de 7 
conselheiros. 
A associação aponta que a Súmula 653 do STF prevê que, no Tribunal de Contas Estadual (TCE), composto 
por 7 conselheiros, quatro devem ser escolhidos pela Assembleia Legislativa e 3 pelo Governador, cabendo 
a este indicar um dentre auditores e outro dentre membros do Ministério Público, e um terceiro a sua 
livre escolha. 
Por sua vez, o Tribunal de Contas da União (TCU) é composto por 9 Ministros, sendo 6 escolhidos pelo 
Congresso Nacional e 3 pelo Presidente da República, sendo 2 alternadamente dentre auditores e 
membros do Ministério Público junto ao TCU. 
Já a Constituição paulista estabelece que o Tribunal de Contas do Município de São Paulo é integrado por 
3 conselheiros indicados pela Câmara de Vereadores e 2 pelo Prefeito, sem destinar nenhuma vaga a 
auditores ou integrantes do Ministério Público. 
Na avaliação da Audicon, o TCM-SP deveria seguir o mesmo modelo dos tribunais estaduais, considerando 
que o art. 75 da Constituição Federal prevê que as normas referentes ao TCU “aplicam-se, no que couber, 
à organização, composição e fiscalização dos Tribunais de Contas dos Estados e do Distrito Federal, bem 
como dos Tribunais e Conselhos de Contas dos Municípios”. 
 
O STF concordou com os argumentos da Audicon? 
NÃO. O STF julgou improcedente o pedido formulado e declarou constitucional o art. 151, caput e 
parágrafo único, da Constituição do Estado de São Paulo, que estabelece que o Tribunal de Contas do 
Município de São Paulo (TCM-SP) será composto por 5 conselheiros, aos quais deverão ser aplicadas as 
normas pertinentes aos conselheiros do Tribunal de Contas estadual. 
 
Constituição do Estado não violou a autonomia municipal 
A Constituição do Estado, ao estabelecer que se aplicam aos conselheiros do TCM-SP as normas 
pertinentes aos membros do Tribunal de Contas estadual, não fere a autonomia municipal. 
Ao contrário,a Constituição estadual prestigia a autonomia municipal. 
 
Não há equiparação de vencimentos, mas apenas de tratamento jurídico 
Vale ressaltar que a norma da Constituição Estadual não faz menção à regra de equiparação de 
vencimentos dos conselheiros do Tribunal de Contas do Município aos dos conselheiros do Tribunal de 
Contas do Estado. O que o dispositivo faz é determinar que a aplicação das normas pertinentes aos 
Conselheiros do Tribunal de Contas do Estado. 
Não se pode interpretar analogicamente que os conselheiros municipais teriam seus vencimentos 
equiparados aos dos Conselheiros Estaduais. A fixação da remuneração dos conselheiros cabe ao 
Município (mesmo que em valor diverso do fixado para os conselheiros estaduais), uma vez que ele dispõe 
de autonomia para deliberar sobre os vencimentos de seus servidores. 
 
Não há violação ao princípio da simetria 
O art. 75 da CF/88 prevê o seguinte: 
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Informativo 980-STF (11/06/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 12 
Art. 75. As normas estabelecidas nesta seção aplicam-se, no que couber, à organização, 
composição e fiscalização dos Tribunais de Contas dos Estados e do Distrito Federal, bem como 
dos Tribunais e Conselhos de Contas dos Municípios. 
 
Desse modo, esse dispositivo estabelece a imposição do modelo federal do Tribunal de Contas da União. 
A Constituição estadual, ao fixar que o TCM-SP deve ser composto por 5 membros, não ofende o princípio 
da simetria. É razoável que um tribunal de contas municipal tenha um número inferior de conselheiros ao 
dos Tribunais de Contas dos Estados. 
Nas exatas palavras do Ministro Relator: 
“Se a Constituição Federal prevê nove conselheiros para a composição do TCU e sete para composição dos 
tribunais de contas dos estados, é razoável que um tribunal de contas municipal tenha um número inferior 
de conselheiros. Desse modo, não se vislumbra nenhuma ofensa ao princípio da simetria”. 
 
Resumindo 
A Constituição do Estado de São Paulo previu a seguinte regra: 
Art. 151. O Tribunal de Contas do Município de São Paulo será composto por cinco Conselheiros e 
obedecerá, no que couber, aos princípios da Constituição Federal e desta Constituição. 
Parágrafo único. Aplicam-se aos Conselheiros do Tribunal de Contas do Município de São Paulo as 
normas pertinentes aos Conselheiros do Tribunal de Contas do Estado. 
Para o STF, essa previsão não ofende a autonomia municipal nem viola o princípio da simetria. 
Se a Constituição Federal prevê nove conselheiros para a composição do TCU e sete para composição 
dos tribunais de contas dos estados, é razoável que um tribunal de contas municipal tenha um número 
inferior de conselheiros. Desse modo, não se vislumbra nenhuma ofensa ao princípio da simetria. 
Vale ressaltar que essa norma da Constituição Estadual não equipara os vencimentos dos conselheiros 
do Tribunal de Contas do Município aos dos conselheiros do Tribunal de Contas do Estado. A fixação da 
remuneração dos conselheiros cabe ao Município (mesmo que em valor diverso do fixado para os 
conselheiros estaduais). 
STF. Plenário. ADI 346/SP e ADI 4776/SP, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgados em 3/6/2020 (Info 980). 
 
 
ADVOCACIA PÚBLICA 
Técnico superior em Direito de autarquia estadual não pode exercer atribuições de 
representação jurídica da entidade, mas pode fazer atuação jurídica no âmbito interno da 
autarquia, desde que sob a supervisão de Procurador do Estado 
 
Importante!!! 
É inconstitucional lei estadual que preveja que servidor de autarquia (no caso, era Técnico 
Superior do DETRAN) será responsável por: 
• representar a entidade “em juízo ou fora dele nas ações em que haja interesse da autarquia”. 
• praticar “todos os demais atos de natureza judicial ou contenciosa, devendo, para tanto, 
exercer as suas funções profissionais e de responsabilidade técnica regidas pela Ordem dos 
Advogados do Brasil OAB”. 
Tais previsões violam o “princípio da unicidade da representação judicial dos Estados e do 
Distrito Federal”, insculpido no art. 132 da CF/88. 
A legislação impugnada, apesar de não ter criado uma procuradoria paralela, atribuiu ao 
cargo de Técnico Superior do Detran/ES, com formação em Direito, diversas funções 
privativas de advogado. 
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Informativo 980-STF (11/06/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 13 
Ao assim agir, conferiu algumas atribuições de representação jurídica do DETRAN a pessoas 
estranhas aos quadros da Procuradoria-Geral do Estado, com violação do art. 132, caput, da CF/88. 
O STF decidiu modular os efeitos da decisão para: 
• manter os cargos em questão, excluídas as atribuições judiciais inerentes às procuradorias; 
• declarar a validade dos atos praticados (ex: contestações, recursos etc.) até a data do 
julgamento, com base na teoria do funcionário de fato. 
 
ATENÇÃO. Por outro lado, é válido que esses servidores façam a atuação jurídica no âmbito 
interno da autarquia, sobretudo em atividades de compliance, tais como conceber e formular 
medidas e soluções de otimização, fiscalização e auditoria (exs: interpretar textos e 
instrumentos legais, elaborar pareceres sobre questões jurídicas que envolvam as atividades 
da entidade, elaborar editais, contratos, convênios etc.). Essas atribuições podem sim ser 
exercidas* pelos Técnicos Superiores do DETRAN, sem que isso ofenda o princípio da 
unicidade da representação judicial. 
O STF entendeu que não se pode deslocar qualquer atuação técnico-jurídica da autarquia para 
a PGE, porque esta não conseguirá fazer frente a essa gama de trabalho, sob pena de ter suas 
atividades inviabilizadas. 
STF. Plenário. ADI 5109/ES, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 13/12/2018 (Info 927). 
 
No dia 04/06/2020, o STF julgou embargos de declaração opostos neste processo e fez os 
seguintes acréscimos: 
• também são inconstitucionais os dispositivos da lei que preveem que o Técnico Superior do 
DETRAN possa “apresentar recursos em qualquer instância”, “comparecer às audiências e 
outros atos para defender os direitos do órgão” e “promover medidas administrativas e 
judiciais para proteção dos bens e patrimônio do DETRAN-ES”; 
• a declaração de inconstitucionalidade parcial do ato normativo abrange as atribuições 
jurídicas consultivas do cargo de Técnico Superior que sejam privativas de Procurador do 
Estado. Assim, as atribuições de “elaborar estudos de pareceres sobre questões jurídicas que 
envolvam as atividades do DETRAN-ES; elaborar editais, contratos, convênios, acordos e 
ajustes celebrados pela autarquia, com a emissão de parecer” devem ser exercidas sob 
supervisão de Procurador do Estado do Espírito Santo. 
 
* Com base no que foi completado no julgamento dos embargos, conclui-se que as atribuições 
jurídicas consultivas dos ocupantes do cargo de Técnico Superior devem ser obrigatoriamente 
exercidas sob a supervisão de Procurador do Estado, por ser esta a interpretação que melhor 
prestigia o art. 132 da CF/88 e a jurisprudência do STF. 
STF. Plenário. ADI 5109 ED-segundos/ES, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 4/6/2020 (Info 980). 
 
Princípio da unicidade da representação judicial dos Estados e do Distrito Federal 
Segundo este “princípio”, os Procuradores dos Estados e do Distrito Federal serão os únicos responsáveis 
pela representação judicial e pela consultoria jurídica das respectivas unidades federadas. 
Em outras palavras, só um órgão pode desempenhar as funções de representação judicial e de consultoria 
jurídica nos Estados e DF e este órgão é a Procuradoria-Geral do Estado (ou PGDF). 
Este “princípio” está previsto no art. 132 da CF/88: 
Art. 132. Os Procuradores dos Estados e do Distrito Federal, organizados em carreira, na qual o 
ingressodependerá de concurso público de provas e títulos, com a participação da Ordem dos 
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Informativo 980-STF (11/06/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 14 
Advogados do Brasil em todas as suas fases, exercerão a representação judicial e a consultoria 
jurídica das respectivas unidades federadas. 
 
É possível que o Estado-membro (ou DF) crie Procuradorias autárquicas como órgãos distintos da PGE? 
NÃO. 
A Constituição do Estado do Ceará previa que o Governador deveria encaminhar à ALE projetos de lei, dispondo 
sobre a organização e o funcionamento da Procuradoria-Geral do Estado e das procuradorias autárquicas. 
O STF decidiu que essa regra é inconstitucional. Isso porque a CF/88 determina que a representação 
judicial e a consultoria jurídica do Estado, incluídas suas autarquias e fundações, deve ser feita pela PGE, 
nos termos do art. 132 da CF/88. 
O art. 132 da CF/88 consagra o chamado princípio da unicidade da representação judicial e da consultoria 
jurídica dos Estados e do Distrito Federal e, dessa forma, estabelece competência funcional exclusiva da 
Procuradoria-Geral do Estado. 
A exceção prevista no art. 69 do ADCT da CF deixou evidente que, a partir da Constituição de 1988, não se 
permite mais a criação de órgãos jurídicos distintos da Procuradoria-Geral do Estado, admite-se apenas a 
manutenção daquelas consultorias jurídicas já existentes quando da promulgação da Carta. Trata-se de 
exceção direcionada a situações concretas e do passado e, por essa razão, deve ser interpretada 
restritivamente, inclusive com atenção à diferenciação entre os termos “consultoria jurídica” e “procuradoria 
jurídica”, uma vez que esta última pode englobar as atividades de consultoria e representação judicial. 
STF. Plenário. ADI 145/CE, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 20/6/2018 (Info 907). 
 
Segundo a jurisprudência do STF, é possível que lei estadual crie cargos em comissão para o desempenho 
das atribuições de assessoramento jurídico no âmbito do Poder Executivo? 
NÃO. 
A atividade de assessoramento jurídico do Poder Executivo dos Estados deve ser exercida por 
Procuradores do Estado, organizados em carreira, cujo ingresso depende de concurso público de provas e 
títulos, nos termos do art. 132 da CF/88. 
Esse preceito tem como objetivo garantir a necessária qualificação técnica e independência funcional 
desses especiais agentes públicos. 
Assim, é inconstitucional a norma que outorgue a ocupante de cargo em comissão ou de função de 
confiança o exercício, no âmbito do Poder Executivo local, de atribuições inerentes à representação 
judicial e ao desempenho da atividade de consultoria e de assessoramento jurídicos, pois tais encargos 
traduzem prerrogativa institucional outorgada, em caráter de exclusividade, aos Procuradores do Estado. 
STF. Plenário. ADI 4261, Rel. Min. Ayres Britto, julgado em 02/08/2010. 
STF. Plenário. ADI 4843/MC-ED-Ref, Rel. Min. Celso de Mello, julgado em 11/12/2014. 
 
Afirmou o Min. Celso de Mello: 
“A extrema relevância das funções constitucionalmente reservadas ao Procurador do Estado (e do 
Distrito Federal, também), notadamente no plano das atividades de consultoria jurídica e de 
exame e fiscalização da legalidade interna dos atos da Administração Estadual, impõe que tais 
atribuições sejam exercidas por agente público investido, em caráter efetivo, na forma 
estabelecida pelo art. 132 da Lei Fundamental da República, em ordem a que possa agir com 
independência e sem temor de ser exonerado “ad libitum” pelo Chefe do Poder Executivo local 
pelo fato de haver exercido, legitimamente e com inteira correção, os encargos irrenunciáveis 
inerentes às suas altas funções institucionais.” 
 
Assim, o modelo constitucional da atividade de representação judicial e consultoria jurídica dos Estados exige 
a unicidade orgânica da advocacia pública estadual, incompatível com a criação de órgãos jurídicos paralelos 
para o desempenho das mesmas atribuições no âmbito da Administração Pública Direta ou Indireta. 
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Por essas razões, o STF declarou, recentemente, a INCONSTITUCIONALIDADE de uma lei estadual que 
transferia essas funções a ANALISTA do Poder Executivo estadual: 
É vedada a atribuição de atividades de representação judicial e de consultoria ou assessoramento jurídicos 
a analista administrativo da área jurídica. 
STF. Plenário. ADI 5107, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 20/06/2018. 
 
Este princípio possui exceções? 
SIM. Podemos mencionar a existência de duas exceções: 
 
EXCEÇÃO 1: é possível a criação de procuradorias vinculadas ao Poder Legislativo e ao Tribunal de Contas, 
para a defesa de sua autonomia e independência perante os demais Poderes, hipótese em que se admite 
a consultoria e assessoramento jurídico dos órgãos por parte de seus próprios procuradores. 
Nesse sentido já decidiu o Supremo: é constitucional a criação de órgãos jurídicos na estrutura de Tribunais 
de Contas estaduais, vedada a atribuição de cobrança judicial de multas aplicadas pelo próprio tribunal 
(STF. Plenário. ADI 4070/RO, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 19/12/2016). 
 
EXCEÇÃO 2: 
ADCT/Art. 69. Será permitido aos Estados manter consultorias jurídicas separadas de suas Procuradorias-
Gerais ou Advocacias-Gerais, desde que, na data da promulgação da Constituição, tenham órgãos distintos 
para as respectivas funções. 
 
O art. 69 do ADCT foi uma exceção transitória ao princípio da unicidade orgânica da Procuradoria estadual. 
Esta exceção foi prevista com o objetivo de garantir a continuidade dos serviços de representação e 
consultoria jurídicas que existiam na Administração Pública no período logo em seguida à promulgação da 
CF/88, quando algumas Procuradorias estaduais ainda não estavam totalmente estruturadas. Em outras 
palavras, foi pensada como uma forma de evitar lacunas e uma desorganização da Administração Pública. 
Vale ressaltar que só foram mantidas as consultorias jurídicas que já existiam antes da CF/88. 
 
E quanto aos Municípios? Os Municípios são obrigados a possuir Procuradorias Municipais, organizadas 
em carreira, mediante concurso público, para o desempenho das funções de representação judicial e 
consultoria jurídica? 
Infelizmente, prevalece que NÃO. 
Não há na Constituição Federal previsão para que os Municípios instituam Procuradorias Municipais, 
organizadas em carreira, mediante concurso público. 
Não existe, na Constituição Federal, a figura da advocacia pública municipal. Os Municípios não têm essa 
obrigação constitucional. 
STF. Plenário. RE 225777, Rel. Min. Eros Grau, Rel. p/ Acórdão Min. Dias Toffoli, julgado em 24/02/2011. 
STF. 2ª Turma. RE 893694 AgR, Rel. Min. Celso de Mello, julgado em 21/10/2016. 
 
Tramita no Congresso Nacional uma PEC com o objetivo de “alterar a redação do art. 132 da Constituição 
Federal para estender aos Municípios a obrigatoriedade de organizar carreira de procurador (para fins de 
representação judicial e assessoria jurídica), com ingresso por concurso público, com a participação da 
OAB em todas as suas fases, garantida a estabilidade dos procuradores após 3 anos de efetivo exercício, 
mediante avaliação de desempenho.” (PEC 17/2012). 
Acho essa posição absurda, mas infelizmente é o que prevalece para fins de concurso público. 
 
Feita esta breve revisão, veja o caso concreto julgado pelo STF: 
O Estado do Espírito Santo editou lei criando o cargo de Técnico Superior do DETRAN (autarquia estadual). 
Até aí, tudo bem. 
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O problema foi que a Lei previu que os ocupantes deste cargo seriam responsáveis por representar o 
DETRAN/ES “em juízo ou fora dele nas ações em que haja interesse da autarquia”. 
Além disso, determinou que tais servidores teriam a incumbência de praticar “todos os demais atos de 
natureza judicial ou contenciosa, devendo, para tanto, exercer as suas funções profissionais e de 
responsabilidade técnica regidas pela Ordem dos Advogados do Brasil OAB”. 
 
Tais previsões são constitucionais? 
NÃO. Tais previsões violam o “princípio da unicidade da representação judicial dos Estados e do Distrito 
Federal”, insculpido no art. 132 da CF/88. 
A legislação impugnada, apesar de não ter criado uma procuradoria paralela, atribuiu ao cargo de Técnico 
Superior do Detran/ES, com formação em Direito, diversas funções privativas de advogado. 
Ao assim agir, conferiu algumas atribuições de representação jurídica do DETRAN a pessoas estranhas aos 
quadros da Procuradoria-Geral do Estado, com violação do art. 132, caput, da CF/88. 
 
Outras atribuições 
A legislação prevê também outras atuações técnico-jurídicas deste servidor no âmbito interno da 
autarquia, tais como: 
• Interagir com as demais unidades administrativas da autarquia na elaboração de normas, instruções, 
resoluções e demais atos a serem expedidos; 
• Interpretar textos e instrumentos legais; 
• Elaborar estudos sobre questões jurídicas que envolvam as atividades do DETRAN/ES; 
• Elaborar editais, contratos, convênios, acordos e ajustes celebrados pela Autarquia, com a emissão de 
parecer. 
 
A previsão dessas outras atribuições também é inconstitucional? 
NÃO. Essas outras atribuições podem sim ser exercidas pelos Técnicos Superiores do DETRAN, sem que 
isso ofenda o princípio da unicidade da representação judicial. 
O STF entendeu que não se pode deslocar qualquer atuação técnico-jurídica da autarquia para a PGE, porque 
esta não conseguirá fazer frente a essa gama de trabalho, sob pena de ter suas atividades inviabilizadas. 
Nesse contexto, é válida a atuação jurídica dos servidores técnicos no âmbito interno, sobretudo em atividades 
de compliance, tais como conceber e formular medidas e soluções de otimização, fiscalização e auditoria. 
 
Modulação dos efeitos 
Em nome do princípio da confiança e do postulado da segurança jurídica, o STF fez a modulação dos efeitos 
da declaração de inconstitucionalidade. Assim, o STF decidiu: 
• manter os cargos em questão, excluídas as atribuições judiciais inerentes às procuradorias; 
• declarar a validade dos atos praticados (ex: contestações, recursos etc.) até a data do julgamento, com 
base na teoria do funcionário de fato. 
 
Em suma: 
É inconstitucional lei estadual que preveja que servidor de autarquia (no caso, era Técnico Superior do 
DETRAN) será responsável por: 
• representar a entidade “em juízo ou fora dele nas ações em que haja interesse da autarquia”. 
• praticar “todos os demais atos de natureza judicial ou contenciosa, devendo, para tanto, exercer as suas 
funções profissionais e de responsabilidade técnica regidas pela Ordem dos Advogados do Brasil OAB”. 
Tais previsões violam o “princípio da unicidade da representação judicial dos Estados e do Distrito 
Federal”, insculpido no art. 132 da CF/88. 
Por outro lado, é válido que esses servidores façam a atuação jurídica no âmbito interno da autarquia, 
sobretudo em atividades de compliance, tais como conceber e formular medidas e soluções de otimização, 
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fiscalização e auditoria (exs: interpretar textos e instrumentos legais, elaborar pareceres sobre questões 
jurídicas que envolvam as atividades da entidade, elaborar editais, contratos, convênios etc.). Essas 
atribuições podem sim ser exercidas pelos Técnicos Superiores do DETRAN, sem que isso ofenda o 
princípio da unicidade da representação judicial. 
STF. Plenário. ADI 5109/ES, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 13/12/2018 (Info 927). 
 
Embargos de declaração 
No dia 04/06/2020, o STF julgou embargos de declaração opostos neste processo e fez os seguintes 
acréscimos: 
• também são inconstitucionais os dispositivos da lei que preveem que o Técnico Superior do DETRAN 
possa “apresentar recursos em qualquer instância”, “comparecer às audiências e outros atos para 
defender os direitos do órgão” e “promover medidas administrativas e judiciais para proteção dos bens 
e patrimônio do DETRAN-ES”; 
• a declaração de inconstitucionalidade parcial do ato normativo abrange as atribuições jurídicas 
consultivas do cargo de Técnico Superior que sejam privativas de Procurador do Estado. Assim, as 
atribuições de “elaborar estudos de pareceres sobre questões jurídicas que envolvam as atividades do 
DETRAN-ES; elaborar editais, contratos, convênios, acordos e ajustes celebrados pela autarquia, com a 
emissão de parecer” devem ser exercidas sob supervisão de Procurador do Estado do Espírito Santo. 
STF. Plenário. ADI 5109 ED-segundos/ES, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 4/6/2020 (Info 980). 
 
Ao dar parcial provimento aos embargos, o STF afirmou que as atividades de representação judicial e 
extrajudicial atribuídas ao cargo de Técnico Superior – Formação Direito do DETRAN-ES não podem ser 
omitidas da declaração de inconstitucionalidade. Isso significa que as atribuições jurídicas consultivas de 
seus ocupantes devem ser obrigatoriamente exercidas sob a supervisão de Procurador do Estado, por ser 
esta a interpretação que melhor prestigia o art. 132 da CF/88 e a jurisprudência do STF. 
 
 
 
DIREITO ADMINISTRATIVO 
 
ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA 
Nomeação de dirigentes e desnecessidade de prévia aprovação da ALE 
 
Atualize o Info 755-STF 
É inconstitucional norma de Constituição Estadual que exija prévia arguição e aprovação da 
Assembleia Legislativa para que o Governador do Estado nomeie os dirigentes das autarquias 
e fundações públicas, os presidentes das empresas de economia mista e assemelhados, os 
interventores de Municípios, bem como os titulares da Defensoria Pública e da Procuradoria-
Geral do Estado. 
STF. Plenário. ADI 2167/RR, rel. orig. Min. Ricardo Lewandowski, red. p/ o ac. Min. Alexandre de 
Moraes, julgado em 3/6/2020 (Info 980). 
 
Quem é o responsável por nomear os titulares (“chefes”) da DPE, PGE, Ministério Público de Contas, 
fundações, autarquias e sociedades de economia mista? 
O Governador do Estado. 
 
Quem é o responsável por nomear o interventor no caso de intervenção do Estado em determinado 
Município? 
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Também é o Governador do Estado. 
 
A Constituição do Estado de Roraima previu que o nome escolhido pelo Governador para dirigir esses 
órgãos e entidades, bem como o nome de eventual interventor em intervenção estadual, precisaria ser 
sabatinado e aprovado pela Assembleia Legislativa antes de ser nomeado. Essa previsão é constitucional? 
NÃO. 
A legislação estadual não pode exigir aprovação prévia da Assembleia Legislativa para que o Governador 
do Estado nomeie os dirigentes das autarquias e fundações públicas, os presidentes das empresas de 
economia mista e assemelhados, os interventores de Municípios, bem como os titulares da Defensoria 
Pública e da Procuradoria-Geral do Estado. 
Somente se pode exigir prévia aprovação da Assembleia Legislativa para aquilo que consta do modelo 
constitucional federal, sob pena de afronta à reserva de administração, corolário da separação dos 
Poderes e das competências privativas do chefe do Executivo de dirigir a AdministraçãoPública. 
 
Fundações, autarquias, sociedades de economia mista e assemelhados 
Além de não ser possível submeter à arguição do Legislativo a nomeação de titulares de fundações e 
autarquias, é ilegítima a intervenção parlamentar no processo de preenchimento da direção das entidades 
privadas da Administração indireta dos estados. A escolha dos dirigentes dessas empresas é matéria 
inserida no âmbito do regime estrutural de cada uma delas. 
Obs: no caso das autarquias, vale ressaltar que é possível exigir sabatina prévia para os membros das 
agências reguladoras, que são autarquias especiais. Pela legislação, os conselheiros, no modelo federal, 
são submetidos à aprovação do Poder Legislativo. 
 
Como funciona a nomeação do interventor? 
Em algumas hipóteses de intervenção estadual, será necessário que o Governador do Estado nomeie um 
interventor. Essa nomeação será feita no próprio decreto de intervenção. O tema é tratado no art. 36, § 
1º da CF/88: 
Art. 36 (...) 
§ 1º O decreto de intervenção, que especificará a amplitude, o prazo e as condições de execução 
e que, se couber, nomeará o interventor, será submetido à apreciação do Congresso Nacional ou 
da Assembleia Legislativa do Estado, no prazo de vinte e quatro horas. 
 
Repare que o § 1º estabelece que o decreto de intervenção editado pelo Governador do Estado será 
submetido à apreciação da Assembleia Legislativa, no prazo de 24 horas depois de editado. 
O STF, ao interpretar esse dispositivo, afirma que a Assembleia Legislativa irá averiguar as condições, 
hipóteses, extensão e legalidade da intervenção, mas que não poderá questionar o nome do interventor. 
A intervenção é um ato do chefe do Poder Executivo. O interventor é de sua escolha e confiança. Essa é a 
divisão entre o Executivo e o Legislativo no tema. 
Desse modo, é inconstitucional a norma da Constituição do Estado de Roraima que exige prévia sabatina 
e aprovação da Assembleia para que o Governador possa nomear o interventor. A Assembleia Legislativa 
não irá examinar o nome do interventor nem mesmo a posteriori. 
Permitir a rejeição do nome de interventor resulta, na verdade, na escolha dele pela Assembleia 
Legislativa, considerando que o parlamento poderá, em tese, recusar sucessivamente as indicações do 
Governador até ser chamado alguém de seu interesse. 
Se a Assembleia Legislativa entender que a intervenção decretada é questão meramente política, deverá 
rejeitar a medida, o que pode caracterizar crime de responsabilidade do chefe do Executivo. 
 
 
 
 Informativo 
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Informativo 980-STF (11/06/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 19 
Titular da Defensoria Pública do Estado (Defensor Público-Geral) 
No tocante ao Defensor Público-geral do Estado, a previsão é inconstitucional porque CF/88 afirmou que 
lei complementar deve prescrever as normas gerais das Defensorias Públicas dos Estados (art. 134, § 1º). 
A fim de cumprir esse mandamento constitucional, foi editada a Lei Complementar federal 80/94. 
Essa LC estabeleceu que o titular da Defensoria Pública da União precisa ser aprovado pela maioria 
absoluta do Senado Federal: 
Art. 6º A Defensoria Pública da União tem por chefe o Defensor Público-Geral Federal, nomeado 
pelo Presidente da República, dentre membros estáveis da Carreira e maiores de 35 (trinta e cinco) 
anos, escolhidos em lista tríplice formada pelo voto direto, secreto, plurinominal e obrigatório de 
seus membros, após a aprovação de seu nome pela maioria absoluta dos membros do Senado 
Federal, para mandato de 2 (dois) anos, permitida uma recondução, precedida de nova aprovação 
do Senado Federal. 
 
A LC 80/94 não fez essa mesma exigência quanto ao titular da Defensoria Pública estadual: 
Art. 99. A Defensoria Pública do Estado tem por chefe o Defensor Público-Geral, nomeado pelo 
Governador do Estado, dentre membros estáveis da Carreira e maiores de 35 (trinta e cinco) anos, 
escolhidos em lista tríplice formada pelo voto direto, secreto, plurinominal e obrigatório de seus 
membros, para mandato de 2 (dois) anos, permitida uma recondução. 
 
Não se estipulou essa necessidade aos Estados, porque se seguiu o mesmo modelo dos Ministérios 
Públicos (que também não exigem prévia aprovação da ALE), a fim de evitar a politização da Defensoria. 
 
Titular da PGE (Procurador-Geral do Estado) 
Exigir a prévia arguição e aprovação do Procurador-Geral do Estado pela Assembleia Legislativa viola a 
Constituição Federal porque afeta a separação dos Poderes e interfere diretamente na estrutura 
hierárquica do Poder Executivo. Essa previsão transfere ao Legislativo o controle sobre agente público, 
que, conforme lei orgânica, integra o gabinete do chefe do Executivo como secretário de governo. 
 
Em suma: 
É inconstitucional norma de Constituição Estadual que exija prévia arguição e aprovação da Assembleia 
Legislativa para que o Governador do Estado nomeie os dirigentes das autarquias e fundações públicas, 
os presidentes das empresas de economia mista e assemelhados, os interventores de Municípios, bem 
como os titulares da Defensoria Pública e da Procuradoria-Geral do Estado. 
STF. Plenário. ADI 2167/RR, rel. orig. Min. Ricardo Lewandowski, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, 
julgado em 3/6/2020 (Info 980). 
 
Confira os dispositivos da CE/RR que foram examinados pelo STF (as partes riscadas foram declaradas 
inconstitucionais): 
Art. 33. É da competência exclusiva da Assembleia Legislativa: 
(...) 
XVIII – antes da nomeação, arguir e aprovar, por maioria absoluta, os nomes dos Titulares da 
Defensoria Pública, da Procuradoria-Geral do Estado, do Ministério Público de Contas, das 
Fundações Públicas e das Autarquias e dos Presidentes das Empresas de Economia Mista, órgãos 
equivalentes ou assemelhados, além de escolher 2/3 (dois terços) dos membros do Tribunal de 
Contas do Estado, após arguição pública; quanto a esses últimos, observado o disposto no art. 
235, III, da Constituição Federal e no parágrafo único do art. 62 desta Carta. (Inciso com redação 
dada pela EC 54/2017) 
 Informativo 
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Informativo 980-STF (11/06/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 20 
 
Art. 62 (...) 
Parágrafo único. Os Dirigentes das Autarquias, Fundações Públicas, Presidentes das Empresas de 
Economia Mista, Interventores de Municípios, bem como os Titulares da Defensoria Pública e da 
Procuradoria-Geral do Estado serão nomeados após arguição pública e aprovação dos nomes pelo 
Poder Legislativo Estadual, através do voto secreto da maioria absoluta de seus membros. 
(Redação dada pela EC 07/99) 
 
Art. 103. A Defensoria Pública é dirigida pelo Defensor Público-Geral, nomeado pelo Chefe do 
Poder Executivo Estadual dentre os integrantes da carreira, indicado em lista tríplice, mediante 
eleição dentre os seus membros, após arguição e aprovação pelo Poder Legislativo, para período 
de 02 (dois) anos, permitida uma recondução. (Redação dada pela EC 20/2007). 
 
 
 
DIREITO NOTARIAL E 
REGISTRAL 
 
REGIME JURÍDICO 
Lei que trate sobre os cartórios extrajudiciais do DF deve ser de 
iniciativa do TJDFT, discutida e votada pelo Congresso Nacional 
 
Compete ao Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios a apresentação ao Congresso 
Nacional de projeto de lei sobre organização, funcionamento e provimento de serventias 
extrajudiciais no Distrito Federal por se cuidar de matéria afeta à organização judiciária. 
STF. Plenário. ADI 3498, Rel. Cármen Lúcia, julgado em 11/05/2020 (Info 980 – clipping). 
 
Imagine a seguinte situação: 
Um Deputado Distrital apresentou projeto de lei na Câmara Legislativa do Distrito Federal tratando sobre 
os serviços notariais e de registro do Distrito Federal (“cartórios extrajudiciais”).O projeto foi aprovado e deu origem à Lei distrital nº 3.595/2005. 
 
Essa lei é constitucional? 
NÃO. Essa lei possui dois vícios formais: 
• o projeto não poderia ter sido iniciado por um Deputado; 
• a competência legislativa para tratar sobre o tema não é da Câmara Legislativa do DF. 
 
De quem é a iniciativa para propor projetos de lei que tratem sobre os serviços notariais e de registro? 
Do Tribunal de Justiça. 
A ordenação das serventias extrajudiciais e dos serviços por elas desempenhados está inserida na seara 
da organização judiciária, para a qual se exige a edição de lei formal, de iniciativa privativa dos Tribunais 
de Justiça. É o preveem o art. 96, II, “d” e o art. 125, § 1º, da CF/88: 
Art. 96. Compete privativamente: 
II - ao Supremo Tribunal Federal, aos Tribunais Superiores e aos Tribunais de Justiça propor ao 
Poder Legislativo respectivo, observado o disposto no art. 169: 
d) a alteração da organização e da divisão judiciárias; 
 
 Informativo 
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Informativo 980-STF (11/06/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 21 
Art. 125 (...) 
§ 1º - A competência dos tribunais será definida na Constituição do Estado, sendo a lei de 
organização judiciária de iniciativa do Tribunal de Justiça. 
 
Logo, houve um vício formal porque a lei foi de iniciativa parlamentar (e não do TJDFT). 
Existiu, contudo, um vício ainda mais grave. 
 
O Distrito Federal (Câmara Legislativa do DF) tinha competência para legislar sobre este tema? 
NÃO. Compete à União legislar privativamente sobre organização judiciária do Distrito Federal e dos 
Territórios. Logo, a lei teria que ter sido discutida e votada pelo Congresso Nacional. 
Veja o que prevê a Constituição Federal: 
Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre: 
(...) 
XVII - organização judiciária, do Ministério Público e da Defensoria Pública do Distrito Federal e 
dos Territórios, bem como organização administrativa destes; 
 
Art. 48. Cabe ao Congresso Nacional, com a sanção do Presidente da República, não exigida esta 
para o especificado nos arts. 49, 51 e 52, dispor sobre todas as matérias de competência da União, 
especialmente sobre: 
(...) 
IX - organização administrativa, judiciária, do Ministério Público e da Defensoria Pública da União 
e dos Territórios e organização judiciária e do Ministério Público do Distrito Federal. 
 
Houve, portanto, um duplo vício de inconstitucionalidade formal. 
 
Em suma: 
Compete ao Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios a apresentação ao Congresso 
Nacional de projeto de lei sobre organização, funcionamento e provimento de serventias extrajudiciais 
no Distrito Federal por se cuidar de matéria afeta à organização judiciária. 
STF. Plenário. ADI 3498, Rel. Cármen Lúcia, julgado em 11/05/2020 (Info 980 – clipping). 
 
 
 
DIREITO PROCESSUAL CIVIL 
 
COMPETÊNCIA 
Compete ao STF julgar ação proposta por Estado contra União 
versando sobre imunidade tributária recíproca 
 
Compete ao Supremo Tribunal Federal conhecer e julgar originariamente causas que 
envolvam a interpretação de normas relativas à imunidade tributária recíproca, em razão do 
potencial abalo ao pacto federativo. 
STF. Plenário. ACO 1098, Rel. Roberto Barroso, julgado em 11/05/2020 (Info 980 – clipping). 
 
Competência do STF para julgar conflitos federativos 
O art. 102, I, “f”, da CF/88 prevê a seguinte competência do STF: 
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Informativo 980-STF (11/06/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 22 
Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição, 
cabendo-lhe: 
I — processar e julgar, originariamente: 
f) as causas e os conflitos entre a União e os Estados, a União e o Distrito Federal, ou entre uns e 
outros, inclusive as respectivas entidades da administração indireta; 
 
Podemos imaginar as seguintes situações que serão de competência do STF com base na previsão acima: 
a) União contra Estado(s); 
b) União contra Distrito Federal; 
c) Estado(s) contra Estado(s); 
d) Estado(s) contra Distrito Federal. 
 
Obs: não importa quem seja o autor ou o réu; se as partes acima estiverem em polos antagônicos, estará 
preenchida a hipótese do art. 102, I, “f”. 
Obs2: a ação poderá envolver a administração direta ou indireta da União, Estados ou DF. Ex: uma ação 
judicial do IPHAN (autarquia federal) contra o Estado do Amazonas (STF Rcl 12957/AM). 
 
Conflito entre entes federados x conflito federativo 
Vale ressaltar que, para se caracterizar a hipótese do art. 102, I, “f”, da CF/88, é indispensável que, além 
de haver uma causa envolvendo União e Estado/DF ou Estado contra Estado, essa demanda deve ter 
densidade suficiente para abalar o pacto federativo. 
Em outras palavras, não é qualquer causa envolvendo União contra Estado/DF ou Estado contra Estado 
que irá ser julgada pelo STF, mas somente quando essa disputa puder resultar em ofensa às regras do 
sistema federativo. Confira: 
Diferença entre conflito entre entes federados e conflito federativo: enquanto no primeiro, pelo prisma 
subjetivo, observa-se a litigância judicial promovida pelos membros da Federação, no segundo, para além 
da participação desses na lide, a conflituosidade da causa importa em potencial desestabilização do 
próprio pacto federativo. Há, portanto, distinção de magnitude nas hipóteses aventadas, sendo que o 
legislador constitucional restringiu a atuação da Corte à última delas, nos moldes fixados no Texto Magno, 
e não incluiu os litígios e as causas envolvendo Municípios como ensejadores de conflito federativo apto 
a exigir a competência originária da Corte. 
STF. Plenário. ACO 1.295-AgR-segundo, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 14/10/2010. 
 
Mero conflito entre entes federados Conflito federativo 
Trata-se da disputa judicial envolvendo União (ou 
suas entidades) contra Estado-membro (ou suas 
entidades). 
Trata-se da disputa judicial envolvendo União (ou 
suas entidades) contra Estado-membro (ou suas 
entidades) e que, em razão da magnitude do tema 
discutido, pode gerar uma desestabilização do 
próprio pacto federativo. 
Em regra, é julgado pelo juiz federal de 1ª instância. É julgado pelo STF (art. 102, I, “f” da CF/88). 
 
Imagine agora a seguinte situação hipotética: 
A Receita Federal editou instrução normativa afirmando que os órgãos públicos estaduais, municipais e 
distritais, mesmo gozando de imunidade tributária recíproca, precisam apresentar, semestralmente, a 
Declaração de Débitos e Créditos de Tributos Federais (DCTF). 
O Estado de Minas Gerais ajuizou ação contra a União afirmando que: 
• a instrução normativa violou o princípio da legalidade tendo em vista que teria que ter sido instituída 
por meio de lei em sentido formal/estrito (aprovada pelo Congresso Nacional); 
 Informativo 
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Informativo 980-STF (11/06/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 23 
• essa obrigação seria indevida porque ele (Estado-membro) goza de imunidade tributária (art. 150, VI, 
“a”, da CF/88), razão pela qual estaria dispensado de apresentar essa declaração. 
 
De quem é a competência para julgar essa demanda? 
Do STF, nos termos do art. 102, I, “f”, da CF/88: 
Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição, 
cabendo-lhe: 
I - processar e julgar, originariamente: 
(...) 
f) as causas e os conflitos entre a União e os Estados, a União e o Distrito Federal, ou entre uns e 
outros, inclusive as respectivas entidades da administração indireta; 
 
Compete ao Supremo Tribunal Federal conhecer e julgar originariamente causas que envolvam a 
interpretaçãode normas relativas à imunidade tributária recíproca, em razão do potencial abalo ao 
pacto federativo. 
STF. Plenário. ACO 1098, Rel. Roberto Barroso, julgado em 11/05/2020 (Info 980 – clipping). 
 
 
IMPENHORABILIDADE 
São inconstitucionais quaisquer medidas de constrição judicial em desfavor do Estado-membro, 
das Caixas Escolares ou das Unidades Descentralizadas de Execução da Educação UDEs, que 
recaiam sobre verbas destinadas à educação 
 
As Unidades Executoras Próprias (UEx), como, por exemplo, Caixas Escolares, podem receber 
recursos públicos destinados à educação, via transferência, para a melhoria da infraestrutura 
física e pedagógica, o reforço da autogestão escolar e a elevação dos índices de desempenho 
da educação básica, por meio da gestão descentralizada. 
A Justiça do Trabalho, em processos de execução, não pode decretar medidas de constrição 
judicial que recaiam sobre essas verbas recebidas pelas Caixas Escolares destinadas à educação. 
Esses valores são impenhoráveis porque estão afetados a finalidades públicas e à realização das 
atividades e serviços públicos decorrentes do exercício obrigatório da função administrativa. 
Vale ressaltar, no entanto, que não se aplica o regime de precatório para as Caixas Escolares 
ou Unidades Descentralizadas de Educação (UDEs). Isso porque tais entes possuem natureza 
jurídica de direito privado, não integram a Administração Pública e não compõem o 
orçamento público. 
As Caixas Escolares recebem doações particulares, e assumem outras obrigações não 
necessariamente vinculadas com a educação pública. Em relação a essas obrigações, calcadas 
em patrimônio decorrente de doações privadas, não é razoável que devam ser pagas por 
precatório. 
STF. Plenário. ADPF 484/AP, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 4/6/2020 (Info 980). 
 
Unidades Executoras Próprias (UEx) 
Unidades Executoras Próprias (UEx) são entidades privadas (pessoas jurídicas de direito privado), sem fins 
lucrativos, que recebem recursos financeiros da União, Estados, DF ou Municípios para auxiliarem na 
prestação dos serviços de educação pública. Exs: Associação de Pais e Mestres, Caixas Escolares, Conselhos 
de Escola, entre outros. 
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Informativo 980-STF (11/06/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 24 
As Unidades Executoras Próprias (UEx) recebem recursos públicos destinados à educação, via 
transferência, para a melhoria da infraestrutura física e pedagógica, o reforço da autogestão escolar e a 
elevação dos índices de desempenho da educação básica, por meio da gestão descentralizada. 
Encontram-se inseridas em uma política de descentralização dos recursos destinados às escolas, intitulada 
Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE), que presta assistência financeira às escolas públicas da 
educação básica das redes estaduais, municipais e do Distrito Federal e às escolas privadas de educação 
especial mantidas por entidades sem fins lucrativos. Os recursos do programa são transferidos de acordo 
com o número de alunos e com o censo escolar do ano anterior ao do repasse. Por sua vez, a assistência 
financeira a ser concedida a cada estabelecimento de ensino é admitida via repasse diretamente à unidade 
executora ou à entidade representativa da comunidade escolar. 
As unidades executoras das escolas instituídas e mantidas pelo Poder Público consistem em sociedades 
civis com personalidade jurídica de direito privado, sem fins lucrativos, que têm por finalidade receber e 
gerenciar os recursos destinados às escolas, inclusive aqueles recebidos do Fundo Nacional de 
Desenvolvimento da Educação (FNDE). 
 
Imagine agora a seguinte situação: 
No Estado do Amapá foram criadas “Caixas Escolares”, ou “Unidades Descentralizadas de Educação” 
(UDEs), para funcionarem como Unidades Executoras Próprias (UEx). 
Diversos juízes trabalhistas, no âmbito de processos de execução, determinaram a penhora on line 
(bacenjud) de valores depositados nas contas bancárias das Caixas Escolares. Alegaram que, em razão de 
serem pessoas jurídicas de direito privado, as execuções contra as Caixas Escolares não precisaria seguir a 
regra dos precatórios (art. 100 da CF/88), podendo ocorrer normalmente a penhora. 
O TRT da 8ª Região confirmou essas decisões em recurso. 
 
ADPF 
Diante desse cenário, o Governador do Estado do Amapá ajuizou ADPF para questionar esse conjunto de 
decisões da Justiça trabalhista da 8ª Região que determinaram o bloqueio de verbas estaduais sob o 
argumento de que os valores subtraídos corresponderiam a uma dívida do estado em ações trabalhistas. 
Na ação, o Governador afirma que toda e qualquer verba repassada pelo Estado ou União aos Caixas 
Escolares é destinada integral e exclusivamente ao ensino público e que são impenhoráveis os valores 
repassados a instituições privadas para aplicação compulsória na educação. 
Além disso, afirmou que as execuções contra as Caixas Escolares deveriam ser feitas, obrigatoriamente, 
pelo regime de precatórios. 
 
Vejamos o que o STF decidiu sobre o tema. 
 
Cabe ADPF neste caso? 
SIM. 
É cabível o ajuizamento de ADPF contra interpretação judicial de que possa resultar lesão a preceito 
fundamental. 
STF. Plenário. ADPF 144, Rel. Min. Celso de Mello, julgado em 06/08/2008. 
 
Assim, é cabível o ajuizamento de ADPF contra inúmeras decisões judiciais que violem preceito fundamental 
da Constituição Federal (STF. Plenário. ADPF 33, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 07/12/2005). 
Trata-se de via processual que atende ao requisito da subsidiariedade, considerando que não existe outro 
meio para sanar a controvérsia com caráter abrangente e imediato, ou com a mesma eficácia e celeridade. 
 
É possível que essas Caixas Escolares recebam recursos públicos para desempenho de atividades 
relacionadas com a educação? 
 Informativo 
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Informativo 980-STF (11/06/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 25 
SIM. O STF afirmou inicialmente que é possível que os recursos destinados à educação sejam repassados 
a associações privadas sem fins lucrativos, às quais cabe geri-los em benefício da escola. 
A inovação deste programa reside justamente na descentralização da gestão financeira de recursos da 
educação para a sociedade civil. 
Assim, as Caixas Escolares, enquanto unidades executoras próprias (UEx), foram criadas para viabilizar o 
repasse de verbas públicas diretamente às escolas, conferindo-lhes maior autonomia na aplicação dos 
recursos de acordo com as necessidades particulares de cada localidade. A ratio é a descentralização da 
gestão da educação para maior agilidade e eficiência. 
As UEx funcionam por meio de repasses de verbas para associações privadas sem fins lucrativos. Essa 
medida de descentralização da gestão financeira na prestação de serviços educacionais configura escolha 
de alocação de recursos plenamente legítima, inserida na margem de conformação das decisões de 
agentes políticos. 
Essa sistemática não encontra óbice na Constituição, que, ao contrário, estabelece, em seu art. 205, que 
“a educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a 
colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da 
cidadania e sua qualificação para o trabalho”. 
Portanto, o experimentalismo do administrador público caminha no sentido da descentralização da 
execução, mantido o controle normativo e fiscalizador dos entes públicos. No caso, ao se estabelecer a 
transferência direta de recursos para as escolas, pretende-se atingir ganhos de agilidade e eficiência, além 
de democratizar a administração da escola. 
Como o recurso é público deve haver forte fiscalização, responsabilização e submissão aos princípios

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