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LOCAÇÃO DE COISAS A locação está presente desde a constante preocupação com a moradia até os nossos momentos de lazer, quando alugamos um carro ou bicicleta para passear, ou uma casa na praia para descansar. Na locação romana tínhamos três modalidades de relações contratuais, sendo elas: locação de coisas, locação de serviços e locação de obra. Com a codificação de 1916 a locação de obra passou a ser denominada empreitada, com regras próprias e específicas. A locação de serviços passou a ser chamada formalmente no Código Civil de 2002, de contrato de prestação de serviço, também com disciplina particular. Restando a locação de coisas, cujo será o objetivo deste trabalho. No capítulo V do Código Civil encontramos o título “Da Locação de coisas” pelo qual prevê nos artigos 565 a 578 esta modalidade. O artigo 565 do Código Civil dispõe: “Art. 565. Na locação de coisas, uma das partes se obriga a ceder à outra, por tempo determinado ou não, o uso e gozo de coisa não fungível, mediante certa retribuição.” A partir deste artigo temos o conceito geral sobre a locação de coisas, cujo o objeto desta locação pode ser coisa móvel ou imóvel. Tendo como requisito indispensável o bem infungível, pois não é possível imaginar-se a locação de bens que possam ser trocados por outros da mesma espécie, por ser próprio da locação o retorno do bem ao locador. É um contrato oneroso, levando-se em consideração que ao benefício recebido haverá um sacrifício patrimonial ( entrega da coisa / pagamento do preço). Tal retribuição é chamada de preço, aluguel ou renda. O contrato de locação de coisa trata-se de um contrato bilateral e individual, uma vez que implica direitos e obrigações para ambos os contratantes (locador e locatário), individualmente considerados, podendo ser pactuado tanto na forma paritária como por adesão. Trata-se de um contrato consensual e não solene, concretizando-se com a simples declaração de vontade, podendo então ser tanto por escrito, quanto verbal. Esse tipo de contrato é essencialmente temporário, mesmo não explicitado pelas partes, será sempre finito, não podendo ser considerado vitalício. Deste modo, pode a locação ser por prazo determinado ou indeterminado. Nos casos em que o locatário não devolva o bem ao término do contrato estará este agindo de má fé e terá a posse injusta, aplicando-se as regras dos artigos 1216 a 1220 do Código Civil. O artigo 574 do Código Civil dispõe: “Art. 574. Se, findo o prazo, o locatário continuar na posse da coisa alugada, sem oposição do locador, presumir-se-á prorrogada a locação pelo mesmo aluguel, mas sem prazo determinado.” Este artigo traz a possibilidade de o locatário continuar com a posse do bem, se houver ausência de oposição do locador, presumindo-se prorrogada a locação sem prazo determinado. Nos casos de locação por prazo indeterminado, caso o locador queira extinguir unilateralmente o contrato de locação, não há previsão legal específica prevista no Código Civil, porém deverá o locador notificar o locatário para que o devolva, imediatamente ou em prazo razoável, a coisa locada, sob pena de incidir nos efeitos de mora. Em caso de não devolução da coisa pelo locatário se aplicará o artigo 575 do CC, pelo qual dispõe: “Art. 575. Se, notificado o locatário, não restituir a coisa, pagará, enquanto a tiver em seu poder, o aluguel que o locador arbitrar, e responderá pelo dano que ela venha a sofrer, embora proveniente de caso fortuito.” Parágrafo único. Se o aluguel arbitrado for manifestamente excessivo, poderá o juiz reduzi-lo, mas tendo sempre em conta o seu caráter de penalidade. O pagamento referido é chamado de aluguel-pena, e é uma sanção pelo descumprimento do pactuado. O mais natural é que o locador seja o proprietário deste bem, porém nada impede que o mero possuidor alugue o bem de que não tenha titularidade no domínio, de maneira que este contrato não é translativo de propriedade, e sim. fonte de obrigações pessoais. Sobre este tema CUNHA GONÇALVES observa que: 1 “A locação de coisa alheia será válida enquanto durar a posse do locador; e somente ficará sem efeito quando a coisa locada for reivindicada pelo seu verdadeiro proprietário, pois ficando evicto o locador, evicto ficará também o locatário. Todavia, o proprietário evictor tem a faculdade de manter o locatário mediante novo arrendamento”. Neste sentido, no campo da locação de coisas móveis, nem sempre é possível exigir que o locatário verifique se a coisa é de efetiva propriedade do locador. Ademais, a possibilidade de sublocação também ratifica a possibilidade de alguém, que não é proprietário, mas mero possuidor, poder locar um bem. Sobre as obrigações do locador, o artigo 566 do Código Civil dispõe: “Art. 566. O locador é obrigado: 1 Luiz da Cunha Gonçalves, Dos contratos em especial, Lisboa: Ática, 1953, p. 300, apud Carlos Roberto Gonçalves, Direito Civil Brasileiro, cit., v. III, p. 289. I - a entregar ao locatário a coisa alugada, com suas pertenças, em estado de servir ao uso a que se destina, e a mantê-la nesse estado, pelo tempo do contrato, salvo cláusula expressa em contrário; II - a garantir-lhe, durante o tempo do contrato, o uso pacífico da coisa.” A partir deste artigo, temos as obrigações do locador. Pelo qual dispõe, que é dever do locador fazer a manutenção do bem locado, custeando as despesas necessárias para sua manutenção. Tal dever, contudo, pode ser transferido ao locatário por força de previsão contratual, decorrendo à autonomia da vontade das partes. Sobre as obrigações do locatário, o artigo 569 do Código Civil dispõe: “Art. 569. O locatário é obrigado: I - a servir-se da coisa alugada para os usos convencionados ou presumidos, conforme a natureza dela e as circunstâncias, bem como tratá-la com o mesmo cuidado como se sua fosse; II - a pagar pontualmente o aluguel nos prazos ajustados, e, em falta de ajuste, segundo o costume do lugar; III - a levar ao conhecimento do locador as turbações de terceiros, que se pretendam fundadas em direito; IV - a restituir a coisa, finda a locação, no estado em que a recebeu, salvas as deteriorações naturais ao uso regular.” A partir deste artigo, podemos explicar da seguinte maneira: O Inciso I significa dizer que se o imóvel é residencial ele somente pode ser usado para moradia do locatário. Assim, em caso de uso indevido, o locador pode rescindir o contrato, além de exigir perdas e danos. O inciso II significa dizer que se o aluguel tem vencimento no 05° dia útil do mês, o mesmo deverá ser pago na data de vencimento, devendo a dívida ser paga no domicílio do devedor. O inciso III, o locador deve proteger o locatário contra embaraços e turbações de terceiros. Mas, para fazer isso deve ser cientificado pelo locatário sobre eventuais problemas, e por último, o inciso IV ao receber o imóvel o locatário tem o direito de receber relação escrita do estado do imóvel. Frequentemente isso é feito por meio de uma vistoria. Em caso de dano, o locatário indenizará o locador. Para finalizarmos, concluímos que o contratode locação de coisas tem como elementos essenciais o consentimento válido, a capacidade dos contratantes, cessão da posse do objeto locado, remuneração, lapso temporal ou não e a forma livre. As partes têm obrigação de observarem a boa fé objetiva, sob pena de cometerem ato ilícito e a outra parte passar a ter o direito de resolver o contrato e ser ressarcida de eventuais perdas e danos. Este tipo de contrato traz proteção ao locador, mesmo sendo ele, a parte menos vulnerável, pelo risco de ser lesado pelo locatário. BIBLIOGRAFIA: GAGLIANO, Pablo Stolze. Novo Curso de Direito Civil: Contratos em espécie. -7° edição-São Paulo: Saraiva,2014.
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