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Unidade I HISTÓRIA DA ALIMENTAÇÃO Prof. Rodrigo Stolf O significado da gastronomia O sentido da palavra gastronomia resulta de gaster (ventre, estômago), nomo (lei) e do sufixo ia, definindo-se como o estudo ou observância das leis do estômago. A gastronomia na atualidade compreende o estudo dos ingredientes, das técnicas de cozinha e demais procedimentos que objetivam transformar os alimentos e apresentá-los para serem degustados de forma a envolver todos os sentidos. O significado da gastronomia As diversas formas de oferecer alimentação devem ser capazes de compreender as tendências da globalização da cultura, inclusive a gastronômica. A arte de buscar a utilização de produtos das diversas cozinhas regionais e mesclar os sabores e as técnicas de cocção são formas de procurar apresentar de maneira criativa as culturas gastronômicas, valorizando a sazonalidade, o frescor e a variedade dos ingredientes regionais. Os processos que as pessoas utilizam na alimentação Alimentos não comestíveis: os alimentos que são venenosos, aqueles vinculados aos tabus religiosos. Comestíveis para os animais, mas não para mim: são os alimentos como cereais crus, que são consumidos por alguns tipos de animais, como insetos, ratos, entre outros. Os alimentos comestíveis em apenas algumas culturas: são aqueles consumidos em outras regiões e países, como cães, cavalos, rãs, coelhos, gatos e insetos. Os processos que as pessoas utilizam na alimentação O alimentos que são comestíveis para os humanos, mas não para mim: nesse caso são as preferências pessoais ou as restrições de saúde. Alimentos que são comestíveis para mim e estão de acordo com meu gosto pessoal. O ser humano alimenta-se por diversas razões como: satisfação das necessidades básicas; segurança; pertinência; status e autorrealização. Desenvolvimento da gastronomia O início das civilizações está ligado à procura pelo alimento, ao seu cultivo e preparo e ao prazer de comer. Ariovaldo Franco, em seu livro “De caçador a gourmet: uma história da gastronomia”, afirma que: “O cultivo da terra, assim como a fabricação de utensílios de cerâmica e de fornos, implicava o estabelecimento de um núcleo habitacional fixo, de uma comunidade e que em torno dos campos de cereais apareceriam as primeiras aldeias”. Desenvolvimento da gastronomia A refeição surge a partir do momento em que o homem deixa de se alimentar apenas de raízes e frutas, visto que preparação das carnes exigia a reunião do grupo ou família. Portanto a ritualização da repartição do alimento tornou-se tão rica em símbolos. A tendência humana de compartilhar alimentos é um dos princípios básicos da hospitalidade e origina-se quando o homem desenvolve a capacidade de matar grandes presas, esse tipo de caça forçava a associação das pessoas devido à necessidade de consumo rápido do alimento. Desenvolvimento da gastronomia A descoberta do fogo, a invenção dos utensílios de pedra e de barro, do forno, as descobertas de formas de conservação do alimento, o aprimoramento das técnicas de cultivo da terra, entre tantos outros avanços ocorridos ao longo de anos, influenciaram diretamente o estilo de vida das sociedades. O fogo O homem dominou o fogo há cerca de 500 mil anos, o que diferenciou o ser humano dos outros animais. O fogo tinha a função de aquecer, manter os animais afastados e passou a ser usado para assar a caça ou a pesca. A carne deixou de ser consumida crua e começos a ser assada diretamente nas chamas ou na brasa. Os cereais passaram a ser torrados sobre brasas nas pedras. O fogo Teve papel decisivo para a conservação dos alimentos. As carnes, aves e pescados começaram a ser defumadas e secas por meio da exposição ao calor do fogo. Surge mais tarde a secagem de carnes, frutas e vegetais por meio da exposição solar. O fogo Muitas comidas duras demais ou até mesmo venenosas quando cruas puderam ser consumidas com segurança após serem assadas. Dessa forma, o domínio do fogo facilitou a sobrevivência humana e transformou nossos primeiros ancestrais, que passaram a gastar menos energia com a digestão. Conforme FLANDRIN (p. 44, 2015), o fogo, além da vantagem nutricional, teve importante papel no contexto social, pois incentivou o hábito de fazer as refeições em conjunto, incluindo a divisão de trabalho e elevou a complexidade da organização em grupo. Evolução da cozinha [...] cozer, temperar, marinar, macerar, cortar, coar, cozinhar, em suma, tiveram como função tornar os alimentos digeríveis e não nocivos, tanto ou mais que melhorar o seu sabor; este, aliás, estava estreitamente relacionado aos hábitos alimentares baseados nas crenças de cada cultura. As práticas culinárias revelaram-se, de povo para povo, mais ou menos complexas, mas mesmo a mais simples delas já se pode chamar de cozinha. (FLANDRIN, 2015) Pré-história da gastronomia A pré-história é definida pelos pesquisadores como o período anterior ao aparecimento da escrita; ou seja, não se trata de um período sem seres humanos, mas sim de um período em que a comunicação não se dava por meio da escrita. Os primeiros vestígios de escrita datam por volta de 4000 a.C. As pesquisas sobre esse período são feitas por meio da análise de vestígios encontrados em cavernas, vales e planícies onde o homem viveu nessa época. As formas de alimentação, caça, a pesca, foram relatados principalmente por meio de desenhos (arte rupestre) deixados pelos ancestrais humanos em locais como cavernas e rochas. Interatividade O ser humano dominou o fogo em qual período da civilização? a) Há 10.000 anos. b) Há 50.000 anos. c) Há 500.000 anos. d) Há 1.000 anos. e) Há 5.000 anos. Resposta O ser humano dominou o fogo em qual período da civilização? a) Há 10.000 anos. b) Há 50.000 anos. c) Há 500.000 anos. d) Há 1.000 anos. e) Há 5.000 anos. Pré-história da gastronomia São três períodos em que se costuma dividir a pré-história. 1. Paleolítico (ou idade da pedra lascada) Apresenta como principal característica o desenvolvimento de instrumentos e ferramentas provenientes de pedras, sendo, por isso, também conhecido como período da pedra lascada. A pedra inteira era lascada em pequenos e médios pedaços até que os hominídeos conseguissem objetos pontiagudos e cortantes. Tais ferramentas contribuíram para a caça em massa, para a preparação de peles de animais como vestimenta, para o armazenamento de alimentos e para o menor deslocamento possível na busca por comida. Pré-história da gastronomia Nesse período os seres humanos viviam como caçadores e coletores de animais, plantas e tudo o que a natureza oferecia. Eram nômades (ou seja, mudavam sempre de lugar em busca de água e comida) e moravam em cavernas para se proteger das chuvas, do sol, de animais e de desastres naturais. A natureza regeu a forma de vida dos seres humanos: em razão de mudanças climáticas, o homem precisou se adaptar e mudar sua forma de obter alimentos. Pré-história da gastronomia O armazenamento de comida e de outros objetos era uma novidade para os hominídeos. A conservação dos alimentos era feita por secagem, defumação ou congelamento em covas feitas no solo, auxiliada pelo clima frio e seco do final do paleolítico. Assim, o paleolítico é marcado pelo apogeu dos estilos de vida baseados na caça e na coleta. Pré-história da gastronomia Conforme Flandrin (2015, p. 27): a partir da era paleolítica inferior, principalmente na Europa, a caça e o consumo da carne tiveram um aumento significativo. A caça ocasional, diversificada, mas sempre de animais de grande porte – ursos, rinocerontes, elefantes – é a mais frequente no período paleolítico médio (200.000-40.000 a.C.). No período paleolítico superior (40.000-10.000 a.C.), desenvolveu-se a caça especializadade manadas de renas, cavalos, bisões ou mamutes, dependendo das regiões e dos recursos locais. Pré-história da gastronomia O período neolítico corresponde ao período de 10.000 a.C. a 4.000 a.C. Após o resfriamento do clima europeu, o homem do período mesolítico passou a caçar animais bem menores, típicos da fauna atual – cervos, javalis, pequenos carnívoros, lebres, pássaros e caracóis –, dedicando-se cada vez mais à pesca e à coleta de frutos e cereais. No início do neolítico aconteceu a revolução que lançou as bases de nossa alimentação tradicional: cultura de cereais (trigo e centeio, principalmente), criação de carneiros, cabras e porcos. Pré-história da gastronomia Foi no Oriente Médio que o homem, pela primeira vez, começou a desenvolver a agricultura e a criação de animais. Nessa região encontram-se as primeiras referências sobre a produção de cereais, primeiro com a cevada – na Mesopotâmia e Egito, em seguida a espelta, o trigo e os alimentos e bebidas preparados a partir deles: pães de massa fermentada ou não, bolos, biscoitos diversos e a cerveja. Pré-história da gastronomia O desenvolvimento da agricultura e a domesticação de animais permitiram a mudança de uma atividade nômade para a fixação junto à plantação. Com isso os caçadores passaram a manter vivas as presas, dando início à domesticação de animais. A criação de abelhas foi a primeira, seguida de antílopes, veados, hienas, cães, carneiros, cabras, vacas, ovelhas e galinhas. Surgiram as primeiras casas e, assim, as primeiras vilas ou aldeias. Desenvolveram-se técnicas para fabricação de armas e ferramentas feitas de ossos, madeira e pedra polida. Pré-história da gastronomia Durante a Idade dos Metais o homem, desenvolveu técnicas para fabricação de armas e ferramentas mais duráveis e resistentes, utilizando, para isso, cobre, bronze e ferro, principalmente. Com a tecnologia de ferramentas mais avançadas, a agricultura também avançou em suas técnicas agrícolas, mas as armas ficaram mais mortais e os conflitos por terra e comida tornaram-se frequentes. Os avanços da agricultura e o desenvolvimento da escrita marcaram o fim da Pré-História e, consequentemente, o início da Antiguidade. Pré-história da gastronomia Os hominídeos tendiam a estabelecer-se próximos das florestas (onde a caça era abundante), à beira dos rios ou de mares (ricos em peixes e pássaros) e baseavam sua alimentação na exploração sazonal de recursos que permitiram armazenar alimentos e fixar morada por mais tempo. Assim, tornou-se possível o desenvolvimento de técnicas e de ferramentas para caça e para coleta. Pré-história da gastronomia A caça foi responsável pelas primeiras regras de sociabilidade e de auxílio mútuo entre homens e mulheres nos primórdios da humanidade. A atividade de caça teria sido a responsável pela necessidade de comunicação entre os primeiros hominídeos e de divisão sexual do trabalho de forma cooperativa; ou seja, teria dado início à organização social e familiar da espécie humana. Pré-história da gastronomia A revolução agrícola libertou o ser humano da total dependência da natureza; com o trabalho no campo, os alimentos, mesmo que de forma sazonal, estavam disponíveis para seu consumo. Além de se alimentar com mais frequência, o homem passou a correr menos riscos para saciar sua fome, pois a caça não era mais a única possibilidade para a sobrevivência: além de caçar, o homem era coletor e agricultor. Pré-história da gastronomia Na pré-história, o homem trocou a vida nômade pela vida em pequenas aldeias, aprendeu a acolher e domesticar pequenos animais, iniciando-se na atividade pastoril. Dispunha, então, de carne e de leite, obtinha manteiga, coalhava o leite, fazia queijo, fiava a lã, tecia agasalhos. Da pedra polida fez instrumentos de caça e objetos domésticos, fundiu o cobre e o bronze, moldou o barro e endureceu-o na brasa, fazendo tijolos, figuras de divindades e vasilhames. Entre duas pedras moeu o grão, fez a farinha, amassou o pão e assou-o no forno. Também fermentou a cevada e fez a cerveja, encontrou uvas e produziu vinho. Pré-história da gastronomia Além do fogo, os utensílios culinários também foram indispensáveis para o desenvolvimento da dieta humana. Os utensílios de pedra e de barro permitiram o cozimento dos alimentos, além da condimentação das caças com ervas e sementes aromáticas. Com a argila, o forno de barro foi inventado, possibilitando mudanças significativas na pré-história. O início das civilizações está relacionado à procura e à colheita de alimentos, aos rituais envolvendo ciclos sazonais (como épocas de chuva e de seca), ao prazer de comer e aos hábitos de cultivo e conservação dos alimentos. Interatividade Quais foram os primeiros animais domesticados pelo homem? a) Porcos. b) Abelhas. c) Antílopes. d) Elefantes. e) Mamutes. Resposta Quais foram os primeiros animais domesticados pelo homem? a) Porcos. b) Abelhas. c) Antílopes. d) Elefantes. e) Mamutes. História da gastronomia: as civilizações antigas Egito, Mesopotâmia, Grécia e Roma são expoentes de culturas que fizeram da culinária sua máxima nos ritos e, com base no ato de comer, separaram de vez os pobres dos ricos. Um local que pode ser destacado como marco do desenvolvimento da gastronomia foi a Grécia, local no qual a comida passou a ser objeto de estudo, uma ciência: era a arte de representação à mesa. O ato de servir e cozinhar, inclusive, criou a divisão de cargos para os responsáveis por cada serviço. Nessa época já eram utilizados: panelas de cerâmica, ferro fundido, pilão, pedras de amolar, frigideiras e os mais variados tipos de forno. História da gastronomia: as civilizações antigas Mas foi em Roma que se estabeleceu a divisão do trabalho na cozinha tal qual conhecemos hoje, com funções específicas para padeiro, chefe de cozinha, mestre de cerimônia, degustador de vinhos, comprador de produtos etc. É claro que esses cargos serviram como base para as funções de cozinha na atualidade e a adaptação e aprimoramento são constantes conforme a necessidade da realidade aplicada. História da gastronomia: as civilizações antigas Alimentação no Egito antigo Para alguns historiadores, a civilização egípcia migrou da localização hoje conhecida como Iraque para as margens do rio Nilo, onde viveu seu apogeu. O sistema de irrigação, a aritmética, o sistema decimal, o conceito de propriedade, os templos monumentais, enfim, tudo isso foi desenvolvido entre os rios Eufrates e Tigre por volta de 5.500 anos antes de Cristo. O Egito construiu seu grande império em torno do rio Nilo que, ao secar sazonalmente, não prejudicava a agricultura e proporcionava um solo fértil. História da gastronomia: as civilizações antigas Por terem o rio Nilo à sua disposição, a comida no Egito antigo era rica e bem variada. O trigo, por tratar-se do ingrediente base do principal alimento egípcio (o pão), era plantando em grande quantidade. Além do cultivo do trigo, os egípcios criavam gado, carneiros e cabras e fabricavam queijo e vinho. Eles ainda consumiam feijão, alface e açúcar proveniente do mel. Os egípcios dispunham de uma boa variedade de frutas (como figos, tâmaras, romãs e amêndoas), cultivavam cogumelos para o consumo do Faraó e repolho para a alta classe. História da gastronomia: as civilizações antigas A importância do pão era tanta que ele foi a primeira moeda usada no Egito, pelo menos para a classe baixa: os Faraós e sacerdotes cobravam tributos em forma de grãos e pagavam salários aos seus servos em forma de pão. Portanto, mesmo com o desenvolvimento da civilização egípcia, o trigo continuou sendo sinônimo de riqueza. A alimentação também fazia parte dos rituais fúnebres do Egito. As crenças egípciasindicavam que, mesmo depois da morte, as pessoas ainda teriam as mesmas necessidades da vida. Por isso, depositava-se na tumba uma boa quantidade de comida, a fim de garantir o suprimento de tais necessidades. História da gastronomia: as civilizações antigas Os remédios mais utilizados no Egito antigo eram: cervejas de diferentes qualidades, levedo, óleo, tâmara, figo, cebola, alho e ópio. Não é novidade a fabricação de cerveja pelos egípcios desde a antiguidade: foram encontrados vestígios de cevada em sítios arqueológicos localizados na foz do rio Nilo, datados de cerca de 4.000 a.C. Quanto às receitas, conhecemos a preparação graças às pinturas deixadas em paredes de algumas tumbas e em maquetes de cervejaria. (FLANDRIN, 1998) História da gastronomia: as civilizações antigas Mesmo após as invasões, o alimento básico no Egito continuou sendo pão e, com a presença de populações muçulmanas, novos hábitos foram introduzidos na região. A culinária egípcia incorporou muito das cozinhas grega, italiana, árabe, turca e francesa. Trata-se de uma decorrência direta das várias invasões sofridas: a civilização egípcia recebeu influências de todas essas nações que ali desembarcaram, bem como imposições a seus costumes, dependendo da nação que estava no domínio. História da gastronomia: as civilizações antigas A alimentação na Idade Antiga: Babilônia, Pérsia e Palestina Por volta de 2.000 a.C., a civilização dos assírios e babilônios floresceu no Oriente Médio, mais precisamente na região entre os rios Tigre e Eufrates, chegando até o golfo Pérsico. Babilônia era tanto o nome da região quanto a denominação de sua maior cidade, aliás, a maior cidade-fortaleza construída pela humanidade. Seus monumentos mais conhecidos são os Jardins Suspensos e a Torre de Babel. História da gastronomia: as civilizações antigas O famoso Código de Hamurabi dita, além de outras regras, o regime alimentar da época. O pão e a cerveja também eram muito consumidos pelos babilônios. Os assírios eram a classe pobre da Babilônia e tinham uma vida muito rudimentar. A classe média possuía fornos para cozer o pão e, ao ar livre, cozinhavam todos os alimentos em apenas um vasilhame. Os ricos possuíam mesas para alimentação, mas apenas os convidados e o chefe da família se sentavam à mesa. História da gastronomia: as civilizações antigas Em 1.000 a.C., o Império Babilônico entrou em declínio e os assírios incorporaram a mesa farta e os produtos que os outros povos consumiam, como carnes, pescados, frutas variadas, leguminosas e diferentes tipos de vegetais. Os pobres comiam farinha de peixe e ervas silvestres. Posteriormente, o destaque civilizatório coube à Pérsia (que ficava onde atualmente se localiza o Irã). À medida que se expandiam, os persas mesclavam com sua cultura os hábitos alimentares dos povos que dominavam. Consumiam cereais, leguminosas e algumas frutas, como cerejas, ameixas, nozes, pêssegos (o fruto mais nobre para os persas), melancia, frutas cítricas e espinafre. Comiam carne de porco, de animais selvagens, de boi e mesmo de tartarugas. História da gastronomia: as civilizações antigas A história do povo hebreu (mais tarde denominado judeu) é divulgada através da Torá, o livro sagrado dos judeus. Porém, como o Cristianismo tem sua origem ligada aos preceitos judeus, sobretudo com relação à espera do messias, foi por meio da Bíblia, o livro sagrado dos cristãos, que essa passagem tornou-se conhecida no Ocidente. Ambos os livros narram a peregrinação e oferecem detalhes sobre as cerimônias religiosas, as guerras, as invasões e os ritos do povo judeu envolvendo sacrifícios (sempre com o alimento em destaque). História da gastronomia: as civilizações antigas Segundo a Torá, as interdições religiosas referentes aos hábitos alimentares se justificavam pela necessidade de higiene da época. O sangue, por exemplo, é tido por substância sagrada e, por isso, algo vetado para o consumo humano; da mesma forma, a morte de animais precisa ser supervisionada por rabinos, os líderes religiosos do povo judeu. Esses alimentos permitidos pela religião judaica são denominados de comida kosher. Mesmo que essas inicialmente leis tenham sido elaboradas para evitar altas taxas de mortalidade em decorrência da alimentação, acabaram tornando-se ritos religiosos, funcionando como vínculo entre os judeus de qualquer ponto do globo. História da gastronomia: as civilizações antigas Os alimentos kosher são classificados em três grupos: Aqueles que são naturalmente kosher e podem ser ingeridos em seu estado natural, ou seja, sem intervenção do rabino. São exemplos: grãos, frutas, vegetais, chás e infusões em geral. Aqueles que requerem certo tratamento para se tornarem kosher, como aves, insetos e animais ruminantes de pés fendidos (animais que mastigam o alimento e o fazem voltar do estômago para a boca: bois, vacas, carneiros, cabras, antílopes, búfalos, veados, camelos e coelhos são alguns dos animais que fazem parte desse grupo). História da gastronomia: as civilizações antigas Aqueles que originalmente não são kosher, como produtos de porco, mariscos e peixes sem escamas ou barbatanas (segundo a Torá, as escamas e as barbatanas envolvem o corpo do animal, separando-o do mundo exterior). Tudo o que anda em enxames ou que rasteja, com muitas ou quatro patas é condenado, como ratos, lagartos e crocodilos. Além dessas condutas, a gordura interna do animal também é tabu e não se pode consumir leite ou laticínios junto com a carne: é necessário um intervalo de seis horas entre a ingestão do leite e a da carne. A medicina, religião e alimentação estão juntas para explicar as tradições e hábitos alimentares. Interatividade Em qual civilização antiga se estabeleceu a divisão do trabalho na cozinha do modo como conhecemos atualmente, com funções especificas para padeiro, chefe de cozinha, mestre de cerimônia e degustador de vinhos? a) Egípcia. b) Grega. c) Persa. d) Babilônica. e) Romana. Resposta Em qual civilização antiga se estabeleceu a divisão do trabalho na cozinha do modo como conhecemos atualmente, com funções especificas para padeiro, chefe de cozinha, mestre de cerimônia e degustador de vinhos? a) Egípcia. b) Grega. c) Persa. d) Babilônica. e) Romana. História da gastronomia: as civilizações antigas Alimentação na antiguidade clássica: Grécia e Roma Da Grécia antiga nos veio o respeito pelo comer bem e pelo viver bem. Inclusive, a palavra gastronomia, como já vimos, deriva do grego. O mais antigo relato escrito de culinária existente no mundo é o Deipnosophistae, que significa doutores jantando. Esse tomo foi escrito por Athenaeus em 228 a.C. e nele há registros sobre música, dança, conversação, escritos, alimentos e até mesmo etiqueta à mesa. História da gastronomia: as civilizações antigas O prato popular da época de Athenaeus era conhecido como dolmades: carne picada, amassada com especiarias e enrolada depois em folhas de videira. Os encarregados da cozinha eram chamados de mageiros e as escravas incumbidas das massas e bolos eram chamadas de miurgas. Vale ressaltar que a escravidão existente naquele período antigo na Grécia estava ligada, principalmente, às guerras, além de ser uma prática comum, naquele momento, pagar dívidas com trabalho. Assim, trata-se de um outro processo, não estando ligado à escravidão moderna, que violentou e deixou feridas infinitas nas populações negras africanas. História da gastronomia: as civilizações antigas Depois das guerras médicas (guerras entre gregos e persas), os gregos aprenderam muito com os persas, principalmente com a culinária evoluída que lá encontraram. Incorporaram ao seu cardápio sopas, grelhados, frituras, cozidos, molhos de azeite, gema e mostarda. Com o declínioda Pérsia, a Macedônia passou a dominar o mundo e, com Alexandre, o Grande, seu império regeu a Grécia, a Pérsia e foi até a Índia. Assim, a partir dessa multiplicação comercial e cultural que as guerras e as conquistas gregas causaram, as habitações da Grécia tornaram-se mais requintadas e destinavam a sala especial para as refeições. História da gastronomia: as civilizações antigas Os gregos postavam a mesa com uma enorme variedade de peças de baixela, pratos, copos, cestos para pão, vasos, garfos de dois dentes para espetar alimentos. Vale destacar que, para se servir, usavam apenas colheres, com as quais também tomavam sopas e molhos. A Grécia moderna apresenta duas tendências básicas na cozinha: os habitantes do norte são apreciadores de carne, enquanto os do sul preferem os vegetais. Entretanto, alguns alimentos são unanimidades gregas, como aperitivos de camarão, azeitonas, rabanetes, queijos, peixe frito e kokoretsi (espeto de tripa de carneiro comumente acompanhado de vinho, pão e azeite). História da gastronomia: as civilizações antigas O auge do domínio romano na Grécia se deu por volta do século II a.C. Como consequência do controle sobre os gregos, os romanos aprenderam também a arte culinária. Os romanos eram descendentes dos etruscos e deles herdaram hábitos de vida muito primitivos para aquela época. Quando conquistaram a região da Sicília, dominaram também os melhores cozinheiros e aprenderam desde então a arte do bem comer. Mas foi na Grécia que executaram um salto em sua gastronomia. História da gastronomia: as civilizações antigas Os romanos trouxeram, da Grécia, os aspargos, as cenouras e os cogumelos, da Líbia, a truta, da Pérsia, os pêssegos, da Ásia, as cerejas, os abricós e os pepinos e da África, o melão. A cada conquista, a culinária romana tornava-se cada vez mais elaborada, com suas saladas de agrião, alface, azedinha e outras folhas, tortas, massas, pudins e bolos. Após a conquista de Salamina (localizada na costa oriental de Ciprus) os romanos se tornaram mestres em salsicharia, pois lá haviam aprendido sobre o salame. Eles ainda aprimoraram a fabricação engordando porcos e gansos com figos para que a carne e o fígado se tornassem perfumados e resultassem no melhor patê (ou seja, o foie gras, ou patê de fígado de ganso, tem origem italiana e não francesa). História da gastronomia: as civilizações antigas De acordo com Horácio, em Roma era costume comer pão com sal e agrião, enquanto a manteiga se empregava para esfregar o corpo das crianças ou era fundida e vertida sobre o fogo dos sacrifícios e das oferendas colocadas ante o altar. Tal como os gregos, os romanos apenas começaram a usar a manteiga na culinária mais tarde, após o contato com os germanos, pois cozinhavam com óleo e gordura natural (animal). O continente europeu, sob a influência do vasto Império Romano, adotou também a prática da abstinência de carne em determinados dias do ano, incentivando o consumo de peixe. História da gastronomia: as civilizações antigas O que comemos sempre teve os pés fincados na religião, nas conquistas de povos e nos costumes. Com a evolução para as panelas como ferramentas de cozinha, nasceram as receitas. As especiarias passaram a fazer a diferença no ato de cozinhar ou preparar os alimentos, diferenciando a culinária de várias regiões do mundo. Na busca pelas especiarias impérios foram dizimados e guerras foram travadas. Até mesmo novos mundos foram descobertos pelos europeus, algo que mudou para sempre o nosso modo de alimentação. História da gastronomia: as civilizações antigas A partir do período das Grandes Navegações e da conquista da América pelos europeus, as trocas culturais e alimentares entre os povos foram tão intensas e cruciais que transformaram mais uma vez a alimentação, o gosto e o sabor dos alimentos. Além de metais preciosos, os europeus levaram os cheiros e os sabores dos povos pré-colombianos ao novo mundo: molho de tomate, nhoque, polenta, risoto e massas são alguns exemplos de produtos provenientes do período das grandes navegações. História da gastronomia: as civilizações antigas Nenhum evento na história da humanidade influenciou mais a evolução da alimentação do que a busca por novos territórios e caminhos para as Índias. Comidas que antes eram locais tornaram-se globais e, para muitos historiadores, Cristóvão Colombo e a monarquia espanhola deram início a um fenômeno de intercâmbio cultural e alimentar que mais tarde se transformou no que chamamos hoje de globalização. Por exemplo, o tomate italiano não existia, o abacaxi não podia ser encontrado no Havaí, a laranja não era conhecida na Flórida, a batata não existia na Europa, não havia café colombiano e muito menos chocolate suíço. A chegada de Colombo à América em 1492 foi responsável pelo surgimento de novas fontes de alimentação na Europa. História da gastronomia: as civilizações antigas Tais alimentos foram recebidos com sucesso: o peru da América do Norte, a baunilha e o cacau do México, o milho para pipoca, o tomate e as batatas do Peru, além de outras espécies de milho, feijão, amendoim, as quais foram enriquecer a dieta monótona do Velho Mundo. O Brasil, por exemplo, é conhecido como o país das bananas, mas não existiam bananeiras no território brasileiro. A banana é originária do sudeste da Ásia e não tinha o formato curvo que conhecemos atualmente. Ela foi levada à América Central pelos espanhóis, sendo manipulada para a comercialização. História da gastronomia: as civilizações antigas A maioria das espécies que consumimos hoje é fruto do período das grandes navegações iniciadas no século XV pelo Estado Português com intuito de encontrar novos caminhos para as Índias. No período Neolítico e na Idade do Bronze, a Península Ibérica (local onde atualmente estão Portugal e Espanha) foi invadida por romanos e visigodos por três séculos. Na antiga Lusitânia, uma das três divisões da Espanha romana, as influências árabe e muçulmana ampliaram o sentido cosmopolita português. História da gastronomia: as civilizações antigas À época do imperialismo árabe, os portugueses tomaram gosto pelos quitutes ricos em açúcar, especiarias, gema de ovo e óleos. Um livro de culinária publicado em Lisboa em 1642 apresentava várias receitas mouras e mouriscas, como carneiro mourisco, galinha mourisca e peixe mourisco. O português conservou, das religiões maometanas, mais que qualquer povo cristão da Europa, o gosto pela carne. Desde os tempos romanos era utilizado em Portugal o método de salgar o pescado para conservação. Vestígios de salgueiras existem no norte do país: os peixes miúdos eram conservados inteiros, já os grandes eram cortados em filés ou simplesmente partidos e abertos ao meio. A conservação do peixe foi uma revolução na alimentação europeia. História da gastronomia: as civilizações antigas Ainda hoje em dia a culinária portuguesa se destaca por seus pratos suculentos, ricos em gordura, azeite, tomate e cebola. No litoral predominam as sardinhas e os frutos do mar. São renomados também os pratos de entrada (cozinha fria), as preparações de confeitaria e pastelaria e, principalmente, as frutas frescas. Foi a esposa florentina do Rei Henrique II, Catarina de Médici, quem introduziu a arte da culinária na França, ficando conhecida como a mãe da boa mesa ou a nobre comilona. A aristocrata italiana levou refinamento à cozinha francesa e, junto com ela, todos os seus cozinheiros, padeiros e confeiteiros. História da gastronomia: as civilizações antigas No reinado de Luís XIII (1610-1643) na França, seu ministro Richelieu ficou conhecido como o ministro gourmet. A partir de seu governo, a importância diplomática dada à recepção de outros reis incentivou a valorizaçãodos artistas da culinária francesa. Para a elite da época, não era vergonha ou demérito ocupar-se da cozinha, pelo contrário: o próprio rei tinha a reputação de ser um excelente cozinheiro. No reinado de Luís XIV, o Rei Sol, um rico financista da época foi indicado para assumir a função de maître na corte e seu nome foi perpetuado com uma receita especial de molho branco: Louis de Bechamel. Interatividade A banana, fruto muito consumido em todo mundo é originária de qual região? a) América do Sul. b) Grécia. c) Sudeste da Ásia. d) África. e) Europa. Resposta A banana, fruto muito consumido em todo mundo é originária de qual região? a) América do Sul. b) Grécia. c) Sudeste da Ásia. d) África. e) Europa. ATÉ A PRÓXIMA!
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