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Unidade IV HISTÓRIA DA ALIMENTAÇÃO Prof. Rodrigo Stolf Slow food No final da década de 1980, a Itália apareceu com um movimento que foi muito importante para a gastronomia mundial: o movimento slow food. Tal movimento tinha o objetivo de resgatar rituais alimentares e mais atividades que envolvessem qualidade de vida. Alcançou visibilidade mundial ao ser lançado em Paris, em 1989. Além de gastronômico, o movimento é literário e ambientalista, pregando a sustentabilidade, o uso racional dos alimentos e a valorização do produtor local e do ingrediente regional. Slow food Os princípios do slow food são: Não comer apressadamente, em pé ou vendo TV. Priorizar os alimentos saudáveis, especialmente os orgânicos. Partilhar refeições com amigos e parentes. Divulgadores do slow food enfatizam a hospitalidade, o descanso e a morosidade, ressaltando-os como fatores essenciais para a retomada da qualidade de vida. Gastronomia brasileira A gastronomia brasileira tem heranças indígena, africana e dos europeus. Em março de 1500, Pedro Álvares Cabral comandou uma expedição que partiu de Portugal em busca de novos caminhos às Índias, com o objetivo de buscar cravo, canela, gengibre, mostarda, erva-doce, pimenta e outras riquezas. Vale destacar que, na época, a pimenta tinha um valor muito superior ao atual, pela função que desempenhava ao mudar o sabor das carnes (que era prejudicado pela armazenagem). Gastronomia brasileira Cabral foi enviado pela Coroa portuguesa com intuito de driblar as limitações comerciais impostas por Espanha, França e Inglaterra. Se ele voltasse para terras lusitanas com novidades de territórios e outras especiarias, auxiliaria a aumentar a força econômica portuguesa e o status de nação política e socialmente forte. E foi o que aconteceu. Em 22 de abril de 1500, a expedição comandada por Cabral chegou à Ilha de Vera Cruz (depois reconhecida e chamada Terra de Santa Cruz e, por fim, nomeada como Brasil) com vários homens ávidos por riquezas e metais preciosos. Gastronomia brasileira A colonização portuguesa se caracterizou pela miscigenação e pela adaptação alimentar em todas as terras exploradas por eles no período das grandes navegações. Como a maioria dos homens vinha sem mulheres, acabaram relacionando-se com indígenas e negras vindas da África, constituindo uma população bem miscigenada. Quanto ao regime de cultivo, a monocultura foi adotada como forma de exploração do solo brasileiro, tornando-se uma grande influenciadora da gastronomia do nosso país. O padrão alimentar se baseava em mandioca (e seus derivados), frutas nativas, carne de caça e doces à base de açúcar (o grande produto de monocultura no início da colonização portuguesa no nordeste brasileiro). Gastronomia brasileira São três etapas distintas quando se analisa a formação da gastronomia brasileira: durante os séculos XVI a XIX, houve um grande intercâmbio das espécies nativas dos principais continentes: Europa, África, Ásia e América. No período que abrange os séculos XIX e XX, exaltou-se a cozinha regional brasileira e sua formação a partir da miscigenação de índios, africanos e europeus. Atualmente, as referências na gastronomia são globais e há ênfase na utilização de ingredientes regionais, a fusão de cozinhas de diversos lugares do mundo e uso de técnicas de cozinha tradicionais e modernas. Gastronomia brasileira A identidade de um povo ou de uma nação é o resultado da soma entre sua língua e sua cultura alimentar. Um conjunto de práticas alimentares pode identificar um povo e se torna patrimônio cultural. As formas de cozinhar os alimentos, os processos de cultivo e a coleta, por exemplo, são processos sociais e culturais. Inicialmente, o domínio das culturas portuguesa, indígena e africana variou conforme a região do Brasil. Dos portugueses herdamos a língua, os costumes, a gastronomia, o hábito de festejar e reunir amigos e familiares em volta da mesa, juntando os temperos perfumados de influência indígena e as formas de cozimento de influência africana. Gastronomia brasileira As tradicionais festas juninas têm os populares Santo Antônio, São João e São Pedro; celebrados com mesas repletas de arroz doce português e pamonha brasileira, por exemplo. Os portugueses, por sua parte, contribuíram muito com a gastronomia típica de nosso país: eles trouxeram vacas, bois, ovelhas, cabras, porcos, galinhas, patos e gansos para o Brasil; plantaram figo, romã, laranja, lima e limão; semearam arroz, melão, melancia, abóbora, gengibre, mostarda, hortelã, manjericão, cebola, alho, berinjela e cenoura. Gastronomia brasileira Vivendo, principalmente, à base de caça e pesca assadas ao fogo, os índios também comiam alimentos crus, frutas nativas, ervas; embora mais lhe importassem a mandioca e seus derivados, como mingaus, pirão e paçoca (vale esclarecer que, na época, o trigo não se desenvolvia no solo brasileiro). Os portugueses ingeriram mandioca, assada ou cozida, por meio das receitas de bolo, caldos e cozidos; misturavam às carnes, às frutas e vegetais, além de fazer também farinha, tapioca, beiju e bebidas que aprenderam com os indígenas. Gastronomia brasileira Na formação da gastronomia brasileira, alguns dos principais produtos nacionais vieram de outros continentes como as bananeiras da África, as mangas e as jacas são oriundas da Índia, e os coqueiros das ilhas de Cabo Verde. Também os portugueses e os espanhóis levaram para os outros continentes alguns dos ingredientes que eram encontrados nas Américas como a batata, o milho, o tomate, o cacau, o amendoim, o abacaxi e o tabaco. Gastronomia brasileira Os escravos africanos usaram como base de sua cozinha o azeite-de-dendê. Eles também caçavam os animais como cutias, capivaras, tatus, lagartos e caranguejos; os quais eram preparados nas senzalas. Os africanos preferiam e estavam mais acostumados aos assados do que as frituras. O caldo obtido do alimento assado era misturado com a farinha, popularizando o pirão, que poderia ser da mistura do caldo com farinha de mandioca e o angu (caldo com farinha de milho). Gastronomia brasileira Alguns dos ingredientes africanos trazidos para o Brasil pelos traficantes de escravos e comerciantes foram o coco, o café, a pimenta malagueta e o azeite-de-dendê. De acordo com Câmara Cascudo: “O azeite-de-dendê acompanhou o negro como o arroz ao asiático e o doce ao árabe”. No Nordeste também são utilizados na cozinha ingredientes africanos como o quiabo, o gengibre, o amendoim e o jiló. Gastronomia brasileira A Bahia é o estado com maior influência africana do Brasil. Características da cultura afro-brasileira, as festas para os santos possuem simbologia única. Em casas, terreiros ou nos dias dos santos, pode-se presenciar preparações especiais: por exemplo, o caruru dos meninos é o dia de São Cosme e Damião e os licores de jenipapo, arroz doce e munguzá são consumidos após as ladainhas cantadas em latim para Santo Antônio, destinando-se ao ritual da Igreja Católica. A relação entre festas e pratos demonstra a importância do que se come na vida do baiano, suas divindades, crenças e história. Gastronomia brasileira O acarajé, um bolo de feijão-fradinho frito em azeite de cheiro (dendê), é um prato típico. Não compõe a refeição comum, sendo consumido na rua e adquirido das baianas. Os ingredientes básicos do caruru, do efó e do vatapá são azeite-de-dendê e camarão seco defumado. Feito com os mesmos ingredientes do acarajé, o abará diferencia-se por ser colorido com azeite de cheiro e cozido em uma cuscuzeira (ou em banho-maria tampado). Gastronomia brasileira A Igreja Católica também teve sua participação na construção da identidade gastronômica brasileira, trazendofestas tradicionais com seus cantos e danças próprios, como a quaresma, as festas juninas e o Natal (CASCUDO, 2011). Em Belém do Pará, por exemplo, o círio de Nossa Senhora de Nazaré é a maior manifestação de sincretismo religioso do Brasil, envolvendo a Igreja Católica, as tradições indígenas e os hábitos da culinária negra. São quinze dias de quaresma regados a muito pato no tucupi, maniçoba, arroz de pato, doce de cupuaçu e outras delícias da culinária paraense (uma culinária de forte influência indígena). Interatividade Frutas como as mangas e as jacas são oriundas de qual país? a) Índia. b) Portugal. c) Brasil. d) Espanha. e) Japão. Resposta Frutas como as mangas e as jacas são oriundas de qual país? a) Índia. b) Portugal. c) Brasil. d) Espanha. e) Japão. Gastronomia brasileira A mandioca foi uma planta que favoreceu a estruturação de pequenas comunidades. A alimentação, tendo a mandioca como base, é um traço cultural indígena reproduzido até hoje. Consumida em forma de farinha d'água ou seca, faz parte da alimentação cotidiana das populações ribeirinhas, as quais complementam sua dieta alimentar com peixes frescos e salgados, caças e frutos. A população urbana a utiliza misturada ao feijão, às carnes e nos alimentos que compõem a sua alimentação. Gastronomia brasileira Os indígenas consumiam milho, batata-doce, cará, diferentes pimentas e mandioca; esses eram os principais alimentos desses povos. Da mandioca, fazia-se a farinha, a tapioca, o beiju, bebidas alcoólicas. Comia-se mandioca na forma de farinha pura, misturada com carne, frutas e vegetais. O produto dominava o território em 1500 e, ainda, é fundamental para o sustento do país. Gastronomia brasileira Os principais animais caçados e consumidos pelos índios eram macacos, capivaras, pacas, cutias, diversos tipos de peixes, jacarés, tartarugas; e aves como perdiz, codorna, entre outras. Os índios não tinham o hábito de plantar frutas. Apenas colhiam o que a natureza oferecia fartamente: maracujá, pitanga, caju, abacaxi, jenipapo, jabuticaba, mangaba, pitomba, umbu, cajá, murici, cupuaçu, açaí etc. Gastronomia brasileira Como utensílios, os índios usavam panelas de barro, espetos e moquém – um tipo de grelha que era colocada sobre o fogo para assar os alimentos. Conforme Cascudo, a função primeira do moquém não era o preparo para o consumo imediato da carne, e sim sua conservação. Tanto a fabricação das panelas, como dos fornos de barro para fazer farinha de mandioca e o preparo das bebidas eram uma ocupação feminina dentro das tribos indígenas. Gastronomia brasileira Os portugueses introduziram muitas espécies de alimentos no país como: manga, cana-de-açúcar, algodão, bananas, melancia, arroz, trigo, aveia, uva, laranjas, limão, tangerinas, café, cravo, canela, nozes, maçãs, peras, pêssegos e uma grande quantidade de hortaliças, ervas e tubérculos. Gastronomia brasileira As características regionais da culinária brasileira estão ligadas a fatores ambientais e sociais. Ambientais como solo, clima, geografia, fauna e flora; já os sociais estão ligados ao tipo de colonização e de imigração em determinados períodos da história do país. Principais produtos e pratos típicos das regiões brasileiras Região Norte: mandioca, farinha, beijus, pirões, mingaus, cupuaçu, pupunha, biriba (fruta-do-conde mais doce), castanha-do-pará, guaraná. Além de alimentos secos como o camarão, as frutas silvestres (açaí, murici, graviola, bacuri, mangaba, pupunha), jambu. Pratos típicos: tacacá (caldo do tucupi com folhas de jambu), maniçoba (carne de sol, cabeça de porco, mocotó, toucinho, sal, alho, louro, hortelã-pimenta e folhas de mandioca tratada), açaí com tapioca, carnes assadas de jacaré e tartarugas, caruru, vatapá. Principais produtos e pratos típicos das regiões brasileiras Nordeste: alimentos derivados da farinha de mandioca, feijão, carne de sol (influência indígena), rapadura, milho, peixes e frutos do mar. Sertão: carne bovina, caprina, leite e manteiga, feijão, batata- doce, mandioca, alguns legumes e frutas nativas. Pratos típicos: angu e cuscuz (cujo modo de preparo pode variar dependendo do local), abóbora com leite, queijo com rapadura, batata-doce com café, doce de leite com banana, polenta com leite, galinha de cabidela (influência portuguesa), acarajé, vatapá, abará, caruru (influência africana). Principais produtos e pratos típicos das regiões brasileiras Região Centro-Oeste: pesca e caça (pacu, piranha, dourado, pintado, anta, cotia, paca, capivara, veado e jacaré). Alguns pratos típicos: peixe na telha, peixe com banana, carne com banana, costelinha, bolinhos de arroz, pamonha, feijão tropeiro, carne seca, toucinho e banha de porco. Principais produtos e pratos típicos das regiões brasileiras Região Sudeste: goiabada cascão, doce de leite, feijão, milho, porco, queijo serra da canastra, pão de queijo, ora-pro-nóbis. Pratos típicos: moqueca de peixe cozida em panela de barro à base de coentro e urucum. Tem-se, ainda, quibebe, torta capixaba (feita de bacalhau), peixes e frutos do mar, feijão tropeiro, tutu de feijão, torresmo, angu com quiabo, couve à mineira, canjiquinha com carne, curau, pamonha e broa, entre outros. Influência dos imigrantes: pizza, lasanha, macarrão, nhoque, canelone, pães, paelha, quibes, esfirras, grão-de-bico, gergelim, sushi e sashimi. Principais produtos e pratos típicos das regiões brasileiras Região Sul: influência culinária dos poloneses com o repolho à moda, pão de leite e sopas; dos italianos com uvas, vinho, pães, queijos, salames, massas em geral e sorvetes; dos alemães com batata, centeio, carnes defumadas, cerveja, linguiça, laticínios, cuca, torta de maçã, bolo de frutas e hábito do café colonial. Peixes como tainha e demais frutos do mar, arroz com charque e churrasco. Região Norte A Região Norte conta, ainda no século XXI, com características relacionadas aos povos indígenas. A mandioca é o alimento típico dessa região, herdada da cultura das etnias indígenas vigentes na área, porém não é exclusividade do Norte do Brasil. Inicialmente indígena, as práticas de caça, pesca, cultivo de mandioca e preparação de pratos dominaram o hábito alimentar amazônico, apesar da imigração nordestina. A situação geográfica instigou o modo de se alimentar e o peixe é a proteína base até hoje. Região Norte Quando europeus – ingleses, alemães, italianos, franceses e portugueses – descobriram a riqueza da região, foi necessário trazerem de seus países conservas alimentícias para se manterem alimentados, conservas as quais, posteriormente, foram combinadas ao charque, ao feijão, à farinha d’água e ao arroz. O Norte abriga uma biodiversidade de fauna e flora que lhe garante variedade de ingredientes e modos para pratos típicos. Região Norte Fundamentada em caça e pesca, a cozinha do Norte do país tem o ritual dos molhos, como o tucupi, que não suportam viagens longas, podendo deteriorar-se facilmente e, por isso, precisam ser consumidos em curto prazo. Tal característica afeta, inclusive, a exportação do tucupi: mesmo congelado, não há garantia de fidelidade e propriedade do paladar (à parte a indiscutível segurança alimentar). Região Norte Peixes: tambaqui, traíra, piranha, pescada amarela, pescada branca, sardinha de rio, tucunaré, pacu, mapará e pirarucu (também é conhecido como bacalhau da Amazônia) são os mais conhecidos. Come-se até hoje o que o índio comia: peixes de rios, milho, mandioca, cará (inhame), utilizando-se temperos com ervas naturais. A autenticidade continua na sobremesa, com as frutas locais como o cupuaçu se transformando em sorvetes, compotas, doces, geleias e bombons. Na gastronomia amazônica, o molho é fundamental:combinam-se limão, pimenta, sal e alho para temperar guisados de caça e peixes. O jambu proporciona sabor picante e dormência nos lábios. Região Norte O tacacá é um caldo inspirado na culinária indígena, servido quente em uma cuia. A receita leva goma de mandioca, camarão seco, pimenta-de-cheiro, tucupi e jambu (erva que causa leve sensação de dormência na boca). No fim da tarde, procurar uma barraquinha e pedir um tacacá é um dos programas da capital paraense. Os locais garantem que o caldo, de tão quente, ajuda a espantar o calor úmido típico da região (no Marrocos, os chás também são consumidos bem quentes, segundo os locais, para equilibrar o calor constante de clima de deserto). Região Norte O tucupi, extraído da mandioca-brava, é o principal ingrediente da culinária do Pará. O suco obtido após a prensa da raiz precisa ser fervido demoradamente – só assim é possível eliminar o venenoso ácido cianídrico do líquido amarelado. No último estágio, o caldo ganha tempero de chicória e alfavaca. É no equilíbrio entre o uso desses temperos e do tempo de fervura que é obtido o líquido um tanto quanto ácido, fundamental para pratos como tacacá e pato no tucupi. Região Norte A maniçoba é feita com pertences suínos. Apesar de ser conhecida como feijoada paraense, também é típica do Recôncavo Baiano. A diferença é que a folha da maniva (folha da mandioca) substitui o feijão. De origem indígena, a receita envolve um verdadeiro ritual de preparo: são sete dias de cozimento da folha da mandioca até que todo o ácido cianídrico (que é venenoso) seja totalmente evaporado. Arroz, farinha de mandioca e pimenta acompanham o prato, que tem presença obrigatória no Natal dos paraenses, o Círio de Nazaré. Interatividade A maniçoba é um prato típico de qual região do país? a) Sul. b) Nordeste. c) Centro-Oeste. d) Norte. e) Sudeste. Resposta A maniçoba é um prato típico de qual região do país? a) Sul. b) Nordeste. c) Centro-Oeste. d) Norte. e) Sudeste. Região Nordeste Resultante da miscigenação entre indígenas, africanos e lusitanos, a culinária nordestina transformou ingredientes que a natureza oferecia, enriquecendo-os com produtos da Península Ibérica, com receitas tradicionais adaptadas. Regionalmente, as cozinhas assumem diferentes valores. Os cardápios do sertão são mais secos, de sabores pontuais; abastecem mesas com delícias assadas, cozidas com suas carnes. A do litoral é mais diversificada, especialmente na produção de doces variados em quantidade e sabores. Região Nordeste A singularidade da culinária baiana provém do dendê, antes utilizado para embelezar corpos e cabelos de negros ou protegê- los contra energias negativas. A gastronomia da Baía de Todos os Santos pode ser dividida em: culinária de festas: enriquecida por azeite de cheiro ou de dendê; culinária cotidiana: sem ingredientes típicos; cozinha sertaneja: de grande influência portuguesa, caracteriza-se pela simplicidade e pelo aproveitamento de produtos regionais (carne de sol, de bode, jerimum, aipim/mandioca, feijão andu e feijão de leite), que alimentam boiadeiros e sertanejos. Região Nordeste Câmara Cascudo (2004) diz ser moqueca uma palavra tupi, referente a alimentos cozidos ou assados em grelhas de paus (moquéns), em que pequenos peixes envoltos em folhas de bananeira recheados com pimenta eram grelhados (moqueados). A moqueca de folha atual é consumida fria, como o acarajé ou o abará, à venda entre as baianas dos tabuleiros. Região Nordeste Derivações da moqueca são os pratos quentes. Evoluídos ao se preparar não apenas com peixes e mariscos, mas com outros frutos do mar como camarão e mesmo lagostas. No bobó de camarão tradicional emprega-se inhame (raiz asiática trazida ao Brasil pelos negros africanos no período da escravidão) ou mandioca. Assemelha-se ao prato africano ipetê: camarão seco, azeite de dendê e pimenta malagueta. Região Nordeste A doçaria baiana sofreu influência direta de Portugal, adaptando as receitas aos ingredientes da terra: ambrosia, beijo de estudante, beijo de jenipapo, cocadas e doces de frutas são doces típicos. Essencialmente, a culinária alagoana segue a dos demais estados nordestinos. Influenciada por europeus, indígenas e africanos, explorando ao máximo os ingredientes disponíveis na região. Pescados e frutos do mar, como sirigado, arabaiana, cioba, robalo, carapeba, pitu, sururu e camarão à base de leite de coco são os destaques da gastronomia (CASCUDO, 2004). Região Nordeste As frutas da região são variadas e exóticas: jaca, manga, graviola, caju, cajá, acerola, mangaba, pitanga, pitomba, seriguela, sapoti e pinha são alguns exemplos de produtos consumidos in natura ou como sucos, sorvetes e doces. Doce de banana, de goiaba e pastilha de jenipapo são considerados patrimônios do povo alagoano. A presença de pescados e frutos do mar na gastronomia sergipana é inevitável. Destacam-se o guaiamum (crustáceo graúdo, de cor azulada e semelhante ao caranguejo), consumido em bares e quiosques da orla. Arraia servida com leite de coco, ensopada ou como moqueca também estão entre os pratos típicos. Região Nordeste O litoral pernambucano, cobiçado pela riqueza do seu solo e alta capacidade de produção da cana-de-açúcar e algodão, foi palco de lutas entre portugueses e holandeses. Os africanos tiveram um papel significativo na popularização da culinária presente nas casas grandes ao levarem seus tabuleiros para as ruas e vendendo seus quitutes. Devido à abundância do açúcar, muitas receitas de sobremesa ficaram famosas em Pernambuco, sendo o bolo de rolo e o bolo Souza Leão as mais conhecidas e tradicionais. Região Nordeste O bolo de rolo, típico de Pernambuco, é constituído por finíssimas camadas de massa intercaladas com goiabada, assemelhando-se à bibinca, um doce português criado em Goa, e à dobostorte austríaca. No entanto, a receita de doce pernambucano mais conhecida é do bolo Souza Leão. Sua massa é feita à base de açúcar, água fria, manteiga, massa de mandioca (puba), gema-de-ovo, leite de coco, canela, cravo-da-índia e erva-doce. Traz o nome da família que o criou na época dos engenhos de açúcar. Região Nordeste A região do agreste esbanja a diversidade de seus rebanhos, com produção de queijos de manteiga, de coalho, carne de sol, buchadas e arroz de leite. No sertão, paçocas e arrumadinhos fazem sucesso. Em todo o estado de Pernambuco, as festas juninas merecem destaque pela abundância na fabricação de bolos de milho, pamonhas e cocadas. Região Sudeste A cozinha paulista generaliza-se na mistura dos povos que predominam no Brasil: índios, negros, portugueses, italianos, japoneses, libaneses e árabes tipificaram uma culinária própria na região. A diversificação iniciada na colônia e sequenciada no Império até hoje lega contribuições à gastronomia. As etnias rendem a São Paulo o título de capital da gastronomia, com restaurantes e pratos típicos de mais de quarenta países. A extensão consagra opções que tornam a capital paulista uma cidade movimentada em oferta alimentícia internacionalmente. Região Sudeste Ao contrário de outras capitais brasileiras, São Paulo não focou sua economia na monocultura. É verdade que o café foi muito forte na região, mas a cidade de São Paulo apenas ganhou força nacional com o declínio da economia cafeeira e o surgimento da economia industrial. Com a policultura firmada, imigrantes desenvolveram pratos típicos no estado, logo juntados a hábitos brasileiros. Italianos com macarronadas e pizzas, árabes com quibes, portugueses com bacalhoadas e assim por diante. Região Sudeste O cuscuz à paulista, herdado de índios e bandeirantes, é elaborado com farinha de milho. A criação é inspirada nos mouros, que introduziramo cuscuz na Península Ibérica (Portugal e Espanha), de onde veio para o Brasil. O Nordeste brasileiro ganhou a versão doce e São Paulo ganhou a versão de tropeiros, com galinha, sardinha e camarão. Por ter recebido a Corte portuguesa em 1808, o Rio de Janeiro foi a cidade que mais recebeu novidades gastronômicas no Brasil. O grande orgulho carioca é a feijoada, prato que é a principal referência nacional, quanto à gastronomia, no mundo inteiro. Região Sudeste Mas o Rio de Janeiro não é apenas a feijoada. Filé com fritas, sopa Leão Veloso e camarão ensopado também fazem parte da culinária típica carioca. Atração à parte são os botequins e sua culinária: filé à Osvaldo Aranha, malpassado, com arroz, batatas fritas, farofa e bastante alho; filé à francesa, acompanhado de ervilha, tiras de presunto e batata palha. A maioria dos botequins cariocas tem inspiração ou influência portuguesa. Na fase imperial de 1840-1889, mocotó, bobó, pirão de peixe, caruru, vatapá e feijoada eram os pratos mais populares da capital fluminense. Região Sudeste Das mais autênticas, a cozinha capixaba recebeu grande influência das cozinhas portuguesa (azeite de oliva, alho, coentro, pimenta-do-reino) e indígena (farinha de mandioca, óleo de urucum, banana-da-terra), conservando o hábito (secular) de cozer em panelas de barro. Em tupi, capixaba significa pequena propriedade ou a rocinha de milho provinda da cultura indígena na região. Região Sudeste A cozinha mineira é bem brasileira, com pouca influência estrangeira, bastante diversificada no seu próprio estado. A culinária encanta por ser característica, rica em sabor, repleta de histórias de bandeirantes e escravos no ciclo do ouro, das pedras preciosas. O que conta é a fartura, não se deixar o visitante insatisfeito. A preocupação de combinar pratos não existe e sua base é a tríade: feijão, angu e couve. Região Sudeste Minas Gerais se formou no fim do século XVII, com a economia da mineração. Os primeiros habitantes não pensaram em agricultura nem em pecuária. Os alimentos eram escassos. Todos queriam a extração mineral. A decadência da cana-de-açúcar levou gente do litoral para o interior do Brasil. As cozinheiras descobriram como criar em seus quintais porcos e galinhas, herança portuguesa. Região Sudeste A culinária de Minas combina feijão, milho, porco, mandioca, ovo, couve, linguiça e cebola. Feijão é hábito alimentar indígena, absorvido na formação dos povos brasileiros. Após a decadência da mineração, a agricultura de subsistência prosperou. A pecuária também e os laticínios foram o ponto forte da economia mineira. Leites, queijos, doce de leite e pão de queijo (patrimônio imaterial brasileiro). As aguardentes servem até hoje como aperitivos. Interatividade O bolo Souza Leão é típico de qual estado brasileiro? a) São Paulo. b) Alagoas. c) Bahia. d) Santa Catarina. e) Pernambuco. Resposta O bolo Souza Leão é típico de qual estado brasileiro? a) São Paulo. b) Alagoas. c) Bahia. d) Santa Catarina. e) Pernambuco. Região Centro-Oeste O Centro-Oeste tem uma diversidade gastronômica influenciada por exploradores e viajantes que passaram ou ali se instalaram. Existem elementos de todo o país, como carne de sol nordestina, milho dos mineiros e arroz carreteiro de gaúchos. Os pecuaristas, os seringueiros e os exploradores de erva- mate descobriram as riquezas e transformaram a pecuária e a agricultura em suas principais atividades econômicas. Região Centro-Oeste A culinária regional recebeu influências indígenas, africanas e portuguesas, da Bolívia e do Paraguai também houve uma influência considerável: os bolivianos com as saltenhas (pastéis de frango assado) e os paraguaios com suas chipas (biscoito com formato de ferradura). Entretanto, guariroba, pequi, banana-da-terra, peixes e alguns tipos de caça (capivara, tatu, anta, paca e marreco) são os principais produtos consumidos. Uma característica comum às receitas é o uso abundante de condimentos: cúrcuma em pó, gengibre, alho, cebola, salsinha, cebolinha e pimenta. Região Centro-Oeste De longa data é a miscigenação do branco europeu com o índio em Mato Grosso. Várias etnias indígenas habitavam a região. A influência dos negros veio duzentos anos mais tarde que a dos brancos europeus, após a Guerra do Paraguai. A culinária mato-grossense é rica em peixes, carnes de porco, boi, caças; arroz, tubérculos, chás e frutas. Já no Mato Grosso do Sul, a culinária pantaneira sofreu influências indígenas e de colonizadores jesuítas espanhóis. Os bandeirantes chegaram pelo planalto, saindo de São Paulo e seguindo os rios Tietê e Paraná, em busca de riquezas minerais e mão de obra indígena. Região Centro-Oeste Inicialmente, as atividades ligavam-se à pecuária de corte, depois, à agricultura. Usa-se a carne em receitas típicas: arroz de carreteiro, sarrabulho (carnes e miúdos cozidos em vinho), cozido (carne, legumes, milho e banana), puchero (prato espanhol adaptado ao Paraguai com carne com osso, alho e sal bem cozidos) e caribéu (carne seca frita, depois cozida com mandioca e polpa de bocaiúva). Região Sul Os portugueses abordaram o Paraná por volta de 1540, mas só nos anos 1600 ocuparam a região, que já contava com várias etnias indígenas. Portugueses, negros, índios e espanhóis foram os povos que desenvolveram a culinária do estado, criando e comercializando gado, além de plantar milho, feijão, mandioca, batata, trigo e arroz. Charque e carnes suínas e bovinas, peixe, leite e derivados, laranja, pêssego, ameixa, maçã, jabuticaba, pera, marmelo, limão e uva também compunham a alimentação. Região Sul Quando Curitiba foi instituída capital, em 1853, da Província do Paraná, incentivou a entrada de imigrantes europeus que desenvolvessem a agricultura de subsistência. A cidade crescia e atraía imigrantes alemães, por conta do clima, para a Colônia Dona Francisca. Eles foram responsáveis pela reativação do comércio, da agricultura e do transporte. Para preservar sua cultura, os alemães importavam presunto, queijos, vinhos, champanhe, licores, chocolates, chá e manteiga. Enquanto isso, incorporaram-se a cerveja, a salsinha, a carne defumada, a linguiça, o salame, as conservas salgadas e doces. Região Sul O passado bandeirante legou os costumes e a influência sertaneja paulista à gastronomia típica de viajantes. A população adaptou a simplicidade dos pratos com carne seca (ou defumada ou toucinho) e fez as receitas de arroz carreteiro e virado de feijão a seu modo. Na região dos Pampas (que abrange Brasil, Argentina e Uruguai), preparava-se o típico churrasco em um buraco aberto no chão (o fogo de chão era costume indígena), temperando-o com as cinzas do braseiro. Costela e minga (costelinha), matambre (entre as costelas e o couro) e granito (do peito) são os cortes preferidos. Região Sul Parceiro do churrasco era o chimarrão. De origem indígena, gostoso, revigorante e fraterno, uma cuia passa de mão em mão nas rodas de conversa. Digestivo, combina bem com o churrasco. O sabor amargo vem dos tempos de açúcar raro. A gastronomia gaúcha também recebeu influência italiana, responsável pela introdução do galeto, da polenta e do vinho. Dos alemães, os gaúchos incorporaram as carnes defumadas, as linguiças, os doces com menor quantidade de açúcar e o café colonial. As origens da feijoada O consumo regular do feijão foi consolidado pelos próprios brasileiros, ou seja, pelos descendentes de europeus, africanos e indígenas. De acordo com “História da Alimentação no Brasil”, de Luís da Câmara Cascudo, o sabor do feijão se incorpora ao cotidiano dos brasileiros a partir da ação de dois grupamentos, um atuando especificamente a partir do sudeste e outro do nordeste, ou seja, os bandeirantespaulistas e os vaqueiros nordestinos. As origens da feijoada No processo de interiorização do Brasil, caçando índios ou tocando gado, os exploradores paulistas e os criadores de gado da Bahia e de Pernambuco tinham em sua bagagem a farinha, a carne seca e o feijão como alimentos essenciais. A razão para isso é que esse produtos eram duráveis e podiam ser carregados por longos caminhos sem que viessem a apodrecer rapidamente. As origens da feijoada No caso do feijão há um adendo, nos locais que passavam ou se estabeleciam tanto os bandeirantes quanto os vaqueiros plantavam esse alimento. Ao retornarem de sua viagens, os bandeirantes e vaqueiros recolhiam o que haviam semeado meses antes e se abasteciam. O feijão, em ambos os casos, era a segurança que se precisava ter para a realização de seus esforços cotidianos de trabalho e produção dos alimentos. As origens da feijoada Câmara Cascudo coloca que os escravos africanos não trouxeram em seu repertório alimentar a tradição de misturar outros alimentos em seus cozidos. Cozinhavam o feijão separadamente dos outros alimentos que lhes eram fornecidos, com a função de preservar o sabor original. Isso já seria um indício de que não foram esses povos que difundiram a feijoada. As origens da feijoada O cardápio dos escravos continha a presença do angu de fubá de milho ou de farinha de mandioca, além do feijão temperado com sal e gordura, que era servido ralo, ocasionalmente havia pedaço de carne de vaca ou porco que era incorporado. Não há nenhuma referência de uma feijoada elaborada no interior das senzalas. As origens da feijoada Portanto, o mais provável é creditar as origens da feijoada a partir de influências europeias. Para os portugueses eram comuns os cozidos que misturavam carne de vaca, linguiças, paios, toucinhos, lombo de porco, couve, cenouras, vagens, abóboras e feijões, principalmente, o feijão branco. Cascudo coloca que, de pratos históricos e conhecidíssimos de outros países, são formas de cozidos como a Olla Podrida castelhana ou, ainda, o cassoulet francês. As origens da feijoada Há também um recibo de compra da Casa Imperial, de 1889, em um açougue da cidade de Petrópolis, no Rio de Janeiro, no qual consta compra de carne porco, linguiça, linguiça de sangue, fígado, rins, língua, miolos e tripas. Demonstrando que não eram escravos que comiam esses ingredientes e que não eram de modo algum “restos”. Ao contrário, eram considerados iguarias. As origens da feijoada Laranja: foi trazida de Portugal, incorporou-se à feijoada brasileira. Arroz: de origem indiana foi difundido pelos árabes na Europa durante a Idade Média e chegou ao Brasil no primeiro século da colonização, espalhando-se no século XVIII. Couve: legume procedente de Portugal presente em diversos pratos regionais brasileiros, como os da cozinha mineira. As origens da feijoada Carne de porco: os portugueses trouxeram os porcos e outros animais de criação. Feijão: comum nas Américas, foi popularizado pelos bandeirantes, vaqueiros e tropeiros. É uma das bases da cozinha nacional. Carne-seca: ingrediente nativo do Nordeste brasileiro. Mandioca: nativa da terra é muito consumida em todo país até hoje. É principal contribuição dos indígenas à culinária do país. Interatividade Nessa cozinha regional, os peixes preferidos são pacu, piraputamba, curimbatá e dourado. O peixe de couro predileto é o pintado. As sobremesas, geralmente, são doces em compota, com frutas da região. A qual cozinha típica se refere essa afirmação? a) Cozinha gaúcha. b) Cozinha paraense. c) Cozinha mineira. d) Cozinha mato-grossense. e) Cozinha goiana. Resposta Nessa cozinha regional, os peixes preferidos são pacu, piraputamba, curimbatá e dourado. O peixe de couro predileto é o pintado. As sobremesas, geralmente, são doces em compota, com frutas da região. A qual cozinha típica se refere essa afirmação? a) Cozinha gaúcha. b) Cozinha paraense. c) Cozinha mineira. d) Cozinha mato-grossense. e) Cozinha goiana. ATÉ A PRÓXIMA!
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