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Mauro Schiavi_Formas_solução_conflitos_trabalhistas

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1-ª Edição - Agosto 2017 
2-ª Edição- Fevereiro 2018 
MAURO SCHIAVI 
juiz Titular da 19ll Vara do Trabalho de São Paulo. 
Doutor e Mestre em Direito pela PUCISP. 
Professor no Curso de Pós-Graduação Lato Sensu do Machenzie/SP. 
Professor Convidado da Escola judicial do TRTISP. 
Professor Convidado do Curso de Pós-Graduação Lato Sensu da PUC/SP 
A REFORMA TRABALHISTA 
E O PROCESSO DO TRABALHO 
Aspectos processuais da Lei n. 13.467117 
2ª Edição 
ILlli 
EDITORA LTDA. 
© Todos os direitos reservados 
Rua )aguaribe, 571 
CEP 01224-003 
São Paulo, SP - Brasil 
Fon~ (11)2167-1101 
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Fevereiro, 2018 
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Projeto Gráfico e Editoração Eletrônica: Peter Fritz Strotbck - The Besl Page 
Projeto de Capa: Fabio Giglio 
Impressão: BOK2 
Versão impressa: LTr 5954.6- ISBN 978-85-361-9553-7 
Versão digital: LTr 9328.1 -ISBN 978-85-361-9586-5 
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (ClP) 
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) 
Schiavi, Mauro 
A reforma trabalhista e o processo do trabalho : aspectos processuaL<; 
da Lei n. 13.467/17 I Mauro Schiavi. - 2. ed.- São Paulo: LTr, 2018. 
Bibliografia. 
l. Direito do trabalho 2. Direito do trabalho - Brasil 3. Direito 
processual do trabalho-Brasil 4. Lei 13.467, de 2017 -Comentários 
5. Reforma constitucional- Brasil l. Título. 
18-12550 CDU-34:331.001. 73(81) 
Índice para catálogo sistemático: 
l. Brasil : Reforma trabalhista : Direito do 
trabalho 34:331.001.73(81) 
Sumário 
Nota à 2ª Edição ............................................................................. ............... .. 9 
Apresentação ... ... .. ......................... ...... ........... ...................... ............ ... ............ 11 
Capítulo I - Teoria Geral do Direito Processual do Trabalho .. .. .. .. .. .. .. . .. .. .. 13 
l. Direito Processual do Trabalho: conceito, autonomia e finalidade.............. 13 
2. Do acesso à justiça do Trabalho e a Lei n. 13.467/17................................... 16 
3. Dos princípios peculiares do Direito Processual do Trabalho...................... 23 
3.1. Protecionismo processual.. ......................... ... ......... .... .... ..... ..... .. .......... . 28 
3.2. Informalidade........................................................................................ 30 
3.3. Conciliação........................................................... .............................. ... 31 
3.4. Celeridade... ........................................... ........................ ....................... 32 
3.5. Simplicidade.. ........................ ................................................................ 33 
3.6. Oralidade ............. ............... ...... .. ..... ...................................................... 33 
3.6.1. Identidade física do juiz.............................................................. 34 
3.6.2. Prevalência da palavra oral sobre a escrita.................................. 3 7 
3.6.3. Concentração dos atos processuais............................................. 37 
3.6.4. Imediatidade................................................................................ 38 
3.6.5. Irrecorribilidade das decisões interlocutórias............................. 38 
3.6.6. Majoração dos poderes do juiz do Trabalho na direção do processo. 39 
3. 7. Subsidiariedade ....... .... . . ... . . . . . .. . . . ... . . . .. . . .. . . . . . . ... ........... ... . . . . . . . . . . .. . .. ......... 40 
3.8. Função social do Processo do Trabalho .. .... .... ........... .... . .. .. .. .. .. .. .......... 40 
3.9. Normatização coletiva........................... ......... ....................................... 42 
3.10. A aplicação supletiva e subsidiária do CPC ao processo trabalhista... 43 
3.11. O princípio da subsidiariedade do Processo do Trabalho e as Lacunas 
Axiológicas da legislação processual trabalhista................................ . 4 7 
A REFORMA TRABALHISTA E O PROCESSO DO TRABALHO • 5 
Capítulo III 
Formas de Solução dos Conflitos Trabalhistas 
1. Do processo de jurisdição voluntária para homologação de acordo 
extrajudicial 
Art. 855-8. O processo de homologação de acordo extrajudicial terá início por petição 
conjunta, sendo obrigatória a representação das partes por advogado. 
§ 1º As partes não poderão ser representadas por advogado comum. 
§ 2º Faculta-se ao trabalhador ser assistido pelo advogado do sindicato de sua 
categoria. 
Art. 855-C. O disposto neste Capítulo não prejudica o prazo estabelecido no§ 6º 
do art. 477 desta Consolidação e não afasta a aplicação da multa prevista no § 82 do 
art. 477 desta Consolidação. 
Art. 855-0. No prazo de quinze dias a contar da distribuição da petição, o juiz 
analisará o acordo, designará audiência se entender necessário e proferirá sentença. 
Art. 855-E. A petição de homologação de acordo extrajudicial suspende o prazo 
prescricional da ação quanto aos direitos nela especificados. 
Parágrafo único. O prazo prescricional voltará a fluir no dia útil seguinte ao do trânsito 
em julgado da decisão que negar a homologação do acordo. 
O presente capítulo disciplina, como sistema de jurisdição voluntária, a ho-
mologação de conciliação extrajudicial. 
Segundo a doutrina, a jurisdição se subdivide em contenciosa e voluntária. 
Contenciosa: pressupõe a existência de lide, atuando a jurisdição de forma 
imperativa, dirimindo o conflito e impondo coercitivamente o cumprimento da 
decisão. A jurisdição contenciosa atua por meio do processo. 
Voluntária: caracteriza-se como Administração Pública de interesses priva-
dos. Não há partes, e sim interessados, pois não há lide, uma vez que entre as 
partes há consenso e não conflito. 
Conforme destaca Alexandre Freitas CâmaraC84), dentre as várias teorias que 
tentam explicar a natureza da jurisdição voluntária , destaca-se como majoritária 
(84) Ibidem, p. 78. 
74 • MAURO SCHIAVI 
na doutrina a qual a jurisdição voluntária não teria natureza de jurisdição, mas sim 
de função administrativa. 
A atividade dos órgãos do Poder judiciário, ao exercer a jurisdição voluntária, 
consiste em dar validade a negócio jurídico entre particulares que, pela importân-
cia e seriedade de que se reveste o ato, necessitam da chancela judicial. 
Havia raros exemplos de jurisdição voluntária na justiça do Trabalho, dentre 
os quais destacavam-se: a) os requerimentos de alvarás judiciais para saque do 
FGTS, e também a homologação de pedidos de demissão de empregados estáveis, 
conforme dispõe o art. 500 da CLT, in verbis: 
"O pedido de demissão do empregado estável só será válido quando feito com a assistên-
cia do respectivo sindicato e, se não o houver, perante autoridade local competente do 
Ministério do Trabalho ou da justiça do Trabalho." 
Nesse sentido, dispõe o Enunciado n. 63, da lª jornada de Direito Material e 
Processual do Trabalho da ANAMATRA: 
"Competência da justiça do Trabalho. Procedimento de jurisdição voluntária. Liberação do 
FGTS e pagamento do seguro-desemprego. Compete à justiça do Trabalho , em procedi-
mento de jurisdição voluntária, apreciar pedido de expedição de alvará para liberação 
do FGTS e de ordem judicial para pagamento elo seguro-desemprego, ainda que figurem 
como interessados os dependentes de ex-empregado falecido." 
Nos termos do art. 652, "f", da CLT, compete às Varas do Trabalho decidir 
quanto à homologação de acordo extrajudicial em matéria de competência da jus-
tiça do Trabalho. 
Os arts. 855-B a 855-E da CLT disciplinam um polêmico instituto de ho-
mologação de acordo extrajudicial, qualificado como procedimento de jurisdição 
voluntária, o que sempre encontrou uma resistência grande na justiça do Trabalho, 
em razão de princípios próprios do direito material do trabalho como a irrenun-
ciabilidade de direitos, e do acesso à justiça do trabalhador economicamente fraco. 
Doravante, os juízes do Trabalho deverão ter grande sensibilidade em anali-
sar acordosextrajudiciais e avaliar, no caso, concreto, a extensão da quitação, bem 
como a pertinência ou não da homologação 
Vale consignar que os juízes não estão obrigados a homologar acordos, con-
forme o entendimento já sedimentado pela Súmula n. 418 do TST, in verbis: 
"Mandado de segurança visando à homologação de acordo. 
A homologação de acordo constitui faculdade do juiz, inexistindo direito liquido e certo 
tutelável pela via do mandado de segurança. 
Pelo procedimento previsto na lei a homologação de acordo extrajudicial deve seguir o 
seguinte procedimento: 
a) terá início por petição conjunta, sendo obrigatória a representação elas partes por advo-
gado, que não poderá ser comum. Faculta-se ao trabalhador ser assistido pelo advogado 
do sindicato de sua categoria; 
A REFORMA TRABALHISTA E O PROCESSO DO TRABALHO • 75 
b) não há prejuízo do prazo estabelecido no § 6º do art. 4 77 desta Consolidação e não 
afasta a aplicação da multa prevista no § 8º do art. 477 desta Consolidação; 
c) no prazo de quinze dias a contar da distribuição da petição, o juiz analisará o acordo, 
designará audiência se entender necessário e proferirá sentença; 
d) a petição de homologação de acordo extrajudicial suspende o prazo prescricional da 
ação quanto aos direitos nela especificados; 
e) o prazo prescricional voltará a fluir no dia útil seguinte ao do trânsito em julgado da 
decisão que negar a homologação do acordo." 
A decisão que homologar o acordo não será recorrível, havendo o trãnsito 
em julgado a partir da homologação (art. 831, da CLT), exceto quanto aos valores 
devidos à Previdência Social. 
Embora não seja obrigatória a marcação de audiência para homologação de 
acordo extrajudicial, pensamos que tal providência é prudente e, possivelmente, 
será delegada ao Centro judiciário de Solução de Conflitos (CEjUSC), órgão de 
resolução consensual de conflitos existente dentro da própria justiça do Trabalho. 
As custas serão fixadas em proporções iguais ao reclamante e ao reclamado, 
sendo possível a isenção à parte beneficiária de justiça gratuita. 
De nossa parte a decisão que homologar a conciliação extrajudicial não fixará 
honorários advocatícios, pois não houve sucumbência. 
Da decisão que não homologar o acordo, caberá Recurso Ordinário (art. 895, I, 
da CLT). 
Uma vez homologado o acordo, caso não haja o cumprimento espontãneo, 
este poderá ser executado junto às Varas do Trabalho, pois tem natureza de título 
executivo judicial (art. 515, lil do CPC). 
Embora a intenção da lei seja de facilitar a solução de conflitos individuais na 
justiça do Trabalho, pensamos que o presente procedimento será pouco utilizado, 
pelos seguintes argumentos: 
a) necessidade de advogados distintos para empregado e empregador, não 
sendo possível o jus postulandi de uma das partes; 
b) necessidade de petição conjunta; 
c) prazo de 15 dias para análise do acordo, que é muito curto, considerando-se 
a realidade das Varas do Trabalho pelo Brasil; 
d) dificilmente, os juízes do trabalho homologarão o acordo com eficácia 
liberatória geral, considerando-se os princípios do direito do trabalho e a 
tradição da justiça do Trabalho; 
e) possibilidade de não homologação (Súmula n. 418 do TST). 
Sobre o presente instituto, a li jornada de Direito Material e Processual do 
Trabalho da ANAMATRA editou os seguintes enunciados: 
76 • MAURO SCHIAVI 
Enunciado n. 110: 
"JURISDIÇÃO VOLUNTÁRIA. ACORDO EXTRAJUDICIAL RECUSA À HOMOLO-
GAÇÃO. O JUIZ PODE RECUSAR A HOMOLOGAÇÃO DO ACORDO, NOS TERMOS 
PROPOSTOS, EM DECISÃO FUNDAMENTADA." 
Enunciados ns. 123, 124 e 125: 
"HOMOLOGAÇÃO DE ACORDO EXTRAJUDICIAL I- A FACULDADE PREVISTA NO 
CAPÍTULO III-A DO TÍTULO X DA CLT NÃO ALCANÇA AS MATÉRIAS DE ORDEM 
PÚBLICA. ll- O ACORDO EXTRAJUDICIAL SÓ SERÁ HOMOLOGADO EM JUÍZO SE 
ESTIVEREM PRESENTES, EM CONCRETO, OS REQUISITOS PREVISTOS NOS ARTS. 
840 A 850 DO CÓDIGO CIVIL PARA A TRANSAÇÃO; lll- NÃO SERÁ HOMOLOGADO 
EM JUÍZO O ACORDO EXTRAJUDICIAL QUE IMPONHA AO TRABALHADOR CON-
DIÇÕES MERAMENTE POTESTATIVAS, OU QUE CONTRARIE O DEVER GERAL DE 
BOA-FÉ OBJETIVA (ARTS. 122 E 422 DO CÓDIGO CIVIL). 
HOMOLOGAÇÃO DE ACORDO EXTRAJUDICIAL RECURSO. ANÁLISE PELO TRI-
BUNAL NO CASO DE RECURSO DA DECISÃO QUE NÃO HOMOLOGAR DE FORMA 
FUNDAMENTADA O ACORDO EXTRAJUDICIAL, O TRIBUNAL NÃO PODERÁ RE-
TORNAR O PROCESSO PARA QUE O JUIZ DE PRIMEIRO GRAU O HOMOLOGUE. 
PROCESSO DE JURISDIÇÃO VOLUNTÁRIA. HOMOLOGAÇÃO DE ACORDO EX-
TRAJUDICIAL COMPETÍ:NCIA TERRITORIAL I- A COMPETÊNCIA TERRITORIAL 
DO PROCESSO DE JURISDIÇÃO VOLUNTÁRIA PARA HOMOLOGAÇÃO DE ACOR-
DO EXTRAJUDICIAL SEGUE A SISTEMÁTICA DO ART. 651 DA CLT. Ll- APLICA-SE 
ANALOGICAMENTE O ART. 63, § 3º, DO CPC, PERMITINDO QUE O JUIZ REPUTE 
INEFICAZ DE OFÍCIO A ELEIÇÃO DE FORO DIFERENTE DO ESTABELECIDO NO 
ART. 651 DA CLT, REMETENDO OS AUTOS PARA O JUÍZO NATURAL E TERRITO-
RIALMENTE COMPETENTE." 
2. Arbitragem em dissídios individuais trabalhistas 
Art. 507*A, Nos contratos individuais de trabalho cuja remuneração seja superior 
a duas vezes o limite máximo estabelecido para os benefícios do Regime Geral de 
Previdência Social, poderá ser pactuada cláusula compromissória de arbitragem, 
desde que por iniciativa do empregado ou mediante a sua concordância expressa, nos 
termos previstos na Lei n. 9.307, de 23 de setembro de 1996. 
A arbitragem é um meio de solução dos conflitos pelo ingresso de um terceiro 
imparcial (árbitro) previamente escolhido pelas partes que irá solucionar o conflito 
de forma definitiva. A arbitragem é considerada um meio alternativo de solução do 
conflito, pois o árbitro não pertence ao Estado. Alguns doutrinadores sustentam 
que o árbitro tem jurisdição, não a estatal, mas sim a que lhe foi outorgada pelas 
partes para resolução do conflito. 
Não há tradição de resolução dos conflitos trabalhistas pela via da arbitragem 
no Direito brasileiro, embora em muitos países de tradição anglo-saxônica, este 
seja o principal meio de resolução de tais conflitos, principalmente o conflito co-
letivo de trabalho. 
A REFORMA TRABALHISTA E O PROCESSO DO TRABALHO • 77 
Diante do princípio da inafastabilidade da jurisdição (art. 5º, XXXV, da CF), a 
arbitragem no Direito brasileiro é um meio facultativo de solução de conflitos, vale 
dizer: não se pode obrigar alguém, contra sua vontade, a aceitar o procedimento 
arbitral. 
Dentre os argumentos favoráveis à arbitragem, podemos destacar: a) maior 
agilidade nas decisões , em face da inexistência de recursos; b) o árbitro é escolhido 
pelas partes; c) melhores condições da real dimensão do conflito pelo árbitro; d) 
maior celeridade de resolução do conflito; e) possibilidade de a decisão dar-se por 
equidade se assim convencionarem as partes. 
Nos termos da Lei n. 9.307/96 que disciplina a arbitragem e traça as regras 
do procedimento arbitral, o procedimento arbitral é ins taurado pela convenção de 
arbitragem, que compreende a cláusula compromissória e o compromisso arbitral. 
A cláusula compromissória, prevista no art. 42 da Lei n. 9.307/96, é o negócio 
jurídico por meio do qual as partes se comprometem a submeter à arbitragem futu-
ros litígios que possam surgir relativamente a um contrato. O compromisso arbitral, 
previsto no art. 9º da Lei n. 9.307/96, é o negócio jurídico de natureza contratual 
por m eio do qual as partes submetem à arbitragem um litígio já existente. 
Atualmente, a doutrina e a jurisprudência não têm admitido a arbitragem para 
a solução dos conflitos individuais trabalhistas com os seguintes argumentos: a) 
acesso amplo e irrestrito do trabalhador ao judiciário Trabalhista (art. 5º, XXXV, 
da CF); b) irrenunciabilidade do crédito trabalhista; c) hipossuficiência do traba-
lhador; d) o estado de subordinação inerente ao contrato de trabalho impede que 
o trabalhador manifeste sua vontade ao aderir a uma cláusula compromissória. 
Nesse sentido, destacam-se as seguintes ementas: 
"Arbitragem. Direito individ ual do trabalho. Incompatibilidade. 'O art. 114 da Constituição 
Federal delimita a competênciada justiça do Trabalho e apenas quanto às questões 
cole.tivas autorizou a arbitragem. Não houve espaço constitucional para a arbitragem nas 
demandas individuais trabalhistas. Longe das origens do Estado Liberal, hoje as relações 
trabalhistas, reconhecidamente desequilibradas na ótica individual empregado-empre-
gador, são relações que não autorizam o compromisso arbitral , afastando a jurisdição 
estatal. Apenas sob a ótica coletiva, juridicamente igualitária, ficou autorizada a solução 
extrajudicial dos conflitos através da arbitragem'. Quíza Elke Dorisjust) . Enquadramento 
sindical. A promulgação da Constituição Federal de 1988 traz a proibição da interferência 
estatal na organização sindical, consagrando, em seu art. 82, I, a autonomia dos trabalha-
dores na formação do sindicato e no estabelecimento de suas bases e alcances. Preserva, 
no entanto, o conceito de categoria e o princípio da unicidade sindical. O critério, por 
excelência, para determinação do enquadramento sindical consiste na identificação da 
atividade preponderante da empresa. No entanto, dada a diversidade de atividade de algu-
mas empresas, torna-se difícil- e, às vezes, impossível- tal detecção, tomando-se por 
base apenas este parãmetro. É o caso que desponta na situação sub examen, tornando-se, 
pois, mister, a utilização de outros critérios. In casu, os elementos conducentes à ilação, 
aptos a eleger a entidade de classe efetiva para a representação da categoria profissional do 
reclamante, assentam-se na homologação da rescisão contratual, recolhimento da contri-
buição sindical e ausência de firmação da suposta CCT aplicável pela entidade de classe 
78 • M AURO SCHIAVI 
representativa da categoria econômica correspondente. Recurso da reclamada conheci-
do e parcialmente provido. Recurso ordinário do reclamante parcialmente conhecido e 
prejudicado." (TRT lOª R.- 3>~ T.- RO n. 1247/2005.005 .10.00-3- reli! Márcia Mazoni 
Cúrcio Ribeiro- D] 10.11.06- p. 31) (RDT n. 12- dezembro de 2006) 
"Comissão de Conciliação Prévia. Tribunal de arbitragem. Sindiforte. Territorialidade. Frau-
de. Ineficácia. Competência. justiça do Trabalho. A quitação outorgada por vigilante junto 
ao Tribunal de Arbitragem do Estado de São Paulo, em decorrência de acordo coletivo 
firmado pelo Sindiforte e a empresa Estrela Azul, sem a existência de qualquer lide pré-
via, e dentro do prazo previsto no § 62 do art. 477 da CLT, é absolutamente ineficaz e 
não produz nenhum efeito jurídico (arts. 9º, 625-B e 477 e§§ da CLT), principalmente 
quando o trabalhador prestou serviços em localidade abrangida pela base territorial de 
outro sindicato. Em razão disso, ela não impede o ajuizamento da reclamação trabalhista 
na justiça do Trabalho, que é a única competente para dirimir a controvérsia (art. 114 
da Constituição Federal). Intervalo. Supressão parcial. Remuneração. Período efeti vamente 
suprimido. A supressão parcial do intervalo destinado à alimentação e descanso implica 
a remuneração do período efetivamente suprimido (§ 4º do art. 71 da CLT), até porque 
a sua remuneração integral contraria o princípio que veda o enriquecimento sem causa 
e não estimula o empregador a conceder intervalo em maior extensão ao trabalhador. Se 
a remuneração deverá corresponder a uma hora, em qualquer caso, que interesse teria o 
empregador em conceder 30, 40, 50 ou 55 minutos de intervalo"? (TRT 15ª R. - 2ª T. -
RO n. 142/2003.093.15.00-0- rei. Paulo de Tarso Salomão- Dj 16.2.07- p. 24) (RDT n. 
04- abril de 2007) 
"Agravo de i.nstrumento. Recurso de revista. Arbitragem. Inaplicabilidade da Lei n. 9.307196 
nos conflitos individuais de trabalho. Embora o art. 3 1 da Lei n. 9.307/96 disponha que-a 
sentença arbitral produz, entre as partes e seus sucessores, os mesmos efeitos da sentença 
proferida pelos órgãos do Poder judiciário e, sendo condenatória, constitui título executi-
vo - , entendo-a inaplicável ao contrato individual de trabalho. Com efeito, o instituto da 
arbitragem, em princípio, não se coaduna com as normas imperativas do Direito Indivi-
dual do Trabalho, pois parte da premissa, quase nunca identificada nas relações laborais, 
de que empregado e empregador negociam livremente as cláusulas que regem o contrato 
individual de trabalho. Nesse sentido, a posição de desigualdade (jurídica e econômica) 
exis tente entre em.pregado e empregador no contrato de trabalho dificul ta sobremaneira 
que o princípio da livre manifestação da vontade das partes se faça observado. Como 
reforço de tese, vale destacar que o art. 114 da Constituição Federal, em seus §§ l º e 
2º, alude à possibilidade da arbitragem na esfera do Direito Coletivo do Trabalho, nada 
mencionando acerca do Direito Individual do Trabalho. Agravo de instrumento a que se 
nega provimento." (TST- Processo: AIRR- 415/2005-039-02-40.9- Data de Julgamento: 
17.6.2009- rei. Min. Horácio Rayrnundo de Senna Pires- 6ª Turma - Data de Divulgação: 
DEJT 26.6.2009) 
Em verdade, existe no Brasil falta de tradição em solução d os conflitos pela 
via arbitral, acreditando-se que os árbitros não estão preparados para resolver os 
litígios com imparcialidade e justiça. Na esfera trabalhista, acredita-se que a via 
arbitral sempre atende aos interesses do empregador, lesando os interesses do em-
pregado. Na realidade, muitas vezes, tanto a decisão como a transação realizadas 
em sede arbitral são melhores que a decisão na justiça do Trabalho, principalmente 
nos centros de maior movimento processual, em que a carga de trabalho dos juízes 
A REFORMA TRABALHISTA E O PROCESSO DO TRABALHO • 79 
inviabiliza uma decisão célere e com qualidade. Não obstante, diante da hipos-
suficiência do trabalhador brasileiro, das peculiaridades das relações de trabalho 
e de emprego, do caráter irrenunciável do crédito trabalhista, não há como se 
aplicar de forma irrestrita a arbitragem para reso lução de qualquer conflito indivi-
dual trabalhista, mesmo que a convenção arbitral seja firmada após a cessação do 
contrato individual de trabalho, pois ainda presente a hipossuficiência econômica 
do trabalhador. Entretanto, para algumas espécies de contratos de trabalho ou de 
emprego em que o trabalhador apresente hipossuficiência mais rarefeita, como os 
altos empregados, a arbitragem poderá ser utilizada, desde que seja espontãnea a 
adesão do trabalhador, e após cessado o conlrato de trabalho. 
Nesse diapasão, importante destacar as seguintes ementas: 
" 1. Recurso ordinário. Arbitragem de dissídios individuais trabalhistas. Possibilidade. A 
atual redação dos §§ )Q e 2Q do ar t. 114 da CF com a alteração promovida pela Emenda 
Constitucional n. 45/2004 p revê expressamente a possibilidade de submissão dos con-
flitos coletivos entre sindicatos dos empregadores e de empregados, ou entre sindicatos 
de empregados e empresas, à arbitragem, nada dispondo acerca dos conflitos individu-
ais . No entanto, o silêncio elo legislador leva a crer que é possível submeter os dissídios 
individuais trabalhistas à arbitragem em relação aos direitos patrimoniais disponíveis. 
Mesmo porque a mediação que se faz através das Comissões de Conciliação Prévia, muito 
embora não tenha previsão constitucional, é aceita. Idêntico raciocínio deve ser empre-
gado em relação à arbitragem. Ademais, o escopo da Lei n. 9.30711996 ele pacificação 
social harmoniza-se à finalidade do Direito elo Trabalho. 2. Recurso ordinário. Supressã.o 
do intervalo intrajomada. Hora extraordinária. Natureza salarial. O trabalho desempenhado 
pelo trabalhador durante o intervalo in trajornada configura tempo à disposição do 
empregador, devendo, portanto, ser pago como hora extraordinária. A literalidade do 
4Q do art. 71, da CLT, permite concluir que esse pagamento tem natureza salarial e não 
indenizatória." (TRT/SP ACÓRDÃO N.: 20080203412 N. de Pauta: 073 Processo TRT/SP 
n.: 00417200604802005, relator Desembargador Marcelo Freire Gonçalves. In: <www.trt. 
jus.br> Acesso em: set. 2008) 
"Arbitragem. Possibilidade de utilização para solução de conflitostrabalhistas. Hipótese fática 
de pressão para recurso ao juízo arbitral. In terpretação da Lei n. 9.307196 à luz dos fatos. 
Súmulas ns. 126 e 221 do TST. l. A arbitragem (Lei n. 9.307/96) é passível de utilização 
para solução dos confl itos trabalhistas, constituindo, com as comissões de conciliação 
prévia (CLT, art. 625-A a 625-H), meios al ternativos de composição de conflitos, que de-
safogam o judiciário e podem proporcionar soluções mais satisfatórias do que as impostas 
pelo Estado-juiz. 2. In casu, o Regional afastou a quitação do extinto contrato de trabalho 
por laudo arbitral, reputando-o fruto de pressão para o recurso à arbitragem. 3. Nessas 
condições, a decisão regional não viola os arts. 1Q da Lei n. 9.307/96 e 840 do CC, uma 
vez que, diante da premissa fática do vício de consentimento (indiscutível em sede de 
recurso de revista, a teor da Súmula n. 126 do TST), a arbitragem perdeu sua natureza de 
foro de eleição. Portanto, a revista, no particular, encontrava óbice na Súmula n. 221 do 
TST. Agravo de instrumento desprovido." (Ac. da 7a Turma do C.TST - AlRR 2547/2002-
077-02-40- rei. Min. lves Gandra Martins Filho- DJ 8.2.2008) 
"Agravo de instrumento em recurso de revista. j uízo arbitral. Coisa julgada. Lei n. 9.307196. 
Constitucionalidade. O art. 5Q, XXXV, da Constitui ção Federal dispõe sobre a garantia 
constitucional da universalidade da jurisdição, a qual, por definir que nenhuma lesão 
80 • MAURO SCHIAVI 
ou ameaça a direito pode ser excluída da apreciação do Poder judiciário, não se incom-
patibiliza com o compromisso arbitral e os efeitos de coisa julgada de que trata a Lei 
n . 9.307/96. É que a arbitragem se caracteriza como forma alternativa ele prevenção ou 
solução de conflitos à qual as partes aderem, por força de suas próprias vontades, e o in-
ciso XXXV do art. 5Q da Constituição Federal não impõe o direito à ação como um dever, 
no sentido de que todo e qualquer litígio deve ser submetido ao Poder judiciário. Dessa 
forma, as partes, ao adotarem a arbitragem, tão só por isso, não praticam ato de lesão 
ou ameaça a direito. Assim, reconhecido pela Corte Regional que a sentença arbitral foi 
proferida nos termos da lei e que não há vício na decisão proferida pelo juízo arbitral, não 
se há de falar em afronta ao mencionado dispositivo constitucional ou em inconstitucio-
nalidade da Lei n. 9.307/96. Despicienda a discussão em tomo dos arts. 940 do Código 
Civil e 477 da CLT ou de que o termo de arbi tragem não é válido por falta dejuntaela de 
documentos, haja vista que reconhecido pelo Tribunal Regional que a sentença arbitral 
observou os termos da Lei n. 9.307/96- a qual não exige a observação daqueles dispo-
sitivos legais- e não tratou da necessidade de apresentação de documentos (aplicação 
elas Súmulas ns. 126 e 422 do TST). Os arestos apresentados para confronto de teses são 
inservíveis, a teor da alínea a do art. 896 da CLT e da Súmula n. 296 desta Corte. Agravo 
de instrumento a que se nega provimento." (TST- Processo: AIRR -1475/2000-193-05-
00.7- Data de julgamento: 15.10.2008- rel. Min. Pedro Paulo Manus- 7ª Turma- Data 
de Divulgação: DEJT 17.10 .2008) 
"Recurso de revista. Dissídio individual. Sentença arbitral. Efeitos. Extinção do processo sem 
resolução do mérito. Art. 267, VII, do CPC. I- É certo que o art. lQ da Lei n. 9.307/96 
estabelece ser a arbitragem meio adequado para dirimir litígios relativos a direitos pa-
trimoniais disponíveis. Sucede que a irrenunciabilidade dos direitos trabalhistas não é 
absoluta. Possui relevo no ato da con tratação do trabalhador e durante vigência do pacto 
laboral, momentos em que o empregado ostenta nítida posição de desvantagem, valendo 
salientar que o são normalmente os direitos relacionados à higiene, segurança e medicina 
do trabalho, não o sendo, em regra, os demais, por conta da sua expressão meramente 
patrimonial. Após a extinção do contrato de trabalho, a vulnerabilidade e hipossuficiên-
cia justificadora da proteção que a lei em princípio outorga ao trabalhador na vigência 
do contrato implica, doravante, a sua disponibilidade, na medida em que a dependência 
e subordinação que singularizam a relação empregatícia deixam de existir. li - O art. 
114, § 1u, da Constituição não proíbe o juízo de arbitragem fora do âmbito dos dissídios 
coletivos. Apenas incentiva a aplicação do instituto nesta modalidade de litígio , o que 
não significa que sua utilização seja infensa à composição das contendas individuais. Ili 
- Para que seja consentida no âmbito das relações trabalhistas, a opção pela via arbitral 
deve ocorrer em clima de absolu ta e ampla liberdade, ou seja, após a extinção do contrato 
de trabalho e à míngua de vício de consentimento. IV- Caso em que a opção pelo juízo 
arbitral ocorreu de forma espontãnea e após a dissolução do vínculo, à míngua de vício 
de consentimento ou irregularidade quanto à observância do rito da Lei n. 9.307/96. Ir-
radiação dos efeitos da sentença arbitral. Extinção do processo sem resolução do mérito 
(art. 267, VII, do CPC), em relação aos pleitos contemplados na sentença arbi tral. Multa 
prevista em instrumento coletivo. Ausência de violação de cláusula normativa especifica. Ma-
téria fática . Súmula n. 126 do TST. l -A base fática da controvérsia não pode ser revolvida 
pelo TST (Súmula n. 126). A este órgão incumbe apenas a conclusão jurídica dela resu l-
tante, ou seja, examinar se os fatos lançados no acórdão impugnado tiveram o correto 
enquadramento jurídico. Parte detentora dos benefícios da justiça gratuita. Honorários peri-
ciais. Isenção. 1- A exegese dos arts. 14 da Lei n. 5 .584/70 e 32 , V, e 6U da Lei n. 1.060/50 
garante ao destinatário da justiça gratuita a isenção de todas as despesas processuais, aí 
A REFORMA TRABALHISTA E O PROCESSO DO TRABALHO • 81 
incluídos os honorários periciais. li - Recurso conhecido e provido." (TST - Processo: 
RR- 1799/2004-024-05-00.6- Data de julgamento: 3.6.2009- rel. Min. Antônio José de 
Barros Levenhagen- 4ª Turma- Data de Divulgação: DEJT 19.6.2009) 
O art. 507 -A da CLT possibilitou a fixação de cláusula compromissória de 
arbitragem nos contratos individuais de trabalhos com as seguintes condições: 
a) contratos individuais de trabalho cuja remuneração seja superior a duas 
vezes o limite máximo estabelecido para os benefícios do Regime Geral de 
Previdência Social, o que equivale à remuneração superior a R$ 11.062,62; 
b) iniciativa do empregado ou mediante a sua concordãncia expressa . 
De nossa parte, a lei não é adequada, pois fixa a possibilidade de cláusula 
de arbitragem na contratação do empregado, ou durante a vigência do vínculo de 
emprego, quando presente o estado de subordinação. Além disso, a remuneração 
de R$ 11.062,62 é relativamente baixa para se afastar o trabalhador da Justiça do 
Trabalho. De outro lado, no Brasil, a via arbitral ainda é um procedimento caro 
e, praticamente, inacessível ao trabalhador desempregado, que é o litigante mais 
frequente na Justiça do Trabalho. 
A validade do procedimento arbitral pode ser questionada naJustiça do Trabalho. 
A decisão que for dada pelo árbitro, caso não cumprida, será executada na Justiça 
do Trabalho, nos termos do art. 515, VII do CPC. 
82 • MAURO SCHIAVI 
1. Prescrição 
Capítulo IV 
Da Prescrição 
Art. 11. A pretensão quanto a créditos resultantes das relações de trabalho prescreve 
em cinco anos para os trabalhadores urbanos e rurais, até o limite de dois anos após a 
extinção do Contrato de Trabalho. 
1- (revogado); 
11- (revogado). 
( ... ) 
§ 22Tratando-se de pretensão que envolva pedido de prestações sucessivas 
decorrente de alteração ou descumprimento do pactuado, a prescrição é total, exceto 
quando o direito à parcela esteja também assegurado por preceito de lei. 
§ 32 A interrupção da prescrição somente ocorrerá pelo ajuizamento de reclamação 
trabalhista, mesmo que em juízo incompetente, ainda que venha a ser extinta sem 
resolução do mérito, produzindo efeitos apenas em relação aos pedidos idênticos.(NR) 
Dispõe o art. 189 do CC: 
"Violado o direito , nasce para o titular a pretensão, a qual se extingue pela prescrição, nos 
prazos a que aludem os arts. 205 e 206." 
Conforme o referido dispositivo legal, o Código Civil brasileiro adota o conceito 
de prescrição como sendo a perda da pretensão, que é, segundo Carnelutti, a exi-
gência de subordinação do interesse alheio ao interesse próprio. Estando prescrita 
a pretensão, não se pode exigir em juízo o direito violado, tampouco invocá-lo em 
defesa, pois a exceção prescreve no mesmo prazo que a pretensão, segundo o art. 
190 do CC. 
Segundo a melhor doutrina, a prescrição extingue a pretensão e por via oblíqua 
o direito, enquanto a decadência extingue o direito e por via oblíqua a pretensão. 
O prazo decadencial pode ser fixado na lei ou pela vontade das partes (contrato), 
enquanto os prazos prescricionais somente são fixados em lei. O prazo decadencial 
corre contra todos, não sendo, como regra, objeto de suspensão, interrupção ou 
causa impeditiva (art. 207 do CC), salvo as exceções do art. 208 do CC, já a prescri-
ção pode não correr contra algumas pessoas, pode sofrer causas de impedimento, 
A REFORMA TRABALHISTA E O PROCESSO DO TRABALHO • 83

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