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PRÉ VESTIBULA 1 Título da aula: AS INDEPENDÊNCIAS NA AMÉRICA: O HAITI (1804) E A AMÉRICA ESPANHOLA (1815-30) Vídeo aula nº.: 21 Capítulo da apostila: 9 (páginas 99 à 102). Mediadoras responsáveis: Isabel Tomaz e Ronnie Curty. AS INDEPENDÊNCIAS NA AMÉRICA: O HAITI (1804) E A AMÉRICA ESPANHOLA (1815-30) 1. Contexto histórico da América entre os séculos XVIII e XIX. Tornar-se independente significa romper com uma relação de obediência e de dependência. No caso da América, isso significava abandonar a condição de colônia para transformar-se num Estado autônomo. Foram muitos os motivos que influenciaram os colonos a lutarem por sua autonomia, como a difusão dos ideais liberais e iluministas vindos da Europa e as insatisfações com o domínio metropolitano. No entanto, é importante notar que as motivações desses movimentos também vieram a partir de condições, ações, ideias e acontecimentos locais, ou seja, ocorridos no próprio continente americano. Isto significa dizer que os moradores da América Espanhola e do Haiti não estavam parados no tempo e no espaço esperando alguma influência externa para despertarem sua vontade de independência. Um importante evento local que sinalizava as tensões existentes na América Espanhola foi a Revolta de Tupac Amaru II, ocorrida em 1780. Esta revolta foi liderada pelo Curaca Tupac Amaru II, descendente de antigos imperadores Incas. O movimento lutou pela autonomia da região do Peru e contra os maus tratos e explorações que os povos indígenas da região sofriam. Vale pontuar que uma das principais características do território colonial espanhol nas américas, dada a sua imensa extensão, era a sua diversidade de situações políticas e econômicas locais e a heterogeneidade na formação étnico-racial das populações. Visto que em algumas regiões a população indígena e de seus descendentes era predominante enquanto que em outras regiões já havia significativa presença de negros africanos, entre eles, escravizados e libertos. Tendo, também, casos onde ambas as presenças eram significativas. Outros episódios que influenciaram as ações dos colonos espanhóis foram Independência dos Estados Unidos da América (1776), ocorrida ao norte do continente americano, e a Revolução Francesa, entre 1789 e 1798. Para visualizar a localização dos domínios espanhóis e suas divisões administrativas antes da independência, observe o mapa a seguir: VICENTINO, Cláudio. Atlas histórico: geral e Brasil. São Paulo: Scipione, 2011.p. 95. 2. A INDEPENDÊNCIA DO HAITI (1791 - 1804) Batalha de São Domingos, January Suchodolski. Óleo sobre tela, 1845. A imagem retrata as batalhas entre as tropas revolucionárias haitianas e os exércitos franceses que tentaram recolonizar e restabelecer a escravidão na ilha. O território que hoje chamamos de Haiti era, até a virada do século XVIII para o XIX, uma colônia francesa localizada em parte da Ilha de São Domingos. Durante o violento processo de colonização da ilha pelos espanhóis no século XVI, grande parte dos habitantes nativos foram dizimados. No século XVII, a ilha se dividiu em duas colônias: a PRÉ VESTIBULA 2 espanhola San Domingo e a francesa Saint Domingue. Ambas as metrópoles recorreram ao tráfico de africanos escravizados como forma de conseguir mão de obra para a plantation de cana de açúcar. Ao longo do século XVIII, os grandes senhores tiveram que conviver com dois tipos de pressão: a ação dos quilombolas, muito ativos na região, e a dos mestiços e libertos que lutavam por direitos políticos e igualdade civil. Segundo diversos estudos, como o do pesquisador brasileiro Fulvio Machado, até o século XIX, Saint Domingues era a principal colônia da França nas Américas, sendo a maior exportadora de cana-de-açúcar do mundo e a maior exportadora de café das Américas. Esta produtividade tinha como base a exploração da mão-de-obra de homens e mulheres negros - trabalhadores escravizados, libertos e livres que compunham aproximadamente 85% da população da colônia. Após muitas formas de resistências locais e cotidianas, estes homens e mulheres criaram uma esperança de liberdade graças à Revolução Francesa de 1789, que declarou os direitos de igualdade e liberdade como universais. Tomando para si esses ideias e dialogando com as ações dos revolucionários na metrópole, homens e mulheres livres, libertos e escravizados se organizaram no ano de 1791 num movimento pela liberdade, pela abolição da escravidão e contra a dominação francesa. É importante ressaltar que um dos principais elementos responsáveis pela união e integração dos movimentos negros em torno da uma luta pela liberdade e contra as opressões coloniais francesas, foi o Vodu. O Vodu é uma religião de matriz africana que se construiu no Haiti e que influenciou de maneira direta na formação e nos rumos da revolta. Foi, também, a partir de um grande culto em 1791 que a grande sacerdotisa Vodu, Cecíle Fatman conclamou os negros livres, libertos e escravizados a se unirem e assumirem um compromisso de lutar contra a escravidão, o que acabou sendo mais uma forte base para a eclosão da revolução haitiana ainda no mesmo ano de 1791. Logo, este movimento, liderado por Toussaint L’Ouverture, um homem negro liberto, atacou fortemente as fazendas e colonos brancos na ilha, gerando fugas dos colonos e uma reação armada. Em 1801, os revolucionários de Saint- Domingue chegaram a conquistar toda a ilha. Nesse mesmo ano, Napoleão Bonaparte enviou suas tropas para a América na tentativa de recolonizar a região e restabelecer a escravidão. Toussaint L’Ouverture acabou capturado pelos franceses, morrendo 2 anos depois numa prisão em Paris. No entanto, outra liderança negra, Jean Jacques Dessalines, reorganizou o exército revolucionário e conquistou a independência da colônia francesa em 1804, a batizando com o nome indígena Haiti. A conquista da independência no Haiti estabeleceu a primeira república negra nas Américas produziu novos sentidos para a resistência negra no continente, ressignificando o sentido de liberdade. O que hoje é chamado de “haitianismo” se originou nesta revolução liderada pela população negra, que instalou um grande temor nas elites escravistas americanas. Ao mesmo tempo, serviu de inspiração para lutas contra a escravidão. 3. A AMÉRICA ESPANHOLA: DOS VICE- REINOS ÀS REPÚBLICAS Batalha de Maípu, Johann Moritz Rugendas. Óleo sobre tela, 1837 Ocupando territórios que se estendiam da América do Norte à América do Sul, a Espanha controlava a região através dos Vice-Reinos e Capitanias Gerais, sob a autoridade de funcionários espanhóis enviados para a América para a administração das colônias – os chapetones. Nas cidades e vilas, os criollos, que integravam as elites coloniais (grandes fazendeiros, donos de minas, comerciantes) ocupavam os cargos locais e disputavam os espaços administrativos e as decisões políticas locais com os chapetones. Esse aspecto é fundamental para a atuação desses homens nos processos de independências ocorridos ao longo das primeiras décadas do século XIX por toda a América Espanhola. Dentro do Vice-Reino da Nova Espanha, se iniciou o processo de independência do México no ano de 1810. A partir de 1815, após a queda de Bonaparte na Europa, tropas espanholas foram enviadas para a América e as guerras de independência se espalharam pelos Vice-Reinos e Capitanias Gerais As tropas coloniais foram lideradas pelos o que ficaram conhecidos como “Libertadores da América”. No Vice-Reino da Prata, a Independência ocorreu após a Revolução de Maio, em 1810, e com a concretização em 1816, com a formação das Províncias Unidas do Rio da Prata, no que hoje é conhecido como a Argentina - onde a liderança de José San Martin foi de extrema importância. Além desse Estado, o Paraguai (1811), Bolívia (1825) e Uruguai (1825) também se formaram do antigo Vice-Reino. San Martin também liderou os processos no Chile (1818) e Peru (1824), onde contou com auxíliomilitar de ingleses liderados pelo almirante Thomas Cochrane e de outro Libertador, Simón Bolívar. Dentro do Vice-Reino da Nova Granada e Capitania Geral da Venezuela, Bolívar liderou as PRÉ VESTIBULA 3 tropas que declararam a Independência da Grã-Colômbia (1821). Mesmo com medidas da Espanha, na tentativa de retomar o controle na América, durante as décadas de 1810 e 1820 as lutas pelas independências locais atingiram seu auge, ampliando os Estados independentes por todo o continente, os poderes da elite criolla e, também, dos caudilhos nas diversas Repúblicas criadas a partir de então. 4. O CASO DO MÉXICO La Guerra de la Independencia de México, Diego Rivera. Mural, 1929-35. O processo de Independência do México se iniciou em 1810, através da liderança dos Padres Hidalgo e Morellos, que contavam com o apoio de camponeses e nativos - e seus descendentes - dando um caráter popular as lutas locais. Reprimindo e assassinando as lideranças populares, a elite criolla liderou o processo até o ano de 1821, quando a Independência foi alcançada. Em 1824, outras regiões da América Central formaram às Províncias Unidas da América Central que formaram, através da pressão inglesa e estadunidense os Estados de Honduras, El Salvador, Guatemala, Nicarágua e Costa Rica . Além disso, por ter perdido a Guerra do México (1846-48) contra os Estados Unidos da América, o México ainda perdeu cerca de 40% do seu território já que os estados da Califórnia, Texas e Novo México foram anexados ao país norte-americano. As permanências de questões do período colonial como a falta de acesso à terra pela maioria da população local, de origem nativa, ficou explícito ao longo das disputas políticas do período e no estabelecimento da República Mexicana se tornando um dos principais pontos de reivindicação dessas pessoas ao longo do século XIX e início do XX. VICENTINO, Cláudio. Atlas histórico: geral e Brasil. São Paulo: Scipione, 2011.p.127. Questão do Vestibular UERJ 2018 REVOLTA EM SÃO DOMINGOS (HAITI) Haiti é um farol elevado sobre as Antilhas, em direção ao qual os escravos e seus senhores, os oprimidos e os opressores, voltam seus olhares. HENRI GRÉGOIRE, 1824 Citado por MOREL, M. O abade Gregori, o Haiti e o Brasil: repercussões no raiar do século XIX. Revista Almanaque Braziliense, nº 2, novembro/2005. A Revolução Haitiana, iniciada em 1791, causadora da independência daquela região de colonização francesa, gerou repercussões que impactaram tanto as sociedades americanas quanto as europeias. A imagem e o texto exemplificam algumas impressões sobre esse movimento. PRÉ VESTIBULA 4 Indique um aspecto da Revolução Haitiana que a diferenciou dos outros processos de emancipação política de colônias americanas. Em seguida, identifique duas repercussões desse episódio para as sociedades americanas e europeias. Segundo o gabarito disponibilizado pela UERJ, são modelos de respostas possíveis para essa questão: Um dos aspectos: • Levou à criação da primeira República Negra das Américas. • O processo de independência foi iniciado por violentas rebeliões escravas. • A emancipação política acarretou também o fim da escravidão. Duas das repercussões: • difusão das ideias liberais • ampliação das críticas à legalidade da escravidão • ocorrência de outras rebeliões escravas nas Antilhas • alterações nos fluxos do tráfico intercontinental de escravos • crescimento da oposição britânica à continuidade do tráfico de escravos • difusão do medo em relação à violência de revoltas escravas (haitianismo)