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Universidade Federal de São Paulo Antropologia I

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Universidade Federal de São Paulo
Antropologia I
 Prof. Cristina Pompa
Guarulhos, 15 de janeiro de 2011.
Universidade Federal de São Paulo
Julia Costa Terin 
 Rodrigo Nascimento 
Ciências sociais
2º semestre- vespertino
Antropologia I
Profº Cristina Pompa
Introdução
	
Durante muito tempo sempre houve na história do homem um constante choque entre povos e culturas diferentes, pois antigamente esses mesmos povos só se encontravam por meio de guerras ou disputas. Mesmo assim desse choque veio à curiosidade do homem em entender esse outro mundo. A antropologia busca por meio de métodos compreender e conhecer o diferente nessas culturas e da noção de alteridade. O método consistia no trabalho de campo, estudar a outra cultura em seu próprio meio ambiente, relatando seus modos de vida. Para a melhor compreensão desses fenômenos sociais muitos antropólogos se utilizaram de métodos para melhor alcançar seus objetivos. Algumas escolas se destacaram por proporem um modo de pensar e analisar tais fatos que são seguidos até hoje, algumas destas são as escolas antropológicas que pensavam a sociedade através dos conceitos de cultura e estrutura, ou seja, a escola Norte-Americana Culturalista, e a Estruturalista. Tal trabalho visa uma breve analise destas duas escolas antropológicas importantíssimas para o desenvolvimento da antropologia e da sociedade.
Culturalismo
	A escola Culturalista surge da busca de uma noção diferenciada de história, uma visão que não tome somente os fatores biológicos, mas os culturais, através da historia das formas culturais. O Culturalismo, baseado na antropologia social de Franz Boas, constitui os ensinamentos da Antropologia Norte-Americana a partir das décadas de 20/30 que tem como argumento a caracterização das culturas humanas através de processos e elementos históricos específicos, também baseado nas condições ambientais, que podem criar ou modificar elementos culturais. Tal escola busca mostrar os efeitos que as conexões históricas tiveram sobre o desenvolvimento da cultura de cada povo estudado, rejeitando sobre a maneira e o método evolucionista, criticado como generalista e de limitação científica.
	Os principais autores antropólogos que representam tal escola são, além de Franz Boas, suas discípulas Ruth Benedict e Margaret Mead. O Culturalismo tem como característica a analise das sociedades através de sua cultura, cada cultura deve ser estudada em sua particularidade (normalmente em viagens e trabalhos de campo), a diversidade cultural provem da particularidade de cada cultura e não da generalização. Tal fator leva o culturalismo a uma critica ao evolucionismo.
	A critica ao evolucionismo ocorre das classificações das culturas que geram uma hierarquia cultural baseada no ponto de vista de uma única cultura (a européia) e uma única linha cronológica de raça e desenvolvimento. No culturalismo generalizar as diversas culturas e avaliá-las baseadas num ponto de vista completamente unilateral é sem fundamento, o autor relata que a história humana não deve ser generalizada, pois acredita ser improvável que a mente humana obedeça às mesmas leis em todos os lugares e que idéias universais se constituem em um problema de método. As civilizações e suas diferentes culturas não podem ser classificadas e comparadas porque são relativas das relações entre os indivíduos e a cultura de sua sociedade: “As condições causais das ocorrências culturais repousam sempre na interação entre indivíduo e sociedade, e nenhum estudo classificatório das sociedades irá solucionar o problema.” (Boas, Franz. p 107) O culturalismo prega o relativismo.
	O relativismo consiste na análise das diferentes sociedades e suas culturas sem um pré-conceito formado, sem nenhum tipo de comparação entre culturas de outras sociedades. Cada sociedade tem sua cultura analisada em sua particularidade, pois sua cultura está diretamente conectada com o contexto histórico único que a sociedade vive e já viveu.
	
	
	As obras de Ruth Benedict e Margaret Mead fazem alusão à relação entre natureza e cultura dentro da teoria da escola culturalista a qual pertencem.
	No livro de Ruth Benedict “Padrões de cultura” (1935) ela alega que para se entender o indivíduo dentro da sua sociedade é preciso desvendar os padrões culturais de seus costumes, tais costumes se refletem em sua vida diária, são transmitidos dentre os indivíduos de sua sociedade e possui um campo limitado, não por um fator natural como a raça. O homem é moldado por sua cultura e não pela natureza, por exemplo, Ruth Benedict relata que algumas tribos possuem rituais de passagens para a vida adulta, tais rituais dão sentido a puberdade que adquire um significado através da cultura, assim a natureza é moldada pela cultura de cada sociedade, o sujeito se molda dentro da sociedade. Vemos este conceito em outra de suas obras “O crisântemo e a espada” (1946) onde Ruth Benedict descreve toda a sociedade japonesa a partir de seu padrão cultural, a hierarquia. Toda a sociedade japonesa e as relações dentro dela são baseadas na hierarquia, tal fator cultural rege todas as relações, há hierarquia na família entre os sexos e também de idade. Este fator torna a sociedade japonesa previsível, pois todos os papéis sociais são pré-determinados, e também, seguros devido à ordem social. Tal fator também demonstra que a cultura se sobressai perante os fatores naturais (biológicos) na moldagem do indivíduo na sociedade.
	Na obra de Margaret Mead “Coming age of Samoa” (1928) onde ela relata os comportamentos dos adolescentes de Samoa (controverso aos dos adolescentes norte-americanos) dando ênfase ao indivíduo e a ação individual diante do mundo, relatando que nada é inato, pois, cada indivíduo constrói a sociedade em que vive. Também demonstrando que os conceitos biológicos, como a raça, não inferem na cultura. Margaret Mead visa que a parti da ciência relativista pode se alcançar uma nova compreensão sobre o comportamento social. Em sua outra obra “Sexo e temperamento em três sociedades primitivas” (1935) a antropóloga estuda três diferentes sociedades primitivas (simples) tento o temperamento como representativo da cultura que interfere na sociedade. Em dois destes povos analisados, os Arapesh e os Mundugumor, o temperamento de ambos os sexos são iguais, sendo do primeiro povo pacifico e passivo e o outro violento e agressivo. Já os Tchambuli apresentam contraste entre os sexos, os temperamentos e papéis são diferentes, os homens são voltados a arte e ao cerimonial e as mulheres ao vigor político. Assim, vemos que não existe nada que é intrínseco ao sexo, ele não define papéis, e que a natureza humana é maleável. Nesta mesma obra Margaret Mead se refere aos desajustados, são os indivíduos que não se adéquam a cultura de sua sociedade, pois seu temperamento não se ajusta aos padrões culturais da sua sociedade e se vêem obrigados a se ajustar minimamente ou são marginalizados.
Este sentimento de desajuste pode acarretar numa angustia que pode ser extravasada na arte. Margaret Mead conclui que unificar os padrões sociais não é correto, não se pode impor igualdade, pois são as diferenças que caracterizam cada indivíduo dentro da sociedade, o correto seria uma sociedade aberta que aceite vários temperamentos.
	Ambas as antropólogas culturalistas definem a cultura como fator moldador da sociedade e não a natureza, isto reforça a idéia de que não se podem definir sociedades por fatores biológicos.
	 O Culturalismo teve uma importância fundamental para o pensamento antropológico, realizou a elaboração de um método que tem como eixo central a caracterização dos aspectos históricos das culturas humanas que esclarece as relações do presente ao passado cultural das populações estudadas, com o interesse de observar a reconstrução histórica através da constituição de uma lei geral baseada no particularismo cultural de povos e de suas tradições culturais, assim como analisar os processos e as interações sociais entre os homenspor meio de suas instituições geradas pela cultura e não por fatores biológicos.
Estruturalismo
A escola Estrututalista retrata uma das formas de análise da sociedade que se sobressai no meio antropológico muito praticado nas ciências humanas, partindo da psicologia com Wilhelm Wund (1832-1920) que procurou determinar a estrutura da mente na tentativa de compreender os fenômenos mentais, passando por Ferdinand de Saussure (1857-1913) ao analisar a dimensão social e coletiva da língua por meio da sua infraestrutura e de fenômenos lingüísticos promovendo dessa maneira o estudo da gramática.
O estruturalismo tem como característica o estudo das sociedades não européias a partir da descoberta de significados, também estuda sentidos presentes nas relações dos indivíduos entre si e com o ambiente em que habitam. O estruturalismo fez do antropólogo francês Lévi-Strauss seu maior representante. Lévi-Strauss levou tão a sério que escreveu uma obra só sobre o tema: “Antropologia estrutural”: 
“As pesquisas estruturais surgiram nas ciências sociais como conseqüência indireta de certos desenvolvimentos da matemática moderna, afastando-se assim, da perspectiva quantitativa da matemática tradicional.”
Para Lévi-Strauss a estrutura seria simplesmente uma matriz, um modelo de análise que parte da observação sobre a realidade social. Ele defende que não é necessária uma incursão histórica para explicar determinada cultura ou sociedade, e separou a sociedade em duas estruturas: uma previsível, passível de ser identificada e a outra imprevisível, circunstâncias fora da estrutura social. Além disso, considerou também as estruturas mentais como conscientes e inconscientes.
“Modelos podem ser conscientes ou inconscientes, dependendo do nível em que funcionam. Franz Boas, a quem cabe o mérito dessa distinção, mostrou que quanto menos a sociedade em que um grupo de fenômenos ocorre dispuser de um modelo consciente para interpretá-lo ou justificá-lo, mais este se prestará à análise estrutural.”
Independente do modelo a ser seguido, Lévi-Strauss deixa claro que isso não afetará sua natureza, e que os modelos conscientes estão entre os menos prováveis de serem seguidos, pois estes se fazem valer de funções menos relevantes no estudo das estruturas culturais, perpetuando crenças e costumes, ao invés de mostrar como elas funcionam dentro de determinada sociedade.
“A análise estrutural se depara, por isso, com uma situação paradoxal, bem conhecida pelos lingüistas: quanto mais clara for a estrutura aparente, mais difícil será captar a estrutura profunda, devido aos modelos conscientes e deformados que se interpõem como obstáculos entre o observador e seu objeto.”
Embora Lévi-Strauss afirmasse que a estrutura social e as relações sociais que constituem as construções teóricas utilizadas para moldar a vida social “... As relações sociais são a matéria-prima empregada para a construção de modelos que tornam manifesta a própria estrutura social, que jamais pode, portanto, ser reduzida ao conjunto das relações sociais observáveis em cada sociedade...”, outro antropólogo britânico concordava em parte com isso, seu nome era Alfred Reginald Radcliffe-Brown (17/01/1881 – 24/10/1955).
Radcliffe-Brown desenvolveu a teoria do “estrutural-funcionalismo” e é juntamente com Malinowski, considerado o pai da antropologia social moderna. Concordou em parte com Lévi-Strauss, pois acreditava que as relações não são teóricas, mas sim reais e observáveis. Sua pesquisa abordou diversas culturas ao redor do mundo e em suas análises, revelou que certas estruturas sociais nessas culturas isoladas geograficamente se desenvolveram naturalmente a fim de cumprir funções essenciais para a própria existência desta, semelhante a órgãos do corpo.
Radcliffe-Brown acreditava que o objetivo da antropologia era comparar com atenção as diferentes sociedades e formula leis gerais sociais com base nas conclusões do trabalho de campo. Seu desejo foi o de compreender como eram essas sociedades, identificando as partes que julgava mais significativas, e as formas como essas peças funcionam juntas. Ao invés de estudar diferentes traços culturais e sua difusão entre as culturas, Radcliffe-Brown teve como objetivo estudar as leis gerais das culturas. Ao mesmo tempo, sua análise foi criticado por não considerar as mudanças históricas das sociedades tradicionais, especialmente aquelas causadas pelo colonialismo ocidental.
Os estudos sobre o estrutural-funcionalismo não cessaram com Radcliffe-Brown, outro antropólogo que chegou a conhecê-lo ainda em vida desenvolveu seus estudos por meio de sua teoria. Evans-Pritchard (21/09/1902 – 11/09/1973) desenvolveu pesquisas sobre culturas pouco estudadas da África como os Azande e os Nuer principalmente suas práticas religiosas. Evans-Pritchard argumentava que os antropólogos careciam em traduzir as idéias e costumes de outras culturas de maneira mais consistente, pois estes eram imbuídos de idéias e preconceitos de sua própria cultura. 
Entre suas obras estão Teorias da religião primitiva (1965) e Bruxaria, Oráculos e Magia entre os Azande (1937). No primeiro discorre sobre as práticas religiosas existentes e as teorias existentes para explicá-las, que, em sua opinião, eram inválidas. Alegou que aqueles que eram crentes e os que desacreditavam de tais práticas abordavam o estudo de maneira diferente. 
Os crentes se propunham ao desenvolvimento de teorias que pudessem explicar a religião através de um método conceitual relacionado com a realidade. Os não crentes explicam essa experiência religiosa como uma ilusão, por meio de teorias biológicas, sociológicas ou psicológicas. 
Em Bruxaria, Oráculos e Magia entre os Azande, relata e analisa a crença de um povo que acredita em bruxaria e que se dispõem disso para poder explicar coisas que ocorrem no cotidiano. 
“Meu objetivo [...] não é descrever exaustivamente todas as situações sociais nas quais a magia, os oráculos e bruxaria se apresentam, mas estudar as relações entre essas práticas e crenças entre si, mostrar como formam um sistema racional e investigar como este sistema racional se manifesta no comportamento social.” 
Evans-Pritchard abordou tais estudos para poder explicá-los de uma ótica interna, explicando a forma como pensam e o porquê de certos comportamentos e práticas religiosas dessas culturas, também concluiu que os aspectos religiosos de outra cultura são mais bem reconhecidos por aqueles que reconhecem a validade das experiências religiosas, como as que ele relatou, na própria cultura. 
Bibliografia
BOAS, Franz. Antropologia cultural. Rio de Janeiro : Jorge Zahar, 2005
BENEDICT, Ruth. O Crisântemo e a Espada. São Paulo: Ed. Perspectiva, 1972.
MEAD, Margaret. Sexo e Temperamento. São Paulo: Perspectiva, 1969
LÈVI-STRAUSS, Claude. Antropologia estrutural. São Paulo: Ed. Cosac Náify, 2008. 
Tradução: Beatriz Perrone-Moisés
	
PRESOTO, Zelia Maria Neves; MARCONI, Marina de Andrade. Antropologia uma introdução. Editora: ATLAS6ª Edição - 2005
Radcliffe Brow,A. R.1973.Estrutura e Função na Sociedade Primitiva. Petrópolis: Ed.Vozes, 1973. Tradução: Nathanael C. Caixeiro
Evans-Pritchard, E. – Os Nuer. São Paulo: Ed. Perspectiva, 1978

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