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Conceito de recurso
Recurso é o meio jurídico pelo qual se provoca o reexame de uma decisão que ainda não transitou em julgado. Decorrem os recursos do princípio do duplo grau de jurisdição, adotado implicitamente pela Constituição Federal e explicitamente pela Convenção Americana de Direitos Humanos (Pacto de San Jose da Costa Rica).
· Na nossa constituição o duplo grau de jurisdição não é adotado expressamente, mas é um principio explicito
Natureza jurídica do recurso:
Significativo setor da doutrina considera a natureza jurídica do recurso como um desdobramento do direito de ação ou de defesa, isto é, o recurso dá continuidade à relação jurídica iniciada em primeira instância.
· Triade jurídica: acusação, defesa e juiz. Triangulo processual. Esse triangulo da inicio a relação processual entre as partes
· A jurisdição se encerra com o transito em julgado.
Princípios dos recursos:
Principio da voluntariedade: em regra, os recursos são voluntários, isto é, dependem de manifestação de vontade que queira ver a decisão reformada ou anulada.
Princípio da taxatividade: para se recorrer de uma decisão, é necessário que exista previsão expressa em lei a a respeito do cabimento de tal recurso.
· No processo penal não existem recursos inominados ou abertos. No cpp os recursos são taxativos.
Príncipio da fungibilidade: não havendo erro grosseiro ou má-fé na interposição do recurso, e sendo atendido o prazo efetivamente cabível a espécie, pode ser aceito um recurso pelo outro.
· Tem que tomar cuidado com a apelação do procedimento comum da apelação do juizado especial criminal que tem prazos diferentes. Quando erra o juiz não quer nem saber. Mesma coisa quando troca RESE e apelação em situação que é claramente RESE.
Princípio da vedação a reformatio in pejus: Não pode a instância ad quem(tribunal) piorar a situação daquela que recorrer de forma exclusiva. Se aplica em favor da defesa. Não se aplica a acusação. O tribunal não pode piorar a sentença da defesa se só ela tiver recorrido.
· E se a defesa e a acusação recorrem? Pode ser mantido a mesma decisão ou pode ser diminuída a pena
PRESSUPOSTOS RECURSAIS
Admissibilidade do recurso: conhecer o recurso
Prover ou não aquilo que é pedido pela defesa ou acusação do recurso
Pressupostos objetivos:
a) CABIMENTO: necessidade de expressa previsão legal
b) TEMPESTIVIDADE: o recurso deve ter sido interposto no prazo previsto
Tem o prazo pra interposição do recurso e de razões.
c) REGULARIDADE FORMAL: o recurso deve ser interposto conforme a forma estabelecida em lei
d) Inexistência de fatos impeditivos ou extintivas: renúncia ou desistência do direito de recorrer.
· A renúncia é que antes de você interpor recurso, renuncia ao direito do recurso. Pode ser expressa ou tácita. 
PRESSUPOSTOS SUBJETIVOS:
a) Interesse: somente a parte que possuir interesse na reforma/ anulação da decisão poderá recorrer;
· O processo penal não trabalha com a sucumbência do CPC. No CPP para a defesa não é necessário que haja sucumbência para que a defesa recorra! A defesa pode recorrer inclusive se o réu for absolvido com a finalidade de modificar o fundamento da absolvição
b) LEGITIMIDADE: o recurso deve ser interposto por quem é parte na relação processual ou, excepcionalmente, por terceiro interessado, desde que haja previsão legal.
EFEITOS DOS RECURSOS
Efeito devolutivo: significa que o recurso devolve a matéria para ser apreciada pela instância ad quem.
· TODO RECURSO TEM ESSE EFEITO.
Efeito suspensivo: ocorre quando o recurso suspende os efeitos da decisão que impugna. Até ser julgado o recurso.
· TEM RECURSO QUE TEM E TEM RECURSO QUE NÃO TEM ESSE EFEITO.
EFEITO REGRESSIVO: é a possibilidade do próprio juiz se retratar da decisão que prolatou. É cabível no Recurso em Sentido Estrito, no Agravo em execução e na Carta testemunhável.
· ALGUNS RECURSOS TEM ESSE EFEITO
EFEITO EXTENSIVO: pode ocorrer no caso de concurso de pessoas – os efeitos da decisão são estendidos aos corréus. Efeito típico do CPP, quando tem concurso de pessoas. Na ação de habeas corpus essa decisão pode ser aplicada aos correus. 
RECURSO EM SENTIDO ESTRITO (RESE)
O Recurso em Sentido Estrito busca atacar decisões interlocutórias que produzem algum tipo de gravame a parte. As hipóteses de cabimento são taxativas, contudo, isto não impede o emprego da interpretação extensiva.
· Esse recurso ataca decisões interlocutórias, ele não ataca decisões definitivas de mérito; não ataca sentença
· As hipóteses de cabimento de sentido estrito são TAXATIVAS. Não impede a interpretação de modo extensiva
· O recurso é interposto em duas peças: INTERPOSIÇÃO E RAZÕES. Com a petição de interposição endereçada ao juiz prolator da decisão impugnada, que em regra tem o prazo de 5 dias. E as razões recursais digeridas a instância ad quem(tribunal) com o prazo de 2 dias. Então na prática você pode interpor o REZE no prazo de 5 dias e o juiz intima para que sejam apresentadas as razões no prazo de 2 dias
· É assim por dois motivos: 1º que no processo penal pode se interpor recursos nos próprios autos(pode escrever lá que pode recorrer) quando o processo era fisico
· NA PRÁTICA: Tanto a defesa técnica(o advogado) quanto o próprio réu em alto defesa, eles podem interpor recursos, então quando o réu é intimado de uma decisão ele recebe um termo que lá diz assim: quero recorrer ou não quero recorrer. Se ele diz quero recorrer ele está interpondo recurso e com isso a defesa só é intimada pra apresentar as razões
· VOCÊ SÓ NÃO TEM RECURSO NO PROCESSO PENAL: se tanto a defesa técnica quanto a alta defesa não recorrer!
· NO PROCESSO PENAL É POSSIVEL VOCÊ APRESENTAR RECURSO DIRETAMENTE NO TRIBUNAL. AS RAZÕES DO RECURSO NO TRIBUNAL. (M.P OU DEFESA podem fazer isso) ISSO NÃO ACONTECE NO PROCESSO CIVIL.
· NA PROVA DA OAB, VOCÊ FAZ AS DUAS JUNTAS. Faz no prazo da interposição e já nesse prazo apresenta as razões
EFEITOS DO RESE
EFEITO DEVOLUTIVO, EFEITO SUSPENSIVO E REGRESSIVO
EFEITO DEVOLUTIVO
Significa que o recurso em sentido estrito devolve a apreciação da matéria ao órgão julgador. E a devolução fica restrita a matéria impugnada, não sendo ampla, portanto. O RESE por ser um recurso que ataca decisão interlocutória, então ele devolve ao tribunal a apreciação daquela matéria recorrida.
EFEITO SUSPENSIVO
EM REGRA, O RESE NÃO POSSUI EFEITO SUSPENSIVO. Contudo, o RESE contra a decisão que denega a apelação e o RESE contra a pronúncia possuem efeito suspensivo (art.584 cpp)
· O mais comum é o RESE CONTRA A PRONÚNCIA. Enquanto está correndo o RESE contra decisão de pronuncia, não pode ser realizado o plenário
· DECISÃO DE PRONUNCIA é decisão que remete o individuo pra julgamento pelo tribunal do júri, iniciando a segunda fase do júri
EFEITO REGRESSIVO:
· Tem que ser expressamente pedido na petição de interposição.
Cabe juízo de retratação o RESE (art.589 do CPP): com a resposta do recorrido ou sem ela, o juiz poderá manter ou reformar a decisão. Mantendo, remeterá ao órgão ad quem. Reformando a decisão, parte contrária, que agora ficou prejudicada pode pedir de pronto a remessa dos autos ao tribunal, desde que dessa nova decisão também caiba RESE.
LEGITIMIDADE: em regra, podem interpor recurso RESE o MP (se a ação penal é pública), o réu(em alto defesa) e o defensor( como defesa técnica). O querelante se for ação penal privada
· Em regra para interposição em sentido estrito é das PARTES.
· HIPÓTESES EXCEPCIONAIS:
Quanto a vitima, só pode interpor RESE da decisão que declarar extinta a punibilidade do agente (art.584 § 1º, do CPP). Se declarou extinta a punibilidade a vitima por meio do sistema de acusação ela pode interpor o RESE.
Também pode no caso de decisão que inclui ou exclui o nome de jurado da lista geral, qualquer um do povo poderá interpor RESE (art.581,XIV, do cpp)
FORMA DE INTERPOSIÇÃO
Pode ser interposto por meio de petição ou por termo nos autos.
PRAZOS: a petição de interposição deve ser protocolada, em regra, no prazo de 5 (cinco) dias. Contudo, o prazo será de 20 (vinte) dias no caso de RESE contra decisão que inclui ou exclui juradoda lista geral do Tribunal do júri.
· Toda vez que você perde prazo, você preclui.
Será de 15 dias (quinze) dias o prazo para a vitima não habilitada como assistente de acusação interpor RESE contra a declaração de extinção da punibilidade no caso de inercia do MP. ( A vitima que ainda não está no processo)
As razões/contrarrazões recursais serão apresentadas no prazo de 2 (dois) dias.
Razões: quem interpôs faz (parte recorrente)
Contrarrazões: a parte recorrida faz
HIPÓTESES DE CABIMENTO DO RESE
O rol da norma do art.581 do CPP é taxativo, o que não impede a interpretação extensiva em alguns casos.
É preciso estar atento a norma do art.581 do CPP, pois diversos dos seus incisos encontram-se atualmente revogados ou modificados pelo cabimento do agravo em execução
· Tudo que é execução/decisão que é proferida na execução vai caber o que é chamado agravo de execução que está previsto no art 197 da lei de execução penal
Art. 581. Cabe recurso em sentido estrito da decisão:
I- Que não receber a denúncia ou a queixa
EX: caso a inicial não seja formulada de acordo com a norma do art. 41 do CPP (exposição do fato criminoso, com todas as suas circunstâncias, qualificação do acusado ou esclarecimentos pelos quais se possa identifica-lo, etc) o juiz a rejeitará.
A doutrina majoritária faz interpretação extensiva da norma inciso I, dizendo que cabe RESE também da decisão que não recebe o aditamento da denúncia.
Noutro giro, não cabe recurso da decisão que recebe a inicial penal( só da que o rejeita). Em caso de recebimento, o réu deve ingressar com habeas corpus.
Note-se que, caso a acusação interponha RESE da decisão que rejeitar a denuncia, é necessário intimar a defesa para, querendo, oferecer contrarrazões. É este o entendimento da Súmula 707/STF: “constitui nulidade a falta de intimação do denunciado para oferecer contrarrazões ao recurso interposto da rejeição da denúncia, não a suprindo a nomeação de defensor ativo”.
Finalmente, em se tratando de JECRIM, o recurso cabível da decisão que rejeita a inicial penal não é o RESE, mas a apelação. (art.82 da Lei n.º 9.099/95)
II- Que concluir pela incompetência do juízo;
EX: caso o juiz-presidente do Tribunal do júri prolate decisão de desclassificação (art.419 do CPP), será cabível o RESE.
III- Que julgar procedentes as exceções, salvo as de suspeição
Acolhida a suspeição pelo próprio juiz exceto, não caberá recurso dessa decisão.
IV- Que pronunciar o réu
Trata-se de caso clássico de cabimento de RESE. Como é sabido, a pronúncia (art.413 do CPP) é a decisão que submete o acusado a segunda fase do Júri. Ela julga admissível a impugnação formulada na denúncia pelo MP, cabendo essa decisão, RESE.
Um dos principais fundamentos dessa hipótese é o excesso de linguagem na pronúncia ( quando o juiz, além de julgar admissível a imputação, adentra o mérito da causa) No mais, é importante destacar que não pode haver reformatio in pejus na hipótese de RESE com esse fundamento, na medida que o Tribunal de Justiça não pode piorar a situação do reu em recurso exclusivo da defesa.
V- Que conceder, engar, arbitrar, cassar ou julgar inidônea a fiança, indeferir requerimento de prisão preventiva ou revoga-la, conceder liberdade provisória ou relaxar a prisão em flagrante.
Atenção, da decisão que decreta a prisão preventiva, não cabe RESE, mas pedido de revogação da preventiva ou habeas corpus, conforme o caso. Da decisão que nega o pedido de relaxamento de prisão, não cabe RESE, mas habeas corpus.
VI- (revogado)
VII- Que julgar quebrada a fiança ou pedido o seu valor
Exemplo de quebrada fiança: acusado afiançado descumpre as obrigações das normas dos arts.327,328 ou 341 do CPP. Da decisão que julga quebrada a fiança, cabe RESE.
Exemplo de perda da fiança (arts.344 e 345 do CPP): réu condenado em definitivo a pena privativa de liberdade que empreende fuga. Da decisão que julgar perdida a fiança, cabe RESE.
VIII- Que decretar a prescrição ou julgar, por outro modo, extinta a punibilidade;
EX: caso o juiz declare nos auto a ocorrência da prescrição, caberá RESE da decisão.
IX- Que indeferir o pedido de reconhecimento da prescrição ou de outra causa extintiva da punibilidade
O legislador processual penal proferiu colocar em inciso separado a hipótese de RESE contra a decisão que reconhece a prescrição ou outra causa de extinção da 
punibilidade.
X- Que conceder ou negar ordem de habeas corpus (habeas corpus da 1º instância)
No caso de indeferimento de habeas corpus, vale lembrar que nada impede que outro HC possa ser impetrado em superior instância. Na realidade, na praxe forense é muito mais comum, nessa situação, impetrar na HV do que interpor RESE.
XI- Que conceder, negar ou revogar a suspensão condicional da pena
Inciso prejudicado. A decisão ou negativa do sursis se dá no corpo da sentença (logo, o recurso cabível é a apelação, e não o RESE.)
Por outro lado, eventual revogação do sursis se dá no curso da execução penal, logo cabível agravo em execução (art.197 da LEP) E não RESE. Note-se que o agravo em execução é o recurso cabível contra as decisões proferidas no curso da execução penal pelo juízo das execuções penais.
XII- Que conceder, negar ou revogar o livramento condicional
Prejudicado. Trata-se de decisão que se dá no curso da execução da pena. Cabivel agravo em execução (art.197 da LEP) e não RESE.
XIII- Que anular o processo da instrução criminal, no todo ou em parte.
EX: juiz que reconhece a ilicitude da prova e a contaminação que esta provocou nas demais provas, anulando o processo. Da decisão cabe RESE.
XIV- que incluir jurado na lista geral ou desta o excluir
Neste caso, qualquer um do povo poderá recorrer, sendo que o prazo será de 20 dias, contado da data da publicação definitiva da lista de jurados.
XV- Que denegar a apelação ou a julgar deserta
A denegação é o não conhecimento. Significa que a apelação não preencheu todos os pressupostos. Dessa decisão cabe RESE como forma de tentar forçar a subida do recurso de apelação a instância superior.
DESERÇÃO ex: falta de preparo do recurso, quando exigido). No que tange a deserção pela fuga do réu, é preciso notar que, após a reforma de 2008, a evação do acusado não tem mais o condão de impedir o conhecimento do recurso.
XVI- Que ordenar a suspensão do processo, em virtude de questão prejudicial
Ex: juiz que determina a suspensão do processo criminal em razão de questão prejudicial no juízo civil (discussão sobre a posse da coisa furtada). Cabe RESE dessa decisão.
XVII- Que decidir sobre a unificação das penas
Prejudicado. Trata-se de decisão tomada apenas no curso da ação penal. Cabível agravo em execução
XVIII- Que decidir o incidente de falsidade documental
A interposição do RESE terá pertinência quer seja provido ou improvido o pedido do incidente de falsidade documental
XIX- Que decretar medida de segurança, depois de transitar a sentença em julgado
Prejudicado, Trata-se de decisão que se dá no curso da execução da pena. Cabível agravo em execução (art.197 da LEP)
XX- Que impuser medida de segurança por transgressão de outro
Prejudicado. Cabe, na verdade, agravo em execução. EX: descumprimento de tratamento ambulatorial
XXI- Que mantiver ou substituir a medida de segurança, nos casos do art.774
Prejudicado. A norma do art. 744 do CPP foi tacitamente revogado. Não existe mais essa hipótese.
XXII- Que revogar a medida de segurança
Prejudicado. Trata-se de decisão que se dá no curso da execução da pena. Cabível agravo em execução.
XXIII- Que deixa de revogar a medida de segurança, nos casos em que a lei admita a revogação
Prejudicado. Trata-se de decisão que se dá curso da execução da pena. Cabível agravo em execução. (art.197 da LEP)
XXIV- Decisão que converter multa em detenção ou prisão simples
Prejudicado. Desde 1996, é impossível no país a conversão de multa em pena privativa de liberdade (art.51) Não pode mais o juiz efetuar tal conversão