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Prática simulada Aula do dia 12/03/2021 Recurso em Sentido Estrito Jerusa, atrasada para importante compromisso profissional, dirige seu carro bastante preocupada, mas respeitando os limites de velocidade. Em uma via de mão dupla, Jerusa decide ultrapassar o carro à sua frente, o qual estava abaixo da velocidade permitida. Para realizar a referida manobra, entretanto, Jerusa não liga a respectiva seta luminosa sinalizadora do veículo e, no momento da ultrapassagem, vem a atingir Diogo, motociclista que, em alta velocidade, conduzia sua moto no sentido oposto da via. Não obstante a presteza no socorro que veio após o chamado da própria Jerusa e das demais testemunhas, Diogo falece em razão dos ferimentos sofridos pela colisão. Instaurado o respectivo inquérito policial, após o curso das investigações, o Ministério Público decide oferecer denúncia contra Jerusa, imputando-lhe a prática do delito de homicídio doloso simples, na modalidade dolo eventual (Art. 121 c/c Art. 18, I parte final, ambos do CP). Argumentou o ilustre membro do Parquet a imprevisão de Jerusa acerca do resultado que poderia causar ao não ligar a seta do veículo para realizar a ultrapassagem, além de não atentar para o trânsito em sentido contrário. A denúncia foi recebida pelo juiz competente e todos os atos processuais exigidos em lei foram regularmente praticados. Finda a instrução probatória, o juiz competente, em decisão devidamente fundamentada, decidiu pronunciar Jerusa pelo crime apontado na inicial acusatória. O advogado de Jerusa é intimado da referida decisão em 02 de agosto de 2013 (sexta-feira). Atento ao caso apresentado e tendo como base apenas os elementos fornecidos, elabore o recurso cabível e date-o com o último dia do prazo para a interposição. A simples menção ou transcrição do dispositivo legal não pontua. Observações: Requerimentos Na interposição, deve-se requerer: (a) o recebimento e processamento do recurso; (b) o juízo de retratação nos termos do artigo 589 do CPP e caso o Magistrado entenda que deve manter da decisão; (c) a remessa do recurso ao tribunal de justiça ou Tribunal Regional Federal. Legitimidade Somente poderá interpor recurso em sentido estrito a parte prejudicada pela decisão recorrida. O recurso do assistente é sempre de caráter supletivo, ou seja, só pode ser interposto se o Ministério Público não tiver recorrido. Caso contrário, cabe ao assistente apenas arrazoar o recurso ministerial. Competência A regra é que o recurso em sentido estrito seja interposto perante o juízo de primeiro grau que proferiu a decisão recorrida. Recebido o recurso serão intimados, sucessivamente, recorrente e recorrido para apresentarem razões ou contrarrazões. Nada obsta, entretanto, que o recorrente ofereça suas razões já no momento da interposição. Prazo O prazo para a interposição do recurso em sentido estrito é, em regra, de 5 (cinco) dias. As exceções são: a) o recurso da decisão que incluir jurado na lista geral ou desta o excluir, cujo prazo é de 20 (vinte) dias; b) recurso interposto supletivamente pelo assistente da acusação: prazo de 15 (quinze) dias, a contar do final do prazo do Ministério Público. Obs: Artigo Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da ... Vara Criminal do Tribunal do Júri da…. Comarca ... Processo no ... JERUSA, já qualificada nos autos da ação penal que lhe move o Ministério Público, por seu procurador firmatário, procuração anexa (fl. ...), vem, à presença de Vossa Excelência, com fundamento no artigo 581, inciso IV, do Código de Processo Penal, interpor RECURSO EM SENTIDO ESTRITO, apresentando, desde logo, suas razões recursais para a reforma da decisão. Requer, ainda, uma vez recebido e processado o recurso, a retratação de Vossa Excelência, com base no artigo 589 do Código de Processo Penal, ou, em caso negativo, a sua remessa à Superior Instância para análise e julgamento. Nesses termos, pede deferimento. Local..., 09 de agosto de 2013. Advogado... OAB… EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO ... COLENDA CÂMARA CRIMINAL EMINENTE PROCURADOR DE JUSTIÇA Processo criminal n.o ... Recorrente: JERUSA Recorrido: MINISTÉRIO PÚBLICO 1. DOS FATOS A ré foi denunciada pelo Ministério Público pela prática do crime de homicídio doloso simples, na modalidade dolo eventual, capitulado no artigo 121, “caput”, combinado com o artigo 18, inciso I, parte final, ambos do Código Penal. Finda a instrução probatória, o Juízo pronunciou a acusada pelo crime apontado na inicial acusatória. A defesa foi intimada na data de 02/08/2013. 2. DO DIREITO 2.1. Da ausência de dolo no agir da acusada De acordo com o artigo 18, inciso I, parte final, do Código Penal, haverá dolo eventual quando o agente assumir o risco de produzir o resultado, sendo adotada, neste particular, a teoria do consentimento. No caso dos autos, a ré não agiu com dolo eventual, já que em nenhum momento assumiu o risco de causar a morte da vítima. Veja-se que a acusada conduzia o veículo respeitando os limites de velocidade, além de ter sido responsável por chamar o socorro logo depois do acidente. Portanto, a denunciada deve responder pela prática de homicídio culposo na direção de veículo automotor, já que sua conduta se amolda àquela descrita no artigo 302 do Código de Trânsito (Lei 9.503/97). 2.2. Da desclassificação Havendo delito diverso daqueles referidos no artigo 74, § 1o, do Código de Processo Penal (crimes dolosos contra a vida), o Tribunal do Júri não será competente para apreciá-lo, devendo ser operada a necessária desclassificação. Assim, como o agir da ré se enquadra no tipo penal disposto no artigo 302 do Código de Trânsito (homicídio culposo), e não no artigo 121 do Código Penal (homicídio doloso), deve ocorrer a desclassificação, nos termos do artigo 419 do Código de Processo Penal. 3. DOS PEDIDOS Ante o exposto, requer: a) Preliminarmente, o conhecimento do presente recurso em sentido estrito; b) No mérito, o seu provimento, a fim de que seja operada a desclassificação do delito de homicídio doloso (artigo 121 do Código Penal) para o crime de homicídio culposo na direção de veículo automotor (artigo 302 do Código de Trânsito), com base no artigo 419 do Código de Processo Penal. Nesses termos, pede deferimento. Local..., 09 de agosto de 2013. Advogado... OAB... RECURSO EM SENTIDO ESTRITO As hipóteses de cabimento do recurso em sentido estrito são taxativas e concentram-se, na maior parte, nos incisos do artigo 581 do CPP. Além desse, no entanto, outros dispositivos preveem o recurso em questão: o artigo 294, parágrafo único, do CTB, o art. 6º, parágrafo único, da Lei n. 1.508/51(regula o processo das contravenções) e o artigo 2º, III, do Dec.-lei n. 201/67 (crimes de responsabilidade dos prefeitos. Por outro lado, uma série de hipóteses constantes do artigo 581 do CPP hoje não mais cabem o recurso em sentido estrito. Isso porque são decisões que atualmente competem ao juiz das execuções e, dessa forma, de acordo com o artigo 197 da LEP (Lei de Execução Penal – Lei n. 7.210/84), são combatidas por meio de agravo em execução, que terá o mesmo prazo do rese por força da Súmula 700 do STF. São, portanto, decisões previstas no artigo 581 do CPP que não mais comportam recurso em sentido: a) que conceder, negar ou revogar sursis (art.581, XI, do CPP); b) que conceder, negar ou revogar livramento condicional (art. 581, XII, do CPP); c) que decidir sobre a unificação das penas (art. 581, XVII, do CPP); d) que decretar medida de segurança depois de transitar a sentença em julgado (art. 581, XIX, do CPP); e) que impuser medida de segurança por transgressão de outra (art. 581, XX, do CPP); f) que mantiver ou substituir a medida de segurança nos casos do art. 774 (art. 581, XXI, do CPP); g) que revogar medida de segurança (art. 581, XXII, do CPP); h) que deixar de revogar medida de segurança, nos casos em que a lei permita (art. 581, XXIII, do CPP); i) que converter a multa em detenção ou em prisão simples (art. 581, XXIV, do CPP), embora esta possibilidade não exista mais noCódigo Penal. Quanto ao inciso XI, que trata da decisão que conceder, negar ou revogar o sursis, as possibilidades são as seguintes: a) sursis concedido ou negado na sentença: a decisão comporta recurso de apelação; b) sursis concedido, negado ou revogado pelo juiz das execuções: a decisão comporta agravo em execução. Isso posto, trataremos a seguir das decisões que comportam o recurso em sentido estrito. Art. 581. Caberá recurso, no sentido estrito, da decisão, despacho ou sentença: I - que não receber a denúncia ou a queixa; Havendo, por qualquer razão, rejeição da denúncia ou queixa, nos termos do artigo 395 do CPP (falta de condição da ação ou pressuposto recursal), cabe à acusação interpor recurso em sentido estrito, buscando o seu recebimento. E se o juiz recebe a denúncia ou queixa, mas alterando a classificação do crime contida inicialmente? Prevalece que tal decisão equivale à rejeição e, portanto, comporta recurso em sentido estrito. Vale observar que no rito sumaríssimo da decisão que rejeitar a denúncia ou queixa cabe apelação. Em regra, da decisão que recebe a denúncia ou a queixa (decisão interlocutória simples) não cabe qualquer recurso, podendo, no entanto, ser impetrado habeas corpus. II - que concluir pela incompetência do juízo; As regras de competência vêm consignadas nos artigos 69 e ss. do CPP. De decisão que conclui pela competência do juízo, não há recurso previsto. Caso a parte entenda ser incompetente o juízo, cabe alegá-lo em exceção de incompetência, habeas corpus ou mesmo em apelação, de acordo com o momento processual. Cabe observar que, no rito especial do júri, da decisão que desclassifica a infração para outro crime não doloso contra a vida, a maioria da doutrina entende que cabe recurso em sentido estrito com fundamento neste dispositivo. III - que julgar procedentes as exceções, salvo a de suspeição; Segundo o artigo 95 do CPP, poderão ser opostas exceções de suspeição, incompetência de juízo, litispendência, ilegitimidade de parte e coisa julgada: – suspeição: nos casos previstos no artigo 254 do CPP. Ressalte-se que, além da suspeição do juiz, pode ser oposta exceção de suspeição dos membros do Ministério Público, peritos, intérpretes, serventuários ou funcionários da justiça, e ainda dos jurados, no Tribunal do Júri. Atenção: em qualquer caso da decisão que acolhe a exceção de suspeição, não cabe qualquer recurso. É ressalva expressa do inciso em comento; – incompetência: as hipóteses de incompetência já foram tratadas no tópico precedente. Cabe apenas ressaltar que se a incompetência for declarada de ofício, o recurso deve ter como fundamento o inciso anterior (inc. II). Mas, se a parte opuser exceção de incompetência e o juiz, acolhendo a exceção, declarar-se incompetente, o fundamento correto é o inciso em estudo (inc. III); Nos casos supra, se o juiz julgar procedente a exceção oposta pelo réu, poderá o autor da ação interpor recurso em sentido estrito. Ressalve-se que não há recurso da decisão que julga procedente a exceção de suspeição. Da decisão que rejeita qualquer das exceções também não cabe qualquer recurso. É possível, no entanto, à defesa, alegar a matéria em habeas corpus ou ainda em apelação, conforme o momento processual. IV – que pronunciar o réu; (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008) A sentença de pronúncia tem lugar sempre que o juiz se convencer da existência do crime e de indícios suficientes de sua autoria. Sendo acolhida a acusação, o réu será levado a julgamento pelo Tribunal do Júri. Quando, por outro lado, o juiz não se convencer da existência de crime e de indícios de autoria deverá, proferir sentença de impronúncia, que desafia, no entanto recurso, de apelação, bem como a sentença de absolvição sumária (art. 416 do CPP). V - que conceder, negar, arbitrar, cassar ou julgar inidônea a fiança, indeferir requerimento de prisão preventiva ou revogá-la, conceder liberdade provisória ou relaxar a prisão em flagrante; (Redação dada pela Lei nº 7.780, de 22.6.1989) VII - que julgar quebrada a fiança ou perdido o seu valor; Os incisos V e VII serão abordados conjuntamente, posto que ambos dizem respeito a decisões relativas às prisões processuais e à liberdade provisória. Dividiremos o estudo em quatro tópicos: fiança; liberdade provisória sem fiança; prisão preventiva e prisão em flagrante. Cumpre destacar que a acusação terá interesse de recorrer da decisão que conceder ou arbitrar a fiança. Já a defesa recorrerá da decisão que negá-la, arbitrá-la em valor excessivamente elevado, julgá-la inidônea, quebrada ou perdida. Observe-se que, nas hipóteses de interesse da defesa, embora o recurso expressamente previsto para o caso seja o recurso em sentido estrito, é adequada também a impetração de habeas corpus, uma vez que, em todas elas há arbitrário prejuízo à liberdade de locomoção. A seguir, vejamos cada uma das hipóteses: e.1) Casos relacionados à fiança serão recorríveis em sentido estrito as seguintes decisões: – que conceder fiança (desde que seja concedida pelo juiz e não pela autoridade policial). A autoridade policial pode conceder liberdade provisória no caso de crime apenado com detenção. Se o fizer, a decisão é irrecorrível. Já se o crime for apenado com reclusão, apenas ao juiz cabe a concessão da liberdade provisória com arbitramento de fiança. É dessa decisão que cabe recurso em sentido estrito. – que arbitrar fiança (desde que seja arbitrada pelo juiz e não pela autoridade policial). Tendo sido concedida a fiança, é possível às partes se insurgirem contra o valor arbitrado: a acusação por considerá-lo injustificadamente reduzido, e a defesa por julgá-lo demasiadamente elevado. Se a fiança for arbitrada pela autoridade policial, o que é possível para os crimes apenados com detenção, da decisão não cabe qualquer recurso. Se, no entanto, o delegado de polícia arbitrá-la em valor tão elevado que inviabilize o seu pagamento e, portanto, obrigue o agente a ser mantido na prisão, é possível a impetração de habeas corpus (com fundamento no art. 648, V, do CPP, pois arbitrá-la de forma a impossibilitar o seu pagamento equivale a negá-la). Já quando a fiança for fixada pelo juiz, contra a decisão é interponível o recurso em sentido estrito. E se juiz fixá-la em valor demasiadamente alto? Nesse caso, pode a defesa optar entre o recurso em sentido estrito e o habeas corpus. – que negar fiança (desde que seja negada pelo juiz e não pela autoridade policial). Vale aqui a mesma observação já feita no parágrafo anterior. Se a liberdade provisória for negada pela autoridade policial não há recurso cabível, podendo o prejudicado impetrar habeas corpus, com base no artigo 648, V, do CPP ("art. 648. A coação considerar-se-á ilegal"), em face do injusto constrangimento à sua liberdade de locomoção. Se, por outro lado, o juiz negar ao preso o direito à liberdade provisória com arbitramento de fiança, aí sim o caso é de interposição de recurso em sentido estrito. – que cassar a fiança. Conforme os artigos 338 e 339 do CPP, a fiança poderá ser cassada pelo juiz quando tiver sido concedida em situação que não a comporta, ou quando, em virtude da nova classificação do delito, for reconhecida a existência de crime inafiançável. – que julgar inidônea a fiança. A fiança será julgada inidônea quando a autoridade tomar, por engano, fiança insuficiente; quando houver depreciação material ou perecimento dos bens hipotecados ou caucionados ou ainda quando for inovada a classificação do delito. Em todos esses casos, será exigido reforço da fiança, e dessa decisão cabe o recurso em sentido estrito. – que julgar quebrada a fiança. A concessão da fiança gera para o afiançado a obrigação de comparecer perante a autoridade todas as vezes que for intimado. Caso deixe de fazê-lo, injustificadamente, será considerada quebrada a fiança. O mesmo acontecerá se mudar de residência, sem prévia autorização da autoridade competente, quando não for alguém admitido a prestar fiança, nos casos em que a lei a autoriza, ausentar-se por mais de 8 (oito)dias de sua residência sem comunicar à autoridade o lugar em que será encontrado, ou, ainda, se, na vigência da fiança, praticar outra infração penal. O quebramento da fiança só pode ser decretado pela autoridade judiciária, e contra tal decisão cabe recurso em sentido estrito. – que julgar perdida a fiança. O valor da fiança será perdido, na sua totalidade, se, condenado, o réu não se apresentar à prisão. Casos relacionado à liberdade provisória sem fiança: no que se refere à liberdade provisória sem fiança, caberá recurso em sentido estrito da decisão que conceder liberdade provisória sem fiança. O Código de Processo Penal não estabelece quais são os crimes afiançáveis, apenas os inafiançáveis nos arts. 323 e 324 do CPP. Observe-se que, se a liberdade provisória sem fiança for negada, não cabe recurso em sentido estrito, por falta de previsão legal, e sim habeas corpus. Casos relacionados à prisão em flagrante: é cabível recurso em sentido estrito da decisão que relaxar a prisão em flagrante. Caso o pedido de relaxamento de prisão em flagrante seja negado, não é possível a interposição de recurso em sentido estrito, por falta de previsão, cabendo a impetração de habeas corpus. Casos relacionados à prisão preventiva: é cabível recurso em sentido estrito da decisão que indeferir requerimento de decretação da preventiva ou da que revogar a preventiva já decretada. Da decisão que deferir o requerimento, vale dizer, que efetivamente decretar a prisão preventiva, não cabe recurso em sentido estrito por falta de expressa previsão legal. Também não cabe recurso da decisão que indeferir o pedido de revogação da prisão. Nos dois casos, no entanto, é possível a impetração de habeas corpus. VIII - que decretar a prescrição ou julgar, por outro modo, extinta a punibilidade; IX - que indeferir o pedido de reconhecimento da prescrição ou de outra causa extintiva da punibilidade; Ambos os incisos serão abordados conjuntamente, posto que versam sobre a mesma matéria, qual seja, a extinção da punibilidade. As causas de extinção da punibilidade estão, em sua maioria, previstas no artigo 107 do CP e podem sobrevir tanto durante o processo de conhecimento quanto durante a execução da pena. Está claro que só caberá recurso em sentido estrito se a decisão relativa à extinção da punibilidade for proferida durante o processo de conhecimento, pelo juiz da causa, pois, caso o seja durante o processo de execução, o recurso cabível é o agravo em execução. Tanto da decisão que indefere o pedido de extinção da punibilidade quanto da que declara extinta a punibilidade, cabe o recurso em sentido estrito. No entanto, há duas exceções: a primeira, quando, na sentença, o juiz ao mesmo tempo repudia o argumento de extinção da punibilidade e condena o réu. Nesse caso, há uma sentença condenatória da qual cabe recurso de apelação, por força do artigo 593, § 4o, do CPP. Ou, então, na fase logo após o oferecimento, pelo réu, da resposta à acusação, o juiz, acolhendo a tese de extinção da punibilidade, absolve sumariamente o acusado (art. 397 do CPP). Aqui, houve uma sentença de absolvição, que comporta, portanto, apelação (embora tal entendimento não seja pacífico). X - que conceder ou negar a ordem de habeas corpus; Da concessão de habeas corpus o juiz deve, obrigatoriamente, recorrer de ofício, o que não impede, no entanto, o recurso voluntário, que pode ser tanto do Ministério Público quanto do ofendido ou seu representante legal (nos crimes de ação penal privada). Quando, por outro lado, o Magistrado denegar a ordem de habeas corpus, cabe recurso em sentido estrito a ser interposto pelo paciente, sempre por meio de advogado. Observação: Vale lembrar que o inciso em questão cuida apenas da hipótese de concessão ou negação de habeas corpus em primeira instância, ou seja, quando a autoridade coatora for a autoridade policial ou particular e a ordem tiver sido impetrada perante o juízo de primeiro grau. Caso o writ seja denegado pelos Tribunais dos Estados, pelos Tribunais Regionais Federais ou ainda pelos tribunais superiores, a peça cabível será o recurso ordinário constitucional. Caso o habeas corpus seja concedido por um dos tribunais mencionados, não há recurso previsto, podendo ser utilizados os recursos especial e extraordinário, se preenchidos os requisitos de admissibilidade. XI - que conceder, negar ou revogar a suspensão condicional da pena; XII - que conceder, negar ou revogar livramento condicional; XIII - que anular o processo da instrução criminal, no todo ou em parte; É cabível a interposição de recurso em sentido estrito da decisão que anular o processo da instrução criminal, no todo ou em parte. A nulidade pode ter sido declarada de ofício ou a requerimento de qualquer das partes. Caso o juiz indefira o pedido de anulação do processo, não é cabível o recurso em questão. Nessa hipótese, pode o acusado impetrar ordem de habeas corpus, com fundamento no artigo 648, VI, ou, ainda, pode a parte prejudicada arguir a nulidade em recurso de apelação. XIV - que incluir jurado na lista geral ou desta o excluir; Cabe recurso em sentido estrito da decisão que alterar a lista de jurados. A lista geral de jurados será publicada em outubro de cada ano e poderá ser alterada de ofício ou mediante reclamação de qualquer do povo ao juiz presidente até o dia 10 de novembro, data de sua publicação definitiva. Em face dessa possibilidade de reclamação, instituída pela Lei n. 11.689/2008, parte considerável da doutrina vem entendendo que não cabe mais o recurso em sentido estrito nessa hipótese O recurso da decisão que incluir jurado na lista geral ou dela o excluir será interposto perante o juiz que promoveu a inclusão ou exclusão e as razões endereçadas ao Desembargador Presidente do Tribunal de Justiça. XV - que denegar a apelação ou a julgar deserta; A denegação da apelação refere-se à ausência dos requisitos de admissibilidade recursal, que são, basicamente: – tempestividade: deve-se verificar se a apelação foi proposta dentro do quinquídio legal. Caso contrário, deverá ser denegada por intempestividade; – adequação: deve-se verificar se a apelação era o recurso adequado para combater a decisão, lembrando que, de acordo com o princípio da fungibilidade recursal (art. 579 do CPP), a parte não será prejudicada pela interposição de um recurso por outro, salvo no caso de comprovada má-fé. Entende ainda a jurisprudência que, para ser admitido o recurso incorreto, é imprescindível que o prazo do recurso adequado tenha sido observado; – legitimidade: deverá ser verificado se a parte recorrente tem legitimidade e interesse para tanto. Será também cabível o recurso em sentido estrito da decisão que julgar deserta a apelação, o que ocorre quando o recorrente deixa de pagar o preparo. Observe-se que a necessidade de preparo varia entre os Estados da Federação. No Estado de São Paulo, segundo a Lei Estadual n. 11.608/2003, só se exige preparo para recorrer no caso de apelação da acusação nas ações privadas, e, ainda assim, exclusivamente para a apelação do querelante. Até a entrada em vigor da Lei n. 11.719/2008, era pressuposto de admissibilidade da apelação o recolhimento do réu à prisão, salvo se fosse primário e de bons antecedentes. Além disso, o artigo 595 previa a hipótese de deserção da apelação quando o réu fugia após haver apelado. A jurisprudência, entretanto, já vinha afastando o texto da Lei, para pôr em relevo o princípio constitucional do duplo grau de jurisdição, que não pode ser limitado pela exigência da perda da liberdade, entendimento consolidado na Súmula 347 do STJ. A supracitada lei, pondo-se de acordo com a jurisprudência, revogou o artigo 594, que elevava o recolhimento à prisão à categoria de pressuposto recursal. De modo que, mesmo sendo legítima a prisão, não pode o juiz se negar a receber a apelação sob o argumento de que o condenado está foragido. Pela mesma razão também não podia mais subsistir a decretação de deserção quando o réu foge após haver apelado. Por fim, a Lei n. 12.403/2011 terminoupor revogar expressamente o artigo 595 do CPP, eliminando por completo a possibilidade de deserção pela fuga. XVI - que ordenar a suspensão do processo, em virtude de questão prejudicial; As questões prejudiciais são tratadas nos artigos 92 e 93 do CPP. O primeiro cuida das prejudiciais obrigatórias: se a decisão sobre a existência da infração depender da solução de controvérsia sobre o estado civil das pessoas, o curso da ação penal ficará suspenso até que no juízo cível seja a controvérsia dirimida por sentença passada em julgado. O segundo trata de prejudicial facultativa: se o reconhecimento da existência da infração penal depender de decisão sobre questão diversa da prevista no artigo anterior, da competência do juízo cível, e nesse houver sido proposta ação para resolvê-la, o juiz criminal poderá, desde que essa questão seja de difícil solução e não verse sobre direito cuja prova a lei civil limite, suspender o curso do processo. Da decisão que determinar a suspensão cabe o recurso em sentido estrito. Há entendimento doutrinário sustentando também ser possível a interposição do mencionado recurso quando for determinada a suspensão do processo por outra razão, como, por exemplo, para o cumprimento de carta rogatória e quando o réu, citado por edital, não apresenta resposta à acusação. XVII - que decidir sobre a unificação de penas; XVIII - que decidir o incidente de falsidade; O incidente de falsidade encontra-se disciplinado nos artigos 145 e ss. do CPP e será instaurado sempre que qualquer das partes arguir, por escrito, a falsidade de documento constante dos autos. O juiz, então, mandará autuar em apartado a impugnação, ouvirá a parte contrária em 48 horas assinará o prazo de três dias, sucessivamente, para as partes provarem as suas alegações ordenará as diligências que julgar necessárias e, por fim, decidirá pela procedência ou não do pedido. Julgado procedente ou improcedente o pedido, caberá recurso em sentido estrito. Caso seja reconhecida a falsidade, após transitada em julgado a decisão, será o documento desentranhado dos autos e remetido, com o processo incidente, ao Ministério Público. Observe-se que da decisão final nos demais processos incidentes (por exemplo, o pedido de restituição de coisas apreendidas, pedido de sequestro ou especialização de hipoteca legal) não cabe recurso em sentido estrito, por falta de expressa previsão legal. XIX - que decretar medida de segurança, depois de transitar a sentença em julgado; XX - que impuser medida de segurança por transgressão de outra; XXI - que mantiver ou substituir a medida de segurança, nos casos do art. 774; XXII - que revogar a medida de segurança; XXIII - que deixar de revogar a medida de segurança, nos casos em que a lei admita a revogação; XXIV - que converter a multa em detenção ou em prisão simples. XXV - que recusar homologação à proposta de acordo de não persecução penal, previsto no art. 28-A desta Lei. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
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