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BIOFILME E CÁLCULO DENTAL JOÃO PAULO NASCIMENTO E SILVA PINTO ESPECIALISTA EM PERIODONTIA – UFRGS/2005 MESTRE EM CLÍNICA ODONTOLÓGICA/ÊNFASE EM PERIODONTIA – UFRGS/2016 PROFESSOR DO CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM PERIODONTIA HODOS/UNINGÁ COORDENADOR CIENTÍFICO DA ASSOC. BRASILEIRA DE HALITOSE INTRODUÇÃO Durante a vida, todas as superfícies de interface do corpo são expostas à colonização por uma grande variedade de microrganismos. Em geral, a microbiota estabelecida vive em harmonia com o hospedeiro. Renovação constante das superfícies por descamação impede o acúmulo de grandes quantidades de microrganismos. Entretanto os dentes apresentam uma superfície dura não-descamativa que favorecem o desenvolvimento de grandes depósitos bacterianos. Um subgrupo de espécies bacterianas pode ser introduzido, multiplicando-se ou exibindo novas propriedades que acarretem destruição do periodonto. MAS ENTÃO PORQUE OS AGENTES ANTIMICROBIANOS NÃO RESOLVEM A PERIODONTITE? BIOFILME! BIOFILME DENTAL BIOFILME DENTAL SEMELHANTE A VIDA EM UM CONDOMÍNIO OU EM UMA CIDADE IDEAL; RESISTÊNCIA AUMENTADA ESTÁ RELACIONADA COM A MATRIZ DE EXOPOLISSACARÍDEOS; ESSA MATRIZ REPRESENTA UMA BARREIRA FÍSICA E QUÍMICA (ENZIMAS COMO A BETALACTAMASE QUORUM SENSING – COMUNICAÇÃO ENTRE AS ESPÉCIES FATORES QUE AFETAM A FORMAÇÃO DO BIOFILME DENTAL DIETA (CONSISTÊNCIA E COMPOSIÇÃO) FLUXO SALIVAR E SUA COMPOSIÇÃO RUGOSIDADE SUPERFICIAL PRESENÇA DE INFLAMAÇÃO GENGIVAL BIOFILME DENTAL FORMAÇÃO DO BIOFILME Imediatamente após a imersão de um substrato sólido dentro de um meio líquido da cavidade oral, ou após a limpeza de uma superfície sólida na cavidade oral, macromoléculas hidrofóbicas são adsorvidas pelas superfícies, formando um filme condicionante, denominado PELÍCULA ADQUIRIDA. Esse filme é composto por uma variedade de glicoproteínas salivares (mucinas) e anticorpos. O filme condicionante altera a carga e a energia livre de superfície, que, assim, aumenta a eficiência da adesão bacteriana A massa bacteriana aumenta devido ao crescimento contínuo dos microrganismos que se aderiram, à adesão de novas bactérias e à síntese de polímeros extracelulares. Uma vez removida por instrumentação mecânica, a película irá formar-se novamente em poucos minutos. Acredita-se que ela desempenhe um papel ativo na aderência seletiva de bactérias à superfície dentária FORMAÇÃO DO BIOFILME FORMAÇÃO DA PLACA FORMAÇÃO DA PLACA FORMAÇÃO DO BIOFILME Com o aumento da espessura, a difusão através do biofilme se torna cada vez mais difícil. Um gradiente de oxigênio desenvolve-se como resultado da rápida utilização pelas camadas superficiais das bactérias e da difusão pobre de oxigênio através da matriz do biofilme. Condições de anaerobiose estrita surgem, por fim, nas camadas mais profundas dos depósitos. O oxigênio é um determinante biológico importante porque o crescimento e a multiplicação das bactérias variam de acordo com diferentes níveis de oxigênio. FORMAÇÃO DA PLACA 1 Produtos da dieta dissolvidos na saliva são fontes importantes de nutrientes para as bactérias na placa supragengival. 2 Uma vez formada uma bolsa periodontal profunda, as condições nutricionais das bactérias são alteradas, pois a penetração de substâncias dissolvidas na saliva dentro da bolsa periodontal é muito limitada. 3 Dentro de bolsas profundas, a principal fonte nutricional para o metabolismo bacteriano provém dos tecidos periodontais e do sangue. ESTRUTURA DO BIOFILME SUPRA • Gengivite acelera a formação. • Formação de “espigas de milho” • Crescimento de cocos na superfície de microrganismos filamentosos ESTRUTURA DO BIOFILME SUB • Quando se forma uma bolsa periodontal, o aspecto do depósito bacteriano subgengival torna-se muito mais complexo. • As bactérias compreendem cocos Gram- positivos e Gram-negativos, bastonetes e organismos filamentosos. Espiroquetas e vários microrganismos flagelados também podem ser encontrados. ESTRUTURA DOS BIOFILME DENTAL X PERI-IMPLANTAR • Estudos transversais (Mombelli et al., 1987, 1995) e longitudinais (Mombelli et al., 1988; Pontoriero et al., 1994) demonstraram claramente semelhanças entre os depósitos microbianos subgengivais e os perimplantares, e pode ser previsto que a estrutura dos depósitos bacterianos encontrados ao redor dos implantes se assemelha à do meio subgengival. MAS PROFESSOR E O CÁLCULO (TÁRTARO), PORQUE NOS PREOCUPAMOS TANTO COM ELE? PAPEL NA ETIOLOGIA • Não causa periodontite diretamente, mas age como FATOR RETENTIVO DE PLACA. • Estudos em macacos demonstraram formação de epitélio juncional longo sobre o cálculo após tratamento de desinfecção. • Do ponto de vista clínico, cabe ressaltar que o cálculo dental sempre abriga um biofilme não-mineralizado e vivo, que afeta a integridade da unidade dentogengival. PAPEL NA ETIOLOGIA • A progressão dos cálculos supra e sub em direção apical ou lateral é diretamente responsável pelo aumento da profundidade de sondagem e a perda de inserção, uma vez que um biofilme metabolicamente ativo sempre recobre o cálculo sub. • Estudos elucidaram claramente o papel do cálculo subgengival como um FATOR RETENTIVO DE PLACA, enfatizando sua remoção como a abordagem terapêutica mais importante. O QUE É CÁLCULO DENTAL? - BIOFILME BACTERIANO MINERALIZADO - FORTE ADESÃO ÀS SUPERFÍCIES DENTÁRIAS (PELÍCULA ADQUIRIDA TAMBÉM É CALCIFICADA) COMPOSIÇÃO • Varia nas diferentes camadas do cálculo: Bruxita , fosfato octacálcio, hidroxiapatita e fosfato de cálcio • Bruxita é formada inicialmente, podendo se desenvolver e formar hidroxiapatita. • Na presença de condições anaeróbias e alcalinas, concomitante com a presença de magnésio ( ou zinco ou carbonato), grandes quantidades de fosfato de cálcio são formadas, representando uma forma mais estável de mineralização. TAXA DE FORMAÇÃO DO CÁLCULO • APRESENTA GRANDE VARIABILIDADE INTERINDIVIDUAL, MAS NORMALMENTE MANTÉM UM PADRÃO EM UM MESMO INDIVÍDUO • VARIABILIDADE É EXPLICADA PELAS DIFERENÇAS NA COMPOSIÇÃO BIOQUÍMICA DA SALIVA, ESPECIALMENTE QUANTO AOS NÍVEIS DE CÁLCIO, FÓSFORO E POTÁSSIO. • MENOR ADESÃO AOS IMPLANTES E CERÁMICAS ALIYE AKCALI & NIKLAUS P. LANG, 2017 CÁLCULO SUPRA • MEIO IDEAL PARA ADERÊNCIA BACTERIANA • COLORAÇÃO BRANCO-AMARELADA OU MARROM • DUREZA MODERADA • PREDOMINANTEMENTE ENCONTRADO PRÓXIMO AS SAÍDAS DOS DUCTOS EXCRETORES DAS GLÂNDULAS SALIVARES MAIORES • TROCAS QUÍMICAS COM A SALIVA ( ALTAS CONCENTRAÇÕES DE Ca/P NA SALIVA • ABRIGA PLACA BACTERIANA VIÁVEL NA SUA SUPERFÍCIE CÁLCULO SUPRA • CONTEÚDO MINERAL 37% • ORGANISMOS FILAMENTOSOS DOMINAM O CÁLCULO SUPRA, COM ORIENTAÇÃO PERPENDICULAR AO DENTE • O PROCESSO DE MINERALIZAÇÃO COMPLETE LEVA 12 DIAS APROXIMADAMENTE, MAS AOS 2 DIAS JÁ OCORREU QUASE METADE DA MINERALIZAÇÃO CÁLCULO SUB • DETECTADO VIA SONDAGEM • DEPÓSITOS VOLUMOSOS PODEM SER VISTOS EM RADIOGRAFIAS • SEMPRE AFASTADO APROX. 0,5 MM DA PORÇÃO MAIS APICAL DA BOLSA • TROCAS QUÍMICAS COM O EXSUDATO INFLAMATÓRIO DA BOLSA PERIODONTAL • CONTEÚDO MINERAL 58% • RECOBERTO POR COCOS, BASTONETES E FILAMENTOSOS, DISPOSTOS SEM UM PADRÃO DE ORIENTAÇÃO AGENTES ANTI-CÁLCULO •PIROFOSFATO, CITRATO DE ZINCO, GANTREZ •POUCA EFICÁCIA CONCLUSÃO • A importância do cálculo dental no estabelecimento e na progressão da periodontite foi demonstrada por associações claras entre a presença de cálculo e periodontite. • Mesmo que o cálculo esteja sempre recoberto por um biofilme viável, é difícil distinguir os efeitos de biofilme e cálculo separadamente. O cálculo cria um ambiente favorável às bactérias, sendo reconhecido como fator etiológico secundário no desenvolvimento e progressão da periodontite. • Na terapia periodontal eliminamos fatores favoráveis ao desafio bacteriano, por meio da remoção dos cálculos e biofilmessupra e subgengivais.