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Ensaio acadêmico sobre a Sociologia da Infância

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Ensaio acadêmico sobre a Sociologia da Infância.
Ponderações sobre a Sociologia da Infância
Elisa Maria Machado Lima
1. Introdução
Os estudos contemporâneos sobre a sociologia da Infância busca oferecer à criança o protagonismo de sua vida, destacando que os estudos sobre a infância ainda não encontraram receptividade como campo de reportação e incumbência obrigatória entre a comunidade de sociólogos e na definição do espaço sociológico. Portanto, a infância permanece marcada pela visão que os adultos têm da criança. Entretanto, há pesquisadores que defendem em seus pressupostos a criança como ser ativo na construção de sua socialização. Manuel Jacinto Sarmento e Jens Qvortrup são pesquisadores interessados na questão social e geracional da infância e apresentam interessantes inferências sobre a sociologia da infância. 
A professora da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo, Teresa Cristina Rego, organizou um fascículo dedicado aos principais pesquisadores contemporâneos que estudam a infância sobre uma nova ótica. Os cinco primeiros artigos selecionados por Rego são representantes dos aspectos da Sociologia da Infância e os outros cinco artigos têm seus temas direcionados para o Universo infantil e a Educação. Esta coletânea manifesta as preocupações que os cientistas estão tendo para validar as pesquisas que são direcionadas para a compreensão da infância como uma construção histórica e social e não como um conceito meramente biológico. Entretanto, nesse ensaio darei ênfase para dois pesquisadores que se dedicam à Sociologia da Infância: Sarmento e Qvortrup. 
A pesquisadora e docente Teresa Cristina Rego inicia sua coletânea falando sobre o pesquisador francês Henri Wallon, que também é médico e psicólogo, que traz considerações importantes que contribuem com as pesquisas contemporâneas sobre a infância. Wallon traz reflexões, relata Rego, sobre a possibilidade de atribuir significados aos gestos das crianças que pertencem ao adulto. Porquanto que pesquisas realizadas através de observações como instrumento de conhecimento requer questionamentos que são essenciais para que se desenvolvam pesquisas que de fato possa elucidar o estudo. Visto que na observação as formulações que fazemos dos fatos correspondem a nossas relações subjetivas com a realidade, através da prática de nosso cotidiano. Assim sendo, não conceder nossos sentimentos e intenções é o grande desafio ao observar a criança. 
Por conseguinte, o conhecimento e a interpretação científica requer que a referência instintiva e egocêntrica seja substituída por termos objetivamente constituído. A definição clara do quadro de referências que corresponda às finalidades do estudo é de suma importância. Portanto, requer definir a referência do objeto de estudo; Logo, Rego selecionou trabalhos de pesquisadores sobre estudos de cultura e sociologia da infância que orientam suas investigações nas perspectivas apresentadas há décadas por Wallon.
Rego elucida através das palavras da Anete Abramowicz, que a Sociologia da Infância é um movimento que surgiu na Europa nos anos oitentas e busca a compreensão da perspectiva da criança sobre o mundo e não o que os pais, os professores, as escolas e os médicos dizem por elas. Implica em considerar as falas das crianças, o que geralmente não ocorre. O que as crianças dizem não é levado a sério, são falas que são ditas como ‘coisa de criança’. Nas palavras de Qvortrup, as crianças não são porta vozes de si próprias. 
Teresa Cristina Rego teve um grande desafio ao organizar estes conteúdos que abordam tanto a Sociologia da Criança quanto o Universo infantil e a Educação. Através dessa rica coletânea, que tem o propósito de divulgar para um público maior associado à educação temas relacionado à infância, assim sendo, almejo que juntos possamos construir uma perspectiva mais humana e coerente para as nossas crianças. Embora que aqui seja trabalhada apenas a questão da Sociologia da Infância.
2. Fundamento
Nas palavras de Rego, Manuel Sarmento constata que as crianças produzem saberes e conhecimentos sobre vivencias que participam em seus cotidianos. Portanto, a criança também é pesquisador, visto que tem curiosidade e desejo de viver e conhecer, e que estas são atitudes que fundamenta os projetos de investigação. Logo, a criança tem competência para criar outras relações sociais no mundo e nas instituições que frequentam. 
Por meio das palavras das professoras Ana Cristina Coll Delgado e Maria Letícia Barros Pedroso Nascimento serão expostos os principais postulados dos pesquisadores que se dedicam à Sociologia da Infância: Sarmento e Qvortrup.
Ana Cristina Coll Delgado é professora da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Pelotas (RS). Delgado escreveu sobre os estudos do pesquisador Manuel Jacinto Sarmento. Que tem como objeto de estudos a criança protagonista dos espaços. Em seu artigo, Delgado esclarece que a Sociologia da Infância no Brasil tem sua origem no intenso e generoso trabalho de Manuel Sarmento, que proporcionou novo olhar para a infância. 
Maria Letícia Barros Pedroso Nascimento é professora da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (Feusp) explora a trajetória profissional, os pressupostos teóricos e metodológicos que amparam formulações e conceito e o programa de pesquisa do dinamarquês Jens Qvortrup. Nascimento analisa o cientista Qvortrup e conclui que as teses do pesquisador Qvortrup revela as crianças como sujeitos sociais capazes de produzir mudanças, logo, as crianças tanto influenciam como são influenciadas por forças políticas, sociais e econômicas.
3. Manuel Jacinto Sarmento na perspectiva de Ana Cristina Coll Delgado.
Pensador: Manuel Jacinto Sarmento, professor titular do Instituto de Estudos da Criança (IEC) e da Universidade do Minho, em Portugal. Nasceu em Braga, Portugal, no dia 12 de Janeiro de 1955. Criou e foi diretor do Programa de Doutoramento em Estudos da Criança e do Mestrado em Sociologia da Infância. Dirige o Departamento de Ciências Sociais da Educação da Universidade do Minho. Tem ampla atuação nas ciências sociais e abrangência internacional. É um cidadão compromissado com as questões políticas e sociais do seu tempo. Valoriza as ideias inovadoras e faz um movimento contra hegemônico e resistência frente às desigualdades. 
As culturas da infância para Manuel Sarmento, diz Delgado, é a significação do mundo e de ação intencionais realizados pelas crianças, que são diferentes dos modos de significação e ação do mundo dos adultos. 
Manuel Sarmento compreende as crianças com atores sociais e produtoras de cultura, visto que elas resistem às normas e valores impostos. As crianças fazem conexão de formas e representações infantis simbólicas com outras formas culturais presentes. Logo, compreender as crianças como atores sociais implica no reconhecimento da pluralidade de valores, crenças e representações sociais e de suas capacidades de produção simbólica.
As crianças têm um sistema de construção de conhecimentos e de compreensão do mundo particular que é diferente dos adultos. E há pouca autonomia no processo de socialização destas crianças, que apresentam suas respostas e reações através das interações com os adultos e com outras crianças. Portanto, a compreensão das culturas da infância deve considerar com quem as crianças interagem e suas condições sociais.
Destacando que o conceito de culturas da infância produz efeito na educação, no trabalho pedagógico e na docência, visto que faz parte do currículo, logo, significa que as crianças junto com o adulto, transformam as práticas pedagógicas. As crianças como produtoras culturais, interagem com outras crianças e com adultos. As crianças interpretam, simbolizam e sinalizam suas percepções do mundo e produzem significação distinta das culturas adultas E é esta particularidade que revela a alteridade da infância. Assim sendo, Manuel Sarmento identifica quatro traços das culturas da infância que evidencia a diferença dos adultos: Interatividade, ludicidade, fantasia do reale reiteração. 
A interatividade ocorre no aprendizado que as crianças efetivam nos espaços de partilha comum com as outras crianças. Para um melhor entendimento do mundo e favorecer o processo de crescimento das crianças, estas têm a necessidade de interagir e assim partilhar tempo, ações, representações e emoções. 
A ludicidade é um traço essencial das culturas infantis e é uma atividade social muito significativa para a criança. Manuel Sarmento diz que não há distinção entre brincar e fazer algo sério, visto que o brincar é uma atividade muito séria para a criança. A produção de fantasia e a recriação do mundo são atividades desenvolvidas através da brincadeira e do brinquedo, logo, estes são os recursos das crianças para refletirem e interpretarem as situações vivenciadas no cotidiano. 
Fantasia do real é o mundo do faz de conta e faz parte da construção da visão do mundo da criança, é como a criança significa as coisas. Consiste em um mecanismo que a criança utiliza para enfrentar e superar as situações dolorosas que ela enfrenta em seu cotidiano. Fazer de conta permite que a criança continue de forma aceitável o jogo da vida. 
Reiteração ou a não literalidade, que tem seu complemento na não linearidade do tempo, visto que a criança integra passado, presente e futuro. É a capacidade que a criança tem de inserir um tempo no outro, de criar oportunidades através da transposição no espaço tempo e na fusão do imaginário no real. 
Portanto, pensar as culturas das crianças deve ser feito olhando para a as crianças como atores de resistência e capazes de transpor limites. Por conseguinte, para Manuel Sarmento, as crianças são atores sociais, com características próprias que se manifestam na alteridade geracional (diferença face às outras gerações). Assim sendo, a Sociologia da Criança deve ser vista por uma perspectiva interdisciplinar. 
3.1 Geração
O conceito de geração é relacional e assim sendo, é importante articular os elementos de homogeneidade, que categoriza as características comuns a todas as crianças, com os elementos de heterogeneidade, que é o que distingui as crianças em diferentes contextos. Logo, o conceito de geração, na concepção estrutural e simbólica, possibilita distinguir o que separa e o que une as crianças dos adultos, de tal forma que as variações dinâmicas das relações entre crianças e entre crianças e adultos vai sendo historicamente produzida e elaborada.
4. Jens Qvortrup na perspectiva de Maria Letícia Barros Pedroso Nascimento
Maria Letícia Barros Pedroso Nascimento é doutora em Educação pela Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (FEUSP) e tem pós-doutorado (sociologia da infância) na University of Sussex, UK (2014). É docente da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (FEUSP). Trabalha e pesquisa os campos da Educação Infantil e da Sociologia da Infância. Coordena o Grupo de Estudos e Pesquisa Sociologia da Infância e Educação Infantil (GEPSI).
Jens Qvortrup é dinamarquês nascido no ano de 1943. Trabalhou com formação de professores do ano de 1966 ao ano de 1972. Estudou na Universidade de Copenhague e lá fez seu mestrado em Sociologia e em 1973 iniciou sua carreira como professor associado na University Centre of Southem Jutland (SUC), na Dinamarca. 
Em 1987 iniciou suas pesquisas com a Sociologia da Infância e protagonizou o estudo “Infância como fenômeno social”. Obteve, em 1994, o título de doutor com a tese “Explorações em Sociologia da Infância”. 
Jens Qvortrup teve uma carreira brilhante na área da Sociologia da Infância e aposentou-se no ano de 2010 e desde então, é professore emérito na Faculdade de Ciências Sociais da Universidade Norueguesa de Ciências e Tecnologia (NTNU).
4.1 A Sociologia da Infância
Karl Marx e o conceito de Classe social são fortes influencias no trabalho de Jens Qvortrup, que elege a criança como ser social. Esta ascendência o fez perceber que a sociologia destacava a criança como filho ou como aluno e não como criança como ser próprio da constituição sociológica. A família e a educação ocupavam todo o espaço que pertence à Infância. 
Por conseguinte, reunindo pesquisadores de vários países, Qvortrup construiu uma rede de estudos que gerou o projeto “Infância como fenômeno social”. Este estudo esquematizou a posição das crianças nas sociedades industrializadas. Seminários foram organizados para que os pesquisadores se encontrassem e discutissem os resultados alcançados e emitissem relatórios, na presença dos quais a Sociologia da Infância foi sendo concebida. 
Estes relatórios constituíram-se em uma série publicada em 1991, onde Qvortrup discorre sobre as abordagens teóricas, metodologias e comparativas do projeto. Assim novos padrões na ciência da infância são definidos. Logo, surge a visão de grupo social e perspectivas geracionais nos estudos da infância. 
Jens Qvortrup, no ano de 1993, publica um livro que contém suas nove teses sobre a infância. Que resultaram em relatórios e análises que foram organizados de forma sistematizada pelos pesquisadores, que concedeu fundamentos que favoreceu a compreensão da Sociologia da Infância.
Questões como crianças em situação de riscos, custódias familiar, políticas de cuidados e atenção, assistência às crianças e familiares são temas debatidos e relatados, embora estas abordagens sejam fundamentadas no contexto psicológico e pedagógico, que via a criança como um projeto do adulto, como um estágio preparatório para a vida adulta. Nesse contexto, na constatação de Qvortrup, a força de mudanças históricas e sociais que as crianças têm é encoberta. 
Qvortrup considera a infância como “uma estrutura permanente em qualquer sociedade, mesmo que seus participantes sejam regularmente repostos”. E em sua concepção há três argumentos na perspectiva estrutural da infância: A infância manifesta variações históricas e interculturais e não é uma fase da vida; Logo, mudanças nas sociedades afetam tanto as crianças quanto os adultos e a contribuição das crianças é diferente em distintas culturas, mas em qualquer cultura há contribuição das crianças. 
4.2 Teses sobre a Infância como fenômeno social
“A infância é uma forma particular e distinta em qualquer estrutura social de sociedade. Através desta primeira tese, Qvortrup instaura a aproximação e similaridade entre infância e classe social como formas estruturais. A infância enquanto categoria estrutural permite os estudos no que é comum tanto na questão temporal quanto na diversidade social.
“A infância é uma fase de transição, mas uma categoria social permanente do ponto de vista psicológico.” É a segunda tese de Qvortrup, que defende que a infância continua a existir, mesmo que seus membros sejam repostos. 
“A ideia de criança, em si mesma, é problemática, enquanto a infância é uma categoria variável e histórica e intercultural.“ Que revela o pensamento do pesquisador de que há muitas concepções sobre a infância e que estas variedades são objeto de interesse sociológico, visto que refletem mudanças de atitude em relação às crianças. 
Na quarta tese, Qvortrup reconhece a escola como campo de trabalho das crianças e afirma que as crianças sempre foram úteis e revela que o que foi modificado foi a natureza de suas contribuições às sociedades. Logo, “A infância é uma parte integrante da sociedade e de sua divisão de trabalho.”
“As crianças são coconstrutoras da infância e da sociedade.” O pesquisador afirma que as crianças são atores criativos que reinventam as relações que vivem nos cotidianos de suas vidas. 
“A infância é um princípio, exposta (econômica e institucionalmente) às mesmas forças sociais que os adultos, embora de modo particular.” Qvortrup discute a questão da não consideração da esfera econômica e suas repercussões no âmbito da infância. 
Por conseguinte, a invisibilidade da criança é refletida em sua dependência, que inseri proteção e participação, que muitas vezes não lhe confere o direito de opinar. Logo, a sétima tese diz que “A dependência convencionada das crianças tem consequências para a sua invisibilidadeem descrições históricas e sociais, assim como para a sua autorização às provisões de bem estar.” 
“Não os pais, mas a ideologia da família constitui uma barreira contra os interesses e o bem estar das crianças.” consiste na oitava tese de Qvortrup, que chama a sociedade para assumir a reponsabilidade sobre as crianças, visto que proporcionaria um padrão básico e também porque estas são parte do projeto do futuro. As crianças são ajuste geracional, destacando as relações e a interdependência entre a infância e as outras categorias geracionais. 
A infância é um grupo minoritário que recebe um tratamento diferencial e desigual, logo, a nona tese de Qvortrup refere-se “A infância é uma categoria minoritária clássica, objeto de tendências tanto marginalizadoras quanto paternalizadoras.”
As nove teses de Qvortrup fundamentam a compreensão das crianças como sujeitos sociais que são afetadas sobre as influencias das forças políticas, sociais e econômicas, tanto quanto estas crianças movem a sociedade. 
Identificar um conjunto de características comuns, em uma região definida, em um tempo marcado, apoiados em mesma estrutura política e econômica define o que significa a infância, é o que diz o pesquisador Jens Qvortrup. Logo, a infância é uma forma estrutural comparada com outras formas estruturais. 
Assim, Maria Letícia B. P. Nascimento trouxe a trajetória profissional, os pressupostos teóricos e metodológicos que amparam formulações, conceito e o programa de pesquisa de Jens Qvortrup. E complementa que as teses do pesquisador Qvortrup propaga as crianças como sujeitos sociais capazes de produzir mudanças, logo, as crianças tanto influenciam como são influenciadas por forças políticas, sociais e econômicas.
5. Conclusão
O intenso e generoso trabalho de Manuel Sarmento, assim como o dedicado movimento produzido por Jens Qvortrup, que construiu uma rede de estudos que gerou o projeto “Infância como fenômeno social” contribuíram com a formação da Sociologia da Infância no exterior e no Brasil.
Manuel Jacinto Sarmento traz a visão das crianças como atores sociais e produtoras de cultura, visto que elas resistem às normas e valores impostos; Em contra partida, na constatação de Qvortrup, a força de mudanças históricas e sociais que as crianças têm é encoberta. Apesar disso, a infância manifesta variações históricas e interculturais e não é uma fase da vida, afirma Qvortrup, que considera a infância como “uma estrutura permanente em qualquer sociedade, mesmo que seus participantes sejam regularmente repostos”.
 Logo, mudanças nas sociedades afetam tanto as crianças quanto os adultos e a contribuição das crianças é diferente em distintas culturas, mas em qualquer cultura há contribuição das crianças. Portanto, para compreender as culturas da infância há de se considerar com quem as crianças interagem e também suas condições sociais. Por conseguinte, pensar as culturas das crianças consiste em olhar para a as crianças como atores de resistência, que são capazes de transpor limites. 
Destacando que o conceito de culturas da infância produz efeito na educação, no trabalho pedagógico e na docência, visto que faz parte do currículo. Por conseguinte, as crianças junto com o adulto, transformam as práticas pedagógicas. Visto que as crianças interpretam, simbolizam e sinalizam suas percepções do mundo e produzem significação distinta das culturas adultas. E é esta particularidade que Sarmento aponta como alteridade da infância. 
Por isso, a Sociologia da Infância é um movimento que procura a compreensão da perspectiva da criança sobre o mundo e não o que outros dizem por elas. Logo, implica em considerar as falas das crianças, o que geralmente não ocorre. Diante disso, Manuel Sarmento colabora com suas pesquisas sobre os traços das culturas da infância que evidencia a diferença dos adultos: Interatividade, ludicidade, fantasia do real e reiteração. E Jens Qvortrup colabora com suas nove teses sobre a infância. Teses que resultaram em relatórios e análises que foram organizados de forma sistematizada pelos pesquisadores. 
Assim Sarmento e Qvortrup concederam fundamentos que favorece a compreensão da Sociologia da Infância e mostram que é importante refletir e considerar a sociedade na sua multiplicidade. Por conseguinte, superar sentimentos e intenções e observar como as crianças nascem, se estabelece como sujeitos e se afirmam como atores sociais, na sua diversidade e na sua alteridade diante dos adultos. Portanto, pensar as culturas das crianças deve ser realizado olhando para a as crianças como atores de resistência que são capazes de transpor limites. Ressaltando que muito há ainda por se fazer na estruturação dos estudos contemporâneos sobre a Sociologia da Infância. 
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