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Mariana Garcia - Cardiologia 1 FEBRE REUMÁTICA ü Complicação tardia não-supurativa de infecções orofaríngeas estreptocócicas (Streptococcus pyogenes à gram positivo); o As faringites virais representam 80% das faringites agudas enquanto as faringites bacterianas representam apenas 20%, e nem todas as faringites bacterianas são causadas por streptococcus; ü Até 20% das faringites agudas bacterianas; ü Estreptococo betahemolíitico do grupo A de Lancefield (sorotipos M5, M3, M1, M14); ü Hospedeiro susceptível (antígenos HLA: DR3, DR4, DR7, DRW53, DQW2) è 3% da população; ü Interação agente-hospedeiro susceptível; ü Proteína M da parede bacteriana provoca reação cruzada com a miosina humana e com proteínas da membrana do sarcolema; ü A doença tem 2 momentos: o 1. Infecção estreptocócica à latência de +/- 3 semanas à 2. febre reumática; o Infecção seguida por período de latência de +/- 3 semanas e depois as manifestações clínicas típicas da febre reumática. o Lesão inflamatória do colágeno e da substância fundamental do tecido conjuntivo; o Nódulo de Aschoff (presente nos órgãos-alvo da febre reumática à coração, pele, sistema nervoso, articulações); ü EPIDEMIOLOGIA o Faixa etária: 5 – 15 anos de idade; o Maior prevalência em populações de baixo nível socioeconômico; o Prevalência: § 0,6/1000 (Japão e EUA); § 5 a 21/1000 (África, Ásia e América do Sul); o Queda da incidência nos países desenvolvidos 50/100.000 (1950) para 2/100.000 (1999) – EUA; § Isso se deve a descoberta da penicilina; o Melhora dos padrões socioeconômicos, habitação, menos aglomeração e mais acesso a cuidados médicos; ü PATOGÊNESE o Reação anormal à uma infecção estreptocócica (anormal porque nem todas as pessoas que tiverem contato com o Streptococcus pyogenes irão ter essa complicação); o Variabilidade individual na apresentação clínica: § Faringite purulenta típica (2/3); § Faringite oligo-assintomática (1/3) – muitas vezes é nesse grupo que estão as crianças que não são tratadas e acabam desenvolvendo a FR; o +/- 3% podem evoluir para FR se não tratadas (susceptíveis); ü PATOLOGIA o Reação inflamatória linfocitária; o Órgãos/tecidos à coração, articulações, cérebro, pele/SC; o Lesão específica: Nódulos de Aschoff; o Infiltrado de células multinucleadas, formando um nódulo, em geral, perivascular; Mariana Garcia - Cardiologia 2 ü CLÍNICA o O diagnóstico da febre reumática é essencialmente clínico!! o Faringite tem resolução espontânea em 1 semana; o Período de latência de 1 – 4 semanas (média 19 dias); o Não há teste diagnóstico específico; o Sinais e sintomas da febre reumática: § Gerais à febre, abatimento, inapetência, palidez; § Poliartrite migratória à grandes articulações, assimétrica, incapacitante, duração de 4 semanas, sem sequelas; • Pode-se ter mais de 1 articulação acometida no mesmo período; • Diferente da artrite reumatóide – acomete primeiro articulações menores e DESTRÓI a cartilagem, deixando sequelas. § Cardite à taquicardia, B3, sopros, congestão pulmonar, atrito pericárdico; • Muitos são assintomáticos; • Geralmente ocorre 4 semanas após a artrite; • Pode ser tão grave a ponto de levar a IC ou morte; • Acomete o pericárdio, endocárdio e miocárdio; § Eritema marginado (lesões avermelhadas com o centro claro) e nódulos subcutâneos (elásticos, móveis, não dolorosos, que em geral aparecem tardiamente na doença); § Coreia de Sydeham à tardia, 2 meses após episódio agudo; • Coreia = movimentos anormais, involuntários e incoordenados; quanto mais a criança tenta controlar os movimentos, mais piora; à isso é resultado do acometimento dos gânglios da base – movimentos finos; • Ex: nos quadros iniciais de coreia a mãe geralmente fala que o filho muda de expressão facial rapidamente, não consegue mais escrever direito, pegar um copo de água... • Quando a criança está dormindo, ela não tem coreia; § Apresentação clássica da FR é artrite + Cardite!! ü CRITÉRIOS DE JONES o Diagnóstico è 2 critérios maiores ou 1 maior e 2 menores + ASO aumentado; o Critérios maiores: § Cardite; § Poliartrite migratória; § Coreia de Sydeham; § Eritema marginado; § Nódulos subcutâneos; o Critérios menores: § Febre; § Artralgia; § Reagentes de fase aguda (Aumento do VHS e PCR); § Aumento do intervalo PR (PRi) – bloqueio AV de 1º grau no ECG; o Evidências de infecção pelo Estreptococo: § Anticorpo Anti-Streptolisina O (ASO); • A estreptolisina O é produzida pelo Estreptococo para se difundir através dos tecidos; • Está elevada a partir da 2º semana de exposição do Estreptococo na faringe; § Cultura de orofaringe; Mariana Garcia - Cardiologia 3 o 2015: § Foi acrescentado o ecocardiograma aos critérios de risco populacionais à para verificar a presença de Cardite (populações de risco moderado/alto); • Com o passar da doença, o pericárdio/miocárdio se regeneram normalmente, mas as válvulas, no momento que começam a passar pelo processo de regeneração podem se deformar, dando as doenças valvares relacionadas a febre reumática; • No ECO podemos verificar se há sequelas valvares! • Se no ECO aparecerem lesões compatíveis com lesão reumática à conta muito no diagnóstico de febre reumática; ü EVOLUÇÃO DA DOENÇA o Faringite aguda (com febre) à não tratada à período de latência (2 – 3 semanas) – período sem febre à segunda onda de febre (dessa vez relacionada a febre reumática); o Quando a febre reumática começa as manifestações + frequentes e + precoces são a poliartrite e a cardite!! o O eritema marginado também é precoce, podendo aparecer concomitante a esses dois últimos. Já a Coreia e os nódulos, são manifestações mais tardias; o Possíveis evoluções da Cardite: o Miocardite pode ser muito grave na fase aguda (a ponto de evoluir com IC e/ou óbito); o As válvulas têm como função manter o fluxo sanguíneo unidirecional, se tem uma válvula que não deixa todo o sangue ir = válvula estenótica e uma válvula que deixa o sangue ir e vir é uma válvula insuficiente; o Válvulas mais frequentemente acometidas na FR: § 1º mitral; § 2º aórtica; § 3º tricúspide; § 4º pulmonar; § Pode-se ter deformidade em mais de uma válvula, e uma mesma válvula pode ter tanto estenose quanto insuficiência; Mariana Garcia - Cardiologia 4 o Deformidades reumáticas das válvulas: § Fibrina nas linhas de fechamento à Aderências/cicatrizes (estenose crônica) ou contratura das cicatrizes (regurgitação crônica – insuficiência); § Insuficiência à gera sobrecarga de volume à dilatação do coração (RX – febre reumática aguda + insuficiência mitral); § Estenose mitral à todas as pressões retrógradas vão aumentar à ao longo do tempo a pessoa terá dispneia de esforço; § Modos de tratar uma válvula estenótica: • Balão (se a válvula tiver pouco cálcio e for bem flexível) – método não definitivo (muito usado em grávidas que no final da gravidez estão desenvolvendo IC); é um procedimento mais de alívio; • Pode-se substituir a válvula (próteses valvares – metálicas ou biológicas) ou fazer uma comissurotomia à tratamento definitivo; o Vantagens/desvantagens da válvula biológica: não precisa anticoagular o paciente, mas dura apenas até 10 anos; o Vantagens/desvantagens da válvula metálica: tem que usar anticoagulante via oral para o resto da vida (tendem a formar trombo com mais facilidade) mas não precisa trocar a válvula (dura para sempre); § Para tratar uma válvula insuficiente, geralmente se troca a válvula; ü EXAMES COMPLEMENTARES o RX do tórax (na fase aguda): § Cardiomegalia; § Congestão pulmonar; § Derrame pericárdico; o ECG à taquicardia (na fase aguda), bloqueio I grau (um dos critérios menores); o Ecocardiograma: importante tanto na fase aguda quanto posteriormente, para identificar deformidades valvares; § Válvulas; § FEVE; § Derrame pericárdico;o Laboratório: § VHS; § PCR; § Anticorpo antiestreptolisina O; ü TRATAMENTO DA FR AGUDA o Não há tratamento específico para FR; o A história natural não é modificada por intervenções, inclusive corticosteroides; o Sempre deve-se erradicar o estreptococo – pois enquanto ele estiver presente, é um estímulo imunogênico à usar penicilina G benzatina; o Sintomáticos: § Artrite à AAS (doses altas, anti-inflamatórias) 100 mg/Kg/dia; § Cardite à prednisona 1mg/kg; § Coreia à Haloperidol ou Diazepam; Mariana Garcia - Cardiologia 5 ü PREVENÇÃO DA FR AGUDA o Tratar toda faringite estreptocócica precocemente; o Penicilina G benzatina é o tratamento de escolha: § < 20 kg: 600.000 UI (dose única); § ≥ 20 kg: 1.200.000 UI (dose única); o Alérgicos a penicilina – eritromicina; ü PREVENÇÃO DAS RECORRÊNCIAS o Quem já teve FR uma vez, pode ter a segunda, a terceira, a quarta... Toda vez que ele for atingido por uma infecção estreptocócica; o Penicilina benzatina a cada 3 semanas por pelo menos 5 anos após o episódio agudo ou até completar 21 anos de idade. o Se o paciente teve Cardite documentada à precisa fazer prevenção por mais tempo à até os 40 anos ou permanente;
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