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03 - Transtornos Ansiosos 95bc111cec1f4890ad65bbeb1acdfb9d.pdf 03 Transtornos Ansiosos 1 😖 03 - Transtornos Ansiosos Diagnóstico sindrômico: primeiro sintomas e enquadra em alguma síndrome (depressiva, ansiosa, psicótica) e vai investigar clinica/induzido/medicação - se não for, pensa em causa psiquiátrica. Sintomas ansiosos Preocupação / Sintomas somáticos / medo e crises de pânico / evitação - evitação mostra gravidade maior, que aquilo está tendo repercussão na vida da pessoa (evitando situações devido ao medo/ansiedade - típico de ataques de pânico). Prejuízo funcional e/ou sofrimento clinicamente significativo - se não tem um dos dois não é transtorno mental Tr ansioso não especificado - para diagnóstico tem que excluir causa orgânica. Tr ansioso devido a condição médica (hipertireoidismo…) Tr ansioso induzido por substância - se não tiver nada induzindo, pensar em transtornos ansiosos Transtornos ansiosos: Fobia social Tr ansiedade) - ansiedade social generalizada ou ansiedade social de desempenho Mutismo seletivo - muitas vezes associado a ansiedade social Fobia específica Tr ansiedade generalizada Tr de pânico Agorafobia 03 Transtornos Ansiosos 2 Outro tr ansiedade especificado - todo diagnóstico sindrômico tem isso, não engloba nenhum dos anteriores, mas tem sintomas ansiosos com prejuízo na vida da pessoa Psicopatologia da ansiedade Ansiedade é um termo vago e inespecífico. Ansiedade é algo normal - mecanismo de defesa, luta e fuga. Se torna patológico quando há sofrimento/prejuízo - quando se torna desproporcional (não tem perigo, mas gera preocupação) Preocupação → expectativa apreensiva / catastrofização Sintomas somáticos (sintomas físicos sem causa orgânica - falta de ar, palpitação, taquicardia, parestesia) Medo (perigo iminente) → sintomas somáticos associados ao medo podem levar à ataques de pânico Evitação → sintoma mais incapacitante dos transtornos ansiosos e consequência final da ansiedade patológica (sinal de gravidade) Ansiedade patológica = desproporcionalidade - algo que a pessoa vê perigo onde normalmente não tem perigo 03 Transtornos Ansiosos 3 Transtornos ansiosos mais relacionados a preocupação Tr ansiedade generalizada Transtornos ansiosos mais relacionados a ataques de pânico e evitação Fobia específica Mutismo seletivo Fobia social Tr pânico - sd é conjunto de sinais e sintomas que as vezes nem doença é, o nome correto é transtorno de pânico, não sd pânico Agorafobia Tr Ansiedade Generalizada (TAG): Preocupação / ansiedade excessiva de difícil controle - associado a 3 ou mais critérios: 3 ou + F fadiga I inquietação (agitação) R raiva → irritabilidade S sono → insônia (inicial é mais comum) T tensão muscular B brancos ou dificuldade de concentração (começa a esquecer, pode parecer TDAH, mas tratando ansiedade resolve essas características) 1 ou + I/A na infância ou adolescência (se tem preocupação excessiva, é fácil entrar com ansiedade generalizada - dificilmente uma criança não vai ter) Dificilmente uma criança não vai ter - é muito comum 6 Meses Menos de 6 meses não é TAG. DDX diferenciar com evolução temporal 1 mês → a favor de TDM 03 Transtornos Ansiosos 4 TDM com sintomas ansiosos (tem depressão, não tem critério para TAG, mas tem critérios para especificadores de TDM I inquietação / agitação psicomotora R raiva, sentir-se nervoso / tenso B brancos ou dificuldade de concentração por preocupação Epidemiologia: HF História familiar. Mulher tem mais chance de ter transtornos ansiosos. Cognição ruminatória: fica ruminando/sofrendo como se tudo que faz é inadequado (cria muitas coisas na cabeça). Pessoa com personalidade ansiosa é vulnerável para ter TAG. Ataque de pânico não mata, pode morrer por ansiedade crônica devido ao aumento de hormônios Comorbidades: Mais associado a Tr. Humor (depressão maior) até 54% (o mesmo medicamento trata os 2 ansiedade/depressão - serotonina! Tem que ver o especificador do TDM pq só a serotonina pode não ser adequada - um dual pode piorar a ansiedade. O que ajuda ansiedade é serotonina). Mais associado a outros tr. ansiosos 30% fobias, 20% pânico - sempre olhar se tem outro transtorno quando diagnosticar TAG 03 Transtornos Ansiosos 5 Uso de SPA (exacerbada TAG, TAG aumenta recaída) - substância psicoativa Curso e prognóstico Crônico e com baixa remissão - a gravidade é menor, mas o principal é fator ambiental em que a pessoa é exposta, é muito a situação atual Com risco de recidiva em fases estressantes TDAH manifesta-se durante desenvolvimento - diferença da TAG que é incomum na adolescência. Quanto mais cedo a TAG se desenvolve, mais chance de reincidência/recorrência, quanto mais tarde melhor. Dá para parar medicação, o ideal é ter estilo de vida saudável e terapia. Com o avançar da idade, diminui a intensidade dos sintomas. Avaliação do paciente (especificar de acordo com a gravidade) Se leve: mudança de estilo de vida (atividade física, higiene do sono) e TCC Se moderado TCC e/ou medicação Se grave TCC e medicação Terapia e medicação: o que muda é o tempo de resposta - a medicação responde mais rápido, mas a terapia trabalha a causa, não só os sintomas. Tratamento TAG 03 Transtornos Ansiosos 6 Fase aguda 812 semanas. Manutenção mínima 6m. (tratar pelo menos 8 meses assintomático) Reavaliar 46 semanas (se teve resposta até 50% pode esperar, se teve pouca resposta aumenta dose ou troca) Efeito máximo e cumulativo das medicações 12 semanas (e com atividade física) - atividade física é um remédio na ansiedade Resistência: TCC medicação TCC só não serve para quem não acredita) Refratariedade: uso cauteloso → quetiapina XR 50150mg), buspirona, benzodiazepínicos até 4 semanas, hidroxizine (antialérgico), agomelatina Agonista de melatonina) ISRS Sertralina, Escitalopram, Fluoxetina (pode piorar no início pq é mais noradrenérgica), Paroxetina (esses 4 têm mais evidência, paroxetina é 1ª linha - ganho de peso e libido) - principal antidepressivo que atua aumentando a serotonina Venlafaxina - é a que menos aumenta noradrenalina, nora é ruim para ansiedade Dual) Pregabalina (add-on para sintomas somáticos) ou monoterapia 150mg-600mg) - não tem efeito de mania/hipomania, ajuda em dor crônica, causa vertigem, sonolência (anticonvulsivante). Buspirona (add-on para crises de ansiedade) Ansitec (meia vida 8/8h - difícil usar certinho), não tem evidência para crise de pânico (crise de ansiedade x ataque de pânico - pânico tem que ter 4 critérios, crise pode ter menos, ataque de pânico do transtorno de pÂnico é inesperado sem fator desencadeador. não é só transtorno do pânico que tem ataque de pânico, qualquer transtorno pode ter). Fobias Fórmula geral das fobias - ataques de pânicos esperados Se o pct for exposto, vai ter ataque de pânico) 03 Transtornos Ansiosos 7 Medo / ansiedade desproporcional De X sempre/quase sempre 2/2 X provoca medo/ansiedade X é evitado/suportado com intenso sofrimento 6 meses Prejuízo / sofrimento Fobia social Tr. ansiedade social Situações sociais SS - relacionada a socialização 6 meses SS sempre ou quase sempre provoca medo/ansiedade SS sempre ou quase sempre é evitado/suportado com intenso sofrimento Medo de perceberem sua ansiedade em SS - muito preocupado com o que os outros estão achando/pensando Especificar se apenas de desempenho - falar em público, apresentações, fazer prova Também pode gerar medo de multidões. A fobia social pode gerar um ataque de pânico por estar socializando, já agorafobia não tem que estar socializando, a questão é apenas a multidão. Agorafobia Situações agorafóbias SA 2 ou + 03 Transtornos Ansiosos 8 6 meses SA sempre ou quase sempre provoca medo/ansiedade Sempre ou quase sempre é evitado/suportado com intenso sofrimento Medo de não conseguir escapar e/ou ser socorrido Situações agorafóbicas 2 ou + de 5 transporte; multidões; locais abertos; locais fechados; sair de casa sozinho Fobia específica Estímulo fóbico EF, exceto SS e SA 6 meses EF sempre ou quase sempre provoca medo/ansiedade EF sempre ou quase sempre é evitado/suportado com intenso sofrimento Ambiente natural, sangue/injeção situacional, animal, outros Excluir que melhor explicado por outro Tr. mental - qualquer um dos 3 Fobias específicas Epidemiologia Alta prevalência 612% Mais comum múltiplas - várias fobias a pessoa tem Meninas > meninos 613 anos: pequenos animais - insetos, sangue/injeção e em adultos: situações como altura Medo irracional egodistônico, em geral, consciência da irracionalidade Egodistônico = sabe que não faz sentido (sabe que a barata é inofensiva), é desproporcional Tratamento 1ª é necessário? Depende da fobia, se é algo que a pessoa convive muito é importante pensar no tratamento. TCC (exposição gradual → presencial e realidade virtual), mindfulness para diminuir aversão 03 Transtornos Ansiosos 9 BZD se necessário, em curto prazo (momentâneo - alprazolam, rivotril quando exposto a situação Ex - viagem de avião) - cuidado com reação paradoxal (efeito contrário - fica agitada ao invés de acalmar) Beta bloqueador (propanolol) em caso de desempenho - taquicardia etc, aí toma antes da apresentação por exemplo. Comorbidades Transtorno por uso de álcool (atenuar estresse do estímulo) e depressão - o álcool dá uma rebaixada e o pct acredita que isso ajuda Curso Gravidade relativamente constante sem o curso oscilante. As que persistem até vida adulta geralmente não remitem. Tratamento Padrão ouro: terapia comportamental (exposição ao vivo ou virtual). Medicamentoso: ganhos modestos em estudos controlados. A frequência de exposição dita o tratamento medicamentoso. Fobia social 2 tipos Ansiedade social generalizada: comportamento inibitório desde a infância - pensar também em transtorno do espectro autista que costuma ter ansiedade social secundária Ansiedade social somente de desempenho (dar aula, apresentar): menor impacto funcional, boa resposta aos betabloqueadores, início mais tardio. Diagnóstico diferencial - excluir: Esquizoide: falta interesse em socializar e não medo (transtorno de personalidade) Agorafobia: não ocorre desconforto na presença de outra pessoa 03 Transtornos Ansiosos 10 TEA sociabilidade limitada por falta de habilidades sociais Timidez Epidemiologia e curso Prevalência segue a fobia específica 810% Idade média de 13 a. (+ exigências sociais) Se persistirem até a vida adulta, chance de remissão menor sem tratamento - se não tratou e chegou na vida adulta, vai ficar limitado para o resto da vida, a questão social é importante em diversos aspectos Comorbidades Tr depressivos, TUS (uso de substância - na adolescência esta comorbidade se institui), outros transtornos ansiosos (agorafobia), suicídio (bullying/isolamento) e transtorno de personalidade esquiva/evitativa (maior comprometimento funcional e interpessoal na intimidade). Tratamento TCC resposta mais consistente. ISRS (resposta em 55% escitalopram, paroxetina, sertralina, fluvoxamina - pq a exposição é prevalente, é algo que ela tem que ser exposta IRSN Venlafaxina Pregabalina 600mg/dia, gabapentina (resposta de 35% BZD inicial ou adjuvante para resposta rápida (sedação) Desempenho: beta bloqueador 1h antes 3ª linha: fluoxetina e mirtazapina - resultados contraditórios. Mutismo seletivo Quase 100% tem fobia social - seria mais um especificador de fobia social do que um transtorno a parte 1 mês (esse e pânico são os únicos de 1 mês) Fracasso em falar em SS Mas consegue falar em situações de conforto (ex familiares) 03 Transtornos Ansiosos 11 Excluir que melhor explicado por desconforto com idioma Excluir 1° mês de aula Excluir melhor explicado por gagueira (disfemia ou tartaragues? Excluir melhor explicado por TEA, Psicose, outro tr mental Transtorno de Pânico Ataques de pânico inesperados Ataques de pânico inesperados Ex dormindo) + recorrentes 1 ou mais Medo de novos ataques / consequências dos ataques Comportamentos evitativos > / 1 mês Prejuízo funcional e/ou sofrimento clínico significativo Excluir: delirium / org / induzido por drogas / melhor explicado por outro tr mental Ataque de pânico: ataque abrupto de medo ou desconforto intenso com pico em minutos (duração em minutos tb), 4 ou +: Psíquicos - medo de morrer, medo de enlouquecer, despersonalização/desrealização Neuro - tontura/desmaio, parestesias, tremores/abalos Pele - calafrio/calor, sudorese Cardio - palpitação, dor/desconforto torácico Pneumo - sensação de asfixia, sufocamento/falta de ar Gastro - náusea / desconforto abdominal Epidemiologia 15% ao longo da vida Proporção 12 14 anos Prevalência 64 anos >descendência europeia 03 Transtornos Ansiosos 12 Ddx: Tr somatoforme: sintomas físicos persistentes - o tempo de duração diferencia, no somatoforme dura o tempo todo. No pânico: intenso, agudo, autolimitado Curso: crônico Comorbidades: TUS (uso de substância), outros transtornos ansiosos TAG e agorafobia) Prognóstico: Bom com tratamento precoce, adequado e de comorbidades - quanto mais jovem o episódio, pior o prognóstico, mas é mais fácil tratar. Ataque de Pânico e crise de ansiedade Ataque de pânico Crise de ansiedade Explosão de sintomas somáticos em minutos/máximo 1h Duração de minutos a horas, com poucos sintomas somáticos Frequentemente leva à busca por emergência clínica e exames Raramente leva à busca por emergência clínica ou medo de morte Gera mais rapidamente e evitação de gatilhos de crises Relacionado a dificuldade de controle de preocupação, maior latência para gerar evitação Curso e prognóstico naturais: Raro antes da adolescência. Tratamento: Psicoeducação é fundamental - muitos acham que é IAM, importante informar que não vai morrer por conta disso. ISRS são sempre primeira escolha farmacológica TCC sempre primeira escolha psicoterapêutica 03 Transtornos Ansiosos 13 Evitação deve ser abordada em avaliações - expor de forma gradual Benzodiazepínicos de meia vida longa - inicialmente pode ser usado, mas a curto prazo 6 semanas no máximo) Alprazolam, Clonazepam, Diazepam e Lorazepam Alprazolam é o mais estudado, mas menos recomendado atualmente por risco de dependência e maior dificuldade de suspender posteriormente. (mais risco de dependência devido a meia vida curta) Não são tratamentos de primeira linha - risco de dependência, sedação e efeitos cognitivos. (informar sobre dependência psicológica antes - a mente acredita que precisa daquilo para ficar bem - evita dependência). 46 semanas iniciais de tratamento - resposta mais rápida se combinação de 1ª linha com BZD Cautela ao usar se pacientes portadores de t. de uso de substâncias - se tem dependência a uma coisa a chance de ficar dependente de benzo é maior Agorafobia: 6 meses Prej/sofr SA sempre ou quase sempre provoca medo/ansiedade Sempre ou quase sempre é evitado/suportado com intenso sofrimento Medo de não conseguir escapar e/ou ser socorrido - crise agorafóbica Ataque de pânico em situações agorafóbicas) Não é melhor explicado por outro tr mental ou clínico Excluir doença orgânica, induzido por substância Situações agorafóbicas SA 2 ou + Transporte Locais abertos Multidões 03 Transtornos Ansiosos 14 Locais fechados Sair de casa sozinho Epidemiologia Prevalência de 2% 1H2M início 21 anos Curso Transtorno de Pânico s/ agorafobia remissão 60% Recorrência semelhante à TP com agorafobia - pode ter pânico e agorafobia comorbido, um não anula o outro. Tratamento Evolução satisfatória quanto menos comorbidade Caso clínico TAG Peggy Isaac era uma auxiliar administrativa de 41 anos encaminhada para avaliação ambulatorial por seu clínico geral com a seguinte queixa principal: “Estou sempre nervosa .ˮ Ela vivia sozinha e nunca havia casado nem tido filhos. Era a primeira vez que se consultava com um psiquiatra. A sra. Isaac estava vivendo com seu namorado, com o qual estava há muitos anos, até oito meses antes, quando ele i nterrompeu o relacionamento repentinamente para ficar com uma mulher mais jovem. Em seguida, a sra. Isaac começou a ficar angustiada com as tarefas cotidia- nas e com a possibilidade de cometer erros no trabalho. Sentia-se atipicamente tensa e cansada. Tinha dificuldades em se concentrar. Também começou a se preocupar excessivamente com dinheiro e, para economizar, mudou-se para um apartamento mais barato em um bairro menos agradável. Buscava apoio repetidamente dos colegas de escritório e da mãe. Parecia que ninguém conseguia ajudá-la, de modo que ela temia ser “um fardo .ˮ Durante os três meses anteriores à avaliação, a sra. Isaac começou a evitar sair à noite, temendo que algo ruim acontecesse e não conseguisse ajuda. Mais recentemente, passara a evitar sair durante o dia também. Além disso, sentia-se “exposta e vulnerávelˮ ao caminhar até a mercearia a três quadras de distância, então parou de fazer compras. Depois de descrever que havia descoberto como usar uma tele- entrega de alimentos, acrescentou: “É ridículo. Sinceramente, acho que 03 Transtornos Ansiosos 15 alguma coisa horrível vai acontecer nos corredores do mercado e ninguém vai me ajudar, então nem entro .ˮ Quando está em seu apartamento, frequentemente relaxa e aprecia um bom livro ou um filme. A sra. Isaac afirmou que “sempre fui um pouco nervosa .ˮ Durante grande parte de sua permanência no jardim de infância, chorava descontroladamente quando sua mãe tentava deixá-la na escola. Relatou ter se consultado com um orientador psicológico aos 10 anos de idade, durante o divórcio dos pais, porque “minha mãe achava que eu estava carente demais .ˮ Acrescentou que nunca gostou de ficar sozinha e tinha namorados constantemente (às vezes mais de um ao mesmo tempo) desde os 16 anos. Explicou: “Eu odiava estar solteira e sempre fui bonita, então nunca ficava sem namorado durante muito tempo .ˮ Mesmo assim, até o rompimento recente, afirmou que sempre achava que estava “bem .ˮ Era bem-sucedida no emprego, corria todos os dias, mantinha uma sólida rede de amizades e não tinha “queixas de verdade .ˮ Durante a entrevista inicial, a sra. Isaac disse que havia ficado triste durante algumas semanas depois que o namorado a havia deixado, mas negou que tivesse se sentido sem valor, culpada, desesperançada, com anedonia ou suicida. Afirmou que seu peso continuava constante e seu sono estava bom. Negou mudanças psicomotoras. Descreveu ansiedade significativa, no entanto, com 28 pontos no Inventário de Ansiedade de Beck, o que indica ansiedade grave. Diagnóstico: TAG. Discussão: A sra. Isaac se tornou nervosa, cansando-se com facilidade e ficando excessivamente preocupada durante os oito meses seguin- tes ao rompimento de seu relacionamento amoroso. Ela tem dificuldades de concen- tração. Suas preocupações causam sofri- mento e disfunção e a levam a buscar apoio constantemente. Embora alguns desses sintomas também possam ser atribuíveis a um transtorno depressivo, ela não apresenta a maioria dos outros sintomas de uma depressão maior. Em vez disso, a sra. Isaac satisfaz os critérios do DSM5 para trans- torno de ansiedade generalizada TAG. Mais agudamente, a sra. Isaac desen- volveu uma ansiedade intensa de sair do apartamento e entrar no supermercado lo- cal. Esses sintomas sugerem que ela pode satisfazer os critérios do DSM5 de agorafobia, o qual exige temores e esquiva de, pelo menos, duas situações diferentes. Contudo, os sintomas de agorafobia persistiram por apenas alguns meses, o que é menos do que os seis meses exigidos pelo DSM5. Se o médico julgar que os sintomas de agorafobia 03 Transtornos Ansiosos 16 justificam atenção clínica, a sra. Isaac também pode receber um diagnóstico adicional de “transtorno de ansiedade não especificado (agorafobia com duração inadequada de sintomas) .ˮ Além de estabelecer um diagnóstico do DSM5, também é importante levar em consideração o que pode ter precipitado o TAG da sra. Isaac. Embora não seja possível ter certeza do porquê de alguém desenvolver um transtorno do humor ou de ansiedade, considerar os estressores psicossociais que sejam coincidentes com o início dos sintomas pode ajudar na for- mulação, estabelecimento de objetivos e tratamento. Neste caso, a sra. Isaac desenvolveu sintomas agudos de ansiedade depois do rompimento com o namorado e da mudança para outro apartamento. Esses dois eventos foram agudamente perturbadores. A próxima parte da resposta a “por que agora?ˮ envolve refletir sobre a forma como os estressores se relacionam com as questões presentes há mais tempo na vida da sra. Isaac. Ela indicou que “nunca ficou solteira por muito tempoˮ e forneceu uma história de dificuldade em lidar com separações que se iniciou durante a infância. A ansiedade desencadeada por separação pode sugerir problemas de apego e acredita-se que estilos adultos de apego estejam ligados aos primeiros relacionamentos do indivíduo. Aqueles com segurança de apego conseguem formar relacionamentos íntimos com outros, mas também conseguem tranquilizar e regular a si mesmos quando estão sozinhos. Indivíduos com insegurança de apego, em contrapartida, podem se ligar for- temente a entes queridos, ficar incapazes de se autorregular quando estão sozinhos e ter sentimentos ambivalentes com rela- ção às pessoas das quais são dependentes. Por essa linha de raciocínio, pode-se estabelecer a hipótese de que a sra. Isaac tor- nou-se sintomática devido a um estilo de apego inseguro ligado ao relacionamento inicial que tinha com a mãe. Pistas de que este seja o caso incluem o sentimento da mãe de que a sra. Isaac es- tava “carente demaisˮ durante o divórcio e os sentimentos ambivalentes sobre as tentativas de sua mãe de lhe proporcionar apoio. Ajudaria entender melhor os pri- meiros relacionamentos da sra. Isaac e os tipos de padrões problemáticos de apego que se desenvolveram durante os relacio- namentos amorosos. Tais padrões prova- velmente sejam recapitulados durante o relacionamento terapêutico, onde eles po- dem se tornar o foco do tratamento. Caso clínico Pânico 03 Transtornos Ansiosos 17 Maria Greco era uma mulher sol- teira de 23 anos que foi encaminhada para avaliação psiquiátrica por seu cardiologista. Nos dois meses anteriores, ela esteve no pronto-socorro quatro vezes devido a queixas agudas de palpitações, falta de ar, sudorese, tremores e medo de que estava prestes a morrer. Cada um desses eventos teve início rápido. Os sin- tomas chegaram ao ápice em minutos, deixando-a assustada, exausta e total- mente convencida de que havia recém tido um ataque cardíaco. As avaliações médicas realizadas logo após esses epi- sódios revelaram achados normais nos exames físicos, sinais vitais, resultados laboratoriais, exames toxicológicos e ele- trocardiogramas. A paciente relatou um total de cinco ataques dessa natureza nos três meses an- teriores, sendo que o pânico ocorrera no trabalho, em casa e enquanto estava diri- gindo. Ela desenvolveu um medo persis- tente de ter outros ataques, o que a levou a tirar vários dias de folga, a evitar exercí- cios, dirigir e beber café. Sua qualidade de sono decaiu, assim como seu humor. Pas- sou a evitar relacionamentos sociais. Não aceitava a tranquilização oferecida por amigos e médicos, acreditando que os exa- mes médicos resultavam negativos porque eram executados depois da resolução dos sintomas. Continuou a suspeitar que hou- vesse algo errado com seu coração e que, sem um diagnóstico preciso, morreria. Quando teve um ataque de pânico durante o sono, finalmente concordou em consul- tar com um psiquiatra. A sra. Greco negou história de transtor- nos psiquiátricos anteriores, exceto uma ocorrência de ansiedade durante a infância que havia sido diagnosticada como “fobia da escola .ˮ A mãe da paciente havia cometido suicídio por meio de overdose quatro anos antes, com quadro de depressão maior re- corrente. Durante a avaliação, a paciente estava morando com o pai e dois irmãos mais novos. Havia se formado no ensino médio, trabalhava como telefonista e não estava namorando ninguém. Suas histó- rias familiar e social, fora o ocorrido, não acrescentaram nada relevante. Durante o exame, a aparência da pa- ciente era a de uma jovem ansiosa, cooperativa e coerente. Ele negou depressão, mas parecia receosa e estava preocupada em ter uma doença cardíaca. Negou sinto- mas psicóticos, confusão e qualquer tipo de pensamento suicida. Sua cognição es- tava preservada, o insight era limitado e o julgamento era bom. Diagnóstico: Transtorno de pânico Discussão: A sra. Greco tem ataques de pânico, os quais são surtos abruptos de medo e/ou desconforto que atingem o auge em alguns minutos 03 Transtornos Ansiosos 18 e são acompanhados por sinto- mas físicos e/ou cognitivos. No DSM5, os ataques de pânico são vistos como um tipo específico de reação de medo e não são encontrados apenas nos transtornos de ansiedade. Nesses termos, o pânico é con- ceitualizado de duas maneiras no DSM5. A primeira é como especificador de “ata- que de pânico ,ˮ que pode acompanhar qualquer diagnóstico do DSM5. A segun- da é como transtorno de pânico, quando o indivíduo satisfaz os critérios mais restriti- vos para o transtorno. A sra. Greco parece satisfazer os vários critérios exigidos para transtorno de pâni- co. Seus ataques de pânico são recorrentes e ela satisfaz a exigência de quatro dos 13 sintomas: palpitações, sudorese, tremores, sufocamento, dor no peito e medo persis- tente de morrer. O diagnóstico também requer que os ataques de pânico afetem a pessoa entre os episódios. Ela não ape- nas se preocupa constantemente em ter um ataque do coração (apesar dos exa- mes médicos e das garantias frequentes de que isso não ocorrerá), mas também evita situações e atividades que possam desencadear outro ataque de pânico. Esses sintomas também precisam ter uma dura- ção mínima de um mês (a sra. Greco vem apresentando os sintomas há dois meses). O diagnóstico de transtorno de pânico também exige uma avaliação engloban- do várias outras causas de pânico. Entre elas estão medicamentos, doença médica, substâncias de abuso e outros transtornos mentais. De acordo com sua história, essa mulher de 23 anos não está sob medicação, não tem doença médica e nega o uso de substâncias de abuso. Seus exames físicos, eletrocardiogramas, resultados de exames laboratoriais de rotina e de exames toxi- cológicos são normais ou negativos. Po- deria ser útil perguntar à sra. Greco sobre medicamentos complementares e fitoterá- picos, mas aparentemente seus sintomas têm origem psiquiátrica. Muitos transtornos psiquiátricos estão associados com pânico, de modo que a sra. Greco pode ter sido levada a ter ataques de pânico por outra condição. Ela relata uma história de ansiedade e “fobia socialˮ na infância, embora esses sintomas pareçam estar em remissão. Sua mãe se matou qua- tro anos antes, quando apresentava quadro de depressão maior recorrente. Os deta- lhes são desconhecidos. Um evento assim traumático sem dúvida teria algum tipo de efeito sobre a sra. Greco. Na realidade, provavelmente há dois traumas diferentes: os efeitos abruptos do suicídio e os efeitos mais antigos de ter uma mãe crônica ou periodicamente deprimida. Uma investi- gação mais aprofundada poderia se con- centrar sobre os eventos psicossociais que conduziram até esses 03 Transtornos Ansiosos 19 ataques de pânico. Por exemplo, a “fobia escolarˮ da sra. Greco pode ter sido a manifestação de um transtorno de ansiedade de separação que não foi diagnosticado e seu pânico recente pode ter se desenvolvido no contexto de namoro, exploração sexual e/ou o distan- ciamento do pai e dos irmãos mais novos. Ela não apresenta um padrão de pânico em reação a ansiedade social ou fobia es- pecífica, mas também nega que seus sinto- mas sejam psiquiátricos e, portanto, pode não reconhecer a ligação entre os sintomas de pânico e outro conjunto de sintomas. Pode ser útil avaliar a sra. Greco quanto à sensibilidade à ansiedade, que é a tendên- cia de encarar a ansiedade como danosa, e quanto à “afetividade negativa ,ˮ que é a inclinação de vivenciar emoções negativas. Esses dois traços da personalidade podem estar associados ao desenvolvimento de pânico. Como certos agrupamentos de sin- tomas costumam não ser reconhecidos espontaneamente pelos pacientes como sintomas ou agrupamentos de sintomas, seria útil procurar mais especificamente por transtornos como transtorno do es- tresse pós-traumático e transtorno obses- sivo- compulsivo. Além disso, pode ajudar investigar a sequência de sintomas. Por exemplo, o pânico da paciente parece ter le- vado a suas preocupações com uma possí- vel doença cardíaca. Se essas preocupações antecederam o pânico, ela também pode ter um transtorno de ansiedade de doença ou transtorno de sintomas somáticos. Os transtornos depressivo e bipolar são frequentemente comórbidos com o pânico. A sra. Greco apresenta sintomas depressi- vos, incluindo insônia e preocupação com a morte, mas, fora isso, seus sintomas não parecem satisfazer os critérios para um diagnóstico de depressão. Eles, no entanto, precisariam ser observados longitudinal- mente. A história de depressão da mãe não apenas aumenta seu risco para depressão, como pode ocorrer de ela não ter um bom insight sobre seus próprios estados emo- cionais. Também seria útil procurar espe- cificamente sintomas de transtorno bipo- lar. Episódios de mania e hipomania são muitas vezes esquecidos por pacientes ou não são percebidos como problemáticos e um diagnóstico falho pode levar a um tra- tamento inadequado e à exacerbação dos sintomas bipolares. Ademais, o desenvol- vimento de pânico parece aumentar o risco de suicídio. Embora a investigação necessite ser aprofundada, a sra. Greco realmente pare- ce ter um transtorno de pânico. O DSM5 sugere avaliar se o pânico é esperado ou inesperado. Aparentemente, os ataques de pânico iniciais da 03 Transtornos Ansiosos 20 sra. Greco ocorreram em situações que podem ser vistas como es- tressantes, como enquanto estava dirigin- do ou trabalhando e, portanto, podem ou não ter sido esperados. Seu último episó- dio, no entanto, aconteceu enquanto dor- mia, desse modo, seus ataques de pânico seriam classificados como inesperados. O DSM5 retirou a conexão que havia entre agorafobia e transtorno de pânico. Eles podem ser comórbidos, mas agora se reconhece que a agorafobia pode se desen- volver em uma série de situações. No caso da sra. Greco, sua recusa expressa a dirigir, fazer exercícios e consumir cafeína é mais bem conceitualizada como uma complica- ção comportamental do transtorno de pânico em vez de um sintoma de agorafobia. Diagnóstico e tratamento precisos são im- portantes para impedir que seus sintomas se tornem mais graves e crônicos. 03 - Transtornos Ansiosos 95bc111cec1f4890ad65bbeb1acdfb9d/Untitled.png 03 - Transtornos Ansiosos 95bc111cec1f4890ad65bbeb1acdfb9d/Untitled 1.png 03 - Transtornos Ansiosos 95bc111cec1f4890ad65bbeb1acdfb9d/Untitled 2.png 03 - Transtornos Ansiosos 95bc111cec1f4890ad65bbeb1acdfb9d/Untitled 3.png 03 - Transtornos Ansiosos 95bc111cec1f4890ad65bbeb1acdfb9d/Untitled 4.png
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