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MAGE 
Magistratura Estadual 
CURSO EXTENSIVO 
 
Direito Eleitoral 
Noções introdutórias I 
 
 
MATERIAL DE APOIO 
 
 
coordenador: 
Jamil Chaim 
 
 
 
 
 
 
 
1 
1. NOÇÕES INTRODUTÓRIAS 
O Direito Eleitoral é um ramo do direito público que tem por base o estudo do regime 
democrático, com a finalidade de assegurar o pleno exercício da soberania popular. Desse 
modo, a preservação da democracia é a razão de ser do Direito Eleitoral, funcionando como seu 
antecedente necessário. 
2. A PREVISÃO CONSTITUCIONAL DO REGIME DEMOCRÁTICO – DEMO-
CRACIA SEMIDIRETA 
A Constituição Federal de 1988, em seu art. 1º, estabelece que: 
Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e 
Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem co-
mo fundamentos: 
I - a soberania; 
II - a cidadania; 
III - a dignidade da pessoa humana; 
IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; 
V - o pluralismo político. 
Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de represen-
tantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição. 
Referido artigo trata dos Princípios Fundamentais da República Federativa do Brasil, que 
são as regras informadoras de todo um sistema de normas, as diretrizes básicas do ordenamento 
constitucional brasileiro. Sobre essas proposições, foi elaborada a Constituição brasileira. São re-
gras que contêm os mais importantes valores que informam a elaboração da Constituição da Re-
pública Federativa do Brasil. Os princípios são dotados de normatividade, ou seja, possuem efeito 
vinculante e constituem regras jurídicas efetivas. Os princípios, portanto, são parâmetro para con-
trole de constitucionalidade, por serem de observância obrigatória. 
Em relação à estruturação do Estado brasileiro, o art. 1º da Constituição apresenta os prin-
cípios informadores do estado brasileiro, com seus elementos essenciais. A forma de governo é a 
República; a forma de estado é a Federação; e o regime político é a Democracia. 
 
 
 
 
 
2 
República é a forma de governo que se caracteriza pela eleição periódica do Chefe de Es-
tado e/ou Chefe de Governo. Tem as seguintes características principais: a eletividade e a periodi-
cidade deste. Em consequência do regime republicano, há eleições periódicas para a escolha de 
representantes da vontade popular para a ocupação de cargos nos Poderes Executivo e Legislati-
vo. Além disso, uma das hipóteses de intervenção federal ocorre com o objetivo de assegurar a 
observância da forma republicana de governo (art. 34, VII, a). 
Federação é forma de estado segundo a qual há a aliança de Estados-Membros para a for-
mação de um Estado Único, em que as unidades federadas preservam sua autonomia política, en-
quanto a soberania é transferida para o Estado Federal. Há, assim, a caracterização de um Estado 
Composto. A doutrina aponta que a forma de estado adotada pelo Brasil, a federação, é exemplo do 
estado composto, em que há a coexistência de mais de um núcleo de poder agindo sobre o território, 
de modo harmonioso. Assim, seriam exemplo de estado composto: uniões, confederações e federa-
ções. Observa-se, ainda, como uma característica importante a vedação à secessão. Ao estabele-
cer que a República Federativa do Brasil é formada pela união indissolúvel dos estados, municípios e 
do Distrito Federal, a CF 88, expressamente, proíbe a secessão – iniciativa separatista -, o que pode 
resultar, inclusive, em intervenção federal para que possa ser mantida a unidade nacional. 
Fundamentos da República Federativa do Brasil. A soberania nacional, a cidadania, a 
dignidade da pessoa humana, os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa e o pluralismo polí-
tico são os fundamentos da República Federativa do Brasil. 
No que se refere à titularidade do Poder Constituinte, o parágrafo único do art. 1º indica que 
o Povo, representado pelos nacionais natos e naturalizados, com identidade cultural e linguísti-
ca, é o titular do Poder Constituinte. Poder esse exercido de modo direto ou por meio de represen-
tantes eleitos. 
Em razão disso, é certo afirmar que o Brasil adota Democracia Semidireta. O parágrafo 
único do art. 1º também trata da forma de democracia adotada no Brasil. A forma de exercício do 
poder pode ocorrer diretamente ou por meio de representantes. A escolha desse caminho irá refle-
tir na forma de democracia adotada por um estado-nação. 
São três os tipos de democracia: a direta, a representativa e a semidireta. 
A democracia direta é aquela exercida diretamente pelo povo. 
A democracia indireta é aquela em que o povo exerce sua soberania por meio de repre-
sentantes: senadores, deputados, governadores, presidente. 
 
 
 
 
 
3 
A democracia semidireta é aquela que mescla as duas formas de exercício da demo-
cracia: a direta e a indireta, havendo atos que se realizam diretamente pelo titular do poder e 
outros que se realizam por pessoas interpostas, os representantes. O Brasil adotou a demo-
cracia semidireta, pois há atos em que a decisão decorre diretamente do detentor do poder, como 
ocorre no plebiscito, no referendo e na iniciativa popular de lei, e atos – sua maioria -, que se reali-
zam por meio dos representantes eleitos – presidente, senadores, deputados, governadores, pre-
feitos. 
2.1. Formas diretas de exercício do poder pelo povo 
A Constituição Federal de 1988 prevê também algumas situações em que o povo atua dire-
tamente. Assim, a CF/88 dá autonomia ao povo para manifestar a sua vontade e decidir sobre de-
terminado assunto de suma importância para o País. 
Estabelece o art. 14 da Constituição Federal: 
Art. 14. A soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e pelo voto direto e se-
creto, com valor igual para todos, e, nos termos da lei, mediante: 
I - plebiscito; 
II - referendo; 
III - iniciativa popular. 
Entre essas situações, destacam-se o Plebiscito, o Referendo e a chamada Iniciativa 
Popular, o que nada mais é do que a iniciativa de elaboração de um projeto de lei por parte do 
cidadão. 
Esse exercício direto de participação democrática previsto em nossa Constituição Federal 
nada mais é do que uma forma de garantir a efetiva vontade popular, não apenas em assuntos 
relevantes, como no exemplo do Plebiscito e Referendo, mas, sim, também na elaboração de leis 
ordinárias e complementares no País, leis essas que são de cumprimento obrigatório, nos termos 
de nossa Constituição Federal. 
Plebiscito e Referendo: no tocante ao plebiscito e ao referendo, é importante destacar que a 
realização de ambos passa pela atuação do Congresso Nacional, via Decreto Legislativo, para que o 
povo manifeste sua vontade sobre determinado assunto considerado de relevante interesse nacional. 
Na literalidade da CF/88, O Congresso Nacional autoriza o referendo e convoca o plebiscito: 
 
 
 
 
 
4 
Art. 49. É da competência exclusiva do Congresso Nacional: 
(...) 
XV - autorizar referendo e convocar plebiscito. 
A diferença básica entre os dois institutos é que o plebiscito é uma consulta prévia à po-
pulação, sobre determinado tema de relevância nacional. Citamos a título de exemplo o plebiscito 
nacional em 1993, em que o povo escolheu a Forma Republicana e Sistema de Governo Presiden-
cialista no Brasil. 
É importante destacar que, nos casos em que a Constituição Federal impõe a realiza-
ção do plebiscito, sua realização é obrigatória, não podendo ser substituída por outras for-
mas de consulta à população. Este é o entendimento do Supremo Tribunal Federal: 
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. ARTIGO 51 DO ATO DAS DISPOSI-
ÇÕES CONSTITUCIONAIS TRANSITÓRIAS DO ESTADO DA PARAÍBA. REDEFINIÇÃO 
DOS LIMITES TERRITORIAIS DO MUNICÍPIO DO CONDE. DESMEMBRAMENTO DE 
PARTE DE MUNICÍPIO E INCORPORAÇÃO DA ÁREA SEPARADA AO TERRITÓRIO DA 
MUNICIPALIDADE LIMÍTROFE, TUDO SEM A PRÉVIA CONSULTA, MEDIANTE PLE-
BISCITO,
DAS POPULAÇÕES DE AMBAS AS LOCALIDADES. OFENSA AO ART. 18, § 
4º DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. 1. Para a averiguação da violação apontada pelo re-
querente, qual seja, o desrespeito, pelo legislador constituinte paraibano, das exigências 
de consulta prévia e de edição de lei estadual para o desmembramento de município, não 
foi a norma contida no art. 18, § 4º, da Constituição Federal substancialmente alterada, 
uma vez que tais requisitos, já existentes no seu texto primitivo, permaneceram inaltera-
dos após a edição da EC 15/96. Precedentes: ADI 458, rel. Min. Sydney Sanches, DJ 
11.09.98 e ADI 2.391, rel. Min. Ellen Gracie, Informativo STF 316. 2. Afastada a alegação 
de que a norma impugnada, sendo fruto da atividade do legislador constituinte estadual, 
gozaria de uma inaugural presunção de constitucionalidade, pois, segundo a jurisprudên-
cia desta Corte, o exercício do poder constituinte deferido aos Estados-membros está su-
bordinado aos princípios adotados e proclamados pela Constituição Federal. Precedente: 
ADI 192, rel. Min. Moreira Alves, DJ 06.09.01. 3. Pesquisas de opinião, abaixo-
assinados e declarações de organizações comunitárias, favoráveis à criação, à in-
corporação ou ao desmembramento de município, não são capazes de suprir o rigor 
e a legitimidade do plebiscito exigido pelo § 4º do art. 18 da Carta Magna. Preceden-
te: ADI 2.994, rel. Min. Ellen Gracie, DJ 04.06.04. A esse rol de instrumentos ineficazes 
que buscam driblar a exigência de plebiscito expressa no art. 18, § 4º, da Constituição 
Federal, soma-se, agora, este de emenda popular ao projeto de Constituição estadual. 4. 
Ação direta cujo pedido se julga procedente, com a aplicação de efeitos ex nunc, nos ter-
mos do art. 27 da Lei 9.868/99. 
(ADI 3615, Relator(a): Min. ELLEN GRACIE, Tribunal Pleno, julgado em 30/08/2006, DJ 
09-03-2007 PP-00025 EMENT VOL-02267-01 PP-00143 LEXSTF v. 29, n. 341, 2007, p. 
64-83) 
Já o referendo é admitido para que o povo aprove determinado assunto já formalizado por 
algum dos Poderes de relevância nacional. Citamos a título de exemplo o referendo do desarma-
 
 
 
 
 
5 
mento no ano de 2005. 
Iniciativa Popular: já com relação à iniciativa popular, trata-se da previsão constitucional de 
que uma norma legislativa ordinária ou complementar pode decorrer de iniciativa do povo. 
Dispõe a Constituição Federal de 1988: 
Art. 61. A iniciativa das leis complementares e ordinárias cabe a qualquer membro ou Co-
missão da Câmara dos Deputados, do Senado Federal ou do Congresso Nacional, ao Pre-
sidente da República, ao Supremo Tribunal Federal, aos Tribunais Superiores, ao Procura-
dor-Geral da República e aos cidadãos, na forma e nos casos previstos nesta Constituição. 
(...) 
§ 2º A iniciativa popular pode ser exercida pela apresentação à Câmara dos Deputados 
de projeto de lei subscrito por, no mínimo, um por cento do eleitorado nacional, dis-
tribuído pelo menos por cinco Estados, com não menos de três décimos por cento 
dos eleitores de cada um deles. 
Como se observa, dentre as várias pessoas e órgãos que possuem legitimidade para dar 
início ao processo legislativo das leis ordinárias e leis complementares, a Constituição de 1988 
prevê que estas poderão ser inauguradas via iniciativa do povo; exigem-se, entretanto, critérios 
para essa iniciativa. 
Referido critério, no tocante a projetos de lei federal, nada mais é do que a necessidade 
desse projeto de lei ser subscrito por pelo menos 1% do eleitorado nacional, distribuídas as as-
sinaturas em pelo menos cinco Estados da Federação, com não menos de três décimos por 
cento dos eleitores assinando em cada um deles. 
No âmbito do Estado-Membro, a Constituição Federal à previsão de iniciativa popular, sem 
traçar os requisitos: 
Art. 27. O número de Deputados à Assembléia Legislativa corresponderá ao triplo da re-
presentação do Estado na Câmara dos Deputados e, atingido o número de trinta e seis, 
será acrescido de tantos quantos forem os Deputados Federais acima de doze. 
(...) 
§ 4º A lei disporá sobre a iniciativa popular no processo legislativo estadual. 
Também temos a previsão em nossa Constituição Federal da iniciativa de uma lei municipal 
que parta da população local. No entanto, para que isso ocorra, é necessário que referido projeto 
de lei municipal seja vontade de pelo menos 05% (cinco por cento) do eleitorado municipal, que o 
 
 
 
 
 
6 
assinará, nos termos do art. 29 de nossa Constituição Federal. 
Art. 29. O Município reger-se-á por lei orgânica, votada em dois turnos, com o interstício 
mínimo de dez dias, e aprovada por dois terços dos membros da Câmara Municipal, que a 
promulgará, atendidos os princípios estabelecidos nesta Constituição, na Constituição do 
respectivo Estado e os seguintes preceitos: 
(...) 
XIII - iniciativa popular de projetos de lei de interesse específico do Município, da cidade 
ou de bairros, através de manifestação de, pelo menos, cinco por cento do eleitora-
do; 
Por fim, quanto ao tema, cabe uma importante observação no sentido de que a Constitui-
ção Federal de 1988 não apresenta possibilidade de iniciativa popular de emenda constituci-
onal, sendo o rol do art. 60 da CF/88 limitado aos três legitimados lá constantes, sem possibilidade 
de interpretação ampliativa: 
Art. 60. A Constituição poderá ser emendada mediante proposta: 
I - de um terço, no mínimo, dos membros da Câmara dos Deputados ou do Senado Fede-
ral; 
II - do Presidente da República; 
III - de mais da metade das Assembléias Legislativas das unidades da Federação, mani-
festando-se, cada uma delas, pela maioria relativa de seus membros. 
A doutrina critica essa omissão, como se observa em Paulo Bonavides: 
“O povo tem na formação das leis, segundo a Constituição de 1988, a iniciativa de legisla-
dor ordinário, mas não tem a de legislador constituinte. Essa derradeira iniciativa é a mais 
importante, a mais fundamental, a mais sólida por garantir o exercício de sua capacidade 
legitimadora da ordem normativa, debaixo da qual se organizam e repousam as institui-
ções do ordenamento jurídico nacional.” 
Porém, cumpre observar que, em entendimento minoritário, José Afonso da Silva, no seu 
Curso de Direito Constitucional Positivo, defende a possibilidade de projeto de iniciativa popular 
para emendas constitucionais: 
“a iniciativa popular para PEC pode vir a ser reconhecida ‘... com base em normas gerais 
e princípios fundamentais da Constituição’, apesar de não estar esse tipo de iniciativa po-
pular ‘...especificamente estabelecido para emendas constitucionais como o está para as 
leis (art. 61, §2º)’” 
 
 
 
 
 
7 
3. OS DIREITOS POLÍTICOS, O DIREITO AO SUFRÁGIO E O DIREITO AO VOTO 
3.1. Os Direitos Políticos como Direitos Humanos 
Os direitos políticos formam a base do sistema democrático – a expressão refere-se ao DI-
REITO DE PARTICIPAÇÃO NO PROCESSO POLÍTICO, ao direito ao sufrágio universal e ao voto 
periódico, livre, direto, secreto e igual, à autonomia de organização do sistema partidário, à igual-
dade de oportunidades entre os partidos. 
Os direitos políticos são uma modalidade de direito humano, estando, inclusive, pre-
vistos no Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos de 1966, (documento com força 
jurídica que compõe a Carta das Nações Unidas) art. 254, assegurando direito de participar 
da condução dos assuntos públicos, diretamente ou por meio de representantes livremente 
escolhidos; de votar e ser eleito em eleições periódicas; de ter acesso, em condições gerais 
de igualdade, às funções públicas. Também estão previstos no art. XXI5 da Declaração Uni-
versal de Direitos Humanos de 1948 e outras convenções internacionais e regionais sobre 
direitos humanos. Portanto, o exercício da cidadania ativa e passiva é uma forma de direito 
humano. 
3.2. Direitos políticos e teoria discursiva de Habermas 
A teoria do discurso de HABERMAS coloca no ponto central da democracia o processo 
político da formação da opinião e
da vontade, sendo que o processo da política deliberativa cons-
titui o cerne da democracia e pressupõe a necessidade e a importância da opinião pública para o 
exercício do poder político. A necessidade de os sistemas democráticos modernos recorrerem à re-
gra da maioria como instrumento de formação do consenso decorre da impossibilidade de se estabe-
 
4 ARTIGO 25 
 Todo cidadão terá o direito e a possibilidade, sem qualquer das formas de discriminação mencionadas no 
artigo 2° e sem restrições infundadas: 
a) de participar da condução dos assuntos públicos, diretamente ou por meio de representantes livremente 
escolhidos; 
b) de votar e de ser eleito em eleições periódicas, autênticas, realizadas por sufrágio universal e igualitário e 
por voto secreto, que garantam a manifestação da vontade dos eleitores; 
c) de ter acesso em condições gerais de igualdade, às funções públicas de seu país. 
5 Artigo XXI 
1. Toda pessoa tem o direito de tomar parte no governo de seu país, diretamente ou por intermédio de repre-
sentantes livremente escolhidos. 
2. Toda pessoa tem igual direito de acesso ao serviço público do seu país. 
3. A vontade do povo será a base da autoridade do governo; esta vontade será expressa em eleições perió-
dicas e legítimas, por sufrágio universal, por voto secreto ou processo equivalente que assegure a liberdade 
de voto. 
 
 
 
 
 
8 
lecer uma “comunidade ideal de comunicação nas modernas sociedades complexas e pluralistas. 
Todavia, as decisões tomadas por intermédio da maioria não podem excluir do discurso qual-
quer grupo social ou serem irreversíveis. Portanto, o sistema de representação política só é 
legítimo se houver um mecanismo comunicativo que transfira os pontos de vista e consensos 
dos representados para seus representantes, de forma a viabilizar a participação de todos os ci-
dadãos no processo de formulação/fundamentação da ação política e do direito legislado. 
3.3. Direito ao sufrágio 
Materializa-se no direito de votar, de participar da organização da vontade estatal e no direi-
to de ser votado. Vai além do direito de voto ao permitir que os titulares exerçam o poder por meio 
de participação em plebiscitos, referendos e iniciativas populares. Não dispõe de direito a voto o 
estrangeiro e os conscritos do serviço militar obrigatório (CR, art., 14 § 1º). 
Art. 14. A soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e pelo voto direto e se-
creto, com valor igual para todos, e, nos termos da lei, mediante: 
I - plebiscito; 
II - referendo; 
III - iniciativa popular. 
3.3.1. Sufrágio universal, censitário e capacitário 
Sufrágio universal existe quando o direito político se reconhece a todos os nacionais do 
País, independentemente da pertinência a dado grupo ou classe, ou da apresentação de certa qua-
lificação. 
Sufrágio censitário: concede-se o direito de voto apenas a quem disponha de certa condi-
ção ou qualificação econômica. A Constituição Imperial de 1824 estabelecia que estavam excluídos 
de votar nas eleições para deputados e senadores do Império aqueles que não alcançassem renda 
mínima anual de cem mil-réis. A Constituição de 1891 outorgava o direito de voto apenas a pesso-
as do sexo masculino. As de 1891 e 1934 não reconheciam direito de voto aos mendigos. Como 
texto original, com exceção da CR/88 (a EC 25/85 revogou a vedação), todas as Constitui-
ções republicanas não reconheciam o direito de voto ao analfabeto (A chamada lei Saraiva, 
de 09/01/1881 proibiu o voto aos analfabetos). 
Sufrágio capacitário: refere-se a critérios concernentes à qualificação ou à capacidade do 
 
 
 
 
 
9 
eleitor, especialmente no que diz respeito ao preparo ou à habilidade intelectual. 
O direito ao sufrágio é facultativo aos analfabetos, aos maiores de 16 e menores de 18 e 
aos maiores de 70. No que tange aos portadores de doença grave, o TSE reconheceu a lacu-
na de regulação constitucional, suscetível de ser colmatada mediante interpretação que re-
conhecesse também o caráter facultativo do alistamento e do voto nesses casos (tratar-se-ia 
da mesma ratio subjacente ao caráter facultativo atribuído ao direito de voto dos maiores de 70 
anos, qual seja, as prováveis limitações físicas e interferência no bem-estar). 
3.3.2. Voto direto, secreto, livre e periódico 
É a ideia de liberdade do voto que, embora não mencionada expressamente no texto consti-
tucional, explica a ênfase conferida ao caráter secreto do voto. 
Voto direto: o voto dado pelo eleitor é conferido a determinado candidato ou determinado 
partido, sem que haja mediação por uma instância intermediária ou por um colégio eleitoral – 
PRINCÍPIO DA IMEDIATICIDADE do voto. O ponto relaciona-se à discussão sobre as listas fecha-
das, porquanto anota Canotilho que “se a votação por lista escolhida pelos partidos tem sido consi-
derada como compatível com o princípio da imediação, já o abandono do partido na lista do qual foi 
eleito pode levantar problemas se o princípio da imediaticidade for analisado com o devido rigor” 
(Direito constitucional e teoria da Constituição, 5º Ed., Coimbra: Almedina, 2002, p. 300, apud 
MENDES, MARTIRES COELHO E GONET, op. cit, p.697). 
Voto secreto: inseparável da ideia de voto livre. A liberdade de voto envolve não só o pró-
prio processo de votação, mas também as fases que a precedem, inclusive relativas à escolha de 
candidatos e partidos em número suficiente para oferecer alternativas aos eleitores6. 
Voto periódico: a periodicidade do voto vincula-se à ideia de renovação dos cargos eletivos 
e da temporariedade dos mandatos (art. 60 § 4º da CR). 
Liberdade do voto: também associada à ampla possibilidade de escolha por parte do elei-
tor – associação entre o direito ativo do eleitorado e a igualdade de chances entre os partidos polí-
ticos (Chancengleichkeit) (tópico desenvolvido abaixo). 
 
6 Conforme anotam MENDES, MÁRTIRES COELHO E GONET (op. cit., p. 697), o caráter livre e secreto do 
voto impõe-se não só em face do Poder Público, mas também dos privados em geral (eficácia privada dos 
direitos: Drittwirkung). Ademais, a preservação do voto livre e secreto obriga o Estado a adotar medidas para 
oferecer garantias ao eleitor a ao processo democrático. No ponto, vale referir o art. 41-A da Lei nº 9.504, 
que tutela a vontade/liberdade do eleitor e combater as condutas ofensivas ao direito fundamental ao voto e 
cuja constitucionalidade foi reconhecida pelo STF na ADI 3592. 
 
 
 
 
 
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3.3.3. Igualdade do voto 
Igualdade do voto não admite qualquer tratamento discriminatório, seja quanto aos eleitores, se-
ja quanto à própria eficácia da sua participação eleitoral. Abrange, assim, não só a igualdade de valor 
numérico, mas também a igualdade de valor quanto ao resultado. A igualdade de valor quanto ao resul-
tado é observada se cada voto é contemplado na distribuição dos mandatos e associa-se ao sistema 
eleitoral adotado: majoritário/proporcional, existência de cláusula de desempenho/barreira, etc. 
No sistema majoritário, o valor do resultado é inevitavelmente desigual, pois o candidato 
menos votado não logra qualquer resultado, embora o princípio da igualdade assuma relevo na 
medida em que evita a distorção ou manipulação de resultados mediante a criação arbitrária de 
distritos (gerrymandering)7. 
Sistema proporcional brasileiro: A CR/88, nos arts. 27 § 1º e 45 apenas refere que as elei-
ções para deputados federais, estaduais e vereadores efetivar-se-ão pelo sistema proporcional, 
deixando certa margem ao legislador na concretização do sistema, inclusive quanto ao sistema de 
lista partidária fechada ou de lista com mobilidade8. Trata-se de um modelo proporcional peculiar e 
diferenciado do modelo proporcional tradicional, que se assenta em listas apresentadas pelos par-
tidos. Assim, a lista aberta faz com que, no Brasil, o mandato parlamentar decorra mais
do desem-
penho e do esforço do candidato do que da atividade partidária. 
Listas abertas: esse sistema, adotado no Brasil, contribui para a personalização da elei-
ção, o que faz com que as legendas dependam, em grande medida, do desempenho de candida-
tos específicos. Essa personalização do voto acaba por acentuar a dependência do partido e a 
determinar a sua fragilidade programática. 
Cláusula de barreira: a legislação brasileira chegou a prever a adoção de uma forma peculi-
ar dessa cláusula como requisito para o pleno funcionamento parlamentar dos partidos políticos. A 
regra possuía fundamento no art. 17, IV da CR/88, que assegurava aos partidos políticos tal possi-
bilidade, de acordo com a lei (art. 13 da Lei dos Partidos Políticos, L. 9096/95). O STF, em 
07/12/2006, apreciou as ADI’s 1351-3 e 1354-8 (informativo nº 451 do STF): 
 
7 A expressão é utilizada por CANOTILHO, em alusão ao político norte-americano Gerry, que se notabilizou 
na formulação de distritos “em forma de salamandra” para obter resultados satisfatórios ao seu partido, con-
forme nota explicativa na p. 698 da já citada obra de MENDES, MÁRTIRES COELHO E GONET. 
 
 
 
 
 
 
 
11 
Partidos Políticos e Cláusula de Barreira - 1 
O Tribunal julgou procedente pedido formulado em duas ações diretas ajuizadas (...) para 
declarar a inconstitucionalidade do art. 13; da expressão "obedecendo aos seguin-
tes critérios", contida no caput do art. 41; dos incisos I e II do art. 41; do art. 48; da ex-
pressão "que atenda ao disposto no art. 13", contida no caput do art. 49, com redução de 
texto; e da expressão "no art. 13", constante do inciso II do art. 57, todos da Lei 9.096/95. 
O Tribunal também deu ao caput dos artigos 56 e 57 interpretação que elimina de tais dis-
positivos as limitações temporais deles constantes, até que sobrevenha disposição legisla-
tiva a respeito, e julgou improcedente o pedido no que se refere ao inciso II do art. 56, to-
dos da referida lei. Os dispositivos questionados condicionam o funcionamento parlamen-
tar a determinado desempenho eleitoral, conferindo, aos partidos, diferentes proporções 
de participação no Fundo Partidário e de tempo disponível para a propaganda partidária 
("direito de antena"), conforme alcançados, ou não, os patamares de desempenho impos-
tos para o funcionamento parlamentar.(...)Entendeu-se que os dispositivos impugnados 
violam o art. 1º, V, que prevê como um dos fundamentos da República o pluralismo 
político; o art. 17, que estabelece ser livre a criação, fusão, incorporação e extinção 
de partidos políticos, resguardados a soberania nacional, o regime democrático, o 
pluripartidarismo, os direitos fundamentais da pessoa humana; e o art. 58, § 1º, que 
assegura, na constituição das Mesas e das comissões permanentes ou temporárias 
da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, a representação proporcional dos 
partidos ou dos blocos parlamentares que participam da respectiva Casa, todos da 
CR. Asseverou-se, relativamente ao inciso IV do art. 17 da CR, que a previsão quanto à 
competência do legislador ordinário para tratar do funcionamento parlamentar não deve 
ser tomada a ponto de esvaziar-se os princípios constitucionais, notadamente o revelador 
do pluripartidarismo, e inviabilizar, por completo, esse funcionamento, acabando 
com as bancadas dos partidos minoritários e impedindo os respectivos deputados 
de comporem a Mesa Diretiva e as comissões. Considerou-se, ainda, sob o ângulo da 
razoabilidade, serem inaceitáveis os patamares de desempenho e a forma de rateio con-
cernente à participação no Fundo Partidário e ao tempo disponível para a propaganda 
partidária adotados pela lei. Por fim, ressaltou-se que, no Estado Democrático de Direi-
to, a nenhuma maioria é dado tirar ou restringir os direitos e liberdades fundamen-
tais da minoria, tais como a liberdade de se expressar, de se organizar, de denunci-
ar, de discordar e de se fazer representar nas decisões que influem nos destinos da 
sociedade como um todo, enfim, de participar plenamente da vida pública. 
ADI 1351/DF e ADI 1354/DF, rel. Min. Marco Aurélio, 7.12.2006. (ADI 1351) (ADI-1354, 
grifado) 
3.3.4. Capacidade Eleitoral Ativa e Passiva 
A capacidade eleitoral ativa é a de votar; ela é adquirida com o alistamento, momento em 
que a pessoa se torna cidadão stricto sensu. O alistamento e o voto são obrigatórios para os maio-
res de 18 anos, e facultativo para os analfabetos, maiores de 70 e maiores de 16 anos. 
Não são alistáveis os estrangeiros e os militares conscritos. 
O voto possui as seguintes características: 
a) Direito público subjetivo; 
 
 
 
 
 
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b) Personalidade; 
c) Obrigatoriedade; 
d) Livre; 
e) Sigiloso; 
f) Periódico; 
g) Direto; 
h) Igual. 
Capacidade eleitoral passiva é o direito de ser votado. Além da capacidade eleitoral ativa, 
são requisitos (condições de elegibilidade): 
a) Idade mínima; 
b) Filiação a partido político; 
c) Domicílio eleitoral na circunscrição; 
d) Pleno gozo dos direitos políticos; 
e) Nacionalidade brasileira ou condição de equiparado a português.

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