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POLÍTICAS PÚBLICAS DE SAÚDE Professora: Dra. Angela Mara de Barros Lara Diretoria Operacional de Ensino Kátia Coelho Diretoria de Planejamento de Ensino Fabrício Lazilha Head de Produção de Conteúdos Rodolfo Pinelli Head de Planejamento de Ensino Camilla Cocchia Gerência de Produção de Conteúdos Gabriel Araújo Supervisão do Núcleo de Produção de Materiais Nádila de Almeida Toledo Supervisão de Projetos Especiais Daniel F. Hey Projeto Gráfi co Thayla Guimarães Design Educacional Giovana Vieira Cardoso Design Gráfi co Bruna Stefane Martins Marconato DIREÇÃO Reitor Wilson de Matos Silva Vice-Reitor Wilson de Matos Silva Filho Pró-Reitor de Administração Wilson de Matos Silva Filho Pró-Reitor de EAD William Victor Kendrick de Matos Silva Presidente da Mantenedora Cláudio Ferdinandi NEAD - NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA NEAD - Núcleo de Educação a Distância Av. Guedner, 1610, Bloco 4 - Jardim Aclimação - Cep 87050-900 Maringá - Paraná | unicesumar.edu.br | 0800 600 6360 C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a Distância; LARA, Angela Mara de Barros; Políticas Públicas, Educação e Saúde. Angela Mara de Barros Lara; Maringá-Pr.: UniCesumar, 2017. 69 p. “Pós-graduação Universo - EaD”. 1. Políticas Públicas. 2. Educação. 3. EaD. I. Título. CDD - 22 ed. 301 CIP - NBR 12899 - AACR/2 01 02 03 04 05 06 sumário 09| O QUE É E A EVOLUÇÃO DA SAÚDE PÚBLICA NO BRASIL ATÉ OS DIAS ATUAIS. 17| O SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE: COMO NASCEU E COMO ESTÁ NA ATUALIDADE. 29| AS ATUAIS POLÍTICAS PÚBLICAS E AS POLÍTICAS PÚBLICAS INDIRETAS VOLTADAS PARA A SAÚDE. 33| PROGRAMA ACADEMIA DA SAÚDE 35| AMAMENTA E ALIMENTA BRASIL 57| OS INVESTIMENTOS FEITOS NA SAÚDE PÚBLICA BRASILEIRA. PLANO DE ESTUDO A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: • O que é e a Evolução da Saúde Pública no Brasil até os dias atuais. • O Sistema Único de Saúde: Como nasceu e como está na Atualidade. • As atuais Políticas Públicas e Políticas Públicas Indiretas Voltadas para a Saúde. • Programa Academia da Saúde • Amamenta e Alimenta Brasil • Os Investimentos Feitos na Saúde Pública Brasileira. POLÍTICAS PÚBLICAS DE SAÚDE INTRODUÇÃO Esta seção do texto vai levar-nos a um outro campo das políticas públicas, vamos tratar da área da saúde. Vale salientar aqui que é preciso que vocês conheçam a legis- lação que sustenta as políticas desse campo, bem como as questões específicas que serão tratadas aqui, tais como: O que é Saúde Pública?; A evolução da Saúde Pública no Brasil até os dias atuais; O Sistema Único de Saúde: como nasceu e como está na atualidade; As atuais Políticas Públicas e as Políticas Públicas Indiretas voltadas para a Saúde; Os investimentos feitos na Saúde Pública Brasileira. Ainda para destacar as origens etimológicas do termo, apresentamos a concepção de Luz (2017) no dicio- nário de educação profissional em saúde da Fundação Fiocruz que trata: “ Saúde, em português, deriva de salude, vocábulo do século XIII (1204), em espanhol salud (século XI), em italiano salute, e vem do latim salus (salutis), com o significado de salvação, conservação da vida, cura, bem-estar. O étimo francês santé, do século XI, advém de sanitas (sanitatis), designando no latim sanus: “são, o que está com saúde, aproximando-se mais da concepção grega de ‘higiene’, ligada deusa Hygea. Em seu plural de origem idiomática, o termo ‘saúde’ designa, portanto, uma afirmação positiva da vida e um modo de existir harmônico, não incluindo em seu horizonte o universo da doença. Pode-se dizer, deste ponto de vista, que ‘saúde’ é, em sua origem etimológi- ca, um ‘estado positivo do viver’, aplicável a todos os seres vivos e com mais especificidade à espécie humana. [...] Em suma, o importante a salientar aqui é que ‘saúde’, mais que um estado ‘natural’, é uma definição construída social e culturalmente. E nossa definição atual está muito longe de sua origem etimológica, tendo caminhado em sentido restritivo, senão oposto, ao longo dos últimos dois séculos. [...] (LUZ, 2017). Pós-Universo 7 No que tange a legislação, em especial na Constituição Federal de 1988, na segunda seção – Da saúde, em seu artigo 196, verificaremos qual a concepção de saúde que nela encontramos. Como segue: “ Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação (BRASIL, 1988). Além das concepções do dicionário e da legislação vamos conhecer a perspectiva de Scliar (2007, p.30) sobre o termo saúde, segundo ele “O conceito de saúde reflete a conjuntura social, econômica, política e cultural. Ou seja: saúde não representa a mesma coisa para todas as pessoas. Dependerá da época, do lugar, da classe social. Dependerá de valores individuais, dependerá de concepções científicas, religiosas, filosóficas”. E, ainda considera: “ O conceito da OMS, divulgado na carta de princípios de 7 de abril de 1948 (desde então o Dia Mundial da Saúde), implicando o reconhecimento do direito à saúde e da obrigação do Estado na promoção e proteção da saúde, diz que “Saúde é o estado do mais completo bem-estar físico, mental e social e não apenas a ausência de enfermidade”. Este conceito refletia, de um lado, uma aspiração nascida dos movimentos sociais do pós-guerra: o fim do co- lonialismo, a ascensão do socialismo. Saúde deveria expressar o direito a uma vida plena, sem privações. [...] (SCLIAR, 2007, p.36-37). O que podemos ressaltar sobre essas três concepções? O que eles têm em comum? É que toda pessoa sem distinção de raça, cor ou credo deve ter acesso a saúde. Isso posto vale ressaltar que cabe ao Estado garantir a saúde de todo cidadão que vive em seu território. Assim, vamos conhecer os aspectos mais importantes sobre a po- lítica pública de saúde no Brasil. Pós-Universo 8 Pós-Universo 9 O QUE É E A EVOLUÇÃO DA SAÚDE PÚBLICA NO BRASIL ATÉ OS DIAS ATUAIS. Nós já sabemos o que é saúde. Agora nós precisamos entender o que é saúde pública, tendo em vista que esta é uma área da saúde de grande relevância para quem quer e vai atuar neste círculo. Num país como o Brasil de proporções continentais esse campo de atuação não pode ser desconsiderado, ao contrário, ele deve ser o funda- mento da ação dos que trabalham e atuam com pessoas. Segundo Gadelha (2015) “[...] no nascedouro da Constituição de 1988, havia toda uma conjuntura que per- mitiu avanços muito mais profundos do que, de fato, a base social do país parecia indicar, e como exemplo destes avanços, podemos citar todo o título da Ordem Social e, em particular, o capítulo da Seguridade Social e sua seção sobre a Saúde” (GADELHA, 2015, p.2049). Na Constituição Federal de 1988 encontramos nos artigos 197 e 198 questões sobre as ações e serviços de relevância pública, bem como as suas diretrizes: Art. 197. São de relevância pública as ações e serviços de saúde, cabendo ao poder público dispor, nos termos da lei, sobre sua regulamentação, fisca- lização e controle, devendo sua execução ser feita diretamente ou através de terceiros e, também, por pessoa física ou jurídica de direito privado. Art. 198. As ações e serviços públicos de saúde integram uma rede regiona- lizada e hierarquizada e constituem um sistema único, organizado de acordo com as seguintes diretrizes: (EC no 29/2000, EC no 51/2006 e EC no 63/2010) I – descentralização, com direção única em cada esfera de governo; II – atendimento integral, com prioridade para as atividades preventivas, sem prejuízo dos serviços assistenciais; III – participação da comunidade. Pós-Universo 10 § 1º O sistema único de saúde será financiado, nos termos do art. 195, com re- cursos do orçamento da seguridade social, da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, além de outras fontes. § 2º A União,os Estados, o Distrito Federal e os Municípios aplicarão, anual- mente, em ações e serviços públicos de saúde recursos mínimos derivados da aplicação de percentuais calculados sobre: I – no caso da União, na forma definida nos termos da lei complementar pre- vista no § 3º; II – no caso dos Estados e do Distrito Federal, o produto da arrecadação dos impostos a que se refere o art. 155 e dos recursos de que tratam os arts. 157 e 159, inciso I, alínea “a”, e inciso II, deduzidas as parcelas que forem transfe- ridas aos respectivos Municípios; III – no caso dos Municípios e do Distrito Federal, o produto da arrecadação dos impostos a que se refere o art. 156 e dos recursos de que tratam os arts. 158 e 159, inciso I, alínea “b” e § 3º Lei complementar, que será reavaliada pelo menos a cada cinco anos, estabelecerá: I – os percentuais de que trata o § 2º; II – os critérios de rateio dos recursos da União vinculados à saúde destinados aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios, e dos Estados destinados a seus respectivos Municípios, objetivando a progressiva redução das dispa- ridades regionais; III – as normas de fiscalização, avaliação e controle das despesas com saúde nas esferas federal, estadual, distrital e municipal; IV – as normas de cálculo do montante a ser aplicado pela União. § 4º Os gestores locais do sistema único de saúde poderão admitir agentes comunitários de saúde e agentes de combate às endemias por meio de pro- cesso seletivo público, de acordo com a natureza e complexidade de suas atribuições e requisitos específicos para sua atuação. § 5º Lei federal disporá sobre o regime jurídico, o piso salarial profissional nacional, as diretrizes para os Planos de Carreira e a regulamentação das ati- vidades de agente comunitário de saúde e agente de combate às endemias, Pós-Universo 11 competindo à União, nos termos da lei, prestar assistência financeira comple- mentar aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios, para o cumprimento do referido piso salarial. § 6º Além das hipóteses previstas no § 1º do art. 41 e no § 4º do art. 169 da Constituição Federal, o servidor que exerça funções equivalentes às de agente comunitário de saúde ou de agente de combate às endemias poderá perder o cargo em caso de descumprimento dos requisitos específicos, fixados em lei, para o seu exercício (BRASIL, 1988). É preciso nesta subseção do texto entender que a saúde pública em nosso país se caracteriza por um sistema híbrido, isso significa que ele não é nem somente público e nem somente privado, ele é os dois. Visto o que dita a legislação acima. Mas para chegarmos a essa consideração foi preciso conhecer alguns aspectos que perpassa- ram ao longo da história o processo de desenvolvimento dessa área. [...] os serviços que prestam os cuidados primários de saúde representam a porta de entrada para o sistema de saúde, do qual são, verdadeiramente, a base sistema nacional de saúde, por sua vez, deve estar inteiramente integra- do no processo de desenvolvimento social e econômico do país, processo este do qual saúde é causa e consequência. Os cuidados primários de saúde, adaptados às condições econômicas, socioculturais e políticas de uma região deveriam incluir pelo menos: educação em saúde, nutrição adequada, sanea- mento básico, cuidados materno-infantis, planejamento familiar, imunizações, prevenção e controle de doenças endêmicas e de outros frequentes agravos à saúde, provisão de medicamentos essenciais. [...] O conceito de cuidados primários de saúde tem conotações. É uma proposta racionalizadora, mas é também uma proposta política; em vez da tecnologia sofisticada ofereci- da por grandes corporações, propõe tecnologia simplificada, “de fundo de quintal”. No lugar de grandes hospitais, ambulatórios; de especialistas, gene- ralistas; de um grande arsenal terapêutico, uma lista básica de medicamentos - enfim, em vez da “mística do consumo”, uma ideologia da utilidade social. Ou seja, uma série de juízos de valor, que os pragmáticos da área rejeitam. A per- gunta é: como criar uma política de saúde pública sem critérios sociais, sem juízos de valor? Por causa disso, nossa Constituição Federal de 1988, artigo 196, evita discutir o conceito de saúde, [...]. Este é o princípio que norteia o SUS, Sistema Único de Saúde. E é o princípio que está colaborando para de- senvolver a dignidade aos brasileiros, como cidadãos e como seres humanos (SCLIAR, 2007, p.38-39). Pós-Universo 12 Cabe aqui tratar de uma questão fundamental: como garantir saúde e dignidade aos cidadãos, bem como educação entre outras políticas públicas? É preciso fugir da lógica do capital que propõe sempre e mais a utilidade da saúde, da educação, entre outras políticas. Garantir o consumo não é garantir direitos e muito menos eman- cipação humana. Como podemos entender as políticas viabilizadas pelo governo brasileiro se não conseguimos atingir a totalidade dos cidadãos? Políticas públicas focalizadas são passíveis de garantir saúde, educação e dignidade? Como garantir saúde pública de caráter universal? Segundo Vieira (2001) podemos refletir: Os direitos individuais e os direitos sociais consistem num todo, a exigir um procedimento diferente do Estado, quanto a eles. São esclarecedoras as ob- servações de Celso Ribeiro Bastos sobre a distinção de procedimento estatal, ante os direitos individuais ou os direitos sociais: Ao lado dos direitos indivi- duais, que têm por característica fundamental a imposição de um não fazer ou abster-se do Estado, as modernas Constituições impõem aos Poderes Públicos a prestação de diversas atividades, visando o bem-estar e o pleno desenvolvimento da personalidade humana, sobretudo em momentos em que ela se mostra mais carente de recursos e tem menos possibilidade de conquistá-los pelo seu trabalho. (1998, p. 2591) Os direitos individuais implicam o não fazer do Estado, enquanto os direitos sociais impõem-lhe um fazer e uma maior positividade, como assevera José Afonso da Silva: os direitos sociais, como compreensão dos direitos funda- mentais do homem, são prestações positivas estatais, enunciadas em normas constitucionais, que possibilitam melhores condições de vida aos mais fracos, direitos que tendem a realizar a igualização de situações sociais desiguais. (1992, p. 2582). As políticas sociais, apoiadas em direitos sociais, tornam obri- gatórias e imediatas as medidas estatais para elevar a condição humana dos titulares desses direitos. Tais medidas vêm em resposta às necessidades sociais e transformam em realidade os direitos sociais, sobressaindo nas medidas os pobres e os miseráveis (VIEIRA, 2001, p.18). 1 BASTOS, Celso Ribeiro. Curso de direito constitucional. 19ª ed. São Paulo: Saraiva, 1998. 2 SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 8ª ed. São Paulo: Malheiros Editores, 1992. Pós-Universo 13 Assim, cabe aqui salientar a responsabilidade do Estado para com os direitos indi- viduais e coletivos dos cidadãos, bem como com as políticas públicas de saúde, de educação, entre outras. Vamos na próxima questão que é acompanhar os percalços pelos quais passou a saúde pública em nosso país. Pesquisadores é preciso tratar do histórico da saúde pública no Brasil, ou seja, conhecer um pouco da sua histó- ria. Gostaríamos de ressaltar, no entanto que vamos aprofundar nossa discussão nos acontecimentos mais recentes. Segundo Minicucci (2009) e Gadelha (2015) podemos ter uma visão deste movimento: A proposta de um sistema de saúde igualitário chocou-se com o legado his- tórico de uma sociedade marcada pela diferenciação e pela segmentação no próprio campo da atenção à saúde. Entender a implementação do SUS implica entender a configuração institucional das políticas anteriores que en- corajaram a expansão de redes de produção e gestão da assistência à saúde, institucionalizaram formas diversificadas de financiamento, provisão e acesso à assistência, configurando um padrãosegmentado e estabelecendo-se padrões de comportamento difíceis de reverter, o que ampliaria os custos associa- dos à adoção de alternativas diversas. Em decorrência, tiveram efeitos sobre o processo político ao modelar identidades e clivagens sociais e estruturar os interesses privados na saúde, organizados de forma a obter significativa influência nos processos decisórios subsequentes. A inserção de categorias privilegiadas de trabalhadores em formas privadas de assistência não favo- receu a constituição de uma identidade coletiva e de valores solidaristas. Por estarem incluídos previamente em formas privadas de atenção vinculadas ao contrato de trabalho, esses segmentos, na prática, deram sustentação à assistência privada e constituíram um veto implícito à universalização da as- sistência pública (MINECUCCI, 2009, p. 1621). [...] A reforma que estabeleceu o sistema universal e público não logrou incor- porar todos os cidadãos à assistência pública e não rompeu com o padrão segmentado. Essa duplicidade se expressa no próprio texto constitucional e se consolida no final da década de 1990 com o estabelecimento da política regulatória, voltada para o segmento privado que formalizou essa dualidade do ponto de vista legal, normativo e institucional, paralelamente ao proces- so de implementação do SUS (MINECUCCI, 2009, p. 1621-1622). Pós-Universo 14 Escolhemos em Minecucci mostrar a proposta, a implementação, o processo político, bem como sua reforma. Isso significa que em Gadelha encontramos mais subsídios para compreender quais os resultados da história da saúde e suas implicações na atualidade. Esses autores não têm essa meta específica, tendo em vista que os obje- tivos dos textos que construíram eram outros, mas eles foram capazes de auxiliar-nos nesta empreitada que era conhecer um pouco desta história. Vamos a ela: Todos os momentos fortes da história da saúde no Brasil resultaram da capa- cidade de articular as agendas setoriais a temas e movimentos de amplitude nacional. Foi assim com Oswaldo Cruz e o movimento higienista do início do século passado, que conquistaram para a ciência e as ações de saúde forte protagonismo em frentes simbólicas e de modelo de desenvolvimento eco- nômico, constitutivos de nossa nacionalidade e do fortalecimento do papel do Estado, e que influenciaram profundamente nossa história. Foi assim, também, no movimento da reforma sanitária e sua relação intrínseca com a luta pela redemocratização do país e afirmação dos direitos de cidadania. Não por acaso, entidades como o Centro Brasileiro de Estudos de Saúde (CEBES), a Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) e o próprio Conselho Nacional de Saúde vêm ressaltando a necessidade de colocar a saúde no centro do modelo de desenvolvimento nacional (GADELHA, 2015, p.2048). [...] A efetividade das CNS adquire um sentido maior quando pensada no con- texto da “arquitetura participativa no país” e, em especial, sua conformação com base na “orientação participacionista” inaugurada no Governo Lula, uma vez que as CNS têm sido referência emblemática para iniciativas em outras áreas setoriais ou relacionadas a direitos de cidadania. Essa arquitetura par- ticipativa comporta, entre outras instâncias e processos, os conselhos de políticas públicas, as conferências e o orçamento participativo. No âmbito federal, existem 64 conselhos, sendo que 13 foram criados no Governo Lula. Houve ampliação de temas e edições de conferências. Entre 1988 e 2009, ocorreram 88 conferências, sendo que 55 delas realizadas entre 2003-2009, com 31 temas novos que mobilizaram, no período de 2003-2012, mais de sete milhões de participantes 10,11. Pós-Universo 15 Em outubro de 2014, a proposta da Política Nacional de Participação Social (Decreto nº 8.243/2014) que reforçava a presença dessas instâncias na formu- lação de políticas e gestão pública, articulando-as de forma mais sistêmica, foi derrotada por iniciativa da Câmara dos Deputados com argumentos de “boli- varianismo”. Está em questão, portanto, não apenas o resgate das conferências de saúde, mas o debate sobre as formas institucionalizadas de participação social e gestão participativa, ou, em dimensão mais ampla, as questões que dizem respeito à democracia substantiva em nosso país (GADELHA, 2015, p.2050). Pós-Universo 16 Pós-Universo 17 O SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE: COMO NASCEU E COMO ESTÁ NA ATUALIDADE. Buscamos no dicionário de Educação Profissional em Saúde o verbete de Ligia Bahia que trata define Sistema único de Saúde – SUS. A partir desse verbete foi possível co- nhecer e contextualizar esse sistema e suas imbricações. Na procura de conhecermos melhor seus encaminhamentos buscamos nas discussões de autores do campo da Saúde, tais como: MINECUCCI (2009) e Gadelha (2015), bem como na Constituição Federal de 1988. Iniciamos nossa interlocução pela definição de Bahia (2017): A expressão ‘Sistema Único de Saúde’ (SUS) alude em termos conceituais ao formato e aos processos jurídico-institucionais e administrativos compa- tíveis com a universalização do direito à saúde e em termos pragmáticos à rede de instituições – serviços e ações – responsável pela garantia do acesso aos cuidados e atenção à saúde. Os termos que compõem a expressão ‘SUS’, espelham positivamente críticas à organização pretérita da assistência mé- dico-hospitalar brasileira. ‘Sistema’, entendido como o conjunto de ações e instituições, que de forma ordenada e articulada contribuem para uma finalidade comum, qual seja, a perspectiva de ruptura com os esquemas assis- tenciais direcionados a segmentos populacionais específicos, quer recortados segundo critérios socioeconômicos, quer definidos a partir de fundamentos nosológicos. ‘Único’ referido à unificação de dois sistemas: o previdenciário e o do Ministério da Saúde e secretarias estaduais e municipais de saúde, con- substanciada na incorporação do Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social (Inamps) pelo Ministério da Saúde e na universalização do acesso a todas ações e cuidados da rede assistencial pública e privada contra- tada e ao comando único em cada esfera de governo. ‘Saúde’ compreendida como resultante e condicionante de condições de vida, trabalho e acesso Pós-Universo 18 a bens e serviços e, portanto, componente essencial da cidadania e demo- cracia e não apenas como ausência de doença e objeto de intervenção da medicina; a saúde, tomada como medida de determinações sociais e pers- pectiva de conquista da igualdade, contrapõe-se ao estatuto de mercadoria assistencial que lhe é conferido pela ótica economicista, tal como definida na VIII Conferência Nacional de Saúde é “a resultante das condições de ali- mentação, habitação, renda, meio ambiente, trabalho, transporte, emprego, lazer, liberdade, acesso e posse da terra e acesso aos serviços de saúde”. Histórico: o contexto de formulação e inscrição do SUS na Constituição de 1988 O SUS foi formulado, na esteira da luta pela redemocratização do Brasil, por intelectuais, entidades de profissionais de saúde, estudantis e outras entida- des da sociedade civil. Como expressão institucional da Reforma Sanitária, o SUS, entre outras referências, inspirou-se no processo de mudança no sistema de saúde italiano – denominado Riforma Sanitaria do qual se originou a Lei nº 833 de 1978 sobre a Istituzione del Servizio Sanitario Nazionale. A conver- gência entre as mudanças teórico-conceituais acerca das concepções sobre as relações entre saúde, Estado e sociedade e as lutas pelas liberdades de- mocráticas contra o regime militar confluíram para a formulação e tradução operacional da Reforma Sanitária Brasileira. O lema “saúde é democracia” embalou as proposições da Reforma Sanitária difundidas durante a pre- paração e realização da VIII Conferência Nacional de Saúde em 1986. A efervescência dos movimentos sociais a partir da metade da década de 1970, a criação do Centro Brasileiro de Estudosde Saúde (Cebes), em 1976, as experiências locais alternativas de organização de serviços de saúde, a pre- sença de sanitaristas no planejamento de instituições de saúde e, sobretudo, o intenso debate e a apresentação de reflexões, em fóruns dos movimen- tos sociais e nas arenas governamentais, sobre as alternativas à hegemonia dos interesses mercantis na assistência médica previdenciária, tornaram-se os ingredientes essenciais para a elaboração das diretrizes do SUS. Durante o I Simpósio de Saúde da Câmara dos Deputados em 1979, o documento do Cebes intitulado “Saúde é Democracia” sinalizou para a necessidade de criação de um sistema único e para a necessidade de transformação das ações de saúde em bens sociais gratuitos sob responsabilidade do Estado a partir de uma base eficaz de financiamento. Tais premissas justapostas às acepções Pós-Universo 19 sistêmicas e universalistas sobre previdência e assistência social fundamen- taram a inscrição do SUS como integrante das ações destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência social no artigo 194 da Constituição de 1988. Fundamentos teóricos-políticos do SUS O SUS resulta da formulação e legitimação de estratégias de reordenação do sistema de saúde brasileiro postas em disputa com teorias divergentes sobre as concepções sobre saúde-doença e distintos projetos de poder no campo da saúde. A partir da concepção histórico-estruturalista, os estudos sobre as relações entre medicina e sociedade enfatizaram a necessidade de des- vendar os padrões de intervenção estatal específicos na área da saúde. As interpretações sobre as articulações entre saúde e política econômica busca- ram evidenciar simultaneamente: 1) a natureza objetiva (histórico-material) da sociedade, a identificação de padrões, variações e matizes dos arranjos político-institucionais presentes no setor saúde no Brasil; 2) a identificação e análise da origem e das contradições entre projetos de atores singulares, suas projeções no Estado, visto não apenas como locus de preservação de legitimação, mas também como arena de disputa por hegemonia. O padrão dual de desenvolvimento social e econômico e seus rebatimentos sobre os níveis de desigualdade e indicadores de saúde, em um contexto pautado pela emergência de demandas complexas em termos sociais, biológicos e geográficos questionavam as respostas estatais centradas em programas de controle de endemias, por meio da atuação do Ministério da Saúde ou do atendimento individual a determinadas categorias de traba- lhadores, administrado pela Previdência Social. No final dos anos 1970, o descompasso entre as receitas e as despesas com saúde e as críticas à nature- za dicotomizada e fragmentada do sistema foram incluídos nas agendas de reivindicação dos movimentos sociais e nas pautas da grande impren- sa. No período de transição democrática, a feição nacional e universalista da luta pela transformação do sistema de saúde e das condições de saúde da população brasileira viabilizou alianças com setores progressistas de dife- rentes orientações político-partidárias. Os compromissos com a produção de conhecimentos sobre os determinantes sociais da saúde, com o movimento por mudança no sistema de saúde e mudanças na sociedade brasileira las- trearam a formulação do SUS. No início da denominada Nova República, a Pós-Universo 20 coalizão suprapartidária e a mobilização social, essenciais para a inclusão da Seguridade Social e do SUS como direitos de cidadania, tornaram exequível a nomeação de integrantes do movimento sanitário para cargos de direção no Ministério da Saúde e na Previdência Social, que, por seu turno, construí- ram as bases técnico operacionais para a transferência de recursos humanos, financeiros e físicos e competências do Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social para o Ministério da Saúde. Bases jurídico-legais do SUS O direito à saúde elevado ao patamar de direito essencial em função de sua ligação intrínseca com o direito à vida e à dignidade da pessoa humana no âmbito da positivação dos direitos sociais atribuída pela Constituição de 1988, traduz-se no reconhecimento da saúde como direito público sub- jetivo de eficácia plena e imediata. A tutela estatal e o agir positivo, ao ensejarem a criação e efetivação de políticas públicas, fazem com que esses direitos adquiram caráter coletivo. O SUS, responsável pela garantia do exercício do direito à saúde, tem como suportes doutrinários o direito universal e dever do Estado (artigo 196 da Constituição Brasileira de 1988); a integralidade das ações de saúde; a descentralização, com direção única em cada esfera de poder e a participação da sociedade (artigo 198). Em termos operacionais, trata-se de um sistema unificado, regionalizado, com atribui- ções definidas por esfera de governo, financiamento compartilhado e áreas de competências e abrangência firmadas. A saúde passa a ter o estatuto de bem de relevância pública tal como previsto no artigo 197, que define a com- petência do poder público na regulamentação, fiscalização e controle das ações e serviços de saúde. Pós-Universo 21 O artigo 199 franqueia à iniciativa privada a participação nas atividades de saúde. As áreas de atuação e competência dos órgãos do sistema de saúde são definidas no artigo 2003. Segundo este dispositivo, o controle, fiscalização, execução e ordenamento das políticas, ações e programas referentes a itens diversos, tais como alimentos, medicamentos, equipamentos, hemoderivados, saneamento básico, formação de recursos humanos para a saúde, ambien- tes de trabalho, desenvolvimento científico e tecnológico e meio ambiente são atribuições do SUS. O conteúdo constitucional do SUS é discriminado e detalhado em duas leis orgânicas, a Lei nº 8.080/90 e a Lei nº 8.142/ 90. A Lei nº 8.080/90 contém dispositivos relacionados com o direito universal, re- levância pública, unicidade, descentralização, financiamento, entre outros, enfatizando a definição das atribuições de cada esfera de governo dentro do novo sistema. A Lei nº 8.142/90 dispõe sobre o caráter, as regras de compo- sição, regularidade de funcionamento das instâncias colegiadas do SUS – o conselho e a conferência de saúde – e transferências intergovernamentais de recursos. Ao longo do tempo, a legislação ordinária foi complementada por decretos de autoria do poder executivo ou do legislativo e normas ema- nadas do Ministério da Saúde, entre as quais as normas operacionais básicas (NOBs) que determinaram as regras para o repasse dos recursos federais às esferas subnacionais. 3 Os artigos 197 a 199 já foram citados no corpo desse texto. Segue o Art. 200: Ao sistema único de saúde compete, além de outras atribuições, nos termos da lei: I – controlar e fiscalizar procedimentos, produtos e substâncias de interesse para a saúde e participar da produção de medicamentos, equipamentos, imunobiológicos, hemoderivados e outros insumos; II – executar as ações de vigilância sanitária e epidemiológica, bem como as de saúde do trabalhador; III – ordenar a formação de recursos humanos na área de saúde; IV – participar da formulação da política e da execução das ações de saneamento básico; V – incrementar em sua área de atuação o desenvolvimento científico e tecnológico; VI – fiscalizar e inspecionar alimentos, compreendido o controle de seu teor nutricional, bem como bebidas e águas para consumo humano; VII – participar do controle e fiscalização da produção, transporte, guarda e utilização de substâncias e produtos psicoativos, tóxicos e radioativos; VIII – colaborar na proteção do meio ambiente, nele compreendido o do trabalho. (BRASIL, 1988). Pós-Universo 22 O processo de implementação dos princípios e diretrizes organizacio- nais do SUS Os questionamentos à Constituição de 1988, especialmente quanto à gene- rosa e abrangente perspectiva de organização de um sistema integrado de seguridade social e ao apoio àspropostas de organização de seguros baseados na relação contribuição-benefício sob regime de capitalização emanadas do receituário de ajuste fiscal, alteraram o curso de implementação do SUS. No início dos anos 1990, a conjuntura adversa aos projetos de corte universalista contribuiu para a fragmentação das bases de apoio político, não observância das normas sobre as receitas e destinos do orçamento da ‘seguridade social’ e distintas velocidades da regulamentação de cada um de seus componentes: saúde, previdência e assistência social. A fragmentação da seguridade social e, em especial, o não cumprimento dos preceitos constitucionais relacionados com o financiamento da saúde limitaram a plena implementação do SUS. Em 1993, o então Ministério da Previdência e Assistência Social retirou as transfe- rências destinadas à saúde a partir da contribuição sobre a folha de salários. Desde então, a resistência contra o subfinanciamento da saúde tem sido a tônica de entidades da sociedade civil, parlamentares e integrantes do poder judiciário e do ministério público, e a participação das esferas subnacionais, principalmente os municípios, tem sido crescente. A mobilização permanente em torno da garantia de recursos para a saúde gerou compromissos gover- namentais com a estabilidade dos repasses tal como expressos na Emenda Constitucional nº 29. No que concerne ao desenho e à execução dos pactos intergovernamentais para consolidar o processo de descentralização e reor- ganizar as redes do sistema de saúde, os avanços são notáveis. Nos marcos da democracia e do federalismo, o SUS construiu uma estrutura institucio- nal complexa para coordenar as ações dos três níveis de governo: as ações de saúde pública e os serviços de saúde estatais, filantrópicos e privados. As Comissões Gestoras Bipartite e a Comissão Tripartite, integradas por represen- tantes das três esferas de governo, são instâncias de decisão compartilhada sobre políticas de saúde. Os governos locais tornaram-se essenciais na orga- nização da atenção à saúde, e os representantes dos usuários, profissionais de saúde e gestores civis dispõem de instrumentos para formular políticas de saúde, controlar e fiscalizar a ação das instituições de saúde. Contabilizam-se ainda, entre os expressivos avanços da estruturação de um sistema único e descentralizado, os êxitos do impacto sobre o controle/redução de agravos Pós-Universo 23 relacionados com a oferta de atenção universal a grupos populacionais defi- nidos. Contudo, o SUS, no que concerne especialmente à oferta de assistência médico-hospitalar, não é universal. A preservação da segmentação das de- mandas condiciona e de certo modo legitima o subfinanciamento público para a atenção universal à saúde e desafia permanentemente a lógica da or- ganização do SUS. A vigência da clivagem assistencial afeta a equidade do acesso aos serviços de saúde, os valores sobre a qualidade do que é público e a própria definição de SUS. Os usos correntes do termo SUS, como sinôni- mo de um convênio de repasse de recursos ou órgão de compra de serviços e não como sistema de saúde, restringem drasticamente sua natureza e atri- buições constitucionais. Alternativamente, a imunidade do direito à saúde tal como previsto pela Constituição de 1988 às tentativas de desfigurá-lo, bem como os efeitos favoráveis da inclusão e universalização das ações de saúde conferiram ao SUS o estatuto de política de Estado e modelo exemplar de sistema de saúde na América Latina. O resgate do SUS constitucional As avaliações sobre a persistência de problemas de saúde e elevadas de- sigualdades econômico-sociais e no acesso a bens e serviços vis-à-vis o subfinanciamento, as distorções na estrutura dos gastos públicos e a subordi- nação das políticas sociais em face da ‘financeirização’ do orçamento público estimularam a realização do VIII Simpósio da Câmara Federal sobre Política Nacional de Saúde em 2005. O debate e a mobilização para o resgate do SUS constitucional implicam a defesa da seguridade social e a definição de uma política nacional de desenvolvimento e, portanto, revisão da política mone- tária. Recursos oriundos da desvinculação de receitas da União, inclusive das contribuições sociais e do elevado superávit fiscal, devem ser redirecionados para as políticas sociais. As iniciativas de criar e reunir um Fórum da Reforma Sanitária na Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca e a realização de reuniões conjuntas da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) Centro Brasileiro de Estudos de Saúde (Cebes), Rede Unida, Associação Brasileira de Economia da Saúde (Abres), Associação Nacional de Promotores do Ministério Público em Defesa da Saúde (Ampasa) e a Frente Parlamentar da Saúde per- mitiram ampliar e aprofundar a reflexão e as propostas de resgate do SUS constitucional. O documento “SUS pra Valer: universal, humanizado e de qualidade”, subscrito por essas entidades, elaborado no segundo semestre de 2006, contendo estratégias programáticas, reafirma a imprescindibilida- de da compatibilização dos padrões de saúde dos brasileiros ao progresso Pós-Universo 24 tecnológico, cultural e político disponível. Por sua vez, as instituições respon- sáveis pela gestão do SUS definiram novas diretrizes para a descentralização no Pacto pela Vida, em Defesa do ‘SUS’ e de Gestão, proposto pelo Ministério da Saúde, Conselho de Secretários de Saúde (Conass) e Conselho Nacional de Secretários Municipais de Saúde (Conasems) em 2006. Medidas como o reforço à organização das regiões sanitárias, a cogestão, a base do finan- ciamento tripartite como parâmetro para o planejamento e definição de responsabilidades sanitárias compartilhadas aproximam a trajetória do SUS real a do SUS constitucional. Os esforços para corrigir o rumo e o prumo da trajetória do SUS, quer oriundos da esfera da sociedade civil, quer gerados na esfera governamental, ainda que até agora tenham logrado contra-restar plenamente obstáculos estruturais, expressam a vitalidade e perenidade de seus princípios e diretrizes (BAHIA, 2017 – grifo nosso). Observem que Bahia nos apresenta um panorama muito relevante sobre o SUS. É preciso que saibamos os meandros do seu desenvolvimento e o movimento de sua gestão para podermos reivindicar sua continuidade e melhoria da atuação nos ser- viços de saúde. A partir daqui seguimos para abordar sobre os avanços e retrocesso pelos quais o SUS tem passado e, para tanto, vamos nos aprofundar na discussão de Gadelha (2015) e Minecucci (2009 ): [...] A literatura tem excelentes trabalhos nesse sentido e muito se produ- ziu recentemente quando da reflexão sobre os 25 anos do SUS. A imagem de capa do Radis número 127 de abril de 2013, “um copo meio cheio, meio vazio”, tem sido muitas vezes o tom para realizar o inventário dos fracassos, sem descurar do reconhecimento dos avanços. Nelson Rodrigues dos Santos sistematiza de outra forma esse percurso, por meio da caracterização e con- fronto das “estratégias construtoras do SUS” e seu reverso, as “estratégias impeditivas e desconstrutoras”. Interessa destacar que ganha força a previ- são de notórios analistas e militantes do SUS, de um cenário regressivo cuja superação seria improvável ou quase utópica. No caso de Nelson Rodrigues dos Santos, essas estratégias impeditivas e desconstrutoras do SUS são evi- dentemente mais fortes e hegemônicas, a ponto de se constituírem como estratégias construtoras de outro sistema e outra política pública de Estado, recebendo o nome de “Cobertura Universal Pública e Privada”. Por sua vez, Pós-Universo 25 Gastão Wagner de Sousa Campos (p. 1), utilizando a expressão “ex-possível” de Clarice Lispector – “fenômeno plausível no passado, mas que o descuido humano sistemático haveria esvaziado de suas possibilidades de vir a ser”, adota premissas fortemente negativas e propõe o “SUS Brasil”, como “hipó- tese desesperada e utopia concreta”: “A primeira hipótese triste é queo Sistema Único de Saúde (SUS) transformou- -se, com o tempo, em um ‘ex-possível’. [...] A segunda hipótese desesperada [...] é a de que o SUS está sedo derrotado no simbólico, no “coração e na mente” dos brasileiros. [...] A terceira hipótese desesperada é a de que não há no ho- rizonte nenhum projeto político que se proponha explicitamente a enfrentar o conjunto de impasses crônicos que limitam e restringem a plena consti- tuição do SUS e do direito à Saúde” (p. 1). Abro aqui um parêntese. Apesar de não caber neste artigo uma análise crítica do SUS Brasil, a visibilidade da proposta e seu potencial heurístico me leva a destacar contrapontos e ceticismo: a excessiva ênfase na autarquização frente à ineficiência desse modelo na atual configuração da administração pública; conferir ao Conselho Nacional de Saúde a tripartite função de planejamento e gestão; finalmente, de outro plano, a baixa viabilidade de reconfiguração federativa com “Regiões de Saúde Autarquizadas” sob a governança de um “Secretário Regional de Saúde”, indicado por “Conselhos Regionais de Saúde”. Pelo lado das estratégias construtoras, deve-se ressaltar que, passados 27 anos, houve avanços significativos, com a ampliação do acesso aos serviços de saúde, especialmente para aqueles milhões de pessoas que não possuíam vínculo formal de emprego, e a implantação de programas como a ampliação da atenção básica, por intermédio da Estratégia Saúde da Família, o Programa Nacional de Imunização e o combate a agravos específicos, a exemplo do programa de HIV/AIDS. Destaco, também, entre as iniciativas mais recentes por seus efeitos imedia- tos de grande magnitude e propósito estruturante, o Programa Mais Médicos para o Brasil, destinado a garantir o acesso à atenção médica para milhões de brasileiros, e que enfrenta o desafio de conferir protagonismo ao Ministério da Saúde na modelagem da formação dos profissionais de saúde para ade- quá-la às necessidades de saúde da população. Pós-Universo 26 Nos últimos 15 anos, a formulação teórica e a implantação de políticas, leis, normas infralegais e aparatos institucionais intersetoriais relacionadas ao Complexo Econômico-Industrial da Saúde (CEIS), sob a coordenação do Ministério da Saúde, trouxeram uma novidade com enorme potencial de con- certação entre as políticas do SUS, o setor produtivo e a sociedade, em torno de um projeto nacional inclusivo. O CEIS é um referencial teórico que propõe a articulação entre direitos, políticas sociais e desenvolvimento econômico. O conceito é baseado na premissa de que a saúde se constitui, simultanea- mente, como um direito de cidadania e uma frente de desenvolvimento e inovação estratégica na sociedade, e que a articulação virtuosa destas duas dimensões é central para a conformação de um modelo de desenvolvimento inclusivo e para a sustentabilidade do SUS. Sua importância é ressaltada no documento de orientação aos debates da 15ª CNS, que traz entre os objeti- vos, o de fortalecer o complexo industrial da saúde para expandir a produção nacional de tecnologias estratégicas e a inovação em saúde. No polo das estratégias desconstrutoras, os binômios desfinanciamento e privatização, e território e governança sintetizam os maiores desafios que, entre outras consequências, vêm solapando um dos pilares do SUS, a uni- versalidade. De acordo com a Constituição brasileira, a universalidade exige a consolidação de sistemas de saúde públicos e universais, com integralida- de e equidade, o que efetivamente não atingimos. Esse quadro desfavorável tem sua tradução no embate nos fóruns internacionais entre a concepção de “sistemas universais” e a “cobertura universal” restrita”. Da mesma forma, temos no polo negativo a precarização do trabalho em saúde e ausência de uma perspectiva integrada e efetiva de cargos e carreiras profissionais do SUS. Vista com base na perspectiva anteriormente esboçada, a realização da 15ª CNS traz o duplo desafio de reafirmar a relevância desse instrumento para a gestão democrática e mobilizar a sociedade para a superação do parado- xo do SUS diante de condições tão desfavoráveis: crise econômica, crise de condução política, crise de valores, baixa adesão ao debate e compreensão popular do que é este nosso projeto de saúde pública. Some-se a isso um congresso conservador e um avanço da internacionalização do capital e do setor privado, associado a iniciativas que rompem com toda a lógica do SUS e que galvanizam também desejos e aspirações populares, como no exemplo da Proposta de Emenda à Constituição (PEC no 451/2014 [...]), de autoria do Deputado Eduardo Cunha, que obriga os empregadores a pagarem planos de saúde para os trabalhadores. Pós-Universo 27 O cenário nacional aponta ainda para um novo e paralelo modelo sendo gestado, indo além de nossa tradicional perspectiva de, ao considerarmos o setor privado, focalizarmos a assistência médica e hospitalar. Verifica-se que ações de atenção primária, promoção, ensino e pesquisa estão sendo desen- volvidas e estruturadas pelos grandes grupos hospitalares privados, ocupando as lacunas que o poder público está deixando. Contraditoriamente, considerando o processo eleitoral de 2014, não se regis- tra o mesmo “desmonte” do SUS nos discursos políticos. Não houve candidato à Presidência da República que defendesse o fim do SUS. Pelo contrário: pela primeira vez em debates políticos (inclusive aqueles veiculados pela televisão) o sistema foi “chamado pelo nome” por vários candidatos. Nenhuma campa- nha defendeu enfaticamente a privatização da saúde. Desse fato é possível inferir que a ideia de uma saúde universal, integral e gratuita encontra eco na sociedade. Entretanto, sem explicitar a intenção central de desconstruir o direito universal à saúde e a obrigação do Estado de provê-la, inscritos em nossa constituição, a mídia concentra suas baterias explorando negativa e sistematicamente a realidade do SUS. Por outro lado, é entre os defensores do SUS como sistema universal, pautado pela equidade e integralidade, que se encontra a permanente exposição de projetos e ideias para o setor. Esse cenário dual que verificamos na saúde pública encontrará, sem dúvida, espelhamento no cenário político econômi- co geral, onde se observa uma falência generalizada dos discursos e projetos coletivos. A busca de um projeto nacional aliando direitos, políticas sociais e base produtiva que se configura no binômio saúde e desenvolvimento e na conformação de um complexo econômico e industrial da saúde induzido e regulado pelo Estado, que já encontrava dificuldades em críticas de setores da esquerda, está em xeque pela falta de sustentação do desenvolvimen- tismo inclusivo e seu conteúdo de autonomia nacional que caracterizou os mandatos de Lula e o primeiro de Dilma Rousseff. Da perspectiva dos setores de esquerda há uma crítica ao modelo que propõe aliar crescimento econômico e atendimento das demandas sociais. Questiona-se a possibilidade de tal concertação entre o nível empresarial e o nível social. Dessa crítica, no entanto, não emergem, tampouco, alterna- tivas viáveis. Na perspectiva dos segmentos pautados pelo neoliberalismo, as repostas são dadas pela discussão de produtividade e de eficiência, ainda Pós-Universo 28 que não respondam às demandas sociais. Seja como for, o que observo é a construção de um novo modelo neoliberal cristalizando-se para além de en- frentamentos discursivos. Que estratégias podem minimizar essa distância entre o discurso legitima- do da garantia de direitos e a prática de transformar qualquer direito em mercadoria? Como enfrentar esse embate ideológico? Quais seriam os me- canismos de superação dos grandes desafios da saúde e quais os processos sociais mais qualificados para efetivá-los? A 15ª CNS se desenrola em um cenário de busca de respostas a essas perguntas (GADELHA, 2015, p. 2051- 2053 – grifo nosso). Neste sentido, verifica-se que os avanços e retrocessos do Sistema únicode Saúde vão se constituindo à medida que os mecanismos políticos e econômicos se fundam na sociedade capitalista em que vivemos. Não será possível desvincular essas relações, pois as conquistas ou não das políticas públicas/sociais são uma representação do movimento da luta de classes. Ou seja, podemos considerar que são as múltiplas de- terminações que se dão neste modelo de sociedade que a constituem. Ainda temos Minecucci (2009) que pode complementar essa discussão: A falta de identificação dos segmentos organizados da população com uma assistência pública e igualitária contribuiu para o enfraquecimento da proposta de caráter publicista e universalista e para o fortalecimento da segmentação, reforçando a perspectiva de que ao SUS cabe a cobertura da população mais pobre e em condições desfavoráveis de inserção no mercado de trabalho. Outro legado das políticas prévias é a dependência do sistema público em relação à rede privada prestadora de serviços. Ao longo das duas últimas décadas, tem ocorrido a ampliação da rede pública, principalmente a am- bulatorial, que aponta tanto o esforço para universalização da assistência a partir da garantia de acesso à atenção primária e de reversão do modelo as- sistencial centrado no atendimento hospitalar, quanto está relacionada ao aprofundamento do processo de descentralização, gerando maior pressão sobre os governos locais (MINECUCCI, 2009, p.1622). Pós-Universo 29 AS ATUAIS POLÍTICAS PÚBLICAS E AS POLÍTICAS PÚBLICAS INDIRETAS VOLTADAS PARA A SAÚDE. Escolhemos nesta subseção do texto apresentar os programas, ações e estratégias viabilizadas pelo Ministério da Saúde e sua instância, o Departamento de Atenção Básica – DAB. Esses podem nos dar uma visão do que o Estado entende por políti- cas públicas de saúde. Pós-Universo 30 Fonte: http://portalsaude.saude.gov.br/index.php/cidadao/acoes-e-programas O Departamento de Atenção Básica (DAB) integra a Secretaria de Atenção à Saúde e tem atribuições e competências definidas pelo Decreto nº 7530/2011, que estabelece a estrutura regimental do Ministério da Saúde, e também pela Portaria nº 2488/2011, que aprovou a Política Nacional de Atenção Básica. Entre as suas prin- cipais funções, estão: a. Definir e rever periodicamente, de forma pactuada, com as entidades repre- sentantes dos Secretários Estaduais de Saúde (CONASS) e das Secretarias Municipais de Saúde (CONASEMS), as diretrizes da Política Nacional de Atenção Básica, observando os princípios e diretrizes do SUS; Pós-Universo 31 b. Garantir fontes de recursos federais para compor o financiamento da Atenção Básica; c. Estabelecer as diretrizes nacionais e disponibilizar instrumentos técnicos e pedagógicos que facilitem o processo de gestão, de formação e educação permanente dos gestores e profissionais da Atenção Básica; d. Desenvolver estratégias de articulação com as gestões estaduais e muni- cipais do SUS com vistas à institucionalização da avaliação e qualificação da Atenção Básica; e. Prestar cooperação técnica a Estados, a Municípios e ao Distrito Federal na organização, qualificação e de consolidação da Atenção Básica; f. Articular com o Ministério da Educação estratégias de indução às mu- danças curriculares nos cursos de graduação e pós-graduação na área da saúde visando à formação de profissionais e gestores com perfil adequa- do à Atenção Básica. O Departamento também normatiza e coordena a implantação de políticas e progra- mas estratégicos no âmbito do Ministério da Saúde, entre elas: a Estratégia Saúde da Família (que compõe a Política Nacional de Atenção Básica); Brasil Sorridente (Política Nacional de Saúde Bucal); Política Nacional de Alimentação e Nutrição; Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares; Programa de Requalificação das Unidades Básicas de Saúde; Programa Nacional de Melhoria do Acesso e Qualidade na Atenção Básica (PMAQ-AB); Programa Telessaúde Brasil Redes; Equipes de Consultórios na Rua e o Programa Saúde na Escola (PSE). Para além, o DAB tem responsabilidade direta com grande parte das ações do Programa Brasil Carinhoso. http://dab.saude.gov.br/ portaldab/dab.php Pós-Universo 32 Pós-Universo 33 PROGRAMA ACADEMIA DA SAÚDE O Programa Academia da Saúde foi lançado pelo Ministério da Saúde (MS) em 2011 como estratégia de promoção da saúde e produção do cuidado para os mu- nicípios brasileiros. Seu objetivo é promover práticas corporais e atividade física, promoção da alimentação saudável, educação em saúde, entre outros, além de con- tribuir para produção do cuidado e de modos de vida saudáveis e sustentáveis da população. Para tanto, o Programa promove a implantação de polos do Academia da Saúde, que são espaços públicos dotados de infraestrutura, equipamentos e pro- fissionais qualificados. A ideia do programa surgiu inspirada em algumas inciativas que vinham sendo desenvolvidas em Recife, Curitiba, Vitória, Aracaju e Belo Horizonte. Essas experiên- cias locais tinham em comum a prática da atividade física e outras práticas corporais, a presença de profissionais orientadores, o uso e a potencialização de espaços pú- blicos como espaços de inclusão, de participação, de lazer, de promoção da cultura da paz, além de serem custeadas e mantidas pelo poder público. A avaliação positi- va dessas experiências reforçou a ideia do fortalecimento de iniciativas semelhantes em todo o país na forma de um programa nacional no âmbito do Sistema Único de Saúde. Na mesma época, o Ministério da Saúde, em relação à Atenção à Saúde, discutia a formação das Redes de Atenção à Saúde e conduzia o processo de implantação dos Núcleos de Apoio à Saúde da Família (NASF) como uma das principais ações da Atenção Básica. Com isso, a corresponsabilidade na produção do cuidado e a im- portância da multiprofissionalidade ganharam destaque. No campo da vigilância, aparecia a necessidade de fomentar ações de prevenção e controle das Doenças Crônicas Não-Transmissíveis (DCNT), apontando a atividade física e as práticas corpo- rais como as principais ações de intervenção sobre os fatores de risco destas doenças. Pós-Universo 34 A partir da convergência desses contextos, em 2011, foi instituído o Programa Academia da Saúde com a publicação da Portaria nº 719, de 07 de abril de 2011 . Depois, em 2013, o Programa passou por ajustes e aperfeiçoamentos, tendo sido re- definido pela Portaria nº 2.681, de 7 de novembro de 2013. O Programa Academia da Saúde adota uma concepção ampliada de saúde e es- tabelece como ponto de partida o reconhecimento do impacto social, econômico, político e cultural sobre a saúde. Por isso, apesar do nome, o Programa não se restrin- ge a realização de práticas corporais e atividades físicas e promoção da alimentação saudável. Mais do que isso, os polos foram concebidos como espaços voltados ao desenvolvimento de ações culturalmente inseridas e adaptadas aos territórios locais e que adotam como valores norteadores de suas atividades o desenvolvimento de autonomia, equidade, empoderamento, participação social, entre outros. Nesse sentido, a Portaria nº 2.681 estabelece oito eixos em torno dos quais as atividades do polo devem ser desenvolvidas: práticas corporais e atividades físicas, promoção da alimentação saudável, mobilização da comunidade, educação em saúde, práticas artísticas e culturais, produção do cuidado e de modos de vida saudável, práticas in- tegrativas e complementares, e planejamento e gestão. Além disso, um aspecto importante que contribui para a consecução dos obje- tivos propostos é que não se trata de um serviço isolado. O Programa faz parte da estrutura organizacional das Redes de Atenção à Saúde (RAS), como componente da Atenção Básica e, por isso, funciona também como porta de entrada no SUS. De acordo com meta estabelecida no Plano Plurianual 2011-2015, o Ministério da Saúde deve habilitar 4.800 polos do Programa até o finalde 2015, mas espera atingir essa meta ainda em 2014. Trata-se de uma política pública capilarizada no territó- rio, visto que já alcançou mais de 2.660 municípios brasileiros, de todas as unidades da federação, o que indica o compromisso do estado brasileiro com a promoção da saúde e de modos de vida saudáveis e sustentáveis em todo o território nacional. http://portalsaude.saude.gov.br/ Pós-Universo 35 AMAMENTA E ALIMENTA BRASIL A “Estratégia Nacional para Promoção do Aleitamento Materno e Alimentação Complementar Saudável no SUS - Estratégia Amamenta e Alimenta Brasil”, lançada em 2012, tem como objetivo qualificar o processo de trabalho dos pro- fissionais da atenção básica com o intuito de reforçar e incentivar a promoção do aleitamento materno e da alimentação saudável para crianças menores de dois anos no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS). Essa iniciativa é o resultado da integra- ção de duas ações importantes do Ministério da Saúde: a Rede Amamenta Brasil e a Estratégia Nacional para a Alimentação Complementar Saudável (ENPACS), que se uniram para formar essa nova estratégia, que tem como compromisso a formação de recursos humanos na atenção básica. As bases legais adotadas para a formulação da estratégia são políticas e programas já existentes como a Política Nacional de Atenção Básica (PNAB), a Política Nacional de Promoção da Saúde (PNPS), a Política Nacional de Alimentação e Nutrição (PNAN), a Política Nacional de Aleitamento Materno (PNAM) e a Rede Cegonha. A Coordenação-Geral de Alimentação e Nutrição (CGAN/DAB/SAS) e a Área Técnica de Saúde da Criança e Aleitamento Materno (ATSCAM/DAPES/SAS), do Ministério da Saúde, em parceria com as Secretarias Estaduais e Municipais de Saúde, são os res- ponsáveis pela formulação das ações da nova estratégia, que visa colaborar com as iniciativas para a atenção integral da saúde das crianças. Elas têm como princípio a educação permanente em saúde e como base a metodologia crítico-reflexiva que é desenvolvida por meio de atividades teóricas e práticas, leituras e discussões de texto, troca de experiência, dinâmicas de grupo, conhecimento da realidade local, sínteses e planos de ação. Pós-Universo 36 Para a efetivação da estratégia os estados e municípios deverão se organizar para formar os profissionais da atenção básica por meio de duas ações: formação de tutores e oficinas de trabalho na Unidade Básica de Saúde (UBS): Oficina de formação de tutores - Visa qualificar profissionais de referência que serão responsáveis em disseminar a estratégia e realizar oficinas de trabalho nas suas respectivas UBS. Esses profissionais são os pilares da estratégia e devem apoiar o plane- jamento, o acompanhamento e/ou fortalecimento das ações de promoção, proteção e apoio ao aleitamento materno e à alimentação complementar saudável nas UBS, de forma contínua. O Ministério da Saúde, a partir de março de 2013, irá formar 1000 tutores em todos os estados brasileiros para capilarizar a estratégia nos municípios. Oficina de trabalho na UBS - Visa discutir a prática do aleitamento materno e alimentação complementar saudável com os profissionais da UBS e planejar ações de incentivo à alimentação saudável na infância, de acordo com a realidade local. Essa oficina é o ponto de partida para o desenvolvimento de ações com o objetivo de promover, proteger e apoiar a prática do aleitamento materno e alimentação com- plementar saudável. Essas oficinas acontecem a partir de um cronograma firmado entre as UBS e a secretaria de saúde, que em um primeiro momento deve ser de cinco horas, de acordo com a metodologia proposta. Em um segundo momento, uma oficina mais curta deve ser realizada para discutir temas específicos segundo a realidade de cada UBS. Como exemplo dessas discussões estão o manejo do alei- tamento materno, prática da alimentação complementar, desenvolvimento infantil, Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (SISVAN), entre outros. Para complementar a formação dos tutores formados na nova estratégia, bem como os tutores da Rede Amamenta e da ENPACS, o ministério lançará no segundo semestre de 2013 o Curso de Educação à Distância (EAD) sobre Aleitamento Materno e Alimentação Complementar Saudável. http://dab.saude.gov.br/portaldab/amamenta.php O Brasil Sorridente - Política Nacional de Saúde Bucal - é o programa do governo federal que tem mudado a Atenção da Saúde Bucal no Brasil. Pós-Universo 37 De modo a garantir ações de promoção, prevenção e recuperação da saúde bucal da população brasileira, o Brasil Sorridente reúne uma série de ações para ampliação do acesso ao tratamento odontológico gratuito, por meio do Sistema Único de Saúde (SUS). As principais linhas de ação do programa são: 1. Reorganização da Atenção Básica em saúde bucal, principalmente com a implantação das Equipes de Saúde Bucal na Estratégia Saúde da Família; 2. Ampliação e qualificação da Atenção Especializada, em especial com a implanta- ção de Centros de Especialidades Odontológicas e Laboratórios Regionais de Próteses Dentárias. Na Atenção Especializada encontra-se também a Assistência Hospitalar. O Brasil Sorridente contempla ainda o Brasil Sorridente Indígena e apresenta interface com outras ações desenvolvidas pelo Ministério da Saúde, o que ajuda a compreen- der seu alcance. Saiba mais sobre as ações em Saúde Bucal nas seguintes ações do governo federal: Programa Saúde na Escola , Brasil sem Miséria, Plano Nacional para Pessoas com Deficiência, Qualificação Profissional e Científica e Fluoretação das Águas de Abastecimento Público. http://dab.saude.gov.br/portaldab/ape_brasil_sorridente.php A estratégia Consultório na Rua foi instituída pela Política Nacional de Atenção Básica, em 2011, e visa ampliar o acesso da população em situação de rua aos servi- ços de saúde, ofertando, de maneira mais oportuna, atenção integral à saúde para esse grupo populacional, o qual se encontra em condições de vulnerabilidade e com os vínculos familiares interrompidos ou fragilizados. Chamamos de Consultório na Rua equipes multiprofissionais que desenvolvem ações integrais de saúde frente às necessidades dessa população. Elas devem reali- zar suas atividades de forma itinerante e, quando necessário, desenvolver ações em parceria com as equipes das Unidades Básicas de Saúde do território. Ressalta-se que a responsabilidade pela atenção à saúde da população em si- tuação de rua como de qualquer outro cidadão é de todo e qualquer profissional do Sistema Único de Saúde, mesmo que ele não seja componente de uma equipe de Consultório na Rua (eCR). Desta forma, em municípios ou áreas em que não haja eCR, a atenção deverá ser prestada pelas demais modalidades de equipes da Atenção Básica. É importante destacar, ainda, que o cuidado em saúde da população em si- tuação de rua deverá incluir os profissionais de Saúde Bucal e os Nasf do território onde essas pessoas estão concentradas. Pós-Universo 38 As equipes dos Consultórios na Rua podem ser organizadas em três modalidades: Item 1: Enfermeiro, Psicólogo, Assistente Social e Terapeuta Ocupacional Item 2: Agente Social, Técnico ou Auxiliar de Enfermagem, técnico em Saúde Bucal, Cirurgião Dentista, profissional de Educação Física e profissional com formação em Arte e Educação. http://dab.saude.gov.br/portaldab/ape_consultorio_rua.php A Estratégia Saúde da Família (ESF) visa à reorganização da atenção básica no País, de acordo com os preceitos do Sistema Único de Saúde, e é tida pelo Ministério da Saúde e gestores estaduais e municipais como estratégia de expansão, qualifica- ção e consolidação da atenção básica por favorecer uma reorientação do processo de trabalho com maior potencial de aprofundar os princípios, diretrizes e fundamentos da atenção básica, de ampliar a resolutividade e impacto na situação de saúde das pessoas e coletividades, além de propiciar uma importante relaçãocusto-efetividade. Um ponto importante é o estabelecimento de uma equipe multiprofissional (equipe de Saúde da Família – eSF) composta por, no mínimo: (I) médico generalista, ou es- pecialista em Saúde da Família, ou médico de Família e Comunidade; (II) enfermeiro generalista ou especialista em Saúde da Família; (III) auxiliar ou técnico de enfermagem; e (IV) agentes comunitários de saúde. Podem ser acrescentados a essa composição os profissionais de Saúde Bucal: cirurgião-dentista generalista ou especialista em Saúde da Família, auxiliar e/ou técnico em Saúde Bucal. Mais informações sobre as atribuições das equipes de Saúde da Família, assim como de cada profissional, você encontra nos itens 4.3 e 4.4 da Política Nacional de Atenção Básica. É prevista, ainda, a implantação da Estratégia de Agentes Comunitários de Saúde nas Unidades Básicas de Saúde como uma possibilidade para a reorganização inicial da atenção básica com vistas à implantação gradual da ESF ou como uma forma de Pós-Universo 39 agregar os agentes comunitários a outras maneiras de organização da atenção básica. Cada equipe de Saúde da Família (eSF) deve ser responsável por, no máximo, 4.000 pessoas, sendo a média recomendada de 3.000 pessoas, respeitando critérios de equidade para essa definição. Recomenda-se que o número de pessoas por equipe considere o grau de vulnerabilidade das famílias daquele território, sendo que, quanto maior o grau de vulnerabilidade, menor deverá ser a quantidade de pessoas por equipe. http://dab.saude.gov.br/portaldab/ape_esf.php Equipes de Saúde da Família Ribeirinhas e Fluviais As equipes de Saúde da Família Ribeirinhas e as Unidades Básicas de Saúde Fluviais estão direcionadas para o atendimento da população ribeirinha da Amazônia Legal e Pantanal Sul-Mato-Grossense, respectivamente. Considerando as especificidades locais, os municípios podem optar entre dois arranjos organizacionais para equipes de Saúde da Família, além dos existentes para o restante do País: I. Equipes de Saúde da Família Ribeirinhas (eSFR): desempenham a maior parte de suas funções em Unidades Básicas de Saúde (UBS) construídas/ localizadas nas comunidades pertencentes a regiões à beira de rios e lagos cujo acesso se dá por meio fluvial; e II. Equipes de Saúde da Família Fluviais (eSFF): desempenham suas funções em Unidades Básicas de Saúde Fluviais (UBSF). III. A implantação das equipes de Saúde da Família Ribeirinhas e Fluviais segue os mesmos critérios das equipes e dos Núcleos de Apoio à Saúde da Família. Obtenha mais informações na página 101 da Política Nacional de Atenção Básica. http://dab.saude.gov.br/portaldab/ape_esf.php Pós-Universo 40 Saúde e Sus Atenção Básica O e-SUS Atenção Básica (e-SUS AB) é uma estratégia do Departamento de Atenção Básica para reestruturar as informações da Atenção Básica em nível nacional. Esta ação está alinhada com a proposta mais geral de reestruturação dos Sistemas de Informação em Saúde do Ministério da Saúde, entendendo que a qualificação da gestão da in- formação é fundamental para ampliar a qualidade no atendimento à população. A estratégia e-SUS AB, faz referência ao processo de informatização qualificada do SUS em busca de um SUS eletrônico. http://dab.saude.gov.br/portaldab/esus.php Os Núcleos de Apoio à Saúde da Família (NASF) foram criados pelo Ministério da Saúde em 2008 com o objetivo de apoiar a consolidação da Atenção Básica no Brasil, ampliando as ofertas de saúde na rede de serviços, assim como a resolutivida- de, a abrangência e o alvo das ações. Atualmente regulamentados pela Portaria nº 2.488, de 21 de outubro de 2011, configuram-se como equipes multiprofissionais que atuam de forma integrada com as equipes de Saúde da Família (eSF), as equipes de atenção básica para populações específicas (consultórios na rua, equipes ribeirinhas e fluviais) e com o Programa Academia da Saúde. Esta atuação integrada permite realizar discussões de casos clínicos, possibilita o atendimento compartilhado entre profissionais tanto na Unidade de Saúde como nas visitas domiciliares, permite a construção conjunta de projetos terapêuticos de forma que amplia e qualifica as intervenções no território e na saúde de grupos popula- cionais. Essas ações de saúde também podem ser intersetoriais, com foco prioritário nas ações de prevenção e promoção da saúde. Com a publicação da Portaria 3.124, de 28 de dezembro de 2012, o Ministério da Saúde criou uma terceira modalidade de conformação de equipe: o NASF 3, abrindo a possibilidade de qualquer município do Brasil faça implantação de equipes NASF, desde que tenha ao menos uma equipe de Saúde da Família. Pós-Universo 41 As modalidades de NASF hoje estão assim definidas: Modalidades Nº de equipes vinculadas Somatória das Cargas Horárias Profissionais* NASF 1 5 a 9 eSF e/ou eAB para populações específicas (eCR, eSFR e eSFF) Mínimo 200 horas semanais; Cada ocupa- ção deve ter no mínimo 20h e no máximo 80h de carga horária semanal; NASF 2 3 a 4 eSF e/ou eAB para populações específicas (eCR, eSFR e eSFF) Mínimo 120 horas semanais; Cada ocupa- ção deve ter no mínimo 20h e no máximo 40h de carga horária semanal; NASF 3 1 a 2 eSF e/ou eAB para populações específicas (eCR, eSFR e eSFF) Mínimo 80 horas semanais; Cada ocupa- ção deve ter no mínimo 20h e no máximo 40h de carga horária semanal; *Nenhum profissional poderá ter carga horária semanal menor que 20 horas. eCR - Equipe Consultório na Rua; eSFR - Equipe Saúde da Família Ribeirinha; eSFF - Equipe Saúde da Família Fluvial Poderão compor os NASF as seguintes ocupações do Código Brasileiro de Ocupações (CBO): Médico acupunturista; assistente social; profissional/professor de educação física; farmacêutico; fisioterapeuta; fonoaudiólogo; médico ginecologista/obstetra; médico homeopata; nutricionista; médico pediatra; psicólogo; médico psiquiatra; terapeuta ocupacional; médico geriatra; médico internista (clínica médica), médico do trabalho, médico veterinário, profissional com formação em arte e educação (arte educador) e profissional de saúde sanitarista, ou seja, profissional graduado na área de saúde com pós-graduação em saúde pública ou coletiva ou graduado diretamente em uma dessas áreas. A composição de cada um dos NASF será definida pelos gestores municipais, se- guindo os critérios de prioridade identificados a partir dos dados epidemiológicos e das necessidades locais e das equipes de saúde que serão apoiadas. http://dab. saude.gov.br/portaldab/ape_nasf.php Pós-Universo 42 NutriSus Lançada oficialmente em março de 2015, pelo Ministério da Saúde, a Estratégia de fortificação da alimentação infantil com micronutrientes em pó – NutriSUS consiste na adição direta de nutrientes à alimentação oferecida às crianças de 6 meses a 3 anos e 11 meses em creches. A ação já vem sendo implantada em diversos municípios brasileiros e nasceu a partir da prioridade de cuidado integral à saúde das crianças de zero a seis anos es- tabelecida pela Ação Brasil Carinhoso, componente do Plano Brasil Sem Miséria. Implantada inicialmente nas creches participantes do Programa Saúde na Escola, a iniciativa tem o objetivo de potencializar o pleno desenvolvimento infantil, a pre- venção e o controle da anemia e outras carências nutricionais específicas na infância. Identificou-se que 200 milhões de crianças menores de cinco anos, residentes em países em desenvolvimento, não atingem seu potencial de desenvolvimento, e a anemia é um dos fatores atribuídos a essa condição. Essas crianças possuem maior probabilidade de baixo rendimento escolar, o que provavelmente contribui para a transmissão intergeracional da pobreza com implicações para o desenvolvimento dos países. Tal tipo de estratégia, amplamente estudada por todo o mundo e imple- mentada com sucesso em diferentes continentes, já acumula muitas evidências de eficácia e efetividade e,recentemente, teve essa importância reconhecida, em guia específico da Organização Mundial da Saúde. http://dab.saude.gov.br/portaldab/ape_pcan.php?conteudo=nutrisus Programa de Melhoria do Acesso e da Qualidade O PMAQ-AB tem como objetivo incentivar os gestores e as equipes a melhorar a qua- lidade dos serviços de saúde oferecidos aos cidadãos do território. Para isso, propõe um conjunto de estratégias de qualificação, acompanhamento e avaliação do tra- balho das equipes de saúde. Pós-Universo 43 O programa eleva o repasse de recursos do incentivo federal para os municípios participantes que atingirem melhora no padrão de qualidade no atendimento. O pro- grama foi lançado em 2011 e agora, em 2015, inicia seu 3º ciclo com a participação de todas as equipes de saúde da Atenção Básica (Saúde da Família e Parametrizada), incluindo as equipes de Saúde Bucal, Núcleos de Apoio à Saúde da Família e Centros de Especialidades Odontológicas que se encontrem em conformidade com a PNAB. http://dab.saude.gov.br/portaldab/ape_pmaq.php O campo das práticas integrativas e complementares contempla sistemas médicos complexos e recursos terapêuticos, os quais são também denominados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) de medicina tradicional e complemen- tar/alternativa (MT/MCA). Tais sistemas e recursos envolvem abordagens que buscam estimular os mecanismos naturais de prevenção de agravos e recuperação da saúde por meio de tecnologias eficazes e seguras, com ênfase na escuta acolhedora, no de- senvolvimento do vínculo terapêutico e na integração do ser humano com o meio ambiente e a sociedade. Outros pontos compartilhados pelas diversas abordagens abrangidas nesse campo são a visão ampliada do processo saúde-doença e a pro- moção global do cuidado humano, especialmente do autocuidado. Com a publicação da Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC), a homeopatia, as plantas medicinais e fitoterápicas, a medicina tradicional chinesa/acupuntura, a medicina antroposófica e o termalismo social-crenoterapia foram institucionalizados no Sistema Único de Saúde (SUS). Todas as ações decorrentes das políticas nacionais voltadas à integração das práti- cas integrativas e complementares ao SUS, principalmente quando se utilizam plantas medicinais e derivados como recurso terapêutico, perpassam pelo entendimento e valorização da multiculturalidade e interculturalidade, por gestores e profissionais de saúde, para maior equidade e integralidade da atenção. Interculturalidade pode ser entendida como modo de coexistência no qual os indivíduos, grupos e instituições, com características culturais e posições diferentes, convivem e interagem de forma aberta, inclusiva, horizontal, respeitosa e se refor- çam mutuamente, em um contexto compartilhado. Assim, a Política Nacional de Atenção Básica preconiza que esse nível de atenção considera o sujeito em sua singularidade e inserção sociocultural, buscando produ- zir a atenção integral. Pós-Universo 44 Na relação intercultural, busca-se favorecer o entendimento de pessoas com cul- turas diferentes, em que a escuta e o enriquecimento dos diversos espaços de relação são facilitados e promovidos visando ao fortalecimento da identidade própria, do autocuidado, da autoestima, da valoração da diversidade e das diferenças, além de proporcionar o desenvolvimento de uma consciência de interdependência para o be- nefício e desenvolvimento comum. http://dab.saude.gov.br/portaldab/ape_pic.php Prevenção e Controle de Agravos Nutricionais O Brasil tem vivenciado uma peculiar e rápida transição nutricional: de um país que apresentava altas taxas de desnutrição, na década de 1970, passou a ser um país com metade da população adulta com excesso de peso, em 2008. No entanto, os avanços são desiguais. Ainda persistem altas prevalências de desnutri- ção crônica em grupos vulneráveis da população, como entre as crianças indígenas, quilombolas, residentes na região norte do País e aquelas pertencentes às famílias beneficiárias dos programas de transferência de renda, afetando principalmente crianças e mulheres que vivem em bolsões de pobreza. A melhoria ao acesso à saúde e à renda da população deveria ter impactado no avanço dos indicadores relativos à deficiência de micronutrientes, mas as pesquisas apontam a persistência das deficiências de ferro e vitamina A. Também se observa o ressurgimento de casos de Beribéri (deficiência de vitamina B1 ou tiamina) em alguns Estados brasileiros e o desajuste do consumo de iodo por adultos, proveniente do consumo excessivo do sal de cozinha iodado. Simultaneamente, o Brasil vem enfrentando o aumento expressivo do sobrepeso e da obesidade, assim como em vários países do mundo. Em função de sua magni- tude e velocidade de evolução, o excesso de peso – que compreende o sobrepeso e a obesidade – é considerado atualmente um dos maiores problemas de saúde pública, afetando todas as faixas etárias. Além dos agravos nutricionais mencionados acima, a PNAN também reconhece as necessidades alimentares especiais como demanda para a atenção nutricional no SUS, referidas na política como sendo as necessidades alimentares, sejam restritivas ou suplementares, de indivíduos portadores de alteração metabólica ou fisiológica Pós-Universo 45 que cause mudanças, temporárias ou permanentes, relacionadas à utilização biológi- ca de nutrientes ou a via de consumo alimentar (enteral ou parenteral). Dessa forma, são exemplos: erros inatos do metabolismo, doença celíaca, HIV/aids, intolerâncias alimentares, alergias alimentares, transtornos alimentares, prematuridade, nefropa- tias, entre outros. A prevenção e o controle dos agravos nutricionais requerem um conjunto amplo de ações de diversos setores. A PNAN constitui-se uma resposta oportuna e específica do SUS para reorganizar, qualificar e aperfeiçoar suas ações para o enfrentamento da complexidade da situação alimentar e nutricional da população brasileira. Aqui você poderá encontrar informações sobre os principais agravos nutricionais que acome- tem a população brasileira e as ações desenvolvidas pelo SUS para contribuir com seu controle e prevenção. http://dab.saude.gov.br/portaldab/ape_pcan.php Programa Bolsa Família O Programa Bolsa Família (PBF) é um programa federal de transferência direta de renda à famílias em situação de pobreza (renda entre R$70,01 a R$140,00 por pessoa) ou de extrema pobreza (renda de até R$70,00 por pessoa), com a finalidade de promo- ver seu acesso aos direitos sociais básicos e romper com o ciclo intergeracional da pobreza. O Programa é realizado por meio de auxílio financeiro vinculado ao cumpri- mento de compromissos na Saúde, Educação e Assistência Social - condicionalidades. As famílias em situação de pobreza e extrema pobreza podem ter maior dificulda- de de acesso e de frequência aos serviços de Saúde. Por este motivo, o objetivo das condicionalidades do Programa é garantir a oferta das ações básicas, e potencializar a melhoria da qualidade de vida das famílias e contribuir para a sua inclusão social. A agenda de saúde do PBF no SUS compreende a oferta de serviços para a realização do pré-natal pelas gestantes, o acompanhamento do crescimento e desenvolvimen- to infantil e imunização. Assim, as famílias beneficiárias do PBF com mulheres com idade entre 14 e 44 anos e crianças menores de sete anos de idade deverão ser as- sistidas por uma equipe de saúde da família, por agentes comunitários de saúde ou por unidades básicas de saúde, que proverão os serviços necessários ao cumprimen- to das ações de responsabilidade da família. Pós-Universo 46 De forma a reforçar o papel do profissional de saúde como ator chave nesse processo, a Política Nacional de Atenção Básica (PNAB-2011) destaca a inserção das ações relativas ao acompanhamento das condicionalidades de saúde do PBF ou de qualquer outro programa similar
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