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Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp 1. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL DAS ANEMIAS As anemias ocorrem em todas as faixas etárias e as vezes é difícil fazer diagnóstico da causa da anemia. O que causa anemia é a redução de hemácias na circulação, com redução da hemoglobina e oxigenação dos tecidos. Os eritroblastos estão em ilhas ao redor de macrófagos na medula óssea. O processo de diferenciação ocorre nessas ilhas, até que ocorra a eliminação do núcleo (reticulócitos – já estão no sangue) e depois formação das hemácias. A diferenciação das células eritropoieticas é induzida pela eritropoietina, que é um hormônio produzido pelo rim. BFU-E: são grandes colônias de células imaturas precursoras aglomeradas que são formadas na fase de diferenciação eritroide. Anemia - corte: Em homens, Hb <13-14 g/dL Em mulheres ou idosos, Hb < 12g/dL O número de reticulócitos que podemos contar no sangue indicam qual problema está acontecendo. Se o defeito for na produção das células, os reticulócitos estão diminuídos (ou normais). Se tiver destruição das hemácias ou perdas excessivas de sangue, os reticulócitos estão aumentados, pois a medula óssea está boa e tentando compensar – a redução da hb reduz oxigenação e aumenta liberação de eritropoietina, aumentando hematopoese. • DEFEITOS DA PRODUÇÃO Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp A primeira fase de produção de hemácias e a fase de diferenciação. Até o BFU podemos considerar fase de diferenciação. Falta de citocinas, falta de fatores de crescimento, estroma defeituoso, integridade da CTH comprometida → tudo isso compromete a diferenciação. Esses efeitos não costumam atingir todas as células, as que sobram produzem normalmente então o VCM (tamanho) e HCM (qtdade de hb) normais. → Anemias da Fase de Diferenciação: DOENÇAS CRÔNICAS Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp Mais comum. Doenças crônicas que alteram fatores de crescimento, citocinas, fibrose da medula, invasão da MO por metástases podem causar anemias. Ex.: insuficiência renal (falta EPO), doenças da tireoide, doenças hepáticas, doenças inflamatórias (causa aumento exagerado de citocinas que pode causar morte celular), neoplasias em geral (inflamação ou invasão da medula). DOENÇAS PRIMÁRIAS DA MEDULA ÓSSEA Comprometem e agridem a CTH, ou mutações. Ex.: displasias, leucemias, aplasias etc. As anemias da fase de diferenciação cursam com anemia (redução de eritrócitos) e também redução de plaquetas e neutrófilos, gerando pancitopenia. Isso ocorre porque ela compromete a CD34+ (CTH), muito no início da hematopoiese. A anemia geralmente é normocítica e normocromica. Eventualmente, hemograma pode mostrar células anormais (imaturas ou neoplásicas), mostrando que há algo de errado na MO. - Outro defeito de produção ocorre na fase de multiplicação das células hematopoiéticas. A fase de multiplicação é fundamental para expansão grande dos precursores das hemácias, pois precisamos de muitas. Essa fase depende muito da síntese de DNA. Este é muito dependente de vitamina B12, ácido fólico. Eles induzem a transformação de uridina a timidina, que é incorporada no DNA. Sem eles, não há síntese de DNA. Quando isso ocorre, formam-se menos hemácias e as que se formam são grandes (porque tem muito núcleo que não se dividiu – VCM aumentado) e com conteúdo maior de citoplasma (aumento de hb – HCM aumentado). → Anemias da Fase de Multiplicação: Costumam ser macrocíticas. Causas costumam ser deficiência de vitamina b12 e folato. Isso pode ocorrer em qualquer idade. Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp Outra fase de defeitos de produção é a de hemo-globinização. Ocorre quando há grande incorporação de hb no citoplasma. Se ocorrerem erros, a hemácia fica mais descorada, sem hb (menos HCM). E ficam menores, pois hb é o que mais tem lá dentro (VCM baixo). Então nesses casos a anemia é microcítica e hipocrômica. As causas são relacionadas com a formação de hemoglobinas. A hb é formada por cadeias de globinas, heme e ferro. Portanto, se faltar algum desses componentes a síntese de hb estará comprometida. Ferro: anemia ferropriva e doenças crônicas (raro, ferro não conseguem ser bem absorvidos ou transportados pelo sangue); Globina: talassemias. Heme: anemia sideroblástica. Essas foram anemias da fase de produção. Agora tem anemias que ocorrem quando a hemácia já caiu na circulação. • ANEMIAS DA FASE CIRCULATÓRIA São as anemias por hemólise ou hemorragias, teve diminuição dos eritrócitos por mecanismos periféricos. Se a MO estiver bem, os reticulócitos estarão aumentados. Causas: sangramento agudo, destruição precoce das hemácias (hemólise). A membrana das hemácias é muito sofisticada. Existem interações entre essas proteínas que se ocorrem falta ou mutações dessas proteínas, as hemácias não sobrevivem 120 dias. Existem também defeitos que comprometem a globina, não por falta ela, mas modificações estruturais que causam maior instabilidade e encurtam a sobrevida da hemácia (anemia hemolíticas). Outra causa é falta de enzimas das hemácias por mutações. As enzimas das hemácias são fundamentais para a sobrevivência delas por 120 dias. Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp Como a hemácia é anucleada, a energia vem do metabolismo da glicose no citoplasma. Via glicolítica, via das pentoses (impede oxidação da hemácia), via de reciclagem dos componentes. A hemólise só causa anemia se a sobrevida da hemácia diminui < 20 dias pois a medula óssea consegue proliferar em até 6 a 10 vezes. Então, muitas vezes a pessoa tem destruição de hemácias, mas já aumentou EPO e aumentou a taxa de produção da MO (compensando). Tem destruição, mas não tem anemia. A destruição das hemácias pode ser tanto congênita quanto adquirida. → Anemias Hemolíticas Congênitas: Ocorrem por defeitos intrínsecos da hemácia, que podem ser na membrana, hb ou enzimas. Defeitos da membrana: esferocitose e eliptocitose hereditárias. Defeitos da Hb: anemia falciforme, talassemias, hemoglobinopatia C. Defeitos enzimáticos: deficiência de G6PD (via das pentoses – oxidação da hemácia) e deficiência da piruvato-quinase (redução de ATP). Os defeitos na membrana das hemácias causam defeitos verticais, ou seja, mutações em proteínas inseridas na membrana. A hemácia vai formando vesículas e perdendo membrana e fica rígida e esférica. Por isso o nome de esferocitose. Os defeitos na hb envolvem desnaturação, alteração da morfologia que tornam elas rígidas. Os defeitos hereditários na hemácia são importantes na seleção natural dos hospedeiros em algumas parasitoses, como na malária. Eles causam pior entrada do plasmódio na hemácia, ou morte precoce da hemácia antes que o parasita complete o ciclo. Os indivíduos tem menos malária ou malária menos grave. → Anemias Hemolíticas Adquiridas: Essas anemias também podem ser adquiridas, ou seja, hemácia foi bem formada, mas alguma coisa está causando a morte dela. Esses defeitos extrínsecos são mais comuns. Causas: Imune: anticorpos que se ligam a membrana das hemácias e causam aprisionamento e degradação mais precoce. Mecânicas: defeitos na circulação (alteração do fluxo laminar) – hemácias fragmentadas. Parasitismo da hemácia: malária (causam apoptose no final do ciclo do parasita). Agentes físicos, químicos e toxinas: infecções (Clostridium), calor, oxidantes. Sinais e sintomas das anemias em geral: Qualquer que seja a causa, quando suficientemente grave, a anemia provoca algumas características clínicas. Os pacientes têm um aspecto pálido. Fraqueza, mal-estar e cansaço fácil constituem queixas comuns. O menor teor de oxigênio no sangue Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp circulante provoca dispneia ao esforço leve. Hipóxia pode causar alteração gordurosa no fígado, no miocárdio e nos rins. Seas alterações gordurosas no miocárdio forem suficientemente graves, é possível desenvolver-se insuficiência cardíaca e ocorrer aumento da hipóxia tissular causada pela deficiência de O2 no sangue. 2. ANEMIAS CARENCIAIS Anemias com reticulócitos diminuídos! Ou seja, a medula faz menos eritropoese por falta de matéria prima, seja para síntese de DNA, seja para formação de Hb, etc. Existem dois tipos mais comuns de anemias carenciais: falta de vitamina B12 e ácido fólico (anemias megaloblásticas) e falta de ferro (anemia ferropriva). ANEMIA MEGALOBLÁSTICA Maturação retardada do núcleo em relação ao citoplasma, ficando bem aumentado por defeito na síntese correta de DNA. Assim, as hemácias são macrocíticas. Principais causas: Deficiência de vitamina b12 ou folato (ác. Fólico); Anormalidades no metabolismo de folato ou vit b12 (deficiência de transcobalamina II, drogas anti-folato); Defeitos na síntese do DNA (def enzimáticas congênitas ou adquirida – álcool, drogas antimetabólicas); - Absorção da vitamina b12 e ac fólico no trato gastrointestinal: Absorvemos vitamina B12 na altura do íleo. A B12 é absorvida conjugada ao fator intrínseco produzido pelas células parietais do estomago (fundo gástrico). O folato é absorvido na forma de metil- tetrahidrofolato. O folato somente é utilizado na forma de tetrahidrofolato e essa conversão é realizada pela vitamina B12 (coenzima). Assim, se houver deficiência de vitamina B12 não haverá a conversão e o folato suplementado não será utilizado. Assim, sempre devemos excluir a deficiência de vitamina b12 antes de começar terapia com reposição de folato. A anemia megaloblástica resultante da deficiência de ácido fólico é idêntica àquela encontrada na deficiência de vitamina B12. Portanto, somente é possível fazer diagnóstico de deficiência de folato pela demonstração da diminuição dos níveis de folato no soro ou nas hemácias. A deficiência do tetrahidrofolato leva a defeitos da síntese de DNA (ele é precursor da timidina) e o deficiência na metionina leva a defeitos na mielinização, causando manifestações neurológicas. Assim, a deficiência de vita b12 tem Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp manifestações hematológicas (pouca síntese de DNA) e manifestações neurológicas (déficit de mielinização). Principais sintomas: Fraqueza, falta de ar, parestesia, perda de peso, embranquecimento do cabelo, dor na boca, impotência, déficit de memória, depressão, alucinações, alterações da personalidade, distúrbios visuais. A palidez pode ser um sintoma marcante e pode ter uma leve icterícia. A língua careca e a queilite angular aparecem por alteração do epitélio celular do sistema digestivo. Por atrapalhar a síntese de DNA, ela interfere nisso. A anemia megaloblástica por estar associada ao vitiligo, alterações na pigmentação da pele, falência cardíaca, febre, distúrbios sensoriais (vibração, tátil etc), alterações da coluna dorsal (alterações de reflexo, ataxia), degeneração combinada subaguda, atrofia óptica. Na deficiência de ácido fólico, podemos ter distúrbio da formação do tubo neural, como espinha bífida. - Principais causas de deficiência de vitab12: podemos ter alterações na absorção ou na dieta. - Mal Absorção: Fatores gástricos: hipocloridria e/ou redução de fator intrínseco. Isso pode ocorrer na infecção por H. pylori, após cirurgias com redução do estomago (gastrectomia, cirurgia bariátrica), ou anemia perniciosa (doença autoimune com atrofia da mucosa gástrica e def de fator intrínseco). A absorção de vitamina B12 requer o fator intrínseco, que é secretado pelas células parietais da mucosa do fundo gástrico. A anemia perniciosa está associada com outras doenças autoimunes (vitiligo, mixedema, T. de Hashimoto, tireotoxicose, D. Addison). É mais comum em mulheres, pode ser familiar, está associada ao grupo sanguíneo A, carcinoma de estomago, hipoparatireoidismo e hipogamaglobulinemia. A anemia perniciosa é uma forma específica de anemia megaloblástica causada por uma gastrite autoimune que compromete a produção do fator intrínseco, que é necessário para a absorção de vitamina B12 pelo intestino. Fatores intestinais: insuficiência pancreática, doenças inflamatórias do íleo, crescimento bacteriano intestinal anormal (hipogamaglobulinemia). Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp - Condições relacionadas a dieta: uma dieta estritamente vegetariana poderia levar a isso, mas é muito raro. - Principais causas de def de ácido fólico: Dieta pobre em vegetais; Álcool; Mal absorção pelos intestinos (doença celíaca); Aumento das necessidades dele (gestação, hemólise); Drogas (anticonvulsionantes, anticoncepcionais, drogas citotóxicas). → ACHADOS DA ANEMIA MEGALOBLASTICA NO ESFREGAÇO DO SP Hemácias maiores (macrocíticas). A presença de hemácias macrocíticas e ovais (macro-ovalócitos) é altamente característica. Ocorre acentuada variação do tamanho (anisocitose) e da forma (poiquilocitose) das hemácias. A contagem de reticulócitos é baixa. Neutrófilo Hipersegmentado, aparecem porque o déficit na síntese de dna causa hipersegmentação deles. Ajuda muito no diagnóstico. Outras citopenias: plaquetopenia, neutropenia. VCM aumentado: o tamanho das hemácias é aumentado. Pode não estar aumentado quando a anemia megaloblástica está associada a talassemias, anemia ferropriva, casos graves com muita fragmentação das hemácias etc. Além disso, é muito comum a presença de hemólise e hematopoese ineficaz. A hematopoese ineficaz ocorre por conta do distúrbio na síntese de dna que causa déficit de maturação dessas células, então elas morrem dentro da medula. Quando elas morrem há liberação de lactato desidrogenase (LDH) que aparece muito alta no SP (>1000U/L). Pode aparecer aumento de bilirrubina indireta (muita hemólise) e redução de haptoglobina. → ACHADOS NA MEDULA ÓSSEA Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp As alterações da medula óssea são características. É acentuadamente hipercelular, como resultado do aumento dos precursores hematopoiéticos. Alterações megaloblásticas são detectadas em todas as etapas do desenvolvimento eritroide. O diagnóstico da anemia megaloblástica é baseado na quantificação de vitamina b12 e ac fólico; endoscopia (pesquisa de h pylori e gastrite atrófica), podemos fazer anticorpos anti-celula parietal e anti-fator intrínseco, biópsia de duodeno. ANEMIAS FERROPRIVAS Ocorrem por carência de ferro. Deficiência de ferro é o distúrbio nutricional mais comum no mundo. Acomete a terceira fase, a fase de hemoglobinização. Assim, está associada com hemácias microcíticas. VCM e HCM baixos - Metabolismo do Ferro: O ferro é distribuído em 3 compartimentos do nosso corpo: compartimento funcional (hb, mioblogina etc), estoque, circulante ligado a transferrina. Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp - Manifestações Clínicas: Além de anemia, podemos ter glossite indolor, queilite angular, unha em colher ou fissuras nas unhas, disfagia por formação de membranas na faringe (S. plumer- Vinson ou paterson-kelly). Nas crianças, a deficiência de ferro pode causar alterações cognitivas e irritabilidade. - Principais causas de deficiência de ferro: Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp Nas crianças, a principal seria a ingesta inadequada. Já no adulto, estão relacionadas a perda de ferro, alteração da absorção ou aumento das necessidades. - Perda de ferro: sangramento menstrual e gastrointestinal, ancilostomíase. - Absorção: gastrite por H. pylori, doenças do intestino delgado (doença celíaca, cirurgia bariátrica). - Aumento das necessidades: prematuridade, infância, adolescência, estirão de crescimento, gestações. Nas mulheres, é muito importante avaliar a perda menstrual de ferro. A perdanormal de sangue não pode ultrapassar 70ml por mês. Ou seja, usar mais do que 15 absorventes por mês, se perde coágulos, muito sangue a noite. Tudo isso é hipermenorreia. Investigar sangramento gastrointestinal, alterações de habito intestinal (neoplasias de cólon), diarreia, distensão ou desconforto abdominal (doença celíaca), gastrite (h pylori). Para investigar a origem do sangramento pedimos endoscopia e colonoscopia. → ACHADOS DA ANEMIA FERROPRIVA NO ESFREGAÇO DE SP: Hemácias hipocrômicas (pálidas) e microcíticas (pequenas), inclusive com variação de tamanho (anisocitose). O halo central está aumentado. A maioria das hemácias são menores que o núcleo do linfócito (eles medem 8micrometros). Também se observa, de forma característica, poiquilocitose na forma de hemácias pequenas e alongadas (células em pincel ou em lápis). Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp Na deficiência de ferro latente há depleção de ferro, mas as hemácias ainda estão normais. Na anemia propriamente dita há alterações nas hemácias junto com a depleção de ferro. Achados laboratoriais que ajudam no diagnóstico: ferritina, Fe sérico e TIBC. Em situações normais temos estoque normal de ferro, ferro sérico normal e uma capacidade normal de ligação de ferro. Na anemia ferropriva, temos diminuição do estoque (ferritina baixa), diminuição do ferro sérico (Fe baixo) e capacidade de ligação do Fe alta (TIBC alto – para tentar aproveitar o pouco ferro disponível). Na anemia de doença crônica, temos produção de citocinas inflamatórias que sequestram o ferro dos estoques intracelulares e não é disponibilizado para eritropoese. Assim, temos estoque elevado (ferritina alta), ferro sérico baixo, capacidade de ligação normal ou diminuída. Na sobrecarga de ferro, como na hemocromatose, o estoque e o ferro sérico estão muito aumentados e por isso a TIBC está diminuída. → Mecanismos de regulação do metabolismo do ferro: Todo o processo de absorção, utilização e reciclagem é finamente controlado por 2 principais sistemas: IRE-IRP: sensível aos estoques intracelulares de ferro. Hepcidina: sensível aos estoques hepáticos de ferro e ao ferro Tensão de oxigênio: via HIF. • SISTEMA IRE-IRP Se baseia na interação entre as IRP (proteínas reguladoras de ferro) e IRE (elementos responsivos ao ferro). Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp Os IRE são regiões não codificadoras de DNA onde IRP se liga (modulam a expressão genica). Elas são proteínas citoplasmáticas que se ligam aos IRE e ferro. Quando tem muito ferro, o ferro se liga ao IRP, que deixam de interagir com IRE. Quando tem pouco ferro, IRP ficam livres para se ligar aos IRE. Os IRE podem estar na porção 5’ ou na 3’. 5’: bloqueio da transcrição do gene 3’: aumento da transcrição do gene Fe baixo: IRP se ligam ao IRE que estão na porção 5’ do gene da ferritina, bloqueando a transcrição. Assim, ferritina está baixa. Ao mesmo tempo, IRP se ligam ao IRE que estão na porção 3’ do gene para transferrina, aumentando sua transcrição. Assim, o receptor de transferrina fica mais expresso (para otimizar o transporte de ferro). No excesso de ferro as IRP estarão ligadas a ele e não irão modular a expressão genica. • SISTEMA DA HEPCIDINA É o regulador mestre do metabolismo de ferro. Reduz rapidamente os níveis de ferro sérico. É produzida pelo fígado. Se liga com a ferroportina e induz a degradação dela. Assim, para a liberação de ferro de dentro dos estoques e deixa de ter absorção duodenal do ferro. Assim, diminui absorção de ferro e a liberação dele para o sangue. A hepcidina tem pequena atividade antimicrobiana. Indivíduos com maior expressão de hepcidina tem menor disponibilização de ferro e menor susceptibilidade a algumas infecções, pois alguns agentes precisam do ferro no ciclo. Isso confere alguma “proteção” a isso. - Ferro elevado: aumenta hepcidina (e regula abaixando). - Inflamação: aumenta hepcidina e parece que temos deficiência funcional de ferro. - Aumento da atividade eritropoiética (mais glóbulos vermelhos): inibe hepcidina para liberar mais ferro para usar na eritropoese. Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp 3. ANEMIAS HEMOLÍTICAS As anemias hemolíticas compartilham as seguintes características: • Encurtamento do ciclo de vida das hemácias, abaixo dos 120 dias normais. • Elevação dos níveis de eritropoietina e aumento compensatório da eritropoiese. • Acúmulo de produtos de degradação da hemoglobina derivados como parte do processo de hemólise das hemácias. Na maior parte das anemias hemolíticas, a destruição prematura das hemácias também ocorre no interior dos fagócitos, evento referido como hemólise extravascular. Se persistente, a hemólise extravascular provoca hiperplasia dos fagócitos, manifestada por vários graus de esplenomegalia. Em geral, a hemólise extravascular é causada por alterações que tornam a hemácia menos deformável. Alterações extremas na forma são necessárias para que as hemácias naveguem com sucesso pelos sinusoides esplênicos. A redução da deformabilidade torna essa passagem difícil, levando ao sequestro de hemácias e fagocitose no interior dos cordões esplênicos. Independentemente da causa, os principais aspectos clínicos da hemólise extravascular são anemia, esplenomegalia e icterícia. Além de remover hemácias pouco deformáveis, os macrófagos removem partículas, como corpos de Heinz (precipitados de globina desnaturada dentro das hemácias). Após a hemácia cumprir a função de transporte de oxigênio, ela se torna senescente e será capturada pelos macrófagos do baço, fígado e MO. Ela será degradada e os componentes reciclados. Primeiro ocorre separação da hb em globina (síntese de novas proteínas) e grupo heme (bilirrubina). Parte do ferro será acoplado à ferritina que guarda no macrófago (estoque) e outra parte vai sair pela ferroportina, ser convertido a Fe3+ para ser transportado no plasma pela transferrina e voltar a MO para nova síntese de hemes. O sangramento significativo resulta em alterações previsíveis no sangue, envolvendo não apenas as hemácias, mas também os leucócitos e as plaquetas. Se o sangramento for suficientemente maciço para causar diminuição da pressão arterial, a liberação compensatória de hormônios adrenérgicos mobiliza os granulócitos do pool marginal intravascular, resultando em leucocitose. Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp Os sítios principais de destruição são extravascular (SRE – baço, fígado e MO) e intravascular (no sangue). Quando a destruição é muito intensa, o hepatócito não dá conta de conjugar a bilirrubina indireta. Assim, ela circula no sangue na forma de bilirrubina indireta. Assim, bilirrubina indireta é um medidor plasmático de hemólise extravascular. Em alguns tipos de anemia, a hemólise é preferencialmente extravascular (SRE). Mas não é a única possibilidade, podemos ter dentro do próprio vaso (intravascular). Neste caso, os reticulócitos são lisados por algum evento e libera hb livre no plasma. Isso é hemoglobinemia (difícil de medir, não tem rotina para medir isso no sangue em laboratórios). Ela é excretada nos rins, passa pelo glomérulo e os rins retém o ferro (transferrina e ferritina). Fazem estoque na forma de hemossiderina renal, que é uma proteína de estoque do ferro nos rins como tentativa para não excretar ferro porque é muito importante. A hemossidenúria também pode ser medida após alguns dias de evento hemolítico na urina. Pode haver saturação do estoque e parte da hb pode ser excretada na urina (hemoglobinúria). Isso ocorre imediatamente após algum evento hemolítico. → ACHADOS LABORATORIAIS DAS ANEMIAS HEMOLÍTICAS Eles podem ser divididos em 3 grupos: Sinais de aumento da destruição eritroide: nº menor de hemácias, taxa menor de hb, ht menor, subprodutos da degradação. Sinais de aumentoda produção eritroide: a medula normal tenta repor. Precursores medulares mais ativados na medula. Alterações e sinais de danos nos eritrócitos: hemácias em foice, esferócitos (sem halo central), eliptócitos, policromatófilas, etc. Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp Nas anemias hemolíticas há reticulocitose (reticulócitos > 3%). → PARÂMETROS LABORATORIAIS QUE INDICAM HEMÓLISE - Hemólise Intravascular: A primeira coisa que acontece é a queda brusca de haptoglobina sérica (1ª proteína plasmática que se liga a hb livre no plasma para não perder hb – forma-se um complexo muito grande e não é filtrado pelos rins, depois é retirado pelos macrófagos hepáticos). Se ela caiu, é porque está ligada a hb. Quando a hemólise é muito intensa ela fica em níveis indetectáveis de tão baixa. Inversamente, a hb livre na urina aumenta (hemoglobinúria). Principalmente no primeiro dia após o evento hemolítico, porque depois ela vai se juntar haptoglobina e ser impedida se sair na urina. Outra medida é a hemossiderinúria. Medimos a proteína de estoque que será filtrada gradativamente na urina e o seu pico coincide com o pico de haptoglobina sérica (~5º dia após episódio hemolítico). A hb no plasma também faz um gráfico parecido com hemoglobinúria, mas não conseguimos medir. Então, os marcadores da hemólise intravascular são: haptoglobina sérica, hemoglobinúria, hemossiderinúria. Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp “As grandes quantidades de hemoglobina livre liberadas das hemácias lisadas são rapidamente ligadas à haptoglobina, produzindo um complexo que logo é eliminado por fagócitos mononucleares. À medida que a haptoglobina sérica vai sendo depletada, a hemoglobina livre é oxidada em metemoglobina, que tem a cor marrom. As células tubulares proximais renais reabsorvem e catabolizam grande parte da hemoglobina e da metemoglobina filtradas, embora uma parte passe para a urina, conferindo-lhe cor castanho-avermelhada. O ferro liberado da hemoglobina pode acumular-se nas células tubulares, dando origem à hemossiderose renal. Concomitantemente, grupos heme derivados dos complexos hemoglobina-haptoglobina são catabolizados até bilirrubina no interior de fagócitos mononucleares, causando icterícia. Ao contrário da hemólise extravascular, não se observa esplenomegalia.” - Hemólise Extravascular: Reticulocitose: o sinal de degradação intensa de hemácias chega rápido na medula e ela tenta repor. Os reticulócitos aumentam 3 a 6 vezes o nível basal em poucos dias. Aparece no hemograma associado à policromatofilia. Bilirrubina Indireta e LDH: aumento dos produtos do catabolismo dos eritrócitos. Esses parâmetros podem se elevar na hemólise intravascular também, mas não são os melhores parâmetros para isso. ASPECTOS GENÉTICOS DAS ANEMIAS HEMOLÍTICAS Podemos ter defeitos genéticos na membrana, na hb ou nas enzimas das hemácias. Os efeitos intrínsecos são genéticos, hereditários. As alterações extracorpuscular ou ambiental são adquiridas (ex. muito oxidante circulante no sangue). As mais frequentes são as hereditárias. Classificação das Anemias Hemolíticas HEREDITÁRIAS DEFEITOS DE MEMBRANA: alteração morfológica das hemácias. - Esferocitose Hereditária: esferócitos no esfregaço. - Eliptocitose hereditária: eliptócitos. Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp - Ovalocitose do sudeste asiático: em forma de ovo. DEFEITOS NA HB - Variantes de Hb: hb estruturalmente alteradas – hemoglobinopatias. - Síntese Deficitária DEFEITOS ENZIMÁTICOS (metabólicos) - Deficiência de G6PD - Deficiência de Piruvato-quinase ADQUIRIDAS: não tem padrão familiar, geralmente mais em adultos. Imunes: autoimune, aloimune, induzidas por drogas. Hemoglobinúria paroxística noturna (HPN) Síndrome da fragmentação eritrocitária Hemoglobinúria da marcha Secundárias Miscelânea: infecções, químicos, toxinas etc. • ESFEROCITOSE HEREDITÁRIA Esse distúrbio hereditário é causado por defeitos intrínsecos do esqueleto da membrana eritrocitária que tornam as hemácias esferoides, menos deformáveis e vulneráveis ao sequestro e à destruição no baço. Alterações nas 3 proteínas importantes de membrana da hemácia causam alteração da morfologia: banda 3, anquirina, beta espectrina. As hemácias tem volume menor, maior concentração de hb e fragilidade. Qualquer coisa estoura. A hemácia vai perdendo fragmentos de membrana e concentrando hb. Os defeitos da interação vertical seriam responsáveis pela desestabilização da dupla camada lipídica, com consequente perda da superfície da membrana. As células sem formato definido no esfregaço são chamadas de esquizócitos. É um forte sinal de destruição de hemácias. Outros aspectos são comuns a todas as anemias hemolíticas, incluindo reticulocitose, hiperplasia eritroide da medula óssea, hemossiderose e icterícia leve. Um aumento esplênico moderado é característico; em poucas outras anemias hemolíticas, o baço apresenta aumento tão visível ou tão consistente. A esplenomegalia resulta da congestão dos cordões de Billroth e do aumento dos números de fagócitos necessários para se eliminarem os esferócitos. Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp Em meio hipertônico, elas estouram (entra água). Fazemos testes nisso no laboratório (curva de fragilidade osmótica). A hemácia normal aguenta muito mais água. Já se colocar hemácias com esferocitose hereditária, elas vão estourar numa concentração bem menor de sal. - Investigação laboratorial das anormalidades da membrana eritrocitária: Hemograma e morfologia eritrocitária Teste de fragilidade osmótica Análise eletroforética das proteínas de membrana Análise molecular (mais comum) - Diagnóstico diferencial: anemia hemolítica imune, pois na prova de fragilidade temos resultados idênticos. Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp • ANEMIA POR DEFICIENCIA DE G6PD Anormalidades na via da hexose-monofosfato ou no metabolismo da glutationa, resultantes de uma função enzimática deficiente ou prejudicada, reduzem a capacidade das hemácias de se protegerem contra lesões oxidativas e provocam hemólise. É o defeito enzimático mais comum da espécie humana! Herança ligada ao sexo, acometendo muito mais homens. A G6PD reduz a NADP para NADPH, ao mesmo tempo que oxida a glicose-6-fosfato. NADPH, então, fornece os equivalentes redutores necessários à conversão da glutationa oxidada em glutationa reduzida, a qual protege contra a lesão oxidante. Em geral essa deficiência de G6PD é assintomática, só aparece hemólise em resposta a algum evento que cause muito estresse oxidativo (fator desencadeante). Ocorre oxidação de compostos essenciais para sobrevivência da hemácia → hemólise. Os desencadeantes mais comuns são as infecções, em que os radicais livres derivados de oxigênio são produzidos pelos leucócitos ativados. Tudo que se produz oxidação pode desencadear hemólise aguda nos pacientes com deficiência de G6PD. Infecções e outras doenças agudas Drogas: - Anti-maláricos - sulfonamidas e sulfonas - outros agentes anti-bacterianos (ex. cloranfenicol) - analgésicos (ex. aspirina) - anti-helminticos - outros (ex. análogos da vimatina K, naftalina etc). Feijão fava: hiperoxidante. Os oxidantes causam tanto a hemólise intravascular quanto a extravascular em indivíduos com deficiência de G6PD. → ACHADOS NO ESFREGAÇO DO SP O esfregaço é rarefeito por alto grau de hemólise. Hemácias arrebentadas, bizarras, se romperam pelo efeito oxidativo. Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp - Investigação laboratorial da deficiência de G6PD: Avaliação da atividade enzimática: teste da redução da metahemoglobina (BREWER). Análise molecular: 3 variantes mais comuns.
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