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GESTÃO DO CONHECIMENTO E DA INOVAÇÃO EMPRESARIAL 1 Gestão do Conhecimento e da Inovação Empresarial GESTÃO DO CONHECIMENTO E DA INOVAÇÃO EMPRESARIAL 2 Gestão do Conhecimento e da Inovação Empresarial 1. A Sociedade do Conhecimento História e Evolução do Conhecimento Observando a evolução na história da humanidade, percebemos o quanto o conhecimento foi e é elemento propulsor no crescimento do ser humano em toda a sua trajetória. Evolução do Conhecimento Logo, é inconcebível falar do gerenciamento deste saber, se entendemos que não conseguiríamos chegar onde estamos, sem que o conhecimento houvesse evoluído e, por consequência, permitido o desenvolvimento do ser humano e viabilizado os avanços tecnológicos que têm sido disponibilizados a todos nós. Entretanto, se regressarmos a 1890, no início do Fordismo e em plena Era Industrial, poderemos ver a construção das empresas baseada nos modelos adotados pelas Forças Armadas e pela Igreja (Instituição), que eram organizações de sucesso consolidado há milhares de anos, com uma estrutura hierárquica funcionando como um relógio, ou pelo menos esta era a intenção. Seguindo estes dois referenciais como modelo, as empresas daquela época consideravam que o conhecimento dos principais processos da organização deveria ficar retido nos níveis mais elevados da estrutura; assim, eram criados níveis hierárquicos mais bem remunerados, em posições de poder explícito, que tinham a função de controlar e direcionar os esforços dos empregados no sentido de serem atingidas as cotas de produção. GESTÃO DO CONHECIMENTO E DA INOVAÇÃO EMPRESARIAL 3 Tudo na Sociedade Industrial e nas empresas que foram criadas naquela época obedecia aos rígidos princípios do mecanicismo, em que chefes controladores e empregados submissos eram ingredientes fundamentais para o sucesso do negócio. Ao final da Segunda Guerra Mundial, os cérebros disponíveis no mundo, que haviam sido utilizados para construir máquinas e armas de guerra, agora precisavam atuar para reconstruir países e cidades. Este foi o primeiro de uma série de acontecimentos que iriam demonstrar que o conhecimento não poderia permanecer como “posse individual”; ao contrário, precisava ser compartilhado com outros, tornando-se coletivo. E a ação mecanicista da execução – até então, prioritária para a produção em massa – precisava ser adequada a um novo contexto. Conhecimento Embora a execução continuasse a ser importante, mais do que fazer, era necessário planejar, analisar e criar. O homem começava a ter um diferencial agora mais evidente dentro do processo e, no caso do mundo dos negócios, passava a ocupar um papel estratégico para manter competitivas as empresas. A Era da Informação surgiu e as tecnologias de gestão resgataram conceitos antigos e evoluíram ainda mais com a implantação da qualidade total na década de 70 e a reengenharia nas décadas de 80 e 90, forçando o aumento da competitividade das empresas e dando espaço para o homem poder utilizar de forma mais democrática toda a sua criatividade e inovação, inicialmente restrita a pequenos grupos de pessoas de nível estratégico. Curiosamente, o avanço da tecnologia e a chegada dos sistemas integrados de gestão trouxeram a reboque uma preocupação inimaginável até então: a presença da máquina (e a capacidade de armazenamento de informação), em alguns casos substituindo o homem no processo. GESTÃO DO CONHECIMENTO E DA INOVAÇÃO EMPRESARIAL 4 Porém, era preciso admitir que os controles e rotinas físicas ou intelectuais (antes, de exclusiva competência do homem) passaram a ser objeto próprio dos Sistemas Integrados de Gestão, quando estes foram bem implantados e tornaram-se funcionais na Organização. Então, considerando os aspectos abordados de maneira macro até então, faz-se necessário, lembrarmos e/ou aprofundarmos - um pouco mais - alguns dos conceitos que reforçam a compreensão deste universo que experimentamos no mundo corporativo e, como gestores, precisamos conhecer de maneira apropriada, sem o qual, não poderemos ousar na intenção de adotarmos a Gestão do Conhecimento como prática aplicável no mundo corporativo dentro do contexto do mercado atual. Conceito de Organização A Organização é geralmente reconhecida como sendo um sistema de atividades coordenadas, envolvendo duas ou mais pessoas. Portanto, se continuarmos nesta linha de raciocínio, entenderemos – de uma maneira simples e geral que - uma Organização somente existe quando: a) Há pessoas dispostas a se comunicarem, e que b) Estejam interessadas e decididas a contribuir em ações conjuntas, c) Objetivando alcançarem um objetivo comum. A disposição de contribuir com ação conjunta significa, sobretudo, acentuada intenção em sacrificar o controle da própria conduta em benefício da coordenação em um trabalho coletivo. Deixa de existir a ação individualizada, para caracterizar- se em movimentos coletivos do trabalho. Porém, é correto considerar que a intensidade desse desejo de participar e contribuir para a Organização varia e flutua de pessoa para pessoa e, mesmo individualmente, com o passar do tempo pode ganhar dimensões diferentes em maior ou menor dedicação. Isso significa dizer que estas contribuições podem caracterizar-se pela instabilidade, pois em GESTÃO DO CONHECIMENTO E DA INOVAÇÃO EMPRESARIAL 5 cada participante ocorrem momentos de variabilidade em função não somente das diferenças individuais existentes, mas também da aplicação de um sistema de recompensas pensado pela Organização, intencionando – é claro - aumentar as contribuições de cada um. É fundamental considerar também o quanto a Organização influencia na vida das pessoas: a maneira como vivemos, compramos, trabalhamos, nos alimentamos, escolhemos nossas roupas e nos vestimos, os sistemas de valores que trouxemos de nossas origens, assim como as expectativas e convicções que possuímos são, profunda e intensamente, influenciados pela Organização. Mas também acontece o sentido inverso do processo, pois a Organização é influenciada pelo modo de pensar, sentir e agir dos trabalhadores que nela atuam. Na medida em que a Organização se torna bem-sucedida, ela tende a crescer. Seu crescimento faz-se pelo aumento do número de pessoas e de recursos (note aqui, uma referência curiosa em relação ao modelo praticado na Era Industrial: o tamanho da Empresa, naquela época, era definido pela quantidade de pessoas e máquinas que possuía, além do espaço físico que suas instalações pudessem ocupar). Para que esse volume de pessoas possa ser administrado, há um acréscimo do número de níveis hierárquicos. À medida que o número de níveis hierárquicos aumenta, por consequência, acontece um gradativo distanciamento entre as pessoas – e seus objetivos particulares e singulares – e a Alta Administração da Empresa com os seus objetivos organizacionais. Quase sempre esse distanciamento conduz a um conflito entre os objetivos individuais dos participantes e os objetivos organizacionais, dificultando o compartilhamento das ideias, a troca de conhecimento, a parceria entre os sujeitos e os setores que representam, tornando difícil o alcance dos resultados e desgastante o ambiente daquele mundo corporativo. Mas é preciso compreender como isto começou, até chegar ao contexto atual. GESTÃO DO CONHECIMENTO E DA INOVAÇÃO EMPRESARIAL 6 As Eras da Organização Ao longo do século XX, as Organizações experimentaram momentos distintos em sua evolução, que podem ser identificados da seguinte forma e sequência: a era da industrialização Clássica (primeira), Neoclássica (segunda) e Era da Informação. Vale registrar que já há quem considere uma quarta identificação, considerando o contexto mais contemporâneo: a Era do Conhecimento (últimae atual), sobre a qual não nos ateremos neste momento, embora, mais adiante, reconheçamos um grau de concretude nesta linha de entendimento sobre o assunto. Por hora, vamos nos limitar às três primeiras fases. Era da Industrialização Clássica Cobriu o período entre o fim do século XIX (1880) e a metade do século XX (1950), aproximadamente, segundo alguns autores, tendo o fim da Segunda Guerra Mundial como o ponto de referência para o seu declínio. Foi um período de meio século de intensificação do fenômeno da industrialização, que se iniciou com a Revolução Industrial. Alguns nomes se destacaram nesta época: Frederick Taylor e Henry Ford. O primeiro, desde cedo preocupava-se em estudar o tempo das ações humanas nas fábricas, resultando no entendimento da possibilidade de redução dos “tempos mortos” e dos “movimentos desnecessários do operador”, ampliando as condições para que o processo fosse otimizado. Esta ideia defendida por Taylor ganhou expressivo reforço com a contribuição de Henry Ford, adepto da racionalização do trabalho e, responsável pela introdução da “linha de montagem”, permitindo que a peça circulasse sobre uma esteira, GESTÃO DO CONHECIMENTO E DA INOVAÇÃO EMPRESARIAL 7 chegando até os postos de trabalho de cada operário que adotava movimentos reduzidos e precisos na realização da tarefa que lhe cabia. Vale registrar que essa “automação” do processo permitiu que Ford reduzisse o tempo de montagem de um automóvel de 728 para – expressivos e significativos – 93 minutos, diminuindo os custos de produção de um Modelo T, por exemplo, que em 1908 custava algo em torno de US$ 950.00 para US$ 290.00 em 1927. A Cultura Organizacional (algo a que nos ateremos um pouco mais à frente) predominante era voltada para o passado e para a conservação das tradições e valores seculares e conservadores ao longo do tempo. As pessoas eram consideradas recursos de produção, juntamente com outros recursos organizacionais como máquinas, equipamentos e capital, dentro da concepção dos três fatores tradicionais de produção: natureza, capital e trabalho. Embora estejamos falando de uma época em que as relações eram duradouras, assim como os bens de consumo produzidos, ainda assim é possível imaginar que estas pessoas consideradas como “recursos” pudessem ser similares ao conceito de uma comodittie – descartável quando não mais se aplica. Era da Industrialização Neoclássica Durou de 1950 a 1990. Teve seu início com o final da Segunda Guerra Mundial, fazendo a transição do que representava a consolidação dos paradigmas da solidez e conservação do status quo para um momento de transformação, coincidindo com a pontualidade do cenário mundial: quando o mundo começou a mudar, mais intensamente! E, ao longo do período desta Era, a velocidade da mudança começou a aumentar: as transações comerciais passaram da amplitude local para regional, de regional para internacional e tornaram-se, gradativamente, mais intensas e velozes. GESTÃO DO CONHECIMENTO E DA INOVAÇÃO EMPRESARIAL 8 Estas mudanças constantes possibilitaram que outra percepção se estabelecesse no cenário organizacional: o velho modelo burocrático e funcional, centralizador e piramidal, - copiado das positivas referências de sucesso de administração representada pela Igreja (Instituição) e pelas Forças Armadas - utilizado para formatar as estruturas organizacionais até então, tornou-se rígido e vagaroso demais para acompanhar as transformações que ocorriam no ambiente. As Organizações tentaram novos modelos de estrutura que pudessem proporcionar-lhes mais inovação e melhor ajustamento às novas condições. Nesse contexto, surgiu a estrutura matricial numa tentativa de consertar e reavivar a velha e tradicional organização funcional. A cultura organizacional passou a concentrar-se no presente (para poder imaginar o futuro), deixando de privilegiar as tradições passadas. O paradigma conservador deu lugar à inovação. Era da Informação Com início em torno de 1990, segue até hoje. Dentre as suas principais características, podemos destacar as mudanças cada vez mais rápidas, imprevistas, inesperadas. A tecnologia trouxe desdobramentos completamente inovadores e transformou o mundo em uma aldeia global. A informação passou a cruzar o planeta em milésimos de segundos, permitindo que pudéssemos saber o que acontecia em qualquer lugar, quase que simultaneamente. Além disso, as ofertas dos canais de acesso à informação permitiram que houvesse uma “democratização” das possibilidades de produzir conhecimento, já que o saber dos fatos não era mais privilégio de alguns poucos. Diante do advento da tecnologia da informação, a economia passa a ser globalizada e os negócios que podiam ser realizados de forma local ou regional GESTÃO DO CONHECIMENTO E DA INOVAÇÃO EMPRESARIAL 9 passam a ter uma dimensão nunca antes imaginada, provocando profundas transformações nas condições de execução. Neste novo cenário, as exigências de adequação se tornam maiores, considerando a intensidade e regularidade das mudanças, criando demandas favoráveis para o estabelecimento da organização em outros mercados, mas, simultaneamente, gerando riscos diversificados, considerando as novidades para as quais a empresa precisava estar preparada para enfrentar. Com estas novas perspectivas de negócios, mas também possibilidades de riscos ainda não experimentados, as empresas perceberam que havia uma obrigatoriedade de agilizar o tempo de resposta, o que requeria estruturas hierárquicas contextualizadas ao novo modelo de mercado e, por consequência, entenderam que precisariam adequar os seus processos de tal forma que pudessem prezar pela agilidade, eficiência e eficácia. Não era possível admitir que a ideia tradicional do Departamento pudesse ser mantida, já que a integração das áreas e das pessoas passa a ser um fator determinante para a multiplicação do conhecimento, para o compartilhamento das experiências e para a viabilização das adequações tão necessárias. Era preciso reconhecer que a forma de ver o trabalho havia sido modificada. A mão de obra passa a ser menos admitida, em contraponto ao reconhecimento da necessidade de um trabalhador que pudesse usar mais o cérebro (ao invés das mãos), tornando-se multifuncional – contrapondo ao especialista que conhecia apenas o seu trabalho – e, principalmente, capaz de trabalhar em grupo e por projetos, reforçando o decréscimo da importância da concepção do trabalho individualizado. O termo “mão de obra” começou a ser percebido como inadequado para a definição dos trabalhadores dentro deste novo contexto. Como desdobramento GESTÃO DO CONHECIMENTO E DA INOVAÇÃO EMPRESARIAL 10 desta nova percepção do sujeito no mundo do trabalho, passa-se a reconhecer a necessidade da existência dos “seres pensantes”, como partícipes do processo. Produção/Capacidade Intelectual Logo, o que antes era considerado um “recurso humano”, com possibilidade de descarte diante da contínua exploração até o esgotamento, precisa ser identificado e valorizado pela capacidade de produção do conhecimento, algo tão fundamental para o crescimento da competitividade organizacional. A Cultura Organizacional sofreu forte impacto do mundo exterior – o que nunca havia acontecido na Era Industrial e pouco ocorrido na Era Industrial Neoclássica - e passou a privilegiar a mudança e a inovação voltadas para o futuro e para o destino da Organização, em detrimento do pensamento retrógrado e conservador que a caracterizava até então. Não se trata mais de gerenciar pessoas, mas de gerenciar com as pessoas e, principalmente, com o conhecimento que elas podem processar! ERA CLÁSSICA 1900 - 1950 Início da Industrialização; Estabilidade; Pouca mudança; Previsibilidade;Regularidade e certeza. Administração Científica; Teoria Clássica; Relações Humanas; Teoria da Burocracia. ERA NEOCLÁSSICA 1950 - 1990 Desenvolvimento industrial; Aumento na mudança; Fim da previsibilidade; Necessidade de inovação. Teoria Neoclássica; Teoria Estruturalista; Teoria Comportamental; Teoria de Sistemas; Teoria da Contingência. ERA DA INFORMAÇÃO Após 1990 Tecnologia da Informação (TI); Globalização; Ênfase nos Serviços; Aceleração da mudança; Imprevisibilidade; Instabilidade e Incerteza. Ênfase na: Produtividade; Qualidade; Competitividade; Cliente; Globalização. GESTÃO DO CONHECIMENTO E DA INOVAÇÃO EMPRESARIAL 11 Eras da Administração a Partir do Século XX Em suma, na atualidade, o conhecimento tornou-se ponto central na organização da sociedade, a tal ponto que passa a ser denominada de “Sociedade do Conhecimento”, pressupondo que este é acessível a todos e não mais apenas a alguns eleitos, como afirmavam os filósofos da antiguidade. Essa organização da sociedade globalizada, com gamas enormes de informações circulando a uma velocidade vertiginosa, tem influenciado inclusive a forma como as pessoas se relacionam, de modo múltiplo e muitas vezes superficial. Sociedade do Conhecimento Como o Conhecimento se Processa nas Pessoas A vida começou no planeta Terra há mais de 3,5 bilhões de anos, e seus primeiros habitantes eram unicelulares. Até o surgimento dos mamíferos houve um longo e complexo processo de interação e aprendizado, num incessante movimento de adaptação e reorganização da vida. A isso chamamos de evolução, e trazemos em nosso DNA o registro desse aprendizado. Ao longo da história escrita do homem, os filósofos têm buscado respostas para esta pergunta: “O que é o conhecimento?” A resposta levaria necessariamente a outra pergunta: “Como o conhecimento se processa nos seres humanos?” Vários pensadores e correntes de pensamento apresentaram suas contribuições: John Locke, filósofo inglês que viveu de 1632 a 1704, afirmava que a mente humana é inicialmente uma tábua rasa, ou uma folha em branco, negando assim que pudessem existir ideias inatas. De acordo com esse pensador, as pessoas nascem sem saber absolutamente nada e só depois é que aprendem pela experiência, na base da tentativa e erro. Já Jean Piaget (1896 a 1980), biólogo e teórico do conhecimento e da pedagogia, considerado um dos maiores pensadores do século XX, entendia que o desenvolvimento cognitivo se dá por meio da interação do indivíduo com o ambiente, num processo ativo e contínuo. GESTÃO DO CONHECIMENTO E DA INOVAÇÃO EMPRESARIAL 12 É certo que a forma como as pessoas estruturam seus pensamentos influencia na maneira como percebem a realidade e se relacionam com o conhecimento. Atualmente, grande parte do conhecimento da humanidade é acessível e está compartilhada nos quatro cantos do mundo. Isso trouxe benefícios indescritíveis; entretanto, abriu também um precedente: muito dos conteúdos que estão acessíveis e são compartilhados não tiveram critérios claros em sua pesquisa, portanto os resultados não são verificáveis, o que os tornam duvidosos. Compartilhando Conhecimento Antigamente, tudo o que estava escrito era inquestionável, o que inclusive contribuiu por longo período para a disseminação de inverdades. As escolas, especialmente as de educação infantil, adotavam os livros didáticos e ensinavam de maneira que não se podia duvidar nunca do que ali estava escrito. A educação hoje ensina a questionar, a duvidar e principalmente a verificar as fontes de pesquisa. Pode-se dizer que o cérebro é a sede do aprendizado. Em um ser humano adulto normal ele é composto por aproximadamente 100 a 200 bilhões de células nervosas, capazes de estabelecer até 100 mil sinapses. A criança ao nascer já possui essa quantidade de células nervosas, mas são as interações com o ambiente que vão possibilitar que as sinapses se intensifiquem ou se percam. A plasticidade do cérebro é maior nos primeiros anos de vida, mas, ao contrário do que se acreditava antigamente, ela continua presente por toda a vida do ser humano. Novas conexões são feitas e desfeitas o tempo todo, e uma simples tarefa do cotidiano, feita de uma forma nova, pode gerar uma nova sinapse. Sinapse A memória é a base do saber e nossa individualidade depende da capacidade de lembrar os acontecimentos de nossa própria história. O aprendizado depende da memória e é observável pelo comportamento. Pode-se dizer que houve GESTÃO DO CONHECIMENTO E DA INOVAÇÃO EMPRESARIAL 13 aprendizado se a pessoa age segundo aquilo que aprendeu. Isto é, podemos dizer que algo foi aprendido quando pode ser resgatado e aplicado numa ação. Mais ainda, se essa memória for relacionada com outras, poderá estabelecer relações entre dados e informações criando uma resposta nova e complexa. Memória Como o Conhecimento se Processa nas Empresas O processo de evolução dos modelos de gestão empresarial se deu de forma gradativa e processual, muito embora não seja sentido dessa forma por quem vive o momento histórico em que as mudanças estão ocorrendo. Em geral, a percepção é a de que elas são rápidas demais e a sensação é a de estar num turbilhão. Em uma análise mais criteriosa, constatamos que os fatos que culminaram naquelas mudanças estavam em gestação há muito tempo. Alvin Toffler, escritor e futurista norte americano, utiliza uma metáfora para descrever esse processo evolutivo como ondas de mudança que colidem. Segundo ele, a metáfora da onda é muito proveitosa, pois nos leva a buscar algo por trás da superfície agitada da mudança. Ondas de Mudanças As grandes mudanças pelas quais a sociedade passa no que se refere à tecnologia, Educação, Economia, entre outras grandes áreas, promovem a necessidade de se estabelecer mudanças também nas escalas de valores que afetam os indivíduos tanto na sociedade como nas organizações, especialmente porque o momento atual aponta para o esgotamento dos recursos naturais. Esgotamento de Recursos O modelo de gestão da atualidade demonstra a necessidade de adaptação das empresas a um mercado altamente competitivo. Sob pena de perecerem, GESTÃO DO CONHECIMENTO E DA INOVAÇÃO EMPRESARIAL 14 atualizam suas ferramentas e não tomam como definitiva uma forma de administrar, entendendo que esses tempos são de mobilidade e agilidade, características essas, inclusive, próprias dos ambientes virtuais, onde se realizam hoje em dia a maior parte dos negócios corporativos. Neste cenário, a gestão da empresa que busca destaque e liderança será orientada para o conhecimento. Mas essa gestão não pode ocorrer unicamente de forma intuitiva, é preciso que os gestores tenham domínio das ferramentas adequadas para gerir esta enorme e complexa quantidade de informações e conhecimentos. 2. Entendendo o Conhecimento nas Organizações Dado, Informação e Conhecimento Para termos um entendimento claro do que significa fazer a gestão do conhecimento numa organização, é importante que saibamos diferenciar os significados de dado, informação, conhecimento e competência, os quais muitas vezes aparecem como sinônimos. Dado é uma sequência de símbolos quantificados e quantificáveis que podem ser manipulados. São fatos distintos e objetivos, relativos a eventos. São exemplos de dados: texto, figura e som gravado. Informação é uma abstração informal (isto é, não pode ser formalizada através de uma teoria lógica ou matemática), que está na mente de alguém, representando algo significativo para essa pessoa e capaz de gerar conhecimento. O conhecimento pode ser entendido como uma abstração interior, pessoal, de algo que foi experimentado, vivenciado por alguém. Nesse sentido, o conhecimento não pode ser descrito; oque se descreve é a GESTÃO DO CONHECIMENTO E DA INOVAÇÃO EMPRESARIAL 15 informação. Também não depende apenas de uma interpretação pessoal, como a informação, pois requer uma vivência do objeto do conhecimento. Assim, o conhecimento está no âmbito puramente subjetivo do homem ou do animal. Parte da diferença entre estes, reside no fato de um ser humano poder estar consciente de seu próprio conhecimento, sendo capaz de descrevê-lo parcial e conceitualmente em termos de informação. Competência é a capacidade de executar uma tarefa no "mundo real". Em linhas gerais, alguém será considerado competente em determinada área se for capaz de demonstrar a capacidade de executar determinada tarefa nessa área, por meio de realizações passadas. Podemos armazenar em um computador somente dados; estes, agrupados de certa maneira, podem representar informações que são utilizadas para a construção do conhecimento e, dessa maneira, desenvolver competências. A busca de técnicas que viabilizem as empresas a reterem, organizarem e utilizarem o conhecimento é alvo da gestão do conhecimento. O conhecimento acumulado é externamente compartilhado de forma ampla dentro da organização, armazenado como parte da base de conhecimentos da empresa e utilizado pelos envolvidos no desenvolvimento de novas tecnologias e produtos, refletindo em inovação e competitividade. Tipos de Conhecimento: Tácito e Explícito Segundo alguns estudiosos, o conhecimento humano pode ter dois tipos de classificação, conhecimento tácito e explícito. Entende-se que o conhecimento organizacional é resultante de uma interação contínua e dinâmica entre estes dois tipos de conhecimento: Conhecimento Explícito – É explícito quando é comunicado de maneira mais fácil e formal entre as pessoas e pode ser encontrado em manuais, livros etc. GESTÃO DO CONHECIMENTO E DA INOVAÇÃO EMPRESARIAL 16 Conhecimento Tácito – O conhecimento tácito por sua vez é mais difícil de ser articulado na linguagem formal, pois não é “visível”, fazendo parte das experiências e vivências individuais, envolvendo, também, fatores intangíveis como valores e crenças. Conhecimento Tácito Exemplificando: Dois violinistas, um mestre e um aprendiz, podem ter acesso ao mesmo conhecimento explícito (as partituras musicais); porém, o entendimento destas será diferente, assim como a prática posterior a esta leitura, em termos de interação com o equipamento musical e ajuste ao som produzido (conhecimento tácito). As conversões do conhecimento a partir destes dois formatos constituem a essência da abordagem teórica da criação do conhecimento, que será detalhada mais adiante. É fato que os sistemas se organizam de maneira complexa e como resultado disso o caos e a incerteza são possibilidades reais que rondam a vida das pessoas e a gestão das empresas. Não há, portanto, a existência de cenários estáveis ou imutáveis; pelo contrário, as mudanças são reais e esperadas. Os gestores compreenderam que não há como traçar um plano estático que preveja um único desdobramento para as situações. Considerar a multiplicidade e o dinamismo do ambiente trará mais chances de sucesso para as organizações. Para que a gestão do conhecimento possa prosperar, as organizações precisam criar um conjunto de funções e qualificações para desempenhar o trabalho de apreender, distribuir e usar o conhecimento. Em suma, para compartilharmos o conhecimento nas organizações, estes precisam ser convertidos, ou seja, transformados de tácito em explícito. GESTÃO DO CONHECIMENTO E DA INOVAÇÃO EMPRESARIAL 17 Nesse contexto, há muitas tarefas estratégicas e táticas a executar. O Conhecimento como Processo Dentre as características do conhecimento, podemos identificar duas propriedades importantes: ele é, ao mesmo tempo, produto e processo. Enquanto processo, pode ser entendido como um "ato intelectual" pelo qual alguém apreende um objeto. O conhecimento enquanto produto é entendido como o resultado desse mesmo processo. A partir desse entendimento, as imagens ou representações mentais, ou conceitos e teorias que possuímos são produtos disponíveis para serem utilizados quando necessário. Mas para que tal aconteça, é necessário adquiri-los através de um processo intelectual. Enquanto produto, o conhecimento se reveste de características que lhe dão uma aparência de finalizado, estático, pois reflete um conjunto de informações sobre o real elaborado e sistematizado no trabalho de investigação da realidade. Entretanto, mesmo nessa condição de produto, de resultado de uma determinada pesquisa, o conhecimento alcançado está sujeito a discordâncias. Na qualidade de processo, o conhecimento ganhar ares de dinamismo, uma vez que se percebe envolto por opiniões, controvérsias e divergências, trazendo consigo fatores (alternativas, interesses e compromissos) que contestam a sua condição de universalidade e que inviabilizam a sua condição de processo e produto indiscutíveis, que impedem a sua condição de complexibilidade não sujeita a embates. Fato é que apesar de o produto ser resultado de um determinado processo, ele geralmente não retrata o processo que o originou, uma vez que aparece acabado, pronto e arrumado. O processo, ao contrário, é provisório, inacabado, desarrumado. GESTÃO DO CONHECIMENTO E DA INOVAÇÃO EMPRESARIAL 18 Sabe-se que durante o processo é que as decisões são tomadas, com base na dinâmica social na qual está envolvida a possibilidade construtiva do homem. É no momento dialético do processo de produção do conhecimento que o saber contribui para a construção de um determinado mundo, de uma determinada sociedade, de uma determinada condição de humanidade e opta por ela. Nesse contexto, não podemos deixar de considerar a interação entre processo e produto do conhecimento. O acúmulo de conhecimentos anteriores (Produto) é fundamental para o desvendamento do real (Processo). No momento do processo, a ideologia e o acúmulo de conhecimentos anteriores (Produtos) estão presentes e são condições fundamentais à plenitude do processo de produção do saber. Mesmo que produto e processo possam ser percebidos em momentos diferentes da atividade do conhecimento, parece-nos óbvio que não são excludentes. Ao identificarmos o processo como sendo o momento do conhecimento no qual ocorre um embate ideológico, e o produto como sendo o resultado desse processo, podemos concluir que o processo-produto não pode ocorrer sem o produto-processo. 3. A Gestão do Conhecimento O Conhecimento e sua Gestão “Os grandes ganhos de produtividade, daqui para frente, advirão das melhorias na gestão do conhecimento” (Peter Drucker) Reconhecidamente, um dos principais ativos dos últimos modelos de administração é sem dúvida o conhecimento. Ao longo dos anos 1990, esse conjunto de práticas veio consolidar-se como gestão do conhecimento. Para alguns autores e estudiosos do assunto a gestão do conhecimento seria um GESTÃO DO CONHECIMENTO E DA INOVAÇÃO EMPRESARIAL 19 processo interativo análogo à própria criação do conhecimento. A criação do conhecimento organizacional estaria relacionada à capacidade que uma empresa tem de desenvolver este conhecimento, disseminá-lo na organização e incorporá- lo a produtos, serviços e sistemas. Uma organização que se baseia no conhecimento é uma organização de aprendizagem que reconhece o conhecimento como um recurso estratégico e cria conhecimento que pode ser processado internamente e utilizado externamente, aproveitando o potencial de seu capital intelectual. Ao abordarmos a gestão do conhecimento, resta-nos refletir sobre a elaboração e adoção de práticas que estimulem a geração do saber, através da integração das pessoas e áreas de trabalho, de modo a favorecer o compartilhamento,estimular a troca e, principalmente, resgatar todo o conhecimento que a empresa já tenha produzido até então. Notadamente, práticas desta natureza se distinguem das adotadas no passado, ocasião em que prevalecia a manutenção do conhecimento no domínio de quem exercia o poder institucionalizado, e todos os demais eram colocados à margem desta possibilidade e, por consequência, meros seguidores das ordens que eram dadas, simples reféns das ideologias criadas. Galileu Galilei contestava a forma de pensar do passado que, em alguns contextos, ainda persiste em resistir ao avanço do tempo. Ao praticarmos a Gestão do Conhecimento, reconhecemos a importância do indivíduo dentro do contexto e, em face disto, é preciso que a organização identifique, elabore e estimule comportamentos que favoreçam o compartilhamento deste saber individual para que seja transformado em coletivo. O segredo não mais está em deter o conhecimento nas mãos de poucos, mas divulgá-lo em toda a organização. GESTÃO DO CONHECIMENTO E DA INOVAÇÃO EMPRESARIAL 20 Reconhecendo a potencialidade e contribuição das pessoas para o estabelecimento de um conhecimento nas organizações, precisamos também reconhecer a diferença na dinâmica que este possui, quando comparado com o que é próprio de cada trabalhador. Nos dias atuais, as empresas se veem obrigadas a compreender que o ciclo do conhecimento não deve ser rompido; ao contrário, deve se manter em constante movimento de inovação. Isto só será viável se seus trabalhadores expandirem as suas mentes para novas perspectivas e descobertas, valendo-se do conhecimento que carregam, tendo-o como base para o estabelecimento de novos níveis de aprendizagem pessoal, o que pode lhes garantir a empregabilidade e mais, o potencial competitivo da organização, através do conhecimento que esta poderá possuir. Sob esta perspectiva, podemos inferir que a Gestão do Conhecimento precisa estar apta a lidar com alguns aspectos desafiadores, tais como: a) Reconhecer que o conhecimento está em constante evolução e que pode ser produzido por qualquer pessoa, em qualquer lugar, em ambientes formais e informais; b) Desenvolver ferramentas de gestão que viabilizem a produção, a troca e o compartilhamento do conhecimento; c) Criar e implantar indicadores que monitorem esse processo, consolidando os resultados obtidos pela produção e compartilhamento do saber, de modo a viabilizar uma análise das possibilidades financeiras que esta gestão proporciona. É importante destacar que, mesmo que todos estes aspectos sejam considerados, ainda será imperioso que a Alta Administração estabeleça que áreas de Conhecimento deverão ser tratadas como prioridade. Isto porque, independentemente da área de atuação, do segmento do negócio, a empresa deve ter consciência do tipo de conhecimento considerado essencial para que amplie a sua perenidade no mercado. GESTÃO DO CONHECIMENTO E DA INOVAÇÃO EMPRESARIAL 21 Fundamentos e Objetivos da Gestão de Conhecimento nas Organizações A evolução tecnológica que envolve o mundo, as organizações e as pessoas atinge praticamente todas as atividades e favorece a veiculação livre e rápida de grande volume de informações por diversos meios, principalmente pela Internet. A rapidez da evolução nessa área ocorreu em vista da necessidade de sistemas tecnológicos padronizados e eficientes que provessem melhorias na qualidade dos processos e em modelos mais práticos e ágeis. Assim, dois elementos-chave impulsionaram as ações: - o rápido crescimento da rede mundial de computadores “world wide web (www)”, que estabeleceu uma infraestrutura de compartilhamento do conhecimento; e - a identificação do conhecimento como recurso estratégico nas organizações. Nesse sentido, o aumento da competitividade das corporações em escala mundial, bem como o ritmo de desenvolvimento tecnológico, trouxe como consequência a necessidade da utilização do fator conhecimento como meio de melhor lidar com os crescentes desafios. Não obstante, grande parte desse recurso está subjacente às mentes do capital humano envolvido nas atividades organizacionais, o que torna complexo o seu gerenciamento e mensuração, despertando, assim, a iniciativa de estudos tanto pelas organizações quanto pela academia em busca de soluções. Tais iniciativas permitiram o processo de desenvolvimento da chamada Gestão do Conhecimento. Após a Segunda Guerra Mundial, com um maior desenvolvimento da TI e mudanças sociopolíticas relacionadas à competição e cooperação entre os países, o fenômeno da globalização acelerou e se consolidou. Estas mudanças deram origem a uma nova sociedade, denominada de diferentes formas: Pós-Industrial, Sociedade em Rede, Sociedade do Conhecimento ou Terceira Onda, dentre outras. Esta nova era possui como principal fator de produção o conhecimento. GESTÃO DO CONHECIMENTO E DA INOVAÇÃO EMPRESARIAL 22 A Sociedade do Conhecimento vem impulsionando as organizações para a inovação e a exploração de produtos e novos mercados. Em consequência, ocorreram alterações nas suas estruturas que passaram a ser menos centralizadas e intensamente orientadas para as relações em rede, formação das pessoas, competitividade, inovação, colaboração, cultura de compartilhamento, gestão da informação, aprendizagem e comunicação. Nesse contexto, novas formas de se comunicar baseadas em tecnologias computacionais estão mudando fundamentalmente a organização e a forma de se realizar o trabalho. Como consequência, a sobrevivência do próprio trabalhador na sociedade do conhecimento, denominado “colaborador”, está baseada nesta nova realidade à qual as organizações passaram a ter de se adaptar. Uma vasta quantidade de conhecimento encontra-se subjacente às organizações nos diversos elementos que a constituem. Dentre esses elementos destacam-se o capital humano, os sistemas, as normas, os processos, a cultura organizacional e as rotinas. A vantagem competitiva, portanto, advém de como gerenciar esse conhecimento de forma a torná-lo produtivo. Além disso, o conhecimento é uma influência potencial para mudança de atitude da força de trabalho, seu comportamento é fundamental para tomada de decisão. Com o propósito de melhor gerenciá-lo, atividades como identificar, armazenar, adquirir, compartilhar e aplicar o conhecimento são essenciais. Especialmente com o advento da TI e com o avanço das práticas de gestão organizacional, a Gestão do Conhecimento - GC tem sido aplicada sob diferentes estratégias. Nesse sentido, as organizações lidam com o conhecimento, interna e externamente, para obterem melhoras de desempenhos. GESTÃO DO CONHECIMENTO E DA INOVAÇÃO EMPRESARIAL 23 Por meio de processos articulados e intencionais são desenvolvidas atividades que têm como objetivo final diminuir a incidência de erros recorrentes e tornar as organizações mais flexíveis e ágeis. Fazer GC nas organizações, porém, não é tarefa simples, pois ao mesmo tempo em que as organizações criam conhecimento e aprendem, acabam também por esquecê-lo e esquecer do caminho percorrido para adquiri-lo. Tais constatações demonstram, portanto, que os benefícios de uma boa GC exigem grande esforço e a consolidação de uma cultura organizacional que valorize o conhecimento. Para atender aos anseios e necessidades da sociedade, é imperiosa a integração entre GC e TI. A implantação de um sistema de TI adequado é um ponto crucial a ser considerado para as demandas e ações relacionadas à GC mediante a seleção de ferramentas de software e hardware para automatizar os processos de negócios. Esta integração, contudo, é extremamente complexa e envolve o gerenciamento de ativos intangíveis subjacentes a diferentes elementos organizacionais (pessoas, network, cultura organizacional, rotinas, dentre outros). Portanto,a escolha da ferramenta adequada para identificar, captar, acessar e compartilhar o conhecimento na organização é uma das mais importantes decisões que devem ser tomadas na GC a fim de acelerar o seu desenvolvimento. Nessa direção, uma eficaz integração do conhecimento está baseada em uma implementação de ferramentas que possibilitem a identificação, o armazenamento e a criação do conhecimento. A TI pode desempenhar um importante papel criando pontes que liguem toda a cadeia de GC, integrando-a e facilitando o desenvolvimento de todas as atividades. Embora a TI represente um elemento fundamental para a GC e permaneça em constante evolução, é importante frisar que ela isoladamente não atinge os resultados esperados. Somente com a contribuição do elemento humano e a GESTÃO DO CONHECIMENTO E DA INOVAÇÃO EMPRESARIAL 24 existência de processos voltados para esse fim, é possível melhorar os níveis de maturidade nessa área. As práticas de GC têm o propósito de modelar os conhecimentos tácito e explícito do capital humano, possibilitando a identificação, extração, criação, compartilhamento e aplicação do conhecimento nas atividades da GC. Tais atividades têm a finalidade de produzir a transformação do conhecimento individual em coletivo e aplicar o conhecimento certo nas atividades adequadas, nos processos operacionais e de tomada de decisão. Pretende-se que o conhecimento possa fluir por meio de redes compartilhadas em suas diversas comunidades organizacionais, transformando a tecnologia em um meio e o conhecimento em um capital, pois o conhecimento é o principal fator de produção da sociedade do conhecimento e motor para o desenvolvimento. Tais práticas nada mais são que atividades que têm finalidades específicas e que se integram. A seguir são apontadas as suas funções e formas como geralmente são desenvolvidas: a) Identificação do Conhecimento Atividade ligada ao mapeamento do conhecimento organizacional. Saber onde estão as referências organizacionais pertinentes às diversas áreas do conhecimento que a organização manipula no desempenho de suas tarefas é o cerne dessa atividade. b) Compartilhamento do Conhecimento Tal atividade refere-se à transferência do conhecimento qualificado de uma origem a um destinatário de forma a desenvolver ambientes organizacionais colaborativos. c) Armazenamento do Conhecimento Essa prática está relacionada à transformação do conhecimento tácito em explícito e sua disponibilização por meio de códigos, linguagem natural ou simbólica de informações validadas pela organização. Nos GESTÃO DO CONHECIMENTO E DA INOVAÇÃO EMPRESARIAL 25 diversos meios possíveis, sejam eles eletrônicos, físicos, em áudio ou em vídeo, tal atividade permite consolidar a memória organizacional e a disseminação do conhecimento por meio de consultas. d) Criação do Conhecimento Como já abordado, a criação do conhecimento acontece quando há conversão do conhecimento tácito em explícito e vice-versa. Portanto, é inerente ao contato do ser humano com novas informações, sejam elas provenientes de outros colaboradores ou de mensagens por diversos tipos de linguagem. e) Aplicação da GC A utilização das diversas atividades de GC são, em última análise, mecanismos intencionalmente utilizados com o propósito de tornar a organização mais flexível, dinâmica e rápida na resposta das adversidades. 4. Conhecimento e Aprendizagem A Aprendizagem nas Organizações e o Capital Intelectual O conhecimento é a grande riqueza das organizações. Vivemos em uma era cada vez mais globalizada, de mercados competitivos, em que a comunicação expõe online a qualidade e a deficiência dos produtos e serviços vendidos; inovar significa sobreviver. A inteligência organizacional representada pelos sistemas de informação e conhecimento, pelas competências dos funcionários, pela qualidade dos processos de produção e de atendimento ao cliente tornou-se fator decisivo no ambiente competitivo contemporâneo. O conhecimento passou a ser visto como o grande diferencial da produção. GESTÃO DO CONHECIMENTO E DA INOVAÇÃO EMPRESARIAL 26 A gestão desses ativos intangíveis, determinantes para o crescimento e a sustentação das empresas, passa a ter importância para o sucesso das organizações. Há muito tempo que o mercado acionário vem sinalizando que os registros e balanços contábeis não decidem mais o valor das companhias. O humor do mercado de ações varia muito mais em função das novidades ditas intangíveis do que propriamente por causa das evoluções dos indicadores financeiros. A lucratividade ainda se mantém como indicador importante. Ocorre que mudanças de base tecnológica, novas descobertas, fraudes, greves, domínios sobre grupos de consumidores e poder de influência na internet impactam sobremaneira o valor das ações das companhias. Hoje, o mercado de ações representa basicamente o único modelo financeiro de avaliação da “credibilidade instantânea” de uma empresa. Através dele, pode-se conhecer o valor de mercado dessa companhia. Em que pese as oscilações, manipulações e movimentos especulativos do mercado acionário, é o modelo existente e praticado. É por meio dele que as grandes empresas, entre elas as do conhecimento, podem se projetar e se financiar. É fato que a ausência de um modelo básico, para não dizer mínimo, de avaliação de intangíveis termina por permitir manipulações grosseiras, possibilitando superestimar ou subestimar os ativos. Acaba que o valor de mercado das empresas é significativamente influenciado pela opinião vigente no mercado acionário. Essa opinião é construída e transformada em dinheiro, representado pelo valor das ações, com base nos informes financeiros e não financeiros, nas auditorias legais, nas informações de bastidores, nas declarações de executivos, nos boatos, nas descobertas e inovações que, de uma forma ou de outra, se tornam públicas. Portanto, diante deste cenário, investir em métodos de mensuração de ativos intangíveis representa mais que uma necessidade empresarial. É uma GESTÃO DO CONHECIMENTO E DA INOVAÇÃO EMPRESARIAL 27 necessidade do mercado global que pode dar mais justiça e equilíbrio às relações do mercado acionário. As estimativas indicam que o ativo tangível vale apenas de 6 a 20% do valor de uma empresa. E o que seriam, de fato, esses ativos intangíveis? Nos ativos intangíveis estão as patentes, marcas registradas, direitos autorais, direitos exclusivos de comercialização, tecnologia de linha de produção, o portfólio de clientes fiéis e satisfeitos, a competência dos funcionários, o modelo de gestão e liderança, a capacidade de inovação, os bancos de dados, entre outros. Esses ativos são decisivos para qualquer organização, mas de difícil mensuração. Além disso, as organizações contemporâneas estão premidas por demandas essencialmente intangíveis, como: flexibilizar sua linha de produção, inovar seus produtos e serviços, garantir qualidade em seus produtos, adaptar- se rapidamente ao contexto do mercado, encantar o cliente, manter os funcionários capacitados, motivados e satisfeitos. Todos estes fatores são de difícil mensuração, porque guardam um alto grau de subjetividade. De outro lado, em sua maioria, os fatores listados não são econômicos e dependem de complexos e caros estudos de correlação e impacto financeiro para justificar novos investimentos. São, ainda, por seu caráter qualitativo, suscetíveis a vários tipos de manipulação. Modelo de Gestão do Capital Intelectual Enquanto os ativos tangíveis são propriedade da empresa, a maioria dos ativos intangíveis não o é. Os clientes não são propriedade da empresa; os funcionários também não. Não se trata, portanto, de uma relação de propriedade, mas de compartilhamento de objetivos. A empresa do conhecimento é aquela quetem competência para administrar grandes redes de colaboradores, sejam eles fornecedores, funcionários, prestadores de serviço, clientes e demais agentes, inclusive o governo. Somente reconhecendo essa relação de compartilhamento é que uma empresa pode gerar resultados crescentes com estes ativos. GESTÃO DO CONHECIMENTO E DA INOVAÇÃO EMPRESARIAL 28 Para obter sucesso, uma empresa precisa ter mais que o patrimônio tangível. Este, embora importante, configura apenas o suporte da inteligência humana no trabalho. É importante que a empresa consiga gerenciar o seu capital intelectual. Os estudiosos do assunto sugerem que os gerentes devem administrar o ambiente de trabalho e o “espírito” da empresa, em vez de simplesmente supervisionar os funcionários. Também recomendam que a alta gerência monitore esse ambiente, utilizando indicadores de capital intelectual. Eles ensinam como alcançar o sucesso financeiro: ampliar o foco para os ativos intangíveis, monitorando indicadores para esses ativos, em vez de utilizar apenas os indicadores financeiros tradicionais. Os patrimônios de conhecimento são a nova riqueza das organizações e devem ser visualizados em três dimensões: na competência dos funcionários; na estrutura interna; e na estrutura externa. Competência do Funcionário – A capacidade que os funcionários têm de agir em diversas situações. É impossível conceber uma organização sem as competências individuais das pessoas. As pessoas tendem a ser fiéis se forem tratadas de forma justa e tiverem a sensação de responsabilidade compartilhada. Estrutura Interna – Engloba patentes, conceitos, modelos e sistemas, inclusive os de informação, ou seja, a organização do sistema de produção. Nesta dimensão está incluída a cultura organizacional. A cultura organizacional é uma variável relevante para a compreensão das ações humanas, funcionando como um padrão coletivo que permite identificar os grupos, sua maneira de perceber, pensar, sentir e agir. É mais que um simples conjunto de regras e hábitos, evidencia a construção de significados partilhados e vivenciados pelo conjunto de pessoas que pertencem a um mesmo grupo. Nas organizações, a cultura é continuamente formada; sempre existirão processos de aprendizagem em GESTÃO DO CONHECIMENTO E DA INOVAÇÃO EMPRESARIAL 29 andamento e as coisas aprendidas, quando enraizadas, dão estabilidade ao grupo e tornam-se difíceis de mudar. Estrutura Externa – Constituída pelas relações com os clientes e fornecedores, incluindo também marcas registradas e a reputação ou imagem da organização. O valor desses ativos é determinado pelo grau satisfatório com que a empresa soluciona os problemas dos seus clientes. Os gerentes devem desenvolver os ativos de uma organização, sejam tangíveis ou intangíveis. Entretanto, com o intuito de compreender a organização do conhecimento, devem enxergar as suas organizações como se fossem constituídas de estruturas de conhecimento e não de capital financeiro. Se considerarmos o que já estudamos, podemos afirmar que nas Eras anteriores as pessoas eram visualizadas como recursos humanos nas organizações. Mas, ao aprofundarmos o entendimento do conceito que melhor se aplicasse a este termo, teríamos em geral, algo material, passivo, inerte e sem vida própria que supria os processos organizacionais em termos de matérias-primas, dinheiro, máquinas, equipamentos etc. Mas, no cenário e contexto atual, poderíamos considerar as pessoas meros recursos organizacionais? Já vimos que não! A tabela a seguir nos permite conceber uma ideia sobre as transformações ocorridas ao longo do tempo. DÉCADA EXIGÊNCIAS DO MERCADO CRITÉRIOS DE DESEMPENHO 1960 Preço Eficiência 1970 Qualidade Qualidade 1980 Linha de Produtos Flexibilidade 1990 “Uniqueness” Inovação 2000 até hoje Conhecimento e Adaptabilidade Pessoas GESTÃO DO CONHECIMENTO E DA INOVAÇÃO EMPRESARIAL 30 Mas a resposta à pergunta proposta acima dependerá da abordagem da atividade exercida pelo sujeito dentro das organizações. Se identificarmos um sujeito exercendo uma atividade laboral com ênfase no empenho físico, rotineira, repetitiva e sem o exercício do pensar (apenas execução do que lhe fora ordenado), podemos classificá-lo como “mão de obra”. Como sabemos, ao longo de toda a Era Industrial (em seus dois períodos), esta era a abordagem tradicional. Do contrário, se as pessoas constituem o capital humano da organização, esse capital terá um valor relativo (maior ou menor), caso contenha (ou não) talentos e competências capazes de agregar valor à organização e torná-la mais ágil e competitiva. Portanto, esse capital valerá mais na medida em que consiga influenciar as ações e destinos da organização. Para isso, a organização precisa utilizar intensivamente quatro elementos indispensáveis: Autoridade - as pessoas devem ser autoras do processo, agindo de maneira independente nas decisões que precisam tomar sobre os recursos necessários à execução das tarefas que lhes competem. Para isso, a liderança deve estimular o aprendizado, funcionando como agente multiplicador do conhecimento, e, principalmente, valendo-se da delegação, de modo que se sintam parte e responsáveis pelo processo e, por consequência, pelo resultado. Informação - a liderança deve viabilizar o acesso à informação ao maior número de trabalhadores possível, o que certamente aumentará o poder de decisão e potencialidades de inovações e agregações de valor. GESTÃO DO CONHECIMENTO E DA INOVAÇÃO EMPRESARIAL 31 Recompensas - Reconhecimento do trabalho e empenho dos profissionais pela organização. Nesse contexto, permite-se ratificar comportamentos esperados. Competências - identificar as competências necessárias, orientando os colaboradores para o melhor desenvolvimento e utilização delas, com vistas ao atingimento dos objetivos organizacionais traçados. A partir daí, pode-se identificar aqueles que fazem a diferença e agregam valor, além de tê-los como referência para os demais. Vale lembrar que ao longo da Era Industrial, fatores como o tamanho do efetivo (quantidade de pessoal), a quantidade de máquinas, equipamentos e similares eram tidos como referências de força, sucesso e crescimento de uma organização. Na Era da Informação, o cenário é outro, em que se reconhece o sucesso e o porte de uma Organização a partir da análise de fatores agilidade, adequabilidade e capacidade de inovar, independentemente do tamanho físico que possam ter. Nesta era, o capital financeiro deixa de ser o recurso mais importante da Organização, uma vez que outros ativos intangíveis e invisíveis passam a assumir papel relevante, relegando-o a um plano secundário. Neste sentido, podemos crer que o capital intelectual da Organização seja constituído de ativos intangíveis, como: Capital Interno – envolve a estrutura interna da organização, conceitos, modelos, cultura, espírito organizacional e sistemas administrativos e de computação. Capital Externo – envolve a estrutura externa da Organização, ou seja, as relações com clientes e fornecedores, bem como marcas, marcas registradas, patentes e a reputação ou imagem da empresa. GESTÃO DO CONHECIMENTO E DA INOVAÇÃO EMPRESARIAL 32 Capital Humano – é o capital de gente, de talentos e de competências. A competência de uma pessoa envolve a capacidade de agir em diversas situações, tanto para criar ativos tangíveis como intangíveis. Não basta ter pessoas. Torna-se necessária uma plataforma que sirva de base e um clima que impulsione as pessoas e utilize os talentos existentes. A perspectiva do capital intelectual traz alguns desafios: " - Retenção de colaboradores talentosos; " - Motivar colaboradores a obterem as competências desejáveis; " - Aprender a aprender:estabelecimento de uma consciência coletiva em relação ao aprendizado constante; " - Aproximar pessoas e fazê-las atuar solidária e grupalmente no cotidiano do trabalho. Hoje, reter talentos apenas não é o suficiente, pois o mais importante é o que fazer para que rendam: desenvolver talentos e saber aplicá-los no sentido de obter elevados retornos desse precioso capital humano. É preciso, também, admitir que o conhecimento, hoje, “possui prazo de validade cada vez mais curto!” Independentemente da área de atuação, do segmento da empresa ou do porte que possua, é preciso compreender que no cenário atual, todos precisam estar envolvidos em um desafio constante no estabelecimento da consciência coletiva do aprender a aprender, incentivando o ser humano a descobrir-se ainda mais a cada dia – seja por ações de desenvolvimento estabelecidas e aplicadas pela empresa ou por aquelas procuradas pelo próprio sujeito. Só assim, a empresa ganha e amplia a sua capacidade de ser competitiva e, em consequência, fortalece a perenidade diante do mercado. GESTÃO DO CONHECIMENTO E DA INOVAÇÃO EMPRESARIAL 33 Educação Corporativa Sabidamente, as organizações desenvolvem o processo de Treinamento, que trata de aspectos pontuais, presentes em determinados contextos específicos e direcionado para atender a uma demanda localizada de capacitação e/ou integração. Logo, diante das necessidades mais amplas que o Mercado estabelece para que as empresas se transformem, adaptando-se constantemente, é preciso reconhecer a limitação que este processo oferece – mesmo que bem-intencionado em ajudar. Em face disto, um número expressivo de organizações já percebeu que há necessidade de algo mais amplo que permita, por exemplo, tratar algo hoje sem perder de vista as opções que o futuro aponta. Para isto, torna-se necessária uma transformação dessa concepção para a de Educação Corporativa, contemplando uma visão maior, processual, que se antecipa aos fatos pela continuidade das ações de aprendizagem. Para que isto se torne real com maior propriedade, as empresas começam a descobrir a importância da Universidade Corporativa – algo que não está vinculado, necessariamente, a um lugar físico, mas estabelecido a partir de um conceito, de uma ideia. Nesta nova concepção, as organizações devem reunir, simultaneamente, algumas características fundamentais: velocidade, flexibilidade, foco, interatividade e estímulo do aprender. Paralelamente, as pessoas devem desenvolver competências, a saber: Autodesenvolvimento – o processo de aprendizagem não deve ser exclusividade das instituições de ensino ou das Organizações, preocupadas em compensar os “gaps” dos seus trabalhadores, promovendo ações que viabilizem a construção de novos saberes. O sujeito, por si só, precisa descobrir o interesse GESTÃO DO CONHECIMENTO E DA INOVAÇÃO EMPRESARIAL 34 em conhecer algo além daquilo que já lhe foi presenteado pela escola ou pela vida prática que possui. Compartilhamento – hoje é preciso compreender o trabalho como parte de uma coletividade, estimulando-se o senso de equipe e a capacidade de comunicação, ao contrário do que era feito no passado em que se privilegiavam os especialistas, exclusivos detentores do conhecimento. Foco na Solução – o trabalhador de hoje precisa pensar por si só, mas deve ser capaz de compreender a sua contribuição no todo e deve ter como foco a busca pela solução dos problemas, no menor tempo de resposta possível, agregando valor a cada solução encontrada. “Inclusão Digital” – é imperioso que o colaborador seja íntimo das tecnologias, sendo capaz de utilizar com maestria e desenvoltura todos os recursos e possibilidades que são ofertados pelo mundo da tecnologia, ampliando sua rede de contatos, assim como identificando e aproveitando novas alternativas para a constante busca pelo novo saber. Globalização – o colaborador deve estar atento às transformações e pronto para adaptar-se e implementar algum tipo de transformação que viabilize a realização de negócios e/ou descobertas de novos mercados. Liderança Situacional – possibilidade do exercício de comando sem que exista a necessidade da formalização daquele papel do Líder. Empregabilidade – o colaborador deve ser gestor da sua própria carreira, buscando seu desenvolvimento, traçando os rumos que pretende seguir, sem tornar-se refém de empresas que não o favoreçam nesta caminhada. GESTÃO DO CONHECIMENTO E DA INOVAÇÃO EMPRESARIAL 35 Centro de Treinamento Tradicional Universidade Corporativa Desenvolver habilidades OBJETIVO Desenvolver as competências críticas Aprendizado Individual FOCO Aprendizado Organizacional Tático ESCOPO Estratégico Necessidades Individuais ÊNFASE Estratégias de Negócios Interno PÚBLICO Interno e Externo Espaço Real LOCAL Espaço Real e Virtual Aumento das habilidades RESULTADO Aumento da competitividade Universidades Corporativas Diante da fragilidade apresentada pelos processos formais de educação profissional ao longo dos tempos, acrescida da velocidade das mudanças impostas às empresas pelo mercado e a presença de novos concorrentes diretos e indiretos resultantes dos processos disponibilizados pela globalização (novas exigências e mercados em expansão), as Organizações perceberam que o caminho estava na complementação da capacitação do trabalhador, tornando-o mais específico no atendimento às necessidades que possuíam para que pudessem adquirir maior competitividade. Desenvolver o conceito da empresa que aprende a aprender, e o faz de maneira contínua, é o primeiro passo! Isto estabelecido, as Empresas perceberam que precisavam criar um mecanismo que pudesse administrar os aspectos práticos deste conceito, aproveitando a amplitude que estas ações poderiam proporcionar para todos aqueles que estivessem inseridos no contexto da aprendizagem. Surge, então, a Universidade Corporativa! Diante deste novo cenário, as Universidades Tradicionais partiram para a disponibilização de novos cursos de graduação (até a especialização), procurando GESTÃO DO CONHECIMENTO E DA INOVAÇÃO EMPRESARIAL 36 ampliar as ofertas aos alunos e, por consequência, poder suprir a lacuna de exigência destacada pelas empresas. Mesmo assim, as Empresas perceberam que a fragilidade continuava a despeito da diversidade de ofertas de formações oferecidas. Diante desta evidência, algumas empresas conseguiram recursos para antecipar-se e apresentar o seu próprio programa de ensino, através das Universidades Corporativas, dando condições para que seus trabalhadores, clientes, fornecedores e outros mais, pudessem ser contemplados com a uniformidade da informação e, por consequência, alcançassem maior fluidez em seus processos, ampliando pelo saber, as vantagens competitivas que pudessem agregar e, principalmente, consolidando a identidade organizacional para os seus trabalhadores e, para o mercado, também. Educação Corporativa Este novo modelo precisava ser considerado como mais abrangente do que aquele já consolidado, identificado como Treinamento e Desenvolvimento que, por essência, focava o passado e o presente. Neste novo modo de tratar o conhecimento, era preciso considerar o presente e o futuro, já que as exigências atuais não se prendiam em coisa alguma do passado. Em suma, o que move a ideia da Universidade Corporativa é a busca constante pelo conhecimento, visando ao atendimento das necessidades organizacionais, além do incentivo à consciência coletiva do aprender, sempre. Característica Universidade Tradicional Universidade Corporativa Competências Desenvolve aquelas essenciais para o mundo do trabalho Desenvolve aquelas essenciais ao sucesso do negócio da empresa Aprendizagem Baseada em sólida formação conceitual euniversal Baseada na prática dos negócios Sistema Educacional Formal Pautado pela gestão de competências GESTÃO DO CONHECIMENTO E DA INOVAÇÃO EMPRESARIAL 37 Ensinamento Crenças e valores universais Crença e valores da empresa Cultura Desenvolve cultura acadêmica Desenvolve cultura organizacional Resultado Forma cidadãos competentes para o sucesso de instituições e comunidade Forma cidadãos competentes para o sucesso da empresa, dos clientes, fornecedores, empregados e acionistas Referenciais para o tratamento do tema aprendizagem: Aprendizagem Constante – deve-se estimular o desejo de aprender, e a organização deve fornecer os meios para tal. Autodesenvolvimento – o indivíduo deve buscar o seu próprio desenvolvimento que pode ser orientado e facilitado pela Universidade Corporativa. Identidade Organizacional – a Universidade Corporativa pode ser o “meio” consolidador dos Valores da Organização, fortalecedora da Cultura que direciona o comportamento das pessoas no trabalho. “Cadeia Produtiva” – envolvimento dos atores que contribuem para a existência do negócio, no mesmo processo interno de aprendizagem da Organização. Ou seja, a Universidade Corporativa, pode envolver Clientes e Fornecedores no processo de geração do conhecimento. Novas Parcerias – formação de parcerias com outras instituições que possam ampliar as ofertas de aprendizagem e/ou chancelar aquelas que já foram disponibilizadas. Conhecimento e Estratégia – Entendimento da estratégia do negócio como definidora do conhecimento necessário que, implementado, incrementa a geração de novas competências como vantagem competitiva. Gerenciamento – utilização de modelos de Gestão que sejam direcionados para o gerenciamento do Conhecimento, assim como das Competências que o tornam possível de existir, procurando pela extinção dos “gaps” e o fortalecimento da GESTÃO DO CONHECIMENTO E DA INOVAÇÃO EMPRESARIAL 38 capacidade organizacional, através das competências de cada trabalhador, alinhando-as às da empresa. Diante de tudo isto que foi exposto, é possível compreendermos a Universidade Corporativa como uma nova concepção do processo de ensino-aprendizagem, indo além do convencionalismo defendido e praticado pelos modelos tradicionais, ampliando as ofertas de aprendizagem, mas principalmente, tornando possível a realização de outras perspectivas de negócio para as empresas, valorizando ainda mais as pessoas que nelas atuam como parceiras. Tipos de Aprendizados (Formal/Informal) Não importa se é durante o intervalo do almoço, reuniões ou se é na hora do cafezinho: promover o aprendizado a partir de situações informais é cada vez mais estratégico para organizações e profissionais que não se contentam com data e hora marcadas para conhecer algum assunto. Em suma, gestor e equipe precisam estimular essas trocas. E qual é a diferença entre aprendizagem formal e informal? A aprendizagem formal é estruturada e orientada por currículos, com base em funções ou níveis fixados pela organização; ou seja, nessa modalidade, a própria empresa determina o tipo de aprendizado que precisa ser adotado pelas pessoas e o tempo da atividade. A quantidade de horas necessárias de aprendizado formal difere de acordo com a organização, pessoa ou função. Exemplos de aprendizagem formal: programas de aprendizado em sala de aula (física e virtual). GESTÃO DO CONHECIMENTO E DA INOVAÇÃO EMPRESARIAL 39 A aprendizagem informal é impulsionada pelo aprendizado diário e pelas necessidades de desenvolvimento das pessoas. Em outras palavras, leva em conta a cooperação entre os indivíduos e o compartilhamento de ideias. Exemplos de aprendizagem informal: comunidades online, redes sociais, mensagens instantâneas, observação de outras pessoas etc. Com o desenvolvimento tecnológico, o que um dia era disponibilizado apenas pelas organizações, hoje é produzido e compartilhado pelos próprios colaboradores. Gestão por Competências Como vimos na aula 3, em paralelo à identificação das áreas de Conhecimento que deverão ser tratadas como prioridade pela organização, também se torna essencial que a Organização defina quais são as suas Competências Organizacionais e, por consequência, estabeleça aquelas Coletivas e Individuais que precisa possuir, que tornem viável a existência desta convergência de elementos, visando a sua perenidade. Competências Organizacionais dizem respeito à obtenção de resultados a partir da mobilização de competências individuais e coletivas, do uso efetivo de recursos produtivos e de informação, de redes de relacionamentos, entre outros. E o que são Competências? Resumidamente, podemos identificar o envolvimento dos seguintes elementos: Conhecimento, Habilidade e Atitude. Nesse contexto, o termo Conhecimento abrange o tácito e o explícito, pois é consequência tanto das experiências de formação teórica quanto das vivências ao longo da existência do sujeito. GESTÃO DO CONHECIMENTO E DA INOVAÇÃO EMPRESARIAL 40 Por “Habilidade”, entende-se a capacidade de praticar e aplicar o conhecimento produzido ou acumulado pelo indivíduo. “Atitude” denota o ato de querer realizar, tornando viável o alcance da eficácia em relação ao conhecimento adquirido e a habilidade de aplicação deste. Entretanto, na literatura específica, encontramos diversas outras definições para o termo, guardadas as particularidades dos contextos e das características de quem as produziu. A competência é uma característica subjacente a uma pessoa, casualmente relacionada com uma performance superior na realização de uma tarefa ou em determinada situação. (...) (...) nos tempos medievais, os alquimistas procuravam transformar metais em ouro; hoje, os gerentes e as empresas procuram transformar recursos e ativos em lucro. Uma nova forma de alquimia é necessária às organizações. Vamos chamá-la de “Competência”. (FLEURY, 2001) Independentemente do modelo de gerenciamento a ser adotado, este deve envolver todos na Organização, passando a ser responsabilidade de todos, e deve permear a diversidade dos processos de Recrutamento e Seleção, Treinamento e Desenvolvimento e Avaliação de Desempenho. Afinal, não é possível imaginar a Gestão do Conhecimento sem que as pessoas possam ser recrutadas e selecionadas pelas competências que a Empresa necessita; ou ainda, poderem participar de programas de capacitação e/ou desenvolvimento cujos objetivos sejam – de uma maneira geral – tornar a empresa mais competitiva e sólida diante de todas as turbulências do mercado atual. GESTÃO DO CONHECIMENTO E DA INOVAÇÃO EMPRESARIAL 41 5. Conhecimento e Inovação Inovação (e seus tipos) nas Organizações A inovação das organizações depende de conhecimentos emergentes que ainda deverão ser construídos para dar conta das demandas que surgirão. Isso significa liderar a partir do futuro emergente e exigir dos gestores uma habilidade de observação mais atenta, aberta, generosa e precisa dos cenários, objetivando a exploração do amanhã a partir de protótipos construídos coletivamente que possibilitem alcançar rapidamente resultados práticos. Como a inovação passou a ser um importante fator de diferencial competitivo, fica praticamente impossível a proteção do patrimônio de uma organização sem o efetivo gerenciamento de seu conhecimento, entendido como algo que agrega valor e riqueza. É importante entender que o conhecimento dentro das empresas precisa de condições adequadas para florescer. A criação do conhecimento se dá em empresas onde o ambiente é propício e oferece as condições necessárias para que o aprendizado individual e organizacional ocorra. Neste sentido, entende-se por criação do conhecimento em uma organização a capacidade que ela tem de criar novosmétodos, processos e inovações, disseminá-los nas diversas instâncias organizacionais e incorporá-los aos demais produtos, serviços e sistemas. A criação do conhecimento organizacional se dá por meio da interação entre as pessoas e de algumas possíveis iniciativas por parte da organização. Sua valorização permite à organização gerar constantemente novos processos e produtos que representam vantagens competitivas duradouras, possibilitando a geração de resultados concretos de mercado e agregando valor para a sociedade e para o acionista. GESTÃO DO CONHECIMENTO E DA INOVAÇÃO EMPRESARIAL 42 A inovação possui diversas classificações, que variam do tipo de benefício ao grau de inovação. Quanto ao Processo de seu Desenvolvimento: Aberta – a organização utiliza fontes externas para seus processos de inovação: clientes, fornecedores, universidades etc. Fechada – a organização aposta no desenvolvimento interno. Quanto ao Grau de Inovação: Incremental – é aquela que agrega valor para necessidades mais imediatas dos consumidores como uma nova embalagem ou uma nova cor de um produto. Evolutiva: tem como objetivo incorporar à organização práticas existentes no mercado que não são ainda desenvolvidas na organização; Radical ou Disruptiva – é a que atende a necessidades menos evidentes. Ela altera o modelo de negócio e, algumas vezes, revoluciona todo o mercado, introduzindo novos concorrentes de diferentes “indústrias”. Existe também a classificação da inovação em produtos, processos e modelos de negócios. A capacidade de Inovação como Base da Competitividade da Empresa Inovação e Competitividade Muito do que se tem discutido sobre o mercado de trabalho reforça o componente de inovação como o grande diferencial competitivo das empresas, independentemente de porte ou setor de atuação. A consequência disso é o desenvolvimento de novos produtos e processos e a otimização dos custos. Cada vez mais as empresas de pequeno e médio portes têm a inovação como base de sua estratégia de negócio. Pesquisas realizadas recentemente pelo IBGE GESTÃO DO CONHECIMENTO E DA INOVAÇÃO EMPRESARIAL 43 e pelo IPEA indicam que 33% das empresas brasileiras inovam, o que é um caminho viável e deve ser seguido para gerar novos casos de sucesso. A competitividade está mais assentada na capacidade de adaptação a mudanças tecnológicas e nos avanços organizacionais e mais em sintonia com a capacidade das empresas de explorar as partes de maior valor das cadeias produtivas e de responder rapidamente a oportunidades e ameaças que surgem a no mercado. Neste contexto, a capacidade de inovar ganha importância preponderante na definição de quem vai prosperar ou sucumbir. E o valor dos produtos e serviços oferecidos também depende cada vez mais da quantidade de inovação, tecnologia e inteligência neles incorporada. O economista Peter Drucker (1909-2005), considerado o pai da administração moderna, indica a inovação como função básica da empresa. “O que todos os empreendedores de sucesso revelam não é uma qualquer personalidade especial, mas um empenho pessoal numa prática sistemática de inovação”. A inovação ocorre quando se confere uma aplicação prática para uma descoberta ou invenção. A fabricante de computadores Apple não inventou os computadores pessoais nem os tocadores de MP3. Mas criou modelos de apresentação mais bonitos e de uso mais prazeroso do que a concorrência. É um exemplo de empresa que consegue sobreviver num ambiente de concorrência feroz lançando produtos cada vez mais inovadores. Invenção e Inovação Muitos costumam confundir esses dois conceitos: INOVAR e INVENTAR. Num primeiro momento, superficialmente, parecem caminhar juntas, mas não, pois diferem na definição e aplicam-se de modo diferente na prática. Vamos entender? GESTÃO DO CONHECIMENTO E DA INOVAÇÃO EMPRESARIAL 44 Inventar é gerar uma ideia, criar um conceito novo ou uma solução, algo que traz um benefício coletivo e que se identifica pela conquista de um objetivo. Um exemplo? A roda. O intuito do inventor da roda – mesmo que jamais tenha ganhado o Prêmio Nobel – foi facilitar às pessoas irem a lugares mais distantes e transportar coisas com menor esforço. Inovar é mudar ou alterar algo pela introdução – ou retirada – de um ou mais elementos cujo resultado final seja um diferencial positivo. É, dizendo de modo simples, a busca por aumentar a eficiência e eficácia de um produto, serviço ou processo. Um bom exemplo de inovação é a transformação das antigas máquinas fotográficas. Elas precisavam de muito espaço para ser manuseadas. Hoje são pequenos equipamentos portáteis e de fácil utilização. Inovação é, hoje, uma palavra de ordem na vida corporativa. As razões são muitas. Destaque para aumento da eficiência com redução de custos. O que se deseja é a melhoria nos índices de competitividade. Isto se consegue em termos de: Produtos e Serviços: por desenvolvimento e comercialização de novas propostas, design ou conceito; Processos: pelo desenvolvimento de novos meios de fabricação ou de novas formas de prestação de serviços; Negócios: através de alternativas que forneçam vantagem competitiva e sustentável; Gestão: pelo desenvolvimento de novas estruturas de poder e liderança. Finalmente, criatividade e inovação, sim, são indissociáveis, mesmo não sendo sinônimas. O ponto de partida de qualquer processo de inovação é fomentar a criatividade e o gosto pelo que é novo! GESTÃO DO CONHECIMENTO E DA INOVAÇÃO EMPRESARIAL 45 6. Compartilhamento de Conhecimento nas Organizações O Conhecimento como Ativo Organizacional Como sabemos, os recursos são geralmente definidos como ativos específicos de determinada organização, os quais são difíceis, quando não impossíveis, de serem imitados. Como exemplos podemos citar: patentes, marca registrada, o conhecimento de uma equipe formada por profissionais com certo grau de especialização e capacitada por uma larga experiência etc. Geralmente, são difíceis de transferir entre organizações devido aos custos de transação e ao fato de alguns destes ativos serem fortemente baseados em conhecimentos tácitos. Nessa lógica, tem-se que esses recursos são algumas vezes caracterizados como intangíveis e entre estes alguns se caracterizam por serem recursos de conhecimento. Assim, podemos falar em ativos de conhecimento para nos referirmos aos recursos baseados em conhecimentos, especialmente os baseados em conhecimentos tácitos, pois estes são os que se mostram de maior dificuldade de transferência ou imitação, garantindo assim posições privilegiadas de assimetria a seus possuidores. As empresas que se diferenciam e que, por conseguinte, têm maiores chances de alcançar relativa longevidade, caracterizam-se por serem “repositórios” de conhecimentos. O termo "repositórios" não deve em hipótese alguma ser entendido no mesmo sentido em que é usado para informações. Podemos falar em depósitos de informações, mas não devemos falar em depósitos de conhecimento. Estes conhecimentos, dos quais a organização é o repositório, não se caracterizam pelas informações registradas da organização, como muitas GESTÃO DO CONHECIMENTO E DA INOVAÇÃO EMPRESARIAL 46 vezes se pensa. Estas informações são normas e procedimentos, ou apenas sua teoria proclamada. Os conhecimentos, entendidos como capacitações para ação eficaz, que diferenciam uma empresa, na verdade estão embutidos nas suas rotinas e processos de negócios. Trata-se de rotinas distintivas em uso, que dão embasamento aos ativos específicos da organização, possibilitando-lhe competências. A base de conhecimento inclui, entre outros, suas competências tecnológicas (técnicas e organizacionais), seu conhecimento das necessidades dos clientes e as
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