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EFEITOS DA CONDENAÇÃO O principal efeito da sentença penal condenatória é, sem dúvida, submissão do condenado à execução forçada da sanção imposta. Entretanto, a condenação possui outras consequências que atingem a pessoa do condenado, como a reincidência, a interrupção do prazo prescricional do crime praticado, tornar certa a obrigação de reparar do dano, podendo, inclusive, fazer com que o sentenciado venha a perder o cargo, função pública ou mandato eletivo. Nota-se, portanto, que os efeitos da sentença condenatória transitada em julgado não estão circunscritos ao campo penal, havendo consequências extrapenais. Os efeitos penais são divididos em principais (imposição da sanção penal e sua execução forçada) e secundários (maus antecedentes e reincidência como condições desfavoráveis do agente, a conversão das penas restritivas de direitos, a interrupção do prazo prescricional, revogação do "sursis" e do livramento condicional etc.). Os efeitos extrapenais são também repartidos em dois: Genéricos (art. 91 do CP) Específicos (art. 92 do CP). Assim: a) EFEITOS PENAIS: 1- Principal: execução forçada da pena imposta. 2- Secundários: são vários os efeitos penais secundários da condenação, podendo-se citar como exemplo a reincidência e a interrupção da prescrição. b) EFEITOS EXTRAPENAIS: Atenção: Os efeitos extrapenais permanecem mesmo no caso de abolitio criminis e anistia. 1- GENÉRICOS: A interpretação a “contrario sensu” do artigo 92, parágrafo único, do Código Penal, mostra serem tais efeitos automáticos, ou seja, NÃO PRECISAM SER EXPRESSAMENTE DECLARADOS NA SENTENÇA. Toda condenação os produz Art. 91 - São efeitos da condenação: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) I - tornar certa a obrigação de indenizar o dano causado pelo crime; (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) II - a perda em favor da União, ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de boa-fé: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) a) dos instrumentos do crime, desde que consistam em coisas cujo fabrico, alienação, uso, porte ou detenção constitua fato ilícito; b) do produto do crime ou de qualquer bem ou valor que constitua proveito auferido pelo agente com a prática do fato criminoso. § 1o Poderá ser decretada a perda de bens ou valores equivalentes ao produto ou proveito do crime quando estes não forem encontrados ou quando se localizarem no exterior. (Incluído pela Lei nº 12.694, de 2012) § 2o Na hipótese do § 1o, as medidas assecuratórias previstas na legislação processual poderão abranger bens ou valores equivalentes do investigado ou acusado para posterior decretação de perda. (Incluído pela Lei nº 12.694, de 2012) VEJAMOS: TORNAR CERTA A OBRIGAÇÃO DE INDENIZAR O primeiro (e mais importante) efeito genérico da condenação é tornar certa a obrigação de indenizar o dano causado pelo crime (art. 91, I), constituindo a sentença penal condenatória título executivo judicial em parte incompleto, demandando a liquidação no juízo cível a fim de apurar o quantum a ser indenizado. Com o advento da Lei n° 11 .719/08 (que alterou o CPP), pode o juiz criminal, na condenação, fixar, desde logo, quantum certo e determinado para servir à indenização do ofendido (art. 387, IV, CPP), parte essa da sentença que dispensa liquidação. Obs.: Como a lei menciona sentença penal condenatória, fica por consequência excluída toda e qualquer decisão que tenha caráter absolutório (mesmo que seja a absolvição imprópria), a exemplo da que reconhece excludente da ilicitude ou da culpabilidade. CONFISCO DOS INSTRUMENTOS E PRODUTOS DO CRIME O artigo 91, II, do Código Penal, relaciona os bens que devem ser perdidos como efeito da condenação: "São efeitos da condenação: ( .. ) !I - a perda em favor da União, ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de boa-fé: a) dos instrumentos do crime, desde que consistam em coisas cujo fabrico, alienação, uso, porte ou detenção constitua fato ilícito; b) do produto do crime ou de qualquer bem ou valor que constitua proveito auferido pelo agente com a prática do jato criminoso. § 1 o Poderá ser decretada a perda de bens ou valores equivalentes ao produto ou proveito do crime quando estes não forem encontrados ou quando se localizarem no exterior. § 2° Na hipótese do § 1°, as medidas assecuratórias previstas na legislação processual poderão abranger bens ou valores equivalentes do investigado ou acusado para posterior decretação de perda. ". FINALIDADE: a) impedir a propagação dos instrumentos idôneos para a prática de crimes; b) não permitir o enriquecimento ilícito do criminoso; c) e, por fim, desmantelar as organizações criminosas, destruindo a sua célula nervosa, qual seja, impressionante capacidade financeira (fortuna), ainda que localizada no exterior. O artigo em comento começa anunciando que devem ser perdidos em favor da União os instrumentos crime, ISTO É, OS UTENSÍLIOS QUE SERVIRAM AO AGENTE NA EXECUÇÃO DO DELITO. CUIDADO!!! Como bem alerta BITENCOURT: A lei "não admite o confisco indistintamente de todo e qualquer instrumento do crime, mas tão somente daqueles instrumentos cujo fabrico, alienação, uso, porte ou detenção constitua fato ilícito (art. 91, I, "a", do CP). Na verdade, confiscam-se aqueles instrumentos que, por sua destinação específica, são usados na prática de crimes, ou cujo uso ou porte sejam proibidos. Com essa previsão, nosso legislador visou evitar o confisco de utensílios profissionais, de trabalho, de estudo, enfim, objetos de uso lícito. Assim, o bisturi do médico, o automóvel que atropela e mata a vítima, a navalha do barbeiro, embora instrumenta sceleris, não podem ser confiscados." TAMBÉM SERÁ CONFISCADO O PRODUTO DO CRIME, ENTENDIDO COMO QUALQUER BEM OU VALOR QUE REPRESENTE O PROVEITO AUFERIDO PELO AGENTE COM A PRÁTICA DO FATO CRIMINOSO. Nos dois casos (confisco dos instrumentos ou produto do crime) a lei ressalva o direito do lesado ou de terceiro de boa-fé: Suponhamos que JOÃO, depois de apoderar-se arbitrariamente da arma de um colecionador, pratica um roubo. O instrumento utilizado no crime, em tese, é coisa cujo porte constitui fato ilícito. O colecionador ficará sem seu objeto de coleção? Parece-nos justo que se o dono da arma tem permissão para possuir o material bélico, afasta-se a natureza ilícita, pressuposto do confisco, restituindo-se a arma ao real proprietário. obs.: E se o produto ou proveito do crime não for encontrado ou estiver localizado no exterior? A Lei n° 12.694/12, definindo organização criminosa (bem como seu processo e julgamento por colegiado em primeiro grau de jurisdição), alterou a redação do art. 91 do Código Penal, acrescentando-lhe dois parágrafos, autorizando, nesses casos, o confisco de bens ou valores equivalentes. obs.: Importante anotar que o Código de Processo Penal, nos seus artigos 125 a 144, dispôs sobre as medidas cautelares reais de natureza penal (medidas assecuratórias), dotando o magistrado de meios para evitar que o réu se desfaça dos bens produto do crime, bem como dos valores auferidos com ele. O diploma processual permite, com tais medidas, a constrição do patrimônio do acusado, seja ele ilícito ou lícito, sempre com a finalidade de, ao término do processo, garantir os efeitos da condenação. 2- ESPECÍFICOS (artigo 92, CP): Art. 92 - São também efeitos da condenação:(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984): I - a perda de cargo, função pública ou mandato eletivo: (Redação dada pela Lei nº 9.268, de 1º.4.1996) a) quando aplicada pena privativa de liberdade por tempo igual ou superior a um ano, nos crimes praticados com abuso de poder ou violação de dever para com a Administração Pública; (Incluído pela Lei nº 9.268, de 1º.4.1996) b) quando for aplicada pena privativa de liberdade por tempo superior a 4 (quatro) anos nos demais casos. (Incluído pela Leinº 9.268, de 1º.4.1996) II - a incapacidade para o exercício do pátrio poder, tutela ou curatela, nos crimes dolosos, sujeitos à pena de reclusão, cometidos contra filho, tutelado ou curatelado; (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) III - a inabilitação para dirigir veículo, quando utilizado como meio para a prática de crime doloso. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) Parágrafo único - Os efeitos de que trata este artigo não são automáticos, devendo ser motivadamente declarados na sentença. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) Previstos no artigo 92 do Código Penal, os efeitos extrapenais específicos NÃO SÃO AUTOMÁTICOS, devendo ser motivadamente declarados na sentença condenatória (art. 92, parágrafo único, CP). Têm apenas caráter preventivo, assegurando a eficácia da reprimenda principal, prevenindo a reincidência. Art. 92 - São também efeitos da condenação: I- Perda do cargo ou função pública: Ele anuncia efeitos da condenação de natureza administrativa (perda de cargo e função pública) e política (perda de mandato eletivo). OBS.: Não se fala da perda do mandato eletivo porque se submete à CF e não mais ao CP. MAS, há uma grande divergência na doutrina. Veja o resumo e descrição feita por Rogério Sanches: Efeitos políticos da condenação, com o advento da Constituição Federal de 1988, mais precisamente em face do disposto no seu artigo 15, inciso III, a perda do mandato eletivo já não mais se submete às regras do Código Penal, sendo consequência de toda e qualquer condenação criminal transitada em julgado, mesmo que não declarada expressamente na sentença. Independe, ainda, da natureza do crime, da qualidade e quantum da pena efetivamente imposta. Nem mesmo o fato de ter sido o agente, eventualmente, beneficiado com a suspensão condicional da pena impede a perda do mandato eletivo. Apesar de reconhecerem a autoaplicabilidade do art. 15, III, da CF, encontramos decisões restringindo a sua aplicação, entendendo que a suspensão dos direitos políticos do condenado somente se permite quando o cumprimento da reprimenda corporal torne inviável o exercício de tais direitos, ou quando houver limitações que impliquem horários de recolhimento ao cárcere, não se aplicando, por exemplo, às hipóteses de sursis. Especificamente com relação aos congressistas (deputados federais e senadores) que, no exercício dos mandatos, forem condenados criminalmente, a Constituição é dúbia. O art. 55, ao elencar as hipóteses de perda do mandato eletivo, estabelece, no inciso IV, que tal ocorre em relação ao parlamentar "que perder ou tiver suspensos os direitos políticos"; em seguida, no inciso VI, impõe idêntica consequência para aquele "que sofrer condenação criminal em sentença transitada em julgado". Para a hipótese do inciso IV, o § 3° do art. 55 dispõe que "a perda será declarada pela Mesa da Casa respectiva, de ofício ou mediante provocação de qualquer de seus membros, ou de partido político representado no Congresso Nacional, assegurada ampla defesa", ao passo que em decorrência da condenação criminal definitiva (inciso VI) o § 2° estabelece que "a perda do mandato será decidida pela Câmara dos Deputados ou pelo Senado Federal, por maioria absoluta, mediante provocação da respectiva Mesa ou de partido político representado no Congresso Nacional, assegurada ampla defesa. Ocorre que o art. 15, inciso III, da Constituição Federal elege a condenação criminal transitada em julgado como causa de suspensão dos direitos políticos (trata-se de suspensão porque a privação dos direitos políticos vigora apenas enquanto incidentes os efeitos da condenação). Diante disso, instala-se a celeuma: a perda do mandato eletivo é consequência natural da condenação criminal definitiva, bastando à Mesa da Casa Legislativa respectiva declará-la, ou deve haver deliberação do Plenário para decretar a perda do mandato? A controvérsia foi intensamente debatida pelo Supremo Tribunal Federal em duas ações penais originárias. Na primeira delas, a ação penal 470, por unanimidade, concluiu aquela Corte pela suspensão dos direitos políticos de todos os condenados, em decorrência do disposto no art. 15, inciso III, da Constituição Federal. Por maioria (5x4), decidiu pela decretação da perda dos mandatos dos parlamentares condenados, cabendo à respectiva Casa Legislativa apenas e tão somente declará-la, sem qualquer votação sobre o mérito da cassação. Assim foi sintetizada a decisão do tribunal: ''Assinalou-se que as hipóteses de perda ou suspensão de direitos políticos seriam taxativas (CF, art. 15) e que o Poder Legislativo poderia decretar a perda de mandato de deputado federal ou senador, com fundamento em perda ou suspensão de direitos políticos, bem assim em condenação criminal transitada em julgado (CF, art. 55, IV e VI). Ressaltou-se que esta previsão constitucional estaria vinculada aos casos em que a sentença condenatória não tivesse decretado perda de mandato, haja vista não estarem presentes os requisitos legais (CP, art. 92), ou por ter sido proferida anteriormente à expedição do diploma, com o trânsito em julgado ocorrente em momento posterior. Afastou-se, na espécie, a incidência de juízo político, nos moldes do procedimento previsto no art. 55 da CF, uma vez que a perda de mandato eletivo seria efeito irreversível da sentença condenatória. Consignou-se, ademais, a possibilidade de suspensão do processo, com o advento da EC 35/2001, para evitar que o parlamentar fosse submetido à perseguição política. Entretanto, não ocorrida a suspensão, o feito seguiria trâmite regular. Frisou-se que esses réus teriam cometido crimes contra a Administração Pública quando no exercício do cargo, a revelar conduta incompatível com o exercício de mandato eletivo" - Informativo 693. Em sua intervenção, o Min. Celso de Mello asseverou que a regra impositiva da votação sobre a perda do mandato "aplicar-se-ia a condenações criminais que não envolvessem delitos apenados com sanções superiores a 4 anos ou que, embora inferiores a este patamar, não dissessem respeito a infrações cujo tipo penal contivesse como elementar ato de improbidade administrativa. Destacou competir à Casa a que pertencesse o congressista meramente declarar o fato extintivo já reconhecido e integrado ao próprio título condenatório" - Informativo 693. Em outra oportunidade, passados poucos meses, o Supremo Tribunal Federal voltou a se debruçar sobre a perda do mandato de parlamentares condenados, agora na ação penal 565. Ocorre que, nesta ocasião, o tribunal estava com sua composição modificada, pois dois novos ministros haviam sido empossados. Desta feita, a anterior minoria transmudou-se em maioria (6x4), pois se decidiu competir à Casa Legislativa deliberar a respeito da perda do mandato do parlamentar condenado. Aqueles ministros que haviam votado, na ação penal 470, pela deliberação do Parlamento a respeito da cassação, reiteraram seus argumentos, lastreados, basicamente, na separação dos Poderes da República. Para tais julgadores, a decretação da perda do mandato pelo próprio tribunal constituiria ingerência do Judiciário em seara exclusiva do Legislativo. Os dois novos ministros que não haviam votado na ação penal anterior assentaram: a) "que a condenação criminal transitada em julgado conteria como efeito secundário, natural e necessário, a suspensão dos direitos políticos, que independeria de declaração. De outro passo, ela não geraria, necessária e naturalmente, a perda de cargo público. Avaliou que, no caso específico dos parlamentares, essa consequência não se estabeleceria. No entanto, isso não dispensaria o congressista de cumprir a pena (Teor i Zavascki); h) a literalidade do art. 55, § 2°, da Constituição Federal não se coaduna com a orientação anteriormente adotada pela Corte (Luís Roberto Barroso) -Informativo 714. Parece-nos mais acertada a primeira conclusão a que chegou o Tribunal. Data maxima venia, não se afigura razoável admitir que um parlamentar tenha seus direitos políticos suspensos em decorrência de condenação criminal e, ao mesmo tempo, mantenha seu mandato legislativo até que haja pronunciamento da Câmara dos Deputados ou do Senado Federal a respeito da perda. E não é razoável porque se instaura o sério risco de que tenhamos a escatológica figura do parlamentar-presidiário diante da possibilidade de que a Câmara ou o Senado votem contrariamente à cassação, como, aliás, ocorreu em passado recente, em que o Supremo Tribunal Federal condenou um deputado federal (AP 396), mas não se pronunciou sobre a perda do mandato. Coube, pois, à Câmara dos Deputados votar a respeito, e, diante da falta de votos suficientes, a cassação do mandato não prosperou e o condenado iniciou o cumprimento da pena em regime fechado mantendo seu status de parlamentar. Ademais, a interpretação literal da Constituição conduz tanto num como noutro sentido. Ora, o art. 15, inciso III, da Constituição Federal é expresso ao determinar a suspensão dos direitos políticos dos criminalmente condenados em definitivo, moldando-se, pois, ao disposto no art. 55, § 3°, no sentido de que basta a declaração da perda pela Mesa da Casa Legislativa. Já o art. 55, § 2° impõe a deliberação do Plenário nos casos de condenação criminal. Compete ao Supremo Tribunal Federal, em casos tais, conferir a interpretação que mais bem se harmonize com o sistema constitucional. Nesse contexto, considerada a suspensão dos direitos políticos como consectário da condenação criminal, é decorrência lógica a perda do mandato, devendo o Parlamento apenas declará-la. Como podemos aceitar que um parlamentar exerça seu ofício sem estar no pleno gozo dos direitos políticos se, nesta condição, sequer poderia se lançar candidato? Esta interpretação certamente não favorece a unidade da Constituição Federal, tratada na seara constitucional como princípio segundo o qual a Lei Maior deve ser interpretada de forma que se lhe confira plena efetividade na medida em que se afastam eventuais antinomias. Deve-se ressaltar que este tema se estende aos parlamentares estaduais e distritais, ex vi do disposto nos artigos 27, § 1 o e 32, § 3°, ambos da CF. Não tendo a Carta Maior previsto regra específica sobre os parlamentares municipais, aplica-se a regra geral do afastamento automático, cabendo ao Presidente da Câmara apenas declarar a sua extinção. Por fim, deve ser observada a "Lei da Ficha Limpa", que dispõe sobre diversas situações de inelegibilidade decorrentes da prática de crimes, reconhecidas em decisão com trânsito em julgado ou decisão por órgão colegiado (art. 1°, I, "e", da Lei Complementar no 64/90, alterada pela Lei Complementar n°135/10). a- Crimes funcionais: - DEVE SER APLICADA PPL, se imposta restritiva de direitos ou multa este efeito não é gerado. - Tempo de pena igual ou superior a um ano. b- Crimes comuns: - DEVE SER APLICADA PPL. Do mesmo modo, restritiva de direitos ou multa não geram esse efeito. - Tempo de pena superior a quatro anos. Cuidado: não abrange pena igual a 4 anos, mas apenas superior. II- incapacidade para o exercício do poder familiar, tutela ou curatela: Pressupõe agente condenado definitivamente por crime doloso, punido com reclusão (não importando o quantum), praticado contra filho, tutelado ou curatelado. A incapacidade não exige como requisito o abuso do poder familiar, tutela ou curatela, presumindo-se a incompatibilidade para o seu exercício. obs.: Discute-se se a incapacidade se estende aos outros filhos (não vítimas do crime): GUILHERME DE Souza Nucci entende que a presente consequência da condenação incide somente sobre a relação entre o condenado e a vítima, não alcançando outros filhos. - Deve se tratar de crime doloso. CLEBER MASSON, não sem razão, discorda, argumentando: "Essa incapacidade pode ser estendida para alcançar outros filhos, pupilos ou curatelados, além da vítima do crime. Não seria razoável, exemplificativamente, decretar a perda do poder familiar somente em relação à filha de dez anos e idade estuprada pelo pai, aguardando fosse igual deliro praticado contra as outras filhas mais jovens, para que só então se privasse o genitor desse direito". Essa segunda corrente ganha força com o advento da Lei 12.962/14 que, alterando o Estatuto da Criança e do Adolescente, anuncia no seu art. 23, § 2°: 'í1 condenação criminal do pai ou da mãe não implicará a destituição do poder familiar, exceto na hipótese de condenação por crime doloso, sujeito à pena de reclusão, contra o próprio filho ou filha'. III- A inabilitação para dirigir veículo, quando utilizado como meio para a prática de crime doloso: Obs.: o veículo a que se refere não necessariamente é o automotor. - Veículo utilizado como meio para a prática de crime doloso. A inabilitação para dirigir veículo utilizado como meio para a prática de crime doloso é também efeito extrapenal não automático estampado no art. 92, inc. III, do CP. São requisitos desta consequência: a) condenação definitiva por crime doloso; b) veículo utilizado como instrumento do crime. OBS.: a inabilitação não se restringe aos veículos automotores, alcançando embarcações e aeronaves. EFEITO DA CONDENAÇÃO NA LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE A legislação extravagante pode também cuidar das consequências da condenação. Veja alguns exemplos mais relevantes: Lei de Tortura: A Lei n° 9.455/97,199 em seu artigo 1°, §5°, prevê "a perda do cargo, função ou emprego público e a interdição para seu exercício pelo dobro do prazo da pena aplicada" do torturador. Apesar de haver corrente em sentido contrário, prevalece que o presente efeito é automático, dispensando declaração do juiz sentenciante. O tema é pacífico perante os Tribunais Superiores: STJ "A perda do cargo, função ou emprego público é efeito automático da condenação pela prática do crime de tortura, não sendo necessária fundamentação concreta para a sua aplicação". Lei de Organização Criminosa: A Lei 12.850/13, no seu art. 2°, § 6°, cuida de importante efeito extrapenal da sentença penal definitiva, anunciando que a condenação acarretará ao funcionário público a perda do cargo, função, emprego ou mandato eletivo. Como já ocorre na Lei de Tortura, o efeito previsto é automático, dispensando motivação do magistrado sentenciante (diferente da regra geral estampada no art. 92, parágrafo único, do CP). Preconceito racial Ao definir os crimes resultantes de preconceito de raça ou de cor, este diploma previu como efeito da condenação a perda do cargo ou função pública, para o servidor público, e a suspensão do funcionamento do estabelecimento particular por prazo não superior a três meses (art. 16 da Lei). Aqui o efeito não é automático, devendo ser devidamente declarado na sentença (com a respectiva motivação), nos termos do artigo 18 da Lei especial. Lei de Lavagem de Capitais A Lei n° 9.613/98 prescreve como efeitos da condenação: (A) a perda, em favor da União, dos bens, direitos e valores objeto dos crimes de lavagem de dinheiro, ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de boa-fé; e (B) a interdição do exercício de cargo ou função pública de qualquer natureza e de diretor, de membro de conselho de administração ou de gerência das pessoas jurídicas referidas no artigo 9° daquele diploma, pelo dobro do tempo da pena privativa de liberdade aplicada. Lei de Falência Os crimes previstos no artigo 168 a 178 da Lei n° 11.1 O 112005 terão como efeito da condenação: (A) a inabilitação para o exercício de atividade empresarial; (B) impedimento para o exercício de cargo ou função em conselho de administração, diretoria ou gerência das sociedades sujeitas a Lei; e (C) a impossibilidadede gerir empresa por mandato ou por gestão de negócio. O diploma consigna expressamente que os efeitos da condenação não serão automáticos, devendo ser motivados na sentença. Lei n° 10.695 - alteração ao Código de Processo Penal A lei n° 10.695/2003 inseriu no capítulo que trata do dos crimes contra a propriedade material o artigo 530-G, que dispõe: "O juiz, ao prolatar a sentença condenatória, poderá determinar a destruição dos bens ilicitamente produzidos ou reproduzidos e o perdimento dos equipamentos apreendidos, desde que precipuamente destinados à produção e reprodução dos bens, em favor da Fazenda Nacional, que deverá destruí-los ou doá-los aos Estados, Municípios e Distrito Federal, a instituições públicas de ensino e pesquisa ou de assistência social, bem como incorporá-los, por economia ou interesse público, ao patrimônio da União, que não poderão retorná-los aos canais de comércio. Fim do tema. REABILITAÇÃO Está prevista nos artigos 93 a 95 do CP. Notam-se, em suma, duas finalidades da medida: a) assegurar o sigilo da condenação; b) suspender condicionalmente os efeitos específicos (secundários) da condenação previstos no art. 92 do CP. Assim, a reabilitação é o instituto declaratório que garante ao condenado: a) Sigilo sobre o processo e condenação. Art. 93 - A reabilitação alcança quaisquer penas aplicadas em sentença definitiva, assegurando ao condenado o sigilo dos registros sobre o seu processo e condenação. Nos termos do artigo 202 da LEP, o sigilo não depende mais da reabilitação, tratando-se de garantia automática com o cumprimento ou extinção da pena. VEJA: Art. 202. Cumprida ou extinta a pena, não constarão da folha corrida, atestados ou certidões fornecidas por autoridade policial ou por auxiliares da Justiça, qualquer notícia ou referência à condenação, salvo para instruir processo pela prática de nova infração penal ou outros casos expressos em lei. Ora, se a LEP já assegura o sigilo, bastando o cumprimento ou extinção da pena, qual é a utilidade da reabilitação nesse ponto? Para ROGÉRIO GRECO, não há nenhuma: "Muito mais vantajosa a aplicação imediata do art. 202 da Lei de Execução Penal após cumprida ou extinta a pena aplicada ao condenado do que esperar o decurso do prazo de dois anos do dia em que foi extinta a pena, ou terminar a sua execução, para solicitar a reabilitação. Verifica-se, portanto, que a orientação contida no caput do art. 93 do Código Penal cairá no vazio, pois o art. 202 da Lei de Execução Penal regula a mesma hipótese, só que de forma mais benéfica e menos burocrática para o condenado." MAS: CLEBER Masson discorda, enxergando nos dois dispositivos (arts. 93 do CP e 202 da LEP) diferenças quanto ao alcance do segredo: "O sigilo assegurado pela reabilitação é mais amplo, pois as informações por ele cobertas somente podem ser obtidas por requisição (ordem), não de qualquer integrante do Poder Judiciário, mas exclusivamente do juiz criminal. É o que se extrai do art. 748 do Código de Processo Penal": Art. 748. A condenação ou condenações anteriores não serão mencionadas na folha de antecedentes do reabilitado, nem em certidão extraída dos livros do juízo, salvo quando requisitadas por juiz criminal. b) Atingir os efeitos da condenação previstos no artigo 92, incisos I, II e III. Parágrafo único - A reabilitação poderá, também, atingir os efeitos da condenação, previstos no art. 92 deste Código, vedada reintegração na situação anterior, nos casos dos incisos I e II do mesmo artigo. Observe que nos casos dos incisos I e II é vedada a reintegração à situação anterior, ou seja, se está incapacitado para o exercício do poder familiar, pode- se exercê-lo, mas não com relação àquela vítima; se perdeu o cargo ou função pública, não poderá para ela voltar, tendo que prestar novo concurso público. No caso do inciso III, porém, a reabilitação é total. Assim, A reabilitação só é integral na hipótese do inciso III (inabilitação para dirigir veículo). OBSERVAÇÃO: A reabilitação impede a reincidência de crime futuro? Resposta: NÃO!!! A medida da reabilitação não rescinde a condenação. Logo, permanecem todos os seus efeitos penais secundários, dentre eles, a reincidência. Requisitos: Art. 94 - A reabilitação poderá ser requerida, decorridos 2 (dois) anos do dia em que for extinta, de qualquer modo, a pena ou terminar sua execução, computando-se o período de prova da suspensão e o do livramento condicional, se não sobrevier revogação, desde que o condenado: I - tenha tido domicílio no país no prazo acima referido; II - tenha dado, durante esse tempo, demonstração efetiva e constante de bom comportamento público e privado; III - tenha ressarcido o dano causado pelo crime ou demonstre a absoluta impossibilidade de fazê-lo, até o dia do pedido, ou exiba documento que comprove a renúncia da vítima ou novação da dívida. PERCEBA que são requisitos cumulativos. Nos termos do artigo 94, §ú, negada a reabilitação poderá ser pleiteada a qualquer tempo, desde que sejam apresentadas novas provas. Parágrafo único - Negada a reabilitação, poderá ser requerida, a qualquer tempo, desde que o pedido seja instruído com novos elementos comprobatórios dos requisitos necessários. Reabilitação e a pluralidade de penas: Prevalece na doutrina e na jurisprudência que no caso de várias condenações o pedido deve aguardar o cumprimento de todas as sanções, findo o qual começa a correr o prazo de 2 anos a partir do qual se pode pleitear a reabilitação. Revogação: Art. 95 - A reabilitação será revogada, de ofício ou a requerimento do Ministério Público, se o reabilitado for condenado, como reincidente, por decisão definitiva, a pena que não seja de multa. Esse dispositivo permite que seja revogada a reabilitação se for condenado definitivamente como reincidente, ou seja, menos de 5 anos após a extinção ou cumprimento da pena, desde que a condenação não seja a pena de multa. ASSIM, a reabilitação segue o espírito da cláusula rebus sic stantibus. Uma vez concedida, por ser revogada, de ofício ou a requerimento do Ministério Público, se o reabilitado for condenado, como reincidente, por decisão definitiva, a pena que não seja de multa (art. 95 do CP). Admite-se reabilitação em caso de MS, lembrando-se que o semi-imputável é condenado. Competência e recurso: Cuidado: os dispositivos do CPP sobre o direito material da reabilitação foram revogados com a reforma em 84 da parte geral do CP. Deve-se, assim, estudar apenas os dispositivos processuais. - Competência para julgar pedido de reabilitação: É do juiz da condenação, lembrando-se que não há mais juiz da execução, já que a pena já foi cumprida ou extinta. É isso que estabelece o artigo 743 do Código de Processo Penal. Quando indeferido do pedido, o pretenso reabilitado pode interpor recurso de apelação, com fundamento no artigo 593, II, do Código de Processo Penal. Da decisão que concede, caberá recurso de apelação (amparado no mesmo dispositivo) e o recurso de ofício, como dispõe o art. 746 do CPP (embora haja corrente doutrinária que ensina que o recurso oficial não foi recepcionado pela CF/88). Assim: Recursos: Diferencia-se a decisão que nega a reabilitação da que concede a reabilitação. Da decisão que nega reabilitação cabe apelação. Da decisão que concede reabilitação cabem apelação e recurso de ofício, nos termos do artigo 746 do CPP.
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