Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Thomás R. Campos MEDICINA - UFOB CLÍNICA MÉDICA TABAGISMO INTRODUÇÃO O tabagismo é um dos mais importantes problemas de saúde pública e persiste como uma das principais causas evitáveis de morte no mundo. TABACO O tabaco é uma erva que o ser humano tem utilizado por processo inalatório há mais de 300 anos. A folha do tabaco contém complexa mistura de componentes químicos: hidrocarbonetos, fenóis, ácidos graxos, isopropenos, ésteres e minerais inorgânicos. A fumaça do tabaco contém milhares de produtos químicos diferentes, muitos dos quais podem contribuir para doença cm seres humanos. Principais produtos químicos tóxicos presentes na fumaça do tabaco: Fase particulada do fumo: Nicotina, benzopireno e outros hidrocarbonetos policíclicos, N’-nitrosonornicotina, β-naftilamina, polônio 21O, níquel, cádmio, arsênico e chumbo. Fase gasosa do fumo: monóxido de carbono, acetaldeído, acetona, metanol, óxido de nitrogênio, cianeto de hidrogênio, acroleína, amônia, benzeno, formaldeído, nitrosaminas e cloreto de vinila. A fumaça do tabaco pode produzir doença por meio de absorção sistêmica de toxinas e/ou causar lesão pulmonar local pelos gases oxidantes. DEPENDÊNCIA DO TABACO A dependência ao tabaco é definida como o uso compulsivo de cigarro, com consequências deletérias para o indivíduo ou para a sociedade. Com o uso a longo prazo de tabaco desenvolve-se DEPENDÊNCIA QUÍMICA, em associação a aumento da quantidade de receptores colinérgicos nicotínicos no cérebro. Quando a pessoa não tem acesso ao tabaco, mesmo que por algumas poucas horas, é frequente ocorrerem sintomas de ABSTINÊNCIA, que incluem: ansiedade, irritabilidade, dificuldade de concentração, inquietação, fome, desejo compulsivo por tabaco (craving ), distúrbios do sono e, em algumas pessoas, depressão. GENÉTICA Vários genes estão associados à dependência de nicotina: Genes associados à redução na depuração da nicotina; Genes associados a uma probabilidade maior de tornar-se dependente de tabaco e outras drogas, bem como a uma incidência mais alta de depressão. A NICOTINA é o principal componente do tabaco responsável por sua característica de gerar dependência, mas outros componentes do fumo e associações comportamentais contribuem para a força da dependência. Os fumantes dependentes regulam sua ingestão de nicotina ajustando a frequência e a intensidade do uso de tabaco para obter os efeitos psicoativos desejados e evitar a abstinência. A nicotina é rapidamente absorvida pela fumaça do cigarro para a circulação pulmonar. Se desloca prontamente para o cérebro, onde atua sobre receptores colinérgicos nicotínicos para produzir seus efeitos prazerosos (1O a 15 s após a tragada). O tabaco sem fumaça é absorvido mais lentamente e gera efeitos farmacológicos menos intensos. Thomás R. Campos | MEDICINA - UFOB EPIDEMIOLOGIA A OMS afirma que o tabagismo deve ser considerado uma pandemia: NO BRASIL, 21,9 milhões de pessoas são usuárias de tabaco. Em 2013, a prevalência de usuários atuais de produtos derivados de tabaco, fumado ou não fumado, de uso diário ou ocasional, foi de 15,0%: 5 milhões de mortes/ano Em consequência de doenças provocadas pelo tabaco 6 mortes a cada segundo= Além disso, o TABAGISMO PASSIVO é responsável por: 600 mil mortes/ano 15% FUMAM 19,2% 11,2% Thomás R. Campos | MEDICINA - UFOB FISIOPATOLOGIA Ao adentrar o organismo, a nicotina atravessa os alvéolos pulmonares e é absorvida pela corrente sanguínea. O coração bombeia o sangue com as substâncias do cigarro para todo o corpo. 1 2 25% da nicotina inalada chega ao cérebro em cerca de 15 segundos, onde interage com receptores colinérgicos nicotínicos (nAchR) 3 A ligação da nicotina com esses receptores promove alterações conformacionais, facilitando o influxo de íons, principalmente Na+ e Ca++. Isso impede que a acetilcolina se ligue a eles, o que ocorreria fisiologicamente. nAchR Ach Membrana pós-sináptica CITOPLASMA ESSA DESPOLARIZAÇÃO ORIUNDA DA PASSAGEM DE ÍONS FAZ COM QUE O IMPULSO NERVOSO SE PROPAGUE ATÉ O SISTEMA DE RECOMPENSA CEREBRAL A ativação do sistema de recompensa resulta em liberação de dopamina por neurônios dopaminérgicos na VTA (área tegmental ventral) do mesencéfalo. No tabagismo, a dopamina produz um efeito de reforço positivo. (PUPULIM, 2015) A dependência química ao tabaco é uma das mais severas devido a sua complexidade. Existem muitos usuários ocasionais de outras drogas, o que não é observado em tabagistas. As bases neurológicas da dependência à nicotina são semelhantes às das outras drogas de abuso: ALÉM DISSO, A NICOTINA: Inibe as enzimas monoamino-oxidases A e B (MAO’s A e B) enzimas responsáveis pela degradação da dopamina. Provoca aumento nas concentrações de noradrenalina e adrenalina circulantes, aumento na liberação de vasopressina, β-endorfina, hormônio adrenocorticotrófico (ACTH) e cortisol é provável que esses hormônios contribuam para o efeito estimulante do Sistema Nervoso Central. Thomás R. Campos | MEDICINA - UFOB MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS O uso do tabaco é uma importante causa de óbito por câncer, doença cardiovascular e doença pulmonar. O fumo também é um fator de risco importante para osteoporose, cm transtornos reprodutivos e em lesões ligadas a incêndios e a trauma. CÂNCER O tabagismo causa câncer de pulmão, cavidade oral, naso, oro e hipofaringe, cavidade nasal e seios paranasais, laringe, esôfago, estômago, pâncreas, fígado (hepatocelular), cólon e reto, rim (corpo e pelve), ureter, bexiga e colo uterino, e também causa leucemia mielocítica. Muitos produtos químicos na fumaça do tabaco podem contribuir para a carcinogênese como fatores desencadeantes do tumor, carcinógenos, indutores tumorais ou carcinógenos completos. Fumar cigarros induz padrões específicos de mutações do gene p53, associadas a carcinomas de células escamosas de pulmão, cabeça e pescoço. DOENÇA CARDIOVASCULAR Os fumantes de cigarros são mais propensos do que os não fumantes a desenvolver aterosclerose de grandes vasos, assim como doença de pequenos vasos. Os riscos são maiores para cardiopatia coronariana, morte súbita, doença vascular cerebral e doença vascular periférica, inclusive aneurisma de aorta. OS MECANISMOS RESPONSÁVEIS PELOS EFEITOS CARDIOVASCULARES DO TABAGISMO NÃO FORAM PLENAMENTE ELUCIDADOS, MAS ACREDITA-SE QUE INCLUAM: 1) Estresse hemodinâmico a nicotina aumenta a FC e eleva transitoriamente a PA. 2) Lesão e disfunção endoteliais com prejuízo da liberação de óxido nítrico e da vasodilatação por ele provocada. 3) Desenvolvimento de um perfil lipídico aterogênico tabagistas têm, em média, níveis mais altos de LDL e de LDL oxidada, além de níveis mais baixos de HDL do que os não fumantes. 4) Aumento da coagulabilidade. 5) Arritmogênese. 6) Hipoxemia relativa causada pelos efeitos do monóxido de carbono. Os riscos de câncer aumentam com o aumento do número de cigarros fumados por dia e com a duração do tabagismo O álcool interage de modo sinérgico com o tabaco causando câncer de boca, laringe e esôfago A cessação do fumo reduz o risco de câncer, porém mesmo 20 anos após a interrupção há um risco modesto persistente de câncer de pulmão O monóxido de carbono reduz a capacidade de transporte de oxigênio da hemoglobina e prejudica a liberação de oxigênio para os tecidos corporais, efeitos que se combinam para provocar um estado de hipoxemia relativa. Para compensar este estado de hipoxemia, os tabagistas desenvolvem policitemia, frequentemente com hematócritos ≥ 50% Fumar cigarros também induz um estado de atividade inflamatória crônica, evidenciado pela elevação dos níveis de proteína C-reativa e outros marcadores inflamatórios no sangue de fumantes. Acredita-se que a inflamação crônica contribua para a aterogênese A policitemia e a elevação dos níveis de fibrinogênio em fumantes também aumentam a viscosidade sanguínea, o que eleva o risco de ocorrências trombóticas Thomás R. Campos | MEDICINA - UFOB MANIFESTAÇÕESCLÍNICAS DOENÇA PULMONAR O tabagismo é responsável por 90% dos casos de DPOC. As doenças pulmonares por tabagismo estão representadas pela superposição das síndromes de bronquite crônica (tosse e hipersecreção de muco), enfisema e obstrução das vias aéreas. ALTERAÇÕES ANATOMOPATOLÓGICAS DO PULMÃO associadas ao tabagismo incluem perda dos cílios, hiperplasia das glândulas mucosas, aumento do número de células caliciformes nas vias centrais inflamação, metaplasia de células caliciformes, metaplasia escamosa, formação de tampões mucosos nas pequenas vias aéreas, destruição de alvéolos e redução no número de pequenas artérias. O MECANISMO DE LESÃO É COMPLEXO E APARENTEMENTE INCLUI: 1. Lesão direta por gases oxidantes. 2. Aumento da atividade da elastase uma proteína que metaboliza a elastina e outros tecidos conjuntivos. 3. Redução da atividade antiprotease. OUTRAS COMPLICAÇÕES Um defeito genético da atividade da α1-antiprotease produz um desequilíbrio muito semelhante entre a atividade pulmonar de protease e antiprotease, sendo um fator de risco para doença pulmonar precoce e grave induzida pelo fumo. A principal mudança após a cessação é a desaceleração da taxa de declínio da função pulmonar com o aumento da idade, mas não ocorre normalização da função pulmonar Fumar também aumenta o risco de infecção respiratória, inclusive pneumonia, e resulta em maior incapacidade por infecções virais do trato respiratório. A tuberculose é, talvez, a mais importante infecção associada ao fumo. DOENÇA GASTROINTESTINAL -ÚLCERA PÉPTICA -DOENÇA DO REFLUXO GASTRESOFÁGICO -DOENÇA DE CROHN TRANSTORNOS REPRODUTIVOS -FERTILIDADE REDUZIDA -PARTO PREMATURO -BAIXO PESO AO NASCIMENTO -ABORTO ESPONTÂNEO -DESCOLAMENTO DA PLACENTA -RUPTURA PREMATURA DAS MEMBRANAS -MORTALIDADE PERINATAL AUMENTADA DOENÇA ORAL -CÂNCER ORAL -LEUCOPLAQUIA -GENGIVITE -RETRAÇÃO GENGIVAL -MANCHAS DENTÁRIAS OUTROS -DIABETES MELLITUS TIPO 2 (NÃO INSULINO-DEPENDENTE) -MENOPAUSA PRECOCE -OSTEOPOROSE -CATARATA -AMBLIOPIA DO FUMO -DEGENERAÇÃO MACULAR RELACIONADA À IDADE -ENRUGAMENTO PREMATURO DA PELE -DOENÇA DE GRAVES, INCLUINDO OFTALMOPATIA -AGRAVAMENTO DE HIPOTIREOIDISMO -METABOLISMO OU EFEITOS DE DROGA ALTERADOS + Thomás R. Campos | MEDICINA - UFOB SEMIOLOGIA Se o paciente for tabagista, convém coletar uma história detalhada para determinar o grau de dependência e obter informações que possam ajudá-lo a parar de fumar. [ ? ] SEMPRE SE DEVE INDAGAR: "Quantos cigarros fuma por dia?" "Quando começou a fumar?“ "Quanto tempo após acordar você acende o primeiro?" "Já interrompeu o uso? Quanto tempo parou?" É útil calcular a CARGA TABÁGICA, pois relaciona a quantidade de cigarros fumados e anos de tabagismo em um valor objetivo, que serve para quantificar o risco para o início de doenças decorrentes do tabaco: ENTREVISTA MOTIVACIONAL ESTÁGIOS DA MUDANÇA: Verificar tentativas de cessação, tratamentos anteriores, com ou sem sucesso, recaídas e prováveis causas, sintomas de abstinência, formas de convivência com outros fumantes e em quais situações fuma por condicionamento. CARGA TABÁGICA = (Nº cigarros por dia) x (Tempo de tabagismo) 20 Para o cálculo em pacientes que fumam cigarro artesanal, recomenda-se considerar que 6 cigarros artesanais correspondem a 20 cigarros industrializados. Segundo a Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia, a DPOC começa a surgir a partir de 20 anos/maço (sendo mais comumente encontrado em cargas tabágicas iguais ou superiores a 40 anos/maço). PRINCÍPIOS ESTRATÉGIAS 1- Expressar empatia aceitar a postura do paciente, tentando entendê-lo, sem julgamento ou crítica; escutar criticamente 2- Desenvolver discrepância: evidenciar a distância entre onde a pessoa está e onde ela gostaria de estar. Deve ser estimulado a apresentar argumentos para mudança 3- Evitar discussões: discussões também suscitam resistência 4- Fluir com a resistência: saber reconhecer o momento do paciente e saber usá-lo (ao invés de ir contra ele) pode ser positivo; ter em mente que as percepções dele podem mudar 5- Estimular auto eficácia: crença da própria pessoa na sua habilidade de executar urna tarefa 6- Evitar o reflexo de concertar 1- Aconselhar: na hora e da forma certa 2- Remover Barreiras: obstáculos do tipo custo, transporte, horário, etc. 3- Oferecer opções de escolha 4- Diminuir a vontade: identificar o está estimulando o paciente a fumar, e daí buscar formas de diminuir esses incentivos 5- Praticar empatia 6- Dar feedback 7 Clarificar objetivos: importante auxiliar o paciente a estabelecer certos objetivos e que estes sejam realistas e atingíveis 8- Ajuda ativa: Telefonema, lembretes... ESTÁGIO DO PACIENTE TAREFA DO MÉDICO PRÉ-PONDERAÇÃO Levantar dúvidas – aumentar a percepção do paciente sobre os riscos eproblemas de seu comportamento atual PONDERAÇÃO Inclinar a balança – evocar as razões para a mudança e os riscos de nãomudar. Fortalecer a autossuficiência do paciente DETERMINAÇÃO Ajudar o paciente a determinar a melhor linha de ação a ser seguida embusca da mudança AÇÃO Ajudar o paciente a dar passos rumo à mudança MANUTENÇÃO Ajudar o paciente a identificar e utilizar estratégias de prevenção darecaída RECAÍDA Ajudar o paciente a retomar os processos de ponderação, determinação eação, sem que ficar imobilizado ou desmoralizado com a recaída.Miller e Rollnick (2001) Thomás R. Campos | MEDICINA - UFOB DIAGNÓSTICO O consumo de nicotina causa efeitos somáticos e psíquicos que podem ter caracterização como dependência através de questionários padronizados. Os mais utilizados são o da Associação Psiquiátrica Americana, através do seu Manual Diagnóstico e Estatístico (DSM- V), e o da Organização Mundial da Saúde (CID 10). DSM-5 - Diagnóstico e Estatística dos Transtornos Mentais CID-10 – Classificação Internacional das Doenças ≥2 CRITÉRIOS QUE OCORREM DURANTE UM PERÍODO DE 12 MESES DEVEM SER CONFIRMADOS PARA O DIAGNÓSTICO DE UM TRANSTORNO POR USO DE TABACO: 1. Tabaco é frequentemente consumido em maiores quantidades ou por um período mais longo do que o pretendido. 2. Existe um desejo persistente ou esforços malsucedidos no sentido de reduzir ou controlar o uso de tabaco. 3. Muito tempo é gasto em atividades necessárias para a obtenção ou uso de tabaco. 4. Fissura ou um forte desejo ou necessidade de usar tabaco. 5. Uso recorrente de tabaco resultando em fracasso em cumprir obrigações importantes no trabalho, na escola ou em casa (p. ex., interferência no trabalho). 6. Uso continuado de tabaco apesar de problemas sociais ou interpessoais persistentes ou recorrentes causados ou exacerbados pelos seus efeitos (p. ex., discussões com os outros sobre o uso de tabaco). 7. Importantes atividades sociais, profissional ou recreacionais são abandonadas ou reduzidas em virtude do uso de tabaco. 8. Uso recorrente de tabaco em situações nas quais isso representa perigo para a integridade física (p. ex., fumar na cama). 9. O uso de tabaco é mantido apesar da consciência de ter um problema físico ou psicológico persistente ou recorrente que tende a ser causado ou exacerbado por ele. 10. Tolerância, definida por qualquer um dos seguintes aspectos: a) Necessidade de quantidades progressivamente maiores de tabaco para atingir o efeito desejado. b) Efeito acentuadamente. menor com o uso continuado da mesma quantidade de tabaco. 11. Abstinência, manifestada por qualquer dos seguintes aspectos: a) Síndrome de abstinência característica de tabaco (consultar os Critérios A e B do conjunto de critérios para abstinência de tabaco). b) Tabaco (ou uma substância estreitamente relacionada, como nicotina) é consumido para aliviar ou evitar os sintomas de abstinência. Não afetado: 0 a 1 critério | TUT leve: 2 a 3 critérios | TUT moderado: 4 a 5 critérios | TUT grave: >6 critérios É NECESSÁRIA A PRESENÇA ≥3 CRITÉRIOS PARA O DIAGNÓSTICO DE DEPENDÊNCIA DE NICOTINA 1. Um forte desejo ou compulsão para consumir a substância 2. Dificuldade em controlar o comportamento de consumir a substância em termos deseu início, término e níveis de consumo 3. Um estado de abstinência fisiológico quando o uso da substância cessou ou foi reduzido ou pelo uso da mesma substância com a intenção de aliviar ou evitar os sintomas de abstinência 4. Evidência de tolerância, de tal forma que doses crescentes da substância psicoativa são requeridas para alcançar efeitos originalmente produzidos por doses mais baixas 5. Abandono progressivo de prazeres ou interesses alternativos em favor do uso da substância psicoativa, aumento da quantidade de tempo necessário para obter ou tomar a substância ou para se recuperar de seus efeitos 6. Persistência do uso da substância, a despeito de evidência clara de consequências manifestamente nocivas Thomás R. Campos | MEDICINA - UFOB DIAGNÓSTICO Considerando que o estado de dependência é dinâmico e que as pessoas não podem ser classificadas simplesmente em dependentes ou não-dependentes, pois é muito sutil a divisão entre uso abusivo de droga e o estado de dependência, é importante ter instrumentos para se mensurar a intensidade deste estado. O TESTE DE FAGERSTROM é a medida quantitativa mais utilizada universalmente para dependência pela nicotina, que procura avaliar a magnitude do processo de tolerância-dependência estabelecida. Quanto maior o escore obtido, maior será o grau de dependência, sendo os fumantes com índice >7 os mais dependentes. MÉTODOS BIOLÓGICOS Medida de cotinina plasmática, salivar ou urinária a cotinina é um metabólito da nicotina e informa o grau de consumo, que por si só é um marcador de dependência. Há relação significativa entre o resultado do teste de Fagerstrom e os níveis de cotinina. Entretanto, é um método que exige equipamento sofisticado e caro, não disponível na maioria dos centros. Monoxímetro para mensurar a concentração de monóxido de carbono no ar exalado avalia-se o grau de intoxicação nas últimas horas, sendo portanto mais elevado à noite do que pela manhã. Não oferece a acuidade da cotinina, que tem meia-vida mais prolongada, contudo é um método mais barato e possibilita oferecer um feedback imediato para o indivíduo. TESTE DE FAGERSTROM 1- QUANTO TEMPO DEPOIS DE ACORDAR VOCÊ FUMA O SEU PRIMEIRO CIGARRO? APÓS 60min: 0 ponto Entre 6 e 30 min: 2 pontos Entre 31 e 60 min: 1 ponto Nos primeiros 5 min: 3 pontos 2- VOCÊ ENCONTRA DIFICULDADES EM EVITAR FUMAR EM LUGARES ONDE É PROIBIDO, COMO POR EXEMPLO: IGREJAS, LOCAL DE TRABALHO, CINEMAS, SHOPPINGS, ETC. NÃO: 0 ponto SIM: 1 ponto 3- QUAL O CIGARRO DO DIA QUE TRAZ MAIS SATISFAÇÃO? QUALQUER UM: 0 ponto O PRIMEIRO DA MANHÃ: 1 ponto 4- QUANTOS CIGARROS VOCÊ FUMA POR DIA? Menos que 10: 0 ponto Entre 21 e 30: 2 pontos Entre 11 e 20: 1 ponto Mais de 31: 3 pontos 5- VOCÊ FUMA MAIS FREQUENTEMENTE PELA MANHÃ? NÃO: 0 ponto SIM: 1 ponto 6- VOCÊ FUMA, MESMO DOENTE, QUANDO PRECISA FICAR DE CAMA A MAIOR PARTE DO TEMPO? NÃO: 0 ponto SIM: 1 ponto GRAU DE DEPENDÊNCIA: 0–2 pontos = muito baixo | 3-4 pontos = baixo | 5 pontos = médio | 6–7 pontos = elevado | 8–10 pontos = muito elevado Thomás R. Campos | MEDICINA - UFOB FUMO PASSIVO O fumo passivo consiste na fumaça gerada enquanto o cigarro está sendo consumido e no fluxo de fumaça exalado pelo fumante. Do total de produtos de combustão de um cigarro, 75% ou mais penetram o ar. Evidências consideráveis indicam que a exposição passiva ao fumo é nociva à saúde de não fumantes. Agência de Proteção Ambiental Norte-americana classifica o fumo passivo como um carcinógeno classe A, o que significa comprovada ação causal no câncer cm seres humanos. OS COMPONENTES DA FUMAÇA DO TABACO NO AMBIENTE SÃO QUALITATIVAMENTE SEMELHANTES AOS DA FUMAÇA EXALADA PELO FUMANTE, PORÉM ALGUMAS TOXINAS SÃO ENCONTRADAS EM CONCENTRAÇÕES MUITO MAIORES NA FUMAÇA PASSIVA: Amônia Formaldeldo Nitrosaminas RISCOS PARA A SAÚDE DOS NÃO FUMANTES CAUSADOS PELA FUMAÇA DE TABACO AMBIENTAL ADULTOS CRIANÇAS -Câncer de pulmão -Infarto do miocárdio -Função pulmonar reduzida -Agravamento de Asma e DPOC -Irritação dos olhos -Congestão nasal -Cefaleia -Tosse -Hospitalização por infecção do trato respiratório no primeiro ano de vida -Otite média crônica -Asma (e agravamento de asma) -Síndrome de morte súbita do lactente É importante reconhecer os riscos do fumo passivo, pois esse conhecimento é a base para médicos aconselharem os pais a não fumarem quando as crianças estão em casa, para insistirem na proibição do fumo em ambientes de cuidados de crianças e para recomendarem restrições ao fumo em locais de trabalho e outros locais públicos. Thomás R. Campos | MEDICINA - UFOB TRATAMENTO O uso de terapia medicamentosa deve ser feita em associação com a abordagem cognitivo-comportamental, sempre com avaliação clinica rigorosa. CRITÉRIOS: 1. Fumantes pesados (≥10 cigarros/dia). 2. Consumo menor, porém com sintomas da abstinência expressivos 3. Fumar o primeiro cigarro em até 30 minutos após acordar 4. Fumantes com escore no teste de Fagerstrom ≥ 5 5. Insucesso com metodologia comportamental FARMACOTERAPIA 1ª linha: 2ª linha: CLASSE REPRESENTANTES AÇÃO EFEITOS ADVERSOS FÁRMACOS NICOTÍNICOS (TRN – TERAPIA DE REPOSIÇÃO DE NICOTINA) Adesivo transdérmico FAGERSTROM = 5-7 | <20 CIGARROS/DIA | 1º CIGARRO 30 min -1º mês: 14 mg/24 h -2º mês: 7 mg/24 h FAGERSTROM = 8-10 | >20 CIGARROS/DIA -1º mês: 21 mg/24 h -2º mês: 14 mg/24 h -3º mês: 7 mg/24 h Ajuda a reduzir a fissura por cigarros, bem como a minimizar e lidar com os sintomas de abstinência, de modo que o paciente possa tolerar melhor o abandono do hábito de fumar Deve-se parar de fumar ao iniciar o medicamento Eritema de pele, infiltração derme, hipersalivação, náuseas, vômitos, diarreia e insônia Goma de mascar (1 TABLETE = 2 mg) <20 CIGARROS/DIA | 1º CIGARRO 30 min -1º mês: 1 tablete/1-2 h -2º mês: 1 tablete/2-4 h -3º mês: 1 tablete/4-8 h >20 CIGARROS/DIA -1º mês: 2 tabletes/1-2 h -2º mês: 1 tablete/2-4 h -3º mês: 1 tablete/4-8 h Lesões gengiva, salivação, gosto ruim na boca, amolecimento dos dentes, vômitos, soluços, dores na mandíbula (fadiga muscular) ANTIDEPRESSIVO Bupropiona - 1 comprimido de 150 mg pela manhã por 3 dias, - 1 comprimido de 150 mg pela manhã e outro comprimido de 150 mg, 8 horas após, a partir do 4º dia até completar 12 semanas Seu mecanismo exato na cessação do tabagismo é desconhecido. Mas sabe-se que a bupropiona nibe a recaptação de calecolaminas Redução dos reflexos, com risco de piora do desempenho de atividades que exijam habilidade motora. Tontura, agitação, ansiedade, tremores, insônia e boca seca AGONISTA PARCIAL NICOTÍNICO Vareniclina Dia 1-3: 0,5 mg, 1x/dia Dia 4–7: 0,5 mg, 2x/dia Dia 8–até o final do tratamento: 1 mg, 2x/dia A vareniclina se liga aos receptores nicotínicos neuronais α4β2 e estimula a atividade mediada pelo receptor, mas a um nível significativamente inferior ao da nicotina Náuseas, cefaleia, vômitos, insônia CLASSE REPRESENTANTES AÇÃO EFEITOS ADVERSOS ANTIDEPRESSIVO TRICÍCLICO Nortriptilina Doses crescentes de 25 mg a 75 mg, 1x/dia, por tempo de uso variável. Medicamento tricíclico antidepressivo, empregado como droga de reserva, em impedimento da TRN e Bupropiona Hipotensão, taquicardia, arritmias, insônia, confusão mental AGONISTA α2 Clonidina (O,05-0,15 mg, VO), 1x/dia Diminui sintomas deabstinência Hipotensão, fadiga Thomás R. Campos | MEDICINA - UFOB CONSIDERAÇÕES FINAIS Os benefícios de parar de fumar são substanciais em tabagistas de qualquer idade: Para o corpo Para o “bolso” (custo) Para a família No emprego No convívio social Inconvenientes vividos A prevenção do início do tabagismo deve começar cedo, de preferência durante o ensino fundamental. Os médicos que atendem adolescentes devem ser sensíveis à prevalência desse problema mesmo na população pré-adolescente. Mesmo aqueles que não estão interessados em parar de fumar devem ser incentivados e motivados a fazê-lo; receber uma mensagem médica clara, forte e personalizada de que o fumo é uma preocupação importante de saúde; e devem receber uma oferta de auxíliocaso se interessem por cessarem o hábito no futuro. Thomás R. Campos | MEDICINA - UFOB REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia. Diretrizes para Cessação do Tabagismo. J. bras. pneumol.; 34(10):845-880, 2008. 2. LONG, Dan L. et al. Medicina interna de Harrison. 19. ed. Porto Alegre, RS: AMGH Ed., 2016. 2 v. 3. GOLDMAN, Lee; AUSIELLO, D. A. (Ed.). Cecil medicina. 23. ed. Rio de Janeiro, RJ: Elsevier Saunders, c2009. 2 v. 4. IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pesquisa Nacional de Saúde 2013. Rio de Janeiro: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística; 2014. 5. PUPULIM AF; SARRIS AB; FERNANDES LGR et al. Mecanismos de dependência química no tabagismo: revisão da literatura. Rev. Med. UFPR. 2(2):74-78. 2015. 6. PORTO, C.C. Semiologia Médica. 7ª ed. Rio de janeiro. Guanabara, 2014. 7. Miller, W., & Rollnick, S. Entrevista motivacional: preparando as pessoas para a mudança de comportamentos aditivos. Porto Alegre: Artmed, 2001. Thomás R. Campos | MEDICINA - UFOB
Compartilhar