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1 Júlia Morbeck – @med.morbeck Objetivos 1- Apontar as características microbiológicas, a epidemiologia, os mecanismos de transmissão, os fatores de risco, quadro clínico, o diagnóstico e as complicações do HPV. 2- Discutir sobre o HPV e o potencial carcinogênico. Papilomavírus Humano (HPV) ↠ Os papilomavírus humanos (HPV) causam as verrugas. Ele infecta o epitélio escamoso diferenciado da pele queratinizada e membranas mucosas (KORSMAN, 2014). Os vírus HPV-1, 2, 3 e 4 estão associados a verrugas exofíticas comuns, verruga vulgar, envolvendo as mãos, dedos das mãos, cotovelos e joelhos, assim como verrugas plantares endofíticas. O HPV- 6 e o HPV-11 dão origem ao condiloma acuminado, podendo resultar em obstrução do trabalho de parto nos indivíduos afetados e papilomas laríngeos em seus recém-nascidos (KORSMAN, 2014). ↠ O papilomavírus humano (HPV) é um DNA-vírus com mais de 100 genótipos, sendo que cerca de 40 tipos podem infectar o trato anogenital (vulva, colo uterino, vagina, pênis, escroto, uretra e ânus), podendo ainda ser classificado em subtipos de alto e baixo risco, de acordo com o seu potencial de oncogenicidade, sendo os principais subtipos de baixo risco os HPV 6, 11, 42, 43 e 44 (6 e 11 são responsáveis por 90% das verrugas genitais), e os de alto risco, os HPV 16, 18, 31, 33, 35, 39, 45, 46, 51, 52, 56, 58, 59 e 68 (16 e 18 relacionados a 70% dos casos de câncer de colo uterino) (SALOMÃO, 2023) CARACTERÍSTICAS MICROBIOLÓGICAS DO VÍRUS ↠ Os papilomavírus, classificados na família Papillomaviridae, infectam diferentes hospedeiros vertebrados, sendo a infecção espécie-específica (SANTOS et al., 2021). ↠ Os HPV estão classificados na subfamília Firstpapillomavirinae e agrupados em cinco gêneros: Alphapapillomavirus, Betapapillomavirus, Gammapapillomavirus, Mupapillomavirus e Nupapillomavirus (SANTOS et al., 2021). ↠ A maioria dos Alphapapillomavirus infecta mucosas genital e não genital (p. ex., cavidade oral, sistema respiratório e conjuntiva) além da genitália externa, embora uma espécie pertencente a esse gênero infecte, principalmente, a pele em regiões não genitais (SANTOS et al., 2021). ↠ A partícula do HPV é pequena, medindo, aproximadamente, 55 nm de diâmetro, e não possui envelope glicolipoproteico. O genoma desse vírus é composto por um DNA de fita dupla circular, envolvido pelo capsídeo formado por 72 capsômeros, apresentando simetria icosaédrica (SANTOS et al., 2021). ↠ Uma característica da organização genômica dos HPV é que todas as ORF se encontram em uma das fitas do DNA viral, indicando que somente uma fita serve como molde para a transcrição (SANTOS et al., 2021). O HPV é um vírus DNA, circular, com genes que expressam proteínas precoces (early – E1 a E7) e tardias (late – L1 e L2) (CARDIAL et al., 2017). ↠ O genoma com 8 quilopares de base (kpb) é dividido em região inicial (E, early), que codifica as proteínas regulatórias do vírus, incluindo aquelas envolvidas na replicação do DNA viral e transformação celular (E1 a E8); região tardia (late, L), que codifica as proteínas do capsídeo (L1 e L2); e região longa de controle (LCR, long control region), onde se encontram a origem da replicação e os elementos para o controle da transcrição (SANTOS et al., 2021). Além de uma região de regulação, seus genes precoces (“E”, de “early”) controlam as funções no início do ciclo de vida viral, incluindo manutenção, replicação e transcrição do DNA. Esses genes são expressos inferiormente no epitélio. Os dois genes tardios (“L” de “late”) codificam proteínas do capsídeo e são expressos na camada superficial do epitélio. Essas últimas proteínas são necessárias mais tardiamente no ciclo de vida, para finalizar a montagem (SANARFLIX). ↠ O HPV pode entrar no epitélio por meio de microabrasões ou, para os tipos de “alto risco” infectando o epitélio cervical, a penetração pode ocorrer nas células da junção celular escamosa de camada única entre a endo e a ectocérvice. Pelo menos para os HPV de “alto risco”, parece necessário que infectem células epiteliais basais ou estaminais, em divisão ativa, para o estabelecimento eficiente da infecção (SANTOS et al., 2021). ↠ O HPV entra nas células por um mecanismo de endocitose semelhante à micropinocitose. O vírus é 2 Júlia Morbeck – @med.morbeck transportado através de componentes citoplasmáticos ligados à membrana citoplasmática e da rede trans-Golgi, embora possa haver algum envolvimento do retículo endoplasmático (RE) (SANTOS et al., 2021). ↠ Ele assume duas formas de atuação na célula: (CARDIAL et al., 2017). • a forma epissomal, que corresponde ao mecanismo utilizado para produzir cópias virais; • a forma integrada ao DNA do hospedeiro e, neste caso, na presença de outros cofatores, pode ser iniciado o processo de oncogênese. ↠ O vírus penetra por abrasão na pele, infectando a camada de células basais da epiderme. Nessas células, o genoma viral é mantido na forma de epissoma nas lesões de baixo grau, em que somente os genes iniciais são expressos. A expressão desses genes estimula a proliferação das células basais, resultando em hiperplasia e levando à acantose e a um papiloma proeminente. Na displasia de alto grau ou no câncer pode ocorrer a integração do DNA viral no DNA celular, geralmente associada à deleção de porções do genoma viral com retenção da LCR da região E6-E7 e maior expressão de E6 e E7 (SANTOS et al., 2021). As lesões HPV-induzidas têm altas taxas de remissão espontânea em até dois anos, especialmente naquelas de baixo grau e em mulheres jovens. A infecção natural não cursa com viremia e, consequentemente, não estimula a produção de anticorpos suficientes para proteção de nova infecção (CARDIAL et al., 2017). Por estar em camadas mais superficiais, o vírus consegue escapar melhor das células imunológicas (SANARFLIX). VIROLOGIA (SANARFLIX) A proteína E1 se liga ao DNA e promove replicação viral, atuando como uma helicase. A proteína E2 também se liga ao DNA, auxiliando E1 e ativando a síntese do RNAm viral. A oncoproteína E5 ativa o receptor EGC, promovendo a replicação. A E4 rompe citoqueratinas e promovem a liberação. As proteínas E6 e E7 podem se tornar proteínas de imortalização: a proteína E6 se liga à proteína p53, impedindo a apoptose após dano ao DNA – a proteína p53 induz essa apoptose. A proteína E7 se liga ao pRb, ignorando o chech point G1/S e permitindo a progressão do ciclo celular e da replicação. A proteína L1 do HPV é a proteína de ligação viral, que se liga às integrinas na superfície celular e dá início à replicação. A L1 está associada à produção da proteína principal do capsídeo e, a L2, à proteína secundária do capsídeo. A expressão gênica do HPV ocorre de forma sincrônica e dependentemente com a diferenciação do epitélio escamoso. O ciclo de vida, portanto, só é completado em um epitélio escamoso totalmente diferenciado. O HPV tem ciclo não lítico, sua capacidade de infecção depende da descamação das células infectadas. Uma nova infecção acontece quando proteínas dos capsídeos L1 e L2 se ligam à membrana basal epitelial ou às células basais, permitindo a entrada de partículas virais em novas células hospedeiras. Existe ainda a infecção que pode iniciar o desenvolvimento de um câncer – a exemplo dos tipos 16 e 18. O genoma circular é quebrado nos genes E1 e E2 para ser incorporado e integrado, e isso faz com que os genes E1 e E2 sejam inativados. Isso bloqueia a replicação viral, mas não impede que outros genes sejam impressos, incluindo o E5, o E6 e o E7. As proteínas do E5, E6 e E7 dos subtipos 16 e 18 são determinadas como oncogenes. A proteína E5 aumenta a multiplicação celular por estabilizar do receptor do fator de crescimento epidérmico, tornando as células mais sensíveis aos sinaisde multiplicação. As proteínas E6 e E7, por sua vez, inativam as proteínas supressoras da multiplicação celular (supressoras de transformação), a p53 e o produto do gene de retinoblastoma p105. A E6 se liga à p53 e a marca para ser degradada – sendo que esta é uma proteína que induz apoptose em células anormais. Já a E7 se liga e inativa a p105. A multiplicação celular e inativação da p53 vulnerabilizam a célula para mutações, aberrações cromossômicas ou ação de cofator, favorecendo sua transformação em uma neoplasia maligna. O vírus então promove a multiplicação de células nas camadas superiores do epitélio, levando à hiperplasia e causando verrugas – lesões mucosas hiperplásicas brancas. Isto é, a verruga decorre por estímulo do vírus ao crescimento celular e espessamento da camada basal e espinhosa (SANARFLIX). 3 Júlia Morbeck – @med.morbeck IMUNOGENICIDADE DA INFECÇÃO PELO HPV • Trata-se de um vírus epiteliotrópico, em que a infecção se restringe ao epitélio, sobretudo da região genital. • Apresenta a característica de produzir processo inflamatório discreto e, portanto, suscita do organismo pouco estímulo imunológico. • Apresenta ação inibindo o sistema imune. • A ação mantida pelos vírus, persistente por longo período (anos), pode levar às lesões precursoras e ao câncer anogenital. • O sistema imune eficiente pode impedir a evolução ou curar as lesões precursoras (imunidade celular). • A imunidade humoral, após a infecção natural, pode não prevenir novas infecções, porque os níveis de anticorpos produzidos são, geralmente, baixos e podem se negativar. PATOLOGIA (SANARFLIX) Junção escamocelular: há o encontro do epitélio escamoso/pavimentoso da vagina com o epitélio colunar vermelho da região mais central e interna da cérvix. O aumento dos níveis de estrogênio gera aumento das reservas de glicogênio no epitélio escamoso não queratinizado. Este é fonte de carboidrato para lactobacilos, gerando seu predomínio na flora e tornando o pH vaginal mais ácido, por produzirem ácido lático. Suspeita-se que esse pH mais baixo estimule a metaplasia escamosa, que é a substituição do epitélio colunar. pelo epitélio escamoso. Células de reserva indiferenciadas adjacentes ao epitélio do colo uterino geram as novas células metaplásicas, que se diferenciam em epitélio escamoso. Isso cria uma zona progressivamente maior de epitélio metaplásico, chamada zona de transformação, entre a JEC original e o epitélio colunar atual. Quase todas as neoplasias cervicais ocorrem dentro dessa zona de transformação, em geral adjacente à JEC nova ou em formação. As células de reserva e metaplásicas imaturas são mais vulneráveis à oncogenicidade do HPV. Além disso, como essa metaplasia escamosa é mais forte na adolescência e gravidez, é parcialmente explicado porque meninas jovens e com gravidez precoce têm risco elevado de carcinoma cervical. A classificação das lesões pré-cancerosas induzidas por HPV serão classificadas em diferentes graus a depender do quanto esses vírus estão atuando ao longo desse epitélio escamoso. Quando o vírus está restrito apenas ao terço mais inferior ou basal, temos uma lesão intraepitelial de grau mais baixo. À medida que as alterações induzidas pelo vírus sobem ao longo do epitélio, tomando camadas mais superficiais, iremos classificar em lesões em graus maiores. EPIDEMIOLOGIA ↠ A infecção pelo papilomavírus humano (HPV) é considerada a infecção sexualmente transmissível de maior incidência no mundo (CARDIAL et al., 2017). ↠ Estima-se que haja cerca de 600 milhões de pessoas infectadas pelo HPV no mundo e que 80% da população sexualmente ativa já tenha entrado em contato com o vírus em algum momento da vida (CARDIAL et al., 2017). ↠ O primeiro pico de incidência ocorre por volta da segunda década de vida e o segundo pico está entre a quinta e sexta década de vida. Enquanto o primeiro pico está relacionado ao início da atividade sexual, o segundo pode ser explicado por nova exposição ou perda de imunidade prévia, contudo o fenômeno de imunossenescência também é uma explicação plausível (CARDIAL et al., 2017). ↠ Os tipos HPV-6 e HPV-11 estão associados a 90% dos condilomas acuminados e papilomatose recorrente juvenil. Já os tipos 16 e 18 estão presentes em 70% dos cânceres de colo de útero e são os mais frequentes também em cânceres relacionados ao HPV de outros sítios, como em vagina, vulva, ânus, orofaringe e pênis (CARDIAL et al., 2017). MECANISMOS DE TRANSMISSÃO ↠ A transmissão viral se faz por meio do contato sexual pele a pele ou pele-mucosa. No primeiro contato sexual, uma em cada dez mulheres é contaminada e, após três 4 Júlia Morbeck – @med.morbeck anos com o mesmo parceiro, 46% delas já terão adquirido o vírus (CARDIAL et al., 2017). ↠ O HPV penetra no epitélio através de microfissuras ou no colo uterino pelas células metaplásicas e atinge as células das camadas profundas, infectando-as. Esse vírus tende a escapar da resposta imune do hospedeiro e pode permanecer latente por tempo indeterminado, ou ascender às camadas superficiais do epitélio, utilizando a maturação e diferenciação das sucessivas camadas epiteliais. E pode se propagar para as células vizinhas (CARDIAL et al., 2017). ↠ A principal forma de transmissão do HPV é a atividade sexual de qualquer tipo, podendo ocorrer, inclusive, a deposição do vírus nos dedos por contato genital e a autoinoculação. Excepcionalmente, durante o parto, pode ocorrer a formação de lesões cutaneomucosas em recém-nascidos ou papilomatose recorrente de laringe. A transmissão por fômites é rara (CARVALHO et al., 2021). ↠ Ainda existe a infecção congênita pelo HPV, transmitida de mãe infectada para filho (SANARFLIX). QUADRO CLÍNICO ↠ Na maioria das pessoas, a infecção pelo HPV não produz qualquer manifestação clínica ou subclínica. O período de latência pode variar de meses a anos (CARVALHO et al., 2021). VERRUGAS CUTÂNEAS ↠ As verrugas comuns são observadas com mais frequência em regiões proeminentes do corpo sujeitas à abrasão, como mãos e joelhos. Geralmente, as verrugas são múltiplas, bem delimitadas, com superfície rugosa e hiperceratinizadas, com aproximadamente 1 mm a 1 cm de diâmetro; os principais tipos envolvidos são os HPV-2 e HPV-4 (SANTOS et al., 2021). ↠ As verrugas plantares apresentam-se, geralmente, como lesões únicas, com 2 mm a 1 cm de diâmetro, dolorosas, normalmente encontradas no calcanhar e na sola dos pés. Ocasionalmente, podem ser observadas na palma das mãos. O principal tipo envolvido é o HPV-1 (SANTOS et al., 2021). ↠ A epidermodisplasia verruciforme (EV) é uma doença rara observada em pessoas com deficiência da resposta imunológica mediada por células. Acredita-se que ocorra inibição seletiva da resposta imunológica de linfócitos T frente à infecção pelo HPV, provavelmente por falha na apresentação de antígenos virais na superfície dos ceratinócitos. A EV é caracterizada pelo aparecimento de lesões semelhantes às da verruga plana e máculas de coloração marrom-avermelhada na face e extremidades (SANTOS et al., 2021). PAPILOMATOSE RESPIRATÓRIA RECORRENTE ↠ A manifestação clínica mais importante da infecção da laringe por HPV é o papiloma laríngeo, que é enquadrado na categoria das papilomatoses respiratórias recorrentes. A papilomatose laríngea é uma doença que se caracteriza pela presença de lesões epiteliais de aspecto verrucoso, que podem ser sésseis ou pedunculadas, únicas ou múltiplas, mas geralmente recorrentes (papilomatose laríngea recorrente). Apresenta grande morbidade, considerando que essas lesões são de caráter confluente e promovem quadro de disfonia e dispneia, ambas progressivas, podendo desencadear insuficiência respiratória por mecanismo de obstrução das vias respiratórias e até mesmo morte. Aslesões podem afetar a boca, o nariz, a faringe, o esôfago e toda a árvore traqueobrônquica (SANTOS et al., 2021). 5 Júlia Morbeck – @med.morbeck Papiloma oral ↠ A infecção pode ser assintomática ou associada a lesões únicas ou múltiplas em qualquer parte da cavidade oral (SANTOS et al., 2021). ↠ Os sintomas incluem lesões na boca que não cicatrizam; gânglios na região do pescoço; rouquidão; dificuldade de engolir; ou dor de garganta, que persistam por mais de duas semanas. Os tipos 16 e 18 são os mais relacionados a esse câncer (SANTOS et al., 2021). VERRUGAS ANOGENITAIS ↠ A infecção genital pode permanecer latente, sem manifestação clínica aparente, ou manifestar-se como verrugas ou condilomas na vulva, meato uretral, pênis, períneo, ânus, colo uterino e vagina. O condiloma acuminado compreende múltiplas lesões granulares e verrucosas, da cor da pele, acinzentadas, vermelhas ou hiperpigmentadas. As lesões maiores parecem uma couve-flor, e as pequenas podem ter a forma de pápula, placa ou podem ser filiformes. Pode ocorrer como lesão única, porém mais frequentemente na forma de lesões múltiplas (SANTOS et al., 2021). ↠ No homem, as lesões são mais comumente encontradas no pênis e no ânus e, na mulher, no períneo e no ânus (SANTOS et al., 2021). Entre os sintomas do câncer de cérvice em estágio inicial estão: manchas de sangue irregulares ou sangramento leve em mulheres em idade reprodutiva; mancha ou sangramento pós-menopausa; sangramento após a relação sexual; e aumento do corrimento vaginal, às vezes com mau cheiro. Conforme o câncer avança, sintomas mais graves podem aparecer, incluindo: dores persistentes nas costas, perna ou pélvis; perda de peso, fadiga e perda de apetite; corrimento vaginal com mau cheiro e desconforto vaginal; e inchaço de uma perna ou ambas (SANTOS et al., 2021). DIAGNÓSTICO ↠ A partir do contato com o HPV podemos ter três formas de infecção: (SPECK, 2020). • a latente, onde se detecta o DNA do vírus, sem qualquer alteração morfológica do epitélio; • a subclínica onde se diagnostica alteração citológica ou histológica induzida pelo HPV; • a clínica que é a presença das verrugas, onde a própria mulher detectará a doença. INFECÇÃO LATENTE ↠ Na infecção latente: os testes biomoleculares detectam a presença do DNA do vírus (SPECK, 2020). 6 Júlia Morbeck – @med.morbeck ↠ Os testes comerciais existentes são a captura de híbridos e o PCR. O objetivo é identificar a mulher que seja portadora do HPV oncogênico, pois esta apresenta risco de desenvolvimento das lesões de alto grau ou câncer. As mulheres que devem ser submetidas a este teste são aquelas que apresentam idade entre 25-30 anos ou mais, como exame de rastreamento; mulheres abaixo desta faixa etária não devem ser submetidas a pesquisa de DNA-HPV, pois há alta prevalência de infecção por HPV nas jovens, infecção esta que terá clareamento espontâneo. A pesquisa de DNA-HPV também está bem indicada em mulheres com citologia revelando atipia de células escamosas de significado indeterminado (ASCUS), pois assim estratificam aquelas que necessitam ou não da colposcopia (SPECK, 2020). A positividade do teste indica a realização do exame de colposcopia para identificar a lesão e dirigir o melhor local para a biópsia. Em mulheres que foram anteriormente tratadas com conização por lesão de alto grau do colo uterino, também está indicada a realização do teste. A negativação do teste de DNA-HPV significa clareamento da infecção e confere prognóstico melhor com alto valor preditivo negativo. Quando positivo, as taxas de recidiva são maiores (SPECK, 2020). INFECÇÃO SUBCLÍNICA ↠ O exame que identifica alteração morfológica inicial da célula é a citologia oncótica cérvico-vaginal (exame de Papanicolaou). As alterações provocadas pela infecção do HPV incluem coilocitose, disqueratose e discariose nas lesões de baixo grau, sendo os achados agravados com alterações nucleares mais pronunciadas e células com citoplasma escasso nas lesões de alto grau (SPECK, 2020). INFECÇÃO CLÍNICA ↠ Na infecção clínica: As lesões clínicas são aquelas visíveis ao olho nu, que pode ser referida pela própria paciente. Geralmente localizada na região da vulva, em aspecto de verruga, pode ter tamanho e número variado. Não é necessário exames subsidiários ou biópsia para indicar o tratamento (SPECK, 2020). POTENCIAL CARCINOGÊNICO ↠ As infecções por HPV têm sido associadas ao desenvolvimento de vários tipos de cânceres. Dois tipos de HPV (16 e 18) causam 70% dos cânceres de cérvice uterina e lesões pré-cancerosas. Também há evidências científicas que relacionam o HPV com cânceres do ânus, vulva, vagina, pênis e orofaringe (SANTOS et al., 2021). ↠ As neoplasias intraepiteliais recebiam classificação de acordo com o grau de acometimento por células atípicas na espessura epitelial. Na neoplasia grau I, a atipia acomete 1/3 da espessura epitelial, na grau II, 2/3 da espessura epitelial e na grau III, toda a espessura epitelial está acometida por atipia. Esta descrição segue o mesmo critério para colo (NIC), vagina (NIVA) e vulva (NIV) (SPECK, 2020). ↠ Hoje há uma tendência de utilizar nova terminologia, LAST (lower anogenital squamous terminology), onde a lesão grau I, passa a ser chamada baixo grau e as lesões grau II e III, alto grau. A lesão grau II apresenta comportamento heterogêneo, ora tem boa evolução com regressão espontânea, ora má evolução com progressão (SPECK, 2020). O quadro a seguir expõe a nomenclatura citopatológica e histopatológica utilizada desde o início do uso do exame citopatológico para o diagnóstico das lesões cervicais e suas equivalências. Nele, a nomenclatura para os exames histopatológicos utilizada é a da Organização Mundial da Saúde (OMS) (BRASIL, 2016). Epitélio demonstrando coilocitose exuberante. 7 Júlia Morbeck – @med.morbeck Em relação à faixa etária, há vários fatos indicando que, direta ou indiretamente, o rastreamento em mulheres com menos de 25 anos não tem impacto na redução da incidência ou mortalidade por câncer do colo do útero (BRASIL, 2016). VACINA DO HPV As vacinas contra HPV licenciadas são profiláticas e feitas por engenharia genética a partir de partículas semelhantes ao capsídeo viral (VLP – virus like particles) construídas por proteínas codificadas pela região tardia L1 do HPV. Essas partículas são desprovidas de material genético e, portanto, não causam doença. O efeito da vacinação baseia-se na produção de anticorpos contra o capsídeo viral após inoculação de VLP (CARDIAL et al., 2017). Existem duas vacinas com diferentes características aprovadas pelos órgãos regulatórios no Brasil, a saber: (CARDIAL et al., 2017). • Vacina quadrivalente recombinante contra HPV tipos 6, 11, 16 e 18 (Gardasil, MSD); • Vacina contra o HPV oncogênico tipos 16 e 18 (Cervarix®, GSK). O melhor momento para a vacinação é antes do início da atividade sexual, para se obter eficácia máxima (CARDIAL et al., 2017). Referências SALOMÃO, Reinaldo. Infectologia: Bases Clínicas e Tratamento. Disponível em: Minha Biblioteca, (2nd edição). Grupo GEN, 2023. KORSMAN, Stephen N J. Virologia. Grupo GEN, 2014. SANTOS, Norma Suely de O.; ROMANOS, Maria Teresa V.; WIGG, Marcia D.; AL, et. Virologia Humana. Grupo GEN, 2021 MONTENEGRO, Carlos Antonio B.; FILHO, Jorge de R. Rezende Obstetrícia Fundamental, 14ª edição. Grupo GEN, 2017. CARDIAL et al. Papilomavírus humano (HPV). In: Programa vacinal para mulheres. São Paulo: Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia; 2017. Cap. 4, p. 26-39. CARVALHO et al. Protocolo Brasileiro para Infecções Sexualmente Transmissíveis 2020: infecção pelo papilomavírus humano (HPV). EpidemiologiaServiços de Saúde, Brasília, 2021. SPECK, N. M. G. HPV. Febrasgo, 2020. BRASIL. Diretrizes brasileiras para o rastreamento do câncer do colo do útero / Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva. Coordenação de Prevenção e Vigilância. Divisão de Detecção Precoce e Apoio à Organização de Rede. – 2. ed. rev. atual. – Rio de Janeiro: INCA, 2016.
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