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Pediatria Thomás R. Campos Distúrbios Gastrointestinais na Infância Medicina - UFOB CONSTIPAÇÃO INTESTINAL 1. O QUE É CONSTIPAÇÃO INTESTINAL? A constipação intestinal é caracterizada pela ocorrência de qualquer uma das seguintes manifestações: Eliminação de fezes endurecidas (síbalos – tipo cocô de cabritinho) Dificuldade ou dor para evacuar Eliminação esporádica de fezes muito calibrosas, que entopem o vaso sanitário Frequência de evacuações <3x por semana, desde que tenha uma das manifestações anteriores (exceto criança em crianças em aleitamento materno exclusivo. É preciso observar hábito da criança) Nem sempre ficar sem evacuar todos os dias significa que o paciente tem constipação intestinal. Na criança, o principal aspecto que deve ser avaliado é a consistência das fezes, ou seja, se as fezes estiverem amolecidas e pastosas, não é constipação. A constipação intestinal é a principal causa de dor abdominal em criança. 2. QUAIS SÃO OS CRITÉRIOS DE ROMA III? São critérios para caracterização de constipação na população pediátrica: Pediatria Thomás R. Campos Distúrbios Gastrointestinais na Infância Medicina - UFOB 3. QUAIS OS PRINCIPAIS DISTÚRBIOS DE DEFECAÇÃO? Disquesia do lactente É fisiológico, e pode durar até os primeiros 06 meses de vida. Dura de 10 a 20 min, e caracteriza-se por episódios de esforço, gemidos e choro. Geralmente a criança apresenta eritema facial antes das eliminações. Nesses casos, as fezes sempre são amolecidas, portanto, não é constipação, por isso não se deve usar supositórios, nem medicamentos. A disquesia ocorre porque a criança faz um esforço da musculatura do M. levantador do ânus para que consiga centralizar o reto para que haja melhor eliminação das fezes. Em adultos isso ocorre automaticamente, mas no bebê não. Pseudoconstipação Intestinal É normal e ocorre em cerca de 5% dos lactentes até os 06 primeiros meses de vida. Nesses casos a frequência de evacuação é <3x/semana, porém as fezes são macias. Em recém-nascidos, os movimentos peristálticos do intestino não ocorrem de maneira sincrônica, por uma questão de desenvolvimento mesmo. Por isso, as fezes podem demorar um pouco mais para passar pelo tubo digestivo. Não é constipação, portanto não precisa tratar. É importante fazer orientações no sentido de melhorar a dieta da mãe (diminuir a ingesta de leite, comer mais fibras – alface, abóbora, couve, beterraba) Encoprese É o ato completo da defecação em plena sequência fisiológica, em local e/ou momento inapropriado, em geral, secundária a distúrbios psicológicos. Acontece em crianças que estão segurando a defecação a muito tempo, e de repente, dão aquela cagada com fezes endurecidas. Incontinência Fecal por Retenção: “Soiling” Ocorre por retenção nos pacientes com constipação e impactação fecal. A evacuação é incompleta, ou seja, as fezes vão saindo aos poucos. Acontece porque chega uma hora que a pressão aumenta tanto, que a bosta sai, manchando a cueca/calcinha com merda. É preciso ter atenção para causas de anomalias anorretais, como a presença de fístulas, ou disfunção neurológica, como a doença de Hirschsprung (megacólon agangliônico). Pediatria Thomás R. Campos Distúrbios Gastrointestinais na Infância Medicina - UFOB 4. O QUE PODE CAUSAR CONSTIPAÇÃO? O aleitamento artificial aumenta em 4,5 vezes o risco de constipação. A transição da dieta no primeiro ano de vida é um fator predisponente (as mães têm dificuldade de suspender o leite e entrar com dieta rica em fibras). A Alergia à proteína do leite de vaca (APLV) também pode cursar com constipação intestinal, porque causa proctite (inflamação do reto e ânus) e colite (inflamação do intestino grosso). Além disso, o câncer de colo (porque a constipação deixa o paciente por mais tempo em contato com radicais livres que são tóxicas), doença diverticular e apendicite (porque a constipação pode causar um fecalito dentro do apêndice vermiforme) podem causar e/ou serem causados pela constipação intestinal. *Obss. do Lanca: Não deixe crianças comerem semente de acerola, porque nem se enfiar a mão ali e puxar vai sair. Tem que fazer cirurgia para retirar. Apendicite também pode causar diarreia, por isso tenha cuidado ao usar antibióticos. Se tu der Bactrim pra uma criança com diarreia decorrente de uma apendicite, você esfria o processo e aí a inhaca tá feita: vai ter necrose de alça e tu vai matar o guri. Só dê antibiótico se tiver certeza total que você está tratando uma bactéria. 5. O QUE É CONSTIPAÇÃO DE ORIGEM PSICOGÊNICA? Antigamente era chamado de megacólon psicogênico, porque acreditava-se que alguma coisa causaria ansiedade na criança fazendo com que ela, deliberadamente, segurasse as fezes. Com essa retenção, as fezes ficam mais endurecidas e causam constipação. Hoje, já se sabe que essas crianças possuem um quadro de maus hábitos alimentares anterior à retenção das fezes. Uma hora ela vai ter constipação intestinal e, quando ela vai evacuar, causa dor. Como num ciclo, a dor faz a criança reter as fezes e isso aumenta ainda mais a constipação. Mais da metade dos casos ocorre no primeiro ano de vida, e 20% dos pacientes começam o quadro na época do treinamento do esfíncter anal. A experiência dolorosa é o principal fator desencadeante. É necessário apoio de psicólogos em casos refratários. Pediatria Thomás R. Campos Distúrbios Gastrointestinais na Infância Medicina - UFOB 6. QUAIS AS PRINCIPAIS COMPLICAÇÕES DA CONSTIPAÇÃO INTESTINAL? Dor abdominal (60%) – Porque tem bosta presa ali Escape fecal (45%) – É o Soiling Sangue nas fezes (35%) – causada por hemorroidas ou fissuras Distensão abdominal (25%) – Porque tem bosta presa ali Enurese noturna (23%) – Lancaster não sabe explicar porquê Vômitos (19%) – Por conta do próprio processo obstrutivo Diarreia (11%) – Porque, depois de longos períodos de constipação, quando o paciente volta a defecar, começa a cagar demais. 7. COMO É FEITO O DIAGNÓSTICO DE CONSTIPAÇÃO INTESTINAL? O diagnóstico é principalmente clínico Exame físico: Distensão abdominal Massa fecal palpável (verificada pelo toque retal) Fissura anal Presença de fezes impactadas no reto (é importante palpar a fossa ilíaca esquerda, é possível palpar fezes impactadas em crianças com muita frequência nessa região) Exames complementares: Rx simples de abdome (para verificar anormalidades lombossacrais ou ânus anteriorizado) Enema opaco e Manometria anorretal Dosagem de T3/T4 (para verificar hipotireoidismo) Pediatria Thomás R. Campos Distúrbios Gastrointestinais na Infância Medicina - UFOB 8. O QUEÉ A DOENÇA DE HIRSCHSPRUNG? A doença de Hirschsprung envolve a ausência de células nervosas nos músculos de uma parte ou da totalidade do intestino grosso (cólon), que dificulta a passagem das fezes. O principal sintoma é a incapacidade de um recém-nascido de evacuar dentro de 48 horas após o nascimento. Outros sintomas incluem distensão abdominal e vômitos. É congênita, por isso é importante saber se a criança teve eliminação normal de fezes nos primeiros dias de vida (se a criança cagava normal nos primeiros dias de vida e só depois parou de cagar, não é doença de Hirschsprung). Além disso, na doença de Hirschsprung a ampola retal é vazia no toque. É necessário realizar uma cirurgia para desviar a parte afetada do cólon ou removê-lo totalmente. 9. QUAL O TRATAMENTO DA CONSTIPAÇÃO INTESTINAL? Mudanças de hábitos e atitudes Recondicionamento do hábito intestinal Esvaziamento do fecaloma (enemas até 4 dias) Fibras: Solúveis: dispersível em água, formam um gel (pectina) Insolúveis: parte externa dos vegetais Aveia: tem fibras solúveis e insolúveis Farelo de trigo: fibra insolúvel 10. QUAIS OS USOS DE LAXANTES NA CONSTIPAÇÃO INTESTINAL? Óleo mineral, leite de magnésia e lactulose. Óleo mineral não pode ser usado em menores de 2 anos ou em pacientes neuropatas, porque se ele broncoaspirar vai ter uma pneumonia lipoide terrível. Após os 02 anos, as crianças conseguem deglutir melhor e têm uma tolerância maior ao óleo mineral. Polietilenoglicol (ideal para <2 anos, porque não tem eletrólitos e não causam desequilíbrio hidroeletrolítico nessa faixa etária, que é mais susceptível) Lactulose (mais indicados para >2 anos) O tratamento deve ser feito entre 6 e 24 meses e a suspensão deve ser feita forma gradual (porque se usar por muito tempo, pode tornar as haustrações do intestino grosso retificadas e o paciente fica dependente do medicamento para cagar) Pediatria Thomás R. Campos Distúrbios Gastrointestinais na Infância Medicina - UFOB 11. QUANDO É INDICADA A LAVAGEM INTESTINAL? Todo paciente que chega em PS com quadro de dor aguda e intensa, com fecaloma palpável em fossa ilíaca esquerda, deve ser realizada a lavagem intestinal para melhora imediata e alívio da dor do paciente. Geralmente é utilizado clister de glicerina, para diluição do fecaloma.
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