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Embargos de Declaração

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AULAS – MATERIAL DE APOIO 
(OBS: ESTE MATERIAL FOI ELABORADO COM BASE EM OBRAS DE PROCESSO CIVIL 
E CONSISTE APENAS EM UMA SÍNTESE DO CONTEÚDO E UM ROTEIRO DAS AULAS 
PARA USO DO PROFESSOR E GRACIOSAMENTE COMPARTILHADO COM OS ALUNOS, 
DEVENDO ESTES BUSCAREM NA BIBLIOGRAFIA INDICADA, OBRIGATORIAMENTE, A 
COMPLEMENTAÇÃO NECESSÁRIA) 
 
2 DOS RECURSOS EM ESPÉCIE 
 
2.1 EMBARGOS DE DECLARAÇÃO (arts. 1.022 a 1.026, do CPC) 
 
2.1.1 Conceito 
Os embargos de declaração são o recurso que tem por finalidade aclarar e sanar as 
contradições, omissões, obscuridades ou erros materiais de uma decisão. 
Sua função é sanar esses vícios da decisão, não se trata de recurso que tenha por fim 
reformá-la ou anulá-la (embora o acolhimento dos embargos possa eventualmente resultar na 
sua modificação). 
 
2.1.2 Cabimento dos Embargos de Declaração 
 
a) Contra todo tipo de decisão judicial: Cabem embargos de declaração contra todo tipo de 
decisão judicial (interlocutórias, sentenças e acórdãos), proferida em qualquer grau de jurisdição, 
em todo tipo de processo (de conhecimento ou de execução) e de jurisdição (contenciosa ou 
voluntária). 
Obs. Nada impede que os embargos também sejam opostos contra despachos. É que, 
apesar de estes pronunciamentos serem desprovidos de conteúdo decisório, é inconcebível que 
um despacho “viciado” fique sem remédio, de modo a comprometer a possibilidade prática de 
cumpri-lo. 
b) Vícios da Decisão: O cabimento dos embargos está condicionado a que decisão padeça de 
um ou mais dos vícios previstos no art. 1.022 do CPC: obscuridade, contradição, omissão ou 
erro material. 
 Obscuridade 
É a falta de clareza do ato. As decisões judiciais devem permitir ao leitor a compreensão 
do que ficou decidido (a decisão e os seus fundamentos). 
Os embargos servirão para que o juiz promova os esclarecimentos necessários, tornando 
compreensível aquilo que não era. 
 Contradição 
É a falta de coerência da decisão. Pode manifestar-se de várias maneiras: 
 pela incompatibilidade entre duas ou mais partes do dispositivo, 
 pela incompatibilidade entre duas ou mais partes da fundamentação, 
 pela incompatibilidade entre a fundamentação e o dispositivo. 
O juiz exprime, na mesma decisão, ideias que não são compatíveis, conciliáveis entre si. 
De certa forma, a contradição leva também à obscuridade. 
 Omissão 
Haverá omissão se o juiz deixar de se pronunciar sobre um ponto sobre o qual devia se 
pronunciar de ofício ou a requerimento (ex. todos os pedidos do autor). 
O art. 1.022, p. ú., do CPC, considera omissa a decisão que deixe de se manifestar sobre: 
 tese firmada em recurso repetitivo (IRDR, REsp e RE repetitivos) ou em incidente 
de assunção de competência aplicável ao caso sob julgamento; 
 que incorra em qualquer das hipóteses do art. 489, §1º – considera-se a sentença 
não fundamentada. 
 Erro material 
Podem ser: 
 erros de cálculo, 
 erros de expressão: indicação equivocada do nome das partes, do número do 
processo, do resultado, etc; 
 erros de fato: que são comprováveis de plano. 
Ex.: o tribunal deixa de conhecer recurso de apelação, por intempestividade, sem 
observar que havia comprovação de um feriado forense, na cidade em que foi 
apresentado; 
Ex.: a sentença extinguiu o processo sem resolução de mérito por inércia do autor, 
quando ele tinha peticionado, tomando as providências necessárias para dar-lhe 
andamento, mas o cartório, por equívoco, não havia juntado aos autos a petição. 
 
2.1.3 Natureza Jurídica dos Embargos de Declaração 
 
Os embargos de declaração consistem em um instituto de natureza bastante 
controvertida. 
a) Primeira Corrente (Natureza de Incidente): não considera os embargos declaratórios uma 
modalidade de recurso, mas mero incidente de julgamento, visto que são apreciados pelo próprio 
juízo que proferiu a decisão, estando desprovido de efeito devolutivo, e, normalmente, não 
modificam o julgado. 
b) Segunda Corrente (Natureza Recursos): considera os embargos declaratórios uma 
modalidade de recurso, embora sui generis, uma vez que o próprio Código de Processo Civil, no 
art. 994, os trata como tal, bem como podem, excepcionalmente, alterar o julgado quando a 
decisão for omissa em relação a algum ponto que o juiz deveria se pronunciar e não o fez. 
Esta última é a melhor posição, pois a atribuição de natureza recursal a determinado 
instituto é função do legislador, e, nesse caso, o legislador previu, expressamente, os embargos 
de declaração como uma das modalidades recursais. 
 
2.1.4 Efeitos dos Embargos de Declaração 
 
Os efeitos podem ser principais ou secundários. 
 
2.1.4.1 Principais 
 
a) Evitar o trânsito em julgado da sentença (salvo se os embargos forem intempestivos ou 
manifestamente incabíveis, quando o trânsito em julgado já se opera muito antes da decisão que 
os inadmitiu) ou evitar a preclusão (se tratar de decisão interlocutória); 
b) Efeito interruptivo: Os embargos de declaração interrompem o prazo para a interposição de 
outros recursos, por qualquer das partes (art. 1.026). Tal prazo volta a correr, por inteiro, após a 
intimação das partes do resultado do julgamento dos embargos. 
É de se notar que o efeito interruptivo é um efeito da interposição do recurso, produzindo-
se neste momento, independentemente de ser futuramente admitido ou não. 
Vale lembrar também que os embargos de declaração opostos nos feitos de competência 
dos Juizados Especiais Cíveis (JEC’s) também interrompem o prazo para a interposição dos 
demais recursos, tendo sido alterada a redação do art. 50, da Lei n. 9099/95 pelo art. 1.065. 
 
2.1.4.1 Secundários 
 
a) Não devolutivo/iterativo ou regressivo: divergência doutrinária 
 Primeira Corrente: os embargos de declaração não possuem o efeito devolutivo, 
porquanto, além de serem julgados pelo próprio órgão prolator da decisão embargada, 
não se destinam exatamente ao reexame de matéria já decidida, mas apenas ao 
esclarecimento de ponto obscuro ou contraditório, integração de ponto omisso ou correção 
de erro material (art. 1.022, do CPC). 
 Segunda Corrente: os embargos de declaração possuem o efeito devolutivo, visto que 
devolvem ao órgão a quo a oportunidade de manifestar- se. 
b) Suspensivo: Não são dotados de efeito suspensivo (art. 1.026 do CPC), guardando sintonia 
com a regra já prevista do art. 995. 
 EXCEÇÃO: é possível a obtenção de efeito suspensivo ope iudicis (a critério do julgador), 
desde que observados os requisitos previstos no §1º do art. 1.026: 
 a probabilidade do provimento do recurso; 
OU 
 fundamentação relevante (fumus boni iuris) acerca de risco de dano grave ou de 
difícil reparação (periculum in mora). 
c) Efeito translativo: Os embargos de declaração têm efeito translativo. Ao examiná-los, o 
julgador poderá conhecer de ofício de matérias de ordem pública, ainda que estas não sejam 
objeto dos embargos. 
d) efeito modificativo (infringentes): em regra os embargos declaratórios não têm efeito 
modificativo, pois não podem ser utilizados para que o juiz reconsidere ou reforme a sua decisão 
(mude sua convicção). 
 EXCEÇÃO: os embargos declaratórios servem para sanar os vícios de omissão, 
obscuridade, contradição e erro material da decisão. Contudo, há casos em que o 
afastamento do vício apontado implica na alteração do julgado. 
Ex.: numa ação cobrança, o juiz omite sobre a prescrição arguida na peça 
contestatória e condena o réu a pagar a importância pedida na inicial. Interpostos 
os embargos declaratórios com vistas ao suprimento da omissão, o juiz reconhece 
a prescrição e, em razão disso, julga improcedente o pedido. 
 Intimação da Parte Embargada: Em regra, o julgamento dos embargos 
declaratórios não se exige a intimação da parte embargada para manifesta-se, pois 
não comporta novo julgamento da causa, mas apenas prolação de decisão 
integrativa ou aclaratória. No entanto, quando o julgamento dos embargos 
comportar inevitável alteração no julgamento dacausa (ou seja, quando for dado 
ao recurso efeito infringente), será necessária ampla participação das partes. 
e) Efeito de prequestionamento: Nos termos dos arts. 102, III, e 105, III, da CF/1988, um dos 
requisitos de admissibilidade do RE e do REsp é o prequestionamento, ou seja, que a questão 
objeto do recurso tenha sido analisada na instância que proferiu a decisão recorrida. Se não 
houver o devido prequestionamento (decisão com erro, omissão, contradição ou obscuridade), 
cabe à parte interpor embargos de declaração para fins de prequestionamento antes da 
interposição do REsp e RE. (art. 1.025 do CPC) 
d) Efeito manifestamente protelatório: trata-se dos embargos declaratórios que tem o 
exclusivo intuito de procrastinar o andamento do feito. 
Caracterizam- se como protelatórios os embargos de declaração que visam rediscutir matéria 
já apreciada e decidida pela Corte de origem em conformidade os precedentes do (súmulas e 
recursos repetitivos) do STF ou STJ. 
 Multa Primariedade: até 2% sobre o valor atualizado da causa (art. 1.026, § 2º, do CPC). 
 Multa Reincidência: até 10% sobre o valor atualizado da causa, cujo pagamento será 
condicionante para propositura de outro recurso, salvo no caso da Fazenda Pública e do 
beneficiário da gratuidade da justiça (art. 1.026, § 3º, do CPC). 
Obs.: “não serão admitidos novos embargos de declaração se os 2 (dois) anteriores 
houverem sido considerados protelatórios” (art. 1.026, § 4º). 
 
2.1.5 Processamento dos Embargos de Declaração 
 
a) Interposição 
 Prazo para interposição: 5 dias ou em dobro (situações já tratadas, ex.: MP, Defensoria 
Pública) da intimação decisão a ser impugnada 
 Petição escrita: exceto nos JEC’s, que pode ser oral (reduzida a termo pelo serventuário) 
– art. 49 da Lei n. 9.099/95) 
 Dirigida ao juízo que proferiu a decisão: seja de 1º grau, seja colegiado do 
tribunal, seja juízo monocrático do tribunal, como o relator) 
 Com indicação do vício: erro material, obscuridade, contradição ou omissão. 
 Não exige preparo (art. 1.023, caput, do CPC) 
 
b) Contraditório 
 REGRA: não há necessidade de se ouvir a parte contrária 
 EXCEÇÃO: se os embargos puderem produzir efeito modificativo (infringente). O 
embargado será intimado para em 5 dias oferecer as suas contrarrazões (art. 1.023 
do §2º). 
 
c) Julgamento 
 
 Juiz singular: Os embargos deverão ser julgados em 5 dias (art. 1.024, do CPC). 
 Tribunais: Quando opostos contra decisão monocrática do relator, serão decididos 
monocraticamente. Quando os embargos de declaração forem opostos contra acórdão, a 
sua decisão também será colegiada.

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