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Medicação Intracanal De maneira geral, a medicação intracanal é uma medicação que colocaremos dentro do canal radicular. Na aula de hoje vamos entender o mecanismo de ação de cada medicamento, quando utilizar cada medicamento (em cada caso) e como utilizá-lo. Depois que é finalizado o PQM (depois de usar as limas no canal radicular e a clorexidina) pode-se partir logo para etapa de obturação ou para a etapa de medicação. Quando isso irá acontecer? Quando nós podemos pular a etapa da medicação e ir logo p obturação? Basicamente em quase todos os casos vai ter que ser colocado medicação intracanal, pq o processo todo é demorado e não para ser feito em uma única sessão. Por definição, medicação intracanal é: medicamento que vamos inserir no canal radicular por um período de tempo que vai ser preestabelecido e esse medicamento vai exercer ação/efeito terapêutica dentro do canal radicular. POR QUE A GENTE UTILIZA MEDICAÇÃO INTRACANAL? É importante lembrar da anatomia, onde não há apenas 1 único canal e sim um sistema de canais que se ramificam através do canal principal. Quando temos uma necrose, por exemplo, todos os túbulos dentinários e canais estão contaminados. Se eu uso uma medicação intracanal, vou melhorar o efeito antibactericida, pq só a clorexidina que foi usada no PQM não vai acabar com todas as bact., principalmente as que ficam nos canais do sist de canais. E numa polpa viva? Se põe medicação? As vezes sim. Veremos mais adiante o pq. OBJETIVOS DA MEDICAÇÃO INTRACANAL: 1. Eliminar microorganismos que ficaram resistentes durante o PQM; (nem só o pqm é capaz de reduzir TODAS as bact. do canal radicular) 2. Diminuir a inflamação do dente, principalmente quando as bact. provenientes da necrose chegam até os tecidos periapicais e periodontais; 3. Diminuição da sintomatologia dolorosa do paciente; 4. Controlar o exsudato persistente; (quando há necrose as bact. estão ali produzindo subprodutos, como LPS, LPA, e produzem tb exsudato) 5. Solubilizar matéria orgânica; (não conseguimos instrumentar todos os canais) 6. Inativar produtos e subprodutos bacterianos; (permitindo o proc de reparo) 7. Controlar reabsorção óssea externa; (se chega um paciente com reabsorção, o ideal é NÃO obturar na mesma sessão: coloca uma medicação a base de hidróxido de cálcio que vai modificar aquele ambiente, diminuindo a reabsorção e propiciando o reparo) 8. Estimular o reparo por tecido mineralizado; (quando usamos uma medicação a base de hidrox de cálcio temos essa característica de deposição de tec mineralizado) Entendendo melhor cada objetivo... 1 - As nossas limas trabalham dentro do canal principal, não atingindo outros canais que compõem o sistema de canais, como os secundários, acessórios, recorrentes, etc. Para que consigamos diminuir a carga bacteriana de dentro desses canais que a lima não consegue chegar, lançamos mão do uso de uma medicação intracanal. Ela vai se difundir pelas regiões nas quais a lima não consegue chegar e vai exercer seu efeito bactericida. 40% a 60% das bactérias permanecem no canal mesmo após o PQM; essa porcentagem justifica pq nos casos de necrose temos que usar uma medicação intracanal e só realizar a obturação na próxima sessão. Acredita-se que expondo novamente o dente a uma substância de caráter antimicrobiano, as chances de sucesso do tratamento e de reparo serão maiores. 2 – Na região do periápice (em caso de necrose) teremos processo inflamatório intenso, que trará dor ao paciente. Se no PQM eu consigo reduzir a carga bacteriana e as toxinas que são produzidas, e depois insiro uma medicação que também diminuirá essa carga bacteriana, têm-se o reestabelecimento dessa região, a diminuição do processo inflamatório e com o tempo o reparo (formação de novo tecido mineralizado). Quando nós damos essa condição para o paciente, ele relata que houve diminuição da dor pq removemos a inflamação do periápice. (NÚMERO 3 JÁ ENGLOBADO AQUI) 4 – O mesmo acontece com o exsudato inflamatório quando utilizamos a medicação intracanal: o exsudato seroso é diminuído (provindo da inflamação). (quando obturamos o canal, vedamos ele por completo; mesmo que ainda tenha ficado alguma bact. depois do PQM, da medicação intracanal e do cimento endodôntico que tem também poder antibiótico, essas bactérias restantes morrem por ausência de substrato!! Como o dente está completamente lacrado, ela não terão substrato para metabolizar e morrerão, por isso que as endos dão certo. Não há como esterilizar um dente por completo). 5 – Pode ficar algum resquício de matéria orgânica dentro do canal radicular mesmo após o PQM, isso normalmente acontece nos canais colaterais, nos delta apicais (onde a lima não consegue chegar). Se a medicação que utilizamos solubilizar essa matéria orgânica que ficou é um ponto positivo. 6 – Eliminar/inativar o LPS (produzido pelas gram negativas) e o LPA (produzido pelas gram positivas) que causam inflamação, são responsáveis pelo recrutamento de células osteoclásticas... inativando esses subprodutos, aquela região do periápice tem mais chances de ser reparada. 7 – casos de trauma ou lesão, quando há reabsorção dentária: se colocamos uma medicação que consiga mudar aquele meio (removendo as bact.) há o cessação da reabsorção e diminuir a reabsorção advinda de um traumatismo dental. 8 – depois que acaba o tratamento endodôntico, aquele dente precisa ser reparado, não basta a gente tratar o paciente e não acompanhar. Na obturação precisamos usar um cimento que faça o selamento biológico daquela região (fechar o ápice) para que não haja mais trocas entre canal radicular obturado e meio externo. DENTRO DA CLASSIFICAÇÃO DAS MEDICAÇÕES INTRACANAIS, NÓS TEMOS 5: - Derivados fenólicos; - Corticoides e antibióticos; - Aldeídos; - Bases ou hidróxidos; - Halógenos; Dentro dos derivados fenólicos, nós temos como exemplo o paramono clorofenol canforado, essa medicação tem potência de agente antimicrobiano e é a mais recomendada em endo. É o callen PMCC. Mas ele é extremamente difícil de levar p o canal radicular. Hoje há outras alternativas para utilizar o hidróxido de cálcio, que é o ultracal. Essa medicação é muito mais fácil de ser utilizada. Dos aldeídos há o formocresol e o tricresol, que também são potentes agentes antimicrobianos e agem tanto por contato direto quanto por contato indireto (por volatilidade). Na clínica nós utilizaremos o tricresol formalina a depender do caso. Se o meu canal NÃO está totalmente instrumentado, é interessante que eu utilize uma medicação que tem uma volatilidade ou uma que age apenas por efeito direto/por contato? É melhor usar a que tem volatilidade. Pq se o meu canal não está totalmente instrumentado, como que a medicação vai agir em todo o sistema de canais? Logo, utilizar uma medicação que tem volatilidade é indicado quando o canal não está totalmente instrumentado. FAZEMOS MUITO ISSO EM ACESSOS DE URGÊNCIA QUANDO NÃO DÁ TEMPO P INSTRUMENTAR TODO O CANAL. ACESSO P TIRAR A DOR E O TRICRESOL VAI AGIR NA DOR E BACT POR VOLATILIDADE. Dos corticoides e antibióticos há o otosporim, que tem como corticoide a hidrocortisona e como antibiótico o sulfato de neomicina e polimixina B; é na verdade p o ouvido, mas por ter excelente ação principalmente anti- inflamatória e antibiótica, pode ser usada nos canais radiculares. E as bases ou hidróxidos, sendo as medicações de escolha SEMPRE QUE PUDERMOS UTILIZAR. Usaremos o hidróxido de cálcio, que tem pH alcalino e forte característica antimicrobiana. Tanto em polpa viva quanto em polpa morta? Sim, mas depende do caso, pois ele só age por contato. Só uso hidróxido de cálcio quando o PQM está completamente realizado, tanto em caso de biopulpectomia quanto em caso de necro. Pq utilizamos o hidróxido de cálcio? Poderoso anti-séptico e temcaracterísticas de estimular a deposição de tecido mineralizado de acordo com a sua dissociação. Ele fornece condições p o dente a começar o processo de reparo. Dentro do canal ele se comporta da seguinte maneira: se dissocia em íons cálcio e hidroxila; esse cálcio reage com o CO2 que há no dente e iniciará o processo de formação de tec mineralizado e indução desse tecido. Os íons hidroxila faziam com que o pH aumentasse e ficasse alcalino, que é incompatível com a sobrevivência das bactérias. Quando isso acontece, conseguimos perceber áreas de tecido mineralizado, indicado sucesso no tratamento. COMO LEVAR ESSA MEDICAÇÃO DENTRO DO CANAL RADICULAR? O hidróxido de cálcio necessita de um veículo para agir dentro do canal radicular. Dependendo de como se compra a medicação, ela pode vir com ou sem o veículo: o Ultracal, por exemplo, já vem pronto para usar (com veículo). Pode-se misturar o pó de hidróxido de cálcio com um veículo (água ou glicerina – depende da ação que se quer dentro do canal), fazer uma pasta, e levar dentro do canal radicular. O veículo facilita a inserção da medicação no interior do canal e permite sua dissociação em íons cálcio e hidroxila. Ele pode ser: 1. Veículo inerte: é um veículo biocompatível mas que não influencia significativamente as propriedades propriedades do hidróxido de cálcio. Exemplos: água destilada, soro fisiológico, glicerina, óleo de oliva, soluções anestésicas etc. • Veículo inerte hidrossolúvel: Podem ser aquosos (água destilada, soro fisiológico, soro anestésico) ou viscosos (glicerina, polietilenoglicol, propilenoglicol). O viscoso é mais denso quando comparado com o aquoso. • Veículo inerte oleoso: óleo de oliva, cânfora, ácido oleico. Esses oleosos não são tão utilizados atualmente, a não ser quando se usa o Calen PMCC, uma medicação a base de hidróxido de cálcio com paramonoclorofenol canforado. 2. Veículo biologicamente ativo: apresenta alguma ação adicional às proporcionadas pelo hidróxido de cálcio. Exemplos: Se mistura o pó de hidróxido de cálcio com clorexidina, PMCC, iodeto de potássio iodetado, etc. A mistura do hidróxido de cálcio (que já tem ação bactericida) com outra substância biologicamente ativa potencializa sua ação dentro do canal. Logo: Do ponto de vista da atividade antimicrobiana (principal propriedade exigida para um medicamento intracanal), os medicamentos são classificados em: inertes e biologicamente ativos. Do ponto de vista das características físico-químicas, são classificados em hidrossolúveis e oleosos. Por que utilizar o Ultracal, que só tem hidróxido de cálcio e como veículo metilcelulose (mais viscoso, semelhante ao polietilenoglicol)? Porque só o hidróxido de cálcio já tem ação antibactericida, mas o Ultracal apresenta facilidade para aplicação no canal (agulha fina, que permite que todo o canal radicular seja preenchido). O ultracal tem veículo hidrossolúvel (se dissocia semelhante ao aquoso) e pode permanecer dentro do canal por 14- 15 dias. OBS: Veículos aquosos permitem uma dissociação mais rápida, enquanto veículos oleosos permitem uma dissociação mais lenta. A escolha depende da necessidade do paciente (o tempo entre uma sessão e outra, por exemplo). • Exemplo: Paciente que só pode retornar em 30 dias = mais interessante utilizar um veículo viscoso, onde há dissociação mais lenta. QUANDO UTILIZAR A MEDICAÇÃO INTRACANAL: BIOPULPECTOMIA X NECROPULPECTOMIA • Polpa viva: nem sempre precisa de medicamento intracanal (a vitalidade do coto periodontal, no limite CDC, ajuda no processo de reparo, pois é um tecido conjuntivo e com fibras, que ajuda no depósito de tecido cementoide). • Polpa necrosada: sempre precisa de medicamento intracanal (o sistema de canais está todo contaminado, inclusive o coto periodontal). OBS: Após o PQM numa biopulpectomia, na mesma sessão, deve-se obturar o dente: já que não precisa utilizar o medicamento intracanal (já que não tem bactéria na polpa viva), a obturação impede que o dente seja contaminado (é o ideal). Se não der tempo de realizar a obturação na mesma sessão, faz uso da medicação intracanal (é mais arriscado, pois a restauração pode cair e o canal radicular acaba sendo contaminado por bactérias). Os casos em que se utiliza medicação intracanal em biopulpectomia geralmente são: • Falta de tempo para obturar • Sangramento pré-obturação • Sobre-instrumentação (a medicação terá efeito anti-inflamatório, pois a região foi lesada, com inflamação induzida). EDTA: ETILENODIAMINOTETRACÉTICO Antes de utilizar a medicação intracanal, após o PQM, usa-se o EDTA para remover a smear layer formada durante o preparo no canal radicular. Assim, o EDTA facilita a penetração da medicação nos túbulos dentinários. O soro fisiológico neutraliza o EDTA e então a medicação intracanal pode ser inserida. BIOPULPECTOMIA: • Canal parcialmente instrumentado: utiliza Otosporin • Canal totalmente instrumentado: utiliza hidróxido de cálcio (preferencialmente) ou Otosporin OBS: Não se utiliza o Tricresol pois é uma medicação altamente antibacteriana e que destrói os tecidos (não há necessidade dessa atividade antibacteriana e pode gerar dor por destruição dos tecidos). 1. Otosporin: Corticoide e antibiótico. É utilizado mais pelo corticoide, já que não há contaminação. • Fica dentro do canal radicular até 7 dias (a ação da medicação diminui com o tempo); • Como levar a medicação para dentro do canal? Canal totalmente instrumentado: O Otosporin é inserido num tubete de anestésico (vazio e limpo), onde se coloca a data de validade e identifica a medicação. Após irrigação e secagem do canal (com cone de papel), com o auxílio de uma seringa carpule e uma agulha diferente (para evitar contaminação cruzada - a agulha utilizada para inserir a medicação no tubete deve ser diferente da agulha utilizada para inserir a medicação no canal. E entre pacientes, a agulha sempre deve ser trocada), se insere a medicação no canal no CRT. Após isso, restaura o dente. Canal parcialmente instrumentado: Bolinha de algodão umedecida com Otosporin é colocada na câmara pulpar. A medicação vai escorrer até onde foi instrumentado. Após isso, restaura o dente. 2. Hidróxido de cálcio: preferencialmente utilizado em casos de canal totalmente instrumentado, pois cria uma barreira física no canal (caso a restauração venha a cair ou fraturar, diminuindo a contaminação do canal). • Fica dentro do canal de 7 a 30 dias; • Como levar a medicação para dentro do canal? Após irrigação e secagem do canal (com cone de papel), utiliza-se o Ultracal, que já vem com uma seringa e agulha própria (que é acoplada a seringa). A medicação é inserida no canal do CRT com auxilio do cursor. Como saber se o canal já está cheio? O medicamento vai preenchendo o canal e quando chega no terço cervical, mostra que o canal radicular já está cheio. O Ultracal tem baixo radiopacificador, mas o ideal é que após o preenchimento do canal seja realizada uma radiografia para checar se o canal realmente está todo preenchido (verificar a existência de bolhas, por exemplo). Não é tão facilmente visualizado, mas “é como se o canal radicular estivesse preenchido por alguma coisa”. NECROPULPECTOMIA • Canal parcialmente instrumentado: utiliza Tricresol • Canal totalmente instrumentado: utiliza hidróxido de cálcio (Ultracal) 1. Tricresol: Tem ação à distância (é volátil, chegando em todas as partes do canal) e tem grande poder bactericida. • Fica dentro do canal até 7 dias; • Utilizado em casos de urgência (geralmente só acesso e medicação, sem instrumentação – só para tirar a dor). • Como levar a medicação para dentro do canal? Embebe uma bolinha de algodão com tricresol, retira o excesso de medicamento numa gaze, insere a bolinha dentro do canal radicular, onde o medicamento vai agir à distância. Após isso, restaura o dente (sempre se utiliza CIV). • Por que usar Ionômero de vidro e não cotosol?O CIV apresenta uma força compressiva maior que o cotosol. O cotosol, após a presa, apresenta maior dilatação (corre o risco de fraturar) e é mais poroso (maior risco de infiltração). 2. Hidróxido de cálcio: Utilizado em todos os casos de canal totalmente instrumentado (não tem como utilizar num canal parcialmente instrumentado porque não vai chegar em todas as partes do canal). • Fica dentro do canal por no mínimo 14 dias (para que o hidróxido possa dissociar e agir no canal); • Como levar a medicação para dentro do canal? A inserção do Ultracal no canal radicular em biopulpectomia e necropulpectomia é feita da mesma maneira. OBS: Em casos de necropulpectomia sempre se utiliza a medicação intracanal. Não se obtura o dente na mesma sessão.
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