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Direito Penal Letícia Vidal Jaime 2ª Fase: Pena Provisória As Agravantes a) Características das agravantes (Segundo René Dotti) • São quatro: 1) Caráter exaustivo das hipóteses legais. o As hipóteses existem em róis taxativos. o Exemplo: Art. 61, CP – Crimes praticados por um único agente, sem concurso; Art. 62, CP – Crimes praticados em concurso de agentes. 2) Caráter obrigatório de aplicação o A agravante nunca é neutra, sempre que presente, é obrigatória. 3) Inaplicabilidade nos crimes culposos o Característica importante! o Todas as agravantes são incompatíveis com os crimes culposos, com exceção da agravante da reincidência. ▪ A reincidência, pode ser uma agravante objetiva, é compatível com crimes culposos e dolosos. 4) Proibição do bis in idem o Proibição da dupla valoração a) A Reincidência das Agravantes • Previsão da existência: Art. 61, I, CP • Conceitos legais: arts. 63 e 64, CP • A circunstância agravante da incidência é vista como uma “individualização discriminatória” do réu. • Há autores que digam que deveria ser uma atenuante, pois seria uma falha do Estado em deixar o agente reincidir, devido a passagem pelo sistema carcerário. • STF reconhece a reincidência como constitucional. • É compatível com crimes culposos, independe da consciência e da vontade do autor. b) As hipóteses agravantes do art. 61, II • 4 combinações – 3 hipóteses de configuração e 1 hipótese de não configuração na reincidência: a. Hipótese 1: Sujeito comete um crime, é processado, condenado, transita em julgado e depois comete um novo crime = Configurada a reincidência; b. Hipótese 2: Sujeito comete um crime, é condenado, transita em julgado e depois comete uma contravenção penal = Configurada a reincidência; c. Hipótese 3: Sujeito comete uma contravenção penal, é condenado por ela, transita em julgado e depois ele pratica uma nova contravenção = Configurada a reincidência; d. Hipótese 4: Sujeito pratica uma contravenção penal, depois pratica um crime = Não configura a reincidência, pois são infrações penais de gravidades muito distintas. – Art. 63, CP + Art. 7º, Decreto-Lei 3.688/41. • Se houver a condenação, transita em julgado, mas é extinta a punibilidade do crime pela prescrição, por exemplo, não há reincidência. A extinção da punibilidade apaga todos os efeitos criminais daquele fato praticado. • A reincidência pode ser ficta ou real. o Ficta: aquela que já se configura com a prática do novo fato após o mero trânsito em julgado pelo crime anterior; É a que adotamos no Brasil. o Real: aquela que só se configura com a prática de novo fato após o início ou o término do cumprimento da pena do crime anterior. Real, pois o autor já sabia que havia sido condenado. • A reincidência também pode ser genérica ou específica (independente da classificação, deve agravar a pena da mesma forma, não impacta na diferença da pena para fins de agravante) o Genérica: aquela que se configura com qualquer relação entre a natureza da infração penal anterior e posterior. Exemplo: 1º Homicídio e 2º Roubo; 1º Estelionato e 2º estupro. Qualquer infração penal, quando diferentes, se configura a reincidência genérica o Específica: Quando as infrações penais são as mesmas antes e depois. Exemplo: 1º Homicídio e 2º Homicídio; 1º tráfico e 2º tráfico; 1º roubo e 2º roubo. • Art. 64, I – transitado em julgado a condenação anterior, quando passa um tempo superior a 5 anos entra a extinção da pena e o novo crime, não haverá mais a reincidência. • Art. 64, II – Para efeitos de reincidência, não se considera um crime militar ou crimes políticos. • A reincidência influa também em outros momentos da situação jurídica do réu, em que a reincidência não é agravante: o CP: Arts. 33, § 2º, alíneas e § 3º; Art. 44, § 3º; Art. 81, I, § 1º; Art. 83, II e IV; Arts. 86 e 87; Art. 110 e Art. 117, VI. o Lei de Execução Penal: Art. 112, VI, “a” e VIII. • É a mais importante e preponderante. **** Cada alínea do art. 61 representa uma única agravante. Incide apenas uma vez. Art. 61, II, “a” – Agravante do motivo Fútil Ou Torpe • Motivo fútil é o motivo desproporcional por conta de sua insignificância para a pessoa comum, revela uma grande reprovabilidade do autor. o A ausência aparente de motivo é o crime praticado que ninguém sabe por que o autor praticou também é tido como motivo fútil. o Exemplos: Briga em que um indivíduo risca o carro do outro e é recebido com um soco no rosto; Em uma festa um indivíduo derruba vinho na camisa do outro e este lhe defere uma facada, em sensação de revolta; o Divergência entre juízes: Briga por futebol • Motivo torpe é o visto como adjeto, como a inveja ou promessa de recompensa e deve ser levado também em consideração o pensamento do grupo social, do local em que ocorreu o fato e dos pré-conceitos e experiencias de vida do juiz. Art. 61, II, “b” – Crime praticado para facilitar ou assegurar a execução ou ocultação de outro crime. • O crime praticado para assegurar a execução de outro crime é quando, por exemplo, o agente ameaça testemunhas ou terceiros após a prática de um crime. o Ex: Mata alguém, agride alguém ou prática estupro e posteriormente percebe que havia uma testemunha ocular, e na sequência ameaça de morte a testemunha, ou até mesmo a mata, para assegurar a impunidade dele. • O crime praticado para assegurar a ocultação de outro crime é quando, por exemplo, o indivíduo entra em uma casa para roubar e incendeia o local para destruir provas do crime cometido. o Neste caso, o indivíduo não pode ser condenado pelo crime de incêndio (Art. 250, CP), uma vez que incide a agravante. • Esta agravante pressupõe sempre a prática de um outro crime, anterior, concomitante ou posterior ao intento original do autor. • ***Se o Autor comete um homicídio e decide ocultar o cadáver para seguir impune, ele mutila o corpo e oculta o cadáver. Neste caso, não incide a agravante, uma vez que o crime de ocultação de cadáver é um crime autônomo, punível no art. 211, CP. É possível dizer o mesmo do incêndio, depende do caso concreto, da literatura e da jurisprudência que o juiz segue ou pode entender. Art. 61, II, “c” –Traição. • Normalmente é cometido após longo tempo de reflexão do agente, que ao invés de desistir do ato, planejou de modo a acolher a vítima de surpresa, atacando de forma desprevenida, revelando-se um traidor. • ***Não é crime de casal, é um crime de traição de confiança, da lealdade, pode ocorrer entre amigos, parentes, colegas de trabalho, chefe e subordinado. É quando há uma confiança, essa confiança é traída e a traição faz parte do crime. • Há uma discussão na literatura e na jurisprudência de que se houve alguma briga anterior entre autor e vítima, não há traição. Ex.: Briga de bar em que dois estranhos brigam, um deles ameaça o outro de morte e sai do bar enquanto o outro fica. Ao sair do bar, o outro é morto a tiros. Art. 61, II, “d” – Crime praticado mediante o uso de veneno, ou fogo, ou etc. • Indica um meio insidioso, mediante enganação, de modo traiçoeiro, pérfido ou mediante tortura. • Bis in idem: não incide a agravante do crime praticado mediante tortura no crime de tortura. Crime de tortura, previsto na Lei 9455/97, art. 1º. Não pode agravar a pena por ter sido praticado mediante tortura. O juiz precisa escolher o fato e subsumi-lo a lei uma única vez. o Ou é um crime praticado com o agravante de tortura ou é um outro crime (tortura) e assim não incide a agravante. o Crime mediante o uso de fogo como agravante ou crime de incêndio. o Tortura também pode ser emocional, não necessariamente física. • A prova técnica é importante, é necessário fazer perícia no que sobrou no local do crime, seja no corpo ou nos objetos, para identificar qual foi o meio utilizado para a prática do crime. Nesses casos, a provatécnica é indispensável. Art. 61, II, “e” – Crimes praticados contra ascendentes, descendentes, e outros parentes. • O fundamento da punição é porque o autor violou um dever afetivo e social para com entes queridos, que todos têm e esperam que todos tenham. Todos esperam que o indivíduo que pratica um crime contra a própria família tenha a pena mais alta por si só. • Deve haver prova da relação de parentesco e o autor deve conhecer esta qualidade da vítima. É indispensável. o Se o indivíduo é órfão, pratica o crime de roubo e posteriormente descobre que a vítima era sua mãe biológica – Ele não sabia, portanto, não pode ser punido com esta agravante, uma vez que ele não violou o dever social de cuidado. • O Rol desta alínea é taxativo. Só é valido pros indivíduos aqui mencionados. Art. 61, II, “f” – Crimes praticados mediante abuso de autoridade • São os crimes praticados contra o empregado doméstico, o prestador de serviços (ainda que eventual), a diarista, ou inclusive no caso de crime praticado com relação a relação de hospitalidade, contra hóspede, visita, colega de quarto, padrasto, sogros • Pede-se que haja uma coabitação, ainda que temporária e haja um crime praticado neste contexto. Art. 61, II, “g” – Crimes praticados mediante abuso de poder • Se o autor for funcionário público, o fato em questao não pode constituir crime funcional. Senão, configura bis in idem. Não incide esta agravante. • Se o autor for funcionário público, o fato em questao não pode constituir crime de abuso de autoridade, uma vez que este é um crime autônomo. • Ofício, ministério ou profissão – a literatura entende que: o Ofício é atividade de quem não detém o cargo, mas está exercendo-o temporariamente (ex.: leiloeiro nomeado pelo juiz. Ele não é um funcionário público, mas naquele momento exerce um ofício público) o Ministério é a atividade de religiosos em geral, independente da religião o Profissão é qualquer profissão. Art. 61, II, “h” – Crimes praticados contra crianças, enfermos, grávidas, idosos. • O fundamento é a maior vulnerabilidade dessas vítimas aqui identificadas. • Incide a agravante do crime praticado contra a criança, desde que não seja o crime de infanticídio, que é aquele crime praticado pela mulher em estado puerperal, no art. 213, CP. Para evitar o bis in idem. • Criança é juridicamente definido pelo ECA, no art. 2º: o Criança é o ser humano de até 12 anos de idade. o Adolescente: dos 12 aos 18 anos o Adultos: +18 anos o Idoso: +60 anos • Enfermo: não é qualquer “dor de cabeça” ou “indisposição”, deve ser uma enfermidade grave, que reduza a capacidade de resistência e reação da vítima. • Se a pessoa for Idosa E Enferma, a agravante incide apenas uma vez. • Mulher grávida: é necessário que o autor conheça a gravidez da vítima. É preciso provar que o autor sabia da gravidez. Art. 61, II, “i” – Crimes praticados quando o ofendido estava sob imediata proteção de autoridade • O fundamento é o desprezo pela autoridade no momento do crime. • Pessoas que são vítimas quando estão sendo escoltadas, quando são presas, pessoas que são vítimas quando estão dentro de uma delegacia de polícia, por exemplo. o Exemplo: Delegado estava investigando crime de estupro seguido de morte de uma criança (menina) e ele identificou um suspeito, divulgou para a mãe da vítima que o suspeito estava lá e pediu que ela fosse identificá-lo, uma vez que ela teria visto o indivíduo um pouco antes. A mãe foi, ficou em frente ao suspeito, sacou uma faca e enfiou no pescoço do suspeito, que morreu. Sendo assim, ela praticou um crime enquanto o suspeito estava sob a imediata proteção da autoridade (delegado). Art. 61, II, “j” – Crimes praticados em ocasião de incêndio ou de tragédias em geral • O sujeito se aproveita de uma tragédia para praticar crimes. o Exemplo: furtar vítimas de acidente de trânsito, estuprar uma pessoa desacordada depois de ter desfalecido por razão natural, estelionato contra uma viúva por telefone etc. Art. 61, II, “L” – Crimes praticados com embriaguez pré-ordenada (dolosa) • O sujeito se embriaga para cometer o crime. Ele tinha o pleno uso das capacidades mentais quando decidiu cometer o crime. É válido para drogas também. D) As agravantes em concurso de pessoas (art. 62, CP) • O fundamento é o art. 29, CP – Adequação de culpabilidades. • Vários autores praticam crimes juntos. • Estas agravantes são específicas para a chamada codelinquência, crimes praticados em coautoria. Não podem ser confundidas com situações que qualificam o crime, especialmente o crime de homicídio, que tem estas qualificadoras/agravantes. • Art. 62, I – Agravante da autoria intelectual o É o sujeito que impulsiona os demais, ele é o líder, o cérebro. • Art. 62, II – Agravante do crime praticado mediante coação física ou moral • Art. 62, III – Agravante do crime praticado mediante formas diferentes de coação que representa a autoria imediata o A pessoa utiliza um menor ou um doente mental para praticar o crime. Ela se vale de outra pessoa que não pode ser punida, mas essa pessoa será punida e com uma agravante. • Art. 62, IV – Agravante do motivo torpe, mas no caso de concurso de pessoas.
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