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COMUNICAÇÃO EM SAÚDE 1 Comunicação em Saúde COMUNICAÇÃO EM SAÚDE 2 Comunicação em Saúde 1. Comunicação: Conceito e Processo 1.1. O conceito de comunicação e como se dá o seu processo Por comunicação podemos entender qualquer forma que possa ser utilizada nesse processo: oral, escrita, simbólica ou gestual e eletrônica. Estamos sempre nos comunicando, pois, mesmo no silêncio absoluto, estamos sempre enviando uma mensagem ao outro que nos observa. Toda vez que enviamos uma mensagem, seja ela qual for, estamos efetuando comunicação. Comunicar é transmitir, é levar a outros signos linguísticos que podem ter diversos formatos em uma mensagem utilizando um código comum. Nas instituições de saúde a comunicação é a base principal da sustentabilidade de toda a estrutura, pois uma falha no processo pode causar danos irreparáveis aos usuários do sistema. Assim, ela deve ser cuidada e clarificada para que não existam erros. Na Antiguidade o filósofo grego Aristóteles montou sua própria estrutura da retórica grega em um modelo simples. Nela podemos ver quais os elementos da comunicação eram pensados na época e que, de fato, não são muito diferentes dos atuais: Segundo a retórica grega de Aristóteles: 1. A pessoa que fala. 2. O discurso que pronuncia. 3. A pessoa que escuta. A pessoa que fala: no modelo grego, antes da existência dos meios de comunicação de massa como conhecemos hoje, o termo se referia apenas ao orador, a pessoa que usava o discurso, no caso a fala. Hoje esse conceito se expande e podemos usá-lo para nos referirmos a veículos de comunicação como COMUNICAÇÃO EM SAÚDE 3 rádio, televisão, jornais e muitos outros. A televisão se comunica com você; o jornal, a internet ou um cartaz, todos são capazes de levar uma informação que pode ser decodificada. O discurso que pronuncia: neste caso é a palavra que está sendo dita. O próprio discurso é o conteúdo; nele se encontra a mensagem que chegará a um ouvinte, e este, por sua vez, tem de ser alguém capaz de entender o que está sendo dito. O discurso é importante, mas o código também é. Caso a ponta final (a pessoa que escuta) não entenda o conjunto de signos usados, não haverá comunicação. Por isso devemos sempre ter uma atenção especial ao código, principalmente na área de saúde. A pessoa que escuta: é a ponta final de todo o processo que envolve a comunicação. É o ouvinte, aquele que tem a capacidade de interpretar os símbolos contidos na mensagem, o ser que entende o idioma que está sendo usado. Não existe uma ou outra parte mais importante entre os elementos básicos,; na verdade, todas são igualmente valorosas, no entanto todo esforço pode ser perdido se a pessoa que escuta não for capaz de entender o que está sendo dito. Ela deve ser capaz de ter acesso a quem fala, do mesmo modo que tem de entender o que está sendo dito. Sem essa corrente entrelaçada não há comunicação. 1.2 - Os diferentes modelos elaborados por teóricos da comunicação e como podemos utilizá-los da melhor maneira possível Atualmente, os elementos que configuram o processo de comunicação têm um formato mais abrangente. Hoje a estrutura mais aceita é a que distribui esse processo em sete itens. Para Shannon e Weaver, autores da teoria matemática, todo o processo consiste em: COMUNICAÇÃO EM SAÚDE 4 Emissor (fonte): o que emite a mensagem. A origem pode ser uma pessoa, que fala por si, ou mesmo uma pessoa que representa um grupo com um dado objetivo. Mensagem: o conjunto de informações transmitidas. Na mensagem o objetivo da comunicação é materializado. Codificador: a função codificadora vai expressar o objetivo da fonte/emissor em forma da mensagem expressa pelas habilidades que a fonte pode ter e usar, como por exemplo: oral, escrita, gestos, braços e postura. Canal de comunicação: meio pelo qual a mensagem é transmitida: TV, rádio, jornal, revista, cordas vocais, ar e etc. É o condutor da mensagem, sua função é aproximar a fonte do recebedor. Novas tecnologias, atualmente, tornam mais fácil a relação da fonte com o receptor, que pode estar em qualquer lugar do mundo por e-mails, celulares, aparelhos tecnológicos em geral. Decodificador: a fonte necessita de um codificador para dar movimentação à mensagem e o recebedor precisará de um decodificador para decifrar a mensagem. No meio eletrônico são os aparelhos; já entre humanos é a capacidade de entender idioma, gestos, expressões faciais etc. Ruído: qualquer perturbação na comunicação. Para Shannon e Weaver, o ruído é entendido como tudo que interfere na transmissão e dificulta a recepção da mensagem: egocentrismo, timidez, dificuldades de expressão, ausência/falhas de códigos comuns; escolha inadequada (meio, receptor, mensagem, forma, local, timing, estrutura), excesso de intermediários; preconceitos; status; suposições; distrações. Receptor: o que recebe a mensagem, quem está na outra ponta do canal. O objetivo final do processo de comunicação: chegar ao receptor e ser entendido. Ele é o alvo mais importante do contexto formativo porque, se a mensagem não chegar ao receptor, de nada adiantará enviá-la. COMUNICAÇÃO EM SAÚDE 5 2. Elementos da comunicação 2.1. Elementos principais do processo comunicacional O segredo da comunicação é o código comum às duas pontas do processo. O problema da comunicação, na nossa esfera de abordagem, é que nem sempre estamos cientes de que, mesmo não conhecendo bem o código reinante, como no caso da linguagem corporal, a mensagem chega ao receptor. Na maioria das vezes o código é corriqueiro, como o nosso idioma, por exemplo, mas, na área de saúde, um cuidado muito especial deve ser adotado nas relações com usuários do sistema. Tomando-se como base o primeiro capítulo do livro Comunicação empresarial e planos de comunicação: teoria e prática, do autor Mauricio Tavares, intitulado “Conceitos iniciais sobre comunicação e um breve histórico”, adaptando-se para a realidade do ambiente de saúde, os tipos de comunicação possíveis em uma instituição passam por: 1. Comunicação interna: as principais formas de comunicação eram as reuniões, os pequenos eventos e os house organs, os informativos internos, que levavam em conta somente os interesses da instituição. 2. Comunicação institucional: esta passou a ser mais rápida e até global com o advento da internet. Visa apresentar os resultados positivos da instituição. 3. Comunicação de marketing: busca alimentar o usuário de informações para conseguir ampliar o raio de ação dos elementos voltados para a promoção e a manutenção de saúde. 4. Comunicação empresarial: vem integrar os três tipos de comunicação – interna, institucional e a do marketing – de forma planejada, pois todos os públicos são de interesse da instituição. COMUNICAÇÃO EM SAÚDE 6 2.2. Como a má qualidade da comunicação pode gerar danos irreparáveis à instituição de saúde No ambiente da saúde podemos perceber alguns tipos de falhas mais comuns que acabam comprometendo seriamente todo o processo, causando danos muitas vezes irreparáveis aos usuários: Falha de sistema: nesse caso o canal de comunicação pode não existir, pode não estar funcionando no momento ou não é utilizado pelo corpo funcional da instituição. Falha na emissão da mensagem: nesse caso o canal de comunicação existe, mas a informação não é devidamente enviada ao receptor. Falha na recepção da mensagem: nesse caso o canal existe, a comunicação correta foi enviada, mas o receptor não entendeu ou demorou para compreender a informação. Uma falha na aplicação de uma prescrição medicamentosa ou de um procedimento cirúrgico, por exemplo, pode acarretar a morte do paciente. Infelizmente isso não é raridade no Brasil nem mesmo nos EUA, ondea legislação é muito rígida quando se trata de erros praticados por profissionais de saúde. Entre 1993 e 1998 a Food and Drugs Administration (FDA) identificou que 16% dos erros fatais documentados em relatórios que levaram ao óbito pacientes em hospitais norte-americanos foram ocasionados por erros no processo da comunicação, o que resultou em administração errada de medicamentos. Em outubro de 2013 o Hospital Universitário Pedro Ernesto, em Vila Isabel, na Zona Norte do Rio de Janeiro, foi acusado de amputar a perna errada de um paciente. De acordo com a família, para reparar o erro de ter retirado a perna errada, os médicos acabaram também amputando a que realmente precisava ser removida, deixando o paciente sem as duas pernas. COMUNICAÇÃO EM SAÚDE 7 Nos Estados Unidos em fevereiro de 2003 Jésica Santillán, de 17 anos de idade, recebeu o coração e os pulmões de um doador incompatível. Os médicos do Centro Médico da Universidade de Duke possivelmente não fizeram a verificação de compatibilidade antes da cirurgia. Depois de um segundo transplante para corrigir o erro ela sofreu danos neurológicos e outras complicações que adiantaram o seu falecimento. Jésica tinha sangue tipo O e recebeu os órgãos de um doador tipo A. O hospital assumiu o erro e fizeram um acordo financeiro com a família da menina. Nenhuma das partes pode comentar o caso. 3. Comunicação não verbal 3.1. A importância da observação da linguagem corporal tanto nos usuários do sistema da saúde quanto na equipe funcional Todos nós já ouvimos a máxima que afirma que o corpo não mente jamais. Quando falamos, pela linguagem verbal, pode-se dizer o que quiser, mas a paraverbal, a famosa linguagem corporal, inunda o ambiente de informações. Estar atento a essa forma de comunicação e de como enviamos sinais, mesmo sem perceber, aos outros pode fazer muita diferença na relação entre pacientes e profissionais de saúde. Um profissional de saúde que deseje ter excelência em sua profissão deve primar pela comunicação global que envolve tanto a fala, propriamente dita, quanto a linguagem corporal. Na verdade é uma via de mão dupla, pois o profissional pode saber muito do paciente pela postura e pelas expressões que exibe. Para dar a partida neste tema, serão enumerados a seguir alguns aspectos que devem ser observados nesse processo de comunicação: 1. A proximidade, isto é, a distância em que as pessoas se colocam umas das outras. COMUNICAÇÃO EM SAÚDE 8 2. O aspecto, entendido como vestuário, penteado, maquiagem etc. 3. A postura, ou seja, a posição do corpo, sua maior ou menor rigidez etc. 4. As expressões faciais ‒ indicam as emoções. As seis principais são iguais em todas as culturas. 5. Os gestos feitos no decorrer de uma conversa para comunicar sem palavras. 6. O olhar, entendido como contato ocular, e também como expressão de emoções. 7. A orientação do corpo, ou seja, o modo como o interlocutor se coloca em relação ao outro durante a conversa. 8. O modo de apertar a mão, quando somos apresentados ou cumprimentados. No ambiente de saúde a comunicação entre o profissional e o usuário deve ser ampla e o mais positiva possível. A omissão da informação precisa ou a sua má condução pode resultar na perda da relação de confiança entre as partes e, mais ainda, a elaboração do interno diante de uma situação não entendida sempre tende a ser a pior possível. O próprio ambiente, no qual o sujeito está inserido, carrega suas próprias mensagens: ninguém fica em um hospital porque está feliz e saudável. No entanto, o profissional deve guardar uma relação que transmita segurança, por isso deve preservar o seu paciente, transmitindo, sempre que possível, uma postura tranquila e equilibrada e mantendo atenção aos sinais enviados pelo sujeito. Algumas dicas de como se portar: COMUNICAÇÃO EM SAÚDE 9 Postura: relaxada. Olhar: firme, mas não tenso. Gestos: informais sem movimentar muito os braços nem os cruzar na frente do paciente. Expressão emocional: manter-se sereno e ocultar as expressões que possam causar estresse no paciente (como medo, tristeza, espanto e raiva). Espaço pessoal: tentar estar próximo e, sempre que possível, tocar de modo afetivo. 3.2. Extraindo informações importantes que não são reveladas pela comunicação verbalizada Postura Corporal: Os braços cruzados à frente do corpo e abaixo do osso esterno, que protege órgãos vitais, indicam medo. Uma pessoa que exibe esta postura não está se sentindo bem neste ambiente e o profissional de saúde já pode usar esta informação par adotar uma linha de abordagem com ela. Cruzados com as mãos segurando os próprios braços: carência e desconforto. Trata-se de um autocarinho, a pessoa em questão está em uma situação de carência e insegurança de tal forma que ela mesma se supre do carinho que não encontra no momento. COMUNICAÇÃO EM SAÚDE 10 Agressividade: olhar por cima dos óculos demonstra uma tentativa de se mostrar superior ao outro que está na sua frente. Lembra o olhar de um professor em sala de aula chamando a atenção das crianças rebeldes. As expressões faciais A seguir estão ilustradas as sete expressões faciais em sua forma mais acentuada. No dia a dia, no ambiente de trabalho elas aparecem em uma forma mais amena, pois a sociedade impõe regras firmes sobre como devemos expor nossas emoções, principalmente as que consideramos negativas. Desde pequenos nossas mães nos ensinam a “engolir o choro” e, como já ouvimos, só os fracos demonstram medo. Até mesmo a alegria está cortada. Aquele que demonstra muita alegria em sua forma ampla deve ser histérico, é o que diz a sociedade. Por isso, na observação no campo de trabalho, deve-se atentar para a sutileza dos traços, eles podem indicar caminhos de uma comunicação mais assertiva. Alegria: dois músculos apenas são ativados para expor essa emoção. É uma das mais facilmente reconhecidas. COMUNICAÇÃO EM SAÚDE 11 Nojo: outra emoção também facilmente reconhecida, pois também é uma das primeiras expressões apresentadas pelas mães ao observar o filho com as fraldas sujas. Nessa expressão o músculo prócero, que fica na base do nariz quase entre as sobrancelhas, recua, franzindo o semblante. Também existe o movimento para trás o rosto recua no ar como se estivesse querendo sair do ambiente. Tristeza: cada vez menos exposta. A tristeza é a emoção que mais consome o indivíduo, pois precisa de muito recurso calórico para estar expressa. É a emoção que mais utiliza músculos na face. As pessoas que estão manifestando essa emoção geralmente têm a cabeça voltada para baixo e sua voz se lentifica, mudando o tom para mais grave e baixo. A tristeza serve como um alerta aos que estão em volta do sujeito que necessita de amparo. Espanto: nessa expressão podemos notar a abertura da boca e o levantar das sobrancelhas ao máximo. Darwin afirmou em seu livro A Expressão das Emoções no Homem e nos Animais (1872) que no espanto abre-se a boca para ouvir melhor, da mesma forma que os olhos também vão ao máximo na dilatação das pupilas. Tudo isso tem a finalidade de coletar o maior número possível de informações do ambiente para uma tomada de decisão rápida. COMUNICAÇÃO EM SAÚDE 12 Medo: parece muito com o espanto, só que no medo existe tensão nos músculos da face. Uma paralisação momentânea, tal qual o espanto, é percebida. No entanto, podem-se notar também diferenças na altura das sobrancelhas que não vão até o alto e os olhos que buscam focar em algum elemento específico, como quem busca o motivo do medo. Quando do medo emerge a raiva surge a pior conjugação de emoções: o animal acuado. Nesse estado o sujeito é capaz de ter comportamentos agressivos. Raiva:uma maneira fácil de identificar a raiva é focar o músculo corrugador, que fica na testa entre as sobrancelhas. Caso ele aproxime as duas pontas internas das sobrancelhas e o rosto se incline para frente, existe raiva no corpo. Muitas pessoas acreditam que essa é uma emoção ruim, mas na verdade é a única que elenca recursos para tirar o corpo da imobilidade. Ela reúne energia para mudar o real. Uma pessoa movida pela raiva pode fazer muito apenas para dar prova de sua capacidade. COMUNICAÇÃO EM SAÚDE 13 Desprezo: levantar um lado somente da ponta dos lábios do lado esquerdo do rosto demonstra desprezo. Na verdade, pesquisas recentes revelam que não é exatamente desprezo como costumamos entender, parece mais exibição de superioridade. O lado da boca que se movimenta também pode indicar a intensidade da emoção. Do lado esquerdo é automática e imperceptível ao próprio sujeito que manifesta, pois é comandada pelo lado direito do cérebro (destros), já do lado direito se chama desdém, pois passa a ser uma emoção instalada onde o sujeito tem ciência do que sente e julgamento negativo de algo à sua frente. 4. Comunicação Interna em saúde 4.1. Conceitos modernos de gerenciamento da comunicação interna em uma instituição No ambiente da saúde a comunicação interna é o elemento mais importante de todo o sistema comunicacional, pois lida com elementos decisórios que gerem situações que podem alterar, por exemplo, o perfil de atendimento ao usuário, a estrutura de segurança do corpo funcional, a funcionalidade do próprio serviço, entre outros aspectos. A comunicação interna, voltada para o atendimento de saúde, é o esforço de comunicação desenvolvido pela instituição, ou órgão, para estabelecer canais que possibilitem o relacionamento, ágil e transparente, da direção com o público interno (usuários e corpo laboral). No entanto, ela não pode se restringir somente a um perfil de comunicação descendente (que flui da direção dos profissionais de saúde); também inclui, obrigatoriamente, a comunicação horizontal (entre os segmentos deste público interno) e a comunicação ascendente (que estabelece o feedback e instaura uma efetiva comunicação até os gestores). COMUNICAÇÃO EM SAÚDE 14 A comunicação interna não pode restringir-se à circulação periódica de um house organ (jornal interno) ou um mailing para os profissionais. Deve ser mais abrangente e participativa, abrindo a pauta burocrática, por exemplo, para coletar sugestões dos profissionais de atendimento. A visão antiga colocava as pautas decisórias somente restritas aos interesses do grupo gestor. Na saúde a não inclusão dos profissionais de atendimento como sujeitos ativos no seu processo de decisões pode levar a instituição ao caos gestor. O dia a dia com os usuários fornece informações importantes sobre como tomar iniciativas e antever problemas que podem surgir. Os públicos internos de uma instituição precisam participar efetivamente, não apenas cumprindo suas atribuições de maneira correta, mas também com suas opiniões, seus valores, seus interesses. Falta de feedback deixa o gestor, que está longe do contato com os usuários, distante da realidade, que isso pode levar à tomada de decisões erradas que afetam diretamente os usuários. Para isso existem muitas formas de criar uma boa comunicação interna (blogs, chats, informativos on-line nos quais todos podem colaborar com postagens), dentre muitos outros meios como: Quadros de aviso. Caixa de sugestões. Pesquisa interna de satisfação. Reuniões de equipe periódicas com divulgação de pauta. Não é possível reunir todos os funcionários de uma instituição em um mesmo grupo. Há diferenças significativas entre os públicos internos. Isso se dá em função do cargo que cada um ocupa, de nível de instrução, nível socioeconômico, nível cultural, gostos e preferências, tipo de trabalho desenvolvido, condições de acesso a tecnologias no ambiente de trabalho etc. Se não entendermos que uma organização tem diferentes públicos, corremos o risco de uniformizar a comunicação, pois deixaremos de contemplar a diversidade e poderemos praticar os “ruídos” da comunicação. COMUNICAÇÃO EM SAÚDE 15 4.2. A importância da comunicação linear e de fácil compreensão para o corpo funcional da instituição de saúde O chamado modelo linear de comunicação nasce, de fato, nas ciências exatas. Surge na engenharia pela necessidade de dividir os elementos envolvidos na transmissão de informação em meios eletrônicos. Assim nascem os termos que conhecemos: “emissor, receptor, canal e mensagem”. Até hoje são amplamente usados por serem partes de modelo de fácil aprendizado. Quando uma instituição de saúde mantém um perfil de comunicação linear, também conhecida como a famosa “gestão de portas abertas”, o mecanismo aplicado é basicamente o mesmo com a diferença da expectativa do feedback para onde a comunicação foi direcionada. Assim se consegue fazer com que a comunicação flua de modo competente dentro de todo aparato, minimizando as possibilidades de falhas. Outra alteração é que todos são privilegiados no acesso às informações, desde o funcionário da manutenção aos gestores principais. O sistema de comunicação linear no ambiente de saúde prevê que o receptor, após receber a mensagem, obrigatoriamente dê um feedback de seu entendimento. Nos esquemas que vimos anteriormente, o receptor finaliza sua participação ao receber a mensagem. No ambiente de saúde é necessário ter certeza de que o receptor teve entendimento do conteúdo da mensagem e, por isso, um retorno é sempre esperado. O código da mensagem também deve ser comum as partes. Uma comunicação entre equipes deve ter os signos de fácil entendimento entre eles. Um médico não pode enviar um memorando, por exemplo, usando apenas termos técnicos de sua área para outro profissional do Programa de Saúde da Família (PSF) (ou Estratégia de Saúde da Família [ESF]) como o auxiliar de dentista. COMUNICAÇÃO EM SAÚDE 16 Outro bom exemplo de como a comunicação linear funciona nos PSF (ou ESF) são as equipes dos Núcleos de Apoio à Saúde da Família (Nasf) que estão sempre promovendo reuniões e com apoio de profissionais, auxiliando no processo comunicacional. São exemplos dessas ações de apoio que surgem graças a uma boa comunicação: discussão de casos, atendimentos compartilhados (Nasf + ESF vinculada), atendimentos individuais do profissional do Nasf precedida ou seguida de discussão com a ESF, construção conjunta de projetos terapêuticos, ações de educação permanente, intervenções no território e na saúde de grupos populacionais e da coletividade, ações intersetoriais, ações de prevenção e promoção da saúde, discussão do processo de trabalho das equipes etc. 5. Comunicação Empresarial 5.1. O processo da comunicação empresarial e a sua relevância nesse ambiente Segundo Chiavenato (2006), todos os seres humanos que vivam em sociedades organizadas ou não são obrigados a cooperar uns com os outros, formando organizações de algum gênero para alcançar certos objetivos em que a simples ação individual isoladamente não conseguiria alcançar. Já nos tempos das cavernas era necessário montar uma equipe para que a caça fosse mais eficiente a fim de alimentar o grupo e manter a unidade em prol da segurança em face de tantas ameaças possíveis existentes naquele tempo. Assim, pode-se dizer que organizações são sistemas de atividades coordenadas por mais de duas pessoas que cooperam entre si independentemente de sua natureza e do objetivo, mas só existem quando: Há pessoas capazes de comunicar-se. As pessoas estão dispostas a contribuir com ação conjunta. COMUNICAÇÃO EM SAÚDE 17 As pessoas têm um objetivo em comum. Não há dúvida de que, nesse processo, a comunicação– em qualquer formato é de extrema importância para as instituições. O processo comunicacional faz as informações circularem até o ambiente em que as tomadas de decisões corretas podem ocorrer e também serve para auxiliar no desenvolvimento de relacionamentos entre os integrantes do grupo em todos os níveis. Sabemos que o perfil comportamental dos indivíduos dentro da cultura organizacional pode sofrer influências de ordem pessoal em: Personalidade. Motivação. Expectativas. Objetivos pessoais. Esse perfil comportamental também pode ter influências ambientais. O indivíduo no processo de troca sofre e interfere no corpo laboral. Nesse aspecto a comunicação é o elemento mais forte. Veja um exemplo bem simples: João é um funcionário novo na empresa e reclama com os colegas que a iluminação não é adequada e que todos podem correr risco de cometer erros no manuseio do maquinário, podendo gerar acidentes com possíveis lesões irreversíveis. Durante anos todos trabalharam no mesmo ambiente e não perceberam tal precariedade e, que se sabe, não ocorreu nenhum acidente grave. No entanto, diante da afirmação do novo colega que veio de uma outra empresa que adotava um sistema de iluminação mais eficiente foi deflagrada uma manifestação solicitando melhoras, o que ocasionou um corte na produção daquele setor. O que podemos observar no exemplo é que por falha no processo comunicacional houve uma perda na produtividade, pois os funcionários pararam de trabalhar para COMUNICAÇÃO EM SAÚDE 18 reivindicar iluminação melhor. Provavelmente o resultado seria outro se o João comunicasse o problema ao seu gestor, sugerindo melhorias na iluminação a fim de aumentar a eficiência de seu grupo de trabalho. Não há nada que torne o gestor mais sensível do que apresentar algo que possa ampliar a produtividade. Assim, não seria necessário deflagrar uma paralisação. 5.2. As possibilidades de gerar informação qualificada como ferramenta capaz de modelar um ambiente saudável para todos os integrantes do sistema Saber gerenciar o conteúdo informacional é extremamente importante para a saúde da cultura organizacional (CO). Desse modo, a comunicação deve ser usada buscando- se estimular, motivar e melhorar a imagem da empresa tanto no ambiente externo quanto no interno. Claro que uma boa impressão deve ser cultivada com a geração de material apropriado de divulgação e ações que levem os colaboradores a se sentirem integrados e valorizados. Um bom departamento de Recursos Humanos saberá criar atividades que evolvam os participantes da CO de maneira saudável e lúdica, ao mesmo tempo em que devem ser criados mecanismos de escuta ativa para permitir o acesso desse corpo ao grupo gestor. A comunicação deve fluir em todas as direções. A famosa caixa de sugestões, por exemplo, é um bom método de facilitar um diálogo entre o sistema operacional e o gestor, assim como pesquisas internas de satisfação devem ser feitas regularmente. Assim, a empresa deve contribuir para que o funcionário se sinta coadjuvante nas mudanças da empresa. Sem dúvida, quando esse processo é bem feito, há uma boa comunicação entre o corpo laboral e a linha gestora, podendo contribuir ativamente no surgimento de soluções ou de antecipação de problemas. COMUNICAÇÃO EM SAÚDE 19 Sabemos que o colaborador passa a maior de seu tempo dentro da organização e diretamente ligado ao ambiente no qual ocorre a produção. Assim, é bem possível que ele tenha mais recursos para observar as dificuldades e possíveis soluções. Esse processo de escuta e resposta cria um ambiente saudável no qual o funcionário tem sua autoestima elevada e também mantém um clima harmonioso e integrado entre os setores, sem mencionar a possibilidade de soluções que podem evitar prejuízos na produtividade. Esse aspecto da comunicação interna que passa valor ao corpo laboral é mais um segmento importante da comunicação interna que, segundo o autor Ronaldo Marques, possui 5 Cs para apresentar real eficiência: 1. Clara. 2. Consistente. 3. Contínua e frequente. 4. Curta e rápida. 5. Completa. Um sistema que pretende gerar informações qualificadas como ferramenta capaz de modelar um ambiente saudável para todos os integrantes do sistema deve obedecer a essa pequena regra: apresentar os 5 Cs. Além de ser clara e consistente, sem deixar dúvidas quanto à intenção das informações, deve ser rotineira, contínua e frequente. Não pode ser longa e entediante, mas deve ser completa. Seguindo-se essa pequena regra não existe erro e certamente o ambiente interno será o mais saudável possível. 6. Comunicação Assertiva 6.1. Como elevar o nível da assertividade no processo comunicacional. A clarificação do conteúdo buscando evitar a possibilidade de erros. COMUNICAÇÃO EM SAÚDE 20 Toda comunicação está sujeita a algum tipo de ruído, por isso a busca pelo modelo perfeito de assertividade deve ser uma constante no ambiente de saúde. Assim como não existe comunicação sem um emissor e na ponta final um receptor, também devemos levar em consideração a existência do aspecto emocional de quem comunica algum conteúdo e o seu nível de conhecimento do usuário da ESF. Desse modo, no ambiente da instituição de saúde, ao lidar com os usuários diários da ESF, é necessário moldar o conteúdo informacional, clarificando-o o máximo possível haja vista nem todos estarem devidamente aparelhados para o entendimento de determinados conteúdo específicos. Como afirma Maria Júlia Paes da Silva em seu livro Comunicação Tem Remédio, “Toda comunicação, portanto, tem duas partes: a primeira é o conteúdo, o fato, a informação que queremos transmitir; a segunda, o que estamos sentindo quando nos comunicamos com a pessoa. O conteúdo da nossa comunicação está intimamente ligado ao nosso referencial de cultura, e o profissional de saúde tem uma cultura própria, diferente do leigo, por isso é importante saber que quanto mais informações possuirmos sobre aquela pessoa e quanto maior a nossa habilidade em correlacionar esse saber do outro com o nosso, melhor será o nosso desempenho no aspecto da informação e do conteúdo”. De nada adianta passar a informação correta da maneira errada. Ocorre que, muitas vezes, o profissional de saúde que atua na ESF não tem plena consciência que, ao comunicar-se face a face com um usuário, por exemplo, estará enviando um conteúdo além das palavras. Convém estar atento a todo aspecto da comunicação não verbal nas informações, para que seja possível adequar o conteúdo ao perfil receptor. Quem busca o serviço de atendimento pode estar imerso em emoções como angústia, insegurança pelo sintoma que apresenta, e isso, muitas vezes, cria ruídos na COMUNICAÇÃO EM SAÚDE 21 capacidade de decodificar o que está sendo expresso pelo profissional de saúde. Clarificar o conteúdo e administrar bem as emoções é o que deve ser feito para minimizar as possibilidades de erro. Devem-se criar algumas estratégias simples para diminuir as possibilidades de ruídos ao se comunicar. No entanto, o primeiro passo é escutar e perceber quais são os fatores de mediação, como veremos a seguir. 6.2. A melhor maneira de distribuir informação buscando sempre o melhor modelo para diferentes situações e contextos A questão de procurar modelar o conteúdo ou a forma como ele é apresentado aos usuários sempre foi uma questão muito presente. Na década de 1970 a mídia começou a ser usada, e os grandes veículos de comunicação de massa levavam até a população informações sobre os cuidados com a saúde. Não havia escuta ativa nem zelo com o conteúdo das mensagens para que elas pudessem ser melhor absorvidas. Assim, o método apresentava falhas por reproduzir a instrução técnica sem se preocupar com o ouvinte, leitor ou telespectadorpara o qual direciona seus conteúdos, imagens e formas sem ouvi-los e sem preocupação de entendê-los como sujeitos, a não ser estatisticamente para otimizar a decodificação das mensagens. As mensagens focavam as representações da saúde e enfatizam uma lógica linear de causa e efeito baseada em prescrições e nos relatos de avanços científicos e tecnológicos e a autorresponsabilização dos indivíduos e dos grupos sobre a sua saúde. Dessa maneira, o sucesso ou o insucesso midiático das mensagens transmitidas é inferido estaticamente por variáveis que não mostram a processualidade do campo da recepção e das diferentes interpretações e usos das mensagens feitos pelos públicos a que se dirigem, além de levar pouco em conta o contexto cultural e situacional em que circulam estas mensagens. COMUNICAÇÃO EM SAÚDE 22 Não basta dizer o que é certo, deve-se saber dizer da maneira correta. A ESF está inserido na comunidade e mantém um diálogo constante com os atores sociais. Essa troca possibilita entrar no universo cultural e observar a fluência dos conteúdos, dos interesses, da forma de vida cotidiana, o que torna mais fácil a interação do profissional de saúde com os usuários. Inesita Araújo, em seu livro Comunicação e Saúde, enumera os fatores de mediação que devem ser observados para uma boa interação. Tais fatores foram identificados em seis diferentes ordens: 1. Motivações e interesses. 2. Relações (pessoais, grupais, comunitárias; institucionais e organizacionais). 3. Competências. 4. Discursividades (discursos, sistemas de nomeações, paradigmas, teorias e modelos); 5. Dispositivos de comunicação (enunciação, produção e circulação, tecnologias). 6. Leis, normas e práticas convencionadas. Trata-se, de fato, de um capital simbólico e confere poder ao interlocutor, de acordo com sua posse desses fatores no ambiente, transformado o profissional em alguém capaz de proferir um discurso limpo e sempre no melhor modelo possível. 7. A influência da Comunicação na saúde 7.1. Como se dá a influência da comunicação no ambiente da saúde. Como vimos anteriormente, estar ciente dos fatores de mediação de um grupo social no qual a ESF se encontra confere poder ao interlocutor que terá uma comunicação mais assertiva com os usuários. O profissional representa o saber e possui o poder conferido pela certificação do seu ramo de atuação. Dessa forma, a sua fala corresponde ao direcionamento da ação que irá prover a saúde ao usuário. Para que COMUNICAÇÃO EM SAÚDE 23 isso seja suficiente para que tudo corra bem com as prescrições devem-se observar os fatores de mediação, cuidar da forma de como é feita a entrega do conteúdo com as linguagens verbal e não verbal, entre outros detalhes. Atualmente, o Sistema Único de Saúde (SUS) tem a preocupação de trabalhar com a comunicação buscando sempre melhorar o panorama da saúde pública. Para que isso seja possível, é necessário modelar o conteúdo para que o processo de educar a população ocorra sem rejeição ou os famosos ruídos no entendimento das mensagens. As campanhas têm o objetivo claro da promoção da saúde com prevenção de doenças e o controle por medidas socioeducativas e sanitárias, como: Campanha pela eliminação do mosquito da dengue. Informar a importância da desratização. Somente beber água potável para evitar doenças. Trabalhar a mudança de hábitos higiênicos e o perfil alimentar. Campanhas para que a população se exercite, entre outras. No entanto, para que essas campanhas tenham sucesso é necessário que a população tenha acesso a mídias e uma instrução que lhes permita entender para replicar as medidas indicadas. A possibilidade de tornar o cidadão um elemento consciente e replicador dessas campanhas é o que se espera de uma boa comunicação. Essas informações devem ser partilhadas pelos meios de comunicação, na escola, nos encontros com grupos para que se tornem parte da estrutura cultural, transformando-se em motivo de motivação e interesse de todos. Assim, a comunicação bem feita cumpre o seu papel, seja ela proferida pelo profissional diretamente ao usuário na ESF ou no macroambiente com os recursos midiáticos disponíveis. A influência da comunicação no ambiente de saúde pode ser transformadora quando executada da maneira correta. COMUNICAÇÃO EM SAÚDE 24 7.2. Como uma comunicação mal-administrada pode gerar consequências danosas à instituição A comunicação é o mecanismo que permite ao profissional de saúde manter um relacionamento interpessoal com os indivíduos, direcionando recursos para a sua recuperação e retorno ao estado de saúde. Assim, os profissionais da ESF devem estar sempre atentos ao modelo de comunicação, buscando o aprimoramento no dia a dia. Todavia, as falhas podem ocorrer e, como sabemos, no ambiente de saúde as falhas no processo comunicacional podem ser extremamente prejudicais aos usuários. Um exemplo de uma conduta em que a falta de uma comunicação gera transtornos foi relatada por uma pesquisa “Quando a comunicação é nociva no encontro entre profissional e família da criança hospitalizada” realizada na UIP de um Hospital-Escola localizado em Goiânia, Goiás, no período de fevereiro a julho de 2010 em que as famílias se queixavam de mau atendimento na pediatria. Os profissionais estavam focados nos sintomas da criança em busca de resoluções e se esqueciam de ter uma plena comunicação com os familiares. A UIP em questão possui dois blocos de internações: a Clínica Pediátrica (CP) e a Unidade de Terapia Intensiva Neonatal (UTIN). A CP possui 20 leitos com média de ocupação diária de 12 leitos. A UTIN tem 10 leitos destinados ao cuidado de recém-nascidos graves e, quase sempre, possui ocupação total dos leitos. Quando os profissionais se posicionam de maneira verticalizada, em relação às necessidades dos familiares de informações, sem se importarem muito em tentar estabelecer um perfil de comunicação efetiva, o grupo familiar se sente ignorado e marginalizado, pois, além de se sentir impotente adiante da doença da criança, sequer sabe da real condição clínica da mesma. Veja alguns depoimentos tomados com os familiares durante a pesquisa: COMUNICAÇÃO EM SAÚDE 25 “[...] fizeram [os profissionais de saúde] uma rodinha, assim, lá no quarto, conversou, conversou, conversou e conversou e foi embora! E aí, eu fiquei perdida! Porque aí ele não perguntou nada, não falou nada.” “[...] falei assim: “doutora, eu queria”, ela nem deixou eu terminar de falar, “não, a gente só passa alguma coisa sobre os recém-nascidos no final da tarde”. Se você não chegar neles e falar assim “doutor, como é que tá ele?” eles não te falam nada.” Percebemos pelos depoimentos que, de modo geral, a ação de ignorar o direito da família de ser ouvida e de receber informações relativas a diagnóstico, quadro clínico e evolução da criança compromete não apenas o estado emocional dos envolvidos, como também a própria instituição. O profissional de saúde é o representante da ESF, sua fala (ou a falta dela) apresenta a relação de responsabilidade que esse programa tem com os seus usuários. Provavelmente o usuário não reconhece o profissional pelo nome e sim pela sua posição no quadro funcional, mas o posto de atendimento será referência em sua fala divulgadora do perfil de atendimento. Uma comunicação mal-administrada pode gerar consequências danosas à instituição como um todo e não tão somente ao profissional que foi o responsável. 8. Comunicação Sistêmica na Saúde para o trabalho em equipe 8.1. Principais modalidades de comunicação sistêmica e os diferentes perfis de utilização por equipes de trabalho no ambiente da saúde A teoria de sistemas, também conhecida como sistêmica, nasce no campo das ciências exatas no final do século XIX comos estudos probabilísticos das descobertas feitas por Josiah Gibbs, matemático americano, e Ludwig Boltzmann, físico austríaco. Eles http://www.einstein.br/responsabilidade-social/saude-da-familia-e-ama/estrategia-saude-da-familia/Paginas/estrategia-saude-da-familia.aspx COMUNICAÇÃO EM SAÚDE 26 apresentaram a possiblidade de que os acontecimentos em geral não respeitavam leis deterministas, mas havia certa probabilidade de algo acontecer. Essa proposta colocava por terra o estabelecido paradigma de René Descartes e a ditadura das teorias deterministas de Isaac Newton, vividos por todos até então. Surge uma noção de complexidade em que os fatos podem ocorrer em escalas e níveis diferentes e, com isso, alterar o comportamento do todo, como um organismo complexo cheio de pequenos sistemas operando individualmente. Em 1937 a teoria é aplicada à biologia pelo biólogo austríaco Ludwig von Bertalanffy. Sua pesquisa teve como base uma visão diferente do reducionismo científico até então aplicada pela ciência convencional. Bertalanffy defende uma abordagem orgânica da biologia ao apresentar o organismo como um todo maior que a soma das partes. O sociólogo alemão Niklas Luhmann (2005) trouxe a proposta biológica sistêmica para a área da comunicação. Ele apresenta a comunicação como elemento centralizador dos sistemas sociais ao possibilitar aos sistemas observarem-se a si mesmos e aos outros. A complexidade dos elementos comunicacionais forma um sistema que nada mais é do que um conjunto de elementos que se relacionam entre si. Assim, juntos nessa relação, podem desenhar um conjunto estruturado que se diferencia do meio externo. Dessa relação de diferença algo novo é produzido. Fácil pensar no mesmo sistema aplicado à instituição de saúde, na qual os diferentes setores possuem diversas equipes que atuam funcionando como células vivas independentes mas também ligadas no ambiente no mesmo processo comunicacional. A unidade da ESF é um organismo em que a complexidade das relações gera resultados que dependem, de modo direto, de um bom sistema comunicacional. Trata-se de um sistema coeso, um universo distinto do mundo exterior que com ele interage todo o tempo. O mundo externo faz trocas diárias com o sistema por meio dos usuários que levam demandas junto com sua carga de conteúdo semântico e COMUNICAÇÃO EM SAÚDE 27 cultural que também interfere nos resultados das equipes. Ou seja, o perfil da teoria dos sistemas se encaixa perfeitamente nesse microuniverso da ESF. 8.2. Principais modelos e a metodologia para ampliar a assertividade entre os profissionais que atuam no ambiente hospitalar Existem cinco axiomas propostos pela Escola de Palo Alto (Califórnia, EUA) para a análise sistémica das comunicações: 1o axioma: não se pode não comunicar. 2o axioma: toda comunicação tem um aspecto de conteúdo e um de relação tais que o segundo classifica o primeiro e é, portanto, uma metacomunicação. 3o axioma: a natureza de uma relação está na contingência da pontuação das sequências comunicacionais entre comunicantes. 4o axioma: os seres humanos comunicam-se digital e analogicamente. A linguagem digital é uma sintaxe lógica sumamente complexa e poderosa, mas carente da adequada semântica no campo das relações, ao passo que a linguagem analógica possui a semântica mas não tem sintaxe adequada para a definição não ambígua da natureza das relações. 5o axioma: as permutas comunicacionais são simétricas ou complementares, segundo se baseiem na igualdade ou na diferença. Assim, cada profissional se torna elemento responsável pelo fluxo do processo comunicacional, sendo ele parte integrante do resultado mesmo em sua individualidade. Como o primeiro axioma dispõe, é impossível não se comunicar. Mesmo sem dizer nada e sem se movimentar o profissional está enviando uma mensagem ao corpo da instituição: estou parado e mudo. COMUNICAÇÃO EM SAÚDE 28 As repercussões que podem surgir diante de tal posicionamento podem gerar consequências múltiplas como, por exemplo, a exoneração de um funcionário que nada faz enquanto sua equipe trabalha o tempo todo. Com base no conteúdo exposto surgem propostas de modelos comportamentais no ambiente sistêmico para que haja um maior índice de assertividade entre as equipes e os próprios elementos que atuam na ESF: Sendo responsável por seu espaço de atuação, é possível notar que a parte preserva o todo. Ampliar o ângulo de visão tornando-a panorâmica, complexa e multidisciplinar. Ser capaz de explorar o conceito de processo sistêmico operacional. Pensar a unidade com um organismo vivo que depende de cada célula para existir. Entender a comunicação como uma ferramenta útil tanto para o indivíduo (usuário) como para o companheiro de equipe. Clarificar cada unidade conversacional que esteja ligada ao processo de existência de sua unidade de trabalho. Não deixar aberta nenhuma possibilidade de ruído. Sabendo que não esgotamos o assunto tratado nesta apostila, mas se fosse possível resumir em poucas palavras, poderíamos dizer: a comunicação é um processo que inclui a ação, mas ela não é ação de fato. Ela é apenas a intenção de transformar, com suas declarações, a realidade que nos permeia. COMUNICAÇÃO EM SAÚDE 29 Bibliografia Básica ARAÚJO, Inesita Soares de; CARDOSO, Janine Miranda. Comunicação e saúde. Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ, 2007. FRANÇA, Ana Shirley et al. (Org.). Comunicação empresarial. São Paulo: Atlas, 2013. OLIVEIRA, João. Saiba quem está à sua frente: análise comportamental pelas expressões faciais e corporais. 3. ed. Rio de Janeiro: WAK Editora, 2014. SILVA, Maria Júlia Paes da. Comunicação tem remédio: a comunicação nas relações interpessoais em saúde. 7. ed. São Paulo: Edições Loyola, 2010. Bibliografia Complementar BUENO, Wilson da Costa. Comunicação empresarial: políticas e estratégias. São Paulo: Saraiva, 2009. CLAYTON, Peter. Linguagem do corpo no trabalho. São Paulo: Larousse do Brasil, 2006. COHEN, David. A linguagem do corpo: o que você precisa saber. Petrópolis: Vozes, 2009. GUGLIELMI, Anna. A linguagem secreta do corpo: a comunicação não verbal. Petrópolis: Vozes, 2009. TAVARES, Mauricio. Comunicação empresarial e planos de comunicação: integrando teoria e prática. São Paulo: Atlas, 2010.