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Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp Sexualidade é a energia que motiva a busca do amor, contato e intimidade. Expressa na forma de sentir e na maneira com que as pessoas interagem. É muito mais do que sexo, é sobre como os relacionamentos devem funcionar para a pessoa. Ela tem caráter dinâmico, condicionada aos caracteres biológicos e psíquicos da pessoa. Sobre ampliação do seu convívio social a partir de sua vivencia em diversos contextos culturais e econômicos. A maneira de ser da pessoa está ligada a sua sexualidade. A relação sexual saudável é uma construção de uma sexualidade saudável. Expressão sexual: é um aspecto da sexualidade, o comportamento depende de como foram elaborados estímulos que a pessoa recebeu do seu ambiente – afetivo, negligente, neutro ou violento. 1. BASES BIOLÓGICAS DA CONSTRUÇÃO DA SEXUALIDADE E DA EXPRESSÃO SEXUAL A construção da sexualidade ocorre ao longo do tempo. O estímulo para assumir comportamentos considerados “tipicamente” masculinos ou femininos começam mesmo antes de nascer. Eles podem ser modificados e se moldando ao longo do tempo, pois o ambiente influencia a construção da sexualidade. Existe um reforço ao longo da infância para confirmar o sexo do nascimento. A criança vai se percebendo e se autoconhecendo nesse momento. É natural elas se olharem, olharem das outras crianças e perceber que é diferente. A exposição da criança à testosterona endógena na vida intrauterina contribui para a construção do comportamento feminino e masculino e influencia na preferência por brinquedos e brincadeiras. As meninas preferem brinquedos e brincadeiras mais estáticas, enquanto os meninos preferem ação e brinquedos que se movimentam. Contudo, em meninas com hiperplasia adrenal congênita (HAC) sofrem influência da testosterona aumentada e preferem brinquedos e brincadeiras mais masculinas. Da mesma forma, a exposição a PN a P4 + androgênicos teve efeito masculinizante. Então, meninos expostos a estrogênio podem adquirir preferencias mais femininas. Tudo isso evidencia que os hormônios intraútero afetam a sexualidade. O interesse da criança por questões relacionadas ao seu sexo caminha com aumento de androgênios a partir de 3 anos (DHEA-S – adrenarca). Começa a perceber que a genitália é diferente, fica curioso. Fatores socioculturais, educacionais, econômicos e o ambiente escolar contribuem para isso. Os pais são fundamentais para mediar os efeitos ambientais no comportamento geral e sexual nessa fase. Nem sempre a frequência e o tipo de comportamento sexual na infância são presenciados pelos adultos. Nessa fase as crianças se tocam para se autoconhecer, é uma manifestação sexual precoce, até com meses de idade. É uma “masturbação” diferente da puberdade, pois objetiva a exploração do corpo, a genitália é prazerosa ao toque. Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp Esses comportamentos sexuais podem ocorrer em vários momentos da infância. Ex. vestir roupas do sexo oposto é mais comum em meninos de 2 a 5 anos de idade, bem como tocar a genitália em casa. Isso é fisiológico! Não deve ser reprimido de forma intensa e nem hiperestimulado (levando à sexualização). A atitude correta do adulto é manter a tranquilidade, sem constranger a criança. Esses tipos de toque são isolados ou esporádicos. Há uma tendência da autocensura aumentar com a progressão da idade. - a exposição não intencional em situações rotineiras (banho, troca de roupa) não causa nenhum efeito no comportamento sexual e pode inclusive contribuir para uma relação interpessoal mais ajustada. - a erotização da criança está diretamente relacionada com o nível de erotização na família, influencia o comportamento nas relações interpessoais afetivas e maritais futuras. Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp 2. SEXUALIDADE E EXPRESSÃO SEXUAL NA ADOLESCÊNCIA A adolescência é um período de transição biológica que inicia com a puberdade. É um período marcante com várias modificações psíquicas e emocionais. Cursa com impulsividade e pensamentos egocêntrico, o que gera maior vulnerabilidade à gestação e às ISTs. Nesse momento, o adolescente começa a ter conhecimento de vivencias sexuais (sexarca precoce – penetração antes dos 15 anos), relações homoafetivas, heteroafetivas, ambas ou diferentes. Essas relações podem ser transitórias ou permanentes, mas isso depende do grau de tolerância da sociedade e se ele pode se expressar. Orientação sexual: se refere ao objeto de desejo (atração física, emocional e espiritual). Ex. homossexualidade, heterossexualidade e bissexualidade. Identidade de gênero: refere-se ao gênero ao qual a pessoa se identifica, se identifica-se como sendo homem, mulher ou se ela se vê como diferente do convencional. Pessoa que apresenta incongruência entre o corpo e a sua identidade de gênero (transgênero), pode gerar sofrimento e chamamos de disforia de gênero. - Teorias biológicas da determinação da identidade de gênero: Homem: ocorre masculinização e desfeminização. Masculinização: desenvolvimento ativo da antomia cerebral tipicamente masculina e do comportamento sexual masculino. Desfeminização: eliminação definitiva do fenótipo feminino cerebral que controla o comportamento sexual feminino, com perda da expressão sexual feminina. Mulher: ocorre feminização. É o caminho natural. Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp A ausência do Y já desencadeia a feminização, mas também tem mediadores da feminilização, como FAK e a paxilina. O transexual pode ou não desejar a cirurgia genital para adequação do sexo. A heterossexualidade é o referencial social da orientação sexual. Existe um padrão social para isso, a heteronormatividade, que gera danos à saúde mental caso haja incompatibilidade. Atualmente a iniciação sexual está cada vez mais precoce e frequentemente sem proteção. A falta de política de saúde reprodutiva e sexual é importante para o controle de natalidade e ISTs. - Comportamento sexual dos adolescentes: A atividade sexual é rara abaixo dos 12 anos. 30 a 50% dos adolescentes entre 15 e 16 anos já tiveram relações sexuais. A maioria dos adolescentes com idade entre 17 e 19 anos é sexualmente ativa. O sexo oral desprotegido é a prática mais comum previamente a sexarca. O maior nível socioeconômico e cultural, o menor número de parceiros sexuais e reduz a frequência de relação sexual desprotegida. A sexarca é cada vez mais precoce. Muitos tem a primeira relação sexual com penetração antes dos 13 anos. O impacto social da sexarca precoce (relação sexual com penetração em menos de 15 anos) é maior na menina. O desenvolvimento psíquico, educacional, emocional e social é interrompido. Há aumento da prevalência de comportamentos de risco. - Qual a influência da mãe na idade da sexarca? Em adolescentes entre 11 e 16 anos, quanto maior a desaprovação das mães sobre a iniciação sexual, maior a probabilidade de envolvimento da adolescente em relações sexuais. A mãe deve ser parceira da filha e não desaprovadora. As adolescentes que referem bom relacionamento com a mãe tiveram menor probabilidade de sexarca precoce, menor probabilidade de engravidar e uso mais consistente de MAC. Os fatores que favorecem a iniciação precoce são vários, desde biológicos, psíquicos, ambientais, até deficiência de políticas públicas de cuidado a saúde sexual. Três fatores protegem contra a sexarca precoce: religiosidade, educação sexual na escola e monitoramento dos pais. A educação sexual nas escolas (5-6º anos, 12 anos) é mais eficaz para reduzir o comportamento sexual de risco. Além de bases fisiológicas da sexualidade, a educação sexual fornece informações práticas de treinamento de autocontrole e negociação diante de situações de risco – capacidade de comunicação dos Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicampadolescentes por discussão interativa e encenação. A resposta sexual na adolescência é diferente: é mais linear, começa com desejo, depois platô e orgasmo. À medida que a mulher evolui ela vai ficando circular e não linear. 3. SEXUALIDADE NO MENACME A resposta sexual da mulher adulta segue um modelo circular e não mais linear como na adolescência. Inicialmente o que desencadeia é o desejo sexual, que pode ser espontâneo ou incentivado através de um estímulo sexual. Esse desejo sexual gera excitação, excitação genital e pode chegar ao orgasmo e/ou satisfação sexual. O orgasmo é importante para satisfação sexual, mas não é necessário, a mulher pode estar satisfeita, mas não ter orgasmo. O que mantém esse ciclo acontecendo e cria motivação sexual na mulher para as próximas vezes são as recompensas não sexuais, como intimidade emocional e bem estar. Isso gera maior intimidade com o parceiro e incentivo sexual. 49% da população feminina apresenta algum tipo de disfunção sexual. Contudo, somente 30% falam espontaneamente para o médico que tem uma queixa disso; apenas 10% dos médicos perguntam sobre função sexual; 80% gostaria que o ginecologista abordasse esse assunto. Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp 4. SEXUALIDADE NO CLIMATÉRIO Climatério é a fase de transição entre a vida reprodutiva e não reprodutiva. 12 meses de interrupção do fluxo menstrual, isso é chamado de menopausa. Se a paciente tem mais de 65 anos também está na senilidade. Ocorre queda do estrogênio e as pacientes tem sintomas relacionados ao hipoestrogenismo. Chamamos isso de síndrome climatérica. Tudo isso causa diminuição da espessura e elasticidade da vagina, diminuição da lubrificação vaginal, diminuição do útero e ovários, redução da vasocongestão genital durante excitação, menor turgescência mamária durante excitação, menor duração do orgasmo, redução da capacidade multiorgástica. O atendimento nessa fase deve ser multidisciplinar e a prevenção de ISTs continuada. Síndrome climatérica: ondas de calor, depressão/labilidade emocional, parestesia/zumbidos, astenia, palpitações, pele atrófica, disfunções menstruais, redução da fertilidade, risco cardiovascular aumentado, cefaléia, insônia, disfunção sexual, dispareunia/atrofia genital, disúria/incontinência urinária. É importante saber que esses sintomas da síndrome climatérica não são normais, podem ser amenizados e não só “coisa do envelhecimento”. Resumo: Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp Atualmente denominamos assim ao invés de doenças sexualmente transmissíveis, pois pode haver só infecção sem desenvolvimento de doença. Podemos ter infecções assintomáticas e que precisam de prevenção e tratamento. Elas geram impacto na qualidade de vida. As ISTs curáveis são: gonorreia, clamídia, sífilis, tricomoníase. Há aumento da resistência da Neisseria gonorrhoeae nos últimos anos. As ISTs não plenamente curáveis são herpes genital, HPV, sífilis na gestação e HIV. Contudo, há tratamento para todas e a mortalidade está diminuindo. Na UBS, identifica-se queixas relacionadas, realizamos anamnese e exame físico, identificando a síndrome e colhendo exame laboratorial. Fazemos o tratamento etiológico com base na clínica da paciente. Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp É função do médico generalista: oferecer investigação para outras IST (anti-HIV, VDRL, Hepatites B e C); vacinar contra hepatite B; enfatizar a adesão ao tratamento; convocar e tratar parceiros. Devemos fazer toda investigação da paciente com queixa ginecológica. Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp Dividimos as ISTs em bacterianas, virais e por protozoários. - Bacterianas: clamídia, gonorreia, sífilis. - Protozoário: tricomonas. - Virais: HIV, Hepatite B, Hepatite C, Herpes genital. Chlamydia trachomatis Bactéria procarionte Gram negativa intracelular obrigatória com ciclo único de vida. Tem vários sorotipos e para cada um tem uma doença diferente. Os mais importantes são os D a L, pois podem causar doenças genitais. A infecção por clamídia na mulher causa diferentes sintomas dependendo da fase reprodutiva dela. Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp - Na menacme: DIPA (doença inflamatória pélvica), Skenite, Bartolinite, Síndrome uretral aguda. - Na gravidez: aborto, gravidez ectópica, rotura prematura de membrana (RPM), trabalho de parto pré-termo (TPPT), natimorto, neomorto. - No puerpério: endometrite pós-parto ou pós-aborto. A clamídia pode infectar o RN por transmissão vertical, causando conjuntivite de inclusão (50%) e pneumonia (18%). Pode também ser assintomática. O grupo de risco são mulheres com menos de 25 anos, não usuárias de método de barreira, troca recente de parceiro, múltiplos parceiros, aborto provocado, antecedentes de ISTs. Não existe vacinação, apenas prevenção por educação sexual e detecção precoce. O período de incubação é de 6 a 14 dias, maioria assintomática e que podem desenvolver sequelas e transmitir. 40% das pacientes não tratadas evolui para complicações. Eventualmente podem aparecer alguns sintomas, como uretrite não gonocócia, cervicite mucopurulenta, conjuntivite. Neisseria gonorrhoeae É um diplococo gram negativo que se agrupa aos pares no interior de polimorfonucleares. Pode ser assintomática, mas pode gerar sintomas principalmente nos homens. Corrimento mucopurulento amarelado, sinusorragia, disúria, bartholinite, blenorragia, DIPA e peri-hepatite. O quadro clinico geralmente é de cervicite mucopurulenta e o e diagnostico clinico direciona o tratamento. Treponema pallidum Causador da sífilis, é uma espiroqueta. O quadro clinico da sífilis começa aparecer após 20 dias do contato, como “cancro duro”. Geralmente é unilateral e pode aparecer adenopatia satélite após 15-20 dias da lesão (quando o cancro duro já desapareceu). Nesse momento a sorologia é positiva. Se a paciente não for tratada nesse momento ela pode evoluir para sífilis secundária, aparecem pápulas por 3 a 6 meses e depois desaparece. Se não tratada, evolui para sífilis terciária. Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp HIV Diagnóstico é pelo teste rápido ou elisa anti-HIV. Resultados reagentes ou inconclusivos devem ser confirmados. Existe um tratamento de prevenção ao HIV chamado profilaxia pré-exposição (PreP) ao HIV. O composto é emtricitabina-tenofovir. É efetivo em reduzir em 51% o risco de infecção por HIV. Em Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp paciente MSM reduz 34%, em héteros reduz 54%. Infelizmente ainda há poucos trabalhos na população trans e muito dependente da aderência. Usar apenas o PreP e não camisinha associado não previne as outras ISTs e, por isso, a incidência de gonorreia e sífilis estão aumentando. Hepatite B 90% dos pacientes evoluem para cura, o restante pode evoluir para cirrose e até hepatocarcinoma. Hepatite C Também pode causar IST, mas é mais via parenteral. Herpes genital Existem dois tipos de vírus, o tipo 1 tem lesões periorais, tipo 2 tem lesões genitais. Inicialmente temos uma primo-infecção que pode ser sintomática ou não. Se assintomática, o vírus entrará em latência e depois pode sofrer reativação (infecção recorrente). Se sintomática, gera a doença e depois pode reativar. O quadro clinico é inicialmente assintomático, depois surgem sintomas precursores: a paciente percebe área sensível, pápulas eritematosas que evoluem para vesículas agrupadas com conteúdo citrino. Essas vesículas estouram e formam ulcerações recobertas com crostas serosanguíneas. Isso ocorre num tempo de 5- 10 dias. Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp HPV São conhecidos mais de 70 tipos, 20 deles podem infectar o trato genital. Estãodivididos de acordo com seu potencial de oncogenicidade. O HPV está em 75% da população sexualmente ativa, mas 1% apenas tem HPV clínico, 4% HPV subclínico, 10% infecção latente e 60% anticorpos + DNA HPV. Formam-se condilomas acuminados que podem ser vaginais, anais, perianais, perineais. Podemos identificar áreas precursosas na colposcopia. Em infecções persistentes o risco de oncogenicidade aumenta muito (pode evoluir para ca de colo uterino). Já existe a vacina para os subtipos de HPV. Os subtipos 16 e 18 são de alta oncogenicidade. O condiloma acuminado está associado a HPV de baixa oncogenicidade. Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp Trichomonas vaginalis Protozoário flagelado que coloniza a vagina, canal cervical, glândulas acessórias, uretra e bexiga. Frequente associação com gonococo, clamídia, HPV e estreptococo do grupo B. Geralmente a paciente vem com queixa de corrimento de odor fétido. Ao exame físico observamos fluxo genital amarelado ou esverdeado bolhoso e abundante. A paciente apresenta ardor, odor e prurido vulvar, bem como sintomas urinários. A dor pélvica pode aparecer ocasionalmente. Observamos hiperemia da mucosa, com placas avermelhadas (colpite difusa e/ou focal). O ph vaginal fica maior que 4,5.
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