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70 Doenças das Aves 2.12. Pneumovirose Aviária Avian metapneumovirus A pneumovirose aviária ou metapneumovirose é uma doença respiratória aguda que acomete principalmente perus, caracterizada por espirros e corrimento nasal. Causa infecção do trato respiratório superior em perus e galinhas, com início súbito e rápida disseminação no plantel. Pode-se observar conjuntivite, rinite, sinusite, traqueíte e declínio na produção de ovos. Etiologia A pneumovirose aviária, mais - um vírus denominado Avian metapneumovirus, pertencente à família Pneumoviridae, gênero Metapneumovirus, são vírus de genoma RNA de cadeia simples, polaridade negativa, medindo 150 300nm de diâmetro. Existem quatro subtipos de metapneumovírus, o A, B, C e D, os quais são diferenciados com base na proteína G. São suscetíveis aos desinfetantes comuns, calor, radiação, alterações do pH e aos diferentes compostos químicos e processos de oxidação. Epidemiologia É causada pelo metapneumovirus aviário (AMPV) e pode afetar uma grande variedade de espécies aviárias domésticas, incluindo perus, frangos, ngola, faisões, avestruzes, gansos, entre outros. As aves silvestres também podem estar infectadas e há suspeitas de que tenham um papel na ocorrência e disseminação do vírus. A doença induzida recebe diferentes nomes de acordo com a espécie afetada. Quando a espécie afetada é o peru, o nome da enfermidade é rinotraqueíte dos perus (TRT); já quando o vírus acomete frangos, ela passa a ser denominada síndrome da cabeça inchada (SHS). A TRT é uma infecção aguda do trato respiratório com rápida evolução em perus comerciais. A SHS em matrizes e poedeiras leva a um quadro respiratório com edema facial e submandibular e presença de sinais nervosos, queda de produção e na qualidade dos ovos. Em frangos de corte, a SHS leva à secreção nasal, depressão e edema subcutâneo. A doença foi inicialmente relatada em 1978, na África do Sul, em perus, e alguns anos depois em frangos. Os sinais iniciais da doença são descarga ocular serosa, seguida de fluxo nasal. Alguns anos depois a doença tinha se disseminado até a França, mais 4 anos alcançando o Reino Unido. Ao final da década de 80, estava presente em muitos países europeus, incluindo Alemanha e Hungria. Atualmente, a maior parte do mundo está afetada, incluindo a América do Norte, América do Sul (Brasil e Chile), Oriente Médio (Israel) e Ásia (Japão). No Brasil, os relatos iniciais de casos de síndrome da cabeça inchada devido ao AMPV datam de 1986, no estado de São Paulo, quando o quadro foi considerado como sendo de infecção pelo vírus da bronquite infecciosa e contaminação secundária bacteriana. Helton Fernandes dos Santos 2.12. Pneumovirose Aviária 71 Doenças Virais Posteriormente, em 1988, no estado de Minas Gerais, matrizes pesadas foram acometidas por enfermidade de manifestação aguda, com suspeita de bronquite infecciosa e confirmação sorológica de pneumovirose vários anos após a ocorrência. As observações feitas a partir de 1995 demonstram o aumento de patogenicidade do agente, com ocorrência de perdas econômicas importantes em estados do sul, notadamente no Rio Grande do Sul. Progressivamente, ano após ano, são feitos relatos em diferentes estados, com demonstração clara da movimentação do pneumovírus em direção ao Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste. O AMPV é transmitido por contato direto e indireto com as descargas nasais, água e equipamentos contaminados. Tem-se sugerido ainda a transmissão via ovo e por aves portadoras, já que foi demonstrada a infecção por AMPV no epitélio do oviduto em aves de postura. Em lotes afetados de reprodutoras pesadas e leves, no início do período de produção mostram uma curva ascendente mais íngreme do que o padrão estabelecido pelas linhagens, não alcançando o pico previsto de produção. As aves permanecem 2 a 5% abaixo do padrão, o que representa uma perda de 3,0 a 8,0 pintos por matriz alojada, além do aumento de mortalidade, custos de medicação, queda inicial de produção e ração consumidas. Os machos são afetados seriamente, alterando a espermatogênese e viabilidade dos ovos férteis. Em poedeiras comerciais a infecção provoca a queda da qualidade da casca, observada inicialmente na sala de classificação de ovos, com aumento de ovos trincados e despigmentados. Em frangos de corte, as manifestações clínicas ocorrem principalmente após 4 semanas de idade, predominando a partir dos 35 dias. O agravamento do quadro de pneumovirose leva à necessidade de tratamento com antibióticos na fase final, com atraso de 1,5 a 2 dias para o abate. O diagnóstico sorológico muitas vezes apresenta negatividade pela amostragem precoce, sem a devida soroconversão. Em perus, pela sua suscetibilidade natural, a vacinação de reprodutoras e perus de corte se faz necessária nas áreas de criação, uma vez que a mortalidade pode alcançar até 30% dos plantéis afetados. Patogenia Após a infecção, o vírus se multiplica no trato aéreo superior, sendo que AMPV do subtipo A infecta o trato respiratório inferior e superior, enquanto que o subtipo B permanece apenas no trato respiratório superior. O subtipo A infecta duas vezes mais as células epiteliais do trato respiratório superior quando comparado com o subtipo B. O vírus invade o epitélio ciliar da faringe e traqueia causando ciliostase, e por último danifica essas células, as quais são as barreiras naturais de defesa do trato respiratório superior. Consequentemente, bactérias e outros vírus, os quais são normalmente inalados com o pó, podem levar a infecções secundárias. Após sua multiplicação no epitélio respiratório, ele se difunde nas cavidades nasais e traqueia e, posteriormente, para o oviduto das aves, via corrente sanguínea. Geralmente, o vírus persiste ao redor de 6-10 dias e sua transmissão ocorre mais facilmente quando as aves estão em contato. Alguns fatores importantes como 72 Doenças das Aves manejo deficiente, as altas densidades, a má qualidade da água, grande quantidade de pó, amônia e infecções intercorrentes com microorganismos, tais como: E. coli, Mycoplasmas sp. e Ornithobacterium rhinotracheale, exacerbam a pneumovirose aviária. Sinais Clínicos Descargas nasais com aumento dos seios infraorbitais, descarga ocular espumosa, inflamação discreta da mucosa dos seios nasais e infraorbitários, reações inflamatórias moderadas na traqueia, espirro e edemas de face ou submandibular em perus. Os sinais respiratórios são mais importantes em perus do que em frangos de corte ou galinhas de postura. Os sinais clínicos em frangos podem ocorrer tão cedo como aos 15 dias de idade, mas normalmente são acometidas aves com idade entre 21-35 dias de idade. As matrizes e poedeiras podem ser afetadas em qualquer idade, mas a doença é mais facilmente reconhecida no início da produção de ovos e próximo ao pico de produção, provavelmente devido ao stress envolvido nestes estágios de produção. As aves tornam-se sonolentas, deprimidas sem movimentação e vocalização. O exame das aves normalmente mostra um olho anormal causado pela conjuntivite. Há lacrimejamento excessivo, notado por manchas nas penas do dorso e asas onde os olhos foram esfregados. Podem também arranhar seus olhos e face com as patas devido ao prurido. Com o progresso da doença, o edema do tecido subcutâneo da cabeça pode se tornar tão extenso a ponto de forçar o fechamento dos olhos. Principalmente em matrizes e poedeiras é comum incoordenações e torcicolos. Em poedeiras, os sinais clínicos são acompanhados por queda na produção de ovos e deterioração na qualidade dos ovos, que nas matrizes leva à queda na eclodibilidade e nascimento de pintinhos de má qualidade. Lesões As lesões iniciais da cabeça consistem em sinusite dos sinos infraorbitais, rinite associada com as descargasnasais abundantes e edema subcutâneo ao redor dos olhos ou na extremidade da cabeça. Ao abrir o crânio, podemos identificar uma coleção purulenta nos seios nasais. Também ocorrem edemas subcutâneos; o exsudato nasal evolui para uma camada crostosa na superfície interna das vias aéreas. Outro achado é a presença de otite média. Podem ser observadas ainda congestão, hemorragias petequiais e lesões necróticas da mucosa da cavidade nasal, fenda palatina e traqueia. Normalmente, ocorre celulite no dorso da cabeça, espaço intermandibular, periorbital e barbela, seguidas por acúmulo de exsudato purulento, na infecção secundária ocorre. Quando a ave sobrevive à fase aguda da infecção, o edema diminui, mas os espaços intermandibulares e barbelas tornam-se endurecidos. A perda de transparência e espessamento dos sacos aéreos também pode ser observada. Diagnóstico O isolamento e a caracterização do vírus são raramente usados no campo 73 Doenças Virais por exigirem que um laboratório sofisticado esteja disponível, demandarem muito tempo, por serem muito caros e requererem amostras de traqueia ou de suabes de traqueia coletados no início da doença, no máximo de 3 a 4 dias depois do aparecimento dos sinais clínicos. O isolamento de vírus em TOC (Cultura de Órgão Traqueal) é a técnica mais comumente utilizada, porém não se aplica a todos os AMPVs, já que o subtipo C não causa ciliostase. Cultivo celular de fibroblastos de embriões de pintinhos, células Vero e inoculação em ovo embrionado tem sido usados com sucesso para o isolamento viral. A detecção do genoma por RT- PCR, pode ser usado por um longo período de tempo depois do início da fase clínica, e pode diferenciar os subtipos de AMPV. Geralmente baseados na detecção de uma sequência de nucleotídeos do gene G, os testes RT- PCR comumente utilizados não são capazes de detectar todos os tipos do AMPV. Assim sendo, o RT-PCR baseado no gene M pode se mostrar mais útil. O diagnóstico de infecção pelo AMPV é feito principalmente por sorologia. A detecção de anticorpos anti- AMPV pode ser feita usando teste de SN, o que demanda muito tempo e não tem nenhuma vantagem clara sobre o teste de ELISA, que se correlaciona muito bem com o teste de SN. Sendo o ELISA o teste sorológico mais comumente usado para verificar a presença de anticorpos contra AMPV. Ele evidencia diferenças antigênicas entre as cepas de AMPV e essa descoberta é confirmada por RT-PCR e outras técnicas laboratoriais. Porém, o diagnóstico de pneumovirose aviária só é confirmado quando associado ao quadro clínico. Temos a demonstração de um aumento de títulos em amostras pareadas, sendo que a primeira amostra deve ser tomada durante o quadro clínico, e a segunda aproximadamente quatro semanas mais tarde. Diagnóstico Diferencial Doença de Newcastle, bronquite infecciosa, influenza e laringotraqueíte podem causar enfermidades respiratórias e problemas na produção de ovos, em galinhas e perus, parecendo uma infecção por AMPV. No entanto, o vírus da doença de Newcastle e alguns vírus da influenza podem ser facilmente distinguidos do AMPV, pois possuem hemaglutininas e neuraminidases, o que pode ser detectado nos testes sorológicos de hemaglutinação. O vírus da bronquite infecciosa pode ser diferenciado do AMPV pelas características morfológicas e moleculares. Algumas espécies de micoplasmas podem causar sinais muito similares aos causados por AMPV. Estes organismos frequentemente agem como patógenos oportunistas da infecção por AMPV e podem causar problemas no diagnóstico. Somente o isolamento ou identificação do AMPV em aves afetadas pode levar a um diagnóstico definitivo. O AMPV pode lembrar ainda outras enfermidades respiratórias encontradas em perus, como: cólera aviária (Pasteurella multocida), traqueíte por Bortedella avium e Ornitobacterim rhinotracheale. Deve-se fazer diagnóstico diferencial ainda de borreliose, clamidiose e PMV-3. 74 Doenças das Aves Prevenção e Controle O controle do pneumovírus aviário, à parte de outras ações básicas como desinfecção, biossegurança e vazio sanitário, tem tido êxito através da utilização de programas de vacinação, empregando-se vacinas vivas e inativadas, conforme a necessidade e tipo de ave afetada. Normalmente, são indicadas duas doses de vacinas vivas e uma de vacina inativada na recria, ou um programa com três doses de vacinas vivas. O programa padrão para poedeiras inclui a primeira dose de vacinas vivas entre 4 e 6 semanas de idade e a segunda entre 8 e 10 semanas. A terceira dose, seja viva ou inativada, é normalmente aplicada entre 12 e 14 semanas de idade. A proteção conferida por esquemas de vacinação eficientes permite a redução de manifestação dos sinais clínicos e das perdas por queda na qualidade da casca. Os dados de experimentos, confirmados pelas observações de campo, demonstraram que o programa de vacinação ideal para reprodutoras e poedeiras comerciais inclui o uso de vacinas vivas e inativadas. No caso de frangos de corte e perus, o controle é feito somente com vacinas vivas. Vacinas vivas do subtipo A e B conferem proteção contra o subtipo C; além disso, existe proteção cruzada entre o subtipo A e B. Algumas ações devem ser adotadas para a redução da gravidade dos quadros de síndrome da cabeça inchada, causada pelo pneumovírus, como: Reduzir impacto de agentes imunodepressores (anemia infecciosa, doença de Gumboro, doença de Marek, reovírus aviário e micotoxinas); Controlar agentes de tropismo respiratório que podem ocorrer simultaneamente como o pneumovírus, principalmente o vírus da bronquite infecciosa; Programa de higiene e desinfecção de instalações e lotes alojados; Biosseguridade. Para a redução da mortalidade e controle da doença, usam-se medidas como: Aperfeiçoar a qualidade do ar no aviário e evitar o resfriamento das aves; Promover o ajuste de temperatura para o conforto das aves; Suspender vacinações para evitar o estresse das aves; Evitar a entrada de aves silvestres para que não atuem como carreadoras do vírus; Dar destino adequado às aves mortas; Diminuição da densidade pode ser necessária para diminuir a disseminação do vírus. A ave pode adquirir imunidade contra o agente de duas formas, ativa ou passiva. A imunidade ativa, por imunidade celular, resultados sugerem que a resposta imune celular provém da resistência à infecção do trato respiratório que seria a resposta mais importante contra o agente; ou imunidade humoral, anticorpos podem ser encontrados no soro de frangos de corte, matrizes e poedeiras com ou sem sinais de SHS, sendo que não existe correlação clínica entre a presença de anticorpos e a doença clínica, mas sim com a infecção. A exposição do trato respiratório a patógenos resulta na produção de anticorpos locais, sendo a glândula de Harder um dos principais locais de apresentação do antígeno para os