Buscar

Inclusao-e-Exclusao_MONOGRAFIA

Prévia do material em texto

SBDG – Caderno 126  Processo de inclusão e exclusão em grupos... 1 
Curso de Pós-Graduação em Dinâmica dos Grupos 
desenvolvido pela Sociedade Brasileira de Dinâmica dos Grupos – SBDG 
em parceria com as Faculdades Monteiro Lobato – FATO 
Coordenação: Saara Hauber e Crismeri Delfino Corrêa 
Processo de inclusão e exclusão 
em grupos de formação e desenvolvimento 
Clarice de Goulart 
Ismael Viezze 
Jamile Cruz 
Juliana Costa Beber 
Márcia Borges Fortes* 
 
Resumo – O presente trabalho tem por objetivo analisar os sentimentos e atitudes de participantes que já 
concluíram a formação em uma instituição de formação e desenvolvimento, em relação ao processo de 
inclusão e exclusão vivenciado durante esta experiência. A pesquisa enfoca o processo de inclusão nos 
grupos com base principalmente em Schutz, Moscovici e Bion, e o processo de exclusão, onde foram 
visitadas as teorias de Lewin e Mailhiot. Os resultados desta pesquisa demonstram que o comportamento de 
inclusão e exclusão vivenciado no grupo depende das respostas que o ambiente fornece e das escolhas de 
cada membro faz diante das situações. Além disso, o “sentir-se dentro, sentir-se pertencente” está ligado ao 
desejo de ser reconhecido e os esforços individuais que podem se repetir ou se transformar a cada 
momento. Percebeu-se que à medida que o grupo resiste a reconhecer-se como tal, lutando por desejos 
individuais, os integrantes não se integram. Nesta questão, observa-se que em função do desejo de sentir-se 
querido e incluído pelo grupo surgem sentimentos diversos que tem relação com a identificação. Somado a 
isto, também evidenciamos nos relatos a vivência de situações em que o participante pode se sentir dividido 
entre o reconhecimento de seu desejo e o desejo de reconhecimento. 
Palavras-chave – Grupo. Sentimentos. Atitudes. Inclusão. Exclusão. 
 
Abstract – This study seek to analyze the feelings and attitudes of participants who have completed 
training in an institution for training and development in relation to the process of inclusion and exclusion 
experienced during this experiment. The research focuses on the process of inclusion into groups based 
mainly in Schutz, Moscovici and Bion, and the exclusion process, where were visited the theories of Lewin 
and Mailhiot. The results of this research demonstrate that the behavior of inclusion and exclusion 
experienced in the group depends on the answers that the environment provides and of the choices that each 
member has done faced with situations. Besides that, the "feeling inside, feeling belonging" is linked to the 
desire to be acknowledged and to the individual efforts that can be repeated or transformed at each 
 
* Clarice de Goulart – Coordenadora de RH – Maiojama. Psicóloga formada na Universidade Luterana do 
Brasil. E-mail: claricedegoulart@gmail.com. Ismael Viezze – Sócio Proprietário – Atitude Turismo. 
Bacharel em Turismo formado na UCS. E-mail: ismael@atitude.tur.br. Jamile Cruz – Consultora Interna 
de RH – Grupo RBS. Psicóloga formada na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. E-
mail: Jamile_londero@hotmail.com. Juliana Costa Beber – Analista de RH – ADP. Bacharel em 
Administração de Empresas formada na ESPM. Mestre em Administração e Negócios pela PUCRS. E-
mail: jujucosta@yahoo.com. Márcia Borges Fortes – Consultora de Empresas Familiares – Instituto 
Sucessor Geyer Ehlers. Psicóloga formada na Universidade Luterana do Brasil. E-mail: 
marcia.fortes@hotmail.com. 
 Orientação: Saara Hauber, Crismeri Delfino Corrêa e Vanice dos Santos. 
SBDG – Caderno 126  Processo de inclusão e exclusão em grupos... 2 
moment. It was noticed that in proportion that the group endures to recognize them as such, fighting for 
individual desires, the members don't integrate themselves. In this issue, it is observed that because of on 
the desire to feel loved and included by the group emerge many different feelings that are related to 
identification. Added to this, was also evidenced in the reports the experience of situations in which the 
participant may feel torn between their desire for recognition and the desire for recognition. 
Key words – Group. Feelings. Attitude. Inclusion. Exclusion. 
 
 
INTRODUÇÃO 
 
Ao longo da jornada na SBDG (Sociedade Brasileira de Dinâmica dos Grupos) 
participando como membros de uma turma de formação em dinâmica dos grupos, foram 
vivenciados diversos movimentos grupais que nos serviram como ponto de partida para 
este estudo. Alguns desses movimentos despertaram muitas fantasias e principalmente 
muitas indagações, tais quais: posso me mostrar para este grupo como eu realmente sou? 
Será que as pessoas irão me aceitar se assim fizer? E se eu me sentir excluído ou se o 
grupo me excluir, como será? 
Com base nesses questionamentos e na curiosidade para tentar respondê-los, 
surgiu a nossa motivação de pesquisa. Buscamos então refletir sobre estas questões 
criando assim a hipótese de que esses sentimentos são despertados pelo impacto da 
inclusão e exclusão vivenciadas durante o processo de desenvolvimento do grupo. 
Assim, a presente pesquisa teve como objetivo geral analisar a percepção dos 
processos de inclusão e exclusão de participantes que já concluíram a formação em uma 
instituição de formação e desenvolvimento situada no estado do Rio Grande do Sul. 
Definimos como objetivos específicos investigar de que forma a inclusão e exclusão são 
vivenciados no grupo, bem como, as atitudes dos participantes que já concluíram a citada 
formação frente aos sentimentos despertados por estes processos. 
Utilizamos como metodologia a pesquisa qualitativa e como ferramenta um 
roteiro de perguntas para orientar uma entrevista semiestruturada relacionadas aos 
objetivos investigados. Foram entrevistadas cinco pessoas que concluíram o curso de 
formação nesta instituição de formação e desenvolvimento situada Rio Grande do Sul. 
Para buscar um maior entendimento das respostas colhidas nos apoiamos em diversos 
autores, como Schutz, Moscovici, Bion, Lewin e Mailhiot, para aprofundar o tema em 
questão. 
 
SBDG – Caderno 126  Processo de inclusão e exclusão em grupos... 3 
O PROCESSO DE INCLUSÃO EM GRUPOS 
 
A necessidade de ter atenção dos outros, de interagir, de pertencer, de ser único, é 
o que todo o ser humano valoriza desde a tenra infância. Este desejo de sentir-se aceito e 
desejado pelos outros parece nos acompanhar em todas as relações que estabelecemos ao 
longo da vida. 
Segundo Schutz (1974), a necessidade de inclusão está presente em todas as 
relações humanas e pode ser marcada pelo desejo de receber atenção e de efetuar 
interações. Assim, o processo de inclusão pode iniciar desde o momento em que um 
grupo é formado, pois nessa fase, as pessoas procuram principalmente identificar-se com 
os demais membros do grupo, criando-se associações seja de aceitação ou de exclusão. 
De acordo com o mesmo autor, os principais momentos de necessidades 
interpessoais existentes nas dinâmicas dos grupos podem ser separados por três fases: a 
de inclusão, a de controle e a de abertura. Para que as necessidades interpessoais sejam 
supridas o autor destaca que é necessário haver um equilíbrio nas relações entre estas três 
dimensões. Assim, cada membro do grupo buscará seu lugar através de tentativas para 
encontrar e estabelecer os limites de sua participação no grupo. Dessa forma, os membros 
iniciam suas escolhas tais como: o quanto irão dar de si, o quanto esperarão receber, 
como se mostrarão ou que papéis desempenharão primordialmente. 
A fase de inclusão é marcada pela necessidade do indivíduo em sentir-se 
considerado pelo outro. Já a fase de controle refere-se à relação de poder, influência, 
autoridade entre as pessoas do grupo. Na fase de abertura, a necessidade está ligada ao 
sentimento de ser amado e querido pelas pessoas do grupo. Interessa para este estudo de 
formamais específica, considerando as fases citadas, a etapa de inclusão. 
Schutz (1970) descreve três tipos de características da fase de inclusão: subsocial, 
supersocial e sociável. O indivíduo com pouco espírito de inclusão tende a ser mais 
introvertido e reservado, mantendo-se distante do grupo preferindo não envolver-se com 
os demais. Porém, inconscientemente pode querer a atenção, pois teme que os outros o 
ignorem. Já os supersociais têm como características a extroversão, assim buscam 
insistentemente os outros e também desejam ser procurados. Seu comportamento está 
sempre voltado para atrair atenções para si mesmo. Por fim, para os indivíduos sociais, 
que são aqueles os quais resolveram as relações de inclusão na infância, o relacionamento 
com os outros não apresenta problemas. É capaz de ficar sozinho ou em grupo, podendo 
SBDG – Caderno 126  Processo de inclusão e exclusão em grupos... 4 
comprometer-se ou não, dependendo do que julga mais adequado em cada situação, pois, 
inconscientemente, sente que tem valor. Neste sentido, verifica-se que a forma como cada 
integrante busca sua inclusão no grupo (subsocial, supersociável e sociável) está 
relacionada ao valor que julga ter e as vivências que teve durante sua vida (SCHUTZ 
apud MAILHIOT, 1970). 
Moscovici (1996) afirma que contrário do que se pode pensar, as dificuldades de 
inclusão nem sempre conseguem ser resolvidas pelo grupo nas fases iniciais, podendo se 
prolongar e assim, acarretarem em problemas para o funcionamento do grupo. 
Diz Schutz (1974) que os participantes buscam a abertura no grupo e esta está 
baseada na formação de ligações emocionais, vínculos e confiança no grupo. Na fase de 
inclusão as pessoas se encontram com as outras e pensam sobre a permanência e 
continuidade de seu relacionamento. Porém, ao passar para a fase de controle, o 
questionamento está ligado à confrontação entre as pessoas para checagem e a descoberta 
de como desejam se relacionar. Sendo assim, o autor complementa que para que os 
relacionamentos sigam em frente é necessário que se formem relações afetivas, 
aproximando as pessoas e criando vínculos duradouros. 
Do ponto de vista psicanalítico, fundamentado em Bion (apud ZIMERMAN, 
1999), a conceituação de vínculo necessariamente requer as seguintes características: (a) 
são elos que unem duas ou mais pessoas ou duas ou mais partes de uma mesma pessoa; 
(b) estes elos são sempre de natureza emocional; (c) eles são imanentes (isto é, são inatos, 
existem sempre como essenciais em um dado indivíduo e são inseparáveis dele); (d) 
comumente atingem as dimensões inter, intra e transpessoal; (e) um vínculo estável exige 
a condição de o sujeito poder pensar as experiências emocionais na ausência do outro; (f) 
os vínculos são potencialmente transformáveis e por fim, (g) devem ser compreendidos 
por meio do modelo da inter-relação continente-conteúdo. Com isso, percebe-se a 
complexidade e a entrega necessária para ocorrer uma vinculação entre pessoas. Também 
se verifica que à medida que os vínculos interpessoais se fortalecem, mais membros 
sentem-se aceitos no grupo, superando a fase de inclusão e assim, abrindo espaço para 
ocorrerem os conflitos. Experimentam olhar as diferenças de vivenciar a fase controle. 
Para Castilhos (2002) e Moscovici (1996) os conflitos são inerentes à vida em 
grupo. A escassez de recursos para satisfazer todas as necessidades e desejos individuais, 
principalmente de poder e afetividade, podem gerar conflitos intermináveis entre os 
SBDG – Caderno 126  Processo de inclusão e exclusão em grupos... 5 
membros. Além da frustração, verifica-se que os diferentes graus de carência ou 
satisfação que se encontram as necessidades das pessoas também podem promover tensão 
entre elas. Portanto, verifica-se que o desenvolvimento do grupo pode depender de como 
estes conflitos serão enfrentados e/ou resolvidos, pois, segundo os autores, uma 
frustração intensa, por exemplo, poderá fazer com que os indivíduos abandonem o grupo. 
Pichon-Rivière (1982) valida esta hipótese referindo que o vínculo se configura 
em uma estrutura dinâmica em contínuo movimento, em que tanto o sujeito como o 
objeto se realimentam mutuamente. Para o autor, o vínculo é sempre um vínculo social, 
mesmo tendo uma só pessoa; o vínculo tem uma pauta de conduta e tende a se repetir 
automaticamente, tanto em relação interna quanto em relação externa com o objeto. 
Zimerman (1999) apresenta o conceito de vínculo de reconhecimento, o qual 
abrange quatro conceituações: (a) a de reconhecimento (de si próprio); (b) 
reconhecimento do outro (como alguém diferente dele); (c) ser reconhecido ao outro 
(como expressão de gratidão); (d) ser reconhecido pelos outros. As formas como cada 
individuo encontra para estabelecer vínculos nas suas relações na vida adulta vai 
depender das suas experiências anteriores nos seus grupos de referencia, a exemplo da 
família, grupo da escola, entre outros. Sendo assim, o autor destaca que cada indivíduo 
comparece a sessão grupal com seu potencial próprio para estabelecer possíveis vínculos. 
Mailhiot (1981) destaca que de forma circular, se encontram presentes na 
dinâmica grupal as emoções básicas de amor e ódio, afeto e exclusão, decisão e insegu- 
rança sempre presentes em todas as fases da vida de um grupo. Entretanto, o que 
diferencia um momento do outro é a forma como os participantes combinam e estruturam 
esses sentimentos. 
 
 
O PROCESSO DE EXCLUSÃO EM GRUPOS 
 
Segundo Schutz (1974), em qualquer ambiente social, as ideias de alienação, 
isolamento e solidão podem estar presentes. O autor afirma que a sensação de estar 
excluído de um grupo, ou de não pertencer ao grupo mais desejável, ou ainda, de não ser 
completamente aceito tende a ser compartilhada pela maioria da humanidade. O mesmo 
descreve que esta pode tratar-se de uma sensação tão aguda e desagradável tornando-se 
assim, objeto de muita negação e distorção para as pessoas e/ou grupos. Em 
SBDG – Caderno 126  Processo de inclusão e exclusão em grupos... 6 
contrapartida, pode trazer complexidade e aprofundamento para quem se depara com 
esses sentimentos. 
Bion (1975) destaca que todo ser humano tem a tendência de entrar na vida de 
grupo, nos aspectos irracionais e inconscientes, e as pessoas variam na intensidade da 
tendência para esta direção. A questão da exclusão segundo o autor, na maioria das vezes, 
é interna às pessoas, pelo risco de incluir no grupo suas “questões” deficientes, e assim, 
de não ser perfeito. 
O processo de exclusão pode ser executado pelo grupo e reforçado pelas atitudes 
individuais, de forma consciente e/ou inconsciente, com relação a um ou mais elementos 
do grupo e com graus de intensidade diversa. O fenômeno de exclusão pode ser sentido 
tanto pelos elementos do grupo, como uma percepção em cima de constatações e fatos 
comprováveis, ou apenas como um sentimento do indivíduo que não corresponde ao que 
realmente acontece no grupo. Neste caso, o comportamento do indivíduo que se julga 
excluído poderá afetar o seu estado emocional, e assim, o grupo provavelmente perceberá 
esse comportamento com probabilidade agora de ser levado a produzir um movimento de 
exclusão de fato. 
Outro movimento que pode atenuar a vivência da exclusão é quando o grupo 
percebe um comportamento considerado inadequado para os seus membros ou mesmo as 
dificuldades de um indivíduo, e consegue dar um retorno para a pessoa. Dessa forma, o 
grupo pode tentar ajuda-lo a superar um problema e assim “resgata-lo”, minimizando 
suas fantasias e incluindo no grupo. 
Para Lewin (1965), a adaptação do indivíduo ao grupo se dá através das 
necessidades grupais e da liberdade individual. O indivíduo precisa de suficiente espaço 
de movimento livre no interior do grupo para atingir e satisfazer suas necessidades 
individuais. Se este espaço de independência no grupo for pequenoa pessoa poderá 
tornar-se infeliz. Uma frustração poderá obrigá-la a deixar o grupo ou poderá destruí-la. 
Algumas vezes as restrições estabelecidas pelo grupo podem deixá-lo com muita ou 
pouca liberdade. As restrições podem basear-se no consentimento dos membros ou ser 
impostas pela vontade da força dominante do grupo que quer preservar valores e crenças 
e expulsar, consciente ou inconsciente, quem não as segue. 
O sentimento de exclusão pode estar presente em todos os grupos, principalmente 
nas etapas iniciais, quando a necessidade de se sentir integrado costuma ser mais intensa, 
SBDG – Caderno 126  Processo de inclusão e exclusão em grupos... 7 
conforme verificamos no referencial teórico sobre inclusão desta pesquisa. Além disso, 
verifica-se que à medida que o grupo se depara com a responsabilidade de fazer escolhas 
para o seu funcionamento, o sentimento de exclusão pode tornar-se ainda mais 
exacerbado, pois ele tende a alimentar o temor da exclusão, que pode ocorrer de forma 
imaginária ou real. Em grupos, optar ou escolher um caminho que pode ser percebido 
como diferente pelos demais é arriscar-se. Porém, quando se pôde perceber, aceitar e, 
principalmente, incluir as diferenças individuais, esta ansiedade ou sentimento tende a 
diminuir sensivelmente. 
Moscovici (1996), referindo a teoria de Bion, ao falar sobre Luta e Fuga no grupo 
coloca que o modo luta predomina quando o grupo tende a atacar o que ou quem percebe 
como causador de uma situação conturbadora, estressante. A modalidade fuga ocorre 
quando o grupo procura evadir-se da situação-problema de forma física ou psicológica 
por meio de manobras variadas, tais como brincadeiras, fantasias, teorização, introdução 
de assuntos irrelevantes. Podem ocorrer em grupos de desenvolvimento movimentos de 
luta e fuga, oriundos de uma cultura de idealização de seus membros, de alta exigência e 
de cobrança de formas iguais de comportamentos a todos os participantes. 
Assim, verificam-se diversas situações as quais remetem os membros dos grupos 
aos sentimentos de exclusão e a todas as suas nuances que envolvem valores, formas de 
ser e de agir. Em função da riqueza presente neste processo é que definimos nosso 
método de pesquisa, que segue descrito com maior detalhamento no capítulo que segue. 
 
 
METODOLOGIA DA INVESTIGAÇÃO 
 
Para este trabalho foi escolhido o método de pesquisa qualitativo, visando ampliar 
e aprofundar o conhecimento sobre o fenômeno estudado. Segundo Patton (1986), o 
método de pesquisa deve ser coerente com os objetivos de pesquisa propostos. Um estudo 
qualitativo caracteriza-se por seguir uma tradição compreensiva e interpretativa, baseado 
no pressuposto de que as pessoas agem com base em suas crenças, percepções, 
sentimentos e valores, e seu comportamento sempre tem um significado que não pode ser 
conhecido de forma imediata, mas que precisa ser desvelado. Os estudos qualitativos 
buscam o aprofundamento das complexidades dos processos envolvidos no fenômeno 
estudado, e podem ser classificados, como exploratório, explanatório, descritivo, ou 
SBDG – Caderno 126  Processo de inclusão e exclusão em grupos... 8 
preditivo. Os estudos exploratórios têm como objetivo identificar variáveis importantes 
para gerar hipóteses a futuras pesquisas, ou também, investigar fenômenos pouco 
conhecidos (MARSHALL; ROSSMAN, 1995). 
Para Gil (1994), as pesquisas de caráter exploratório são desenvolvidas com o 
objetivo de proporcionar uma visão geral sobre determinado fato ou evento, quando esse 
é bastante amplo ou genérico, constituindo a primeira etapa de uma investigação mais 
aprofundada. A partir do objetivo deste trabalho de conhecer a percepção de participantes 
que já concluíram a citada formação, sobre o processo de inclusão e exclusão, buscou-se 
uma análise comparativa com a literatura existente, e assim, realizou-se uma pesquisa de 
caráter exploratório. De acordo com a definição de estudo exploratório proposta por 
Marshall e Rossman (1995), a presente pesquisa identificou variáveis importantes, 
gerando hipóteses e proposições para futuras pesquisas. 
A formação utilizada como referencia caracteriza-se pela frequência mensal 
através de vinte encontros, com número de participantes que varia entre 18 e 23 pessoas. 
Esta tem como alguns dos principais objetivos o aprofundamento das interações em 
grupo, entendimento dos processos grupais, ampliação do autoconhecimento, 
desenvolvimento de habilidades interpessoais e de manejo de grupos. 
É possível entender que “uma metodologia de pesquisa não-estruturada, 
exploratória, baseada em pequenas amostras, proporciona insights e compreensão do 
contexto do problema” (MALHOTRA, 2001, p. 155). 
Gil descreve que “as pesquisas exploratórias têm como principal finalidade 
desenvolver, esclarecer e modificar conceitos e ideias, com vistas à formulação de 
problemas mais precisos ou hipóteses pesquisáveis para estudos posteriores” (1994, p. 
44). Por tratar-se de uma questão que pretende aprofundar-se na complexidade dos 
processos envolvidos no fenômeno estudado, justifica-se a opção por uma pesquisa 
qualitativa, por ser este um método que permite uma melhor compreensão do contexto de 
um problema estudado (MALHOTRA, 2001). Para Scarparo (2000), a pesquisa 
qualitativa tem a preocupação voltada para a profundidade do que é descoberto possuindo 
algumas características básicas. Dessa forma, essa tem a preocupação voltada para a 
profundidade do que é descoberto. 
Esta pesquisa analisou a percepção de participantes que já concluíram a formação, 
sobre o processo de inclusão e exclusão, vivido durante o transcorrer dos encontros de 
SBDG – Caderno 126  Processo de inclusão e exclusão em grupos... 9 
desenvolvimento. A pesquisa foi realizada com a utilização da técnica de amostragem 
não-probabilística, com amostragem por conveniência. 
Foram escolhidos para esta amostra cinco ex-participantes de diferentes grupos de 
formação do Rio Grande do Sul com as seguintes características: conclusão da formação 
há até dez anos, ensino superior completo, idade entre 28 e 51, de ambos os sexos, 
participantes de grupos de formação em Porto Alegre/RS. 
Tabela 1 – População pesquisada 
Participante Sexo Idade Tempo de Formação 
A Masculino 31 03 anos 
B Feminino 29 02 anos 
C Masculino 51 10 anos 
D Feminino 35 08 anos 
E Feminino 33 06 anos 
Fonte: Elaborada pelos autores desta pesquisa. 
 
O instrumento de pesquisa utilizado foi a entrevista com roteiro semi-estruturado, 
ou seja, perguntas abertas que possibilitaram maior aprofundamento em relação 
fenômeno estudado. Essa escolha está fundamentada na busca de uma análise profunda 
em relação ao tema que essa técnica de entrevista oferece, bem como na possibilidade de 
identificar pontos comuns e distintos presentes na amostra escolhida, que não é obtida a 
partir de critérios estatísticos. Assim, o foco foi levantar e conhecer a 
percepção/sentimentos do público-alvo da pesquisa. O roteiro foi desenvolvido na forma 
de perguntas para orientar uma entrevista semiestruturada buscando, através de um 
propósito definido, explorar tópicos gerais que ajudem a desvendar a perspectiva 
apresentada por cada entrevistado (MARSHALL; ROSSMAN, 1995). 
Inicialmente foram convidados cinco participantes que já concluíram a citada 
formação em uma instituição de desenvolvimento. Os sujeitos aceitaram participar 
assinando o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e as entrevistas ocorreram nas 
residências ou nas dependências dos locais de trabalho dos participantes. Após uma breve 
introdução a respeito do tema da pesquisa, as entrevistas, que duraram cerca de 45 
minutos, foram gravadas e posteriormente transcritas para análise de conteúdo conforme 
Bardin (1977). 
Para Yin (2005), a coleta de dados tem por objetivo elevar o grau de 
conhecimento, compreensão e auxiliar na determinação das variáveisrelevantes para o 
SBDG – Caderno 126  Processo de inclusão e exclusão em grupos... 10 
fenômeno em estudo, considerando as variáveis identificadas através da literatura. 
Marshall e Rossman (1995) definem que uma entrevista é uma conversa com um 
propósito definido, por meio da qual o pesquisador explora tópicos gerais que ajudam a 
desvendar a perspectiva apresentada pelo entrevistado. Ainda, é necessário um grau de 
sistematização, principalmente, quando estão se estudando vários casos ou entrevistando 
mais de uma pessoa. 
 
 
ANÁLISE DOS RESULTADOS 
 
De acordo com Yin (2005), a etapa de análise dos dados consiste em examinar, 
categorizar e classificar os dados levantados, ou recombinar as evidências em função das 
proposições iniciais do estudo. O pesquisador deve começar esta etapa a partir de uma 
análise geral e estabelecer os porquês e as prioridades do que vai ser analisado. O método 
utilizado para a análise dos dados obtidos através das entrevistas foi à análise de 
conteúdo. Segundo Flick (2004), a análise de conteúdo é um dos procedimentos mais 
utilizados em pesquisa para tratar dados textuais provenientes das mais diversas origens, 
desde materiais impressos até transcrições de entrevistas. O método da análise de 
conteúdo, segundo Bardin, pode ser definido como “um conjunto de técnicas de analises 
das comunicações que utiliza procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do 
conteúdo das mensagens” (1977, p. 38). Dessa forma, o método permite evidenciar 
indicadores, bem como inferir sobre outras realidades, fornecendo uma diretriz, isto é, 
uma linha para o estudo em questão. 
A análise por categoria, de acordo com Richardson (1985), entre as diversas 
técnicas de análise de conteúdo é a mais utilizada, sempre que se aplique em conteúdos 
diretos. A análise por temas consiste em isolar um texto e extrair as partes utilizáveis, de 
acordo com o problema pesquisado. Assim, as categorias ligam-se entre os objetivos de 
pesquisa e os resultados de forma a se obter conclusões e/ou novas informações por meio 
do exame detalhado dos dados. 
Assim, foram criadas nessa pesquisa categorias com base na fundamentação 
teórica para organizar as respostas obtidas durante as entrevistas. Com isso, buscou-se 
através da análise de conteúdo, a categorização por eixos temáticos para analisar os 
discursos dos entrevistados, além da observação da comunicação não verbal, visando 
SBDG – Caderno 126  Processo de inclusão e exclusão em grupos... 11 
“conhecer aquilo que está por trás das palavras” (BARDIN, 1977). Com base nas 
entrevistas realizadas destacamos duas categorias: (a) sentimentos e atitudes no processo 
de inclusão e (b) sentimentos e atitudes no processo de exclusão. 
Quadro 1 – Categorias e variáveis da pesquisa 
Categoria Variáveis 
Sentimentos e atitudes no processo de inclusão – Aceitação/importância 
– Confiança 
– Autenticidade 
– Ser agente 
– Entrega 
– “Armas” de conquista 
– Ser comprometido 
– Ser autêntico 
– Evitar conflitos 
Sentimentos e atitudes no processo de exclusão – Distanciamento 
– Falta de autenticidade 
– Rejeição 
– Apatia/covardia 
– Raiva 
– Aborrecimento 
– Ser diferente dos demais membros. 
Fonte: Elaborado pelos autores desta pesquisa. 
 
Através do Quadro 1 é possível verificar as categorias e variáveis identificadas 
por meio desse estudo. No item a seguir, encontram-se a primeira categoria que foi 
analisada, os sentimentos e atitudes no processo de inclusão em grupos. 
 
 
Sentimentos e atitudes no processo de inclusão 
 
Esta categoria refere-se à visão que os entrevistados têm sobre os sentimentos de 
inclusão despertados e as suas atitudes durante o processo de formação e desenvol- 
vimento. 
Verificou-se por meio das entrevistas que o sentimento de aceitação e importância 
foi referido pelos entrevistados como uma necessidade de pertencer e ser valorizado no 
grupo. Esse relato encontra-se em consonância com Schutz (1974), pois o autor afirma 
que a fase de inclusão é marcada pela necessidade de ter atenção e aceitação dos outros 
SBDG – Caderno 126  Processo de inclusão e exclusão em grupos... 12 
membros. Para o mesmo autor, cada participante procura seu lugar através das tentativas 
de encontrar seu espaço e ser considerado pelas suas atitudes. Ao buscar abertura no 
grupo, os membros procuram formar vínculos de confiança. O entrevistado A relata: 
“senti confiança em poder compartilhar sentimentos com o grupo e assim permiti que as 
pessoas participassem dos meus aspectos emocionais e de vida”. Vinculado a isso, o 
entrevistado B referiu-se ao sentimento de aceitação no grupo: “aos poucos os vínculos 
foram se fortalecendo e a inclusão, para mim, era percebida pela aceitação da minha 
percepção sobre algum fato e pela escuta do grupo”. 
Schutz (1974) destaca que para que os relacionamentos sigam em frente é preciso 
à formação de relações afetivas, baseadas na união, resultando em vínculos que se perpe- 
tuem. Percebe-se que a autenticidade é muito valorizada e se destaca como fundamental 
para as relações interpessoais, bem como para o processo de inclusão no grupo. Isto pode 
ser observado em uma das falas do entrevistado B: “a inclusão se deu quando eu consegui 
ser mais autêntica e assim estar mais presente no grupo para construir vínculos”. 
Identificou-se que a maior parte dos entrevistados referiu que participar 
ativamente no grupo reforçou seus sentimentos de inclusão e pertença. Conforme o 
entrevistado C relatou: “o participante do grupo não é só sujeito, ele é agente também. 
Acredito que a inclusão é conquistada a partir de comportamentos participativos, 
interagindo, opinando, sendo afetivo e posicionando-se”. 
Também foi verificado por meio das entrevistas que o comprometimento e o 
sentimento de entrega estão ligados ao desejo de ser reconhecido e acima de tudo se 
sentir incluído no grupo. À medida que o grupo vai aprofundando os vínculos os mem- 
bros passam a sentir-se mais integrados e conseguem falar de aspcetos pessoais, sendo 
mais autênticos e agindo com mais naturalidade. Durante a entrevista o participante A 
complementa: “assumi no grupo um compromisso pessoal de ser autêntico e não forçar 
comportamentos”. Além da autenticidade existem alguns comportamentos que facilitam o 
processo de inclusão no grupo. Para Schutz (apud MAILHIOT, 1970), o indivíduo 
supersociável se comporta atraindo as atenções para si mesmo, buscando na extroversão 
ser mais atrativo e prestativo perante o grupo. Estes aspectos ficam evidentes na fala do 
entrevistado E: “Claro que procurei usar das minhas ‘armas’ de conquista, tais como: ser 
mais descontraída do jeito que sempre sou, um pouco mais ‘palhaça’, tentando passar 
algo de bom, fazendo as pessoas rirem. Acho que tentei conquistar a todos do meu jeito”. 
SBDG – Caderno 126  Processo de inclusão e exclusão em grupos... 13 
Um dos movimentos comuns aos participantes para conquistar o grupo é manter a 
homogenidade, desta forma alguns conflitos podem ser evitados. Isto ficou evidente na 
fala do entrevistado B: “No início a tendência era não conflitar, não assumir tanto a 
diferença de acordo com o comportamento entendido como o normal. Seria como um 
movimento de deixar rolar, ir conforme o movimento do grupo”. Entretanto, verificou-se 
no referencial teórico que é na diferenciação que o indivíduo consegue criar laços de 
reciprocidade. Porém, percebe-se que se deparar com a diferença nesta fase, pode 
representar um ameaça para o grupo, gerando assim, mecanismos para que estas não 
apareçam. 
No item a seguir, encontram-se a segunda categoria a ser analisada, o sentimentos 
e atitudes no processo de exclusão em grupos. 
 
 
Sentimentos e atitudes no processo de exclusão 
 
Esta categoria compreende todos aqueles sentimentos e atitudes de exclusão 
percebidas pelos entrevistados durante as suas experiências naformação em dinâmica dos 
grupos. Dentre estes sentimentos que apareceram durante as entrevistas estão o 
distanciamento, a falta de autenticidade e rejeição. Para Schutz (1974), o temor de não ser 
aceito e ser rejeitado é compartilhado por todos os seres humanos em suas relações. Para 
o participante B um sentimento de não estar em sintonia foi significativo: 
 
No primeiro encontro quando queria falar sobre a gente eu me senti 
excluída. Com a sensação de estar no lugar errado e na hora errada, 
depois quando tinha expectativas e desejo diferentes do grupo, o que 
dava uma sensação de não estar sintonia com o grupo ou não estar 
incluída no grupo por buscar coisas diferentes. Ser excluída é uma 
sensação muito ruim. Para mim está muito ligada a rejeição, como se eu 
não fosse bem quista pelo grupo. 
 
Para Bion (1975), o sentimento exclusão é vivenciado de forma individual. Cada 
pessoa evita expor este sentimento que faz parte do seu mundo interno, pois acredita que 
expondo suas fragilidades acabam explicitando suas imperfeições e assim não 
correspondendo as expectativas do grupo. Desta forma as diferenças podem gerar 
percepções errôneas, que contribuem para a exclusão. 
SBDG – Caderno 126  Processo de inclusão e exclusão em grupos... 14 
Em uma das falas o entrevistado B destaca: 
 
Em alguns momentos ficava chateada com o grupo, em outros me 
isolava ou me distanciava das discussões. Aos poucos fui entendendo e 
diferenciando o que era meu e o que era do grupo e tentando compre- 
ender as possibilidades e dificuldades de cada um. Esse movimento 
facilitou o meu processo de aprendizagem e desenvolvimento das 
relações interpessoais no grupo. 
 
A dificuldade de lidar com o sentimento de exclusão, frente às expectativas que o 
participante havia idealizado, apareceu na fala do entrevistado A: 
 
Me senti incompetente por não conseguir agir com naturalidade 
enquanto via claramente que uma série de pessoas buscava assumir 
papéis de destaque no grupo e interagiam com frequencia com os 
demais participantes. Como sou muito competitivo e gosto de assumir o 
papel de liderança, tambem me senti confuso e divido, pois, precisava 
lidar com a expectativa de estar nesse papel, mas não estar conseguindo 
efetivamente exercê-lo no grupo. 
 
Para auxiliar na minimização desses sentimentos, o entrevistado D relata que 
sempre buscava atitudes para sair desse do papel de rejeitado ou bode expiatório: 
 
Para reverter à situação, assumi o papel de escuta ativa e aos poucos, 
fazia tentativas de inserção em tópicos que eu me sentia mais confor- 
tável para aprofundar. Depois, comecei a observar mais o funciona- 
mento das pessoas, o funcionamento do próprio grupo frente às reações 
que apareciam. Para isso, exercitei bastante a minha paciência e tole- 
rência para encontrar a minha melhor maneira para interagir com o 
grupo. 
 
O entrevistado B destaca a importância de ser agente nesse processo na seguinte 
afirmação: acredito que as atitudes dependem do contexto: 
 
Em alguns momentos minha atitude era ficar chateada com o grupo, 
pois, nao me sentia respeitada ou ouvida. Em outros momentos, tive que 
me impor perante a sensação de exclusão, para sair de um movimento 
de anestesia, sem saber como agir. Conforme o grupo vai se desenvol- 
vendo e a gente se conhecendo, as atitudes perante essa sensação vão se 
alterando, perpassando o afastamento, a raiva para o desejo de aproxi- 
mação e de tentar fazer diferente. 
 
SBDG – Caderno 126  Processo de inclusão e exclusão em grupos... 15 
Com base em tudo que foi apresentado nesta seção, pode-se dizer que diversas 
falas são repetidas e bastante comuns aos participantes envolvidos nesta pesquisa. E fica 
evidenciado no que foi relatado neste capítulo, a importância dos participantes como 
agentes de sua história no grupo, bem como o impacto que estes movimentos causam no 
grupo e a influência que este mesmo grupo pode ter para determinar algumas ações e 
escolhas de seus participantes. Por fim, encontram-se na seção a seguir, as considerações 
finais verificadas através dessa pesquisa. 
 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
Ao longo desta pesquisa foram apresentados enfoques e considerações a respeito 
dos processos de inclusão e exclusão, bem como a visão de participantes que concluíram 
a formação em uma instituição de formação e desenvolvimento situada no estado do Rio 
Grande do Sul. Verificou-se através dessa pesquisa que estes processos são naturais e 
comuns, experienciados na vida de todos os grupos. Nesta dinâmica são envolvidos 
temores, fantasias, desejos e anseios que podem nos acompanhar durante todas as 
relações estabelecidas ao longo da vida. 
Verificou-se que o comportamento de incluir-se/excluir-se depende da escolha do 
membro do grupo em questão, dos impactos causados por esta escolha no grupo e as 
mensagens que este grupo fornece a cada momento. O “sentir-se dentro, sentir-se 
pertencente” está ligado ao desejo de ser reconhecido e os esforços podem estar 
associados a muitas experiências que podem se repetir ou se transformar. Na medida em 
que o grupo resiste a reconhecer-se como tal, lutando por desejos individuais, os 
membros não se integram, acabam por se excluir e se distanciar ainda mais. Nesta 
questão, observa-se que os sentimentos gerados pela falta de identificação podem ser algo 
natural do indivíduo, que vive dividido entre o reconhecimento de seu desejo e o desejo 
de reconhecimento. 
Analisou-se também que pode ser na diferenciação que o indivíduo consegue 
construir laços de reciprocidade. Mas no grupo, quando inicia a diferenciação entre seus 
membros, cada participante pode se sentir ameaçado em seus desejos individuais e assim, 
partir para a exclusão. Como abordado na teoria de Schutz (1974), o deslocamento da 
responsabilidade para outros membros, assim como o esquecimento, o baixo envolvi- 
SBDG – Caderno 126  Processo de inclusão e exclusão em grupos... 16 
mento, a depreciação e desqualificação, e outros mecanismos, é um dos caminhos para a 
construção da separação. O grupo que não vive o confronto parece não conseguir se 
estruturar na dimensão básica do controle. Com isto reafirmam-se as fraquezas e de 
forma inconsciente o grupo se depara com sua própria baixa autoestima. 
Verificou-se que na exclusão, o grupo não encontra a unidade. Na falta do 
autoconhecimento, recurso primordial, não se permite a construção de um novo caminho. 
Assim, na medida em que não se conhece o outro e nem é reconhecido, não há confiança 
e não há significados comuns, não há identificações e, portanto, há a exclusão, a 
desconstrução do vínculo iniciado entre os membros. 
Também se averiguou que a autenticidade no grupo está relacionada com a 
interioridade e muitas vezes se contrapõe a racionalidade, existir de modo autêntico é 
assumir a sua essência. Uma das maiores vantagens em agirmos com autenticidade é 
possibilidade de encarar a si mesmo com realismo e, com isso, conhecer mais ao fundo 
nossa realidade e sermos nós mesmos sem sofisticação e sem hipocrisia em defesa da 
própria identidade. Se a autenticidade consiste em fidelidade a si mesmo, em recuperar o 
próprio sentimento de existência, pode-se alcançá-lo em sua integridade reconhecendo 
que este sentimento coloca cada um em relação com um todo mais amplo, construindo 
relações pautadas na autenticidade e formando grupos mais saudáveis. Assim, pode-se 
dizer que a autenticidade é fator determinante para o processo de inclusão de membros 
em grupos e fundamental para a criação de intimidade. 
Apesar de haver um pouco de resistência nas respostas dos participantes e ficar 
clara a dificuldade de falar sobre os processos de exclusão, algumas manifestações 
apontam a intensidade com que este processo é vivenciado no âmbito grupal. Portanto, 
nota-se a forma como cada participante se coloca no grupo e interage, sendo que a 
exclusão está intimamente ligadaao desejo e a capacidade de entrega e vínculo de cada 
um. É indispensável o enfrentamento dos conflitos para que todas as fases sejam 
vivenciadas, possibilitando um verdadeiro amadurecimento, aprofundamento e desenvol- 
vimento do grupo. 
Entende-se como limitação desta pesquisa o número pequeno da amostra. 
Contudo, conteúdos pertinentes foram trazidos e percepções comuns foram evidenciadas 
corroborando com a revisão bibliográfica. Sugere-se para a continuidade da pesquisa que 
sejam investigados mais ao fundo a resistência que se percebeu para falar da exclusão. 
SBDG – Caderno 126  Processo de inclusão e exclusão em grupos... 17 
A questão da exclusão segundo Mailhiot (1970), tambem pode ser analisada como 
uma escolha pessoal para determinar limites no relacionamento com o grupo. Podem 
ocorrer em grupos de desenvolvimento movimentos de luta e fuga, oriundos de uma 
cultura de idealização de seus membros, de alta exigência e de cobrança de formas iguais 
de comportamentos a todos os participantes. Assim, quando esses “contratos” não são 
aceitos por alguns membros (por serem diferentes) pode observavar-se a exclusão e/ou a 
autoexclusão de pessoas. 
Em suma, percebe-se que a exclusão passa pelo exercício de escolher o quanto 
contato/desejo de se manter com o grupo e a frequência e intensidade de interação que o 
individuo se propoem a ter com o grupo. Contudo, exclusão é algo que pode estar em 
constante movimento, ela pode gravitar em momentos em que o individuo se inclui ou se 
exclui deliberadamente. Há momentos em que se sente incluído ou excluído pelo grupo e 
há momentos em que se inclui ou se excluem os outros. 
 
 
REFERÊNCIAS 
 
BARDIN, L. Análise de conteúdo. Paris: PUF, 1977 
BION, W. R. Experiências com grupos. Rio de Janeiro: Imago, 1975. 
CASTILHO, A. A dinâmica do trabalho em grupo. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2002. 
FLICK, U. Uma introdução à pesquisa qualitativa. 2. ed. Porto Alegre: Bookman, 2004. 
GIL, A.C. Métodos e técnicas de pesquisa social. 4. ed. São Paulo: Atlas, 1994 p.78. 
LEWIN, K. Teoria de campo em ciência social. São Paulo: Pioneira, 1965. 
MAILHIOT, G. B. Dinâmica e gênese dos grupos. Duas Cidades, São Paulo: 1970, 
______. Dinâmica e gênese dos grupos. 4. ed. São Paulo: Duas Cidades, 1981. 
MALHOTRA, N. K. Pesquisa de marketing: uma orientação aplicada. 3. ed. Porto Alegre, 
Bookman, 2001. 
MARSHALL, C.; ROSSMAN, G. Designing qualitative research. Thousand Oaks. California: 
Sage Publications, 1995. 
MOSCOVICI, Fela. Equipes dão certo: a multiplicação do talento humano. 8. ed. Rio de Janeiro: 
José Olympio, 2003. 
______. Desenvolvimento interpessoal: treinamento em grupo. Rio de Janeiro: Jose Olympio, 
1996. 
PATTON, M. Qualitative evaluation methods. Thousand Oaks. California: Sage Publications, 
1986. 
PICHON-RIVIÈRE, E. Teoria do vínculo. São Paulo: Martins Fontes, 1982. 
SBDG – Caderno 126  Processo de inclusão e exclusão em grupos... 18 
RICHARDSON, R. J. Pesquisa social: métodos e técnicas. São Paulo: Atlas, 1985. 
SCARPAPO, H. Psicologia e pesquisa: perspectivas metodológicas. Porto Alegre: Sulina, 2000. 
SCHUTZ, W. C. O prazer: expansão da consciência humana. Rio de Janeiro: Imago, 1974. 
YIN, R. K. Estudo de caso: planejamento e métodos. 3. ed. Porto Alegre: Bookman, 2005. 
ZIMERMAN, D. Fundamentos psicanalíticos: teoria, técnica e clínica – uma abordagem 
didática. Porto Alegre: Artmed, 1999. 
______. Bion: da teoria a prática: uma leitura didática. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2004.

Continue navegando