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09 - Lacunas e tendências na literatura sobre o ensino das cefaleias uma revisão integrativa com o apoio da análise de conteúdo

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Lacunas e tendências na literatura sobre o ensino das cefaleias: uma revisão 
integrativa com o apoio da análise de conteúdo. 
 
 
Mariana Cota Bastos1; Andrea Marques Vanderlei Ferreira2; Ângela Maria Moreira Canuto3; Rosana Quintella 
Brandão Vilela4; Maria Dirlene Alves Ferreira5. 
Universidade Federal de Alagoas – Faculdade de Medicina - Av. Lourival Melo Mota, S/N 
 
1Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Alagoas(FAMED/UFAL), Brasil. marianacotabastos@gmail.com 
2Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Alagoas (FAMED/UFAL), Brasil. deadoutorado@hotmail.com 
3Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Alagoas (FAMED/UFAL), Brasil. angela_canuto@uol.com.br 
4Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Alagoas (FAMED/UFAL), Brasil. zanavilela@gmail.com 
5Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Alagoas/UFAL (FAMED/UFAL), Brasil. dirleneferreira@gmail.com 
 
Resumo. A preocupação com o ensino da cefaleia na graduação é necessária para a mudança do cenário atual 
de incapacidade funcional associada à dor. As revisões sistemáticas com análise de conteúdo auxiliam nas 
definições das metas do estudo. Trata-se de uma revisão integrativa das publicações disponíveis nas 
bibliotecas virtuais (ScienceDirect, SciELO e BVS) sobre o ensino da cefaleia na graduação de medicina. Os 
artigos foram categorizados pela análise de Bardin em: (1) Nível de exposição ao tema durante a graduação; 
(2) Estratégias de ensino sobre cefaleia; e (3) Estratégias de avaliação de desempenho dos alunos. Os 
resultados mostraram que a maioria dos alunos considera inadequada a exposição ao tema cefaleia durante 
a graduação; e poucos artigos foram publicados no âmbito das estratégias de ensino e avaliação das cefaleias. 
A análise de conteúdo nas revisões integrativas é ferramenta fundamental e indispensável. A escassez de 
publicações mundiais referente ao ensino das cefaleias é fato preocupante. 
Palavras-chave: Análise de Conteúdo; Dados Qualitativos; Bardin; Educação na Graduação de Medicina; 
Cefaleia. 
 
Gaps and trends in the literature on headache teaching: an integrative review with the support of content 
analysis. 
Abstract. A concern with the teaching of headache at undergraduate level is needed to change the current 
scenario of functional disability associated with pain. Systematic reviews with content analysis support in the 
definition of study goals. It is an integrated review of the publications available in virtual libraries 
(ScienceDirect, SciELO and VHL) on the teaching of headache in medical graduation. The articles were 
categorized by Bardin's analysis in: (1) Level of exposure to the subject during a graduation; (2) Teaching 
strategies for headache; and (3) Strategies for assessing student performance. The results showed that the 
majority of the students considered inadequate exposure to headache during graduation; And few articles 
published without evaluation of the teaching strategy and evaluation of headache. An analysis of content in 
the integrative reviews and fundamental and indispensable. The scarcity of worldwide publications 
concerning the teaching of headache and worrying fact. 
Keywords: Content Analysis; Qualitative Data; Bardin; Education in Medicine; Headache. 
 
 
1 Introdução 
Desde 2001 a cefaleia é considerada uma prioridade estratégica da Organização Mundial de 
Saúde (OMS) devido ao alto impacto na qualidade de vida e economia da população mundial. Isto 
motivou, em 2003, o lançamento de uma Campanha Global para reduzir o impacto da cefaleia no 
mundo, com o apoio de uma organização não governamental chamada Lifting the Burden registrada 
no Reino Unido e que trabalha em colaboração com a OMS (Martelletti et al., 2005). O objetivo 
mailto:marianacotabastos@gmail.com
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principal dessa campanha foi identificar e remover as barreiras culturais, sociais e educacionais 
responsáveis pelo inadequado tratamento da cefaleia. 
Alguns países, apoiados pela Lifting The Burden, conduziram pesquisas sobre a epidemiologia 
e impacto da cefaleia em sua população (Yu & Steiner, 2017). Essas pesquisas mostraram que uma das 
principais barreiras para o tratamento inadequado das cefaleias foi a deficiência educacional entre os 
profissionais de saúde, que leva à ausência de habilidades de diagnóstico e tratamento da cefaleia 
(GBD, 2016). A educação dos médicos no manejo das cefaleias foi considerada um elemento-chave 
para reduzir o impacto da cefaleia no mundo. 
A falta de conhecimento entre os profissionais de saúde persiste como um importante fator 
responsável pelo manejo inadequado das cefaleias. Pesquisadores em todo o mundo têm se 
preocupado em entender como está sendo conduzido o ensino das cefaleias nas universidades. Estudo 
realizado na University of Birmingham no Reino Unido (Lai et al., 2014) revelou que dos 485 estudantes 
universitários entrevistados (41% da área médica), 77% desconheciam a possibilidade de cefaleia por 
uso excessivo de medicamentos, associada ao tratamento inadequado da enxaqueca. 
Diante da importância do tema ensino da cefaleia, da necessidade de diagnósticos sobre o 
cenário mundial no assunto, e buscando subsídios para o aprimoramento do processo de ensino-
aprendizagem da cefaleia na prática docente, surgiu a seguinte pergunta norteadora: Quais evidências 
a produção do conhecimento revela sobre o ensino da cefaleia na graduação do curso de medicina? 
O presente estudo propõe, então, realizar uma revisão integrativa da literatura mundial sobre 
o ensino da cefaleia nos cursos de medicina, no período de 2012 a 2017, utilizando como apoio a 
análise de conteúdo para categorização dos dados. 
O termo análise de conteúdo é descrito por Laurence Bardin como: 
“Um conjunto de técnicas de análise das comunicações visando a obter, por 
procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das 
mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de 
conhecimentos relativos às condições de produção/recepção (variáveis 
inferidas) destas mensagens.” (Bardin, 2011, p. 47) 
 
 A construção desse método de análise teve início através da exegese (minuciosa 
interpretação), empregada, sobretudo, nos textos bíblicos para o entendimento das mensagens 
contidas nas parábolas e metáforas. Entretanto, somente em meados do século XX, “a estratégia da 
análise apresentou-se de modo mais sistematizada, com real rigor de pesquisa para o conhecimento 
científico” (Campos, 2009). 
 Atualmente, este método de análise de conteúdo tem grande representação e significância no 
universo das pesquisas qualitativas. Nestas, a sistematização dos dados obtidos auxilia na 
categorização e análise dos resultados. 
 
 
2 Metodologia 
Trata-se de uma revisão integrativa da literatura, que se caracteriza por sumarizar e analisar o 
conhecimento científico já produzido sobre o tema investigado, permitindo conclusões que articulem 
os resultados obtidos em diferentes estudos (Souza, Silva & Carvalho, 2010). 
A revisão integrativa foi elaborada seguindo-se seis fases de processo (Ganong, 2010), 
conforme apresentando na Figura 1: 1a fase) elaboração da pergunta norteadora; 2a fase) busca ou 
amostragem na literatura; 3a fase) coleta de dados; 4a fase) análise crítica dos estudos incluídos; 5a 
fase) discussão dos resultados; e 6a fase) apresentação da revisão integrativa. 
 
 
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Fig. 1. Descrição das seis fases realizadas para a elaboração da revisão integrativa. Considerar n como o número de artigos 
encontrados nos bancos de dados. 
 
 
A pesquisa foi realizada por meio de consulta ao banco de dados da ScienceDirect, Scientific 
Electronic Library Online (SciELO) e no portal da Biblioteca Virtual de Saúde (BVS) incluindo as fontes 
de informações, que compõe a rede BVS: Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da 
Saúde (LILACS) e Medical Literature Analysis and Retrieval System Online (MEDLINE). As varreduras 
ocorreram no mês de dezembro de 2017. 
Como estratégia de busca, foi realizado o cruzamento de descritores estruturados conforme a 
base de dados Descritores em Ciências da Saúde (DeCS) e Medical Subject Headings (MeSH). 
Realizaram-se seis varreduras usando os seguintes cruzamentos: "Medical Education" AND Headache; 
"Schools, Medical" AND Headache; "Education, Medical, Undergraduate" AND Headache; "Medical 
Education" AND Migraines; "Schools, Medical" AND Migraines; "Education, Medical, Undergraduate" 
AND Migraines. 
Para constituir a amostra foram selecionados os trabalhos que atenderam aos seguintes 
critérios de inclusão: documento do tipo artigo científico; de qualquer nacionalidade; disponível nos 
idiomas português, inglês ou espanhol; publicado nos últimos cinco anos; e que versavam sobre a 
temática com enfoque na graduação de medicina. Os critérios de exclusão foram artigos não 
disponíveis na íntegra. 
Após aplicação dos filtros e leitura dos títulos, palavras-chave e resumos, foram excluídas as 
publicações duplicadas e as que não correspondiam aos critérios de inclusão, totalizando 8 artigos 
científicos. Estes foram submetidos à revisão integrativa, tratando e interpretando as informações, 
sistematizando-as e categorizando-as, através da análise de Bardin (2011). 
A realização da análise de conteúdo consistiu em três fases: pré-análise, exploração do 
material e tratamento dos resultados (Bardin, 2011). Na pré-análise, realizamos a “leitura flutuante”, 
ou seja, a primeira leitura dos artigos selecionados para análise, organizando os indicadores de 
interpretação como os conteúdos norteadores encontrados na leitura completa dos artigos. 
 Na segunda fase, de exploração do material, observamos os temas que se repetiam nos artigos 
e escolhemos as categorias iniciais, ou seja, as unidades de codificação, classificação e categorização 
(Campos, 2004). A partir da análise de conteúdo da amostra foi possível agrupar as categorias iniciais 
e compreender o ensino da cefaleia nos cursos de medicina por meio de três categorias temáticas: (1) 
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Nível de exposição ao tema “cefaleias” durante a graduação; (2) Estratégias de ensino sobre cefaleia; 
e (3) Estratégias de avaliação de desempenho dos alunos no âmbito do ensino das cefaleias (Fig. 2). 
 
 
Fig. 2. Categorização através da análise de conteúdo dos artigos selecionados na revisão integrativa. 
 
 
A terceira fase consistiu no tratamento dos resultados, através da inferência e interpretação 
dos dados, e será discutida abaixo de acordo com cada categoria definida. 
 De acordo com Campos (2004): 
“Durante a interpretação dos dados, é preciso voltar atentamente aos marcos 
teóricos, pertinentes à investigação, pois eles dão o embasamento e as 
perspectivas significativas para o estudo. A relação entre os dados obtidos e a 
fundamentação teórica, é que dará sentido à interpretação”. 
 
 
4 Resultados e Discussão 
Os dados foram sintetizados e compuseram a síntese do conhecimento da temática em estudo 
que é apresentada a seguir. Foi observada uma escassez de artigos abordando o ensino da cefaleia nos 
cursos de graduação de Medicina. Todos os artigos publicados foram disponibilizados no idioma inglês. 
A análise de conteúdo dos objetivos e resultados encontrados nos artigos selecionados 
permitiu a categorização em: 
 
4.1. Nível de exposição ao tema “cefaleias” durante a graduação em medicina 
A falta de conhecimento médico tem sido associada ao tratamento inadequado das cefaleias. 
A identificação de possíveis lacunas deixadas durante a graduação em medicina pode colaborar para a 
mudança do cenário atual. Por isso, é importante detectar o nível de conhecimento sobre a cefaleia 
entre os estudantes de medicina. 
A revisão integrativa encontrou dois estudos entre 2012 e 2017 que tiveram como objetivo 
avaliar o nível de exposição às cefaleias durante a graduação: Minen et al (2015) e Ong et al (2017). 
O estudo de Ong et al. (2017) mostrou que 55,1% dos estudantes de medicina do último ano 
em Cingapura não receberam aula formal sobre como realizar uma história completa da cefaleia. A 
média total de horas de aula foi de 5,69 horas e uma grande proporção de estudantes (62,2%) 
considerou inadequada a exposição ao “diagnóstico e manejo das cefaleias” durante a graduação. 
Estes dados corroboram com os estudos americanos de Komminini & Finkel (2005), onde apenas 29% 
dos estudantes concordaram que o diagnóstico e o manejo da cefaleia eram adequadamente 
CONTEÚDO NORTEADOR DOS ARTIGOS CATEGORIA INICIAL CATEGORIA FINAL
Avaliação da base de conhecimento dos estudantes da graduação sobre as
cefaleias.
1. Conhecimento sobre cefaleia
Nível de exposição ao tema 
“cefaleias” durante a graduação.
Entendimento das percepções dos alunos sobre as cefaleias durante a
formação médica.
2. Percepções sobre cefaleia
Avaliação das habilidades de raciocínio clínico em casos de cefaleias. 3. Habilidades clínicas
Estratégias de avaliação de 
desempenho dos alunos no âmbito 
do ensino das cefaleias.
Avaliação da contribuição do exame de desempenho clínico (CPX) nos
casos de cefaleias.
4. Desempenho clínico
Estudo de duas formas de avaliação (múltipla escolha e OSCE) utilizando
casos de cefaleias.
5. Nível de conhecimento teórico
Descrição da estratégia de interpretação dos sintomas associado ao
conhecimento de cefaleia.
6. Vinhetas de casos clínicos
Estratégias de ensino sobre cefaleia.
Descrição dos programas de simulação aplicados na área da neurologia
para aquisição de habilidades específicas.
7. Simulação na neurologia
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ensinados; e de Gallagher et al. (2005), onde as horas de leitura sobre cefaleias na graduação variaram 
de 0 horas (4%) a mais de 5 horas (24%). 
Interessante perceber que, mesmo passados 12 anos do estudo americano (Komminini & 
Finkel, 2005), os resultados atuais revelam que os estudantes de medicina continuam considerando 
insuficiente a exposição à cefaleia durante a graduação. Isto enfatiza a importância dos estudos 
epidemiológicos sobre o cenário do ensino das cefaleias e a necessidade de revisão dos programas de 
graduação em medicina. Assim como Lebedeva et al. (2013), entendemos que a preocupação com a 
mudança urgente no cenário do ensino da cefaleia se faz por entender que o fracasso da educação 
está associado ao fracasso nos cuidados de saúde em todo o mundo. 
Ainda avaliando o contexto da exposição à cefaleia na graduação, Minen et al. (2015) 
realizaram um levantamento com os novos pesquisadores da seção New Investers and Trainees (NITS) 
da American Headache Society (AHS). Este revelou que menos de 2% dos médicos da AHS tiveram 
contato com centros de cefaleia durante a graduação de medicina. A experiência prática na medicina 
é fundamental para o desenvolvimento das habilidades profissionais e interesse na temática estudada. 
Entende-se que é através do contato com os pacientes e do acompanhamento dos atendimentos por 
um profissional experiente que o estudante pode consolidar seu conhecimento teórico e desenvolver 
raciocínio clínico, ou seja, desenvolver uma aprendizagemsignificativa. 
 Segundo Demo: 
“[...]cabe ao professor competente conduzir essa aprendizagem 
significativa, orientando o aluno permanentemente para expressar-se de 
maneira fundamentada, exercitar o questionamento e formulação própria, 
reconstruir autores e teorias e cotidianizar a pesquisa.” (Demo, 2011, p. 41) 
 
A reduzida exposição às cefaleias durante a graduação, seja na abordagem teórica ou na 
experiência prática, pode estar relacionada à dificuldade diagnóstica de alguns tipos de cefaleias que 
exigem maior raciocínio clínico, como a enxaqueca crônica. Já que, conforme exposto no Relatório da 
Organização Mundial de Saúde (2011), a baixa ênfase educacional no tema irá se traduzir mais tarde 
em uma abordagem ineficaz e resultados ruins no contexto das cefaleias. 
Portanto, os estudos analisados sugeriram uma exposição insuficiente à cefaleia durante a 
graduação, o que nos leva a refletir sobre a dificuldade de ampliar temas prioritários da saúde pública 
dentro da academia. Objetivando cumprir sua responsabilidade social e colaborar na redução da 
incapacidade funcional associada à cefaleia, a Escola Médica necessita aprimorar o ensino da cefaleia 
na graduação para formar profissionais que atendam às necessidades de saúde da população. 
 
4.2. Estratégias de ensino sobre cefaleia 
Apostar na possibilidade de construção do novo a partir do cotidiano do trabalho constitui 
desafio permanente. Nesse sentido, a área do Ensino na Saúde busca empreender mudanças no dia a 
dia do ensinar e aprender no âmbito da sala de aula e dos serviços de saúde, usando a própria prática 
como ponto de partida. Este posicionamento constitui-se em instigante e necessário caminho a ser 
trilhado pelos profissionais de saúde que exercem a função docente (Batista, 2005). 
As estratégias de ensino são métodos que auxiliam na construção do conhecimento, sendo 
frequente a busca pela técnica mais adequada ou de maior impacto na aquisição do conhecimento. 
Discute-se abaixo os artigos que abordam algumas estratégias no ensino das cefaleias. 
Yadav et al. (2017) investigaram se o estilo da história clínica relatada pelos pacientes 
(compartimentada ou combinada) teria impacto no reconhecimento dos critérios da enxaqueca 
crônica pelos estudantes de medicina. Observou-se que a enxaqueca foi melhor reconhecida quando 
a informação foi apresentada pela estratégia de interpretação de sintomas combinados (lumping 
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24,1%) quando comparado à apresentação de sintomas compartimentalizados (splitting 3,6%). 
O resultado do estudo de Yadav et al. reforça a importância da avaliação global do paciente, 
focando na integralidade do indivíduo e na construção do diagnóstico através do conjunto de sinais e 
sintomas. Especificamente no ensino das cefaleias, a combinação dos sinais e sintomas é fundamental 
para o correto diagnóstico, visto que a enxaqueca crônica pode ser erroneamente diagnosticada como 
tipo tensão caso o estudante não esteja atento ao contexto global do quadro clínico apresentado 
(Turner et al., 2015). 
As estratégias de ensino para os alunos da modernidade devem utilizar métodos atrativos e 
que estimulem o aprendizado e o raciocínio clínico. Assim como diversos seguimentos da sociedade, 
o ensino em Medicina vivencia significativos avanços tecnológicos. O uso da simulação virtual, por 
exemplo, está se tornando uma ferramenta cada vez mais importante na formação médica. 
Na neurologia, ela é fundamental para a avaliação de pacientes críticos, pois permite a 
aquisição de habilidades técnicas específicas e auxilia no processo de tomada de decisão. Micieli et al. 
relatam em seu estudo como as simulações podem ser aplicadas na área da neurologia. 
Recentemente, o estudo de Murrau et al. (2017) confirmou que os alunos que participaram da 
simulação de um caso de cefaleia no departamento de emergência referiram que as sessões os 
ajudaram a reconhecer os principais atributos dos diagnósticos e foram úteis à sua aprendizagem na 
sala de aula. 
Os artigos analisados revelaram que as estratégias de ensino são uma importante ferramenta 
metodológica, que auxiliam na construção do conhecimento e são fonte de inovação. No ensino das 
cefaleias, podem colaborar preenchendo as lacunas encontradas e utilizando-se de recursos 
tecnológicos que gerem conhecimentos suficientes para a mudança do cenário mundial das cefaleias. 
 
4.3. Estratégias de avaliação de desempenho dos alunos no âmbito do ensino das cefaleias 
 
A avaliação de desempenho dos estudantes é um indicador no processo de ensino-
aprendizagem para determinar se os objetivos educacionais estão sendo alcançados. O processo de 
avaliação não é simples, pois envolve múltiplas dimensões dos estudantes (Megale et al., 2015). Logo, 
o compartilhamento de experiências no meio científico auxilia nas decisões educacionais. 
De acordo com a citação de Megale: 
“Avaliar é emitir juízo de valor e, por isso, há sempre um componente subjetivo 
envolvido, que não deve ser negado ou subestimado, mas, sim, controlado. 
Durante o curso médico, além de adquirir um conjunto de conhecimentos 
teóricos, o estudante deve, também, desenvolver habilidade clínica, 
habilidade de comunicação, atitude reflexiva e valores morais e éticos, nem 
sempre passíveis de avaliação teórica.” (Megale, 2015, p. 13) 
 
Na Arábia Saudita, um estudo de Kasule et al. (2013) realizou uma revisão sobre os principais 
fatores que influenciam na escolha de duas formas de avaliação no contexto local: perguntas de 
múltipla escolha (MCQs) e exames clínicos objetivos estruturados (OSCEs). Várias questões que 
envolvem o processo de escolha foram abordadas, tais como: por que avaliar (motivação aos 
estudantes, diagnóstico das deficiências ou tomada de decisões), quem é avaliado (diferentes 
antecedentes culturais, intelectuais e educacionais), quem avalia (professores ou testes padronizados 
de construção remota), o que é avaliado (questões gerais, questões especīficas, resolução de 
problemas, raciocínio) e como avaliar (MCQs e OSCEs). 
A revisão (Kasule, 2013) concluiu que ainda existem muitos desafios sem respostas sobre o 
processo avaliativo. Entretanto, reforçou que a escolha dos sistemas de avaliação deve levar em 
consideração os antecedentes culturais, intelectuais e educacionais de cada estudante, especialmente 
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dentro de sua comunidade local. 
Um outro estudo realizado na Coreia por Sunju et al. (2016) com 313 estudantes de medicina 
avaliou o raciocínio clínico em um caso de cefaleia através do Exame de Desempenho Clínico (CPX). 
Apenas 34,5% identificaram o problema, porém os alunos concordaram com o CPX como uma 
ferramenta adequada para avaliação de desempenho. Por outro lado, estudo de Park et al. (2014) não 
encontrou resultados significativos na avaliação da competência clínica para o diagnóstico diferencial 
da cefaleia secundária utilizando o CPX. 
A avaliação tem papel fundamental no processo ensino-aprendizagem e deve considerar o 
contexto global dos estudantes para a realização das intervenções educacionais. A análise dos três 
artigos selecionados reforça a dificuldade em escolher uma estratégia de avaliação única. O mesmo 
método avaliativo pode ser adequado para um grupo de alunos e ineficaz para outro. 
 
5 Conclusões 
O propósito deste artigo foi apresentar a utilização da análise de conteúdo como forma de 
auxiliar a categorização temática em uma revisão integrativa sobre o ensino da cefaleia na graduação 
de medicina. 
As evidências científicas identificadas nesta revisão revelaram uma predominância para as 
pesquisas internacionais e de abordagem quantitativa, deixando lacunas no entendimentodo cenário 
atual do ensino das cefaleias. 
A utilização da análise de conteúdo como método específico tornou o processo de 
categorização mais claro e rigoroso, gerando menor subjetividade da definição das categorias. 
Outro nível de conhecimento sobre as cefaleias pelos estudantes da graduação de medicina 
ainda é considerado inadequado, tal fato pode estar relacionado a pouca abordagem sobre o tema 
durante sua formação e às metodologias de ensino utilizadas. Entretanto, novos estudos são 
necessários para compreender as dificuldades e estimular o aprimoramento do ensino nessa área. 
Espera-se que este estudo contribua no desenvolvimento de novas formas de aplicação da 
analise de conteúdo nas pesquisas de cunho qualitativo ou mistos, reforçando a importância desta 
técnica de análise de dados. 
Como limitações ao estudo... 
 
Pouco foi encontrado sobre as estratégias de ensino e avaliação no contexto das cefaleias, 
porém a revisão revelou que a utilização dos avanços tecnológicos repercute positivamente no 
processo de ensino-aprendizagem. 
A partir do exposto, pode-se afirmar que, apesar da pouca produção sobre o ensino em 
cefaleia no curso de medicina, já se observa avanços, sobretudo no que concerne as metodologias de 
ensino. No entanto, ainda é necessário que as instituições formadoras, principalmente os cursos de 
medicina, assumam seu papel social frente ao ensino de competências necessárias para abordar esse 
sintoma de alto impacto na qualidade de vida e na economia da população mundial. 
A utilização da análise de conteúdo nesta revisão integrativa colaborou de forma fundamental 
e indispensável para a categorização dos dados e compreensão dos principais aspectos relacionados 
ao tema. Esta análise sistematizada e embasada nos autores referenciados procurou cumprir com a 
ética e o rigor científico aos quais a pesquisa científica deve estar relacionada. 
 
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