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15 PERFIL EPIDEMIOLÓGICO E TRATAMENTO DE ACIDENTE VASCULAR ENCEFÁLICO EM HOSPITAL DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO, 2018

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ARTIGO 
Perfil epidemiológico e tratamento de acidente vascular encefálico em hospital da cidade do Rio de Janeiro, 2018 
DOI: http://dx.doi.org/10.24118/reva1806.9495.5.2.2020.753 
© REVA Acad. Rev. Cient. da Saúde Rio de Janeiro, RJ v.5 n.2 p. 18-29 maio/ago.2020 
 
 
Perfil epidemiológico e tratamento de acidente vascular 
encefálico em hospital da cidade do Rio de Janeiro, 2018 
 
Epidemiological profile and treatment of stroke in a hospital in the city of 
Rio de Janeiro, 2018 
 
Felipe Saceanu Leser (Leser, FS) 
Doutorando em Neurociência. Programa de Ciências Morfológicas do Instituto de Ciências 
Biomédicas da UFRJ. Graduando em Medicina. Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ 
Email: lipeleser@gmail.com 
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-7499-2765 
 
Francisco Eduardo Penna Doutel de Andrade (Andrade, FEPD) 
Neurocirurgião Emergencista do Hospital Municipal Salgado Filho. Especialização em 
Neurorradiologia. Hospital das Clínicas de Teresópolis. 
Email: doutel@mac.com 
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-9338-3850 
 
Resumo 
 
Estudo ecológico que visa traçar o perfil epidemiológico do acidente vascular 
encefálico, no período de janeiro a dezembro de 2018, em um hospital municipal da 
cidade do Rio de Janeiro e apresentar hipóteses sobre as principais necessidades e 
melhoria do atendimento aos pacientes. Foram utilizados dados do Sistema de 
Informação Hospitalar e do Sistema de Informação de Mortalidade. A média de idade 
dos pacientes foi de 66,63 anos e a maioria internada no serviço de emergência. A 
letalidade encontrada foi de 27,36% e a duração média de internação foi de 10,27 
dias. Dessa forma, ratificamos a importância de estratégias para atendimento desses 
pacientes, reduzindo o tempo de internação geral e em unidades especializadas. 
 
Palavras-chave 
 
Estudo ecológico, acidente vascular encefálico, epidemiologia 
 
Abstract 
 
 Cross-sectional study that aims to identify the epidemiological profile of stroke, 
from January to December 2018, in a municipal hospital in the city of Rio de Janeiro 
and present hypotheses about the main needs and improvements in patient care. 
Data from the Hospital Information System and the Mortality Information System 
were used. The mean age of the patients was 66.63 years and the majority were 
admitted to the emergency department. The lethality found was 27.36% and the 
average length of stay was 10.27 days. Thus, it confirms the importance of strategies 
for the care of these patients, the reduction or the length of general hospital stay and 
the units used. 
 
Keywords 
 
Cross-sectional studies, stroke, epidemiology 
mailto:lipeleser@gmail.com
https://orcid.org/0000-0002-7499-2765
mailto:doutel@mac.com
https://orcid.org/0000-0002-9338-3850
ARTIGO 
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DOI: http://dx.doi.org/10.24118/reva1806.9495.5.2.2020.753 
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Introdução 
 
Esse estudo ecológico foi realizado por meio de dados públicos divulgados 
anualmente pela Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro (SMS) e visou 
identificar o perfil epidemiológico de pacientes portadores de acidente vascular 
encefálico (AVE), em um hospital da rede, localizado na Área Programática 3.2 na 
Zona Norte, no ano de 2018. 
 
Essa unidade recebe um grande número de portadores de AVE a cada ano. Em 
2018, teve 657 pacientes internados com diagnóstico de doença cerebrovascular, 
segundo dados do Sistema de Informações Hospitalares do Departamento de 
Informática do SUS (DATASUS). 
 
O acidente vascular encefálico é uma condição altamente prevalente na 
população e possui alto grau de morbimortalidade, atualmente é considerada a 
segunda maior causa de morte e principal causa de incapacidade permanente no 
Brasil. 
 
Vimos que 36% de todos os pacientes clínicos admitidos no hospital tinham AVE 
como causa da internação, sendo a maioria classificado como “AVE não especificado 
como isquêmico ou hemorrágico” (CID10-I64). Não houve diferença na prevalência 
dessa condição entre o sexo e a idade dos pacientes. A maior parte dos pacientes foi 
internada no serviço de emergência e a letalidade global encontrada foi para 
pacientes com AVE hemorrágico. O tempo médio de evolução ao óbito foi de 
aproximadamente 12 dias e a letalidade foi menor nos pacientes internados em 
serviços de especialidades, como a clínica médica e cardiologia. 
 
Contextualizando o AVE 
 
O acidente vascular cerebral (AVE) é uma doença altamente prevalente e 
estima-se que uma em cada seis pessoas no planeta serão vítimas de AVE ao longo 
da vida e esse número deve aumentar à medida que a população envelhece e 
acumula doenças crônicas como a hipertensão arterial sistêmica e o diabetes mellitus, 
que são os principais fatores de risco para esse tipo de evento.1–3 
 
Pelas estimativas do DATASUS4,5, a população brasileira, em 2005 e 2014 
registrou aproximadamente 110 internações por AVE a cada 100.000 habitantes/ano 
com uma mortalidade hospitalar de aproximadamente 15,02 a 16,05%. Esses dados 
são compatíveis com aqueles apresentados pela maioria dos países ocidentais.6 Em 
2010 o AVE foi a doença que mais matou no Brasil e atualmente é a segunda maior 
causa de morte e a principal causa de incapacidade permanente no país e no 
mundo.2,7–10 
 
O AVE é classificado como hemorrágico ou isquêmico, sendo este último o mais 
frequente, representando em torno de 88% dos casos e ocorre pela obstrução ao 
fluxo sanguíneo arterial do cérebro, repercutindo em áreas de lesão do parênquima 
cerebral 11,12. A causa mais comum de AVE é a aterosclerose de pequenas e grandes 
artérias cerebrais, enquanto cerca de 20% dos casos se dão por êmbolos 
cardiogênicos, mais comumente associados à fibrilação atrial intermitente.12 
 
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Clinicamente, os sintomas mais notórios do AVE são súbitos déficits 
neurológicos característicos, de acordo com a região cerebral envolvida e da 
circulação afetada, mas os mais prevalentes são a perda dos movimentos 
(hemiplegia) ou da sensibilidade (hemiparesia) em um segmento do corpo, 
predominantemente de membros superiores, a incapacidade de processamento visual 
(hemianopsia) e a perda da linguagem (afasia global) ou da memória e até 
rebaixamento do nível de consciência e coma em lesões mais extensas. 
 
Quanto às causas de morte precoce nesses pacientes, as principais são 
deterioração neurológica e outras como infecção secundária por aspiração e infarto 
agudo do miocárdio.9,13 
 
Tendo em vista o tratamento altamente eficaz com uso do trombolítico 
Alteplase (rt-PA), capaz de dissolver os coágulos intravasculares, reestabelecendo o 
fluxo de sangue para as regiões do cérebro acometidas, reduzindo do número de 
pacientes com complicações, incapacidade e morte associadas ao AVE14,15, mas com 
uma curtíssima janela terapêutica de 4,5h, há uma demanda real no entendimento 
pleno da epidemiologia e dinâmica de atendimento desses pacientes, que a suspeita 
dos casos de AVE isquêmicos, a confirmação do diagnóstico e o início da terapia 
sejam realizados de forma altamente eficiente a fim de possibilitar a aplicação dessa 
terapia.16 
 
Metodologia 
 
Estudo quantitativo ecológico, utilizando dados indiretos colhidos e divulgados 
publicamente pelo serviço de epidemiologia do hospital estudado, por meio de 
relatórios anuais da Secretaria Municipal de Saúde e acessado no período de junho a 
novembro de 2019, pelo tabnet.rio.rj.gov.br ,banco de dados que contém dados do 
Sistema de Informação Hospitalar (SIH) e do Sistemade Informação sobre 
Mortalidade (SIM). 
Foram utilizados dados de janeiro a dezembro de 2018, de pacientes 
registrados no hospital, com diagnóstico final classificado pela equipe médica do 
serviço de acordo com o CID10 em todas as categorias entre CID I61 e I64. 
As variáveis selecionadas foram a causa da internação de acordo com Código 
Internacional de Doença (CID), dia/mês da internação, dia/mês da alta hospitalar, 
motivo da saída, especialidade (onde foi realizado o atendimento/internação), óbito 
na Autorização de Internação Hospitalar (AIH), dia/mês/ano do óbito, sexo do 
paciente, raça/cor do paciente, faixa etária do paciente, idade detalhada, diagnóstico 
CID10 (capítulo e grupo). 
Os dados utilizados nessa pesquisa são de domínio público, sendo dispensável a 
aprovação pelo Comitê de Ética para execução de tal projeto. 
Análise estatística 
 A tabulação dos dados extraídos e a análise estatística dos dados colhidos foi 
realizada no programa IBM SPSS Statistics®, utilizando teste T-Student independente 
para comparação de médias de tempo de internação e teste Pearson’s Chi-Quadrado 
de independência para associação entre variáveis qualitativas nominais, como 
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desfecho, CID10, sexo e local de internação. Foi admitido nível de significância 
estatística de 95% (p<0,05). 
 
Resultado 
 
 Em 2018, o AVE foi o diagnóstico mais comum dentre todos os pacientes 
internados no hospital, sendo classificado como especialidade clínica. Do total de 
1821 pacientes, a 574 (31,52%) foi atribuído o CID10-I64 na internação, que 
corresponde ao AVE não especificado como isquêmico ou hemorrágico. 
 
 Quanto às demais condições, o segundo mais comum foi pneumonia não 
especificada, com 316 pacientes (17,35%), seguida de infecção do trato urinário, com 
210 pacientes (11,53%), erisipela, com 200 paciente (10,98%) e insuficiência renal 
crônica, com 163 pacientes (8,95%) conforme mostra o gráfico 1. 
Gráfico 1 - Classificação por CID10 dos pacientes internados, 2018 
Fonte: SIH, 2018 
 
 A maioria dos pacientes internados com AVE no hospital tem seu diagnóstico 
registrado de forma inadequada. Observou-se que do total de 656 pacientes 
internados com diagnóstico de AVE no hospital no ano de 2018, dos quais 574 
(87,67%) foram caracterizados como CID10-I64, ou seja, AVC não especificado como 
isquêmico ou hemorrágico, enquanto dos demais pacientes, 37 (5,63%) são 
classificados como CID I61.9 (hemorragia intracerebral não especificada), 12 (1,83%) 
classificados como CID I61.8 (outras hemorragias intracerebrais). Outros 28 
pacientes (4,26%) são classificados de forma específica quanto à localização das 
hemorragias intracerebrais ou quanto à causa do infarto cerebral (gráfico 2 e tabela 
1). 
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Gráfico 2 - Classificação de acordo com CID10-I61 a I64 dos pacientes 
internados com AVE, 2018 
Fonte: SIH, 2018 
 
A média de idade encontrada nos pacientes internados com diagnóstico de AVE 
no hospital no ano de 2018 foi de 66,63 anos, sendo 67 anos para mulheres e 64,2 
anos para homens (quadro1). A diferença de prevalência entre os sexos se acentua 
quando analisada a faixa de pacientes maiores de 80 anos, na qual há maior número 
de mulheres com relação aos homens (gráfico 3). Encontramos uma prevalência 
semelhante entre os sexos, sendo 327 pacientes masculinos e 329 do sexo feminino 
(quadro 1). 
 
Quadro 1 - Classificação CID, idade, sexo e tempo de internação, 2018 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fonte: SIH, 2018 
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Gráfico 3 – Distribuição de pacientes com AVE por faixa etária e sexo 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fonte: SIH, 2018 
 
 Do total analisado, 518 pacientes (79,8%) foram internados em unidade de 
emergência, seguido pelo serviço de clínica médica, 56 pacientes (8,55%), na 
unidade intermediária, 30 pacientes (4,58%), no serviço de neurocirurgia, 26 
pacientes (3,97%), na cardiologia, 13 pacientes (1,98%), na unidade de terapia 
intensiva, 7 pacientes (1,07%), na unidade coronariana, 3 pacientes (0,46%), na 
unidade de pacientes críticos, 2 pacientes (0,31%). O tempo médio de internação foi 
de 10,27 dias. 
 
A letalidade encontrada no total dos pacientes internados classificados com 
CID10-I61 a I64 foi de 27,36%, enquanto se considerados apenas os casos 
registrados como CID 161.9 (AVEh) observa-se uma letalidade de 73% (gráfico 4), 
evidenciando que há associação entre o subtipo de AVE apresentado e o desfecho 
global do paciente [ꭓ²(2) = 34,767; p<0,0001]. 
 
Quando analisado separadamente o desfecho global dos pacientes por 
especialidade onde ocorreu a internação, foi observado que pacientes internados 
pelos serviços especializados de clínica médica e cardiologia tiveram letalidade de 
16,07% e 7,69% respectivamente, que difere daquela observada nos pacientes 
internados em unidade de emergência, que apresentaram letalidade de 26,25% 
(gráfico 4), sugerindo que pode haver associação entre o local onde foi realizado o 
atendimento e o desfecho do paciente. No entanto, essa associação não alcançou 
grau de significância estatística adotado pelo estudo [ꭓ²(2) = 5,495; p=0,064]. 
O desfecho desses pacientes não diferiu por sexo [ꭓ²(2) = 0,192; p=0,995], no 
entanto o tempo de evolução ao óbito nos pacientes do sexo masculino foi menor que 
aquele encontrado nas pacientes do sexo feminino, sendo esse 9,9 dias e 13,55 dias 
respectivamente, sendo essa diferença não significativa (t(30) = 1,37; p=0,174). 
Em média, os pacientes portadores de AVE internados que evoluíram ao óbito 
tiveram o desfecho apresentado após aproximadamente 12 dias (17,74 ± 1,34). 
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Gráfico 4 - Desfecho de pacientes portadores de AVE internados por sexo 
Fontes: SIH & SIM, 2018 
Discussão 
Podemos inferir que o AVE é uma condição altamente prevalente nesse serviço 
oferecido pelo hospital, sendo um agravo à saúde de grande relevância para a 
unidade e para a população da região estudada. 
Observamos através desses dados um déficit no processo de caracterização e 
notificação adequada das condições que acometeram os pacientes portadores de AVE 
nessa unidade de saúde, tendo em vista que o CID10-I64, que corresponde ao AVE 
não especificado como hemorrágico ou isquêmico, é idealmente utilizado para casos 
excepcionais, nos quais se carece da informação relativa às qualidades da doença de 
um determinado paciente e parte majoritária dos pacientes estudados foram 
qualificados conforme esse código. Sabe-se que a classificação adequada dessa 
condição tem impacto importante sobre o tratamento dos pacientes, uma vez que as 
estratégias e metas terapêuticas são diferentes entre esses subgrupos e variantes do 
AVE.15 
A média de idade encontrada nos pacientes é compatível com os dados 
descritos na literatura, que mostram uma idade que varia entre 64,9 a 68 anos, 
demonstrando que há maior precocidade nos eventoscardiovasculares em homens, 
quando comparado às mulheres. 1,2,4,5,10,13,14 
A ausência de diferença de prevalência de AVE entre os sexos é um dado 
discordante daquele tipicamente encontrado na literatura, onde está bem descrito o 
sexo masculino como fator de risco para os eventos cerebrovasculares. No entanto, 
dado compatível com o aquele observado na maioria dos estudos epidemiológicos 
sobre essa condição é o fato de ter sido observado uma acentuação da diferença de 
prevalência entre homens e mulheres quando analisada a faixa de pacientes maiores 
de 80 anos, na qual há maior número de mulheres com relação aos homens. Atribui-
se a esse fato a explicação de que existe, no sexo masculino, um viés de mortalidade, 
ou seja, homens tendem a sofrer com tais fenômenos cerebrovasculares mais 
precocemente e ter menor expectativa de vida.1–3,8 
Com relação à média de tempo de internação de 10,27 dias na amostra 
analisada obtivemos um valor mais alto que a o descrito na literatura científica do 
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país, que gira em torno de 6 dias (5-8 dias) 4,5,17, o que pode significar um impacto 
grande nas contas e orçamento dessa unidade de saúde. 
A letalidade dos pacientes com AVE encontrada nos pacientes do referido 
hospital em 2018 é maior do que aquela padrão descrita na literatura no nosso país 
de 18,5-19,1% e 41,5 a 45% para casos de AVEh, segundo os dados do Sistema de 
Internações Hospitalares do Ministério da Saúde (SIH/MS) (IC95 = 1,237-1,666; 
p<0,001 e IC95 = 1,112-2,455; p=0,015) isso pode-se tratar de um viés de seleção, 
considerando a possibilidade de haver uma fração maior de pacientes graves dando 
entrada nessa Unidade, visto que se trata de um centro de referência para o 
atendimento nessa região da Zona Norte do Rio de Janeiro e que é provido de amplo 
arsenal de exames de imagem, como 2 aparelhos de Tomografia Computadorizada e 
em centro de terapia intensiva, capaz de atender esses casos de maior severidade. 
Vê-se por meio desses dados também a importância da alocação desses 
pacientes em unidades especializadas e unidades fechadas, nas quais os profissionais 
de saúde dispõe de recursos materiais e humanos para o atendimento desses 
pacientes graves e que demandam ampla e constante monitorização, diferente do que 
ocorre comumente nas unidades de emergência e pronto socorro. 
Com relação às contribuições e relevância do estudo apresentado, tendo em 
vista o modelo de estudo populacional observacional ecológico eleito para realização 
da investigação, entende-se que sua principal função foi a identificação, através da 
análise ampla de um universo populacional relativamente grande, de múltiplos 
possíveis fatores associados ao desfecho global dos pacientes vítimas de AVE 
atendidos nessa unidade de saúde. Essa análise nos permite a formulação de 
hipóteses sólidas sobre o impacto possível de ações direcionadas a esses fatores de 
exposição associados e o direcionamento da atenção dos gestores de saúde a essas 
variáveis no contexto adequado. Hipóteses essas, no entanto, que demandam um 
número maior de estudos sobre o tema para que se possa, com maior grau de 
evidência científica inferir causalidade sobre as associações entre fatores de exposição 
e desfechos aqui demonstrados. 
Portanto, é mister destacar que as inferências e associações encontradas nesse 
estudo não dizem respeito aos casos específicos, mas sim, aos fenômenos observados 
como um todo na população do estudo, não devendo ser aplicado de forma individual 
e, da mesma forma, não devendo ser extrapolados os dados adquiridos a demais 
populações além do universo amostral do estudo, sendo necessários ainda estudos 
mais amplos a partir da análise de dados de múltiplas unidades de saúde em regiões 
variadas do município e do estado a fim de estabelecer um panorama mais amplo e 
preciso do perfil e tratamento dos pacientes com AVE no Rio de Janeiro. 
 
Considerações finais 
 
O AVE é uma condição prevalente nesse hospital da rede SMS, que recebe 
anualmente grande parcela dos pacientes da Zona Norte do Rio de Janeiro. 
Observamos a necessidade de aprimorar o processo de notificação e classificação 
quando se trata das qualidades da doença dos pacientes portadores de AVE, como 
localização, número de eventos e causa. 
 
Além disso, foram encontrados dados epidemiológicos compatíveis com os 
achados na literatura científica, com exceção do tempo de internação maior entre os 
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pacientes do estudo, o que pode ser alvo de atuação dos gestores da unidade para 
aprimorar a qualidade do atendimento, reduzindo o número de complicações intra-
hospitalares e os gastos da unidade. 
Reforçamos com esse estudo a necessidade de observação desses pacientes em 
unidades especializadas, que pode ser um fator contribuinte na melhora do 
prognóstico. Não se pode deixar de ressaltar a importância de um esforço constante 
por parte de todo o corpo de profissionais de saúde e gestores da unidade e de todo o 
país para manter em constante aprimoramento a qualidade assistencial. 
Dessa forma, espera-se, com base no conhecimento gerado pelo presente 
estudo, que seja direcionada especial atenção à questão exposta, de forma a 
direcionar maior quantidade de recursos materiais, humanos e financeiros no 
tratamento adequado desses pacientes, assim como à luz dessas informações, os 
profissionais dessa unidade sejam ainda mais orientados e capacitados para proceder 
com a abordagem dessa condição clínica. 
Ademais que esses e outros se sintam motivados e instigados a produzir novos 
estudos científicos a fim de solidificar esse conhecimento acerca da epidemiologia e 
tratamento do AVE no Estado e Município, visando sempre mitigar os danos causados 
pelo agravo à população. 
 
Data de submissão: 31-03-2020 Data de aceite: 04-05-2020 
 
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vascular encefálico isquêmico agudo: o que sabem os enfermeiros? Rev Bras 
Enferm. 2012;65(3):474–81. 
 
 
 
 
 
 
 
 
ARTIGO 
Perfil epidemiológico e tratamento de acidente vascular encefálico em hospital da cidade do Rio de Janeiro, 2018 
DOI: http://dx.doi.org/10.24118/reva1806.9495.5.2.2020.753 
© REVA Acad. Rev. Cient. da Saúde Rio de Janeiro, RJ v.5 n.2 p. 18-29 maio/ago.2020 
 
 
Anexos - Legenda e Material Suplementar 
 
Legenda 
Foi utilizado como referência, para definir o diagnóstico inicial do paciente durante a 
internação no hospital, o CID10 - Código Internacional de Doença. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ARTIGO 
Perfil epidemiológico e tratamento de acidente vascular encefálico em hospital da cidade do Rio de Janeiro, 2018 
DOI: http://dx.doi.org/10.24118/reva1806.9495.5.2.2020.753 
© REVA Acad. Rev. Cient. da Saúde Rio de Janeiro, RJ v.5 n.2 p. 18-29 maio/ago.2020 
 
 
Desfecho global de pacientes internados portadores de AVE, por sexo, CID e 
especialidade,2018 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Tempo de internação de pacientes internados por sexo, vítimas de AVE que 
evoluíram ao óbito, 2018

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