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Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp São doenças com prevalência crescente pois tem relação com o envelhecimento da população. A incidência aumenta de acordo com a faixa etária (maioria dos casos entre 70 e 80 anos). A presença de paraproteinemia é sugestiva de expansão clonal de plasmócitos. Quando ocorre isso se chama gamopatia monoclonal! Há um grupo extenso de doenças, variando de gamopatia monoclonal de significado incerto, amiloidose até mieloma múltiplo. É uma doença linfoide B do compartimento após especialização na produção de anticorpos (plasmócitos). Estágio bem diferenciado do linfócito B. A célula progenitora B surge na MO, mas todo processo de especialização ocorre nos linfonodos. No CG dos linfonodos a célula B é apresentada a antígenos e sofre hipermutação somática, se transformando em linfócito B de memória e plasmablasto (que depois dá origem a plasmócito). O Plasmablasto é uma célula clonal, pois só vai produzir um tipo de proteína (IgA, ou IgG, ou IgM etc). o anticorpo também tem duas cadeias leves possíveis (kappa ou lambda) e ocorre durante a hipermutação somática. A hipermutação somática é uma mutação prevista, fisiológica, mas que cria certa vulnerabilidade. O Linfócito B quebra o DNA e faz combinações aleatórias das cadeias leves e pesadas dos anticorpos. Cada linfócito que surge é testado contra o antígeno e o mais especializado é selecionado. Os outros clones ineficazes sofrem apoptose. No momento da quebra de DNA ele pode se rearranjar de outras formas e forma um câncer produtor de anticorpo. 50% dos plasmócitos produzem proteína kappa e 50% lambda. Se há plasmocitose em um tecido e mantém essas proporções, trata-se do esperado (fisiológico). Se há desproporção entre essas cadeias, pensamos em um processo clonal nesses plasmócitos. Conseguimos identificar essa desproporção pela urina também. Os plasmócitos clonais (neoplásicos) produzem cadeias leves livres que são altamente lesivas aos rins. Mieloma é o estado terminal desse processo, onde os plasmócitos neoplásicos se expandem exacerbadamente na MO vermelha e cria várias alterações decorrentes disso. Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp Fases biológicas das gamopatias monoclonais: linfócito B sofre mutação no CG > surge clone sem repercussão clínica (gamopatia monoclonal de significado incerto – pré neoplasia) > pode evoluir ou não para mieloma > pode evoluir para leucemia plasmocitária. No microambiente da medula, o plasmócito modifica a seu favor. Subverte a imunidade celular (torna linfócito T anérgico), aumenta células imunossupressoras na MO, ativa osteoclastos e inibe osteoblastos; induzem apoptose do osteócito. Chamamos isso de nicho neoplásico ou microambiente subversivo. As principais citocinas para sobrevida do mieloma em fases iniciais são IL-6 e CXCL12. São importantes para adesão na matriz da MO. A IL-6 é um fator importante para o crescimento de plasmócitos. É produzida pelas próprias células do tumor e por células residentes no estroma da medula. Altos níveis séricos de IL-6 são detectados em pacientes com a doença ativa e associados a um mau prognóstico. Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp - Investigação genética: Avaliação genômica começa com analise citogenética (cromossômica). Precisa ter alterações muito grosseiras para podermos ver. Não é um método muito adequado para investigação genética do mieloma múltiplo. O mieloma é uma neoplasia associada a instabilidade cromossômica e caos genômico. É muito comum hiperploidia, como cópias adicionais de cromossomos inteiros. O gene do cromossomo 11 se quebra durante a hipermutação somática, por ex, e gera translocações com cromossomo 6. Vários genes e quebras estão envolvidos. Outra alteração é a perda/mutação na p53, como ocorre em vários canceres. Assim, são danos cumulativos que ocorrem nesses linfócitos B. Eles vão se adaptando e progredindo do inespecífico para o mieloma múltiplo. Fatores produzidos por plasmócitos neoplásicos medeiam a destruição óssea, o principal aspecto patológico do mieloma múltiplo. De particular importância, o MIP1α derivado do mieloma regula positivamente a expressão do receptor ativador do fator nuclear kB ligante (RANKL) pelas células do estroma da medula óssea, as quais, por sua vez, ativam os osteoclastos. Outros fatores libertados pelas células tumorais, como os moduladores da via Wnt, são inibidores potentes da função dos osteoblastos. O efeito global é o aumento notável na reabsorção óssea, resultando em hipercalcemia e fraturas patológicas. As mutações mais frequentes em gamopatias monoclonais são da via RAS (vias tirosinoquinases proliferativas). Junto com eventos secundários que favorecem os clones mutantes eles ativam a via NF-kB (via de sobrevivência e proliferação). Sintomas: a queixa principal é dor óssea. Há sintomas vamos como fadiga devido a anemia (inflamação da MO e redução da eritropoese); pode ter infecções recorrentes, neuropatia periférica, sintomas de hipercalcemia, insuficiência renal etc. Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp O Mieloma gera proteínas monoclonais que não causarão muitos problemas, mas se for em grande quantidade danifica os túbulos renais (cadeia leve), formando cilindros proteicos. A proliferação do mieloma causa imunodeficiência e aumenta o risco de infecções. A infiltração medular modifica o nicho e reduz eritropoese (a insufic renal corrobora para piora da eritropoese) causando destruição dos ossos e hipercalcemia maligna (CRAB). - Exames de Investigação Eletroforese de proteínas, imunofixação, cadeias leves livres séricas, investigação medular. Eletroforese de proteínas: como as imunoglobulinas são mais positivas, ficam no lado direito da leitura. O padrão normal é uma curva achatada, pois há produção de todas as imunoglobulinas de forma mais ou menos equilibrada. Já no mieloma múltiplo, essa curva tem um pico muito elevado, sinalizando que há produção exagerada de um tipo de anticorpo (gamopatia monoclonal). Chamamos isso de pico monoclonal. A eletroforese identifica a quantidade de proteína alterada, mas não diz o nome. Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp Imunofixação: diz qual o nome da proteína elevada. Identifica qual imunoglobulina e qual cadeia dela está mais aumentada (ex. neoplasia de plasmócitos secretora de IgG kappa). Cadeias leves livres séricas: outro exame identifica a quantidade dessas cadeias leves livres no sangue, pois são elas que são filtradas pelos glomérulos e formam cilindros proteicos nos túbulos distais. Podemos identificar essas cadeias leves na urina, mas não utilizamos esse exame na pratica clínica (falso negativo, gamopatias iniciais não produzem o suficiente para liberar na urina). Investigação medular: aspiração da medula óssea vermelha do osso esponjogoso do corpo vertebral. Com isso verificamos plasmocitose, mas devemos sempre confirmar a clonalidade, pois pode ser apenas plasmocitose reacional. Para confirmar clonalidade dos plasmócitos devemos fazer imunohistoquimica e citometria de fluxo. • GAMOPATIA MONOCLONAL DE SIGNIFICADO INDETERMINADO (GMSI) É uma doença pré-maligna assintomática, definida por uma concentração de imunoglobulina monoclonal no soro de pelo menos 3 g/dL e proporção de células plasmocitárias na medula óssea menor que 10%, na ausência de lesões líticas ósseas, anemia, hipercalcemia e insuficiência renal relacionadas com a proliferação de células plasmáticas monoclonais. Aprox. 1% da população adulta geral, com aumento de prevalência em alguns pacientes, especialmente aqueles portadores de hepatite C quando a prevalência alcança 10%. Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp Devemos realizar exames para avaliação geral do paciente (hemograma, VHS, função renal e eletrólitos, Beta-2 Microglobulina,Proteínas Totais e Frações, Desidrogenase Lática, Radiografia de Ossos Longos, Coluna e Crânio); para diagnóstico da proteína monoclonal (Eletroforese de Proteínas (EFP) Séricas, Imunoeletroforese de Proteínas (IEFP)/Imunofixação (IFX), Quantificação da Imunoglobulina, Exames para Detecção de Cadeia Leve Urinária); para avaliação da medula óssea (Mielograma). Ela pode evoluir para o mieloma múltiplo, com lesões de órgão alvo, ou evoluir para doenças da proteína M. Nessa última o clone não aumenta, mas o pouco de proteína monoclonal gera lesão orgânica, como síndrome nefrotica ou amiloidose (renal, hepática e cardíaca). • MIELOMA ASSINTOMÁTICO Situação intermediária. O paciente já tem proteína alta, plasmócitos em quantidade suficiente para definir como câncer, mas sem evento definidor. A chance de progressão para mieloma é alta. Precisa de maior acompanhamento. • MIELOMA MULTIPLO O mieloma múltiplo é uma neoplasia de plasmócitos comumente associada a lesões líticas ósseas, hipercalcemia, insuficiência renal e alterações imunológicas adquiridas. Embora a doença óssea seja predominante, o tumor pode propagar-se mais tardiamente em sua evolução para os linfonodos e locais extranodais. É principalmente uma doença de idosos, com maior incidência na faixa etária de 65 a 70 anos. Tem gamopatia monoclonal e o CRAB (alterações clinicas e laboratoriais que definem mieloma). Em geral, o mieloma múltiplo se manifesta como tumores destrutivos de plasmócitos (plasmocitomas) comprometendo o esqueleto axial. Os ossos comumente afetados (em ordem decrescente de frequência) são: coluna vertebral, costelas, crânio, pelve, fêmur, clavícula e escápula. As lesões começam na cavidade medular, corroem o osso esponjoso e, progressivamente, destroem o córtex ósseo, muitas vezes resultando em fraturas patológicas; estas são mais comuns na coluna vertebral, mas podem ocorrer em qualquer osso acometido. A reabsorção óssea frequentemente resulta em fraturas patológicas e dor crônica. A hipercalcemia concomitante pode dar origem às manifestações neurológicas, como, por exemplo, confusão, fraqueza, letargia, constipação e poliúria, contribuindo para a disfunção renal. A produção reduzida de Igs normais determina a fase das infecções bacterianas recidivantes. A imunidade celular é relativamente inalterada. A patogênese da insuficiência renal, que ocorre em até 50% dos pacientes, é multifatorial. Contudo, o único fator mais importante parece ser a proteinúria de Bence Jones, visto que as cadeias leves excretadas são tóxicas para as células epiteliais tubulares renais. Certas cadeias leves (em especial aquelas das famílias λ6 e λ3) têm propensão a causar a amiloidose do tipo AL, que, por sua vez, pode exacerbar a disfunção renal, assim como formar depósitos em outros tecidos. Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp O mieloma múltiplo produz imunoglobulina em excesso e cadeias leves livres no plasma. As cadeias de Ig em excesso causam tubulopatia proximal e cilindros proteicos. A reabsorção nos túbulos proximais causa injúria na parede desses túbulos e fibrose. Nos túbulos distais essas Ig’s formam cilindros proteicos insolúveis no lúmen que inflamam o local. As cadeias leves causam glomerulopatia por deposição nos sinusóides e lesão glomerular (proteinúria). Outra complicação é a amiloidose renal decorrente dessas cadeias leves. Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp