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AO JUÍZO DA “X” VARA DO TRABALHO DE PORTO ALEGRE/RS. EFEMÉRIDES DOS ANJOS, brasileira, solteira, estoquista, portadora do RG nº 1234567890 e inscrita sob o CPF nº 0998765432-10, residente e domiciliada na Rua Salvador, n° 1313, na cidade de Gravataí/RS, CEP 94000-000, por intermédio de seu advogado, com procuração anexa, com endereçamento profissional conforme consta no rodapé da presente, vem, com o devido respeito e acatamento, à presença de Vossa Excelência, propor a presente: RECLAMATÓRIA TRABALHISTA pelo Rito Ordinário em face de PAPALÉGUAS LTDA., pessoa jurídica de direito privado, inscrita sob o CNPJ n. 00.000.000/0001-00, situada na Rua Jabuti, 1200, na cidade de Porto Alegre/RS, CEP 90.000-000, nos termos e fundamentos que passa a aduzir. I – DA CONTRATUALIDADE Conforme vislumbra-se da Carteira de Trabalho e do Termo de Rescisão de Contrato de Trabalho juntados, a Reclamante iniciou a laborar na Reclamada na data de 10/10/2012 como assistente de estoque, no setor de almoxarifado da empresa, vindo a ser demitida em 31/05/2020, sem justa causa. Seu último salário foi de R$ 3.000,00 (três mil reais) II – DA ESTABILIDADE Como depreende-se dos documentos juntados que acompanham esta prefacial, a Reclamante foi eleita como presidente do sindicato de classe de sua categoria profissional, ao qual está filiada desde a admissão, tendo sido eleita e empossada no dia 01/04/2019 para um mandato de 2 anos. Tal fato foi informado à empregadora por intermédio de um e-mail, além de informar verbalmente aos seus superiores. Logo, goza de estabilidade provisória. A estabilidade do emprego trata-se de uma garantia prevista pelo legislador que visa assegurar ao Obreiro a garantia de emprego por determinado prazo após a ocorrência de determinados episódios, tais como a gestação e a percepção de benefício previdenciário acidentário. Tal preocupação com o trabalhador se dá por conta do direito potestativo que possui o empregador de dispensar o funcionário sem qualquer motivo e a qualquer tempo, nos moldes que determinadas situações ensejariam a demissão em virtude de fatos inerentes a condições alheias, por vezes, à vontade do empregado. Ensina o magistério de Carla Tereza Martins Romar: A palavra estabilidade pode assumir duas acepções, falando -se em estabilidade do emprego e em estabilidade no emprego. Estabilidade do emprego é a estabilidade no sentido econômico, referindo -se, como ensina Amauri Mascaro Nascimento, a “uma política geral que se caracteriza pelo conjunto de medidas do Governo destinadas a fazer com que não falte trabalho na sociedade. Sendo um dever social, o trabalho deve merecer posição especial nos programas estatais, com a abertura de frentes de trabalho, serviços públicos de emprego, assistência pecuniária ao desempregado, etc.”. No sentido jurídico, estabilidade no emprego é expressão que se relaciona com a dispensa do empregado. É o direito do trabalhador de permanecer no emprego, mesmo contra a vontade do empregador, enquanto inexistir uma causa relevante expressa em lei e que permita a sua dispensa. É o direito de não ser despedido. É a garantia assegurada ao empregado de que seu emprego somente será perdido se houver uma causa que justifique a dispensa, indicada pela lei. Funda -se, portanto, no princípio da causalidade da dispensa. Destina-se a impedir a dispensa imotivada, arbitrária, abusiva. (grifo) Sobre tal estabilidade, é clara a Consolidação das Leis do Trabalho: Art. 543 - O empregado eleito para cargo de administração sindical ou representação profissional, inclusive junto a órgão de deliberação coletiva, não poderá ser impedido do exercício de suas funções, nem transferido para lugar ou mister que lhe dificulte ou torne impossível o desempenho das suas atribuições sindicais. [...] § 3º - Fica vedada a dispensa do empregado sindicalizado ou associado, a partir do momento do registro de sua candidatura a cargo de direção ou representação de entidade sindical ou de associação profissional, até 1 (um) ano após o final do seu mandato, caso seja eleito inclusive como suplente, salvo se cometer falta grave devidamente apurada nos termos desta Consolidação. De tal forma, verifica-se que a Obreira está revestida desta estabilidade provisória, tendo garantido o seu emprego durante o período do mandato e por um ano após findo. A única hipótese de que o vínculo fosse rescindido seria mediante o cometimento de uma falta grave, que deveria ter sido apurada por meio de inquérito, o que deveras não foi, consoante a anotação no TRCT, onde consta a demissão sem justa causa por iniciativa do empregador. Neste contorno, a funcionária deverá ser reintegrada ao seu emprego, eis que faz jus a tal pedido, requerendo isso de forma imediata. Caso o entendimento de Vossa Excelência for diverso ou se houver resistência da empresa ao retorno da Obreira, pugna pela substituição do período estabilitário por indenização correspondente ao período. A súmula 396 do TST traz respaldo para o pleito expendido, sendo corroborado pela previsão legal da CLT: Art. 496 - Quando a reintegração do empregado estável for desaconselhável, dado o grau de incompatibilidade resultante do dissídio, especialmente quando for o empregador pessoa física, o tribunal do trabalho poderá converter aquela obrigação em indenização devida nos termos do artigo seguinte. Deste modo, requer, desde já, o reconhecimento da estabilidade provisória sindical com a determinação imediata de reintegração, postulando, alternativamente, indenização pelo período correspondente. III – DO ACÚMULO DE FUNÇÃO Durante a contratualidade, apesar de ter sido contratado como assistente de estoque, também realizava as tarefas de um analista de compras, pois seu chefe determinava que ela fizesse pesquisa de preços e comparasse a sua evolução ao longo do tempo, atividades estranhas ao seu mister de assistente de estoque, o que evidencia um claro acúmulo de função. O acúmulo que enseja o direito ao pagamento de um plus é aquele que importa na alteração da comutatividade contratual, ou seja, pressupõe o acréscimo de tarefas mais onerosas em meio ao contrato sem a correspondente contraprestação salarial. É o caso vivenciado pela Obreira. A CLT, no artigo 456, prevê que, inexistindo especificações expressas ou comprovações acerca das atividades nas quais o trabalhador terá de desempenhar, entende-se que a Obreira terá de desempenhar todas aquelas que sejam compatíveis para com o cargo que foi contratada, conforme depreende-se: Art. 456. A prova do contrato individual do trabalho será feita pelas anotações constantes da carteira profissional ou por instrumento escrito e suprida por todos os meios permitidos em direito. Parágrafo único. A falta de prova ou inexistindo cláusula expressa e tal respeito, entender-se-á que o empregado se obrigou a todo e qualquer serviço compatível com a sua condição pessoal. Deste modo, é cristalino que as funções exercidas pela Autora não são todas incluídas naquelas que uma assistente de estoque deve desempenhar, mas abrangem outras funções que ensejam o reconhecimento do acúmulo de funções e, como corolário lógico, a incidência do plus salarial na ordem de 30% (trinta por cento). Em relação ao acúmulo de funções e ao plus salarial, assim se posiciona nossa Egrégia Corte do Estado: PLUS SALARIAL. BOMBEIRO. O plus salarial por acúmulo de funções somente se justifica quando as tarefas acrescidas fazem parte de cargo ou profissão remunerada com salário superior, o que, no caso presente, restou comprovado. O empregado que realizar atividade que não seja de incumbência do cargo para o qual foi contratado, deve receber acréscimo salarial. (TRT da 4ª Região, 5ª Turma, 0020966- 74.2017.5.04.0802 ROT, em 21/02/2019, Desembargadora Karina Saraiva Cunha). Deste modo, faz jus a Autora ao plussalarial decorrente do acúmulo de funções na ordem de 30% de seu salário, o que requer. IV – DAS HORAS EXTRAS A Autora trabalhava de 2ª a 6ª feira das 8h às 18h, com intervalos de uma hora para refeição. Aos sábados sua jornada era das 8h às 12h, sem intervalo. De uma análise de tal horário praticado, verifica-se que a jornada excedia às 44 horas semanais. Como se vê dos “canhotos” do registro de ponto, a vindicante realizava diariamente 1 hora além do turno normal e legal de trabalho, sem, contudo, perceber qualquer adicional pelo horário trabalhado a mais. A Reclamada não pode locupletar-se do trabalho da Obreira e não pagar-lhe a contraprestação na forma de HORAS EXTRAS. Destarte, as horas adicionais não foram alcançadas à Reclamante de forma devida e devem integrar o seu patrimônio, bem como incidir seus reflexos em aviso prévio, férias, 13º salário, FGTS, multa de 40% sobre o FGTS e recolhimento previdenciário. Asseverado é o entendimento do TRT4: REGIMES COMPENSATÓRIOS. INVALIDADE. A prestação de horas extras habituais tornam irregulares os regimes compensatórios semanal e banco de horas, assegurando ao trabalhador direito ao pagamento do adicional de horas extras sobre as horas extras irregularmente compensadas no regime semanal e de horas extras ( hora normal + adicional) para excedentes carga horária semanal ajustada. (TRT da 4ª Região, 6ª Turma, 0021983-81.2017.5.04.0403 ROT, em 26/09/2019, Desembargador Fernando Luiz de Moura Cassal) Destarte, requer, desde já, a intimação da Reclamada, para que apresente os cartões ponto, com o escopo de apurar as horas efetivamente laboradas nesse período, bem como a regularidade dos seus pagamentos. V – DO DANO MORAL O e-mail pessoal da Reclamante era monitorado pela empresa, por que no ano de 2019 estava ocorrendo um problema na plataforma institucional motivo pelo qual o ex-empregador acordou com os empregados que o conteúdo de trabalho seria enviado ao e-mail particular de cada um dos trabalhadores, desde que pudesse fazer o monitoramento. Em razão disso, o empregador teve acesso a diversos escritos e fotos particulares da Autora, inclusive conteúdo que ela não desejava expor a terceiros, o que veio a lhe causar constrangimentos por diversas ocasiões. Tal conduta mostra-se ilícita, pois viola o direito constitucional à intimidade. O nexo causal advém do próprio fato que foi praticado pelo empregador, enquanto a culpa reveste- se pela imprudência dos atos do empregador ao exigir controle sobre todos os e-mails do funcionário, demonstrando um abuso de poder. Por fim, o dano configura-se na esfera extrapatrimonial, atingindo a moral e a psique da Reclamante. O art. 5º, X da CF versa: São invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação; Ensina Maria Celina Bodin de Moraes: Constitui dano moral a lesão a qualquer dos aspectos componentes da dignidade humana - dignidade esta que se encontra fundada em quatro substratos e, portanto, consubstanciada no conjunto dos princípios da igualdade, da integridade psicofísica, da liberdade e da solidariedade. Circunstâncias que atinjam a pessoa negando a ela a sua essencial condição humana serão consideradas violadoras de sua personalidade e causadoras de dano moral a ser reparado. Desta forma, este abuso do empregador fere diretamente a honra da Reclamante, sendo presumido (in re ipsa) o dano moral que lhe acomete, devendo o empregador responder por tais danos e ser condenado ao ressarcimento dos mesmos. Com o atual tabelamento do dano moral imposto pela Reforma Trabalhista, a gravidade do dano deverá ser quantificada e precificada conforme a tabela fornecida pela legislação. Desta forma, para apuração da gravidade e do quantum de ressarcimento, Maria Amália de Figueiredo Pereira Alvarenga, nos ensina: Na reparação do dano moral, o juiz determina, por equidade, levando em conta as circunstâncias de cada caso, o quantum da indenização devida, que deverá corresponder à lesão e não ser equivalente, por ser impossível tal equivalência. A reparação pecuniária do dano moral é um misto de pena e satisfação compensatória. Não se pode negar sua função: penal, constituindo uma sanção imposta ao ofensor; e compensatória, sendo uma satisfação que atenue a ofensa causada, proporcionando uma vantagem ao ofendido, que poderá, com a soma de dinheiro recebida, procurar atender às satisfações materiais ou ideais que repute convenientes, diminuindo assim, em parte, seu sofrimento. Destarte, levando em consideração ainda as previsões do artigo 223 e seguintes da CLT, a natureza da lesão sofrida é MÉDIA, merecendo indenização correspondente na ordem de até 05 (cinco) vezes o último salário da Autora. VI – DA GRATUIDADE DA JUSTIÇA Por não possuir meios para custear as despesas processuais sem o prejuízo do próprio sustento e de sua família, a Reclamante pleiteia o benefício da Gratuidade de Justiça. Para tal comprovação, com amparo no texto constitucional que assegura o acesso à Justiça e com as previsões subsidiárias do artigo 98 do CPC, junta-se declaração de hipossuficiência, documento hábil e suficiente a comprovar o preenchimento dos requisitos para a concessão de tal benesse. Com o advento da Constituição Federal de 1988, o referido benefício foi ampliado consideravelmente, tanto que acertadamente inserido no capítulo dos Direitos e Garantias Fundamentais, elencado no artigo 5º, LXXIV, da CF/88, que prevê “que o Estado prestará assistência judiciária integral e gratuita aos que comprovarem insuficiência de recursos”. Assim posiciona-se o E. TRT4: RECURSO ORDINÁRIO INTERPOSTO PELO RECLAMANTE. BENEFÍCIO DA GRATUIDADE DA JUSTIÇA. Hipótese em que o reclamante recebia o valor de R$ 3.136,28 (três mil cento e trinta e seis reais e vinte e oito centavos) consoante declarado na petição inicial. Contudo, juntou aos autos declaração de hipossuficiência econômica (ID 614d447), que possui presunção de veracidade e não restou infirmada por nenhum outro elemento de prova. Recurso provido. (TRT da 4ª Região; 5ª Turma; processo nº 0020064-45.2018.5.04.0234 (RO); Data: 11/07/2018; Redator: MARIA SILVANA ROTTA TEDESCO) Logo, deve ser deferida a gratuidade judiciária. VII – DOS PEDIDOS E REQUERIMENTOS Ex positis, vem requerer: a) o recebimento e devido processamento da presente reclamatória, conforme argumentos consubstanciados; b) a concessão do benefício da gratuidade judiciária à Reclamante, eis que imprescindível para que a sua pretensão possa chegar ao Poder Judiciário; c) a citação da Reclamada para participar de audiência inicial de conciliação e, querendo, apresentar defesa no prazo legal, sob pena de aplicação da pena de revelia e confissão; d) o deferimento da produção de todos meios de prova admitidos em direito, mormente o documental e o testemunhal; e) ao final da toda a instrução processual, a TOTAL PROCEDÊNCIA dos pedidos iniciais, conforme termos e fundamentos expostos, declarando a estabilidade provisória da Reclamante e determinando a sua reintegração, além de condenar a Reclamada ao pagamento das parcelas listadas abaixo, conforme valores atribuídos de forma estimativa: https://www.trt4.jus.br/pesquisas/rest/cache/acordao/pje/gcu2PTGd97UU7FqLK4YJVw?&tp=gratuidade e.1) acúmulo de função, acrescentando à renda da Reclamante o adicional de 30%..................................................................R$ 58.500,00; e.2) pagamento das horas extras que excedem as 44 semanais, com o devido adicional..................................................................R$ 24.545,45; e.3) pagamento de indenização a título de danos morais por conta da ilegalidade cometida elo empregador.................................R$ 15.000,00; e.4) honorários advocatícios em favor do patrono da Reclamante,em patamar não inferior a 15%.................................................R$ 14.999,31; e.5) recolhimento das contribuições fiscais e previdenciárias. f) seja observada a incidência de juros e correção monetária nos termos da lei; Atribui à causa o valor de R$ 13.094,76. Nestes termos, pede e espera deferimento. Gravataí, 15 de setembro de 2020. Rafael Pinheiro da Rosa OAB/RS 666.666
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