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Seja bem Vindo! Curso Sexualidade e a Educação CursosOnlineSP.com.br Carga horária: 55hs Conteúdo Programático: Contextualização A sexualidade e a orientação sexual no Brasil Sexualidade, política e educação Sexualidade na escola Pedagogia de gêneros Orientações ao educador O papel da escola O papel da família Quebrando os dogmas Vamos falar sobre sexo? A homossexualidade Gravidez na adolescência e o aborto Drogas DSTs Orientação sexual Orientação sexual X Educação sexual Construção da identidade sexual Primeiras experiências Sexualidade na infância Sexo na adolescência Dúvidas frequentes dos pais em relação aos filhos Encerramento Bibliografia Contextualização A sexualidade humana tem sido ao longo dos tempos, objeto de estudo em várias pesquisas. Neste contexto, a orientação sexual aparece com relevante significado, isso em virtude da sua relação com a própria condição humana. Acredita-se que a sexualidade está arraigada na existência humana do nascimento à morte, permeando todas as manifestações do indivíduo. Na literatura existente a respeito do tema, percebe-se um número considerável de estudos que subsidiam os educadores em sala de aula. Contudo, as poucas instituições que incluem em suas práticas pedagógicas um tema tão importante, por vezes tratam o assunto com palestras ministradas por psicólogos ou médicos, como se isso apenas fosse suficiente para esclarecer todas as dúvidas acerca do tema. Talvez por equivoco, associa-se o tema sexualidade apenas à fase da adolescência, deixando a infância e a pré-adolescência à mercê de informações vindas de fontes não tão confiáveis como televisão e internet. Para alguns educadores do Ensino Fundamental (1º e 2º ciclos), a orientação sexual neste período não oferece benefícios à formação da criança, posto que estimula precocemente a sua sexualidade. Estudos científicos realizados nesta área apontam para o contrário, o estudo demonstra que o trabalho de orientação sexual não estimula a atividade sexual prematuramente e não antecipa a idade do primeiro contato sexual. Muito menos aumenta a incidência de gravidez ou aborto na adolescência. O estudo aponta que as crianças que tiveram tal orientação, se mostraram mais responsáveis e conscientes de seus atos. É notória a importância de se discutir a sexualidade na escola, uma vez que cresce a cada dia o número de abuso sexual, gravidez precoce, contaminação através de DST/AIDS, principalmente entre os adolescentes, dentre outros temas fundamentais para essa discussão, que se faz necessária e inadiável. De modo geral, podemos observar que a orientação sexual na escola pública brasileira tem recebido pouca atenção das políticas públicas e educacionais. Apesar da LDB – Lei de Diretrizes e Bases, regulamentar que é dever da família, sobretudo, do Estado, zelar pela formação de todo cidadão. Os Parâmetros Curriculares Nacionais - PCNs contemplam a orientação sexual nos temas transversais. Os PCNs são diretrizes estipuladas pelo ministério da Educação regulamentando a grade curricular em todas as instituições de ensino. Entretanto é necessário ir além do caráter informativo como sugere os PCNs. é preciso botar em prática, trazer para rodas de discussão, debates e trabalhos. A importância de se discutir um assunto tão complexo, está justamente na necessidade que temos de preparar o jovem, em todos os aspectos para suas experiências futuras. A sexualidade vai mais além do que a busca de prazer, passa pela constituição do indivíduo, até a questão da cidadania. Embora alguns estudiosos e educadores não considerem positivo este assunto ser tratado em sala de aula, a grande maioria considera que abordar este tema é de grande relevância na formação pessoal do indivíduo. Em síntese, trata-se de unificar as diferenças de gênero, de maneira que seja natural, a relação do indivíduo com seu corpo, ou com sua orientação sexual. A sexualidade e a orientação sexual no Brasil Antes de tratarmos do tema educação sexual no Brasil, nos remeteremos a algumas datas e eventos importantes, para melhor compreendermos sua história. Não se sabe ao certo quando ocorreu à entrada da questão da sexualidade nas escolas, contudo alguns estudiosos advogam que o tema surgiu na França, a partir da segunda metade do século XVIII. Segundo os estudiosos, somente a partir deste período é que os educadores começaram a se preocupar com a educação sexual na instituição escolar. Essa educação tinha como objetivo maior, combater a masturbação entre os jovens colegiais, para isso se apropriava das ideias de Rousseau, onde a ignorância era a melhor maneira de manter a pureza infantil. Um século depois, as discussões a respeito da educação sexual voltam à tona, só que desta vez, esta abordagem preocupava-se em prevenir doenças venéreas, a degenerescência das raças e o aumento do aborto clandestino. No século XX voltou à tona a questão da educação sexual, voltada ao esclarecimento das questões de reprodução e continuidade da espécie e também, a relação entre instintos sexuais e reprodução humana. Apesar das discussões e reflexões sobre a educação sexual terem sido iniciadas na França, foi na Suécia onde essa abordagem foi sistematizada e organizada nas instituições de ensino. Foi lá, onde ocorreram às primeiras conferências públicas sobre as funções sexuais, também as primeiras reivindicações sobre o livre acesso aos métodos contraceptivos. Consta que lá também ocorreu pela primeira vez, a recomendação de um governo, a educação sexual na escola em 1942, declarada obrigatória em 1956. Entretanto, verificou-se que os preceitos da educação sexual já estavam presentes desde o início do século, quando Freud inovou as ciências humanas com suas teorias sobre a sexualidade e suas implicações no comportamento humano. No Brasil temos os primeiros registros de discussões sobre educação sexual em 1920. É nesta época que as primeiras reflexões e as primeiras ideias são ouvidas. Influenciado pelas correntes médicas e higienistas francesas, com o objetivo geral de combater a masturbação, as doenças venéreas, e preparar a mulher para exercer seu papel de dona do lar. Visava-se sempre a saúde pública e a moral sadia. De 1935 até 1950, não se tem registros de qualquer tipo de iniciativa ligada à sexualidade. O que resultou num tremendo retrocesso no caminho da educação sexual no Brasil. Ainda na década de 1950, a igreja católica que dominava o sistema educacional para a elite brasileira, manteve um olhar de reprovação sobre a educação sexual. Neste período surgem alguns estudos mais aprofundados sobre a sexualidade na educação. A década de 1960 foi um período muito complicado no Brasil. Passávamos pela repressão, estabelecia-se o regime de exceção. Mudanças políticas radicais foram estabelecidas após o golpe de 1964. Na educação, há registros de tentativas de implantação da educação sexual para alunos das escolas públicas e particulares. Algumas foram pioneiras no trato deste assunto em sala de aula. Entretanto, devido à reprovação dos pais, esta abordagem não sobreviveu por muito tempo. Essas escolas tinham uma orientação mais progressista, muito à frente do contexto social retrógrado da época. Em 1968, a deputada Julia Steimbruck, do Rio de Janeiro, apresenta o primeiro projeto de lei propondo a implantação obrigatória da educação sexual em todas as escolas do país, em todos os níveis. Após três anos, isto é, em 1970, especificamente em novembro, o projeto ainda estava em tramitação. O projeto recebeu grande apoio da maioria dos educadores, estudiosos e intelectuais, entretanto a burocracia engessava esta proposta. Ainda durante a década de 1970, precisamente entre 1974 e 1975, a escola Preparatória de Cadetes do Exército, organizou uma sériede conferências sobre orientação sexual para alunos do 2º grau da escola militar. Em 1978 foi realizado por iniciativas particulares o 1º Congresso Nacional sobre Educação Sexual nas escolas, em São Paulo, que teve como objetivo debater a dimensão pública da educação sexual. Nesse congresso registrou-se um grande interesse dos educadores para com o tema, reunindo cerca de duas mil pessoas. A década de 1980 foi um tempo próspero referente à questão da educação sexual. Foi um período de abertura política e retorno de grandes pensadores e intelectuais das mais diversas áreas. Enquanto o povo gritava nas ruas por “diretas já!”, eram publicadas as primeiras revistas exibindo corpos nus, coisa que antes não ocorria. Estava também ocorrendo uma grande revolução sexual nas mídias de massa, a televisão, o cinema, e a mídia impressa, passava a publicar conteúdos que até então, eram proibidos. Nessa década a sexóloga Marta Suplicy fez um quadro no programa TV Mulher, tratando justamente do tema sexo. Grande foi a repercussão deste quadro nas mais diversas camadas da sociedade, fazendo ressurgir o interesse pelo tema. Em 1983 foi realizado o primeiro encontro para uma reflexão mais robusta acerca da sexualidade na escola. Esta discussão se deu, sobretudo, pelo crescimento acentuado nos índices de gravidez na adolescência e o crescimento da AIDS entre os jovens. Em 1989 a secretaria municipal da educação de São Paulo, sob orientação de Paulo Freire, decidiu implantar a educação sexual na escola. Primeiro nas escolas de 1º grau, estendendo para os outros níveis paulatinamente. O modelo foi tão bem elaborado, que foi copiado por outras capitais brasileiras como Porto Alegre, Belo Horizonte, Florianópolis, entre outras. O objetivo inicial era capacitar o educador para a abordagem deste tema tão complexo, além de produzir material sobre o tema para que os educadores estivessem aptos a trabalhar a orientação sexual e a prevenção das DSTs. Nos anos 1990 se intensificaram ainda mais as iniciativas de promover a orientação sexual, uma vez que havia aumentado virtuosamente o índice de gravidez na adolescência. No final dos anos 1990 várias organizações não governamentais, sobretudo a mídia buscava incentivar o debate sobre o tema de maneira mais aberta. Em suma, foi somente na última década do século que começamos a pensar e refletir sobre a importância da orientação sexual, muito embora, como vimos estudos, já eram realizados há tempos. Dos anos 1990 até hoje, muito se tem estudado e discutido a respeito do tema. Os educadores têm sido subsidiados de informação. Contudo, as redes privadas e públicas de ensino, não tem tido eficácia, por motivos de tabu, pois discutir um tema complicado abertamente, não é tarefa fácil. Dentro do contexto atual, a orientação sexual nas escolas se faz cada vez mais necessária, entretanto precisa ser discutida de forma clara e coesa, de maneira que chegue à raiz do problema, isto é, informe e conscientize. A dúvida maior é se os professores estão preparados para ministrar aulas de orientação sexual, um campo complexo e cheio de questionamentos e incertezas, uma vez que os educadores de hoje, foram os educandos de ontem e sofreram a repressão sexual daquele tempo que certamente deixaram marcas profundas no comportamento e no modo de pensar de cada um. Em pleno século XXI, nota-se a crescente necessidade de informação dos jovens seja sobre literatura, cinema, e é claro sexo. Cada vez mais os filhos vão buscar a conversa com os pais. Observe na imagem abaixo a charge de Mauricio de Sousa. Sexo é uma coisa natural? Qual o papel da psicanálise na compreensão do tema? Segundo um grande estudioso da psicanálise, Sigmund Freud, a sexualidade está intrinsecamente relacionada ao homem, é condição para nossa existência. A psicanálise, de modo geral, fez da sexualidade um conceito fundamental dentro de sua teoria. A principal obra de Freud que trata da sexualidade intitula-se: “Três ensaios sobre a sexualidade”, escrito em 1905, trata-se de um livro relativamente pequeno. Nele Freud desconstrói a concepção de instinto sexual em voga na época. Logo no começo do livro, nos primeiros parágrafos Freud resume de maneira magistral a concepção tradicional de sexualidade, contra o qual alinhará seus argumentos críticos. “A opinião popular tem ideias muito precisas à respeito da natureza e das características do instinto sexual. A concepção geral é que está ausente na infância, que se manifesta por ocasião da puberdade em relação ao processo de chegada da maturidade, e se revela nas manifestações de uma atração irresistível exercida por um sexo sobre o outro; quanto ao seu objetivo, presume-se que seja a união sexual, ou pelo menos atos que conduzam nessa direção”. (1977, p.135) Certamente foi com muita ironia que Freud escreveu tais linhas, pois sua teoria foi muito mais além de considerar a sexualidade um evento da puberdade, inerte na fase da infância, e incontrolável na maturidade. Sua obra na verdade foi uma crítica radical ao que a comunidade médica do século XVIII e, por que não dizer ao que pensam muitas pessoas nos dias de hoje, sobre a sexualidade. Mas o que realmente tem Freud e a psicanálise a dizer sobre a sexualidade? Em síntese, a sexualidade nasce paralelamente a uma atividade vital como se fosse um benefício de prazer marginal obtido graças a essa mesma satisfação. A sexualidade nasce, portanto, apoiada numa função biológica, isto é, faz parte de nós. Como Freud faz supor é que a sexualidade é uma atividade que se prolonga para além da necessidade vital. Sexualidade, política e educação Escolhemos estes três aspectos para figurarem neste tópico. Cada um deles visa enfatizar um olhar, um viés da questão da sexualidade dentro de um contexto sócio-histórico. O termo política foi intencionalmente colocado entre a sexualidade e a educação. É justamente para que possamos refletir na regulamentação da vida sexual. Entretanto, as mudanças de comportamento podem influenciar nas políticas adotadas pelo governo. No decorrer da história vemos que independente do tipo de sociedade, sempre ocorreu alguma forma de controle sobre a sexualidade dos indivíduos que a compõe. Seja através da religião, ou dos tabus, a sociedade exerce alguma forma de pressão sobre o indivíduo. Basta pensarmos que há pouco tempo, refletir sobre orientação sexual era quase um crime. Pessoas sofreram e outras ainda sofrem, pelo fato de terem uma orientação sexual diferente. Isso é o resultado de séculos de omissão do governo, aliado à hipocrisia da sociedade. O papel da política é justamente integrar a sexualidade à educação, uma sociedade informada é uma sociedade mais tolerante, consciente e, sobretudo, saudável. Antes de nos aprofundarmos neste tema, aliás, nestas três vertentes de um mesmo tema, é importante nos perguntarmos, o que é sexualidade? Você sabe? A sexualidade de um indivíduo define-se como sendo as suas preferências, predisposições ou experiências sexuais, na experimentação e descoberta da sua identidade e atividade sexual, num determinado período da sua existência. Abaixo temos um interessante texto sobre sexualidade, de Marina S.R. Almeida, consultora em educação inclusiva, além de psicóloga e pedagoga do Instituto Inclusão Brasil. O que é sexualidade? “A sexualidade faz parte de nossa conduta. Ela faz parte da liberdade em nosso usufruto deste mundo.” (Michel Foucault) A Sexualidade é parte integrante de todo ser humano, está relacionada à intimidade, a afetividade, ao carinho, a ternura, a uma forma de expressão de sentir e expressar o amor humano através das relações afetivo-sexuais. Sua presença está em todos os aspectos da vida humana desde a concepção até a morte, manifestando-se em todas as fases da vida, infância, adolescência, fase adulta, terceira idade;sem distinção de raça, cor, sexo, deficiência, etc.; além de que não está apenas nos aspectos genitais, mas sendo considerada como uma das suas formas de expressão, porém nunca como forma isolada, como um fim em si mesma. Podemos definir sexualidade como um conjunto colorido que contém contato, relação corpórea, psíquica, sentimental, desejo voltado a pessoas e objetos; sonhos e delírios; prazer, gozo e dor; perda, sofrimento e frustração; crescimento e futuro; consciência, plenitude do presente e memória do passado; processos estes que vão sendo elaborados e dando espaço para novas conquistas. Sentimentos esses que se alternam, cruzam-se de modo imprevisível, exigindo uma progressiva capacidade do ser humano em ir dando compreensão e aceitação às mudanças. Tudo sempre vinculado a intensas sensações corpóreas, pensamentos constantes, parecem estarem no ar, uma sensação de apaixonamento constante, que pode ser pelo próprio corpo ou pelo desejo do corpo do outro, mas desejos, afetos e emoções que precisam ser resignificadas em cada um nós. Isto tudo encontraremos em cada um de nós, porque muitos já passaram por isto, chama-se processo de adolescer. As pessoas negam as transformações, outros passaram, outros se rebelaram, sofreram, outros curtiram, viveram, outros não podem nem se lembrar, outros foram quase que impedidos de viver esta experiência. Acreditamos ser a última possibilidade a mais preocupante e paralisante, porque impede de viver um amor verdadeiro. A questão circunscrever-se em como as pessoas com síndrome de Down e Autismo vivem a intensidade destas mudanças, deste novo conflito do desenvolvimento humano, inerentes a todas as pessoas, e ainda quando são impedidos de viverem seu processo de adolescência de maneira saudável. Portanto, a sexualidade não é exclusivamente física e das pessoas com deficiência, acabam tendo grandes dificuldades na esfera sexual. Visto que, é entendida apenas por sua concretude da sexualidade, sendo reduzida a apenas ao sexo genital, masturbação, namoro preocupante, gravidez, relações sexuais, homossexualidade, abuso sexual, doenças sexualmente transmissíveis... O desejo sexual aparece com a adolescência, denuncia que o corpo está se modificando que cresceu e exige adaptações, mudanças de relações, independência dos pais. Portanto, queremos dizer que os deficientes intelectuais e autistas não só querem se masturbar, querem ter relações sexuais, exibir os órgãos genitais que se tornaram maduros, querem muitas vezes tirar a roupa revelando seu corpo modificado, vivem tudo isto como uma vazão saudável, impulsiva é o que assusta a todos. Querem a possibilidade de escolher seus parceiros, de namorar e casar. Como qualquer pessoa precisa aprender a aguentar as relações afetivas, o vínculo e reconhecimento do outro, a necessidade do outro para se revelarem, dentro de um sistema familiar, de responsabilidades, limites e adequação social. E isso não pode ser mais considerado como patológico ou como um distúrbio de conduta. Encontramos casos que possam ter fatores assim, mas em nossa experiência a maioria das situações estava infelizmente relacionada ao manejo inadequado dos envolvidos com os portadores de necessidades especiais, portanto de entenderem e serem continentes a estas expressões humanas. Como conduzir estas emoções e comportamentos que transbordam em nós, nas pessoas, em nossos filhos, em nossos alunos? Este é o grande impasse, origem talvez de muitos conflitos dos pais, na família, na escola, entre profissionais ligados ao atendimento dos deficientes mentais e autistas. As famílias, sobretudo os pais, são as pessoas indicadas para atender essas necessidades no curso desse momento evolutivo. Eles conhecem o filho há mais tempo e podem proporcionar uma sensação de continuidade pessoal quando ele sente as ameaças externas. Deram-lhe o aparato necessário e os cuidados durante a infância, determinaram as regras, de modo que serão as pessoas indicadas para ajudá-lo em mais esse desafio. As crises ocorrem com o desenvolvimento normal dos adolescentes, independente de serem ou não portadores de necessidades especiais, trazendo à tona conflitos não resolvidos pelos pais, situações pensadas como resolvidas ou até mesmo esquecidas. A vivência de velhos problemas aparece para os pais em função dos filhos, aumentam a tensão em ambos os lados. É preciso educar-se para poder educar. É a oportunidade de aprender com as experiências dos filhos e resolver situações não vividas anteriormente. Embora os pais possam ser mantidos num estado contínuo de trocas de papéis, os filhos adolescentes conservam-se por um grande período ainda como crianças e dependentes, principalmente quando estão diante dos pais. É difícil compreender essa dualidade. O período inclui transformações e adaptações frequentes para o sistema dos pais e dos filhos. Os pais precisam aprender a desenvolver um relacionamento mais adulto com seus filhos, colaborando no processo de crescimento, dentro das condições impostas por esse mesmo processo. O adolescente experimenta uma contínua necessidade de sentir-se protegido enquanto vai ensaiando sua independência, se rebelando, procurando suas escolhas, indo contra aos hábitos dos pais, etc. O ideal seria que os pais estivessem presentes quando necessário, sem interferir muito, transmitindo uma sensação de firmeza para proporcionar o estabelecimento dos novos comportamentos que estão conquistando. Os pais podem sentir-se preocupados ao enviar seus filhos para um mundo que eles sabem ser complexo; providos apenas da simbólica preparação que lhes deram em casa. Essa é, no entanto, a vivência do citado ciclo da vida. Faz parte do processo de deixá-los crescer, que deve ocorrer entre pais e filhos para vivenciar a maturidade das experiências. Em todas as sociedades a adolescência constitui uma época de enormes transformações e de transições. Em nossa sociedade, ela é também um período de grande tensão, conflito, experiência e rebeldia. O adolescente passa muitas vezes por uma crise de identidade, quando está se preparando para assumir uma liberdade maior e as responsabilidades da vida adulta. Cabe aos pais a difícil tarefa de controlar o comportamento agressivo do adolescente, ajudando-o a aplainar o caminho para a maturidade. O adolescente é frequentemente absorvido pelo seu próprio grupo social, dotado de uma subcultura e de normas sexuais "particulares". Os anos adolescentes são difíceis para todos os jovens e são particularmente confusos e frustrantes para o deficiente intelectual. Nesse período a socialização atinge o seu momento de maior importância. Não é raro que o deficiente intelectual apresente vários problemas graves de adaptação nesta fase, por suas próprias dificuldades de interação com os indivíduos de sua idade e de um modo por vezes inaceitável. As habilidades de socialização são limitadas e restritas. Durante a puberdade, o aumento dos impulsos sexuais e o desenvolvimento de características sexuais secundárias apresentam problemas para o deficiente intelectual. As mudanças fisiológicas ocasionam problemas psicológicos para as pessoas na puberdade. No entanto, o indivíduo portador de deficiência intelectual terá menos oportunidade de compreender esses fenômenos. Muitas vezes, também, não tem acesso à educação sexual que poderia colaborar nesta compreensão. Com a chegada da adolescência, muitos pais passam a preocupar-se com o comportamento sexual dos filhos. O adolescente portador de um ligeiro atraso comumente não se diferenciará quanto ao desenvolvimento e às inclinações sexuais de outros jovens de sua idade. Devido às suas limitações intelectuais, alguns deles se tornam impulsivos e podem apresentar pouco discernimento em seus relacionamentos interpessoais, mas nada que uma boa conversa não resolva. As famílias necessitam de um espaçopara explorar seus temores e ansiedades relacionadas à sexualidade do adolescente e precisam de orientação específica para traçar planos educacionais, junto com sua participação na escola. A sexualidade é de grande importância no processo de desenvolvimento e educação do ser humano e, como tal, deve ser abordada também em relação à pessoa portadora de necessidades especiais. A educação sexual deve fazer parte da construção gradativa do ser humano, favorecendo uma personalidade psicologicamente sadia e socialmente adequada. As pessoas com deficiência desejam: • Como qualquer adolescente, eles gostam de ouvir música, dançar, ver televisão, produzir-se, passear, conversar, ficar juntos, falar alto, dar risadas, ter segredinhos, telefonar para a (o) amiga (o), querem comprar coisas da moda. • Como qualquer adolescente, eles percebem despertar dentro de si novos sentimentos, emoções, desejos, questionamentos. • Como qualquer adolescente, eles têm necessidade de compreender e viver esses sentimentos. • Como qualquer adolescente, também vão se descobrir tendo suas singularidades e necessidades diferentes. Quando eles percebem a deficiência, começam a questionar o que têm de diferente! Isto implica que estão em crescimento, o adolescente está se situando no mundo, conquistando sua identidade e espaço, quer saber por que está naquela escola ou classe, diferente de seu amigo ou seu irmão, se estivesse na escola normal em que série estaria, porque nasceu assim e outras coisas, dependendo do seu nível de compreensão e permissão para seus questionamentos. Sentem-se os “donos do mundo”, como qualquer adolescente, eles se acham capazes de fazer qualquer coisa, começam a descobrir o pensamento, a capacidade de pensar, tem despertado sua sexualidade, da mesma forma que outros jovens nessa fase. A diferença está na colocação dos limites necessários, na disponibilidade dos pais, educadores, profissionais envolvidos, que irão permitir que este crescimento tome forma. Como vimos, a sexualidade envolve muitos outros fatores, não podemos encará-la apenas como uma faceta que constitui nossa formação, ela faz parte e ao mesmo tempo é imprescindível em todos os níveis de relações interpessoais. Muito têm sido feito para ampliar as reflexões acerca das questões da sexualidade na educação nos mais diversos níveis. Entretanto o assunto ainda é visto com certo receio. Há três abordagens sobre o tema educação, ou orientação sexual. A primeira é a abordagem pedagógica, cujo intuito volta-se mais diretamente ao processo ensino-aprendizado de sexualidade. Valoriza também o aspecto informativo desse processo, podendo também focar no aspecto formativo, onde se promova discussões e reflexões sobre valores, atitudes, preconceitos, sentimentos e emoções. Em síntese, direciona o pensamento para a reformulação de valores, atitudes e preconceitos, na formação do indivíduo. Na segunda abordagem, temos a tradicional abordagem religiosa, em que é relacionada à vivência da sexualidade ao amor de Deus e à submissão às normas religiosas oficiais. Nesta abordagem, a meta é a preservação dos valores morais cristãos e o desenvolvimento da vida espiritual. Vincula obrigatoriamente o sexo ao amor pelo parceiro, ao casamento e especificamente à procriação. Encara-se o casamento e a virgindade como os dois únicos modos de viver em aliança com Deus, valoriza-se, sobretudo, a informação de conteúdos específicos da sexualidade, muitas vezes está comprometido com uma educação para o pudor. Por fim, temos a abordagem política, e por isto a importância desta na relação entre a sexualidade e a educação. Ela possui as seguintes características: Orienta para o resgate do gênero e do prazer na vida das pessoas. Também alerta para uma reflexão da importância de compreender as normas sexuais construídas socialmente. Propicia questionamentos filosóficos e ideológicos, ou pelo menos tenta mostrar a importância destes questionamentos. Encara a questão sexual como algo ligado diretamente ao contexto social, que influencia e é influenciado por este. Enfatiza a participação em lutas coletivas para transformações sociais, o maior exemplo disto é a parada gay, que começou a pouco mais de uma década e hoje mobiliza milhões de entusiastas e homossexuais para a questão da intolerância sexual. Sob esta última abordagem, baseia-se a atual concepção de sexualidade, envolvendo aspectos que vão desde o bem estar à saúde propriamente dita. Como sugerem os Parâmetros Curriculares Nacionais - PCNs, o “... tema orientação sexual deve abordar e considerar a sexualidade como algo inerente à vida e à saúde, que se expressa no ser humano, do nascimento até a morte.”. Relaciona-se com o direito ao prazer e ao exercício da sexualidade com responsabilidade. Englobam as relações de gênero, o respeito a si mesmo e ao outro. Inclui a importância de prevenção das doenças sexualmente transmissíveis, entre outras questões polêmicas. A orientação sexual na escola pretende contribuir para a superação de tabus e preconceitos ainda arraigados no contexto sociocultural brasileiro. Entretanto, é preciso que essas ideias além de figurar em qualquer projeto de lei, promovam a reflexão e discussão nos mais diversos âmbitos de atuação, seja no universo acadêmico, com professores e educadores, ou mesmo na família, por meio das trocas de ideias entre pais e filhos. Sexualidade na escola Pedagogia de gêneros O conceito de gênero surgiu entre as estudiosas feministas para se contrapor à ideia de essência, recusando assim, qualquer explicação pautada no determinismo biológico, que pudesse explicar os comportamentos de homens e mulheres. Tal determinismo serviu apenas para justificar as desigualdades entre ambos os sexos, a partir de suas diferenças físicas. O importante quando pensamos em relações de gênero é discutir os processos de formação histórica, linguística e social, instituídas na formação de mulheres e homens, meninas e meninos. A pedagogia de gêneros basicamente discute o gênero como constituição social que determinada cultura estabelece em relação a homens e mulheres, no que se refere à raça, idade, classe social, etc. Gênero aqui é entendido como as diferenças entre homens e mulheres dentro de um contexto socio-histórico e cultural, isto é, trata-se de um elemento constitutivo das relações sociais, fundamentadas nas diferenças de maneira que possamos compreender as complexas formas de interação humana. Como a ideia de gênero esta fundamentalmente ligada às diferenças biológicas e comportamentais entre os sexos, ela aponta para um caráter interacional entre homens e mulheres. Assim, a pedagogia de gênero leva em conta o outro sexo, na sua presença ou ausência. Além disso, esta pedagogia relaciona-se com outros aspectos do ser humano, não somente o fator biológico e cultural, mas também idade, classe social, etnia, etc. Esta forma de distinguir os opostos, não é uma exclusividade do universo adulto. As próprias crianças constroem os gêneros a partir da diferença, a fim de reforçar seu senso de identidade feminina ou masculina. Veja na charge abaixo, uma síntese do pensamento exposto acima, em que crianças estabelecem sua identidade sexual a partir das diferenças em relação ao outro. Construindo identidades. Quando nascemos logo nos primeiros anos aprendemos como falar, andar, quem é a mãe, etc. Quando tomamos ciência de que somos um indivíduo, isto é, quando nos reconhecemos enquanto sujeito é que começamos a construir nossas identidades de gênero e sexual. A maioria dos estudiosos acredita que não há uma identidade inata, trata-se de um processo em que a criança se desenvolve. Tais processos são influenciados por diversos fatores que constituem o próprio ser humano. A classe social, a etnia, a religião, o gênero, etc. Por estar em constanteformação, à identidade caracteriza-se pela incompletude. Entretanto, mesmo ela estando em constante desenvolvimento e formação, nós só conseguimos visualizá-la como acabada, bem resolvida, como fosse uma unidade de valor. Portanto, podemos entender que a identidade de gênero e a identidade sexual são plurais e em constantes transformações. Tais entidades embora pareçam à mesma coisa, são assuntos totalmente distintos. Enquanto a identidade de gênero liga-se à identificação histórica e social dos sujeitos, e que se reconhecem como masculino ou feminino, a identidade sexual está relacionada à opção que cada indivíduo tem de experimentar estas relações, ou seja, trata-se da maneira com que os indivíduos vivenciam seus desejos corporais, das mais diversas formas, sozinhos ou com parceiros, do mesmo sexo ou não. Em suma, identidade de gênero está relacionado apenas ao seu sexo, isto é, a que categoria pertence o indivíduo, homem ou mulher. E a identidade sexual é a orientação sexual que determinado indivíduo escolheu para si, isto é, se é homossexual, heterossexual ou mesmo bissexual. As identidades sexuais não são fixas e muito menos acabadas, ou seja, pessoas que nunca se relacionaram com pessoas do mesmo sexo podem vir a se relacionar em qualquer momento de suas vidas. A sexualidade tem sido colocada como tema central nas rodas pedagógicas de discussão, sobretudo ela é colocada como central a nossa própria existência, o governo acredita que a discussão deste tema nas escolas, “tem grande importância no desenvolvimento e na vida psíquica das pessoas, pois independentemente da potencialidade reprodutora, relaciona-se com o prazer, necessidade fundamental dos seres humanos” (Brasil. 1998:17). Apesar de algo natural, inato a cada um de nós, a sexualidade é vista ainda como algo a ser podado das mentes impuras. Família, escola, entre outras instituições querem de uma forma ou de outra, ter controle sobre ela. Sobretudo, os aparatos culturais, como livros didáticos e paradidáticos exercem também alguma espécie de controle sobre a questão da sexualidade, como nos mostra o exemplo a seguir. Quando observamos o papel do Estado, em relação a esta questão, vemos que esteve ausente durante muito tempo. Hoje através de algumas políticas públicas de orientação sexual desenvolvidas em algumas escolas percebe-se a tênue movimentação do governo em educar sexualmente seus cidadãos. Vejamos: “... Meninos de pré-escola que apresentam comportamento feminino, ou que só gostam de brincar com as meninas, devem ser incentivados de maneira gentil, mas firme a participar das atividades tipicamente masculinas... Os meninos que apresentam trejeitos femininos muito acentuados, além das atitudes tomadas pela escola, devem ser encaminhados para tratamento psicológico (Suplicy, 1990:77).” É possível perceber que, apesar do discurso de valorização das diferenças, e de uma proposta de reflexão acerca da sexualidade promovida nas últimas décadas, este tema mais do que nunca vem sendo, no mínimo, vigiado. De contrapartida, educadores têm tomado para si a responsabilidade de moldar a sexualidade dos alunos, impondo o que considera apropriado às meninas e meninos. Orientações ao educador Dentro de um contexto sociocultural, vemos que o professor é uma espécie de intermediador. Cabe a ele, a responsabilidade pela formação do aluno. A linguagem de abordagem também é de suma importância, é preciso analisar para que desta forma possa incluir ou excluir significados. A linguagem é o que aproxima o educador do educando. É preciso também considerar que estas questões vêm sendo pouco, ou quase nada, discutidas em salas de aulas, mesmo em cursos superiores de pedagogia. Ou mesmo abordada em uma conversa em família. Percebe-se ainda a necessidade de que pais e professores, psicólogos infantis e toda a diversidade de profissionais voltados à educação e ao cuidado de crianças, tenham uma visão de infância que dê conta de suprir as necessidades impostas pelo tema sexualidade. Em um mundo marcado cada vez mais pela diversidade, é fundamental que tenhamos a ideia de que diferenças sejam sinônimos de desigualdade. A cada dia percebemos a necessidade de capacitação do corpo docente em diferentes esferas da educação, inclusive a da sexualidade. Também a necessidade de avaliar nossos educadores, além de dar-lhes treinamento na área da orientação sexual. A sexualidade sempre foi um assunto de difícil discussão dada suas particularidades, por que cada um se relaciona de um jeito com sua sexualidade. Para crianças e adolescentes o contato com este assunto é ainda mais complexo. As descobertas, as curiosidades a respeito do próprio corpo, as caricias e, é claro o sexo, fizeram do assunto um grande tabu, pouco discutido e conversado, na escola e na família. Contribuindo ainda mais para uma espécie de ansiedade por informações, por parte das crianças e adolescentes. Por tudo isso, é necessário discutir o tema em sala de aula, e nas reuniões pedagógicas, para que a escola tenha não somente, alunos informados, como também educadores capacitados e preparados para esclarecer suas dúvidas. É importante que o professor mostre que as manifestações da sexualidade são prazerosas e fazem parte do desenvolvimento de todos, desta forma o educador estará contribuindo para o autoconhecimento do aluno. Este autoconhecimento está ligado ao aprendizado tanto das regras sociais de convivência, quanto ao reconhecimento dos desejos e das necessidades de cada um. O objetivo da educação sexual na escola consiste em colocar professores com um preparo adequado e desempenhar de forma significativa seu papel, ajudando os alunos a superarem suas dúvidas, ansiedades, angústias, pois “A criança chega na escola com todo tipo de falta de informação e geralmente com uma atitude negativa em relação ao sexo. As dúvidas, as crendices e posições negativas serão transmitidas aos colegas” (SUPLICY, 1983). Uma das grandes pensadoras a discutir a sexualidade foi Marta Suplicy. Desde o início da década de 1980 ela desenvolve estudos e traz o tema para a reflexão. Ela corroborou, de certa forma, para que hoje em dia, tivéssemos a ideia de que educação sexual não significa apenas transmitir informações sobre sexo. Mas também significa relação interpessoal, valores, atitudes, comportamento. É necessário observar se os educadores, de maneira geral, estão preparados para falar de sexo. A maioria não faz nenhum tipo de curso, o que trazem é o conhecimento prévio e em muitos casos deturpado sobre o assunto. Muitas vezes, suas experiências se deram apenas pela leitura de revistas que só leva em consideração o caráter biológico, desconsiderando os sentimentos e emoções, ou por vezes pela tímida troca de informação com colegas educadores. Muitos professores não possuem a própria sexualidade bem resolvida, tendo problemas no casamento ou consigo mesmo em relação a sexo. Em suas aulas certamente este educador transmitirá suas frustrações e inquietações. O professor deve também evitar emitir valores de juízo, ou uma opinião particular sobre este ou aquele assunto. Sabemos que é impossível sermos, de tal modo, isentos de qualquer valor, no entanto, é preciso atentar-se a este aspecto. Esclarecer os limites também é dever do professor, este deve dizer algumas coisas importantes a respeito do que se pode e do que não se pode fazer em locais públicos e privados. Em suma, deve trazer a ideia de individualidade, coletividade, intimidade e privacidade, isto cabe, sobretudo, às crianças que ainda não possuem esta noção. Na charge acima se pode observar como o autor faz uma crítica ao despreparo e à descontextualização do professor. Apesar do humor, trata-se da realidade em muitas escolas do Brasil. É extremamente necessário, olharmos com mais atenção para este tema, que deve serdiscutido intensamente nas escolas, desde que com o devido preparo do educador. PCNs – Parâmetros Nacionais Curriculares Primeiramente devemos saber do que trata os PCNs e quais seus objetos. Em síntese, são referências de qualidade para o ensino fundamental e médio. Foram elaborados por estudiosos da área pedagógica e têm o intuito de garantir a todas as crianças e jovens, o conjunto de conhecimentos necessários para exercitar sua cidadania. Os PCNs não têm caráter obrigatório, trata-se de um conjunto de sugestões que servem como ferramentas para que o educador possa ensinar de maneira significativa. Atualmente a sexualidade é vista como um problema de saúde pública, e a escola é o ambiente onde se deve começar a tratar desse assunto, através de informações. Desta forma, ela foi constituída nos PCNs – Parâmetros Nacionais Curriculares, contemplado nos temas transversais a fim de promovê-la em todo campo pedagógico. Tema transversal diz respeito à possibilidade de se estabelecer, na prática educacional, uma inclusão entre estudar conhecimentos teoricamente sistematizados. Esse tema age em conjunto com várias matérias, cabe ao educador ter orientação e discernimento para ministrá-los de forma coerente, mostrando aos jovens a importância de conhecer seus próprios limites. O tema sexualidade está na “ordem do dia” da escola. Presente em diversos espaços escolares ultrapassa as fronteiras disciplinares e de gênero, permeia as conversas de meninos e meninas e é assunto para ser tratado em sala de aula. No jornal Folha de S. Paulo, figura o seguinte texto: “o melhor método anticoncepcional para as adolescentes é a escola: quanto maior a escolaridade, menor a fecundidade e maior a proteção contra doenças sexualmente transmissíveis”. A escola é apontada como um grande aliado na veiculação de informações sobre formas de evitar gravidez e de se proteger de doenças sexualmente transmissíveis (DSTs). Uma pesquisa realizada pela Fundação Oswaldo Cruz entre julho de 1999 e fevereiro de 2001 mostra que 32,5% das mães que engravidaram na adolescência estudaram no máximo até a quarta série do ensino fundamental. Certamente a falta de instrução e escolaridade contribui para estes índices. A criação do tema transversal “Orientação sexual nos PCNs” é um indício da inserção deste assunto no âmbito pedagógico. O interesse do estado pela sexualidade da população tornou-se evidente depois desta proposta. Para termos uma ideia, vinte anos após o primeiro relato público de caso de AIDS, estima-se que as mortes causadas pela doença já chegam a 22 milhões. A incidência de adolescentes entre 10 e 14 anos grávidas no Brasil aumentou 7,1% entre 1980 e 1995. Por isso, atribui-se à escola a função de contribuir na prevenção dessa doença e dos casos de gravidez. É dever da escola, e não somente da família, desenvolver uma ação crítica, reflexiva e educativa que promova a saúde das crianças e dos adolescentes. Neste sentido, a educação física é apontada pelos PCNs como um espaço privilegiado para a orientação sexual. Resumindo, os PCNs são um conjunto de sugestões elaboradas por estudiosos do Ministério da Educação, para auxiliar o professor na abordagem de determinados assuntos em sala de aula. Por que a sexualidade tornou-se um problema bastante discutido em todo campo pedagógico, transpassando por diversas disciplinas? A sexualidade é o que há de mais íntimo na constituição do indivíduo, é também o que o caracteriza como humano. É um tema de interesse público, uma vez que a conduta sexual da população relaciona-se à saúde pública, aos índices de natalidade, à vitalidade das descendências, logo está relacionada também à produção de riqueza. Basta pensarmos que uma população saudável produz mais. A escola é uma das diversas instâncias sociais onde se exercita uma pedagogia da sexualidade e do gênero. Esses processos se completam através de uma espécie de autodisciplinamento e autogoverno sobre si mesmo. Portanto, a escola, além de construir e transmitir um saber de mundo, isto é uma experiência objetiva do mundo exterior, constrói e transmiti também a experiência que os indivíduos têm de si mesmos. Desta forma, os dispositivos pedagógicos podem ser concebidos como agentes constitutivos de subjetividades. A sexualidade das crianças e adolescentes já é, como dissemos, um problema escolar desde o século XVIII, justamente quando esta questão tornou-se uma preocupação pública. Como se percebe, a educação sexual não surge na escola a partir dos PCNs. Como vimos, a inserção da orientação sexual na escola parece estar associada a uma questão epidêmica. Além de mudanças significativas no comportamento sexual da sociedade. Os PCNs são, antes de tudo, um referencial fomentador da reflexão sobre os currículos escolares, uma proposta aberta e flexível, que pode ou não ser utilizadas na elaboração do currículo escolar. Pesquisas demonstram que este documento vem sendo utilizado com regularidade nas escolas, pelos educadores. Outra evidência da inserção dos PCNs na rotina escolar é a grande produção de livros voltados à orientação dos professores do ensino médio, sobretudo àqueles que tratam dos temas transversais. Além dos livros, são oferecidos cursos de reciclagem de educadores e palestras que trazem como tema a sexualidade. Diante desse quadro, análises sobre o que dizem os PCNs a respeito do tema orientação sexual é de fundamental importância para a área de educação. A fim de atingir os objetivos propostos pelos PCNs, o tema orientação sexual deve impregnar toda a área da educação e ser tratado por diversas áreas do conhecimento. Deste modo, o trabalho de orientação sexual deve ocorrer da seguinte forma, dentro da programação, através dos conteúdos transversais nas diferentes áreas do currículo escolar. Os programas de orientação sexual devem ser organizados em três eixos: O corpo matriz da sexualidade, relações de gênero e prevenção de doenças sexualmente transmissíveis. Trouxemos algumas concepções de sexualidade nos PCNs, a orientação é entendida como sendo de caráter informativo. A sexualidade é concebida como um dado da natureza, como algo inerente, necessário e fonte de prazer na vida. Fala-se muito em potencialidade erótica do corpo, necessidade básica, em impulsos de desejos vividos no corpo. Para termos uma ideia mais ampla seguem algumas citações de grandes pensadores e estudiosos da sexualidade, cujos conceitos, de certa forma, figuram nos Parâmetros Curriculares Nacionais. SEXUALIDADE NA SOCIEDADE Nos três últimos séculos, levando em conta as distinções históricas, segundo Foucault (1997a, p. 21) houve uma explosão discursiva “em torno e a propósito do sexo”. Para o autor, houve um refinamento do vocabulário autorizado, um controle das enunciações, isto é, definiu-se quem fala, para quem fala, onde se fala e como se fala. A sexualidade vem sendo tratada em distintas instâncias sociais – na família, na Igreja, na escola, entre outras – e por diferentes campos – o da medicina, da psicologia, da biologia, da pedagogia – que em geral instigam a falar para escutar, e/ou registrar e redistribuir o que dela se diz (RIBEIRO, 2007). A sexualidade humana é resultante de um complexo processo envolvendo a sociedade e a cultura, que interagem influenciando o comportamento sexual. Ao longo da vida o indivíduo sofre a todo o momento influências da família, dos meios de comunicação, da religião ou da escola que o pressionam e moldam aos padrões de comportamento impostos pela sociedade (AQUINO, 1997). Até mesmo quando tratamos de analisar o tema é possível que as afirmações e conclusões feitas acerca de certas particularidades estejam contidas na própria cultura em que estamos inseridos. As transformações sociais, que foram observadas nas últimas décadas e que constituem a cultura de ummodo geral, influem de maneira peculiar na "cultura da sexualidade", visto que exerce um importante papel frente aos diversos comportamentos diante do tema. Por outro lado, cada indivíduo interage de maneira própria e única com o seu meio, e é nessa particularidade do comportamento que se estabelece aquilo que se costuma chamar de "livre-arbítrio" (AQUINO, 1997). Se no âmbito social a sexualidade sempre foi um tema polêmico, no âmbito educativo, é assunto delicado, pois gera alguns "dilemas pedagógicos" do tipo: o quê?, para quê?, quem?, e como orientar a sexualidade dos alunos? A sexualidade determinada biologicamente como um atributo biológico deve ser questionada, pois ela tem sentido muito mais amplo quando passamos a entendê-la como uma construção histórica e cultural. A SEXUALIDADE E O DISCURSO BIOLÓGICO Se, por um lado, o professor de ciências ou de biologia está capacitado a ensinar sobre a anatomia e a fisiologia dos aparelhos reprodutores masculino e feminino, por outro, deve estar comprometido com uma postura pedagógica que possibilite considerar os aspectos emocionais, culturais e éticos que envolvem os temas abordados, a formação dos professores deve compreender também um perfil de educador da sexualidade, no sentido de esclarecer, orientar e informar (RIBEIRO, 2007). A escola é um bom lugar para essas reflexões e discussões, mas para tal é necessário um comprometimento, pesquisa sobre o assunto, e coragem de muitos professores, pois às vezes sem perceber, já ficam incomodados em transmitir esse tipo de conteúdo. Mas por que tal dificuldade? Começa pelas reações dos alunos: sorrisinhos maliciosos, piadinhas, burburinho geral, e, claro, as perguntas indiscretas que ultrapassam o saber da biologia (AQUINO, 1997). Na escola, o discurso biológico tem ocupado um espaço privilegiado em relação aos outros, visto que existem muitos programas de educação sexual, como livros, manuais, mas a sexualidade está principalmente vinculada com o conhecimento anátomo- fisiológico dos sistemas reprodutores, ao uso de métodos anticoncepcionais, aos mecanismos de prevenção de doenças sexualmente transmissíveis e da AIDS (RIBEIRO, 2007). Esta intenção é evidenciada na justificativa de implementação dos PCNs. Nesse âmbito a sexualidade tem ficado ligada somente a aquisição de conhecimentos científicos dos sistemas reprodutores e á genitalidade – atributo de natureza biológica compartilhado por todos, independentemente de sua história e cultura. Discutir a sexualidade de outra forma implica algumas mudanças, o que não é tarefa fácil nem trivial, pois a sexualidade é uma experiência histórica e pessoal. Discutir com os alunos a sexualidade não a partir dos sistemas reprodutores, mas a partir de questões éticas, sociais e históricas, as quais possibilitariam aos jovens pensarem nos seus relacionamentos, no prazer, na responsabilidade, na liberdade de escolha, na virgindade, nas drogas, nos arranjos familiares, nas relações entre homens e mulheres, etc., seria uma forma de abordar de maneira mais ampla o “conteúdo da sexualidade” Os PCNs tratam basicamente de como educar o corpo, que é a matriz da sexualidade. Isto deve ocorrer primeiramente no âmbito discursivo na escola, isto é, através do diálogo, da troca de ideias e experiências. Através desta troca de ideias, desta explosão discursiva sobre a sexualidade é que se constrói um “saber”. Este saber é que proporcionará ao indivíduo um autoconhecimento. Assim, por meio da colocação do sexo na pauta da discussão nas instituições de ensino, há uma espécie de controle exercido sobre os indivíduos, este se exerce não por punições, proibições, mas através de mecanismos positivos de poder que objetivam produzir sujeitos autodisciplinados no que tange à forma de vivenciar sua sexualidade. Os PCNs sugerem que ao tratar sobre doenças sexualmente transmissíveis, os educadores, de maneira geral, não devem relacionar de maneira parcial a sexualidade, às doenças e à morte. Mas sim, oferecendo informações relevantes sobre as doenças, tendo como objetivo a promoção da saúde e de condutas preventivas. Em suma, a mensagem que se deve transmitir aos jovens, não deve ser “AIDS mata”, e sim “AIDS pode ser prevenida”. Os conteúdos desenvolvidos nas instituições de ensino devem destacar a importância da saúde sexual e reprodutiva, bem como os cuidados necessários para promovê-la. O papel da escola neste sentido, juntamente com os serviços públicos de saúde, é de conscientizar para a importância de ações não só curativas, mas também preventivas, atitudes denominadas de “autocuidado”. A escola deve ressaltar que o bem estar e a saúde dependem de como você se relaciona com sua sexualidade. Deve transmitir a ideia de que sim, o sexo é prazeroso, e pode também ser seguro. Nos PCNs, há uma grande intenção de estruturar as ações dos alunos e alunas de modo que eles absorvam a mentalidade preventiva e pratique-a sempre, incondicionalmente. O professor e a diversidade. A sexualidade sempre foi um tema complicado de ser abordado, sobretudo nas instituições de ensino. Era pouco discutido entre os profissionais da educação. É extremamente necessária, a capacitação dos professores sobre a sexualidade para que eles possam também orientar e informar os educandos. Algumas medidas vêm sendo tomadas no intuito de subsidiar o profissional da educação de informações sobre o tema. Isso porque, cada vez mais os jovens querem falar sobre sexo, crianças e adolescentes estão descobrindo a sexualidade e os limites do próprio corpo. Nessa medida, o professor deve saber como direcionar uma conversa. O papel do professor é tão importante, que dependendo de sua postura pode interromper todo um processo de autoconhecimento, colocando dúvidas e mitos no imaginário dos alunos. Numa situação rotineira, podemos perceber o quão o professor é importante e contribui na formação do indivíduo. Abaixo um pequeno trecho reproduzido da internet, que ilustra uma situação que vem se tornando bem comum nas salas de aula pelo Brasil afora. A pergunta, feita por uma aluna de 8 anos para a orientadora educacional Dilma Lucy de Freitas durante uma aula para a 3ª série de uma escola particular de Florianópolis, poderia provocar diversas reações na professora. Se ela mostrasse espanto e indignação, por exemplo, as crianças deduziriam que sentir essas coisas deve ser anormal. Se fingisse não ter escutado, os pequenos achariam que é melhor não falar sobre o corpo (e, mais tarde, sobre a sexualidade). Dilma respondeu que o corpo recebe estímulos: um cheiro gostoso de comida faz a gente sentir vontade de comer e um vento frio faz a pele se arrepiar. Do mesmo modo, algumas imagens (como o casal que se beija) estimulam os órgãos sexuais e por isso a vagina se contrai ("pisca"). A aluna, satisfeita com a informação, foi brincar. Desde bebês, sentimos prazer em tocar o próprio corpo e descobrir as diferentes sensações que ele nos proporciona. Fingir que as crianças não passam por esse processo é negar a realidade. O sexo é parte da vida das pessoas (aliás, uma parte importante e muito boa) e é por essa razão que a escola e a família devem ajudar a construir nos pequenos uma visão sem mitos nem preconceitos. "Esse é um tema que envolve sentimentos e desejos e, portanto, não pode ser abordado só com explicações sobre o funcionamento do aparelho reprodutor e palestras médicas. A orientação sexual deve ser feita com afeto", afirma Antonio Carlos Egypto, psicólogo e coordenador do Grupo de Trabalho e Pesquisa em Orientação Sexual (GTPOS), em São Paulo. O constrangimento dos pais em tratar do assunto aumenta a falta de informação dos jovens e faz com que a escola se torne o principal espaço de educação sexual (vale lembrar que a orientação sexual é um dos temas transversais previstos nos Parâmetros CurricularesNacionais – PCN). Situações iguais a essa ocorrem diariamente em milhares de instituições de ensino. Imaginem se em todas as escolas tivéssemos professores bem informados e preparados. Aqui vão algumas dicas, sugeridas por especialistas e estudiosos do tema, de como deve ser a postura do professor diante da diversidade dos gêneros e da sexualidade. Devido à importância das aulas sobre sexualidade para os jovens, em que aprendem a conhecer e a lidar com seus próprios desejos, necessidades e emoções. - O professor deve sempre encarar a dúvida de seu aluno como relevante por mais simples que pareça. - É importante também que o professor promova debates e rodas de discussão em sala de aula, sobretudo que esteja disposto a ouvir sempre. - A opinião do educador não tem relevância, o importante é a discussão entre os alunos. - Informações comprovadas cientificamente têm muito valor em sala de aula, dão aos alunos mais legitimidade. - É interessante levantar dúvidas sem personalizar, a última coisa que se quer é expor o aluno. - As discussões devem ter caráter generalizador, perguntas de natureza pessoal constrangem qualquer pessoa, portanto, mantenha a discussão “sem dar nomes aos bois”. E o mais importante, não se intrometa na intimidade do aluno. - Trazer os mais tímidos para a discussão através de jogos e dinâmicas em grupo é importante. - Por fim, deve haver uma espécie de acordo entre o educador e os jovens, em que garanti o sigilo do que foi discutido em sala de aula, para que não ocorram zombarias e comentários maldosos dos colegas. O respeito é à base de qualquer tipo de relação humana, este caso, não é exceção. O papel da escola Tendo em vista que a sexualidade é um aspecto inerente aos seres humanos, que também influencia o pensamento, sentimentos e emoções, além de estar diretamente ligado ao bem estar físico e psicológico do indivíduo, podemos refletir sobre o papel das instituições de ensino ao tratar da sexualidade. A escola tem como responsabilidade prezar pela saúde e bem estar, dos seus alunos, sobretudo proporcioná-los uma formação acadêmica que garanta cidadania, respeito e consciência. A educação, ou orientação sexual, no ambiente escolar tem fundamental importância na constituição desses cidadãos, além de servir como uma medida preventiva. Também serve como destruidor de tabus e preconceitos, valorizando o respeito às diferenças. Visando uma educação voltada à cidadania e à autonomia do aluno, os PCNs propõem em forma de temas transversais a inclusão da orientação sexual no currículo escolar. A proposta de orientação sexual nos PCNs é justamente trabalhar o esclarecimento e a problematização, com o intuito de promover a reflexão e a reformulação das informações. Lá é ressaltada, a importância de se abordar a sexualidade não somente do ponto de vista biológico, mas também em relação aos aspectos sociais, políticos e culturais. Segundo os Parâmetros Nacionais Curriculares a orientação sexual deve fazer parte do plano político pedagógico da escola, sendo desenvolvida de forma continuada e paralela a todas as disciplinas. Deve, de maneira geral, contribuir para a construção de seres livres e autônomos, capazes de desenvolver e exercer sua sexualidade de maneira prazerosa e responsável. Entretanto, não é o que apontam as pesquisas. Elas revelam que esta não é a realidade nas escolas de todo o Brasil. Apesar da evidente necessidade de abordar o tema da sexualidade, percebe-se certa inércia das instituições de ensino. As escolas e os profissionais da educação não se mostram comprometidos, não se importam, ou no mínimo, não se sentem à vontade para tratar do tema com seus alunos. Desde 1997 o tema da sexualidade é tratado nas instituições de ensino e trabalhado com alunos a partir de sete anos, ou ao menos deveria ser. Entretanto atualmente, não se tem ideia de quantas escolas aderiram à proposta dos PCNs. É justamente neste ambiente escolar, que ocorre o primeiro beijo, o primeiro namoro, isto é, é lá onde ocorrem as primeiras experiências do jovem com a sexualidade. A escola para o aluno significa muito mais do que um lugar para adquirir conteúdo acadêmico. Lá ocorrem vivências, e experiências, independentemente da idade do educando. O estudante simultaneamente ao aprendizado tradicional, também adquire valores, constrói relações e desenvolve sua sexualidade. Despertando interesse e curiosidade em meninos e meninas. Desde a infância, a questão da sexualidade faz-se presente em todas as séries. A sexualidade é uma forma de expressão de nosso modo de pensar, sentir, comunicar e agir. Portanto, ela está presente em toda nossa vida, desde os primeiros anos até os últimos. Investir no crescimento sexual é favorecer também o crescimento pessoal. Certamente, aprende-se muito sobre si mesmo quando se aprende sobre sexualidade. Sendo assim, a educação sexual não está restrita ao universo adolescente, justamente por não ser mais um método contraceptivo ou de prevenção de doenças sexualmente transmissíveis. Abaixo uma síntese de algumas iniciativas que o educador pode utilizar, tratam-se de dicas de atividades, projetos, oficinas, em suma, um modelo de orientação sexual. Síntese de Modelo de Orientação Sexual nas Escolas a) preparo e capacitação dos professores e funcionários sobre as questões de sexualidade, drogas e violência. Informações e oficinas para sensibilização e trabalho dos aspectos psicológicos. Esse é o alicerce do trabalho, pois são as pessoas que estão no dia-a-dia da escola e em contato diretíssimo com os alunos. b) apresentação do projeto para os pais, com os parâmetros morais nítidos (não vamos condenar isso ou aquilo, nem estimular isso ou aquilo, vamos fazer tais e tais trabalhos...) c) oficinas com alunos: o que eles querem e precisam discutir? Caixa com dúvidas anônimas, espaços para discussão com suporte de um psicólogo, espaço para mobilização de sentimentos relacionados às opiniões e atitudes diante da vida. d) trabalho junto à direção e coordenação, para garantia de sigilo e autonomia da equipe, definição dos objetivos e apoio logístico. Educar para sexualidade é educar para a cidadania, autonomia, em suma, educar para a sexualidade é educar para a vida, e para isso não há idade ideal e é tarefa de todos educadores. Educação preventiva Colocada de forma polêmica na mídia, a disciplina de orientação sexual ainda causa estranhamento em jovens e crianças na escola. Por não ser tão abordada, gera uma série de problemas associados à droga, sexo irresponsável, família desestruturada, entre muitos outros. Quando se trabalha a educação preventiva com crianças, algumas questões devem ser refletidas e postas em prática. Em primeiro lugar, a educação preventiva objetiva estabelecer valores de forma consciente e planejada. Este é um desafio contemporâneo que precisa ser assumido por pais e professores. A orientação sexual corrobora com valores que podem levar crianças e jovens a adquirir noções significativas como justiça, responsabilidade, autonomia, respeito por si e pelos outros, influenciando diretamente na construção de uma sociedade melhor. É extremamente importante pais e professores estarem atentos aos valores que são transmitidos, seja através de atos ou palavras. Algumas questões não só podem como devem ser abordadas pelos educadores juntamente com pais e alunos. Sexo tratado com naturalidade em sala de aula Em sala de aula o tema sexualidade deve ser tratado como outra disciplina. Deve haver um envolvimento incondicional por parte dos professores e pais. É preciso desenvolver nos alunos o respeito pelo próprio corpo e pelo próximo. É fundamental desenvolver atividades que promovam a reflexão sobre as diferenças de gênero e relacionamento. Dar informações sobre gravidez, métodos anticoncepcionais e, sobretudo,informar sobre o perigo das doenças sexualmente transmissíveis. Em suma, a orientação deve objetivar a conscientização sobre a importância de uma vida sexual responsável, deve mostrar que o sexo, pode ser prazeroso, mas além de tudo, seguro e responsável. Outro fator de extrema importância é a capacitação da equipe, professores e funcionários devem estar preparados para lidar com manifestações da sexualidade das crianças e jovens. É necessário o educador participar de cursos de capacitação sobre temas como falar e agir com crianças e adolescentes, prazer e limites, gravidez e aborto, DSTs, etc. Na pré-escola, devem-se priorizar as diferenças de gênero. Nesta idade a criança ainda esta se descobrindo, baixar e levantar as calças são sinais de curiosidade. Aqui é sugerido que o educador promova um debate sobre o que é ser menino e o que é ser menina. É normal que os pequenos toquem os genitais para ter prazer e para conhecer o próprio corpo. É de suma importância propor a descoberta de outras formas de satisfação na escola, como brincar na areia e na terra ou na água. Deixar a criança explorar esses elementos é extremamente positivo. É preciso incentivá-los a falar sobre o que sentiram e sobre as partes do corpo que dão prazer, inclusive pênis e vagina. Pode-se sem dúvida, dizer a eles que é normal tocar os órgãos genitais, entretanto, por se tratarem de partes íntimas do corpo, não se deve manipular em locais públicos. É muito comum crianças nesta idade flagrarem os pais tendo relações sexuais, ou mesmo imagens obscenas na televisão. Neste momento é necessário levantar questões como: Todos sabem como nasceram? Levantar as dúvidas e reiterar que sexo é coisa de adultos é extremamente positivo apresentar bonecos com pênis e vagina para que eles mesmos explorem as diferenças entre ambos. Gravidez é outro tema que suscita a curiosidade das crianças, o interessante é abordar o tema de maneira natural, sugere-se a produção de cartazes informativos para o esclarecimento de dúvidas em sala de aula. Já do 1º ao 5º ano, começa-se a descobrir o vocabulário da sexualidade. Nesta etapa as crianças começam a descobrir os palavrões, que são usados para fazer graça ou para agredir. Mas eles perdem o sentido quando colocados na lousa. Explique o significado de cada um deles, deixe claro que todos podem ser ofensivos, portanto não devem ser usados, sobretudo em público. Caso os palavrões façam menção aos órgãos sexuais, levante com eles, outros palavrões que a turma conheça para pênis e vagina. É importante botar tudo em discussão, isto é, em debate. Os padrões de beleza também devem ser discutidos. Ao perceber que alunos debocham da aparência de um colega, o educador deve seguir o bom caminho, propondo uma discussão sobre os padrões de beleza. Para alunos desta faixa etária, um bom recurso é o filme Shrek, que aborda justamente este tema. E por meio do filme faça questionamentos, sobre o que é realmente bonito? Uma boa atividade é propor aos alunos que descrevam as qualidades ou algo que ache bonito no colega. Isso estimulará os alunos a perceberem que os padrões de beleza são efêmeros e sem importância. Do 6º ao 9º ano, é a fase da puberdade, neste momento sugere-se ao educador que exponha no quadro, desenhos de corpos femininos e masculinos em diferentes fases do crescimento. Perguntar aos alunos o que eles entendem como puberdade também é positivo. Posteriormente, sugere-se que se explique as transformações físicas e psicológicas e por que elas ocorrem. Esta atividade pode ser realizada por escrito (se não quiser expor o aluno) ou oralmente. Para discutir maternidade e paternidade pode-se utilizar a leitura de um poema de Vinicius de Moraes chamado “Enjoadinho” para iniciar a discussão. Elaborar perguntas sobre as necessidades de um bebê durante o período de gestação é uma boa forma de começar. “Filhos...Filhos? Melhor não tê-los! Mas se não os temos Como sabê-lo? Se não os temos Que de consulta Quanto silêncio Como o queremos! Banho de mar Diz que é um porrete... Cônjuge voa Transpõe o espaço Engole água Fica salgada Se iodifica Depois, que boa Que morenaço Que a esposa fica! Resultado: filho. E então começa A aporrinhação: Cocô está branco Cocô está preto Bebe amoníaco Comeu botão. Filho? Filhos Melhor não tê-los Noites de insônia Cãs prematuras Prantos convulsos Meu Deus, salvai-o! Filhos são o demo Melhor não tê-los... Mas se não os temos Como sabê-los? Como saber Que macieza Nos seus cabelos Que cheiro morno Na sua carne Que gosto doce Na sua boca! Chupam gilete Bebem xampu Ateiam fogo No quarteirão Porém, que coisa Que coisa louca Que coisa linda Que os filhos são!” Posteriormente é recomendado que o educador fale também sobre a necessidade dos pais, quanto de dinheiro seria necessário para criar um bebê. Neste momento é interessante questioná-los se é possível um adolescente ser pai e mãe e prover tudo o que o bebê precisa. É possível ir além e continuar a discussão perguntando-lhes se ocorresse uma gravidez indesejada, o que teriam que abdicar para criar o filho, quais as vantagens de adiar a gravidez. Por fim é sugerido que o professor solicite uma produção textual, isto é, uma redação sobre o que espera do futuro, quais seus desejos e sonhos para vida, e como seria se tivessem filhos. Outro tema recorrente entre os alunos desta faixa etária são os métodos anticoncepcionais. É interessante levar para a sala de aula carteiras de pílulas, camisinhas masculinas e femininas, tabelinha, e outros métodos. Desta forma, os alunos podem ter contato com este tipo de informação. Em sala de aula é necessário fazer circular entre todos, dando explicações sobre cada tipo. As atividades em grupo são muito positivas, sendo assim, dividir a sala em dois grupos e realizar demonstrações de uso da camisinha em bananas e cenouras, possibilita ao aluno um contato prévio com o preservativo. É de suma importância ressaltar aos alunos que a camisinha feminina e masculina é o único método anticoncepcional que previne a AIDS entre outras DSTs – Doenças Sexualmente Transmissíveis. O aborto é outro tema relevante para figurar numa discussão em grupo em sala de aula. No Brasil a interrupção intencional da gravidez é crime, exceto quando a mãe é vitima de estupro, ou corre risco de morte. Antes de realizar o debate o educador pode oferecer textos sobre o tema. Dividir a classe em dois grupos para discussão é uma ótima ideia, enquanto o primeiro deve argumentar a favor do aborto, o segundo será contra. Posteriormente inverta os papéis. Para falar de DSTs é interessante trazer alguns exemplos, como exemplo, para ouvir a Via láctea, de Renato Russo, e Ideologia, de Cazuza, ambos mortos em decorrência da AIDS. Questione se os alunos sabem o significado da sigla. Posteriormente selecione o trecho “... Essa febre não passa”, “... meu prazer agora é risco de vida” e discuta o seu significado. Levante juntamente com os alunos, os dados sobre os índices de incidência da síndrome na população, a análise mostrará que não existe grupo de risco, mas sim atitudes de risco. É recomendado conversar sobre outros tipos de DSTs e seus meios de prevenção. Outro tema interessante para se abordar em sala de aula é a questão do homem e da mulher, o que é ser homem e mulher. Questione-os por que é tão estranho um menino dizer que quer ser bailarino, ou uma menina que sonha ser jogadora de futebol. A homossexualidade e a bissexualidade são assuntos complexos. Ao tratar deste assunto é preciso ser ameno, no entanto com naturalidade. Assistir um filme que trate do tema pode auxiliar o trabalho. Pergunte-os se só existe amor entre homens e mulheres, ouça as opiniões, posteriormente reflita com os alunos sobre as diferentes formas de amar. Tudo isso sem esquecer-se de reiterar que o respeito à orientação sexual tambémdeve ser primordial. O papel da família A família tem papel fundamental no processo de construção da sexualidade. Sabemos que a falta de informação, o preconceito, a imagem negativa do sexo e os conceitos distorcidos acerca da sexualidade, por fazerem parte da cultura, nos atinge diretamente. Sendo assim, a educação sexual recebida na família, é permeada de preconceitos, de geração em geração, isso influencia e traz sérias consequências à vida sexual de seus membros. Por exemplo, em uma família de pensamento tradicional é muito difícil conversar abertamente sobre sexo, homossexualidade, etc. A família que ama, acolhe e dá carinho é a mesma que pune, reprime e ameaça. É bem comum famílias com este perfil retalhar manifestações da sexualidade. Em casos assim, esta mesma família encara o sexo como algo sujo, impuro, ameaçador e proibido. Estas são regras e conceitos transmitidos, muitas vezes, por pessoas que tem grande significado em nossas vidas, isso certamente ocasionará um trauma. O papel da família, em síntese, na orientação sexual é o de nortear valores e critérios morais. Critérios estes, muitas vezes, concebidos pela condição social, religião, entre outros fatores. É importante que a família tenha clareza do que sente e do que espera de seus membros. Entretanto, é bem complicado estabelecer uma noção de certo e errado. Abaixo um interessante texto sobre a sexualidade. Trata-se de uma situação rotineira, em que a criança faz perguntas “cabeludas” à mãe. Também há algumas dicas de como lidar em situações como esta. Apesar da importância da escola nesse processo, os pais permanecem com um papel fundamental. A sexualidade faz parte de todos os seres humanos, e lidar com elas é um desafio para todos. Porém, quando se trata das crianças, como educá-las sexualmente? E como a escola pode ajudar na hora de falar sobre esse tema tão delicado? A jornalista Clara* está enfrentando essa questão com sua filha de sete anos. Ela pretende ter mais um filho e "ela vive dizendo que quer ver quando o maninho for feito", conta. "Ela conta para todo mundo, me deixa numa saia justa", completa. A resposta de Clara costuma ser que essa é uma situação que não tem como ver, que não se enxerga isso acontecendo. Porém, a mãe tem muitas dúvidas sobre como falar sobre o assunto. Para a pedagoga e sexóloga Ariana Magalhães, a educação sexual não deve ser vinculada apenas a aspectos corporais, mas principalmente com o desejo, o sentimento e como nos sentimos sendo homens ou mulheres. "Deve proporcionar uma integração entre características físicas, emocionais, intelectuais, sociais, históricas e culturais", afirma. Por ser um local em que crianças e adolescentes passam grande parte de suas vidas, a escola é um lugar privilegiado para aprendizagem, construção de valores e formação de consciência humana. "O papel do colégio deve ser o de priorizar os questionamentos dos pais e dos estudantes, informando, conscientizando e desmistificando crenças e tabus", diz Ariana. Clara acredita que a escola deve ser um apoio, que complementa a educação que se dá em casa. Porém, uma mãozinha não seria de se jogar fora quando o assunto é sexo. Neste caso, sinceramente, acho que seria mais fácil se a escola ajudasse, porque é um assunto delicado. Acho que a mensagem precisa ser passada corretamente, e a didática pra isso é muito importante, argumenta. Ariana acredita que há uma falha na formação acadêmica dos professores, que não tiveram a oportunidade de conhecer e discutir sobre sexualidade. "É preciso um investimento maior nessa área, para que possibilite nossos educadores um conhecimento aprofundado sobre o assunto, gerando mais tranquilidade e confiança para abordar o assunto", opina. O trabalho deve ser realizado desde a educação infantil, para ajudar mães como Clara a sanarem as dúvidas dos seus pequenos. Aliás, nessa idade, as crianças já têm até manifestações sexuais, como o ato de chupar o dedo, o controle do esfíncter e a masturbação. "Elas são naturais e devem ser vividas para que a criança possa desenvolver a sua maturidade sexual, sem traumas nem tabus", alerta. Apesar da importância da escola nesse processo, os pais permanecem com um papel fundamental. É no núcleo familiar que as crianças aprendem os primeiros conceitos sobre o seu corpo, sua identidade e sobre o que é permitido ou desaconselhável na sociedade em que vive. A pedagoga lembra que a atitude dos pais em relação à sexualidade é a principal influência na educação sexual dos filhos. Quando há perguntas esclarecidas e demonstrações de afeto, a criança assimila a capacidade de amar e erotizar- se. *O nome foi trocado a pedido da entrevistada Como vimos à família tanto pode ser um elemento agregador na construção da sexualidade, como também pode ser seu algoz, é importante ter em mente que o apoio e a compreensão da família é fundamental. Quebrando os dogmas Vamos falar sobre sexo? Quando se fala sobre sexo é possível imaginar os risos envergonhados e marotos, gozações ou mesmo broncas dependendo do contexto. Ainda hoje, em pleno século XXI, não é um assunto abertamente discutido. Tratando-se de sexo, mais importante que conversar, é a maneira como se conversa. O primeiro passo para desmitificar a sexualidade é falar sobre ela numa boa. As atitudes negativas frente ao sexo são muito mais maléficas que a ignorância. Tanto é verdade, que pessoas mal informadas sobre sexo, do índio ao caipira, podem ter uma vivência sexual plena e sadia com pouca informação. O trabalho do adulto seria apenas preservar esta sexualidade nascente, que esta em processo de construção. Entretanto, o que ocorre é exatamente o contrário, a postura metódica e retrógrada é dirigida a estragar e a oprimir tudo isso. Só informar não basta, para desenvolver uma atitude positiva em relação ao sexo é fundamental encorajar e expressão da sexualidade desde a infância. Esta postura é que determinará a relação do indivíduo com sua própria sexualidade. Vivemos em uma época de transição, que se arrasta desde a década de 1980. A visão da sexualidade mudou muito rapidamente desde então, esta mudança deixou os pais sem norte. Isto é, perdidos sem informação e sem capacidade de discutir o tema. Isso porque eles são de uma geração em que tudo era proibido, agora se deparam com a liberdade e não entendem, sentem medo e insegurança. Tratando-se de Brasil, ainda é possível ver o preconceito e a intolerância a respeito de diversos assuntos. Por exemplo, em algumas regiões do país podemos observar certa repreensão sobre as mulheres que não casam virgem, ou mulheres separadas. Antigamente os pais não tinham muito problema em definir o que é certo e errado. Os valores eram absolutos e imutáveis. Hoje é difícil haver um consenso sobre um sistema de valores sexuais. Basta observar que dentro de uma mesma família, pode haver diversas opiniões acerca de sexo. Isso não significa que não há valores para serem transmitidos e ensinados. Pais e educadores devem defender e desenvolver na educação sexual alguns princípios fundamentais: 1 - O respeito por si próprio e pela sua dignidade como pessoa; 2 - O respeito ao outro. A ninguém é permitido ver o outro como um simples objeto de prazer, para fazer suas necessidades; 3 - O acesso à informação. Responder o que a criança quer saber de maneira honesta e não preconceituosa; 4 - Ajudar a criança a desenvolver o espírito de crítica. Através da não supressão da curiosidade e do estímulo ao questionamento. A criança desenvolve a capacidade de raciocínio, adquirindo condições para refletir sobre o que a cerca e escolher o que lhe convém. As primeiras manifestações da sexualidade da criança geram, em tempos atuais, uma preocupação: “devo fazer algo?” E a pergunta: “ o que?” “como?”. E outras tantas perguntas cabeludas. Sendo assim, como conversar
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