Buscar

curso_sexualidade_e_a_educacao_sp__62654

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 67 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 67 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 67 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

Seja bem Vindo! 
 
Curso 
Sexualidade e a Educação 
CursosOnlineSP.com.br 
 Carga horária: 55hs 
 
 
 
Conteúdo Programático: 
 
Contextualização 
A sexualidade e a orientação sexual no Brasil 
Sexualidade, política e educação 
Sexualidade na escola 
Pedagogia de gêneros 
Orientações ao educador 
O papel da escola 
O papel da família 
Quebrando os dogmas 
Vamos falar sobre sexo? 
A homossexualidade 
Gravidez na adolescência e o aborto 
Drogas 
DSTs 
Orientação sexual 
Orientação sexual X Educação sexual 
Construção da identidade sexual 
Primeiras experiências 
Sexualidade na infância 
Sexo na adolescência 
Dúvidas frequentes dos pais em relação aos filhos 
Encerramento 
Bibliografia 
 
 
Contextualização 
A sexualidade humana tem sido ao longo dos tempos, objeto de estudo em 
várias pesquisas. Neste contexto, a orientação sexual aparece com relevante 
significado, isso em virtude da sua relação com a própria condição humana. 
Acredita-se que a sexualidade está arraigada na existência humana do 
nascimento à morte, permeando todas as manifestações do indivíduo. 
Na literatura existente a respeito do tema, percebe-se um número considerável 
de estudos que subsidiam os educadores em sala de aula. 
Contudo, as poucas instituições que incluem em suas práticas pedagógicas um 
tema tão importante, por vezes tratam o assunto com palestras ministradas por 
psicólogos ou médicos, como se isso apenas fosse suficiente para esclarecer 
todas as dúvidas acerca do tema. 
Talvez por equivoco, associa-se o tema sexualidade apenas à fase da 
adolescência, deixando a infância e a pré-adolescência à mercê de 
informações vindas de fontes não tão confiáveis como televisão e internet. 
Para alguns educadores do Ensino Fundamental (1º e 2º ciclos), a orientação 
sexual neste período não oferece benefícios à formação da criança, posto que 
estimula precocemente a sua sexualidade. 
Estudos científicos realizados nesta área apontam para o contrário, o estudo 
demonstra que o trabalho de orientação sexual não estimula a atividade sexual 
prematuramente e não antecipa a idade do primeiro contato sexual. 
Muito menos aumenta a incidência de gravidez ou aborto na adolescência. O 
estudo aponta que as crianças que tiveram tal orientação, se mostraram mais 
responsáveis e conscientes de seus atos. 
É notória a importância de se discutir a sexualidade na escola, uma vez que 
cresce a cada dia o número de abuso sexual, gravidez precoce, contaminação 
através de DST/AIDS, principalmente entre os adolescentes, dentre outros 
temas fundamentais para essa discussão, que se faz necessária e inadiável. 
De modo geral, podemos observar que a orientação sexual na escola pública 
brasileira tem recebido pouca atenção das políticas públicas e educacionais. 
Apesar da LDB – Lei de Diretrizes e Bases, regulamentar que é dever da 
família, sobretudo, do Estado, zelar pela formação de todo cidadão. Os 
Parâmetros Curriculares Nacionais - PCNs contemplam a orientação sexual 
nos temas transversais. Os PCNs são diretrizes estipuladas pelo ministério da 
Educação regulamentando a grade curricular em todas as instituições de 
ensino. 
Entretanto é necessário ir além do caráter informativo como sugere os PCNs. é 
preciso botar em prática, trazer para rodas de discussão, debates e trabalhos. 
A importância de se discutir um assunto tão complexo, está justamente na 
necessidade que temos de preparar o jovem, em todos os aspectos para suas 
experiências futuras. 
A sexualidade vai mais além do que a busca de prazer, passa pela constituição 
do indivíduo, até a questão da cidadania. 
Embora alguns estudiosos e educadores não considerem positivo este assunto 
ser tratado em sala de aula, a grande maioria considera que abordar este tema 
é de grande relevância na formação pessoal do indivíduo. 
Em síntese, trata-se de unificar as diferenças de gênero, de maneira que seja 
natural, a relação do indivíduo com seu corpo, ou com sua orientação sexual. 
A sexualidade e a orientação sexual no Brasil 
Antes de tratarmos do tema educação sexual no Brasil, nos remeteremos a 
algumas datas e eventos importantes, para melhor compreendermos sua 
história. 
Não se sabe ao certo quando ocorreu à entrada da questão da sexualidade nas 
escolas, contudo alguns estudiosos advogam que o tema surgiu na França, a 
partir da segunda metade do século XVIII. 
Segundo os estudiosos, somente a partir deste período é que os educadores 
começaram a se preocupar com a educação sexual na instituição escolar. 
Essa educação tinha como objetivo maior, combater a masturbação entre os 
jovens colegiais, para isso se apropriava das ideias de Rousseau, onde a 
ignorância era a melhor maneira de manter a pureza infantil. 
Um século depois, as discussões a respeito da educação sexual voltam à tona, 
só que desta vez, esta abordagem preocupava-se em prevenir doenças 
venéreas, a degenerescência das raças e o aumento do aborto clandestino. 
No século XX voltou à tona a questão da educação sexual, voltada ao 
esclarecimento das questões de reprodução e continuidade da espécie e 
também, a relação entre instintos sexuais e reprodução humana. 
Apesar das discussões e reflexões sobre a educação sexual terem sido 
iniciadas na França, foi na Suécia onde essa abordagem foi sistematizada e 
organizada nas instituições de ensino. Foi lá, onde ocorreram às primeiras 
conferências públicas sobre as funções sexuais, também as primeiras 
reivindicações sobre o livre acesso aos métodos contraceptivos. 
Consta que lá também ocorreu pela primeira vez, a recomendação de um 
governo, a educação sexual na escola em 1942, declarada obrigatória em 
1956. 
Entretanto, verificou-se que os preceitos da educação sexual já estavam 
presentes desde o início do século, quando Freud inovou as ciências humanas 
com suas teorias sobre a sexualidade e suas implicações no comportamento 
humano. 
No Brasil temos os primeiros registros de discussões sobre educação sexual 
em 1920. É nesta época que as primeiras reflexões e as primeiras ideias são 
ouvidas. 
Influenciado pelas correntes médicas e higienistas francesas, com o objetivo 
geral de combater a masturbação, as doenças venéreas, e preparar a mulher 
para exercer seu papel de dona do lar. Visava-se sempre a saúde pública e a 
moral sadia. 
De 1935 até 1950, não se tem registros de qualquer tipo de iniciativa ligada à 
sexualidade. O que resultou num tremendo retrocesso no caminho da 
educação sexual no Brasil. 
Ainda na década de 1950, a igreja católica que dominava o sistema 
educacional para a elite brasileira, manteve um olhar de reprovação sobre a 
educação sexual. Neste período surgem alguns estudos mais aprofundados 
sobre a sexualidade na educação. 
A década de 1960 foi um período muito complicado no Brasil. Passávamos 
pela repressão, estabelecia-se o regime de exceção. Mudanças políticas 
radicais foram estabelecidas após o golpe de 1964. 
Na educação, há registros de tentativas de implantação da educação sexual 
para alunos das escolas públicas e particulares. Algumas foram pioneiras no 
trato deste assunto em sala de aula. 
Entretanto, devido à reprovação dos pais, esta abordagem não sobreviveu por 
muito tempo. Essas escolas tinham uma orientação mais progressista, muito à 
frente do contexto social retrógrado da época. 
Em 1968, a deputada Julia Steimbruck, do Rio de Janeiro, apresenta o primeiro 
projeto de lei propondo a implantação obrigatória da educação sexual em todas 
as escolas do país, em todos os níveis. 
Após três anos, isto é, em 1970, especificamente em novembro, o projeto ainda 
estava em tramitação. O projeto recebeu grande apoio da maioria dos 
educadores, estudiosos e intelectuais, entretanto a burocracia engessava esta 
proposta. 
Ainda durante a década de 1970, precisamente entre 1974 e 1975, a escola 
Preparatória de Cadetes do Exército, organizou uma sériede conferências 
sobre orientação sexual para alunos do 2º grau da escola militar. 
Em 1978 foi realizado por iniciativas particulares o 1º Congresso Nacional 
sobre Educação Sexual nas escolas, em São Paulo, que teve como objetivo 
debater a dimensão pública da educação sexual. Nesse congresso registrou-se 
um grande interesse dos educadores para com o tema, reunindo cerca de duas 
mil pessoas. 
A década de 1980 foi um tempo próspero referente à questão da educação 
sexual. Foi um período de abertura política e retorno de grandes pensadores e 
intelectuais das mais diversas áreas. 
Enquanto o povo gritava nas ruas por “diretas já!”, eram publicadas as 
primeiras revistas exibindo corpos nus, coisa que antes não ocorria. 
Estava também ocorrendo uma grande revolução sexual nas mídias de massa, 
a televisão, o cinema, e a mídia impressa, passava a publicar conteúdos que 
até então, eram proibidos. 
Nessa década a sexóloga Marta Suplicy fez um quadro no programa TV 
Mulher, tratando justamente do tema sexo. Grande foi a repercussão deste 
quadro nas mais diversas camadas da sociedade, fazendo ressurgir o interesse 
pelo tema. 
Em 1983 foi realizado o primeiro encontro para uma reflexão mais robusta 
acerca da sexualidade na escola. Esta discussão se deu, sobretudo, pelo 
crescimento acentuado nos índices de gravidez na adolescência e o 
crescimento da AIDS entre os jovens. 
Em 1989 a secretaria municipal da educação de São Paulo, sob orientação de 
Paulo Freire, decidiu implantar a educação sexual na escola. Primeiro nas 
escolas de 1º grau, estendendo para os outros níveis paulatinamente. 
O modelo foi tão bem elaborado, que foi copiado por outras capitais brasileiras 
como Porto Alegre, Belo Horizonte, Florianópolis, entre outras. 
O objetivo inicial era capacitar o educador para a abordagem deste tema tão 
complexo, além de produzir material sobre o tema para que os educadores 
estivessem aptos a trabalhar a orientação sexual e a prevenção das DSTs. 
Nos anos 1990 se intensificaram ainda mais as iniciativas de promover a 
orientação sexual, uma vez que havia aumentado virtuosamente o índice de 
gravidez na adolescência. 
No final dos anos 1990 várias organizações não governamentais, sobretudo a 
mídia buscava incentivar o debate sobre o tema de maneira mais aberta. Em 
suma, foi somente na última década do século que começamos a pensar e 
refletir sobre a importância da orientação sexual, muito embora, como vimos 
estudos, já eram realizados há tempos. 
Dos anos 1990 até hoje, muito se tem estudado e discutido a respeito do tema. 
Os educadores têm sido subsidiados de informação. Contudo, as redes 
privadas e públicas de ensino, não tem tido eficácia, por motivos de tabu, pois 
discutir um tema complicado abertamente, não é tarefa fácil. 
Dentro do contexto atual, a orientação sexual nas escolas se faz cada vez mais 
necessária, entretanto precisa ser discutida de forma clara e coesa, de maneira 
que chegue à raiz do problema, isto é, informe e conscientize. 
A dúvida maior é se os professores estão preparados para ministrar aulas de 
orientação sexual, um campo complexo e cheio de questionamentos e 
incertezas, uma vez que os educadores de hoje, foram os educandos de ontem 
e sofreram a repressão sexual daquele tempo que certamente deixaram 
marcas profundas no comportamento e no modo de pensar de cada um. 
Em pleno século XXI, nota-se a crescente necessidade de informação dos 
jovens seja sobre literatura, cinema, e é claro sexo. Cada vez mais os filhos 
vão buscar a conversa com os pais. 
Observe na imagem abaixo a charge de Mauricio de Sousa. 
Sexo é uma coisa natural? Qual o papel da psicanálise na compreensão do 
tema? 
Segundo um grande estudioso da psicanálise, Sigmund Freud, a sexualidade 
está intrinsecamente relacionada ao homem, é condição para nossa existência. 
A psicanálise, de modo geral, fez da sexualidade um conceito fundamental 
dentro de sua teoria. 
A principal obra de Freud que trata da sexualidade intitula-se: “Três ensaios 
sobre a sexualidade”, escrito em 1905, trata-se de um livro relativamente 
pequeno. Nele Freud desconstrói a concepção de instinto sexual em voga na 
época. 
Logo no começo do livro, nos primeiros parágrafos Freud resume de maneira 
magistral a concepção tradicional de sexualidade, contra o qual alinhará seus 
argumentos críticos. 
“A opinião popular tem ideias muito precisas à respeito da natureza e das 
características do instinto sexual. A concepção geral é que está ausente na 
infância, que se manifesta por ocasião da puberdade em relação ao processo 
de chegada da maturidade, e se revela nas manifestações de uma atração 
irresistível exercida por um sexo sobre o outro; quanto ao seu objetivo, 
presume-se que seja a união sexual, ou pelo menos atos que conduzam nessa 
direção”. (1977, p.135) 
Certamente foi com muita ironia que Freud escreveu tais linhas, pois sua teoria 
foi muito mais além de considerar a sexualidade um evento da puberdade, 
inerte na fase da infância, e incontrolável na maturidade. Sua obra na verdade 
foi uma crítica radical ao que a comunidade médica do século XVIII e, por que 
não dizer ao que pensam muitas pessoas nos dias de hoje, sobre a 
sexualidade. 
Mas o que realmente tem Freud e a psicanálise a dizer sobre a sexualidade? 
Em síntese, a sexualidade nasce paralelamente a uma atividade vital como se 
fosse um benefício de prazer marginal obtido graças a essa mesma satisfação. 
A sexualidade nasce, portanto, apoiada numa função biológica, isto é, faz parte 
de nós. Como Freud faz supor é que a sexualidade é uma atividade que se 
prolonga para além da necessidade vital. 
Sexualidade, política e educação 
Escolhemos estes três aspectos para figurarem neste tópico. Cada um deles 
visa enfatizar um olhar, um viés da questão da sexualidade dentro de um 
contexto sócio-histórico. 
O termo política foi intencionalmente colocado entre a sexualidade e a 
educação. É justamente para que possamos refletir na regulamentação da vida 
sexual. Entretanto, as mudanças de comportamento podem influenciar nas 
políticas adotadas pelo governo. 
No decorrer da história vemos que independente do tipo de sociedade, sempre 
ocorreu alguma forma de controle sobre a sexualidade dos indivíduos que a 
compõe. 
Seja através da religião, ou dos tabus, a sociedade exerce alguma forma de 
pressão sobre o indivíduo. Basta pensarmos que há pouco tempo, refletir sobre 
orientação sexual era quase um crime. 
Pessoas sofreram e outras ainda sofrem, pelo fato de terem uma orientação 
sexual diferente. Isso é o resultado de séculos de omissão do governo, aliado à 
hipocrisia da sociedade. 
O papel da política é justamente integrar a sexualidade à educação, uma 
sociedade informada é uma sociedade mais tolerante, consciente e, sobretudo, 
saudável. 
Antes de nos aprofundarmos neste tema, aliás, nestas três vertentes de um 
mesmo tema, é importante nos perguntarmos, o que é sexualidade? Você 
sabe? 
A sexualidade de um indivíduo define-se como sendo as suas preferências, 
predisposições ou experiências sexuais, na experimentação e descoberta da 
sua identidade e atividade sexual, num determinado período da sua existência. 
Abaixo temos um interessante texto sobre sexualidade, de Marina S.R. 
Almeida, consultora em educação inclusiva, além de psicóloga e pedagoga do 
Instituto Inclusão Brasil. 
O que é sexualidade? “A sexualidade faz parte de nossa conduta. Ela faz parte 
da liberdade em nosso usufruto deste mundo.” (Michel Foucault) A Sexualidade 
é parte integrante de todo ser humano, está relacionada à intimidade, a 
afetividade, ao carinho, a ternura, a uma forma de expressão de sentir e 
expressar o amor humano através das relações afetivo-sexuais. Sua presença 
está em todos os aspectos da vida humana desde a concepção até a morte, 
manifestando-se em todas as fases da vida, infância, adolescência, fase adulta, 
terceira idade;sem distinção de raça, cor, sexo, deficiência, etc.; além de que 
não está apenas nos aspectos genitais, mas sendo considerada como uma das 
suas formas de expressão, porém nunca como forma isolada, como um fim em 
si mesma. Podemos definir sexualidade como um conjunto colorido que contém 
contato, relação corpórea, psíquica, sentimental, desejo voltado a pessoas e 
objetos; sonhos e delírios; prazer, gozo e dor; perda, sofrimento e frustração; 
crescimento e futuro; consciência, plenitude do presente e memória do 
passado; processos estes que vão sendo elaborados e dando espaço para 
novas conquistas. 
Sentimentos esses que se alternam, cruzam-se de modo imprevisível, exigindo 
uma progressiva capacidade do ser humano em ir dando compreensão e 
aceitação às mudanças. Tudo sempre vinculado a intensas sensações 
corpóreas, pensamentos constantes, parecem estarem no ar, uma sensação 
de apaixonamento constante, que pode ser pelo próprio corpo ou pelo desejo 
do corpo do outro, mas desejos, afetos e emoções que precisam ser 
resignificadas em cada um nós. Isto tudo encontraremos em cada um de nós, 
porque muitos já passaram por isto, chama-se processo de adolescer. As 
pessoas negam as transformações, outros passaram, outros se rebelaram, 
sofreram, outros curtiram, viveram, outros não podem nem se lembrar, outros 
foram quase que impedidos de viver esta experiência. Acreditamos ser a última 
possibilidade a mais preocupante e paralisante, porque impede de viver um 
amor verdadeiro. A questão circunscrever-se em como as pessoas com 
síndrome de Down e Autismo vivem a intensidade destas mudanças, deste 
novo conflito do desenvolvimento humano, inerentes a todas as pessoas, e 
ainda quando são impedidos de viverem seu processo de adolescência de 
maneira saudável. Portanto, a sexualidade não é exclusivamente física e das 
pessoas com deficiência, acabam tendo grandes dificuldades na esfera sexual. 
Visto que, é entendida apenas por sua concretude da sexualidade, sendo 
reduzida a apenas ao sexo genital, masturbação, namoro preocupante, 
gravidez, relações sexuais, homossexualidade, abuso sexual, doenças 
sexualmente transmissíveis... O desejo sexual aparece com a adolescência, 
denuncia que o corpo está se modificando que cresceu e exige adaptações, 
mudanças de relações, independência dos pais. Portanto, queremos dizer que 
os deficientes intelectuais e autistas não só querem se masturbar, querem ter 
relações sexuais, exibir os órgãos genitais que se tornaram maduros, querem 
muitas vezes tirar a roupa revelando seu corpo modificado, vivem tudo isto 
como uma vazão saudável, impulsiva é o que assusta a todos. Querem a 
possibilidade de escolher seus parceiros, de namorar e casar. Como qualquer 
pessoa precisa aprender a aguentar as relações afetivas, o vínculo e 
reconhecimento do outro, a necessidade do outro para se revelarem, dentro de 
um sistema familiar, de responsabilidades, limites e adequação social. 
E isso não pode ser mais considerado como patológico ou como um distúrbio 
de conduta. Encontramos casos que possam ter fatores assim, mas em nossa 
experiência a maioria das situações estava infelizmente relacionada ao manejo 
inadequado dos envolvidos com os portadores de necessidades especiais, 
portanto de entenderem e serem continentes a estas expressões humanas. 
Como conduzir estas emoções e comportamentos que transbordam em nós, 
nas pessoas, em nossos filhos, em nossos alunos? Este é o grande impasse, 
origem talvez de muitos conflitos dos pais, na família, na escola, entre 
profissionais ligados ao atendimento dos deficientes mentais e autistas. As 
famílias, sobretudo os pais, são as pessoas indicadas para atender essas 
necessidades no curso desse momento evolutivo. Eles conhecem o filho há 
mais tempo e podem proporcionar uma sensação de continuidade pessoal 
quando ele sente as ameaças externas. Deram-lhe o aparato necessário e os 
cuidados durante a infância, determinaram as regras, de modo que serão as 
pessoas indicadas para ajudá-lo em mais esse desafio. As crises ocorrem com 
o desenvolvimento normal dos adolescentes, independente de serem ou não 
portadores de necessidades especiais, trazendo à tona conflitos não resolvidos 
pelos pais, situações pensadas como resolvidas ou até mesmo esquecidas. A 
vivência de velhos problemas aparece para os pais em função dos filhos, 
aumentam a tensão em ambos os lados. É preciso educar-se para poder 
educar. É a oportunidade de aprender com as experiências dos filhos e 
resolver situações não vividas anteriormente. Embora os pais possam ser 
mantidos num estado contínuo de trocas de papéis, os filhos adolescentes 
conservam-se por um grande período ainda como crianças e dependentes, 
principalmente quando estão diante dos pais. É difícil compreender essa 
dualidade. O período inclui transformações e adaptações frequentes para o 
sistema dos pais e dos filhos. Os pais precisam aprender a desenvolver um 
relacionamento mais adulto com seus filhos, colaborando no processo de 
crescimento, dentro das condições impostas por esse mesmo processo. O 
adolescente experimenta uma contínua necessidade de sentir-se protegido 
enquanto vai ensaiando sua independência, se rebelando, procurando suas 
escolhas, indo contra aos hábitos dos pais, etc. O ideal seria que os pais 
estivessem presentes quando necessário, sem interferir muito, transmitindo 
uma sensação de firmeza para proporcionar o estabelecimento dos novos 
comportamentos que estão conquistando. 
Os pais podem sentir-se preocupados ao enviar seus filhos para um mundo 
que eles sabem ser complexo; providos apenas da simbólica preparação que 
lhes deram em casa. Essa é, no entanto, a vivência do citado ciclo da vida. Faz 
parte do processo de deixá-los crescer, que deve ocorrer entre pais e filhos 
para vivenciar a maturidade das experiências. Em todas as sociedades a 
adolescência constitui uma época de enormes transformações e de transições. 
Em nossa sociedade, ela é também um período de grande tensão, conflito, 
experiência e rebeldia. O adolescente passa muitas vezes por uma crise de 
identidade, quando está se preparando para assumir uma liberdade maior e as 
responsabilidades da vida adulta. Cabe aos pais a difícil tarefa de controlar o 
comportamento agressivo do adolescente, ajudando-o a aplainar o caminho 
para a maturidade. O adolescente é frequentemente absorvido pelo seu próprio 
grupo social, dotado de uma subcultura e de normas sexuais "particulares". Os 
anos adolescentes são difíceis para todos os jovens e são particularmente 
confusos e frustrantes para o deficiente intelectual. Nesse período a 
socialização atinge o seu momento de maior importância. Não é raro que o 
deficiente intelectual apresente vários problemas graves de adaptação nesta 
fase, por suas próprias dificuldades de interação com os indivíduos de sua 
idade e de um modo por vezes inaceitável. As habilidades de socialização são 
limitadas e restritas. Durante a puberdade, o aumento dos impulsos sexuais e o 
desenvolvimento de características sexuais secundárias apresentam 
problemas para o deficiente intelectual. As mudanças fisiológicas ocasionam 
problemas psicológicos para as pessoas na puberdade. No entanto, o indivíduo 
portador de deficiência intelectual terá menos oportunidade de compreender 
esses fenômenos. Muitas vezes, também, não tem acesso à educação sexual 
que poderia colaborar nesta compreensão. Com a chegada da adolescência, 
muitos pais passam a preocupar-se com o comportamento sexual dos filhos. O 
adolescente portador de um ligeiro atraso comumente não se diferenciará 
quanto ao desenvolvimento e às inclinações sexuais de outros jovens de sua 
idade. Devido às suas limitações intelectuais, alguns deles se tornam 
impulsivos e podem apresentar pouco discernimento em seus relacionamentos 
interpessoais, mas nada que uma boa conversa não resolva. As famílias 
necessitam de um espaçopara explorar seus temores e ansiedades 
relacionadas à sexualidade do adolescente e precisam de orientação 
específica para traçar planos educacionais, junto com sua participação na 
escola. 
A sexualidade é de grande importância no processo de desenvolvimento e 
educação do ser humano e, como tal, deve ser abordada também em relação à 
pessoa portadora de necessidades especiais. A educação sexual deve fazer 
parte da construção gradativa do ser humano, favorecendo uma personalidade 
psicologicamente sadia e socialmente adequada. As pessoas com deficiência 
desejam: 
• Como qualquer adolescente, eles gostam de ouvir música, dançar, ver 
televisão, produzir-se, passear, conversar, ficar juntos, falar alto, dar risadas, 
ter segredinhos, telefonar para a (o) amiga (o), querem comprar coisas da 
moda. 
 • Como qualquer adolescente, eles percebem despertar dentro de si novos 
sentimentos, emoções, desejos, questionamentos. 
 • Como qualquer adolescente, eles têm necessidade de compreender e viver 
esses sentimentos. 
 • Como qualquer adolescente, também vão se descobrir tendo suas 
singularidades e necessidades diferentes. Quando eles percebem a deficiência, 
começam a questionar o que têm de diferente! Isto implica que estão em 
crescimento, o adolescente está se situando no mundo, conquistando sua 
identidade e espaço, quer saber por que está naquela escola ou classe, 
diferente de seu amigo ou seu irmão, se estivesse na escola normal em que 
série estaria, porque nasceu assim e outras coisas, dependendo do seu nível 
de compreensão e permissão para seus questionamentos. Sentem-se os 
“donos do mundo”, como qualquer adolescente, eles se acham capazes de 
fazer qualquer coisa, começam a descobrir o pensamento, a capacidade de 
pensar, tem despertado sua sexualidade, da mesma forma que outros jovens 
nessa fase. A diferença está na colocação dos limites necessários, na 
disponibilidade dos pais, educadores, profissionais envolvidos, que irão permitir 
que este crescimento tome forma. 
Como vimos, a sexualidade envolve muitos outros fatores, não podemos 
encará-la apenas como uma faceta que constitui nossa formação, ela faz parte 
e ao mesmo tempo é imprescindível em todos os níveis de relações 
interpessoais. 
Muito têm sido feito para ampliar as reflexões acerca das questões da 
sexualidade na educação nos mais diversos níveis. Entretanto o assunto ainda 
é visto com certo receio. 
Há três abordagens sobre o tema educação, ou orientação sexual. A primeira é 
a abordagem pedagógica, cujo intuito volta-se mais diretamente ao processo 
ensino-aprendizado de sexualidade. 
Valoriza também o aspecto informativo desse processo, podendo também focar 
no aspecto formativo, onde se promova discussões e reflexões sobre valores, 
atitudes, preconceitos, sentimentos e emoções. 
Em síntese, direciona o pensamento para a reformulação de valores, atitudes e 
preconceitos, na formação do indivíduo. 
Na segunda abordagem, temos a tradicional abordagem religiosa, em que é 
relacionada à vivência da sexualidade ao amor de Deus e à submissão às 
normas religiosas oficiais. 
Nesta abordagem, a meta é a preservação dos valores morais cristãos e o 
desenvolvimento da vida espiritual. Vincula obrigatoriamente o sexo ao amor 
pelo parceiro, ao casamento e especificamente à procriação. 
Encara-se o casamento e a virgindade como os dois únicos modos de viver em 
aliança com Deus, valoriza-se, sobretudo, a informação de conteúdos 
específicos da sexualidade, muitas vezes está comprometido com uma 
educação para o pudor. 
Por fim, temos a abordagem política, e por isto a importância desta na relação 
entre a sexualidade e a educação. Ela possui as seguintes características: 
Orienta para o resgate do gênero e do prazer na vida das pessoas. Também 
alerta para uma reflexão da importância de compreender as normas sexuais 
construídas socialmente. 
Propicia questionamentos filosóficos e ideológicos, ou pelo menos tenta 
mostrar a importância destes questionamentos. Encara a questão sexual como 
algo ligado diretamente ao contexto social, que influencia e é influenciado por 
este. 
Enfatiza a participação em lutas coletivas para transformações sociais, o maior 
exemplo disto é a parada gay, que começou a pouco mais de uma década e 
hoje mobiliza milhões de entusiastas e homossexuais para a questão da 
intolerância sexual. 
Sob esta última abordagem, baseia-se a atual concepção de sexualidade, 
envolvendo aspectos que vão desde o bem estar à saúde propriamente dita. 
Como sugerem os Parâmetros Curriculares Nacionais - PCNs, o “... tema 
orientação sexual deve abordar e considerar a sexualidade como algo inerente 
à vida e à saúde, que se expressa no ser humano, do nascimento até a 
morte.”. 
Relaciona-se com o direito ao prazer e ao exercício da sexualidade com 
responsabilidade. Englobam as relações de gênero, o respeito a si mesmo e ao 
outro. 
Inclui a importância de prevenção das doenças sexualmente transmissíveis, 
entre outras questões polêmicas. 
A orientação sexual na escola pretende contribuir para a superação de tabus e 
preconceitos ainda arraigados no contexto sociocultural brasileiro. 
Entretanto, é preciso que essas ideias além de figurar em qualquer projeto de 
lei, promovam a reflexão e discussão nos mais diversos âmbitos de atuação, 
seja no universo acadêmico, com professores e educadores, ou mesmo na 
família, por meio das trocas de ideias entre pais e filhos. 
Sexualidade na escola 
Pedagogia de gêneros 
O conceito de gênero surgiu entre as estudiosas feministas para se contrapor à 
ideia de essência, recusando assim, qualquer explicação pautada no 
determinismo biológico, que pudesse explicar os comportamentos de homens e 
mulheres. 
Tal determinismo serviu apenas para justificar as desigualdades entre ambos 
os sexos, a partir de suas diferenças físicas. O importante quando pensamos 
em relações de gênero é discutir os processos de formação histórica, 
linguística e social, instituídas na formação de mulheres e homens, meninas e 
meninos. 
A pedagogia de gêneros basicamente discute o gênero como constituição 
social que determinada cultura estabelece em relação a homens e mulheres, 
no que se refere à raça, idade, classe social, etc. 
Gênero aqui é entendido como as diferenças entre homens e mulheres dentro 
de um contexto socio-histórico e cultural, isto é, trata-se de um elemento 
constitutivo das relações sociais, fundamentadas nas diferenças de maneira 
que possamos compreender as complexas formas de interação humana. 
Como a ideia de gênero esta fundamentalmente ligada às diferenças biológicas 
e comportamentais entre os sexos, ela aponta para um caráter interacional 
entre homens e mulheres. 
Assim, a pedagogia de gênero leva em conta o outro sexo, na sua presença ou 
ausência. Além disso, esta pedagogia relaciona-se com outros aspectos do ser 
humano, não somente o fator biológico e cultural, mas também idade, classe 
social, etnia, etc. 
Esta forma de distinguir os opostos, não é uma exclusividade do universo 
adulto. As próprias crianças constroem os gêneros a partir da diferença, a fim 
de reforçar seu senso de identidade feminina ou masculina. 
Veja na charge abaixo, uma síntese do pensamento exposto acima, em que 
crianças estabelecem sua identidade sexual a partir das diferenças em relação 
ao outro. 
Construindo identidades. 
Quando nascemos logo nos primeiros anos aprendemos como falar, andar, 
quem é a mãe, etc. Quando tomamos ciência de que somos um indivíduo, isto 
é, quando nos reconhecemos enquanto sujeito é que começamos a construir 
nossas identidades de gênero e sexual. 
A maioria dos estudiosos acredita que não há uma identidade inata, trata-se de 
um processo em que a criança se desenvolve. Tais processos são 
influenciados por diversos fatores que constituem o próprio ser humano. A 
classe social, a etnia, a religião, o gênero, etc. 
Por estar em constanteformação, à identidade caracteriza-se pela 
incompletude. Entretanto, mesmo ela estando em constante desenvolvimento e 
formação, nós só conseguimos visualizá-la como acabada, bem resolvida, 
como fosse uma unidade de valor. 
Portanto, podemos entender que a identidade de gênero e a identidade sexual 
são plurais e em constantes transformações. Tais entidades embora pareçam à 
mesma coisa, são assuntos totalmente distintos. 
Enquanto a identidade de gênero liga-se à identificação histórica e social dos 
sujeitos, e que se reconhecem como masculino ou feminino, a identidade 
sexual está relacionada à opção que cada indivíduo tem de experimentar estas 
relações, ou seja, trata-se da maneira com que os indivíduos vivenciam seus 
desejos corporais, das mais diversas formas, sozinhos ou com parceiros, do 
mesmo sexo ou não. 
Em suma, identidade de gênero está relacionado apenas ao seu sexo, isto é, a 
que categoria pertence o indivíduo, homem ou mulher. E a identidade sexual é 
a orientação sexual que determinado indivíduo escolheu para si, isto é, se é 
homossexual, heterossexual ou mesmo bissexual. 
As identidades sexuais não são fixas e muito menos acabadas, ou seja, 
pessoas que nunca se relacionaram com pessoas do mesmo sexo podem vir a 
se relacionar em qualquer momento de suas vidas. 
A sexualidade tem sido colocada como tema central nas rodas pedagógicas de 
discussão, sobretudo ela é colocada como central a nossa própria existência, o 
governo acredita que a discussão deste tema nas escolas, “tem grande 
importância no desenvolvimento e na vida psíquica das pessoas, pois 
independentemente da potencialidade reprodutora, relaciona-se com o prazer, 
necessidade fundamental dos seres humanos” (Brasil. 1998:17). 
Apesar de algo natural, inato a cada um de nós, a sexualidade é vista ainda 
como algo a ser podado das mentes impuras. Família, escola, entre outras 
instituições querem de uma forma ou de outra, ter controle sobre ela. 
Sobretudo, os aparatos culturais, como livros didáticos e paradidáticos exercem 
também alguma espécie de controle sobre a questão da sexualidade, como 
nos mostra o exemplo a seguir. 
Quando observamos o papel do Estado, em relação a esta questão, vemos que 
esteve ausente durante muito tempo. Hoje através de algumas políticas 
públicas de orientação sexual desenvolvidas em algumas escolas percebe-se a 
tênue movimentação do governo em educar sexualmente seus cidadãos. 
Vejamos: 
“... Meninos de pré-escola que apresentam comportamento feminino, ou que só 
gostam de brincar com as meninas, devem ser incentivados de maneira gentil, 
mas firme a participar das atividades tipicamente masculinas... Os meninos que 
apresentam trejeitos femininos muito acentuados, além das atitudes tomadas 
pela escola, devem ser encaminhados para tratamento psicológico (Suplicy, 
1990:77).” 
É possível perceber que, apesar do discurso de valorização das diferenças, e 
de uma proposta de reflexão acerca da sexualidade promovida nas últimas 
décadas, este tema mais do que nunca vem sendo, no mínimo, vigiado. 
De contrapartida, educadores têm tomado para si a responsabilidade de moldar 
a sexualidade dos alunos, impondo o que considera apropriado às meninas e 
meninos. 
Orientações ao educador 
Dentro de um contexto sociocultural, vemos que o professor é uma espécie de 
intermediador. Cabe a ele, a responsabilidade pela formação do aluno. 
A linguagem de abordagem também é de suma importância, é preciso analisar 
para que desta forma possa incluir ou excluir significados. A linguagem é o que 
aproxima o educador do educando. 
É preciso também considerar que estas questões vêm sendo pouco, ou quase 
nada, discutidas em salas de aulas, mesmo em cursos superiores de 
pedagogia. Ou mesmo abordada em uma conversa em família. 
Percebe-se ainda a necessidade de que pais e professores, psicólogos infantis 
e toda a diversidade de profissionais voltados à educação e ao cuidado de 
crianças, tenham uma visão de infância que dê conta de suprir as 
necessidades impostas pelo tema sexualidade. 
Em um mundo marcado cada vez mais pela diversidade, é fundamental que 
tenhamos a ideia de que diferenças sejam sinônimos de desigualdade. 
A cada dia percebemos a necessidade de capacitação do corpo docente em 
diferentes esferas da educação, inclusive a da sexualidade. Também a 
necessidade de avaliar nossos educadores, além de dar-lhes treinamento na 
área da orientação sexual. 
A sexualidade sempre foi um assunto de difícil discussão dada suas 
particularidades, por que cada um se relaciona de um jeito com sua 
sexualidade. Para crianças e adolescentes o contato com este assunto é ainda 
mais complexo. 
As descobertas, as curiosidades a respeito do próprio corpo, as caricias e, é 
claro o sexo, fizeram do assunto um grande tabu, pouco discutido e 
conversado, na escola e na família. Contribuindo ainda mais para uma espécie 
de ansiedade por informações, por parte das crianças e adolescentes. 
Por tudo isso, é necessário discutir o tema em sala de aula, e nas reuniões 
pedagógicas, para que a escola tenha não somente, alunos informados, como 
também educadores capacitados e preparados para esclarecer suas dúvidas. 
É importante que o professor mostre que as manifestações da sexualidade são 
prazerosas e fazem parte do desenvolvimento de todos, desta forma o 
educador estará contribuindo para o autoconhecimento do aluno. 
Este autoconhecimento está ligado ao aprendizado tanto das regras sociais de 
convivência, quanto ao reconhecimento dos desejos e das necessidades de 
cada um. 
O objetivo da educação sexual na escola consiste em colocar professores com 
um preparo adequado e desempenhar de forma significativa seu papel, 
ajudando os alunos a superarem suas dúvidas, ansiedades, angústias, pois “A 
criança chega na escola com todo tipo de falta de informação e geralmente 
com uma atitude negativa em relação ao sexo. As dúvidas, as crendices e 
posições negativas serão transmitidas aos colegas” (SUPLICY, 1983). 
Uma das grandes pensadoras a discutir a sexualidade foi Marta Suplicy. Desde 
o início da década de 1980 ela desenvolve estudos e traz o tema para a 
reflexão. 
Ela corroborou, de certa forma, para que hoje em dia, tivéssemos a ideia de 
que educação sexual não significa apenas transmitir informações sobre sexo. 
Mas também significa relação interpessoal, valores, atitudes, comportamento. 
É necessário observar se os educadores, de maneira geral, estão preparados 
para falar de sexo. A maioria não faz nenhum tipo de curso, o que trazem é o 
conhecimento prévio e em muitos casos deturpado sobre o assunto. 
Muitas vezes, suas experiências se deram apenas pela leitura de revistas que 
só leva em consideração o caráter biológico, desconsiderando os sentimentos 
e emoções, ou por vezes pela tímida troca de informação com colegas 
educadores. 
Muitos professores não possuem a própria sexualidade bem resolvida, tendo 
problemas no casamento ou consigo mesmo em relação a sexo. Em suas 
aulas certamente este educador transmitirá suas frustrações e inquietações. 
O professor deve também evitar emitir valores de juízo, ou uma opinião 
particular sobre este ou aquele assunto. Sabemos que é impossível sermos, de 
tal modo, isentos de qualquer valor, no entanto, é preciso atentar-se a este 
aspecto. 
Esclarecer os limites também é dever do professor, este deve dizer algumas 
coisas importantes a respeito do que se pode e do que não se pode fazer em 
locais públicos e privados. 
Em suma, deve trazer a ideia de individualidade, coletividade, intimidade e 
privacidade, isto cabe, sobretudo, às crianças que ainda não possuem esta 
noção. 
Na charge acima se pode observar como o autor faz uma crítica ao despreparo 
e à descontextualização do professor. Apesar do humor, trata-se da realidade 
em muitas escolas do Brasil. 
É extremamente necessário, olharmos com mais atenção para este tema, que 
deve serdiscutido intensamente nas escolas, desde que com o devido preparo 
do educador. 
PCNs – Parâmetros Nacionais Curriculares 
Primeiramente devemos saber do que trata os PCNs e quais seus objetos. Em 
síntese, são referências de qualidade para o ensino fundamental e médio. 
Foram elaborados por estudiosos da área pedagógica e têm o intuito de 
garantir a todas as crianças e jovens, o conjunto de conhecimentos 
necessários para exercitar sua cidadania. 
Os PCNs não têm caráter obrigatório, trata-se de um conjunto de sugestões 
que servem como ferramentas para que o educador possa ensinar de maneira 
significativa. 
Atualmente a sexualidade é vista como um problema de saúde pública, e a 
escola é o ambiente onde se deve começar a tratar desse assunto, através de 
informações. 
Desta forma, ela foi constituída nos PCNs – Parâmetros Nacionais 
Curriculares, contemplado nos temas transversais a fim de promovê-la em todo 
campo pedagógico. 
Tema transversal diz respeito à possibilidade de se estabelecer, na prática 
educacional, uma inclusão entre estudar conhecimentos teoricamente 
sistematizados. 
Esse tema age em conjunto com várias matérias, cabe ao educador ter 
orientação e discernimento para ministrá-los de forma coerente, mostrando aos 
jovens a importância de conhecer seus próprios limites. 
O tema sexualidade está na “ordem do dia” da escola. Presente em diversos 
espaços escolares ultrapassa as fronteiras disciplinares e de gênero, permeia 
as conversas de meninos e meninas e é assunto para ser tratado em sala de 
aula. 
No jornal Folha de S. Paulo, figura o seguinte texto: “o melhor método 
anticoncepcional para as adolescentes é a escola: quanto maior a 
escolaridade, menor a fecundidade e maior a proteção contra doenças 
sexualmente transmissíveis”. A escola é apontada como um grande aliado na 
veiculação de informações sobre formas de evitar gravidez e de se proteger de 
doenças sexualmente transmissíveis (DSTs). 
Uma pesquisa realizada pela Fundação Oswaldo Cruz entre julho de 1999 e 
fevereiro de 2001 mostra que 32,5% das mães que engravidaram na 
adolescência estudaram no máximo até a quarta série do ensino fundamental. 
Certamente a falta de instrução e escolaridade contribui para estes índices. 
A criação do tema transversal “Orientação sexual nos PCNs” é um indício da 
inserção deste assunto no âmbito pedagógico. O interesse do estado pela 
sexualidade da população tornou-se evidente depois desta proposta. 
Para termos uma ideia, vinte anos após o primeiro relato público de caso de 
AIDS, estima-se que as mortes causadas pela doença já chegam a 22 milhões. 
A incidência de adolescentes entre 10 e 14 anos grávidas no Brasil aumentou 
7,1% entre 1980 e 1995. Por isso, atribui-se à escola a função de contribuir na 
prevenção dessa doença e dos casos de gravidez. 
É dever da escola, e não somente da família, desenvolver uma ação crítica, 
reflexiva e educativa que promova a saúde das crianças e dos adolescentes. 
Neste sentido, a educação física é apontada pelos PCNs como um espaço 
privilegiado para a orientação sexual. 
Resumindo, os PCNs são um conjunto de sugestões elaboradas por estudiosos 
do Ministério da Educação, para auxiliar o professor na abordagem de 
determinados assuntos em sala de aula. 
Por que a sexualidade tornou-se um problema bastante discutido em todo 
campo pedagógico, transpassando por diversas disciplinas? 
A sexualidade é o que há de mais íntimo na constituição do indivíduo, é 
também o que o caracteriza como humano. É um tema de interesse público, 
uma vez que a conduta sexual da população relaciona-se à saúde pública, aos 
índices de natalidade, à vitalidade das descendências, logo está relacionada 
também à produção de riqueza. Basta pensarmos que uma população 
saudável produz mais. 
A escola é uma das diversas instâncias sociais onde se exercita uma 
pedagogia da sexualidade e do gênero. Esses processos se completam 
através de uma espécie de autodisciplinamento e autogoverno sobre si mesmo. 
Portanto, a escola, além de construir e transmitir um saber de mundo, isto é 
uma experiência objetiva do mundo exterior, constrói e transmiti também a 
experiência que os indivíduos têm de si mesmos. Desta forma, os dispositivos 
pedagógicos podem ser concebidos como agentes constitutivos de 
subjetividades. 
A sexualidade das crianças e adolescentes já é, como dissemos, um problema 
escolar desde o século XVIII, justamente quando esta questão tornou-se uma 
preocupação pública. 
Como se percebe, a educação sexual não surge na escola a partir dos PCNs. 
Como vimos, a inserção da orientação sexual na escola parece estar associada 
a uma questão epidêmica. Além de mudanças significativas no comportamento 
sexual da sociedade. 
Os PCNs são, antes de tudo, um referencial fomentador da reflexão sobre os 
currículos escolares, uma proposta aberta e flexível, que pode ou não ser 
utilizadas na elaboração do currículo escolar. 
Pesquisas demonstram que este documento vem sendo utilizado com 
regularidade nas escolas, pelos educadores. Outra evidência da inserção dos 
PCNs na rotina escolar é a grande produção de livros voltados à orientação 
dos professores do ensino médio, sobretudo àqueles que tratam dos temas 
transversais. 
Além dos livros, são oferecidos cursos de reciclagem de educadores e 
palestras que trazem como tema a sexualidade. Diante desse quadro, análises 
sobre o que dizem os PCNs a respeito do tema orientação sexual é de 
fundamental importância para a área de educação. 
A fim de atingir os objetivos propostos pelos PCNs, o tema orientação sexual 
deve impregnar toda a área da educação e ser tratado por diversas áreas do 
conhecimento. 
Deste modo, o trabalho de orientação sexual deve ocorrer da seguinte forma, 
dentro da programação, através dos conteúdos transversais nas diferentes 
áreas do currículo escolar. 
Os programas de orientação sexual devem ser organizados em três eixos: O 
corpo matriz da sexualidade, relações de gênero e prevenção de doenças 
sexualmente transmissíveis. 
Trouxemos algumas concepções de sexualidade nos PCNs, a orientação é 
entendida como sendo de caráter informativo. A sexualidade é concebida como 
um dado da natureza, como algo inerente, necessário e fonte de prazer na 
vida. 
Fala-se muito em potencialidade erótica do corpo, necessidade básica, em 
impulsos de desejos vividos no corpo. Para termos uma ideia mais ampla 
seguem algumas citações de grandes pensadores e estudiosos da 
sexualidade, cujos conceitos, de certa forma, figuram nos Parâmetros 
Curriculares Nacionais. 
SEXUALIDADE NA SOCIEDADE Nos três últimos séculos, levando em conta 
as distinções históricas, segundo Foucault (1997a, p. 21) houve uma explosão 
discursiva “em torno e a propósito do sexo”. Para o autor, houve um 
refinamento do vocabulário autorizado, um controle das enunciações, isto é, 
definiu-se quem fala, para quem fala, onde se fala e como se fala. A 
sexualidade vem sendo tratada em distintas instâncias sociais 
 – na família, na Igreja, na escola, entre outras 
– e por diferentes campos 
– o da medicina, da psicologia, da biologia, da pedagogia 
– que em geral instigam a falar para escutar, e/ou registrar e redistribuir o que 
dela se diz (RIBEIRO, 2007). 
A sexualidade humana é resultante de um complexo processo envolvendo a 
sociedade e a cultura, que interagem influenciando o comportamento sexual. 
Ao longo da vida o indivíduo sofre a todo o momento influências da família, dos 
meios de comunicação, da religião ou da escola que o pressionam e moldam 
aos padrões de comportamento impostos pela sociedade (AQUINO, 1997). Até 
mesmo quando tratamos de analisar o tema é possível que as afirmações e 
conclusões feitas acerca de certas particularidades estejam contidas na própria 
cultura em que estamos inseridos. As transformações sociais, que foram 
observadas nas últimas décadas e que constituem a cultura de ummodo geral, 
influem de maneira peculiar na "cultura da sexualidade", visto que exerce um 
importante papel frente aos diversos comportamentos diante do tema. Por 
outro lado, cada indivíduo interage de maneira própria e única com o seu meio, 
e é nessa particularidade do comportamento que se estabelece aquilo que se 
costuma chamar de "livre-arbítrio" (AQUINO, 1997). Se no âmbito social a 
sexualidade sempre foi um tema polêmico, no âmbito educativo, é assunto 
delicado, pois gera alguns "dilemas pedagógicos" do tipo: o quê?, para quê?, 
quem?, e como orientar a sexualidade dos alunos? A sexualidade determinada 
biologicamente como um atributo biológico deve ser questionada, pois ela tem 
sentido muito mais amplo quando passamos a entendê-la como uma 
construção histórica e cultural. 
A SEXUALIDADE E O DISCURSO BIOLÓGICO 
Se, por um lado, o professor de ciências ou de biologia está capacitado a 
ensinar sobre a anatomia e a fisiologia dos aparelhos reprodutores masculino e 
feminino, por outro, deve estar comprometido com uma postura pedagógica 
que possibilite considerar os aspectos emocionais, culturais e éticos que 
envolvem os temas abordados, a formação dos professores deve compreender 
também um perfil de educador da sexualidade, no sentido de esclarecer, 
orientar e informar (RIBEIRO, 2007). A escola é um bom lugar para essas 
reflexões e discussões, mas para tal é necessário um comprometimento, 
pesquisa sobre o assunto, e coragem de muitos professores, pois às vezes 
sem perceber, já ficam incomodados em transmitir esse tipo de conteúdo. 
Mas por que tal dificuldade? Começa pelas reações dos alunos: sorrisinhos 
maliciosos, piadinhas, burburinho geral, e, claro, as perguntas indiscretas que 
ultrapassam o saber da biologia (AQUINO, 1997). Na escola, o discurso 
biológico tem ocupado um espaço privilegiado em relação aos outros, visto que 
existem muitos programas de educação sexual, como livros, manuais, mas a 
sexualidade está principalmente vinculada com o conhecimento anátomo-
fisiológico dos sistemas reprodutores, ao uso de métodos anticoncepcionais, 
aos mecanismos de prevenção de doenças sexualmente transmissíveis e da 
AIDS (RIBEIRO, 2007). Esta intenção é evidenciada na justificativa de 
implementação dos PCNs. Nesse âmbito a sexualidade tem ficado ligada 
somente a aquisição de conhecimentos científicos dos sistemas reprodutores e 
á genitalidade 
– atributo de natureza biológica compartilhado por todos, independentemente 
de sua história e cultura. Discutir a sexualidade de outra forma implica algumas 
mudanças, o que não é tarefa fácil nem trivial, pois a sexualidade é uma 
experiência histórica e pessoal. Discutir com os alunos a sexualidade não a 
partir dos sistemas reprodutores, mas a partir de questões éticas, sociais e 
históricas, as quais possibilitariam aos jovens pensarem nos seus 
relacionamentos, no prazer, na responsabilidade, na liberdade de escolha, na 
virgindade, nas drogas, nos arranjos familiares, nas relações entre homens e 
mulheres, etc., seria uma forma de abordar de maneira mais ampla o “conteúdo 
da sexualidade” 
Os PCNs tratam basicamente de como educar o corpo, que é a matriz da 
sexualidade. Isto deve ocorrer primeiramente no âmbito discursivo na escola, 
isto é, através do diálogo, da troca de ideias e experiências. 
Através desta troca de ideias, desta explosão discursiva sobre a sexualidade é 
que se constrói um “saber”. Este saber é que proporcionará ao indivíduo um 
autoconhecimento. 
Assim, por meio da colocação do sexo na pauta da discussão nas instituições 
de ensino, há uma espécie de controle exercido sobre os indivíduos, este se 
exerce não por punições, proibições, mas através de mecanismos positivos de 
poder que objetivam produzir sujeitos autodisciplinados no que tange à forma 
de vivenciar sua sexualidade. 
Os PCNs sugerem que ao tratar sobre doenças sexualmente transmissíveis, os 
educadores, de maneira geral, não devem relacionar de maneira parcial a 
sexualidade, às doenças e à morte. 
Mas sim, oferecendo informações relevantes sobre as doenças, tendo como 
objetivo a promoção da saúde e de condutas preventivas. Em suma, a 
mensagem que se deve transmitir aos jovens, não deve ser “AIDS mata”, e sim 
“AIDS pode ser prevenida”. 
Os conteúdos desenvolvidos nas instituições de ensino devem destacar a 
importância da saúde sexual e reprodutiva, bem como os cuidados necessários 
para promovê-la. 
O papel da escola neste sentido, juntamente com os serviços públicos de 
saúde, é de conscientizar para a importância de ações não só curativas, mas 
também preventivas, atitudes denominadas de “autocuidado”. 
A escola deve ressaltar que o bem estar e a saúde dependem de como você se 
relaciona com sua sexualidade. Deve transmitir a ideia de que sim, o sexo é 
prazeroso, e pode também ser seguro. 
Nos PCNs, há uma grande intenção de estruturar as ações dos alunos e alunas 
de modo que eles absorvam a mentalidade preventiva e pratique-a sempre, 
incondicionalmente. 
O professor e a diversidade. 
A sexualidade sempre foi um tema complicado de ser abordado, sobretudo nas 
instituições de ensino. Era pouco discutido entre os profissionais da educação. 
É extremamente necessária, a capacitação dos professores sobre a 
sexualidade para que eles possam também orientar e informar os educandos. 
Algumas medidas vêm sendo tomadas no intuito de subsidiar o profissional da 
educação de informações sobre o tema. 
Isso porque, cada vez mais os jovens querem falar sobre sexo, crianças e 
adolescentes estão descobrindo a sexualidade e os limites do próprio corpo. 
Nessa medida, o professor deve saber como direcionar uma conversa. 
O papel do professor é tão importante, que dependendo de sua postura pode 
interromper todo um processo de autoconhecimento, colocando dúvidas e 
mitos no imaginário dos alunos. 
Numa situação rotineira, podemos perceber o quão o professor é importante e 
contribui na formação do indivíduo. Abaixo um pequeno trecho reproduzido da 
internet, que ilustra uma situação que vem se tornando bem comum nas salas 
de aula pelo Brasil afora. 
A pergunta, feita por uma aluna de 8 anos para a orientadora educacional 
Dilma Lucy de Freitas durante uma aula para a 3ª série de uma escola 
particular de Florianópolis, poderia provocar diversas reações na professora. 
Se ela mostrasse espanto e indignação, por exemplo, as crianças deduziriam 
que sentir essas coisas deve ser anormal. Se fingisse não ter escutado, os 
pequenos achariam que é melhor não falar sobre o corpo (e, mais tarde, sobre 
a sexualidade). Dilma respondeu que o corpo recebe estímulos: um cheiro 
gostoso de comida faz a gente sentir vontade de comer e um vento frio faz a 
pele se arrepiar. Do mesmo modo, algumas imagens (como o casal que se 
beija) estimulam os órgãos sexuais e por isso a vagina se contrai ("pisca"). A 
aluna, satisfeita com a informação, foi brincar. Desde bebês, sentimos prazer 
em tocar o próprio corpo e descobrir as diferentes sensações que ele nos 
proporciona. Fingir que as crianças não passam por esse processo é negar a 
realidade. O sexo é parte da vida das pessoas (aliás, uma parte importante e 
muito boa) e é por essa razão que a escola e a família devem ajudar a construir 
nos pequenos uma visão sem mitos nem preconceitos. "Esse é um tema que 
envolve sentimentos e desejos e, portanto, não pode ser abordado só com 
explicações sobre o funcionamento do aparelho reprodutor e palestras 
médicas. A orientação sexual deve ser feita com afeto", afirma Antonio Carlos 
Egypto, psicólogo e coordenador do Grupo de Trabalho e Pesquisa em 
Orientação Sexual (GTPOS), em São Paulo. O constrangimento dos pais em 
tratar do assunto aumenta a falta de informação dos jovens e faz com que a 
escola se torne o principal espaço de educação sexual (vale lembrar que a 
orientação sexual é um dos temas transversais previstos nos Parâmetros 
CurricularesNacionais – PCN). 
Situações iguais a essa ocorrem diariamente em milhares de instituições de 
ensino. Imaginem se em todas as escolas tivéssemos professores bem 
informados e preparados. 
Aqui vão algumas dicas, sugeridas por especialistas e estudiosos do tema, de 
como deve ser a postura do professor diante da diversidade dos gêneros e da 
sexualidade. 
Devido à importância das aulas sobre sexualidade para os jovens, em que 
aprendem a conhecer e a lidar com seus próprios desejos, necessidades e 
emoções. 
- O professor deve sempre encarar a dúvida de seu aluno como relevante por 
mais simples que pareça. 
- É importante também que o professor promova debates e rodas de discussão 
em sala de aula, sobretudo que esteja disposto a ouvir sempre. 
- A opinião do educador não tem relevância, o importante é a discussão entre 
os alunos. 
- Informações comprovadas cientificamente têm muito valor em sala de aula, 
dão aos alunos mais legitimidade. 
- É interessante levantar dúvidas sem personalizar, a última coisa que se quer 
é expor o aluno. 
- As discussões devem ter caráter generalizador, perguntas de natureza 
pessoal constrangem qualquer pessoa, portanto, mantenha a discussão “sem 
dar nomes aos bois”. E o mais importante, não se intrometa na intimidade do 
aluno. 
- Trazer os mais tímidos para a discussão através de jogos e dinâmicas em 
grupo é importante. 
- Por fim, deve haver uma espécie de acordo entre o educador e os jovens, em 
que garanti o sigilo do que foi discutido em sala de aula, para que não ocorram 
zombarias e comentários maldosos dos colegas. O respeito é à base de 
qualquer tipo de relação humana, este caso, não é exceção. 
O papel da escola 
Tendo em vista que a sexualidade é um aspecto inerente aos seres humanos, 
que também influencia o pensamento, sentimentos e emoções, além de estar 
diretamente ligado ao bem estar físico e psicológico do indivíduo, podemos 
refletir sobre o papel das instituições de ensino ao tratar da sexualidade. 
A escola tem como responsabilidade prezar pela saúde e bem estar, dos seus 
alunos, sobretudo proporcioná-los uma formação acadêmica que garanta 
cidadania, respeito e consciência. 
A educação, ou orientação sexual, no ambiente escolar tem fundamental 
importância na constituição desses cidadãos, além de servir como uma medida 
preventiva. Também serve como destruidor de tabus e preconceitos, 
valorizando o respeito às diferenças. 
Visando uma educação voltada à cidadania e à autonomia do aluno, os PCNs 
propõem em forma de temas transversais a inclusão da orientação sexual no 
currículo escolar. 
A proposta de orientação sexual nos PCNs é justamente trabalhar o 
esclarecimento e a problematização, com o intuito de promover a reflexão e a 
reformulação das informações. 
Lá é ressaltada, a importância de se abordar a sexualidade não somente do 
ponto de vista biológico, mas também em relação aos aspectos sociais, 
políticos e culturais. 
Segundo os Parâmetros Nacionais Curriculares a orientação sexual deve fazer 
parte do plano político pedagógico da escola, sendo desenvolvida de forma 
continuada e paralela a todas as disciplinas. 
Deve, de maneira geral, contribuir para a construção de seres livres e 
autônomos, capazes de desenvolver e exercer sua sexualidade de maneira 
prazerosa e responsável. 
Entretanto, não é o que apontam as pesquisas. Elas revelam que esta não é a 
realidade nas escolas de todo o Brasil. Apesar da evidente necessidade de 
abordar o tema da sexualidade, percebe-se certa inércia das instituições de 
ensino. 
As escolas e os profissionais da educação não se mostram comprometidos, 
não se importam, ou no mínimo, não se sentem à vontade para tratar do tema 
com seus alunos. 
Desde 1997 o tema da sexualidade é tratado nas instituições de ensino e 
trabalhado com alunos a partir de sete anos, ou ao menos deveria ser. 
Entretanto atualmente, não se tem ideia de quantas escolas aderiram à 
proposta dos PCNs. 
É justamente neste ambiente escolar, que ocorre o primeiro beijo, o primeiro 
namoro, isto é, é lá onde ocorrem as primeiras experiências do jovem com a 
sexualidade. 
A escola para o aluno significa muito mais do que um lugar para adquirir 
conteúdo acadêmico. Lá ocorrem vivências, e experiências, 
independentemente da idade do educando. 
O estudante simultaneamente ao aprendizado tradicional, também adquire 
valores, constrói relações e desenvolve sua sexualidade. Despertando 
interesse e curiosidade em meninos e meninas. Desde a infância, a questão da 
sexualidade faz-se presente em todas as séries. 
A sexualidade é uma forma de expressão de nosso modo de pensar, sentir, 
comunicar e agir. Portanto, ela está presente em toda nossa vida, desde os 
primeiros anos até os últimos. 
Investir no crescimento sexual é favorecer também o crescimento pessoal. 
Certamente, aprende-se muito sobre si mesmo quando se aprende sobre 
sexualidade. 
Sendo assim, a educação sexual não está restrita ao universo adolescente, 
justamente por não ser mais um método contraceptivo ou de prevenção de 
doenças sexualmente transmissíveis. 
Abaixo uma síntese de algumas iniciativas que o educador pode utilizar, 
tratam-se de dicas de atividades, projetos, oficinas, em suma, um modelo de 
orientação sexual. 
Síntese de Modelo de Orientação Sexual nas Escolas 
 a) preparo e capacitação dos professores e funcionários sobre as questões de 
sexualidade, drogas e violência. Informações e oficinas para sensibilização e 
trabalho dos aspectos psicológicos. Esse é o alicerce do trabalho, pois são as 
pessoas que estão no dia-a-dia da escola e em contato diretíssimo com os 
alunos. 
b) apresentação do projeto para os pais, com os parâmetros morais nítidos 
(não vamos condenar isso ou aquilo, nem estimular isso ou aquilo, vamos fazer 
tais e tais trabalhos...) 
c) oficinas com alunos: o que eles querem e precisam discutir? Caixa com 
dúvidas anônimas, espaços para discussão com suporte de um psicólogo, 
espaço para mobilização de sentimentos relacionados às opiniões e atitudes 
diante da vida. 
d) trabalho junto à direção e coordenação, para garantia de sigilo e autonomia 
da equipe, definição dos objetivos e apoio logístico. 
Educar para sexualidade é educar para a cidadania, autonomia, em suma, 
educar para a sexualidade é educar para a vida, e para isso não há idade ideal 
e é tarefa de todos educadores. 
Educação preventiva 
Colocada de forma polêmica na mídia, a disciplina de orientação sexual ainda 
causa estranhamento em jovens e crianças na escola. Por não ser tão 
abordada, gera uma série de problemas associados à droga, sexo 
irresponsável, família desestruturada, entre muitos outros. 
Quando se trabalha a educação preventiva com crianças, algumas questões 
devem ser refletidas e postas em prática. 
Em primeiro lugar, a educação preventiva objetiva estabelecer valores de forma 
consciente e planejada. Este é um desafio contemporâneo que precisa ser 
assumido por pais e professores. 
A orientação sexual corrobora com valores que podem levar crianças e jovens 
a adquirir noções significativas como justiça, responsabilidade, autonomia, 
respeito por si e pelos outros, influenciando diretamente na construção de uma 
sociedade melhor. 
É extremamente importante pais e professores estarem atentos aos valores 
que são transmitidos, seja através de atos ou palavras. Algumas questões não 
só podem como devem ser abordadas pelos educadores juntamente com pais 
e alunos. 
Sexo tratado com naturalidade em sala de aula 
Em sala de aula o tema sexualidade deve ser tratado como outra disciplina. 
Deve haver um envolvimento incondicional por parte dos professores e pais. 
É preciso desenvolver nos alunos o respeito pelo próprio corpo e pelo próximo. 
É fundamental desenvolver atividades que promovam a reflexão sobre as 
diferenças de gênero e relacionamento. 
Dar informações sobre gravidez, métodos anticoncepcionais e, sobretudo,informar sobre o perigo das doenças sexualmente transmissíveis. 
Em suma, a orientação deve objetivar a conscientização sobre a importância 
de uma vida sexual responsável, deve mostrar que o sexo, pode ser prazeroso, 
mas além de tudo, seguro e responsável. 
Outro fator de extrema importância é a capacitação da equipe, professores e 
funcionários devem estar preparados para lidar com manifestações da 
sexualidade das crianças e jovens. 
É necessário o educador participar de cursos de capacitação sobre temas 
como falar e agir com crianças e adolescentes, prazer e limites, gravidez e 
aborto, DSTs, etc. 
Na pré-escola, devem-se priorizar as diferenças de gênero. Nesta idade a 
criança ainda esta se descobrindo, baixar e levantar as calças são sinais de 
curiosidade. Aqui é sugerido que o educador promova um debate sobre o que é 
ser menino e o que é ser menina. 
É normal que os pequenos toquem os genitais para ter prazer e para conhecer 
o próprio corpo. É de suma importância propor a descoberta de outras formas 
de satisfação na escola, como brincar na areia e na terra ou na água. 
Deixar a criança explorar esses elementos é extremamente positivo. É preciso 
incentivá-los a falar sobre o que sentiram e sobre as partes do corpo que dão 
prazer, inclusive pênis e vagina. 
Pode-se sem dúvida, dizer a eles que é normal tocar os órgãos genitais, 
entretanto, por se tratarem de partes íntimas do corpo, não se deve manipular 
em locais públicos. 
É muito comum crianças nesta idade flagrarem os pais tendo relações sexuais, 
ou mesmo imagens obscenas na televisão. Neste momento é necessário 
levantar questões como: Todos sabem como nasceram? 
Levantar as dúvidas e reiterar que sexo é coisa de adultos é extremamente 
positivo apresentar bonecos com pênis e vagina para que eles mesmos 
explorem as diferenças entre ambos. 
Gravidez é outro tema que suscita a curiosidade das crianças, o interessante é 
abordar o tema de maneira natural, sugere-se a produção de cartazes 
informativos para o esclarecimento de dúvidas em sala de aula. 
Já do 1º ao 5º ano, começa-se a descobrir o vocabulário da sexualidade. Nesta 
etapa as crianças começam a descobrir os palavrões, que são usados para 
fazer graça ou para agredir. 
Mas eles perdem o sentido quando colocados na lousa. Explique o significado 
de cada um deles, deixe claro que todos podem ser ofensivos, portanto não 
devem ser usados, sobretudo em público. 
Caso os palavrões façam menção aos órgãos sexuais, levante com eles, outros 
palavrões que a turma conheça para pênis e vagina. É importante botar tudo 
em discussão, isto é, em debate. 
Os padrões de beleza também devem ser discutidos. Ao perceber que alunos 
debocham da aparência de um colega, o educador deve seguir o bom caminho, 
propondo uma discussão sobre os padrões de beleza. 
Para alunos desta faixa etária, um bom recurso é o filme Shrek, que aborda 
justamente este tema. E por meio do filme faça questionamentos, sobre o que 
é realmente bonito? 
Uma boa atividade é propor aos alunos que descrevam as qualidades ou algo 
que ache bonito no colega. Isso estimulará os alunos a perceberem que os 
padrões de beleza são efêmeros e sem importância. 
Do 6º ao 9º ano, é a fase da puberdade, neste momento sugere-se ao 
educador que exponha no quadro, desenhos de corpos femininos e masculinos 
em diferentes fases do crescimento. 
Perguntar aos alunos o que eles entendem como puberdade também é 
positivo. Posteriormente, sugere-se que se explique as transformações físicas 
e psicológicas e por que elas ocorrem. Esta atividade pode ser realizada por 
escrito (se não quiser expor o aluno) ou oralmente. 
Para discutir maternidade e paternidade pode-se utilizar a leitura de um poema 
de Vinicius de Moraes chamado “Enjoadinho” para iniciar a discussão. Elaborar 
perguntas sobre as necessidades de um bebê durante o período de gestação é 
uma boa forma de começar. 
“Filhos...Filhos? Melhor não tê-los! Mas se não os temos Como sabê-lo? Se 
não os temos Que de consulta Quanto silêncio Como o queremos! Banho de 
mar Diz que é um porrete... Cônjuge voa Transpõe o espaço Engole água Fica 
salgada Se iodifica Depois, que boa Que morenaço Que a esposa fica! 
Resultado: filho. E então começa A aporrinhação: Cocô está branco Cocô está 
preto Bebe amoníaco Comeu botão. Filho? Filhos Melhor não tê-los Noites de 
insônia 
Cãs prematuras Prantos convulsos Meu Deus, salvai-o! Filhos são o demo 
Melhor não tê-los... Mas se não os temos Como sabê-los? Como saber Que 
macieza Nos seus cabelos Que cheiro morno Na sua carne Que gosto doce Na 
sua boca! Chupam gilete Bebem xampu Ateiam fogo No quarteirão Porém, que 
coisa Que coisa louca Que coisa linda Que os filhos são!” 
Posteriormente é recomendado que o educador fale também sobre a 
necessidade dos pais, quanto de dinheiro seria necessário para criar um bebê. 
Neste momento é interessante questioná-los se é possível um adolescente ser 
pai e mãe e prover tudo o que o bebê precisa. 
É possível ir além e continuar a discussão perguntando-lhes se ocorresse uma 
gravidez indesejada, o que teriam que abdicar para criar o filho, quais as 
vantagens de adiar a gravidez. 
Por fim é sugerido que o professor solicite uma produção textual, isto é, uma 
redação sobre o que espera do futuro, quais seus desejos e sonhos para vida, 
e como seria se tivessem filhos. 
Outro tema recorrente entre os alunos desta faixa etária são os métodos 
anticoncepcionais. É interessante levar para a sala de aula carteiras de pílulas, 
camisinhas masculinas e femininas, tabelinha, e outros métodos. 
Desta forma, os alunos podem ter contato com este tipo de informação. Em 
sala de aula é necessário fazer circular entre todos, dando explicações sobre 
cada tipo. 
As atividades em grupo são muito positivas, sendo assim, dividir a sala em dois 
grupos e realizar demonstrações de uso da camisinha em bananas e cenouras, 
possibilita ao aluno um contato prévio com o preservativo. 
É de suma importância ressaltar aos alunos que a camisinha feminina e 
masculina é o único método anticoncepcional que previne a AIDS entre outras 
DSTs – Doenças Sexualmente Transmissíveis. 
O aborto é outro tema relevante para figurar numa discussão em grupo em sala 
de aula. No Brasil a interrupção intencional da gravidez é crime, exceto quando 
a mãe é vitima de estupro, ou corre risco de morte. 
Antes de realizar o debate o educador pode oferecer textos sobre o tema. 
Dividir a classe em dois grupos para discussão é uma ótima ideia, enquanto o 
primeiro deve argumentar a favor do aborto, o segundo será contra. 
Posteriormente inverta os papéis. 
Para falar de DSTs é interessante trazer alguns exemplos, como exemplo, para 
ouvir a Via láctea, de Renato Russo, e Ideologia, de Cazuza, ambos mortos em 
decorrência da AIDS. 
Questione se os alunos sabem o significado da sigla. Posteriormente selecione 
o trecho “... Essa febre não passa”, “... meu prazer agora é risco de vida” e 
discuta o seu significado. 
Levante juntamente com os alunos, os dados sobre os índices de incidência da 
síndrome na população, a análise mostrará que não existe grupo de risco, mas 
sim atitudes de risco. É recomendado conversar sobre outros tipos de DSTs e 
seus meios de prevenção. 
Outro tema interessante para se abordar em sala de aula é a questão do 
homem e da mulher, o que é ser homem e mulher. Questione-os por que é tão 
estranho um menino dizer que quer ser bailarino, ou uma menina que sonha 
ser jogadora de futebol. 
A homossexualidade e a bissexualidade são assuntos complexos. Ao tratar 
deste assunto é preciso ser ameno, no entanto com naturalidade. Assistir um 
filme que trate do tema pode auxiliar o trabalho. 
Pergunte-os se só existe amor entre homens e mulheres, ouça as opiniões, 
posteriormente reflita com os alunos sobre as diferentes formas de amar. Tudo 
isso sem esquecer-se de reiterar que o respeito à orientação sexual tambémdeve ser primordial. 
O papel da família 
A família tem papel fundamental no processo de construção da sexualidade. 
Sabemos que a falta de informação, o preconceito, a imagem negativa do sexo 
e os conceitos distorcidos acerca da sexualidade, por fazerem parte da cultura, 
nos atinge diretamente. 
Sendo assim, a educação sexual recebida na família, é permeada de 
preconceitos, de geração em geração, isso influencia e traz sérias 
consequências à vida sexual de seus membros. 
Por exemplo, em uma família de pensamento tradicional é muito difícil 
conversar abertamente sobre sexo, homossexualidade, etc. 
A família que ama, acolhe e dá carinho é a mesma que pune, reprime e 
ameaça. É bem comum famílias com este perfil retalhar manifestações da 
sexualidade. 
Em casos assim, esta mesma família encara o sexo como algo sujo, impuro, 
ameaçador e proibido. Estas são regras e conceitos transmitidos, muitas vezes, 
por pessoas que tem grande significado em nossas vidas, isso certamente 
ocasionará um trauma. 
O papel da família, em síntese, na orientação sexual é o de nortear valores e 
critérios morais. Critérios estes, muitas vezes, concebidos pela condição social, 
religião, entre outros fatores. 
É importante que a família tenha clareza do que sente e do que espera de seus 
membros. Entretanto, é bem complicado estabelecer uma noção de certo e 
errado. 
Abaixo um interessante texto sobre a sexualidade. Trata-se de uma situação 
rotineira, em que a criança faz perguntas “cabeludas” à mãe. Também há 
algumas dicas de como lidar em situações como esta. 
Apesar da importância da escola nesse processo, os pais permanecem com 
um papel fundamental. A sexualidade faz parte de todos os seres humanos, e 
lidar com elas é um desafio para todos. Porém, quando se trata das crianças, 
como educá-las sexualmente? E como a escola pode ajudar na hora de falar 
sobre esse tema tão delicado? A jornalista Clara* está enfrentando essa 
questão com sua filha de sete anos. Ela pretende ter mais um filho e "ela vive 
dizendo que quer ver quando o maninho for feito", conta. "Ela conta para todo 
mundo, me deixa numa saia justa", completa. A resposta de Clara costuma ser 
que essa é uma situação que não tem como ver, que não se enxerga isso 
acontecendo. Porém, a mãe tem muitas dúvidas sobre como falar sobre o 
assunto. Para a pedagoga e sexóloga Ariana Magalhães, a educação sexual 
não deve ser vinculada apenas a aspectos corporais, mas principalmente com 
o desejo, o sentimento e como nos sentimos sendo homens ou mulheres. 
"Deve proporcionar uma integração entre características físicas, emocionais, 
intelectuais, sociais, históricas e culturais", afirma. 
Por ser um local em que crianças e adolescentes passam grande parte de suas 
vidas, a escola é um lugar privilegiado para aprendizagem, construção de 
valores e formação de consciência humana. "O papel do colégio deve ser o de 
priorizar os questionamentos dos pais e dos estudantes, informando, 
conscientizando e desmistificando crenças e tabus", diz Ariana. Clara acredita 
que a escola deve ser um apoio, que complementa a educação que se dá em 
casa. Porém, uma mãozinha não seria de se jogar fora quando o assunto é 
sexo. Neste caso, sinceramente, acho que seria mais fácil se a escola 
ajudasse, porque é um assunto delicado. Acho que a mensagem precisa ser 
passada corretamente, e a didática pra isso é muito importante, argumenta. 
Ariana acredita que há uma falha na formação acadêmica dos professores, que 
não tiveram a oportunidade de conhecer e discutir sobre sexualidade. "É 
preciso um investimento maior nessa área, para que possibilite nossos 
educadores um conhecimento aprofundado sobre o assunto, gerando mais 
tranquilidade e confiança para abordar o assunto", opina. O trabalho deve ser 
realizado desde a educação infantil, para ajudar mães como Clara a sanarem 
as dúvidas dos seus pequenos. Aliás, nessa idade, as crianças já têm até 
manifestações sexuais, como o ato de chupar o dedo, o controle do esfíncter e 
a masturbação. "Elas são naturais e devem ser vividas para que a criança 
possa desenvolver a sua maturidade sexual, sem traumas nem tabus", alerta. 
Apesar da importância da escola nesse processo, os pais permanecem com 
um papel fundamental. É no núcleo familiar que as crianças aprendem os 
primeiros conceitos sobre o seu corpo, sua identidade e sobre o que é 
permitido ou desaconselhável na sociedade em que vive. A pedagoga lembra 
que a atitude dos pais em relação à sexualidade é a principal influência na 
educação sexual dos filhos. Quando há perguntas esclarecidas e 
demonstrações de afeto, a criança assimila a capacidade de amar e erotizar-
se. *O nome foi trocado a pedido da entrevistada 
Como vimos à família tanto pode ser um elemento agregador na construção da 
sexualidade, como também pode ser seu algoz, é importante ter em mente que 
o apoio e a compreensão da família é fundamental. 
Quebrando os dogmas 
 Vamos falar sobre sexo? 
Quando se fala sobre sexo é possível imaginar os risos envergonhados e 
marotos, gozações ou mesmo broncas dependendo do contexto. Ainda hoje, 
em pleno século XXI, não é um assunto abertamente discutido. 
Tratando-se de sexo, mais importante que conversar, é a maneira como se 
conversa. O primeiro passo para desmitificar a sexualidade é falar sobre ela 
numa boa. 
As atitudes negativas frente ao sexo são muito mais maléficas que a 
ignorância. Tanto é verdade, que pessoas mal informadas sobre sexo, do índio 
ao caipira, podem ter uma vivência sexual plena e sadia com pouca 
informação. 
O trabalho do adulto seria apenas preservar esta sexualidade nascente, que 
esta em processo de construção. Entretanto, o que ocorre é exatamente o 
contrário, a postura metódica e retrógrada é dirigida a estragar e a oprimir tudo 
isso. 
Só informar não basta, para desenvolver uma atitude positiva em relação ao 
sexo é fundamental encorajar e expressão da sexualidade desde a infância. 
Esta postura é que determinará a relação do indivíduo com sua própria 
sexualidade. 
Vivemos em uma época de transição, que se arrasta desde a década de 1980. 
A visão da sexualidade mudou muito rapidamente desde então, esta mudança 
deixou os pais sem norte. Isto é, perdidos sem informação e sem capacidade 
de discutir o tema. Isso porque eles são de uma geração em que tudo era 
proibido, agora se deparam com a liberdade e não entendem, sentem medo e 
insegurança. 
Tratando-se de Brasil, ainda é possível ver o preconceito e a intolerância a 
respeito de diversos assuntos. Por exemplo, em algumas regiões do país 
podemos observar certa repreensão sobre as mulheres que não casam virgem, 
ou mulheres separadas. 
Antigamente os pais não tinham muito problema em definir o que é certo e 
errado. Os valores eram absolutos e imutáveis. Hoje é difícil haver um 
consenso sobre um sistema de valores sexuais. 
Basta observar que dentro de uma mesma família, pode haver diversas 
opiniões acerca de sexo. Isso não significa que não há valores para serem 
transmitidos e ensinados. 
Pais e educadores devem defender e desenvolver na educação sexual alguns 
princípios fundamentais: 
1 - O respeito por si próprio e pela sua dignidade como pessoa; 
2 - O respeito ao outro. A ninguém é permitido ver o outro como um simples 
objeto de prazer, para fazer suas necessidades; 
3 - O acesso à informação. Responder o que a criança quer saber de maneira 
honesta e não preconceituosa; 
4 - Ajudar a criança a desenvolver o espírito de crítica. Através da não 
supressão da curiosidade e do estímulo ao questionamento. A criança 
desenvolve a capacidade de raciocínio, adquirindo condições para refletir sobre 
o que a cerca e escolher o que lhe convém. 
As primeiras manifestações da sexualidade da criança geram, em tempos 
atuais, uma preocupação: “devo fazer algo?” E a pergunta: “ o que?” “como?”. 
E outras tantas perguntas cabeludas. 
Sendo assim, como conversar

Outros materiais