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NSTITUIÇÃO EDUCACIONAL CECÍLIA MARIA DE MELO BARCELOS 
FACULDADE ASA DE BRUMADINHO 
Curso De Direito 
Ieda Maria de Sousa Silva Schimaltz 
 
 
 
 
DIREITOS HUMANOS: a universalidade e o multiculturalismo 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Brumadinho 
2020 
Ieda Maria de Sousa Silva Schimaltz 
 
 
 
 
DIREITOS HUMANOS: a universalidade e o multiculturalismo 
 
 
 
 
 
 
 
 
Monografia apresentada à Instituição Cecília de 
Melo Barcelos, Faculdade ASA de Brumadinho, 
como requisito parcial para obtenção do título de 
Bacharel em Direito. 
 
Áreas: Direitos Humanos e Direito 
Constitucional. 
 
Orientadores: Carlos Athayde Valadares Viegas 
e Profa. Dra. Sofia Martins Moreira Lopes. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Brumadinho 
2020 
IEDA MARIA DE SOUSA SILVA SCHIMALTZ 
 
 
DIREITOS HUMANOS: a universalidade e o multiculturalismo 
 
Monografia de final de curso aprovada como requisito parcial para obtenção do 
título de Bacharel em Direito pela Instituição Educacional Cecília Maria de Melo 
Barcelos. Foram atribuídas as seguintes notas: 
 
Orientação Metodológica – Profa. Sofia Martins Moreira Lopes 
 
Nota (0 a 30): _______ 
 
Orientação Específica – Prof. Carlos Athayde Valadares Viegas 
Nota (0 a 30): ________ 
 
Banca Examinadora da exposição oral – Data: 20/06 /2020, às 09:00 horas. 
 
Membros da banca: Professores: 1 Carlos Athayde Valadares Viegas 
 2 Gustavo Hermont Corrêa 
 3 Rafael Tallarico 
 
 Nota da banca (0 a 40): _______ 
 
Diante dos resultados, o referido aluno foi aprovado com a média de _______ 
pontos. 
 
Brumadinho, ___ de __________________________ de 2020. 
 
Por ser verdade, assinam os avaliadores: 
 
 _________________________________ 
 Profa. Sofia Martins Moreira Lopes 
 
 _________________________________ 
 
 Prof. Carlos Athayde Valadares Viegas 
 
_________________________________ 
 
Prof. Gustavo Hermont Corrêa 
 
__________________________________ 
 
Prof. Rafael Tallarico 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dedico à minha filha que sempre foi minha maior 
motivação, aos meus pais, irmãos e amigos que 
puderam compreender minha ausência e 
acreditaram em meus sonhos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“Que os vossos esforços desafiem as impossibilidades, lembrai-
vos de que as grandes coisas do homem foram conquistadas do 
que parecia impossível.” (Charles Chaplin) 
AGRADECIMENTOS 
 
Agradeço primeiramente a Deus por ter me dado saúde e garra para lutar pelos 
meus sonhos e me manter em pé mesmo diante das piores situações. 
 Aos meus pais, em especial à minha mãe, que mesmo não podendo fazer 
muito por mim, fez o principal, sempre me incentivou! 
Aos padrinhos de minha filha, que são meus segundos pais, que nos momentos 
mais difíceis choraram comigo minhas dores e cuidaram do meu bem mais precioso 
para que eu pudesse viver este sonho! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
RESUMO 
 
É sabido que há o reconhecimento de diversidade de culturas existentes no 
mundo inteiro, sem exceção. É desejado que essa pluralidade cultural esteja em 
consonância com os denominados Direitos Humanos. O princípio da Universalidade, 
referente aos Direitos Humanos, reconhece uma gama de direitos para todos os 
cidadãos, sem que haja alguma limitação geopolítica de Estados e nações. A 
Universalização dos Direitos Humanos, encontra problemática tanto na parte prática 
quanto na teoria, visto que existe a oposição do Universalismo e Multiculturalismo 
referente a aplicação desses princípios e os direitos regidos por culturas e políticas 
nacionais e internacionais. Diante do cenário da globalização, o debate sobre 
universalidade de Direitos humanos ganha novas formas. O temor da 
homogeneização como consequência do atual cenário globalizado e as reações 
advindas desse processo, fazem emergir o clamor de diversas identidades culturais 
por respeito e dignidade, observa-se ainda, que diversas praticas culturais, mesmo 
pertencentes a culturas preciosas e ricas, acabam combatendo o desenvolvimento 
integral da pessoa humana. 
 
PALAVRAS-CHAVE: Universalidade; Direitos Humanos; Multiculturalismo; Culturas. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ABSTRACT 
 
It is known that there is recognition of the diversity of cultures that exist 
throughout the world, without exception. It is desired that this cultural plurality is in line 
with the so-called Human Rights. The principle of Universality, referring to Human 
Rights, recognizes a range of rights for all citizens, without any geopolitical limitations 
of States and nations. The Universalization of Human Rights is problematic both in 
practice and in theory, since there is opposition from Universalism and Multiculturalism 
regarding the application of these principles and the rights governed by national and 
international cultures and policies. In the face of globalization, the debate on the 
universality of human rights takes on new forms. The fear of homogenization as a 
consequence of the current globalized scenario and the reactions arising from this 
process, raise the clamor of different cultural identities for respect and dignity, it is also 
observed that several cultural practices, even belonging to precious and rich cultures, 
end up fighting the integral development of the human person. 
 
KEYWORDS: Universality; Human rights; Multiculturalisms; cultures. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 10 
2 BASE HISTÓRICA E SURGIMENTO DOS DIREITOS HUMANOS ...................... 12 
2.1 Direitos Humanos versus Direitos Fundamentais: terminologia .................. 16 
2.2 Conceituação e estrutura dos Direitos Humanos .......................................... 18 
2.3 Conteúdo e cumprimento dos Direitos Humanos .......................................... 20 
2.4 Concretizações dos Direitos Humanos ........................................................... 21 
2.5 Gerações dos Direitos Humanos ..................................................................... 22 
2.5.1 Primeira Geração ............................................................................................. 22 
2.5.2 Segunda Geração ............................................................................................ 24 
2.5.3 Terceira Geração ............................................................................................. 25 
3 PRINCÍPIOS NORTEADORES DOS DIREITOS HUMANOS ................................ 27 
3.1 A centralidade dos Direitos Humanos ............................................................. 27 
3.2 Universalidade ................................................................................................... 28 
3.3 Inerência ............................................................................................................. 29 
3.4 Transnacionalidade ........................................................................................... 30 
3.5 Indivisibilidade .................................................................................................. 31 
3.6 Interdependência ............................................................................................... 32 
3.7 Unidade .............................................................................................................. 33 
3.8 A abertura dos DireitosHumanos, não exaustividade e fundamentalidade.
 .................................................................................................................................. 33 
3.9 Imprescritibilidade, inalienabilidade, indisponibilidade. ............................... 36 
3.10 Proibição do Retrocesso ................................................................................ 37 
3.11 Proporcionalidade e razoabilidade ................................................................ 38 
4 UNIVERSALIDADE DOS DIREITOS HUMANOS E O MULTICULTURALISMO .. 40 
4.1 Universalidade ................................................................................................... 40 
4.2 Multiculturalismo ............................................................................................... 43 
4.3 Apresentação de algumas culturas que afrontam os Direitos Humanos ..... 44 
4.3.1 Mutilação Genital Feminina (MGF) ................................................................... 44 
4.3.2 Infanticídio indígena ......................................................................................... 48 
4.4 Práticas culturais e o posicionamento dos órgãos superiores brasileiros . 55 
5 CONCLUSÃO ........................................................................................................ 60 
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 62 
10 
 
1 INTRODUÇÃO 
 
A diversidade cultural está presente em todos os países, sendo o processo 
formador de histórias e produção estrutural de singularidade, autenticidade de cada 
povo. 
Com efeito, o presente projeto tem por finalidade apresentar o chamado 
Multiculturalismo frente aos Direitos Humanos e aplicação do princípio da 
Universalidade, buscando apresentar a atual dificuldade de garantir direitos, num 
contexto de grande existência de diversidades culturais. 
A generalização dos Direitos Humanos gera algumas problemáticas, tendo em 
vista que há sobreposição de algumas culturas. Aqui podemos citar ainda, que essa 
generalização é considerada por muitos uma invenção da cultura ocidental. 
Em 1948, foi adotada pela Assembleia Geral das Nações Unidas a Declaração 
Universal dos Direitos Humanos, firmando um compromisso global entre os países, e 
criando padrões semelhantes de direitos para todos os seres humanos sem distinção. 
Isso inclui garantir direitos sem observar a gama de culturas, ou seja, observar o 
Multiculturalismo. 
O caráter Universal, adotado pela declaração ora mencionada, prevê de 
maneira abrangente, direitos que venham a reconhecer a dignidade da pessoa 
humana, com sendo um direito inerente a todos os seres humanos, de forma 
igualitária, inalienável e como fundamento da liberdade, da paz e da justiça no mundo. 
A pretensão de assegurar Direitos Humanos, com base na Universalidade, 
encontra obstáculo frente ao multiculturalismo, visto que pode ser abordado de forma 
Relativista e Universalista. Assim, na forma relativista não há o estabelecimento de 
diálogos entre as culturas, ou seja, tudo é aceito, tudo é correto, não se podendo aqui 
falar em Direitos Humanos universais. 
Acresce que, a visão defendida aqui é de garantir o mínimo de Direitos 
Humanos possíveis, ou seja, a dignidade da pessoa humana, sem que haja o 
obstáculo do Multiculturalismo. Devendo os supracitados direitos serem observados e 
as variadas manifestações culturais respeitadas. No entanto, A dignidade da pessoa 
humana deve está acima das culturas que violam e reprimem pessoas, pois a 
universalidade visa defender uma condição mínima de dignidade à todos os seres 
humanos. 
11 
 
A Declaração Universal dos Direitos Humanos apresenta o caráter de 
Universalidade, com a extensão de todos os sujeitos, ou seja, destinatários de tais 
normas, sem a distinção de raças ou culturas. 
A grande problemática gira em torno de como se pode superar tradições 
culturais, morais, religiosas, entre outras, que conflitam com o caráter universal dos 
Direitos humanos, ou seja, ferindo princípios como a dignidade da pessoa humana, a 
vida e estabelecer quando o Estado deve intervir nas culturas para proteger os direitos 
que são considerados universais. 
De que forma os Direitos Humanos podem ser universalizados? Há uma 
imposição da cultura ocidental ou há uma tentativa de proteção aos mais vulneráveis? 
A cultura pode se sobrepor sobre o Direito à vida? 
Por fim, a questão da universalidade dos Direitos Humanos frente ao 
Multiculturalismo se mostra complexa, visto que o Estado como ente normativo de 
direitos, se mostra ineficaz ao impor/exigir normas universais em sociedades 
contemporâneas atuais. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
12 
 
2 BASE HISTÓRICA E SURGIMENTO DOS DIREITOS HUMANOS 
 
É Importante antes de adentrarmos no fenômeno do Multiculturalismo, fazer a 
inserção de duas afirmações sobre o conceito de Direitos Humanos: 1º) O conceito de 
Direitos Humanos é fruto da transição da sociedade mundial à modernidade. 2º) A 
base conceitual desses direitos foi fortemente influenciada pela cultura Ocidental, mas 
é possível encontrar documentos que falam sobre a dignidade da pessoa humana fora 
do Ocidente. 
Antes da Idade Moderna, as pessoas eram tidas como naturalmente diferentes 
em decorrência do contexto social em que nasciam, ou seja, o contexto social em que 
a pessoa nascia definia seu status e seu valor perante a sociedade. 
Após o advento da modernidade, essa visão é alterada e o homem passa a ser 
visto como igual por natureza. Logo as desigualdades sociais deixam de ser vistas 
como consequência natural e passam a ser reconhecidas como consequência do 
contexto social onde o ser humano está inserido, tendo como base a dignidade da 
pessoa humana. Essa ideia tem núcleo central à visão que todo ser humano para além 
de qualquer característica externa é dotado de valor universal pelo simples fato de ser 
humano. 
Diante desse cenário, é necessária uma ressalva: existe uma forte crítica 
advinda de diversos autores que afirmam que a ideia de dignidade da pessoa humana 
é excessivamente ocidentalista e etnocêntrica, é importante, porém, ressaltar que 
existem diversos documentos históricos que abordam a ideia de dignidade encontrada 
fora do ocidente, nos locais hoje conhecidos como Oriente Médio ou Ásia Central. 
Os exemplos mais ilustrados seriam os chamados Código de Urukagina, escrito 
por volta de 2350 a.C; Código de Ur-Nammu, escrito há aproximadamente 2000 a.C.; 
Leis de Eshnunna, escritas há mais ou menos 1930 a.C.; Código de Lipit-Ishtar, 
escritos em torno de 1880 a.C.; Código de Hammurabi, cuja origem remota a mais ou 
menos 1700 a.C.; e Código de Manu, a respeito do qual há polêmica em relação à 
data, mas normalmente é situado entre o século II a.C e o século II d.C. 
A crítica que se faz à ideia de dignidade da pessoa humana, defende que essa 
seria mais uma forma moderna de colonização europeia que primeiro implantou sua 
ideia nos Estados Unidos da América e depois para o restante do mundo. Tal crítica 
é materializada em um ponto controverso dos Direitos Humanos: universalismo e 
relativismo. 
13 
 
O Universalismo defende que os Direitos Humanos devem abranger a todas as 
pessoas, em qualquer lugar do planeta. Já a ideia relativista defende que o conceito 
de dignidade é fruto de uma concepção ocidental e que levar essa visão a todas as 
pessoas do planeta, seria mais uma forma de colonização opressiva e violenta. 
Os Direitos humanos, portanto, podem ser entendidos como normas de caráter 
internacional, cujo conteúdo referência os Direitos Fundamentais relacionados à 
dignidade universal. 
Não há um momento certo para determinar seu nascimento. A luta contra a 
opressão e bem estar individual, pautando liberdade, igualdade e justiça foram fatores 
determinantes para o surgimento de comunidades humanas e impregnaçãode valores 
básicos e direitos essenciais. 
A ideia de Direitos Humanos, bem como a ideia de dignidade da pessoa 
humana, é algo tipicamente moderna. Antes da modernidade, existiam lutas sociais, 
porém, essas lutas não tinham como fundamento os Direitos Humanos, tal como 
conhecemos hoje. Um exemplo a ser mencionado, é o caso da saúde que hoje é visto 
como um direito inerente ao ser humano, mas durante muito tempo, foi visto como 
caridade. Assim, surgiram os hospitais filantrópicos e religiosos em geral, e em 
momento posterior, com a modernidade, surge o direito a saúde e sua exigência por 
parte do Estado. 
As gerações de direitos têm marco inicial com as Revoluções Liberais que 
aconteceram no fim do século XVIII. A Revolução Americana e a Revolução Francesa 
são apontadas como as revoluções responsáveis pelo surgimento dos primeiros 
documentos que garantiram Direitos Humanos. 
Conforme explica Ramos (2017, p. 26) acerca das fases históricas desses 
direitos: “Assim, para melhor compreender a atualidade da “era dos direitos”, 
incursionamos pelo passado, mostrando a contribuição das mais diversas culturas à 
formação do atual quadro normativo referente aos direitos humanos.” 
As fases podem ser sistematizadas a partir da Declaração Universal dos 
Direitos Humanos de 1948, que segue parâmetros como a dignidade da pessoa 
humana e a igualdade entre os indivíduos, reconhecimento de direitos com base na 
existência humana, reconhecimento de sua eficácia em prol de direitos voltados ao 
mínimo existencial. 
A Antiguidade trouxe reflexos para a afirmação dos Direitos Humanos, com 
alguns tratamentos referentes aos indivíduos com base no amor e respeito mútuo. 
14 
 
A herança grega trouxe expressiva consolidação de Direitos Humanos, 
começando pelos direitos políticos, possibilitando a participação política dos cidadãos. 
Além disso, a igualdade foi reafirmada, dentre outros direitos que foram aprofundados 
pelos Direitos Humanos posteriormente. 
A República Romana trouxe grandes contornos para os direitos e surgimento 
de princípios encontrados atualmente no nosso ordenamento jurídico conforme ensina 
Ramos (2017, p. 29): 
 
Uma contribuição do Direito Romano à proteção de direitos humanos foi a 
sedimentação do princípio da legalidade. A Lei das Doze Tábuas, ao estipular 
a lexscripta como regente das condutas, deu um passo na direção da 
vedação ao arbítrio. Além disso, o direito romano consagrou vários direitos, 
como o da propriedade, liberdade, personalidade jurídica, entre outros. Um 
passo foi dado também na direção do reconhecimento da igualdade pela 
aceitação do jus gentium, o direito aplicado a todos, romanos ou não. 
 
Após diversas fases históricas e diplomas jurídicos dispersos que contribuíram 
significativamente para o ordenamento jurídico atual, chegamos à fase de grandes 
tomadas de decisões, a começar pelo século XVII que consagrou grandes bases 
jurídicas como a limitação do poder do rei, estabelecendo a não cobrança de impostos 
sem autorização parlamentar (no taxation without representation), como segue: 
“Nenhum homem livre podia ser detido ou preso ou privado dos seus bens, das suas 
liberdades e franquias, ou posto fora da lei e exilado ou de qualquer modo molestado, 
a não ser por virtude de sentença legados seus pares ou da lei do país”. 
Essa exigência, conforme aduz Ramos (2017) demonstra significante passo 
para ao devido processo legal, que fora aplicado posteriormente ao nosso 
ordenamento jurídico. 
Nas palavras de Ramos (2017, p. 33), o século XVII contribuiu para surgimento 
de instrumentos legais do ordenamento jurídico atual: 
 
Ainda no século XVII, há a edição do Habeas Corpus Act (1679), que 
formalizou o mandado de proteção judicial aos que haviam sido injustamente 
presos, existente até então somente no direito consuetudinário inglês 
(common law). No seu texto, havia ainda a previsão do dever de entrega do 
“mandado de captura” ao preso ou seu representante, representando mais 
um passo para banir as detenções arbitrárias (ainda um dos grandes 
problemas mundiais de direitos humanos no século XXI). 
 
 
Além da Declaração Universal de 1948, alguns direitos foram consagrados 
Direitos Humanos por meio da Declaração de Direitos da Virgínia (1776) além de 
trazer a independência dos Estados Unidos da América. (REIS, 2004) 
15 
 
Corroborando com essa ideia, Ramos (2017, p. 38) complementa: 
 
Nesse sentido, foi editada a “Declaração do Bom Povo de Virgínia” em 12 de 
junho de 1776 (pouco menos de um mês da declaração de independência, 
em quatro de julho): composta por 18 artigos, que contém afirmações típicas 
da promoção de direitos humanos com viés jusnaturalista, como, por 
exemplo, “todos os homens são, por natureza, igualmente livres e 
independentes” (artigo I) e ainda “todo poder inerente ao povo e, 
consequentemente, dele procede; que os magistrados são seus mandatários 
e seus servidores e, em qualquer momento, perante ele responsáveis” (artigo 
II). 
 
 
Todavia, somente em 1791 que as 10 emendas da Constituição Americana se 
aproximaram do texto da francesa, que continha mais proclamações de Direitos 
Humanos. (REIS, 2004) 
Não obstante, a Revolução Francesa, foi um marco para a proteção de Direitos 
Humanos com proteção de âmbito nacional, com a vocação de universalidade. Sendo 
assim, denominada Declaração Francesa dos Direitos do Homem e do Cidadão, 
adotada pela Assembleia Nacional constituinte francesa em 27 de agosto de 1789. 
A denominada Declaração Francesa dos Direitos do Homem e do Cidadão 
trouxe a consagração de direitos, igualdades e liberdades a todos os indivíduos sem 
distinção. Conforme destaca Ramos (2017, p. 39) “O impacto na época foi imenso: 
aboliram-se os privilégios, direitos feudais e imunidades de várias castas, em especial 
da aristocracia de terras”. Assim, instituiu-se o lema revolucionário conhecido 
mundialmente: “liberdade, igualdade e fraternidade” (“liberté, egalité et fraternité”). 
A Declaração Francesa dos Direitos do Homem e do Cidadão buscou uma 
proclamação voltada no qual os homens nascem livres e com igualdade de direitos. 
Com apenas 17 artigos (que se tornou preâmbulo da Constituição Francesa de 1791), 
foi possível esmiuçar diversos direitos, como: igualdade, presunção de inocência, 
soberania popular, direito a propriedade, segurança, opinião, liberdade de 
consciência, dentre outros. 
A partir da Revolução Francesa e a Independência dos Estados Unidos da 
América, os Direitos Humanos passam pela fase conhecida como positivação, visto 
que materializou diversos direitos considerados naturais e inerentes ao indivíduo, 
sendo parte agora do ordenamento jurídico e enraizando aos outros países. (REIS, 
2004) 
A generalização constitui a segunda fase histórica no qual os Direitos Humanos 
passaram em torno do século XIX, sendo assim positivados e com garantias aos 
16 
 
indivíduos. A primeira classe atingida foi à burguesia, sendo excluídas as massas de 
trabalhadores e pessoas sem recursos, que um tempo depois, pressionaram para que 
seus direitos fossem ampliados também. 
O processo de generalização contribuiu para que determinados Direitos 
Humanos, passassem a atingir de forma internacional todas as classes sociais, 
surgindo a partir do século XIX, por meio de tratados, a conhecida 
“Internacionalização” dos Direitos Humanos, sendo a terceira fase do processo. 
Por fim, a especificação é a última fase dos Direitos Humanos. Tem como 
objetivo determinar, seletivamente, alguns direitos específicos a determinadas 
pessoas, como, mulheres, deficientes físicos, crianças, refugiados, idosos, imigrantes, 
dentre outros. Teve seu surgimento a partir da Segunda Guerra Mundial, no século 
XX. 
Os Direitos Humanos, surgidos de fenômenos históricos, não sofrem limitações 
ao Estado Nação, fazendo parte da humanidade como um todo, em todo o mundo, 
sem restrições. (SOUILLJEE, 2017) 
Nesse contexto, os DireitosHumanos é basicamente uma gama de direitos, 
frutos de diversas lutas e conquistas históricas da Humanidade. Novos direitos foram 
incorporados em decorrência do processo civilizatório, sendo assim, uma fonte 
constante de construção e renovação histórica (BIELEFELDT, 2000) 
 
2.1Direitos Humanos versus Direitos Fundamentais: terminologia 
 
Os direitos previstos aos indivíduos e considerados como essenciais, contam 
com uma diversidade de termos, bem como designações. A terminologia pode sofrer 
variações, dependendo de doutrinas e diplomas nacionais e internacionais. 
Em consonância, Ramos (2017, p.46-47) explica a diferenciação entre as 
terminologias de Direitos Humanos e Direitos Fundamentais: 
 
Inicialmente, a doutrina tende a reconhecer que os “direitos humanos” servem 
para definir os direitos estabelecidos pelo Direito Internacional em tratados e 
demais normas internacionais sobre a matéria, enquanto a expressão 
“direitos fundamentais” delimitaria aqueles direitos reconhecidos e 
positivados pelo Direito Constitucional de um Estado específico. 
 
 
Dentro desta ótica, ainda há grandes confusões no nosso ordenamento jurídico, 
quando se fala em Direitos Fundamentais e Direitos Humanos. Há que se considerar 
17 
 
que os direitos, tidos como humanos, é expressão advinha de expressão do campo 
internacional, podendo ser outras expressões, conforme adotada a Declaração 
Americana dos Direitos e Deveres do Homem de 1948 ao se referir “direitos do 
homem” e “direitos essenciais do homem”. 
Não obstante, a Declaração Universal de Direitos Humanos, estabelece num 
primeiro momento os “direitos do homem” e, em seguida “fé nos direitos fundamentais 
do homem”, e bem como, “aos direitos e liberdades fundamentais do homem”. 
Observar-se-á que há existência de diferenças e comparações representadas 
por grandes autores. De início, os Direitos Humanos tem exigibilidade limitada, ou 
seja, nem sempre são exigíveis no âmbito interno, por serem de matriz internacional. 
Por sua vez, os Direitos Fundamentais, tem exigibilidade imediata, por serem 
positivados internamento, sendo passível de cobrança judicial e terem matriz 
constitucional. 
No Brasil, a aproximação de Direitos Humanos aos Direitos Fundamentais se 
dá pelo rito especial de aprovação processual dos tratados de Direitos Humanos, 
conforme previsão do artigo 5º, § 3º Constituição da República Federativa do Brasil 
de 1988. 
O rito mencionado consiste basicamente na aprovação de tratados por meio de 
maioria de 3/5, em dois turnos, em cada casa do Congresso Nacional, considerando 
assim, o futuro tratado equivalente à emenda constitucional. Dessa forma, o tratado 
que versa sobre Direitos Humanos, com equivalência a uma emenda constitucional 
será considerado no nosso ordenamento um Direito Constitucional Fundamental. 
É comum de se ver, diversos direitos previstos nacionalmente, no âmbito 
internacional. Conforme destaca Ramos (2017, p. 49) “Os direitos fundamentais 
espelham, então, os direitos humanos. Assim, uma interpretação nacional sobre 
determinado direito poderá ser confrontada e até corrigida internacionalmente [...]”. 
Apesar de haver diferenciações no uso da terminologia, e ao mesmo tempo, 
comparações sobre os Direitos Humanos e Direitos Fundamentais, é necessário, 
compreender que a expressão humana é deveras esclarecedora, acentuando a 
essencialidade desses direitos, para que se obtenha pleno exercício de uma vida 
digna, por isso, a denominação “humana”. 
Segundo destaca Gomes (2016, p. 25) acerca da diferenciação dos Direitos 
Humanos e Direitos Fundamentais, baseado em sua terminologia: 
 
18 
 
Há critérios variados sugeridos por autoras e autores para diferenciá-los, 
mas, em geral, Direitos Humanos e Direitos Fundamentais referem-se aos 
mesmos conteúdos. Gostaria de trabalhar aqui com a seguinte distinção: 
Direitos Humanos dizem respeito à ordem internacional e às lutas sociais que, 
com base naquilo que entendem como Direitos Humanos reivindicam o 
reconhecimento destes pelo Estado; quando esses Direitos Humanos já 
estão reconhecidos internamente pelo Estado, isto é, quando já estão escritos 
em sua Constituição, podemos falar de Direitos Fundamentais. É necessário 
insistir, porém, no fato de que não se trata de uma distinção propriamente 
dita, o que significa que falar em Direitos Humanos ou em Direitos 
Fundamentais é referir-se, em geral, aos mesmos conteúdos. 
 
A partir disso, se reconhece que esses direitos são de todos, sem distinção, 
sem qualquer consideração ou qualificação. É, portanto, uma valorização humana, 
para que haja exercício posterior desses direitos. 
Assim, o adjetivo “humano” significa que tais direitos são atribuídos a qualquer 
indivíduo, sendo assim considerados “direitos de todos”. É a constatação de Ramos 
(2017, p. 50). 
 
2.2 Conceituação e estrutura dos Direitos Humanos 
 
Preliminarmente, os Direitos Humanos é um conjunto das transições das 
sociedades até a modernidade refletida nos dias atuais. Em consonância, Gomes 
(2016, p. 26) aduz uma definição de Direitos Humanos em sua obra: 
 
Direitos Humanos podem ser definidos como um conjunto de direitos que 
estão inscritos em normas jurídicos, geralmente tratados e acordos de 
natureza internacional, e cujo conteúdo refere-se a aspectos fundamentais 
da dignidade universal do ser humano. 
 
Diante disso, Pinheiro (2008, p. 112-113) destaca acerca do conceito de 
Direitos Humanos: 
O conceito de direitos humanos pode ser definido sob dois aspectos. O 
primeiro trata da análise dos fundamentos primeiros desses direitos, sendo 
tema de grande relevância para a filosofia, sociologia e ciência política 
contemporânea. O segundo aspecto é a abordagem jurídica dessa categoria 
de direitos que se relaciona diretamente com o conjunto de tratados, 
convenções e legislações cujo objeto é a definição e regulação dos 
mecanismos, internacionais e nacionais, garantidores dos direitos 
fundamentais da pessoa humana. 
 
 
Em complemento, Bielefeldt apud Souilljee (2017, p. 1365), dispõe acerca das 
conquistas dos Direitos Humanos: 
 
[...] Os direitos humanos tiveram, e continuam tendo de ser conquistados, 
também no Ocidente, e isso não só contra as camadas privilegiadas e os 
19 
 
avalistas do Estado forte, mas igualmente contra aqueles que viam e veem 
ameaçadas as normas tradicionais, as convicções e os relacionamentos de 
autoridade através das reivindicações emancipacionistas dos modernos 
direitos humanos. 
 
Conforme destaca Ramos (2017, p. 21), acerca do conceito dos Direitos 
Humanos: “Os direitos humanos consistem em um conjunto de direitos considerado 
indispensável para uma vida humana pautada na liberdade, igualdade e dignidade. 
Os direitos humanos são os direitos essenciais e indispensáveis à vida digna.”. 
A expressão Direitos Humanos, pode-se referir a diversas situações, seja 
política, social ou cultural, trazendo consigo uma multiplicidade de direitos para 
contribuir e universalizar de forma nacional e internacional, uma base essencial 
inerente ao indivíduo. 
Em conformidade, Pinheiro (2008, p. 113) compreende: 
 
A expressão direitos humanos pode referir-se a situações políticas, sociais e 
culturais que se diferenciam entre si, tendo significados diversos. Assim, o 
conceito de direitos humanos alcança um caráter fluido, aberto e de contínua 
redefinição. Neste ambiente, como é fácil perceber, cada autor encontrará a 
definição que julgar mais apropriada. 
 
 
Buscando outras bases conceituais, podemos destacar a de Andrade (2004) 
que considera que os Direitos Humanos partem de uma perspectiva filosófica ou 
jusnaturalista, pois traduzem a ideia de que é um direito natural do indivíduo, de todas 
as pessoas, em qualquer tempo, lugar, sendo absoluto, atemporal e sem a 
possibilidade de serem medidos por algo ou alguém. 
Dessa forma, os Direitos Humanos são aqueles concebidos a todos, devendo 
ser promovidos e protegidos emtodos os âmbitos (nacional e internacional), baseados 
no Princípio da Universalidade, declarados a todas as pessoas, buscando o mínimo 
existencial e dignidade da pessoa humana. 
Em contrapartida, Herkenhoff (1994) considera os Direitos Humanos de forma 
fundamental ao homem pelo simples fato de ser sujeito de direitos, inerente a sua 
pessoa e contribuindo para sua dignidade. Ou seja, reconhecidos de forma universal 
tanto pelos indivíduos e humanidade em geral, para garantir a essencialidade dos 
direitos e sobrevivência na comunidade em que se está inserida. 
Corroborando, Benevides (1994) compreende que os Direitos Humanos são 
aqueles que são inerentes e comuns a todos, sem qualquer distinção, ou seja, aqueles 
20 
 
que decorrem da dignidade do próprio ser humano. Independe de reconhecimento, 
sendo naturais antes de qualquer previsão legislativa. 
Encerrando a base conceitual, Alexandre de Moraes (2002), partindo de uma 
visão constitucionalista, considera os Direitos Humanos como um conjunto de direitos 
e garantias, que tem por finalidade garantir o básico, respeito e dignidade, protegendo 
contra o arbítrio estatal, porém, estabelecendo condições dignas para subsistência 
humana. 
 
2.3 Conteúdo e cumprimento dos Direitos Humanos 
 
 
Os Direitos Humanos trazem a representatividade de valores essenciais de 
forma explicita ou implícita, que são ora retratados em constituições internas ou em 
tratados internacionais. 
Partindo dessa premissa, é necessário avaliar como os Direitos Humanos se 
fundamentam no âmbito jurídico. Preliminarmente, pode se destacar a 
fundamentabilidade formal, ou seja, representa a inserção desses direitos no rol de 
proteção de constituições e tratados. (RAMOS, 2017) 
Pode ser material, como destaca Ramos (2017, p.22): “[...] sendo considerada 
parte integrante dos direitos humanos aquele que mesmo não expresso é 
indispensável para a promoção da dignidade humana.”. 
Em contrapartida, os Direitos Humanos trazem consigo ideias distintas que 
muitos consideram como princípios (explicados a seguir), sendo: universalidade, 
essencialidade, superioridade normativa (preferenciabilidade) e reciprocidade. 
De início, a universalidade contém a base de que todos os Direitos Humanos 
são aplicáveis a todos os cidadãos, de maneira universal, sem distinção de raça, cor, 
sexo, etnia, etc., sem dar privilégios a determinadas classes. 
Por seguinte, a essencialidade traduz a ideia de que os Direitos Humanos 
apresentam valores que são indispensáveis a todos os indivíduos e que devem por 
óbvio, serem protegidos para garantir uma vida digna. 
A preferenciabilidade dos Direitos Humanos pode ser explicada como uma 
norma superior às demais normas previstas no âmbito jurídico normativo. Não deve 
ser sacrificado um direito essencial para que atenda às necessidades do Estado. Por 
isso, os Direitos Humanos diante de outras normas, devem ser prevalecidos. 
21 
 
Esses quatro vetores transformam os Direitos Humanos como ideia central para 
uma sociedade pautada em buscar e programar a igualdade, ponderando a 
universalidade de todos os interesses dos cidadãos, sem discriminação de 
determinada classe, com a possibilidade de garantir a dignidade da pessoa humana. 
 
2.4 Concretizações dos Direitos Humanos 
 
Após breves comentários acerca dos Direitos Humanos, é necessário avaliar 
como se dá a colocação desses direitos, partindo de dois pontos de vista, sejam eles: 
subjetivo e objetivo. 
Em resumo, sobre o ponto de vista subjetivo, compreende a aplicação dos 
Direitos Humanos por meio do Estado ou um particular. Já o ponto de vista objetivo, 
determina as condutas que podem ser exigidas para o cumprimento desses direitos. 
Em complemento, Ramos (2017), expõe sobre os dois pontos de vista acerca 
dos Direitos Humanos. O primeiro, subjetivo, compreende que o Estado ou até mesmo 
um particular, podem ser incumbidos a aplicar estes direitos, ou seja, a denominada 
eficácia horizontal. De outro ponto, objetivo, condiz sobre as condutas para se cumprir 
os Direitos Humanos, sendo: ativa ou passiva, sendo a primeira de realizar alguma 
ação e, a segunda de abster-se de realizar. 
Com base na Ação Direta de Inconstitucionalidade 2.9031, julgada pelo 
Supremo Tribunal Federal, seguiu essa linha de concretização, ou seja, “direito a ter 
direitos”, buscando assim uma prerrogativa básica, que viabiliza os direitos que 
venham a surgir e demais liberdades inseridas no contexto dos Direitos Humanos. 
Em síntese, esse reconhecimento de “direito a ter direitos”, podem ter 
consequências no momento de aplica-los, visto que há indivíduos que convivem com 
direitos de outros indivíduos. 
A problemática surge, com o reconhecimento da amplitude de direitos (amplo 
e aberto), com a possibilidade de surgir um Direito Humano novo a qualquer tempo. 
Isso denota a ideia de surgimento de direitos, sem uma ponderação de valores 
envolvidos, por exemplo, numa sociedade com determinada cultura (discutido a 
seguir). 
 
1 ADI 2.903, Rel. Min. Celso de Mello, julgamento em 1º-12-2005, Plenário, DJE de 19-9-2008). 
22 
 
O mundo dos Direitos Humanos é o mundo dos conflitos entre direitos, com 
estabelecimento de limites, preferências e prevalência. É a constatação de Ramos 
(2017, p. 1) 
Exemplos claros que podem ser levantados referem-se ao direito a vida (vida 
versus liberdade religiosa); direitos reprodutivos da mulher (vida versus aborto); direito 
ao meio ambiente e a propriedade (terras e cultura indígena); liberdade de informação 
jornalística versus o direito à vida privada. 
Não basta anunciar um direito para que automaticamente haja uma sociedade 
igualitária e começar assim, uma proteção mecânica iniciada em busca da dignidade 
humana. 
Conforme aduz Ramos (2017), é possível a ocorrência de conflitos e colisões 
entre Direitos Humanos, visto as preferências entre os valores que serão envolvidos 
em determinados casos concretos. 
É necessário avaliar na sociedade, como ocorre a convivência dos Direitos 
Humanos. Essa ponderação vem ocorrendo frequentemente por órgãos judiciais 
responsáveis por tais direitos, seja em âmbito nacional ou internacional. 
 
2.5 Gerações dos Direitos Humanos 
2.5.1 Primeira Geração 
 
As denominadas três gerações ou comumente denominada dimensões, foram 
lançadas pelo francês Karel Vasak, com origem checa. O jurista, em uma Conferência 
realizada em 1979, no Instituto Internacional de Direitos Humanos de Estrasburgo 
(França), classificou os Direitos Humanos por meio destas três gerações. 
Nessa ótica, Ramos (2017, p. 53) explica sobre a ocorrência das gerações dos 
Direitos Humanos: 
 
Cada geração foi associada, na Conferência proferida por Vasak, a um dos 
componentes do dístico da Revolução Francesa: “liberté, egalité etfraternité” 
(liberdade, igualdade e fraternidade). Assim, a primeira geração seria 
composta por direitos referentes à “liberdade”; a segunda geração retrataria 
os direitos que apontam para a “igualdade”; finalmente, a terceira geração 
seria composta por direitos atinentes à solidariedade social (“fraternidade”). 
 
Antes que ocorresse a introdução dessas gerações na história, havia diversas 
lutas sociais que buscavam melhores condições de vida. No entanto, essas 
23 
 
reivindicações não se pautavam em Direitos Humanos específicos como nos dias 
atuais. 
O marco inicial da história das gerações de direitos são as chamadas 
revoluções liberais, do fim do século XVIII. É a constatação de Gomes (2016, p.30) 
Ainda na visão de Gomes (2016, p. 30): “A Revolução Americana e a Revolução 
Francesa são comumente apontadas como as responsáveis pela primeira elaboração 
de documentos asseguraram Direitos Humanos.”. 
Por meio dessas revoluções, foi possível chegar aos primeiros Direitos 
Humanos, que foram proclamados na história. Pelos poderes arbitrários da época 
(monarquia), restou necessário exercer proteções aos seres humanosque 
impedissem qualquer dano (físico moral ou econômico). 
Segundo destaca Gomes (2016, p.31): 
 
Ambos os problemas foram enfrentados pela garantia de rol de direitos 
organizados individualmente: cada indivíduo tem direito à vida, à igualdade, 
à liberdade, à propriedade, à segurança, ao sigilo das correspondências, à 
inviolabilidade de seu domicílio, a apenas ser punido nos termos previstos em 
lei, etc. 
 
Não obstante, ao mesmo tempo em que houve a proclamação de direitos aos 
indivíduos, alguns grupos sociais surgiram no contexto histórico com privilégios e 
outros sem privilegio nenhum, resultando, portanto, num conjunto de Direitos 
Humanos no qual se denominou Direitos Individuais ou Direitos Civis. 
Vale ressaltar que a existência desses Direitos Individuais e Civis, não era 
suficiente para assegurarem aos indivíduos a sua legalização. Assim, destaca Gomes 
(2016, p.31) 
Como consequência desse outro problema, era necessário então que os 
indivíduos que eram protegidos pelos Direitos Individuais ou Civis pudessem 
participar do processo de produção das leis, diretamente ou escolhendo seus 
representantes para tanto. Surgia então outro conjunto de direitos, que 
asseguravam agora não mais uma esfera de proteção contra o Estado, mas 
a possibilidade de participação dentro do Estado, na elaboração das leis e na 
execução das atividades políticas e administrativas. Eram os chamados 
Direitos Políticos, que podem ser sintetizados, nesse primeiro momento 
histórico, como direitos de votar e de ser votado. Com esses dois conjuntos 
de direitos, temos a primeira geração de Direitos Humanos: Direitos 
Individuais ou Civis e Direitos Políticos. 
 
Salienta-se, portanto, que os Direitos Humanos de primeira geração, são tidos 
como direitos ou liberdades individuais, com marco inicial as revoluções liberais do 
século XVIII na Europa e Estados Unidos. 
24 
 
2.5.2 Segunda Geração 
 
Os Direitos Humanos de segunda geração surgiram também de lutas sociais, 
no entanto, na Europa e Américas, tendo como marco a Constituição Mexicana de 
1917 (trouxe a regulamentação da previdência social e do direito ao trabalho), bem 
como a Constituição alemã de Weimar de 1919 (proteção do Estado a direitos sociais). 
No âmbito internacional, o Tratado de Versailles inovou com a criação da 
Organização Internacional do Trabalho (OIT), que se tornou importante instrumento 
de reconhecimento de direitos aos trabalhadores. 
O reconhecimento de Direitos Individuais ou Civis e Políticos não foram 
suficientes para impedir que a situação social chegasse a níveis alarmantes de 
desigualdade e miséria ao longo do século XIX. (GOMES, 2016, p.31) 
Dessa forma, Ramos (2017, p. 54) aduz: 
 
Os direitos sociais são também titularizados pelo indivíduo e oponíveis ao 
Estado. São reconhecidos o direito à saúde, educação, previdência social, 
habitação, entre outros, que demandam prestações positivas do Estado para 
seu atendimento e são denominados direitos de igualdade por garantirem, 
justamente às camadas mais miseráveis da sociedade, a concretização das 
liberdades abstratas reconhecidas nas primeiras declarações de direitos. 
 
Basicamente, os Direitos Humanos de segunda geração, decorreram de lutas 
sociais que marcaram a história. Ficou evidenciado a vontade de se criar uma 
sociedade sem privilégios, afirmando direitos individuais a todas as pessoas, sem 
distinção e o principal: sem levar em consideração as reais condições de vida das 
pessoas naquela época. 
Ao contrário, elas foram fruto de muitas lutas desenroladas ao longo de todo o 
século XIX. É a constatação de Gomes (2016, p. 35) 
Grandes mudanças foram necessárias para chegar à consolidação dos Direitos 
Humanos de segunda geração, reconhecendo primeiramente que o Estado Social ou 
Estado de Bem Estar Social também era o Estado interventor, ou seja, aquele que 
intervinha na sociedade, economia, evitando abusos sócios econômicos e que 
buscava uma sociedade economicamente igual. 
Sem dúvida, o novo modelo de sociedade, economia e Estado preocupou-se 
com a igualdade material das pessoas. É a constatação de Gomes (2016, p.36) 
Além disso, a segunda grande mudança do Estado Social ou do Estado de 
Bem-Estar Social buscou a formalização do processo de materialização, ou seja, não 
25 
 
bastava naquele momento declarar que todos os indivíduos eram iguais, mas sim, 
efetivar condições para que essa igualdade existisse, criando assim, mecanismos 
para que esses direitos fossem efetivados. 
Assim, para reconhecer esses direitos na segunda geração, Gomes (2016, p. 
35) expõe: “O meio principal pelo qual esse Estado procurará efetivar sua intervenção 
é a proclamação de novos Direitos Humanos: Direitos Econômicos, Direitos Sociais e 
Direitos Trabalhistas.”. 
 
 
2.5.3 Terceira Geração 
 
O reconhecimento dos Direitos Humanos de segunda geração foi capaz de 
atenuar as desigualdades e a miséria social. Todavia, esses direitos não foram 
capazes de lidar com alguns outros problemas típicos de nossas sociedades. 
Nessa ótica, Gomes (2016, p. 35-36) aduz: 
 
Estes problemas – padronização e não reconhecimento das diferenças; 
fragilidade do indivíduo consumidor perante as empresas; riscos de 
destruição dos recursos naturais do planeta Terra - estão na base das 
principais lutas que serão travadas dentro do modelo do Estado Social ou do 
Estado do Bem- Estar Social e que, a partir da década de 1950, mostrarão os 
limites desse modelo e produzirão mudanças significativas. Frente a isso, 
novas lutas sociais, sobretudo a partir da segunda metade do século XX, 
expressarão novas pretensões que darão origem a novos Direitos Humanos. 
Assim, lutas que reivindicavam o direito à diferença baseada na 
especificidade de minorias sociais conseguirão alcançar o reconhecimento de 
Direitos Coletivos: direitos que não se destinam indiferentemente a toda e 
qualquer pessoa da sociedade, mas a toda e qualquer pessoa da sociedade 
que tenha determinadas características capazes de justificar uma proteção 
diferenciada. 
 
Os direitos de terceira geração, portanto, tem como titular a comunidade, direito 
à paz, desenvolvimento, autodeterminação e o principal: direito ao meio ambiente 
equilibrado. Conforme destaca Ramos (2017), são aqueles direitos com vinculação do 
homem na Terra, com recursos finitos. 
Diante disso, Sarlet (2016, p. 511) expõe: 
 
Em caráter conclusivo, Tushnet sugere que os direitos de segunda e terceira 
dimensão contribuem para aperfeiçoar e ampliar a noção de direitos humanos 
em termos gerais, em especial, contudo, operando de modo a complementar 
os direitos da primeira dimensão, assim como a sua realização daqueles 
requer uma revisão da compreensão de aspectos específicos relativos aos 
últimos, ou seja, os direitos da primeira dimensão. 
 
 
26 
 
Segundo Lafer (1988) os direitos de terceira dimensão podem ser denominados 
também como direitos de fraternidade ou de solidariedade, desprendido do indivíduo 
como seu titular, com destinação especial a grupos humanos (família, povo, nação) 
com a característica essencial de titularidade coletiva ou difusa. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
27 
 
3 PRINCÍPIOS NORTEADORES DOS DIREITOS HUMANOS 
3.1 A centralidade dos Direitos Humanos 
 
A melhor maneira de explicar um instituto jurídico é passar por uma base 
principiológica. Por isso, serão dissertados nos tópicos a seguir, os principais 
princípios norteadores dos Direitos Humanos. 
Preliminarmente, os Direitos Humanos trazem uma representatividade central 
do Direito Constitucional em conjunto com o Direito Internacional, ou seja, no âmbito 
constitucionalista, no qual as normas se formatam por meio de direitos fundamentais 
denominados: jusfundamentalização. 
Nessa linha, Sarmento (2010) traduz a ideia de que o famoso princípio da 
dignidade da pessoa humana traz representação da ordem constitucional, que 
espalhaseus efeitos para todo ordenamento jurídico, incluindo: atos estatais, relações 
privadas da sociedade civil e de mercado. 
Não obstante, no plano internacional, os Direitos Humanos demoraram em 
serem centralizados devido aos regimes totalitários no qual a Europa passou. Após a 
uma ruptura nazifascistas da Segunda Guerra Mundial, tais direitos obtiveram 
reconstrução, bem como a internacionalização de vida. 
Nessa linha, Ramos (2017, p. 91) destaca: 
 
Com isso, o Direito Internacional passou por uma lenta mudança do seu eixo 
central voltado à perspectiva do Estado preocupado com a governabilidade 
com a manutenção de suas relações internacionais. Com a ascensão da 
temática dos direitos humanos previstos em diversas normas internacionais, 
os direitos humanos promoveram a entrada encenada preocupação 
internacionais referente à promoção da dignidade humana em todos os seus 
aspectos. 
 
Sobre a ótica de previsões legais/ jurisprudenciais para a centralidade dos 
Direitos Humanos, o Supremo Tribunal Federal, reconheceu por meio do Habeas 
Corpus nº 87.585-8, o novo papel central dos Direitos Humanos como foco principal 
da dignidade da pessoa humana: 
 
[...] hoje, uma nova perspectiva no plano do direito internacional. É que, ao 
contrário dos padrões ortodoxos consagrados pelo direito internacional 
clássico, os tratados e convenções, presentemente, não mais consideram a 
pessoa humana como um sujeito estranho ao domínio de atuação dos 
Estados no plano externo. O eixo de atuação do direito internacional público 
contemporâneo passou a concentrar-se, também, na dimensão subjetiva da 
pessoa humana, cuja essencial dignidade veio a ser reconhecida, em 
sucessivas declarações e pactos internacionais, como valor fundante do 
28 
 
ordenamento jurídico sobre o qual repousa o edifício institucional dos Estados 
nacionais. 
 
 
3.2 Universalidade 
 
A base principal desse estudo é o princípio da Universalidade. Os Direitos 
Humanos tem como principal objetivo em atribuir direitos a todos os indivíduos, sem 
observar alguma qualidade especial e sem distinção de nacionalidade, sexualidade, 
crença, raça, cor ou opção política. 
Antes dos Direitos Humanos serem declarados universais, houve um processo 
de negação até chegar aos dias atuais. Ramos destaca (2017, p. 91): 
 
A universalidade possui vínculo indissociável como processo de 
internacionalização dos direitos humanos. Até a consolidação da 
internacionalização em sentido estrito dos direitos humanos, com a formação 
do Direito Internacional dos Direitos Humanos, os direitos dependiam da 
positivação e proteção do Estado Nacional. Por isso, eram direitos locais. 
 
Segundo destaca Gomes (2016, p. 26) sobre Universalidade dos Direitos 
Humanos: 
Universalidade: os Direitos Humanos referem-se a e devem alcançar todos 
os seres humanos, independentemente de qualquer característica externa, 
como nacionalidade, crença religiosa, classe, gênero, idade, raça, orientação 
afetivo- sexual ou qualquer outra. 
 
Como dito anteriormente, o movimento nazista rompeu o paradigma de 
proteção dos Direitos Humanos, os transformando em nacionais. Em consequência, 
o ser humano não era considerado fonte de direito, sendo apenas titulares aqueles de 
origem racial ariana. Dessa forma, tais direitos não eram universais, sendo ofertados 
para poucos. 
Após esse movimento nazista, surgiu a Declaração Universal de 1948 que 
trouxe a confirmação da universalidade dos Direitos Humanos e até hoje vem sofrendo 
constantes reafirmações por meio de declarações internacionais e tratadas, editadas 
por Estados. 
Um dos exemplos que podem ser citados é a Proclamação de Teerã, realizada 
em 1968, ou seja, 1ª Conferência Mundial de Direitos Humanos da Organização das 
Nações Unidas, destacando o seguinte trecho: 
 
1. É indispensável que a comunidade internacional cumpra sua obrigação 
solene de fomentar e incentivar o respeito aos direitos humanos e as 
29 
 
liberdades fundamentais para todos, sem distinção nenhuma por motivos de 
raça, cor, sexo, idioma ou opiniões políticas ou de qualquer outra espécie. 
 
Ressaltando ainda mais a universalidade, na 2ª Conferência Mundial da 
Organização das Nações Unidades de Direitos Humanos, em 1993, surgiu a 
Declaração de Viena2, parágrafo 5º, a referência de que os Direitos Humanos são 
universais. 
5. Todos os direitos humanos são universais, indivisíveis interdependentes e 
inter-relacionados. A comunidade internacional deve tratar os direitos 
humanos de forma global, justa e equitativa, em pé de igualdade e com a 
mesma ênfase. Embora particularidades nacionais e regionais devam ser 
levadas em consideração, assim como diversos contextos históricos, culturais 
e religiosas, é dever dos Estados promover e proteger todos os direitos 
humanos e liberdades fundamentais, sejam quais forme seus sistemas 
políticos, econômicos e culturais. 
 
Segundo Pinheiro (2008) a universalidade dos Direitos Humanos reside no seu 
conteúdo, pautando em normas gerais destinados as um grupo indeterminado de 
pessoas enquanto serem humanos nacionais ou estrangeiros, sem distinção. 
Além disso, Pinheiro (2008, p. 6) destaca: 
 
Atualmente, o entendimento predominante é de que todos os direitos 
humanos são interdependentes e indivisíveis, cabendo aos direitos civis e 
políticos importante papel na consecução do desenvolvimento. Se, por um 
lado, as condições estruturais têm reflexo óbvio na situação dos direitos 
econômicos e sociais, afetando também os direitos civis mais elementares; 
por outro lado, a ausência de níveis satisfatórios de desenvolvimento 
econômico social não é mais aceita como escusa para a inobservância de 
tais direitos. Assim como as deficiências econômicas deixaram de ser 
justificativas para as violações, também perdeu valor explicativo o relativismo 
cultural. Consequentemente, pode-se dizer que todos os direitos humanos, 
nacional e internacional, constituem um complexo integral, harmônico e 
indivisível, em que os diferentes direitos estão necessariamente inter-
relacionados e são interdependentes entre si. 
 
Um dos exemplos clássicos, que podem ser citados atualmente é o direito à 
vida, com reconhecimento universal, básico e fundamental, sendo requisito 
indispensável para o gozo de todos direitos humanos que podem ser decorrentes. 
 
3.3 Inerência 
 
 
2 “Torna-se importante destacar, sob tal perspectiva, que a Conferência Mundial sobre Direitos 
Humanos, realizada em Viena, em 1993, sob os auspícios da Organização das Nações Unidas, 
representou um passo decisivo no processo de reconhecimento, consolidação e contínua expansão 
dos direitos básicos da pessoa humana. HC 87.585-8, voto do Min. Celso de Mello, julgamento em 12-
3-2008).” 
30 
 
Além da universalidade como conteúdo básico dos Direitos Humanos, a 
inerência foi traduzida também por meio da edição Declaração Universal de Direitos 
Humanos de 1948, dispondo assim, que para serem titulares dos direitos 
considerados essenciais basta ter a condição humana. 
No artigo 1º da Declaração de 1948 (Declaração de Paris) é ressaltado: “todos 
os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos”. 
Dessa forma, a dignidade é única para todos e, portanto, é inerente a condição 
humana, considerado assim, Direitos Humanos universais. Diante disso, Preti e 
Lépore (2020, p. 5) dispõem: 
 
Quando se faz menção à inerência dos direitos humanos, percebe-se 
inegável aproximação à corrente jusnaturalista, que sustenta a existência de 
ordem natural e pré-concebida de direitos ostentados por todas as pessoas 
(pelo só fato de existirem), de sorte que caberia ao direito tão somente 
declará-los. 
 
Em complemento, Weis (2011) destaca que os Direitos Humanos são 
inerentes, consistindo como uma qualidade de pertencer a todos os membros seres 
humanos tais direitos, sem nenhuma distinção. 
Ainda sobre os Direitos Humanos, Preti e Lépore (2020, p. 2) destacam sobre 
a sua inerência: 
Aolongo da história da humanidade, o tratamento e reconhecimento do ser 
humano nem sempre foi o mesmo, sendo que episódios de violações 
massivas de direitas e absolutas afrontas à dignidade de pessoas exigiram 
que a própria humanidade reconhecesse direitos inerentes a todas as 
pessoas, bem como que todas as pessoas têm o direito a ter direitos. 
 
3.4 Transnacionalidade 
 
Além dos princípios mencionados, há também a chamada Transnacionalidade 
que submete ao indivíduo, o reconhecimento de diretos, onde este se encontrar 
(WEIS, 2011) 
Conforme destaca Ramos (2017, p. 93) 
 
Essa característica é ainda mais importante na ausência de uma 
nacionalidade (apátridas) ou na existência de fluxos de refugiados. Os direitos 
humanos não mais dependem do reconhecimento por parte de um Estado ou 
da existência do vínculo da nacionalidade, existindo o dever internacional de 
proteção aos indivíduos, confirmando-se o caráter universal e transnacional 
desses direitos. 
 
 
31 
 
Além de a Transnacionalidade ter se tornado fator importante, a mundialização 
e a globalização por meio das interações humanas, ajudaram a evoluir de forma 
significativa, a interação entre os países. Assim, como Cruz (2011) destaca, a 
transnacionalidade é um novo mundo, um espaço intermediário nacional e 
internacional. 
Conforme explica Piovesan (2000, p. 93) acerca da Transnacionalidade: “O 
movimento de internacionalização dos direitos humanos constitui um movimento 
extremamente recente na história, surgindo, a partir do pós-guerra, como resposta às 
atrocidades e aos horrores cometidos durante o nazismo”. 
Vale ressaltar, que a partir do fenômeno da Transnacionalidade, os tribunais 
superiores e cortes, vêm admitindo diversos entendimentos permitindo o diálogo entre 
si, como precedentes jurisprudenciais estrangeiros e de tribunais para utilização de 
seus casos concretos e demandas. 
Souilljee (2017, p. 1376- 1377) finaliza sobre o processo de evolução dos 
Direitos Humanos: 
 
Os Direitos Humanos estão em processo de evolução de forma constante. 
Não há como interromper a lógica de expansão destes direitos, se 
considerados como conquistas históricas que estão, em verdade, ocorrendo 
na vida de todos os dias. Os Direitos Humanos vão acumulando-se e 
sustentando um rol balizado pelo princípio da Dignidade da pessoa humana. 
Numa perspectiva globalizada e transnacional, buscam-se novos 
instrumentos e mecanismos para garantir a eficácia universal dos Direitos 
Humanos para além de discurso político e de retórica social. 
 
A partir da Transnacionalidade, é possível a ocorrência da atuação judicial 
como uma troca, para que ocorra a concretização dos Direitos Humanos, utilizando 
em casos concretos, sem ameaças jurídicas, apresentando a internacionalização do 
direito e o mais importante: buscando a efetivação da pretensão jurídica em todas 
demandas possíveis. 
 
3.5 Indivisibilidade 
 
O princípio da indivisibilidade tem como objetivo reconhecer que todos os 
Direitos Humanos tem a mesma proteção jurídica, pelo seu caráter de essencialidade 
a dignidade da pessoa. 
Como destaca Ramos (2016) a indivisibilidade possui duas facetas. A primeira 
reconhece o direito ora protegido como uma unidade, a segunda, dispõe a 
32 
 
possibilidade de não proteção de alguns direitos que são reconhecidos como 
humanos. 
Não obstante, Ramos (2017, p. 94) destaca: 
 
O objetivo do reconhecimento da indivisibilidade é exigir que o Estado 
também invista tal qual investe na promoção dos direitos de primeira 
geração– nos direitos sociais, zelando pelo chamado mínimo existencial, ou 
seja, condições materiais mínimas de sobrevivência digna do indivíduo. A 
indivisibilidade também exige o combate tanto às violações maciças e graves 
de direitos considerados de primeira geração (direito à vida, integridade física, 
liberdade de expressão, entre outros) quanto aos direitos de segunda 
geração (direitos sociais, como o direito à saúde, educação, trabalho, 
previdência social etc.). 
 
A característica da indivisibilidade foi atribuída na II Conferência Mundial de 
Direitos Humanos em Viena (1993), por meio da promulgação da Declaração de 
Viena, reafirmando e consagrando a determinação da declaração de 1948, referente 
aos Direitos Humanos. 
A indivisibilidade dos Direitos Humanos está relacionada com a compreensão 
integral desses direitos, o qual não se admite fracionamentos. É a constatação de 
Berton, Foguesatto, Schonardie (2017, p. 5) 
 
3.6 Interdependência 
 
A interdependência ou inter-relação permite o reconhecimento dos Direitos 
Humanos, como maneira de realizar a dignidade humana, para satisfazer 
necessidades mínimas e essenciais do indivíduo, com integralidade de proteção, sem 
exclusão de nenhum direito. 
Dessa forma, Carvalho Ramos (2016) entende que os conteúdos dos Direitos 
Humanos podem se vincular entre si, com interações e complementaridade. Portanto, 
alguns direitos podem ser desdobramentos de outros. 
 A interdependência, assim como indivisibilidade foi afirmada e reafirmada em 
diversos diplomas legais, várias vezes. De início, a Proclamação de Direitos Humanos 
da 1ª Conferência Mundial de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas 
(ONU), ocorrida em Teerã, no ano de 1968, foi um dos primeiros textos que 
reconheceu a interdependência desses direitos, pelo seguinte texto: “Os direitos 
humanos e as liberdades fundamentais são indivisíveis, a realização dos direitos civis 
e políticos sem o gozo dos direitos econômicos, sociais e culturais resulta impossível”. 
33 
 
 A Declaração sobre o Direito ao Desenvolvimento3 de 1986, dispôs em seu 
artigo 6º, §2º, a seguinte redação: 
 
Artigo 6º: 
§2º: Todos os direitos humanos e todas as liberdades fundamentais são 
indivisíveis e interdependentes; a realização, a promoção e a proteção dos 
direitos civis, políticos, econômicos, sociais e culturais devem se beneficiar 
de uma atenção igual e ser encaradas com uma urgência igual. 
 
Por fim, a Declaração de Viena, com aprovação na 2ª Conferência Mundial de 
Direitos Humanos da ONU em 1993, reafirmou as afirmações conferidas na 
Proclamação de Teerã e dispôs no seu § 5º: 
 
Todos os direitos humanos são universais, indivisíveis, interdependentes e 
inter-relacionados. A comunidade internacional deve tratar os direitos 
humanos de forma global, justa e equitativa, em pé de igualdade e com a 
mesma ênfase. 
 
3.7 Unidade 
 
O Princípio da Unidade tem como objetivo reconhecer que os Direitos Humanos 
como unidade, ou seja, indivisível, interdependente e inter-relacionada. 
A Declaração de Viena, no seu §15º compreende: “O respeito aos direitos 
humanos e liberdades fundamentais, sem distinções de qualquer espécie, é uma 
norma fundamental do direito internacional na área dos direitos humanos”.·. 
Conforme dispõe Piovesan (2004) quando determinado direito sofre violação, 
os demais direitos ficam vulneráveis e comprometidos pela proteção inerente ao 
indivíduo. No Brasil, a concretização de direitos como: liberdade e igualdade são 
difíceis de ocorrer e que se concretize a justiça social. 
 
3.8 A abertura dos Direitos Humanos, não exaustividade e fundamentalidade. 
 
A abertura dos direitos humanos tem como objetivo, possibilitar a expansão de 
mais direitos inerentes à pessoa humana em busca de uma vida digna. 
 
3 Adotada pela Resolução n. 41/128 da Assembleia Geral das Nações Unidas, de 4 de dezembro de 
1986. 
34 
 
Os Direitos Humanos não são exauríveis, sendo os direitos previstos na 
Constituição da República Federativa do Brasil e em tratados meramente 
exemplificativos, sem exclusão de possíveis futuros direitos. 
Em complemento, Melo e Bonato (2017, p. 276) destacam: 
 
Com efeito, a Constituição Federal de 1988 prevê em seu artigo 5º, § 2º, que 
os direitos e garantias expressos na Carta não excluem outros decorrentes 
do regime, princípios e de tratados internacionais dos quais o Brasil seja 
parte.Esta é a chamada cláusula de abertura dos direitos fundamentais, pois 
agregam além dos direitos previstos no Título II, os demais direitos previstos 
na Constituição e nos Tratados Internacionais. 
 
Em tal reflexão, os Direitos Humanos podem ter abertura internacional ou 
nacional, segundo ensinamentos de Ramos (2017, p. 96): 
 
A abertura pode ser de origem internacional ou nacional. A abertura 
internacional é fruto do aumento do rol de direitos protegidos resultante do 
Direito Internacional dos Direitos Humanos, que por meio de novos tratados, 
quer por meio da atividade dos tribunais internacionais. Já a abertura nacional 
é fruto do trabalho do Poder Constituinte Derivado (como, por exemplo, a 
inserção do direito à moradia pela EC n.26/2000 e do direito à alimentação 
pela EC n.64/2010) e também fruto da atividade interpretativa ampliativa dos 
tribunais nacionais. 
 
 
Os Direitos Humanos tiveram previsão de abertura em diversos diplomas 
jurídicos, antes mesmo da atual Constituição da República Federativa do Brasil de 
1988. No entanto, somente na Constituição Federal de 1988 que se obteve a inovação 
de incluir direitos por meio da abertura, advindos de tratados internacionais em que o 
Brasil seja parte. (MELLO, 2001) 
Vale ressaltar que o direito brasileiro não tem exclusividade sobre a abertura 
de direitos. Analisando a Constituição Portuguesa de 1976, foi possível constatar a 
existência de outros direitos em leis ordinárias e bem como em normas internacionais 
fora da própria constituição. (ANDRADE, 2004) 
Dessa forma, Andrade (2004) ainda destaca que a cláusula de abertura 
reconhece a existência de conceitos formais e materiais de direitos. Sendo assim, a 
partir da Fundamentalidade dos direitos, não tem correspondência direta com a sua 
previsão ou especificação na ordem constitucional, devendo ser analisado critérios 
substanciais para determinar os direitos em determinadas matérias. 
O princípio da Não Exaustividade tem correlação com a Abertura dos Direitos 
Humanos, ora previsto no artigo 5º, §2º, da Constituição da República Federativa do 
Brasil, sendo introduzido na Constituição de 1891. 
35 
 
Na Constituição de 1891, em seu artigo 78, trazia a previsão de direitos e 
garantias sem a exclusão de outros direitos não enumerados, mas que são 
decorrentes de outros tipos normativos, como por exemplo, princípios. 
Diante disso, Mello (2001) sublinha que ao prever este artigo, o principal 
objetivo era evitar interpretações de que, ao normatizar determinados direitos de 
forma expressa, poderia ensejar a exclusão de outros não expressos na Constituição. 
Em decorrência de atos normativos, a Constituição de 1934, em seu artigo 114, 
previa a abertura constitucional, buscando a não exaustividade. Em outro momento, 
a Constituição de 1937, no artigo 123 criou uma limitação a não exaustividade e a 
abertura dos direitos não previstos, com a seguinte redação: 
 
Artigo 123. O uso desses direitos e garantias terá por limite o bem público, as 
necessidades da defesa, do bem-estar, da paz e da ordem coletiva, bem 
como as exigências da segurança da nação e do Estado em nome dela 
constituído e organizado nesta Constituição. 
 
 
Em momento posterior, as Constituições de 1946 e 1967 excluíram a limitação 
e seguiram o padrão das constituições anteriores, com previsão no artigo 144 e 150, 
§35, respectivamente.4 
Buscando inovações, a Constituição da República Federativa do Brasil, buscou 
programar no artigo 5º, § 2º, não exclusão de outros direitos decorrentes de princípios 
e em tratados internacionais celebrados pelo Brasil. 
A abertura dos Direitos Humanos tem relação também com o princípio da 
Fundamentalidade, encontrado no nosso ordenamento jurídico. Assim, Ramos (2017, 
p. 96) destaca: “Como os direitos humanos são fundamentais para uma vida digna, 
novos direitos podem surgir na medida em que as necessidades sociais assim 
exijam.”. 
Alexy (2008) considera o princípio da Fundamentalidade um dos mais 
importantes dos Direitos Humanos, pois estes valem além de normativamente, 
também moralmente. 
 
4Art. 144. A especificação dos direitos e garantias expressas nesta Constituição não exclui outros 
direitos e garantias decorrentes do regime e dos princípios que ela adota. 
Art. 150 - A Constituição assegura aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a 
inviolabilidade dos direitos concernentes à vida, à liberdade, à segurança e à propriedade, nos termos 
seguintes:§ 35 - A especificação dos direitos e garantias expressas nesta Constituição não exclui outros 
direitos e garantias decorrentes do regime e dos princípios que ela adota. 
 
36 
 
A fundamentalidade tem proteção aos Direitos Fundamentais de maneira 
formal e material. Alexy (2008) compreende que a Fundamentalidade Formal 
compreende a posição hierárquica das normas, ou seja, as normas colocadas no 
nosso ordenamento jurídico têm vinculação aos poderes (Judiciário, Legislativo e 
Judiciário). Já a Fundamentalidade Material, compreende a abertura dos direitos 
humanos já mencionada, com previsão na Constituição da República Federativa do 
Brasil, no artigo 5, § 2º, correspondente aqueles que são formalmente não positivados, 
mas sim, materialmente fundamentais. 
Em conclusão, a Fundamentalidade formal referência aquelas normas, cuja 
previsão está na ordem constitucional ou em tratados de Direitos Humanos, ou, as 
normas de Fundamentalidade material reconhecidos apenas materialmente, mas 
ainda reconhecem a dignidade humana. 
 
3.9 Imprescritibilidade, inalienabilidade, indisponibilidade. 
 
Os Direitos Humanos são tidos como imprescritíveis, inalienáveis e 
indisponíveis (denominados irrenunciáveis), ou seja, essas três características 
traduzem a ideia que a proteção desses direitos é essencial a vida humana, bem 
como, não passíveis de serem renunciados. 
Ramos destaca (2017, p. 97) as três características em um breve resumo: 
 
A imprescritibilidade implica reconhecer que tais direitos não se perdem pela 
passagem do tempo: existindo o ser humano, há esses direitos inerentes. A 
inalienabilidade pugna pela impossibilidade de se atribuir uma dimensão 
pecuniária desses direitos para fins de venda. Finalmente, a indisponibilidade 
ou irrenunciabilidade revela a impossibilidade de o próprio ser humano – 
titular desses direitos – abrir mão de sua condição humana e permitir a 
violação desses direitos. 
 
Em complemento, Gomes (2016, p. 26) destaca acerca dos três institutos 
mencionados: 
Imprescritibilidade: os Direitos Humanos não se perdem com o passar do 
tempo. Mesmo que não sejam exercidos por alguém por um longo período de 
tempo, essa pessoa sempre poderá, a qualquer momento, reivindicá-los. 
Inalienabilidade: os Direitos Humanos não podem ser transferidos de uma 
pessoa a outra por nenhum motivo, seja doação, venda, renúncia ou qualquer 
outro meio. Irrenunciabilidade: exatamente porque não podem ser alienados, 
transferidos, é impossível também renunciar aos Direitos Humanos. Mesmo 
que alguma pessoa não os queira, ela continua sendo protegida por esses 
Direitos. 
 
 
37 
 
Essa característica de intangibilidade, decorrente dos princípios apresentados, 
foi essencial para afirmar os Direitos Humanos e na sua evolução, pois reconhece tais 
direitos gravados com cláusulas de proteção contra as ações do Estado e até mesmo 
com seu titular, ao momento de decidir de renunciar, pois ainda sim, demonstram 
essencialidade e inerência a vida digna. 
 
3.10 Proibição do Retrocesso 
 
Proibição do retrocesso é uma das características dos Direitos Humanos, 
denominada de “efeito cliquet”, consistindo em vedar a eliminação da concretização 
de direitos já protegidos, sendo permitido acrescentar ou aprimorar. 
A doutrina denomina de entrenchment ou entrincheiramento, ou seja, preservar 
o mínimo de direitos ora concretizados, impedindo que estes retroajam, sejam 
suprimidas ou diminuídas as prestações à coletividade.(AGRA, 2007) 
A proibição do retrocesso é característica advinda da proteção internacional 
dos Direitos Humanos, cristalizando essa proteção mesmo que novos tratados 
venham surgir e impondo restrições ou diminuições de direitos já alcançados 
anteriormente. 
A proibição de retrocesso não é, portanto, uma vedação absoluta de futuras 
medidas ou alterações referentes à proteção de direitos específicos. Um dos 
exemplos que Ramos (2016) destaca é a alteração constitucional sobre as regras de 
aposentadoria de servidores públicos, referente ao crescimento da expectativa de 
vida. Seguindo a regra de inalterabilidade (vedação de retrocesso), levariam ao 
Estado destinar muitos recursos e diminuindo o foco a outros direitos. 
Em outra obra, Ramos5 destaca acerca dos seguintes atos normativos em que 
se encontra a proibição do retrocesso: 
 
No Brasil, a proibição do retrocesso é fruto dos seguintes dispositivos 
constitucionais: 1) Estado democrático de Direito (art.1º, caput); 2) dignidade 
da pessoa humana (art.1º, III);3) aplicabilidade imediata das normas 
definidoras de direitos fundamentais (art.5º,§1º); 4) proteção da confiança e 
segurança jurídica (art.1º, caput, e ainda art.5º, XXXVI–a lei não prejudicará 
o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada) ;e 5) cláusula 
pétrea prevista no art. 60,§ 4º,IV. 
 
 
5 CARVALHO RAMOS, André de. Teoria geral dos direitos humanos na ordem internacional. 6. ed. 
São Paulo: Saraiva, 2016. 
38 
 
3.11 Proporcionalidade e razoabilidade 
 
Além de estudar os princípios mencionados, faz-se necessário o estudo do 
princípio da razoabilidade, baseado nos Direitos Humanos. Busca consistir na 
ocorrência da exigência de verificar a legitimidade da lei ou ato normativo que 
restringem ou legitimam os exercícios de tais direitos, buscando compatibilizar a 
maneira empregada pela norma para viabilizar a concretização. 
O instituto da razoabilidade surgiu por meio do devido processo legal, com 
origem norte-americana. Segundo Barroso (2001), o princípio do devido processo 
legal, após ser aplicado nos Estados Unidos, ganhou uma segunda face, tornando-se 
fundamento do princípio da razoabilidade de leis e atos administrativos. 
Diante disso, fica nítido que o princípio da razoabilidade controla os Poderes 
Legislativo e Executivo, estabelecendo o exame das normas jurídicas dentro da 
razoabilidade (reasonableness) e racionalidade (rationality), bem como analise dos 
atos do Poder Público. (RAMOS, 2017) 
Em resumo, Barroso (2001) compreende que o princípio da razoabilidade faz 
uma valoração dos atos envolvidos pelo Poder Público, auferindo se estão em 
conformidade com ordenamento e o valor superior: justiça. 
Em âmbito de discussões, existe a observância de que os princípios da 
proporcionalidade e razoabilidade têm sentidos equivalentes, apenas com 
terminologia diferente, pois decorrem do “devido processo legal substancial”. 
Além disso, o Supremo Tribunal Federal adota essa posição, ao afirmar, por 
meio do Habeas Corpus 76.060, Relator Ministro Sepúlveda Pertence, julgado em 
31/03/1998, Primeira Turma, DJ de 15-5-1998), afirmando: “A luz do princípio da 
proporcionalidade ou da razoabilidade, se impõe evitar a afronta à dignidade pessoal 
que, nas circunstâncias, a sua participação na perícia substantivaria”. 
De outro norte, existem autores que defendem a diferenciação dos institutos da 
razoabilidade e proporcionalidade, partindo da premissa que a razoabilidade 
representa um critério da proporcionalidade (adequação). Segundo Silva (2002), a 
proporcionalidade tem mais amplitude que a razoabilidade, não se limitando aos 
meios e fins da adequação. 
Vale ressaltar que não há expressa menção do Princípio da Proporcionalidade 
na Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 ou tratados internacionais 
que o Brasil faça parte. 
39 
 
Seu fundamento está pontuado implicitamente na Constituição, doutrinas e 
precedentes do Supremo Tribunal Federal, mesmo que não tenha consenso sobre 
sua aplicação. 
O Princípio da Proporcionalidade tem alguns fundamentos como Estado 
Democrático de Direito, buscando evitar excessos do poder estatal. No Devido 
processo legal, implícito no artigo 5º, inciso LIV, buscando pautar a atuação do Estado 
na legitimidade e justiça material. Dignidade humana e direitos fundamentais, 
observando os atos do Estado sem ser excessivos. E por fim, Direitos e garantias 
decorrentes da Constituição (regime e princípios). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
40 
 
4 UNIVERSALIDADE DOS DIREITOS HUMANOS E O MULTICULTURALISMO 
4.1 Universalidade 
 
Após um longo estudo acerca dos Direitos Humanos e todos os aspectos 
pertinentes ao tema, restou necessário adentrar no tema principal que é proposto pelo 
estudo: A universalidade dos Direitos Humanos e o Multiculturalismo. 
É importante destacar que cada nação, povo, unidade, nasce e cresce 
desenvolvendo crenças, culturas, tradições, pautadas em valores considerados 
básicos, sem qualquer questionamento de outrem. Pensando nisso, ficou claro o quão 
difícil é impor a estas diferentes culturas, um valor universal a variadas tradições, 
baseados nos Direitos Humanos. 
Em complemento, Barreto (2004, p.2) destaca: “As questões culturais são 
bastante delicadas e exigem estudos profundos sobre o tema, para que haja uma 
atuação estatal não danosa – isto é, muito diferente da que se vem empregando, 
historicamente.”. 
Segundo Piovesan (2004), o desafio se encontra na universalidade dos Direitos 
Humanos juntamente com o relativismo cultural, engajando uma discussão acerca das 
normas desses direitos considerados humanos, podendo ter ou não um sentido 
universal ou serem culturalmente relativos. 
Existem diversos pontos de vista correlacionados ao tema em questão. 
Relativistas entendem que direitos estão ligados por sistemas econômicos, sociais, 
políticos, morais e culturais conforme cada sociedade. Vale ressaltar que não há uma 
moral universal diante desse pluralismo existente, respeitando ao máximo a diferença 
de culturas. 
Segundo destaca Mbaya (1997), os Direitos Humanos encontram dificuldades 
no que tange a universalidade frente à variedade de culturas existentes, condicionado 
a diversos fatores como: histórico, político, econômico, social e cultural. 
Em complemento, Mbaya (1997, p. 31) ainda destaca: 
 
Tal universalidade dos direitos humanos fundamenta-se nas premissas da 
igualdade em dignidade e valor de todos os seres humanos, sem 
discriminação. Tal noção é totalmente incompatível com as doutrinas e 
práticas de uma pretensa superioridade fundada em raça, religião, sexo ou 
qualquer outro elemento. A universalidade dos direitos implica também que a 
humanidade reconhece os valores comuns e as nações têm direitos 
essenciais à sua própria existência e à sua identidade, as quais fazem parte 
do patrimônio comum da humanidade. A universalidade, a dignidade, a 
41 
 
identidade e a não-discriminação são conceitos centrais em matéria de 
direitos humanos, à medida em que se aplicam a todos os campos. 
 
É importante destacar que a universalidade dos Direitos Humanos tem 
reconhecimento comum, e cada nação tem direitos próprios, que são essenciais para 
sua existência e identificação, sendo, portanto, patrimônio comum. 
Para Mbaya (1997, p.28): 
 
Falar da universalidade de tais direitos numa época em que são 
universalmente violados pode apresentar um caráter desafiador. Ora, no 
plano dos princípios, todos os homens podem invocar os mesmos direitos e 
todos os poderes políticos devem perseguir fins humanos, caso nos 
atenhamos, ao menos, à leitura dos múltiplos instrumentos internacionais que 
regulamentam o campo dos direitos em questão e o aproximam em suas duas 
direções; pois, enfim, não se deve esquecer que qualquer problema relativo 
a eles faz surgir uma relação vertical e outra lateral. 
 
 
Vale ressaltar que o Multiculturalismo

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