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Fato Típico - Direito Penal - Unip - 1

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1 
 
AULA 01 – DIREITO PENAL – FATO TÍPICO E TEORIA DO TIPO 
DR. RAFAEL DA COSTA E SILVA 
PROFESSOR DE DIREITO PENAL – UNIVERSIDADE PAULISTA 
 
1. Fato Típico: fato humano que se enquadra com perfeição aos elementos descritos 
no tipo penal. Ex: conduta de subtrair para si coisa alheia móvel. Art. 155 do CP 
caracteriza o furto. 
- Fato atípico: a conduta não encontra correspondência a nenhum tipo penal, como, 
por exemplo, o pai que tem relação sexual com a filha maior de idade. O incesto é 
imoral, mas não é crime. 
 
1.2. Elementos do fato típico: são 04 elementos, sendo eles a conduta, o 
resultado naturalístico, a relação e causalidade (nexo causal) e a tipicidade. Todos 
elementos estão presentes nos crimes materiais, que exigem resultado naturalístico. 
Ex: homicídio (matar alguém), art. 121 do CP. 
- Nos crimes formais, tentados e de mera conduta só estão presentes a conduta e a 
tipicidade, pois não se exige resultado naturalístico, mesmo podendo tê-lo. 
- A ameaça (art. 147 do CP) é um exemplo de crime formal: ”Ameaçar alguém, por 
palavra, escrito ou gesto, ou qualquer outro meio simbólico, de causar-lhe mal injusto 
e grave”. Pouco importa se aquele mal vai ocorrer ou se o sujeito se sentiu intimidado. 
- O crime de mera conduta dispensa resultado. Nele o resultado não há. Podemos citar 
como exemplo o porte de arma de fogo de uso permitido. O perigo abstrato de portar 
arma já se enquadra como crime de mera conduta. Se o sujeito emprega arma e atira 
em alguém, já passa a responder por outro crime, como a lesão corporal ou homicídio. 
 
1. Elementos do Fato Típico – Conduta: 
 - Teoria Clássica, Naturalística ou Causal da Conduta: essa teoria avalia 
somente o resultado, não importando se o agente agiu com dolo e culpa. Ex: fulano 
trafega com seu carro na velocidade da via, quando de repente uma criança se solta da 
mãe e vai em direção à pista, sendo atropelada e morta. Nesse caso, fulano responderia 
por homicídio, pois causou a morte de um terceiro. Trata-se de mera relação de causa e 
efeito. 
 
 
2 
 
 - Nessa teoria crime = fato típico + ilícito + culpabilidade 
 - Conduta - Imputabilidade 
 - Resultado Naturalístico - (dolo ou culpa) 
 - Relação de Causalidade 
 - Tipicidade 
 
O erro dessa teoria é separar a conduta praticada no mundo exterior da relação psíquica 
do agente (conteúdo volitivo), deixando de analisar sua vontade. 
 - Teoria Final ou finalista: Nessa o direito penal não deve ordenar meros 
processos causais, mas apenas atos dirigidos com uma finalidade, ainda que seja uma 
omissão. A conduta é o comportamento humano, consciente e voluntário, dirigido a um 
fim. Dolo e culpa saíram da culpabilidade e passaram a fazer parte do interior da 
conduta. 
 - Nessa teoria crime = fato típico + ilícito + culpabilidade 
 - Conduta (dolo ou culpa) - Imputabilidade 
 - Resultado Naturalístico - Pot. Consc. Ilicitude 
 - Relação de Causalidade - Exig. Cond. Div. 
 - Tipicidade 
 
 - Teoria Final ou finalista: Nessa o direito penal não deve ordenar meros 
processos causais, mas apenas atos dirigidos com uma finalidade, ainda que seja uma 
omissão. A conduta é o comportamento humano, consciente e voluntário, dirigido a um 
fim. Dolo e culpa saíram da culpabilidade e passaram a fazer parte do interior da 
conduta. Teoria adotada em provas! 
 
1.2.2. Formas de Conduta: A conduta pode se exteriorizar por ação ou 
omissão. Ex: Omissão de Socorro (art. 135 do CP): “deixar de prestar assistência, 
quando possível fazê-lo sem risco pessoal, à criança abandonada ou extraviada, ou à 
pessoa inválida ou ferida, ao desamparo ou em grave e iminente perigo; ou não pedir, 
nesses casos, o socorro da autoridade pública”. 
 
1.2.3. Exclusão da Conduta: 
A) Caso Fortuito e Força Maior: são acontecimentos imprevisíveis e 
inevitáveis, que fogem do domínio da vontade do ser humano. Não havendo vontade, 
não há dolo ou culpa. Caso fortuito é o acontecimento imprevisível e inevitável 
provocado pelo homem (ex: greve de ônibus). Força maior o evento decorrente da 
natureza (inundação, maremoto, terremoto). 
3 
 
B) Atos ou Movimentos Reflexos: consistem em reação motora em 
consequência da excitação dos sentidos. O movimento corpóreo não se deve ao 
elemento volitivo, mas sim ao fisiológico. Ausente a vontade estará ausente a conduta. 
Ex: ortopedista que bate martelinho no joelho do paciente. 
C) Coação Física Irresistível: também chamada de vis absulota, ocorre quando 
o coagido não tem liberdade para agir, não restando outra opção senão aquela de 
praticar o ato em conformidade com a vontade do coator. Ex: um sujeito bastante forte 
pega a arma e coloca na mão de uma pessoa magrinha, apertando o gatilho com o dedo 
do magro, vindo a causar a morte de uma pessoa atingida. Não se pode falar em 
concurso de agentes. 
- Já a coação moral irresistível também chamada de vis compulsiva o coagido 
pode escolher o caminho a seguir, obedecendo ou não a ordem do coator. Como existe a 
vontade, teremos fato típico. Porém, a culpabilidade será afastada pela inexigibilidade 
de conduta diversa. Portanto, a coação física irresistível exclui a conduta, portanto, o 
fato típico, e a coação moral irresistível exclui a culpabilidade pela inexigibilidade de 
conduta diversa. 
D) Sonambulismo e Hipnose: também não há conduta, por falta de vontade nos 
comportamentos práticos em completo estado de inconsciência. 
 
2. Elementos do Fato Típico – Resultado: 
 - É a consequência provocada pelo agente. 
- O resultado pode ser: a) jurídico / normativo, que é a lesão ou exposição de 
perito ao bem jurídico protegido pela lei penal; b) naturalístico / material, que é a 
modificação do mundo exterior provocada pela conduta do agente. 
- Existe crime sem resultado? Depende. Todo crime tem resultado jurídico / 
normativo, mas os crimes formais não tem necessariamente resultado naturalístico / 
material. 
 
3. Elementos do Fato Típico - Relação de Causalidade ou Nexo Causal: 
 - É a ligação entre a conduta e o resultado. O art. 13 do Código Penal chama de 
relação de causalidade. Se a causa estiver presente, estaremos então diante da tipicidade, 
com o preenchimento de todos os elementos do fato típico. 
4 
 
 - Teoria da Equivalência dos Antecedentes: adotada pelo CP, conforme se extrai 
do art. 13 do CP, “considera-se causa toda ação ou omissão sem a qual o resultado não 
teria ocorrido”. 
 - Para se constatar se um acontecimento insere-se no contexto de causa, 
emprega-se o processo hipotético de eliminação, ou seja, suprime-se mentalmente 
determinado fato no histórico do crime, se desaparecer o resultado naturalístico é 
porque era também sua causa; se permanecer o resultado, não se pode falar que aquele 
acontecimento atuou como causa. Lembrando que essa causalidade é psíquica, ou seja, 
precisa da presença do dolo ou culpa por parte do agente em relação ao resultado. 
 - Excepcionalmente, o CP adota no §1º do art. 13 a teoria da causalidade 
adequada: “a superveniência de causa relativamente independente exclui a imputação 
quando, por si só, produziu o resultado; os fatos anteriores, entretanto, imputam-se a 
quem os praticou” = Estudo da concausas. 
 
3.1. Concausas: 
 - Significa a concorrência de causas, há mais de uma causa contribuindo para o 
resultado final. É a convergência de uma causa externa à vontade do autor da conduta e 
que influi na produção do resultado naturalístico por ele desejado. 
 
 3.1.1. Causas Dependentes e Independentes: a causa dependente precisa da 
conduta do agente para provocar o resultado, razão pela qual não exclui a relação de 
causalidade. Ex: Semprônio tem intenção de matar Morpheus e após espancá-lo, coloca 
uma corda em seu pescoço,amarra no carro e puxa, provocando sua morte. A estrada, a 
corda e o carro não são capazes de matar a vítima, se isoladamente consideradas. Já a 
causa independente é aquela capaz de produzir por si só o resultado, podendo ser de 
natureza absoluta ou relativa, dependendo da sua origem. 
 
 3.1.2. Causas Absolutamente Independentes: são aquelas que não se originam 
da conduta do agente, sendo absolutamente desvinculadas de sua ação ou omissão. Por 
serem independentes produzem por si só o resultado naturalístico, e são chamadas de 
“causalidade antecipadora”, pois rompem o nexo causal. Essas causas se dividem em 
preexistentes, concomitantes e supervenientes. 
 3.1.2.1. Preexistente ou Estado Anterior: aquela causa que existe 
anteriormente à prática da conduta, de modo que o resultado naturalístico teria ocorrido 
5 
 
da mesma forma sem o comportamento ilícito do agente. Ex: Tião Dedo Leve efetua 
disparos contra Zé Medonho, atingindo-o em regiões vitais. Porém, o exame 
necroscópico concluiu ter sido Zé Medonho envenenado por Beto Mão de Fada. 
3.1.2.2. Concomitante: causa que incide simultaneamente à prática da conduta, 
no mesmo instante que o agente realiza o comportamento criminoso. Tião Dedo Leve 
efetua disparos de arma de fogo contra Zé Medonho no momento em que o teto da casa 
desaba sobre sua cabeça. 
3.1.2.3. Superveniente: é a causa que se concretiza posteriormente à conduta 
praticada pelo agente. Ex: Joe Seringa ministra dose letal de veneno em Mévio, mas 
antes de produzir o efeito desejado, aparece Morpheu e efetua disparos de arma de fogo, 
matando-o. 
 
Obs: Efeitos Jurídicos das Causas Absolutamente Independentes: em todos os 
momentos (preexistentes, concomitantes e supervenientes), o resultado naturalístico 
ocorre independente da conduta do agente, e por si só produzem o resultado material. 
Em decorrência disso, são imputados ao agente somente os atos até então praticados, e 
não o resultado naturalística, em face da quebra de relação de causalidade. Ou seja, 
suprimindo sua conduta o resultado teria ocorrido. Respeita-se a teoria da equivalência 
dos antecedentes ou conditio sine qua non, adotada pelo artigo 13 caput do CP. 
Responderia por tentativa de homicídio, e não por homicídio consumado. 
 
3.1.3. Causas Relativamente Independentes: aqui as causas originam-se da 
própria conduta efetuada pelo agente. Por isso são relativas, pois não existiriam sem a 
atuação criminosa. Classificam-se em preexistentes, concomitantes e supervenientes. 
3.1.3.1. Preexistente ou Estado Anterior: causa prévia à conduta praticada 
pelo agente, ou seja, antes de seu agir a causa já estava presente. Ex: Tião Dedo Leve, 
com ânimo homicida, atira contra João Carapanã e o atinge de raspão. Os ferimentos 
são agravados com a diabete o João em a falecer. 
3.1.3.2. Concomitante: causa que ocorre simultaneamente à prática da conduta 
do agente. Ex: Mário Medonho aponta uma arma para Zé Caninha, o qual, assustado, 
corre em direção à movimentada via pública, e no momento em que é alvejado é 
atropelado por um caminhão. 
6 
 
Obs: Efeitos jurídicos das causas preexistentes e concomitantes relativamente 
independentes: em obediência à teoria da equivalência dos antecedentes prevista no 
artigo 13, caput, CP, nas duas hipóteses o agente responde pelo resultado naturalístico. 
 
3.1.3.3. A questão das causas supervenientes relativamente independentes: 
em razão do artigo 13, §1º, CP, as causas supervenientes relativamente independentes 
podem ser divididas em dois grupos: (1) as que por si só produzem o resultado; (2) as 
que não produzem por si só o resultado. 
 3.1.3.3.1. Causas Supervenientes Relativamente Independentes que não 
produzem o resultado por si só: o agente responde pelo resultado naturalístico, pois, 
suprimindo-se mentalmente sua conduta, o resultado não teria acontecido quando e 
como ocorreu. Ex: Tião Dedo Leve com intenção de matar dispara contra Morpheu, 
porém atinge sua perna. Ao ser atendido no hospital Morpheu vem a morrer por 
imperícia médica. Nesse caso, Morpheu não teria morrido pela imperícia médica se não 
fosse a conduta de Tião. O agente então responderá pelo resultado naturalístico. 
3.1.3.3.2. Causas Supervenientes Relativamente Independentes que 
produzem o resultado por si só: é a previsão contida no artigo 13, §1º do CP: “a 
superveniência de causa relativamente independente exclui a imputação quando, por si 
só, produziu o resultado; os fatos anteriores, entretanto, imputam-se a quem os 
praticou”. Nesse caso estamos diante da teoria da causalidade adequada. Ex: pessoa leva 
tiros e ao ser internada no hospital ocorre um incêndio e ela morre queimada. Ex: 
baleado morre a caminho do hospital em razão da ambulância se envolver em acidente 
de trânsito. 
 
- Obs: pela teoria da equivalência dos antecedentes se excluíssemos a conduta do 
agente, o resultado não teria ocorrido. No entanto, pela teoria da causalidade adequada 
do §1º do art. 13, CP, a expressão “por si só” revela autonomia da causa superveniente, 
que mesmo relativa não encontra no mesmo curso de desenvolvimento causal da 
conduta praticada pelo autor. A concausa produz o resultado por si só, por sua própria 
força. Nos exemplos, qualquer pessoa que estivesse na área da enfermaria do hospital, 
ou na ambulância, poderia morrer em razão do acontecimento inesperado e 
imprevisível. O agente então responde pelos atos até então praticados. 
 
 
7 
 
 
 
4. Elementos do Fato Típico – Tipicidade 
 - A tipicidade divide-se em formal e material. A formal é o juízo de subsunção 
entre a conduta praticada pelo agente no mundo real e o modelo descrito no Código 
Penal. A conduta de matar alguém encontra amparo no artigo 121 do CP. 
 - A tipicidade material é a lesão ou perigo de lesão ao bem jurídico penalmente 
tutelado em razão da prática da conduta. Essa tipicidade relaciona-se com o princípio da 
lesividade (ofensividade) do Direito Penal, pois nem todas as condutas que se encaixam 
nos crimes, acarretam dano ao bem jurídico tutelado. Ex: princípio da insignificância, 
onde há a tipicidade formal, porém não há a material. 
 - A presença da tipicidade formal e da tipicidade material caracteriza a tipicidade 
penal. 
 
5. TEORIA DA TIPICIDADE CONGLOBANTE 
 - Criada pelo penalista argentino Eugenio Raúl Zaffaroni, o nome “conglobante” 
deriva da necessidade de que a conduta seja contrária ao ordenamento jurídico em geral, 
conglobado, e não apenas ao Direito Penal. 
 - Sustenta que todo fato típico reveste-se de antinormatividade, ou seja, ou o fato 
praticado pelo agente é contrário à lei e desrespeita todo ordenamento normativo e há 
tipicidade; ou ainda em desconformidade com a lei penal esteja em consonância com a 
ordem normativa e ausente a tipicidade. 
8 
 
 - Ex: um oficial de justiça que recebe de um juiz um mandado de penhora e 
sequestro de para garantir o pagamento de uma dívida cobrada judicialmente de um 
credor contra o devedor. O fato de subtrair o quadro seria o estrito cumprimento de um 
dever legal. Uma ordem normativa não pode ordenar e outra proibir, pois deixaria de ser 
ordem normativa e torna-se desordem arbitrária. 
 - Essa teoria sofre resistência no Brasil, apesar de já ter sido acolhida em um 
julgado do STJ. 
 
6. ADEQUAÇÃO TÍPICA: CONCEITO E ESPÉCIES 
 - A adequação típica é o procedimento pelo qual se enquadra uma conduta 
individual e concreta na descrição genérica e abstrata da lei penal. A adequação típica 
pode ser imediata ou mediata. 
 - Imediata nos casos em que a conduta humana se enquadra diretamente na lei 
penal incriminadora, sem necessidade de interposição de qualquer outro dispositivo 
legal, a exemplo do furto: subtrair para si ou para outrem coisa alheia móvel. 
 - Mediata nos casos em que a conduta humana não se enquadra prontamente na 
lei penal incriminadora, necessitando para completar a tipicidade, a interposiçãode 
algum dispositivo contido na parte geral do código penal, ex: tentativa (art. 14, II, CP); 
da participação (art. 29, caput do CP); da omissão nos casos em que o agente não 
cumpriu o seu dever jurídico de agir (art. 13, §2º, do CP). Esses artigos são conhecidos 
como normas de integrativas, de extensão ou complementares de tipicidade. 
 
7. TEORIA DO TIPO PENAL 
 - É o modelo genérico e abstrato formulado pela lei penal, descritivo da conduta 
criminosa ou da conduta permitida. Não se confunde tipo com tipicidade, pois o 
primeiro é uma figura que resulta da imaginação do legislador, enquanto o segundo é a 
averiguação que se efetua sobre uma conduta para saber se apesenta os caracteres do 
legislador. 
 7.1. Espécies de tipo penal: são divididos em tipos penais incriminadores e 
tipos penais permissivos. Os incriminadores ou legais são aqueles propriamente ditos, 
consistentes na síntese legal da definição de conduta criminosa. Os permissivos ou 
justificadores são aqueles que contem uma descrição legal da conduta permitida, 
situações em que a lei considera lícito o cometimento de um fato típico (parte especial 
9 
 
do código penal). São as causas de exclusão de ilicitude, chamadas também de 
eximentes ou justificativas. 
 
 7.2. Funções do Tipo Penal: 
 7.2.1. Função de Garantia: é aquela decorrente da prisão constitucional 
da reserva legal ou da estrita legalidade, ou seja, somente a lei em sentido material e 
formal pode criar um tipo penal incriminador. Trata-se de uma garantia ao indivíduo de 
conhecer as condutas ilícitas descritas pelo Direito Penal, e sobra-lhe liberdade para 
praticar livremente todas as demais condutas para gerir sua vida. 
 7.2.2. Função Fundamentadora: a previsão de uma conduta criminosa 
fundamenta o direito de punir do Estado quando o indivíduo viola a lei penal. É o 
fundamento da persecução penal exercida pelo Estado. 
 7.2.3. Função Indiciária da Ilicitude: decorre da presunção relativa de 
que todo fato típico é ilícito, até prova em contrário. Portanto, através da inversão do 
ônus da prova, o autor pode alegar alguma excludente de ilicitude. 
 7.2.4. Função Diferenciado do Erro: o agente deverá conhecer todas as 
elementares do tipo legal, razão pela qual o autor somente poderá ser responsabilizado 
pela prática de crime doloso se conhecer as circunstâncias do fato. Ex: subtrair bagagem 
em esteira de aeroporto, pensando tratar-se de sua bagagem. Isso afasta o dolo, artigo 20 
do CP. O erro de tipo descaracteriza o dolo, elemento da conduta. 
 7.2.5. Função Seletiva: Cabe ao direito penal a tarefa de selecionar as 
condutas que deverão ser proibidas, levando em conta os princípios vetores do direito 
penal em um Estado Democrático de Direito. 
 
 7.3. Estrutura do Tipo Penal 
 - O tipo penal é composto por um núcleo (verbo) + elementos (objetivos, 
subjetivos, normativos e os modais que não são aceitos de forma unânime pela 
doutrina). 
 - Núcleo: representado pelo verbo, é a primeira etapa para a construção 
de um tipo penal incriminador. No furto, é subtrair, no estupro constranger, no 
homicídio matar, e assim por diante. 
 - Elementares: em torno do núcleo se agregam elementares que visam 
proporcionar a prefeita descrição da conduta criminosa. Essas elementares podem ser 
objetivas, subjetivas e normativas. 
10 
 
 - Elementares objetivas ou descritivas são os dados da conduta 
criminosa que não pertencem ao mundo anímico do agente, e podem ser constatadas por 
qualquer pessoa, dispensando apreciação cultural ou jurídica, ex: “alguém” no crime de 
homicídio. 
 - Elementares subjetivas dizem respeito à esfera anímica do agente, 
além do dolo, sua especial finalidade de agir e às demais tendências e intenções. Ex: não 
basta a subtração da coisa alheia móvel (art. 155 do CP), esta deve ser realizada para si 
ou para outrem, exigindo ânimo de assenhoramento definitivo. 
 - Elementares normativas são aquelas para cuja compreensão não pode 
o sujeito limitar-se à mesa atividade cognitiva, sendo necessária uma interpretação 
valorativa jurídica, moral, cultural acerca da situação de fato. Os termos: 
“indevidamente, sem justa causa, ato obsceno, ato libidinoso, arte”. 
 
8. CRIME DOLOSO 
 - O dolo consiste na vontade e consciência de realizar os elementos do tipo 
incriminador. 
 8.1. Teorias do Dolo: 
 - Teoria da Representação: nessa teoria, a configuração do dolo está presente 
pela simples previsão do resultado, não se preocupando com o aspecto volitivo, pois 
pouco importa se o agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzi-lo. Em nosso 
sistema penal tal teoria deve ser afastada por confundir dolo com culpa consciente. 
 - Teoria da Vontade: essa teoria se vale da teoria da representação ao exigir a 
previsão do resultado, porém vai mais longe. Além da representação do resultado, 
reclama ainda a vontade de produzir o resultado. 
 - Teoria do Assentimento/Anuência: complementa a teoria da vontade, onde 
há dolo não somente quando o agente quer o resultado, mas também quando realiza a 
conduta, prevê, e assume o risco de produzi-lo. 
 - Obs: o Código Penal adotou a teoria da vontade e do assentimento em seu 
artigo 18, I, CP. 
 
 8.2. Elementos do Dolo 
 - O dolo é composto por consciência (elemento cognitivo/intelectual) e vontade 
(elemento volitivo). 
11 
 
 - No nexo não é preciso que o iter criminis transcorra da forma idealizada pelo 
agente, subsistindo o dolo se o objetivo almejado foi alcançado, ainda que de modo 
diverso. 
 - O dolo deve englobar todas as elementares e circunstâncias do tipo penal, pois 
se restar constatada a ausência de qualquer parte do crime, entra em cena o instituto do 
erro de tipo. 
 
 8.3. Espécies de Dolo 
 - Dolo direto: é aquele em que a vontade do agente é voltada a determinado 
resultado, com uma finalidade precisa. Ex: Tião dedo leve dispara um único tiro fatal 
contra Morpheu. 
 - Dolo Indireto: é aquele em que o agente não tem a vontade dirigida a um 
resultado determinado. Subdivide-se em dolo alternativo e dolo eventual. 
 - Dolo Alternativo: se verifica quando o agente deseja, indistintamente, um ou 
outro resultado. Sua intenção se destina, com igual intensidade, produzir um entre 
vários resultados previstos como possíveis. Ex: Tião dedo leve se irrita numa manobra 
de trânsito e atira para matar ou ferir. Nesses casos de dolo alternativo, responderá 
sempre pelo resultado mais grave, uma vez que o CP adota em seu art. 18, I, a teoria da 
vontade. 
 - Dolo Eventual: o agente não quer o resultado por ele previsto, mas assume o 
risco de produzi-lo, em razão da teoria do assentimento, art. 18, I, CP. Ex: fazendeiro 
João das Neves, colecionador de armas, decide treinar tiro ao alvo em sua fazenda. Só 
que nesse dia utiliza um fuzil, sabendo que o projetil pode alcançar a vizinhança e 
acertar alguém. Se ainda assim decide atirar e alguém fora do seu campo de visão é 
atingido e morre, o fazendeiro responde pelo homicídio. Outro exemplo: receptação de 
coisa que sabe ser produto de crime, art. 180 do CP. 
 
9. CRIME CULPOSO 
 - Crime culposo é o que se verifica quando o agente, deixando de observar o 
dever objetivo de cuidado, por imprudência, negligência ou imperícia, realiza 
voluntariamente um conduta que produz resultado naturalístico, não previsto nem 
querido, mas objetivamente previsível, e excepcionalmente previsto e querido, que 
podia, com a devida atenção, ter evitado. 
 
12 
 
 9.1. Elementos do Crime Culposo 
 
 9.1.1. Conduta Voluntária 
 - No crime culposo, a vontade do agente se limita à prática de uma conduta 
perigosa, por ele aceita. A vontade do agente circunscreve-se à realização da conduta, e 
não à produção do resultado naturalístico. Ex: um motorista que dirige seu veículo em 
uma cidadã a 170km/h. 
 - O crime culposo pode ser realizado por ação ou até mesmo omissão, como o 
caso da mãe que nãoacorda no horário para ministrar determinado medicamento em seu 
bebê, prejudicando sua saúde. 
 
 9.1.2. Violação do Dever Objetivo de Cuidado 
 - A vida em sociedade retira do homem o direito de fazer tudo aquilo que deseja, 
quando e onde deseja. Os interesses da comunidade lhe impõem barreiras 
instransponíveis. O dever jurídico de cuidado é o comportamento imposto pelo 
ordenamento jurídico a todas as pessoas. 
 - No crime culposo esse dever jurídico de cuidado é desrespeitado pelo agente 
com a prática de uma conduta descuidada, a qual, pela falta de atenção emana de sua 
imprudência, negligência e imperícia (modalidades de culpa). 
 9.1.2.1. Imprudência: é a forma positiva de culpa, consistente na 
atuação do agente (agir) sem observância das cautelas necessárias. A imprudência se 
manifesta paralela à ação, enquanto seu autor pratica a conduta. Ex: dirigir sem respeitar 
as regras de trânsito. 
 9.1.2.2. Negligência: é uma inação, uma modalidade negativa de culpa, 
consistindo na omissão em relação à conduta que se devia praticar. Negligenciar é 
omitir a ação cuidadosa para que as circunstâncias exijam. Ocorrem previamente ao 
13 
 
início da conduta. Ex: agente que deixa a arma de fogo municiada em local acessível a 
menor de idade. 
 9.1.2.2. Imperícia: é também chamada de culpa profissional, pois 
somente pode ser praticada no exercício de arte, ofício ou profissão. Ocorre nos casos 
em que o agente está autorizado a desempenhar a função, porém não possui 
conhecimentos práticos ou teóricos para fazê-la a contento. 
 - Ex: se um oftalmologista, realizando trabalho de parto, causa morte da 
gestante, será imperito. - Ex: parto mal efetuado por um curandeiro, não há falar em 
imperícia, e sim em imprudência. 
 - Nem toda falha no exercício da arte, ofício ou profissão constitui-se 
imperícia. Exemplo de Negligência: o médico receita e troca o nome do medicamento 
provocando a morte do doente. Exemplo de Imprudência: existe um procedimento 
para se fazer uma cirurgia, mas o médico decide seguir um método utilizado em outro 
continente. 
 Obs: Não devemos confundir imperícia com erro profissional. O erro 
profissional é a falência das regras científicas, pois mesmo o agente observando as 
regras da sua atividade, elas mostram-se imperfeitas e defasadas para a solução do caso 
concreto. Ex: paciente com câncer no cérebro é internado, e mesmo com a realização de 
todos os procedimentos de eliminação da doença, o paciente morre. Nesse caso não há 
imperícia, pois o médico realizou com zelo todo o protocolo que tinha à sua disposição. 
 IMPERÍCIA ERRO PROFISSIONAL 
 A falha é do agente A falha é da ciencia 
 Configura culpa Exclui a culpa 
 
 9.1.3. Resultado Naturalístico Involuntário 
 - Nos crimes culposos o resultado naturalístico (mudança no mundo exterior 
provocada pela conduta do agente) é uma elementar do tipo penal, de modo que todo 
crime culposo é crime material. 
 - Esse resultado naturalístico é involuntário. Por isso, crime culposo é 
incompatível com a tentativa (crime que não se consuma por circunstâncias alheias à 
vontade do agente). 
 
 
 
 
14 
 
 9.1.4. Nexo Causal 
 - Como ocorrem nos demais crimes exige o nexo causal, ou seja, a relação de 
causa e efeito entre a conduta voluntária perigosa e o resultado involuntário ou 
indesejado. Deverá ser avaliado se o crime não ocorreria caso a ação devida fosse 
efetivamente evitada ou realizada, tal como o contexto determinava. 
 
 9.1.5. Tipicidade 
 - A tipicidade é elemento do fato típico em todos os crimes, inclusive nos crimes 
culposos. Significa o juízo de subsunção e adequação entre a conduta praticada pelo 
agente no mundo real e a descrição típica contida na lei penal, para o aperfeiçoamento 
do crime culposo. 
 
 9.1.6. Previsibilidade Objetiva 
 - É a possibilidade de uma pessoa comum, com inteligência mediana, prever o 
resultado. É chamado de homem médio. Uma pessoa normal de comportamento padrão, 
quando comparado com os indivíduos em geral. 
 - Deverá o magistrado valorar a situação, inserindo hipoteticamente o homem 
médio no lugar do agente no caso concreto. Se concluir que o resultado era previsível 
àquele, estará configurada a previsibilidade a este. 
 
 9.1.7. Ausência de Previsão 
 - Em regra, o agente não prevê o resultado objetivamente previsível. Não 
enxerga aquilo que o homem médio conseguiria ver. Mas excepcionalmente há previsão 
do resultado, como nos casos da culpa consciente. 
 
 9.2. Espécies de Culpa 
 - As espécies de culpa (consciente e inconsciente) levam em consideração a 
previsão do agente acerca do resultado naturalístico provocado pela sua conduta. 
 9.2.1. Culpa Inconsciente ou ex ignorantia: é aquela em que o agente não 
prevê o resultado objetivamente previsível. 
9.2.2. Culpa Consciente ou ex lascivia: é aquela que ocorre quando o agente, 
após prever o resultado objetivamente previsível, realiza a conduta acreditando 
sinceramente que ela não ocorrerá, erra no cálculo. Representa o estágio mais avançado 
da culpa, pois se aproxima do dolo eventual, mas dele se diferencia. 
15 
 
- Exemplo culpa consciente: fulano está atrasado para uma entrevista, e diante de 
um grande engarrafamento decide transitar com sua moto pela calçada. Apesar de 
prever o resultado, acredita piamente que tem habilidade para não atropelar ninguém. Se 
atropelar e matar, responderá pelo homicídio culposo na direção de veículo automotor. 
Mas se após a previsão assumir o risco de produzir o resultado, responderá por dolo 
eventual. Somente no caso concreto mediante a análise das provas é que poderemos ter 
certeza se um ou outro. 
- O código penal trata da mesma maneira a culpa inconsciente e a culpa 
consciente. A previsão do resultado, por si só, não representa maior grau de 
reprovabilidade. 
9.2.3. Culpa Própria: é aquela que se verifica quando o agente não quer o 
resultado naturalístico. 
9.2.4. Culpa Imprópria: o sujeito prevê o resultado e deseja sua produção, 
realizando a conduta por erro inescusável quanto à licitude do fato e o resultado vem a 
ser concretizado. O agente supõe uma situação fática que, se existisse, tornaria sua ação 
legítima. Como o erro poderia ter sido evitado pelo emprego da prudência inerente ao 
homem médio, responde a título de culpa. 
- Por questão de política criminal o código penal ao crime doloso a punição 
correspondente ao crime culposo, sendo a única modalidade de crime culposo que 
admite tentativa. 
- Ex: uma garota de 15 anos namora com um rapaz de mesma idade contra a 
vontade dos pais. Certo dia, ela esperou seus pais dormirem para se encontrar escondido 
com o rapaz. Como a porta estava trancada ela decidiu pular a janela. Ao retornar para 
casa, pulou a janela novamente e seu pai ouviu. Sem saber que se tratava de sua filha, o 
pai pega a arma para checar o que estava havendo. Percebe um vulto e pede para parar, 
mas não atendendo sua ordem, a filha continua andando, momento em que o pai dispara 
contra ela. Ao acender a luz percebe se tratar de sua filha. 
- Esse exemplo é o típico caso de culpa imprópria. O agente efetuou disparos 
com vontade de matar, agiu contudo com erro inescusável quanto a licitude do fato, pois 
foi imprudente. 
9.2.5. Culpa Mediata ou Indireta 
- Ocorre quando o agente produz o resultado naturalístico indiretamente a título 
de culpa. Ex: a vítima é torturada dentro de um carro, mas consegue fugir, sendo 
atropelada por um carro que vinha passando, provocando a morte dela. O torturador 
16 
 
responderá pelo crime de tortura dolosa e homicídio culposo. A culpa mediata consiste 
em fato com relação estreita e realmente eficiente no tocante à causação do resultado. 
 
9.3. Compensação de Culpas 
- Não se admite compensação de culpas no Direito Penal, de modo que a culpa 
de um agente não é anulada pela culpa da vítima.Ex: fulano ultrapassou o sinal 
vermelho, vindo a bater em Sicrano que vinha na contramão. Casa um responde pelo 
resultado que deu causa. 
 
9.4. Concorrência de Culpas 
- Quando duas ou mais pessoas concorrem ou contribuem culposamente para a 
prática de um resultado naturalístico. Todos os envolvidos que tiveram atuação culposa 
respondem. Ex: Fulano ultrapassa o sinal vermelho, vindo a colidir com Beltrano que 
também passava o sinal vermelho em alta velocidade. Logo em seguida os carros 
deslocam-se bruscamente em direção à Tião Dedo Leve, que morre atropelado. 
 - No caso acima não há coautoria ou participação, pois não há vínculo subjetivo 
entre os envolvidos. 
 
9.5. Caráter Excepcional do Crime Culposo 
- Preceitua o paragrafo único do artigo 18 do Código Penal que “salvo nos casos 
expressos em lei, ninguém pode ser punido por fato previsto como crime, senão quando 
o pratica dolosamente”. Portanto, o crime culposo deve ser expressamente declarado em 
lei. No silêncio desta, sua punição somente ocorrerá a título de dolo. 
- Exemplos de crimes culposos: art. 121, §3º (homicídio culposo); art. 129, §6º 
(lesão corporal culposa); art. 250, §2º (incêndio culposo); art. 312, §2º (peculato 
culposo). 
 
10. CRIME PRETERDOLOSO/PRETERINTENCIONAL 
 - Vem do latim praeter dolum, ou seja, além do dolo. Verifica-se quando a 
conduta dolosa acarreta a produção de um resultado mais grave do que o desejado pelo 
agente. A vontade era praticar um resultado, mas por culpa, outro mais grave veio a 
ocorrer. 
 - Há uma figura híbrida, sendo o dolo na conduta antecedente e a culpa na 
conduta consequente. Ex: art. 129, §3º do CP: lesão corporal seguida de morte, onde o 
17 
 
legislador após definir o crime de lesão corporal no caput, adicionou um resultado 
agravador, a morte da vítima produzida a título de culpa. 
 - Se houver dolo em relação ao resultado agravador, direto ou eventual, afasta o 
caráter preterdoloso do crime. 
 
11. CRIMES QUALIFICADOS PELO RESULTADO 
 - É aquele que possui uma conduta básica, definida e apenada como delito de 
forma autônoma, ostentando ainda um resultado que o qualifica, majorando-lhe a pena 
por força de sua gravidade objetiva. Tem que existir relação causal física e subjetiva 
entre eles. 
 - Todo crime qualificado pelo resultado representa um único crime, e complexo, 
pois resulta da junção de dois ou mais tipos penais. O crime preterdoloso é qualificado 
pelo resultado, mas nem todos crime qualificado pelo resultado é preterdoloso. 
 - Existem três espécies de crimes qualificados pelo resultado: 
 
 11.1. Dolo na conduta antecedente e dolo no resultado agravador (dolo no 
antecedente e dolo no consequente): 
 - o crime de latrocínio é um exemplo, art. 157, §3º. A subtração é dolosa (pode 
haver tentativa), e a morte pode ser dolosa ou culposa (é preterdoloso, e não admite 
tentativa). 
 
11.2. Culpa na conduta antecedente e culpa no resultado agravador (culpa 
no antecedente e culpa no consequente): 
- tanto o fato principal quanto o resultado agravador são previstos a título de 
culpa, ex: crimes culposos de perigo comum, resultando lesão corporal de natureza 
grave ou morte, art. 258 do CP. 
 
 11.3. Culpa na conduta antecedente e dolo no resultado agravador (culpa no 
antecedente e dolo no consequente): 
 - Nesse caso temos a culpa o fato original e o dolo no resultado agravador. Ex: 
art. 303 , parágrafo único da Lei nº 9.503/97 – Código de Trânsito Brasileiro. Hipótese 
em que o motorista de um veículo automotor em excesso de velocidade atropela um 
pedestre, ferindo-o culposamente, e em seguida, dolosamente deixa de prestar socorro à 
vítima do acidente, quando era possível fazê-lo sem risco pessoal. 
18 
 
12. ERRO DE TIPO 
 - No código penal vem denominado como erro sobre os elementos do tipo, artigo 
20, caput: “o erro sobre o elemento constitutivo do tipo legal de crime exclui o dolo, 
mas permite a punição por crime culposo, se previsto em lei”. 
 - Tem como conceito a falta percepção da realidade acerca dos elementos 
constitutivos do tipo penal. Ex: sujeito que vai embora em outro carro, achando ser seu. 
Não comete o crime de furto porque falta a elementar “coisa alheia”, art. 155, CP. 
 
 12.1. Erro de tipo e crimes omissivos impróprios: 
 - Nos crimes omissivos impróprios, também chamados de comissivos por 
omissão (art. 13, §2º, CP) funciona como elemento constitutivo do tipo. Nada impede o 
erro de tipo em relação ao dever de agir para evitar o resultado 
 - Ex: salva-vidas avista um banhista se debatendo em águas rasas de uma praia e, 
imaginando que ele não estava se afogando (e sim brincando com outra pessoa), nada 
faz. Posteriormente o banhista é retirado sem vida do mar. 
 
 12.2. Espécies de Erro de Tipo 
 - O erro de tipo pode ser escusável e inescusável. 
 12.2.1. Erro de tipo Escusável, Inevitável, Invencível ou Desculpável: 
é a modalidade de erro que não deriva da culpa do agente, ou seja, mesmo ele agindo 
com a cautela e prudência de um homem médio, ainda assim não poderia evitar a falsa 
percepção da realidade sobre os elementos constitutivos do tipo penal. 
 12.2.2. Erro de tipo Inescusável, Evitável, Vencível ou Indesculpável: 
é o erro que provém da culpa do agente, ou seja, se ele empregasse a cautela e a 
prudência do homem médio poderia evitá-lo, uma vez que seria capaz de compreender o 
caráter criminoso do fato. 
 - Obs: a natureza do erro (escusável ou inescusável) deve ser analisada no caso 
concreto, levando em consideração as condições em que o fato foi praticado. 
 
 12.3. Efeitos do Erro de Tipo 
 - Independente de ser escusável ou inescusável, sempre exclui o dolo. Como o 
agente não possui intenção ou desconhece as elementares do tipo penal, o dolo fica 
afastado pelo erro de tipo. 
19 
 
 - Quanto aos demais efeitos, o erro de tipo escusável exclui o dolo e a culpa, 
acarretando impunidade total do fato. Já o erro de tipo inescusável, exclui o dolo, porém 
permite a punição por crime culposo, se previsto em lei (excepcionalidade do crime 
culposo), quando o agente age por imprudência, negligência ou imperícia. 
 
 12.4. Erro de Tipo e Crime Putativo por Erro de Tipo: 
 - Apesar da semelhança terminológica, os institutos não se confundem. 
 - No erro de tipo o indivíduo, desconhecendo um ou vários elementos 
constitutivos do tipo penal, sem saber que pratica infração penal. 
 - Já o crime (delito) putativo por erro de tipo, é o imaginário ou erroneamente 
suposto, que existe exclusivamente na mente do agente. Ele quer praticar um crime, 
mas, por erro, acaba cometendo um fato penalmente irrelevante. Ex: fulano deseja 
praticar tráfico de drogas, mas por desconhecimento vende talco. 
 
 12.5. Descriminantes Putativas: 
 - É isento de pena quem, por erro plenamente justificado pelas circunstâncias, 
supõe situação de fato que, se existisse, tornaria a ação legítima. Não há isenção de pena 
quando o erro deriva de culpa e o fato é punível como crime culposo. Art. 20, §1º, CP. 
 - Descriminante é a causa que exclui o crime, retirando o caráter ilícito do fato 
típico praticado por alguém. Essa palavra é sinônima de causa de exclusão da ilicitude. 
Putativa é algo imaginário, erroneamente suposto, é tudo aquilo que parece, mas não é o 
que aparente ser. 
- Na prática isso é causa de exclusão de ilicitude que não ocorreu concretamente, 
mas apenas na mente do autor do fato típico. 
 - Existem três espécies de descriminantes putativas, vejamos: 
 
 12.5.1. Erro relativo aos pressupostos de fato de uma causa de 
exclusão da ilicitude: é o caso daquele que, ao encontrar seu desafeto, e notando que 
tal pessoa coloca a mão no bolso, saca seu revólver e o mata, mas o outro só queria 
pegar seu celular. Está ausente um dos requisitos da legítima defesa, a agressão injusta. 
Obs: a natureza jurídica no erro relativo aos pressupostos de fato é considerado erro detipo, constituindo-se em erro de tipo permissivo, ou seja, descriminante putativa por 
erro de tipo. 
 
20 
 
 12.5.2. Erro relativo à existência de uma causa de exclusão de 
ilicitude: o caso do sujeito que após encontrar sua mulher com amante em flagrante 
adultério, mata a ambos, por crer que assim possa estar acobertado pela legítima defesa 
da honra. Nesse caso o agente errou, mas quanto à existência da descriminante não 
existente em nosso ordenamento jurídico. 
- Obs: a natureza jurídica no erro relativo à existência é considerado erro de 
proibição, portanto, descriminante putativa por erro de proibição, excluindo a 
culpabilidade se o erro foi escusável/inevitável. Caso o erro seja inescusável/evitável, 
não afasta a culpabilidade, e o agente responde por crime doloso, diminuindo a pena de 
1/6 (um sexto) a 1/3 (um terço), na forma do artigo 21, caput, CP. 
 
12.5.3. Erro relativo aos limites de uma causa de exclusão da 
ilicitude: o caso do fazendeiro que reputa adequado matar todo e qualquer posseiro que 
invada sua propriedade. Cuida-se da figura do excesso, pois a defesa da propriedade não 
permite esse tipo de ação desproporcional. Obs: a natureza jurídica no erro relativo aos 
limites é considerando erro de proibição, portanto, descriminante putativa por erro de 
proibição, excluindo a culpabilidade se o erro foi escusável/inevitável. Caso o erro seja 
inescusável/evitável, não afasta a culpabilidade, e o agente responde por crime doloso, 
diminuindo a pena de 1/6 (um sexto) a 1/3 (um terço), na forma do artigo 21, caput, CP. 
 
 12.6. Erro de Tipo Acidental 
 - É o que recai sobre dados diversos dos elementos do tipo penal, ou seja, sobre 
as circunstâncias (qualificadores, agravantes, causas de aumento de pena). A infração 
subsiste na íntegra, e esse erro não afasta a responsabilidade penal. 
 - Podem ocorrer as seguintes situações: (1) erro sobre a pessoa, (2) erro sobre o 
objeto, (3) erro quanto às qualificadoras, (4) erro sobre o nexo causal; (5) erro na 
execução, (6) resultado diverso do pretendido. Os últimos três chamados de crimes 
aberrantes. 
 12.6.1. Erro sobre a pessoa ou erro in persona: se verifica quando o 
agente confunde a pessoa visada, contra a qual desejava praticar a conduta criminosa, 
com pessoa diversa. Ex: A dispara contra C, achando tratar-se de B, que são irmãos 
gêmeos. 
21 
 
 - O artigo 20, §3º do Código Penal diz que o “erro quanto à pessoa contra a qual 
o crime é praticado não isenta de pena. Não se consideram, neste caso, as condições ou 
qualidades da vítima, senão as da pessoa contra quem o agente queria praticar o crime”. 
- Leva-se em conta para aplicação da pena as condições da vítima virtual, ou 
seja, se matou o pai incidirá agravante genérica prevista no artigo 61, II, alínea “e” do 
CP, embora não tenha sido cometido o parricídio. 
 
12.6.2. Erro sobre o objeto: nessa espécie de erro acidental, o agente crê 
que sua conduta recai sobre um objeto, mas na verdade incide sobre coisa diversa. Ex: 
A acredita que subtraiu um rolex, avaliado em 30 mil reais, quando realmente furta uma 
réplica do relógio, que custa 500 reais. 
 - Na prática isso será irrelevante para o direito penal, pois houve a subtração do 
patrimônio alheio, pouco importando seu valor efetivo. A coisa alheia móvel saiu da 
esfera de vigilância da vítima para ingressar no patrimônio do ladrão. 
 - Porém, na prática pode incidir o princípio da insignificância, excluindo a 
tipicidade do fato, quando os requisitos objetivos e subjetivos estiverem presentes. 
 
12.6.3. Erro sobre as qualificadoras: o sujeito age com a falsa percepção da 
realidade no que respeito a uma qualificadora do crime. Exemplo: Caio mata Tício, após 
este ter visto Caio relacionando-se com Amélia. Caio pensava que se sua esposa 
descobrisse o fato, ela poderia denunciá-lo por bigamia. 
- Nesse caso o erro não afasta o dolo nem a culpa no que se refere à modalidade 
básica do delito, desaparecendo a qualificadora somente. 
 
12.6.4. Erro sobre o nexo causal aberratio causae: aqui o erro está relacionado 
à causa do crime, ou seja, o resultado buscado pelo agente ocorreu em razão de um 
acontecimento diverso daquele que ele inicialmente idealizou. 
- Ex: Morpheu lança Mévio de uma ponte ao mar, sabendo que ele não sabia 
nadar, desejando matá-lo afogado. Porém Mévio morre da pancada numa rocha. Nesse 
caso, o nexo causal foi outro, porém o que é relevante é a morte que no caso ocorreu. 
 
12.6.5. Erro na execução ou aberratio ictus: o artigo 73 do CP traz a previsão, 
quando agente, por acidente ou erro no uso dos meios de execução, ao invés de atingir a 
22 
 
pessoa que pretendia ofender, atinge pessoa diversa, responde como se tivesse praticado 
o crime contra aquela que quis atingir, 
- É uma aberração no ataque em que o agente não se engana quanto à pessoa que 
desejava atacar, mas age de modo desastrado e erra o alvo, acertando pessoa diversa. 
Nesse caso, leva-se em conta as condições pessoais que o agente desejava atingir 
(vítima virtual), desprezando as condições pessoais da vítima ofendida. 
- No Erro Sobre a Pessoa: o agente confunde a pessoa que queria atingir com 
uma pessoa diversa. 
- No Erro na Execução: o agente não confunde a pessoa que desejava atingir, 
mas por aberração no ataque acaba por acertar pessoa diversa. Ex: dentro de um ônibus 
fulando atira contra Sicrano, mas erra a mira. 
 
12.6.6. Espécies de erro na execução: pode ser com unidade simples ou 
complexa. 
- Com unidade simples ou resultado único: art. 73, 1ª. parte do CP, na qual o 
agente atinge unicamente a pessoa diversa da desejada. A vítima virtual não suporta 
qualquer tipo de lesão. Nesse caso, a lei “faz de conta” que a vítima real era a vítima 
virtual. 
- Com unidade complexa ou resultado duplo: art. 73, in fine do CP. Caso em 
que o agente além de atingir a pessoa inicialmente desejada, ofende também pessoa 
diversa. Sua conduta enseja dois resultados: o pretendido e o involuntário. Ex: Fulano 
mata Sicrano dolosamente, e também C a título de culpa, hipótese de um projetil perfura 
o corpo de uma vítima para se alojar no outro. Nesse caso o CP aplica-se o concurso 
formal próprio ou perfeito, utilizando a pena do crime mais grave e aumenta de 1/6 a 
1/2. 
 
13. ITER CRIMINIS 
 - É o caminho do crime, ou seja, as etapas percorridas pelo agente para a prática 
de um fato de um fato previsto em lei como infração penal. Compreende duas fases, 
uma interna e externa. 
 - A fase interna é representada pela cogitação. 
 - A fase externa se divide em outras três: preparação, execução e consumação. 
 - O exaurimento não integra o iter criminis. 
 
23 
 
 13.1. Cogitação 
 - É aquilo que repousa na mente do agente, formando-se uma ideia de enveredar 
pela empreitada criminosa. Por se tratar de mera ideia, não há qualquer possibilidade de 
ofensa ao bem jurídico e por isso não pode ser alcançada pelo direito penal e não é 
punível, nem mesmo de forma tentada. 
 
 13.2. Preparação 
 - Corresponde aos atos indispensáveis à prática da infração penal, municiando-se 
o agente dos elementos necessários para a concretização da sua conduta ilícita. Ex: 
aquisição de um revólver para a prática de um homicídio, ou construção de um cativeiro 
para ocultação da vítima de extorsão mediante sequestro. 
 - Os atos preparatórios geralmente não são puníveis, nem na forma tentada, pois 
não se iniciou a realização do núcleo do tipo penal. Todavia, há casos em que é possível 
a punição de atos preparatórios nas hipóteses em que a lei optou por incriminá-los de 
forma autônoma. São chamados crimes de obstáculo. 
 - Os crimes de obstáculo são casos em que o legislador transforma o ato 
preparatório de um determinado delito em crime diverso e independente, ou seja, passa 
a trata-lo como ato de execução. Ex: associação criminosa (art. 288) e petrechos para 
falsificação de moeda(art. 291), ou ato preparatório ao terrorismo (Lei nº 13.260/16). 
 
 13.3. Execução 
 - É aquela em que se inicia a agressão ao bem jurídico, por meio da realização 
do núcleo do tipo penal, tornando o fato punível. Ex: efetuar disparos de arma de fogo 
contra uma pessoa, cabendo, portanto, uma tentativa. 
 - O ato de execução deve ser idôneo e inequívoco. 
- Idôneo é o que se reveste de capacidade de lesar o bem jurídico penalmente 
tutelado. A idoneidade deve ser atestada no caso em concreto, e não em abstrato. Ex: 
tiro de revólver e tiro de festim. 
- Inequívoco: é a vontade inequívoca de atacar o bem jurídico, almejando a 
consumação da infração penal com a certeza da vontade ilícita. Ex: disparo de arma de 
fogo em direção à vítima. 
 
 
 
24 
 
13.4. Transição dos Atos Preparatórios para os Executórios 
- É um grande desafio diferenciar um ato preparatório para o ato executório. 
Algumas teorias são utilizadas para solução do impasse. São divididas em subjetiva e 
objetiva, sendo que esta última se divide em outras. 
- Teoria Subjetiva: não há transição dos atos preparatórios para os atos 
executórios, interessando o plano interno do autor, a vontade criminosa existente nos 
atos que compõem o iter criminis. Logo, tanto a preparação quanto a execução são 
puníveis. 
- Teoria Objetiva: os atos executórios dependem do início de realização do tipo 
penal, não podendo o agente ser punido pelo seu querer interno. É indispensável a 
exteriorização de atos idôneos e inequívocos para produção do resultado. 
 - Teoria Objetivo-Formal ou Lógico-Formal: ato executório é aquele 
que se inicia com a realização do verbo do tipo previsto na conduta criminosa. Exige 
que o autor tenha praticado uma parte da conduta típica, penetrando no núcleo do tipo. 
É a teoria preferida pela doutrina pátria. 
 
13.5. Consumação 
- Dá-se a consumação, também chamada de crime consumado, quando nele se 
reúnem todos os elementos de sua definição legal (art. 14, I). Verifica-se quando o autor 
concretiza todas as elementares descritas na lei penal incriminadora. 
- Nos crimes materiais a consumação acontece coma superveniência do 
resultado naturalístico. Nos crimes formais, chamados de consumação antecipada, a 
consumação ocorre com a mera prática da conduta prática da conduta. 
- Nos crimes qualificados pelo resultado, incluindo os preterdolosos, a 
consumação se verifica com a produção do resultado agravador, culposo ou doloso. Ex: 
art. 19, §3. 
- Os crimes de perigo concreto se consumam com a efetiva exposição do bem 
jurídico a uma probabilidade de dano. Ex: direção de veículo automotor sem 
habilitação. Art. 309, Lei 9.503/97. O crime se aperfeiçoa com a exposição a dano 
potencial da incolumidade de outrem. 
- Nos crimes de perigo abstrato ou presumido se consumam com a mera 
prática da conduta definida pela lei como perigosa, como, por exemplo, o porte de arma 
de fogo de uso permitido. Basta o simples ato de portar arma de fogo sem autorização 
ou em desacordo com determinação legal. 
25 
 
- Em relação aos crimes permanentes a consumação se arrasta no tempo, com a 
manutenção da situação contrária ao Direito, autorizando a prisão em flagrante a 
qualquer momento, enquanto não encerrada a permanência. Ex: sequestro e manter em 
depósito substância entorpecente. 
 
13.6. Exaurimento 
- Também chamado de crime exaurido ou crime esgotado, é o delito em que 
posteriormente à consumação, subsistem efeitos lesivos derivados da conduta do autor. 
Ex: recebimento do resgate no crime de extorsão mediante sequestro. O delito se 
consuma com a privação da liberdade a ser trocada pela vantagem indevida. 
- O exaurimento não compõe o iter criminis, que se encerra com a consumação. 
- O exaurimento pode constituir qualificadora, como se dá na resistência (art. 
329, caput e §1º, CP) ou como causa de aumento de pena, tal como na corrupção 
passiva (art. 317, caput e §1º, CP). 
 
14. TENTATIVA 
- O artigo 14, II do CP: diz-se crime tentado quando iniciada a execução, não se 
consuma por circunstâncias alheias a vontade do agente. 
- Salvo disposição em contrário, pune-se a tentativa com a pena correspondente 
ao crime consumado, diminuída de 1 (um) a 2/3 (dois terços). 
- A tentativa também é chamada de conatus, crime imperfeito, crime manco. 
- A adequação típica de um crime tentado é de subordinação mediata ou por 
extensão, já que a conduta humana não se enquadra prontamente na lei penal 
incriminadora, reclamando-se, para complementar a tipicidade, a interposição do 
dispositivo contido no artigo 14, II do CP. 
 
14.1. Teorias Sobre a Punibilidade da Tentativa 
- Teoria Subjetiva ou monista: ocupa-se exclusivamente da vontade criminosa, 
que pode se revelar nos atos preparatórios como também durante a execução. O sujeito 
é punido por sua intenção, pois o que importa é o desvalor da ação, sendo irrelevante o 
valor do resultado. 
- Teoria Objetiva ou Dualista: a tentativa é punida em face do perigo 
proporcionado ao bem jurídico tutelado pela lei penal. São sopesados o desvalor da ação 
26 
 
e o desvalor do resultado. Por isso a tentativa deve receber punição inferior à do crime 
consumado, pois o bem jurídico não foi atingido integralmente. 
- Obs: o Código Penal adota a teoria objetiva ou dualista. Porém, 
excepcionalmente, é aceita a teoria subjetiva ou monista, consagrada na expressão 
“salvo disposição em contrário”. 
- Isso ocorre porque em casos restritos o crime consumado e tentado comportam 
igual punição, sendo chamados de delitos de atentado ou de empreendimento. Ex: 
evasão mediante violência contra a pessoa (art. 352, CP) e votar ou tentar votar mais de 
uma vez, ou em lugar de outrem (art. 309, Lei nº 4.737/65 – Código Eleitoral). 
- Quanto ao critério para redução de pena o magistrado deverá analisar o iter 
criminis percorrido pelo agente. A redução deverá ser inversamente proporcional à 
maior proximidade do resultado almejado. Ex: o agente dispara vários tiros de arma de 
fogo, e após a vítima ter ficado internada 15 dias no hospital, consegue sobreviver. 
Nesse caso a redução da pena será a mínima. Se os disparos não atingiram a vítima, 
poderia ser reduzida a pena ao máximo. 
- Não interfere na diminuição da pena a maior ou menor gravidade do crime, 
bem como os meios empregados para sua execução, ou ainda as condições pessoais do 
agente, tais como antecedentes criminais e circunstância de ser primário ou de bons 
antecedentes. 
 
14.2. Espécies de Tentativa 
- A tentativa pode ser branca (incruenta), vermelha (cruenta); perfeita (ou 
acabada ou crime falho) e imperfeita (ou inacabada). 
- Tentativa branca: o objeto material não é atingido pela conduta criminosa. 
Ex: Caio erra os disparos que efetuou contra Mévio. 
- Tentativa vermelha ou cruenta: o objeto material é alcançado pela atuação 
do agente. Ex: Tício atira contra Morpheu, que é atingido, mas sobrevive ao ataque. 
- Tentativa perfeita, acabada ou crime falho: o agente esgota todos os meios 
executórios que estava à sua disposição, e mesmo assim não sobrevém a consumação 
por circunstâncias alheias à vontade do agente. Pode ser cruenta ou incruenta. Ex: Tião 
dispara todos os cartuchos de sua espingarda contra Malaquias, mas este não é atingido, 
ou é atingido e sobrevive. 
- Tentativa imperfeita, inacabada ou tentativa propriamente dita: o agente inicia 
a execução, sem, contudo, utilizar todos os meios que tinha ao seu alcance, e o crime 
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não se consuma por circunstâncias alheias à sua vontade. Ex: Astrogildo efetua três 
disparos de arma contra Agripino, porém é interrompido na ação de continuar os 
disparos porque a polícia chega e toma sua arma. A vítima é socorrida e sobrevive. 
 
15. DESISTÊNCIA VOLUNTÁRIA E ARREPENDIMENTO EFICAZ 
 - Dispõe o artigo 15 do CP: aquele que, voluntariamente, desiste de prosseguir 
na execução ou impede que o resultado se produza, só respondepelos atos já praticados. 
 - Distinção da Desistência Voluntária e Arrependimento Eficaz com a 
Tentativa: tanto uma como outra modalidade são formas de tentativa abandonada, 
isso porque o crime não ocorre em razão da vontade do agente empregando diligências 
eficazes para impedir o resultado. 
 - A natureza jurídica da desistência voluntária e do arrependimento eficaz é 
causa de exclusão da tipicidade, pois o afasta a tipicidade do crime inicialmente 
desejado, subsistindo apenas a tipicidade dos atos já praticados. 
 
 15.1. Desistência Voluntária 
 - O agente voluntariamente abandona o processo executório do crime, 
interrompendo os atos posteriores à sua disposição para a consumação. Seria algo do 
tipo: “posso prosseguir, mas não quero”. Já na tentativa temos: “quero prosseguir, 
mas não posso”. Ex: Astrogildo dispara um tiro contra Betão e, após este cair no chão, 
Astrogildo com mais 5 munições na arma, deixa se prosseguir com o crime. 
 - Já nos crimes omissivos impróprios, a desistência voluntária reclama uma 
atuação positiva, um fazer, pelo qual o autor de um delito impede a produção de um 
resultado. Ex: mãe que deixa de alimentar o filho, mas estando à beira da morte, ela 
volta a nutrir a criança. 
 
15.2. Arrependimento eficaz e desistência voluntária 
- Depois de já praticados todos os atos executórios suficientes à consumação do 
crime, o agente adota providências aptas a impedir a produção do resultado. Ex: depois 
de ministrar um veneno no café para matar a vítima, o agente lhe oferece antídoto, 
impedindo a eficácia causal de sua conduta. 
- O agente esgota todos os meios de execução que se encontravam à sua 
disposição. 
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- Requisitos: na desistência voluntária e no arrependimento eficaz: 
voluntariedade e eficácia. Voluntariedade consiste no querer, voluntário ou não 
(alguém convenceu o agente). Não pode haver coação física ou moral. Já a eficácia tem 
a ver com capacidade de evitar a produção do resultado. Ou seja, mesmo que o agente 
tenha buscado impedir o resultado, ele ocorreu. Mas existe a atenuante genérica do 
artigo 65, III, b, 1ª. parte do CP. 
 - Motivos: não importa quis motivos levaram o agente a optar pela desistência 
voluntária ou pelo arrependimento eficaz. Não precisam ser éticos, piedosos, valorativos 
ou admiráveis. 
 - Efeitos: na desistência voluntária e no arrependimento eficaz o efeito é o 
mesmo: o agente não responde pela forma tentada do crime inicialmente desejado, mas 
somente pelos atos já praticados. Ex: deixa de responder uma tentativa de homicídio por 
uma lesão corporal leve dos tirou que perfuraram o ombro, mas não comprometeu os 
movimentos. 
 - Incompatibilidade com crimes culposos: a desistência voluntária e o 
arrependimento eficaz são incompatíveis com os crimes culposos. O resultado 
naturalístico é involuntário, não sendo lógico imaginar, um resultado que o agente 
desejava produzir. 
 
16. ARREPENDIMENTO POSTERIOR 
 - É causa obrigatória de diminuição de pena, e ocorre quando o agente pratica o 
crime sem violência e sem grave ameaça à pessoa, voluntariamente, até o recebimento 
da denúncia ou da queixa, restituindo a coisa ou reparando o dano provocado por sua 
conduta. Artigo 16 do CP diz: redução de 1/3 a 2/3. 
 - Natureza jurídica: causa de diminuição de pena. Tem incidência portanto, na 
terceira fase de aplicação da pena privativa de liberdade. 
 
 16.1. Extensão do Benefício 
 - Alcança qualquer crime que com ele seja compatível, e não apenas delitos 
contra o patrimônio, já que o benefício encontra-se na parte geral do Código Penal. 
 - Ex: peculato – art. 312 do CP (crimes contra a Administração Pública). 
 - Evidentemente, nos crimes em que não seja possível reparar o dano ou ser 
coisa a ser restituída, não será aplicado o instituto do arrependimento posterior. 
29 
 
 - Isso significa que o arrependimento posterior é cabível nos crimes patrimoniais 
e também nos delitos diversos, desde que apresentem efeitos de índole patrimonial. 
 
16.2. Requisitos 
 - Segundo artigo 16 do CP, temos os seguintes requisitos: 
 a) Natureza do Crime: o crime deve ser praticado sem violência e grave 
ameaça à pessoa. Em se tratando de violência ou grave ameaça, pouco importa a 
quantidade ou natureza da pena, como o regime prisional fixado. 
 - A violência contra a coisa não exclui o benefício. 
 - Em caso de violência culposa é cabível o arrependimento posterior, pois não 
houve violência na conduta e sim no resultado. Ex: o motorista de uma empilhadeira 
deixa cair uma caixa sobre uma pessoa (lesão corporal culposa). 
 b) Reparação do dano ou restituição da coisa: devem ser voluntária, pessoal e 
integral. Deve ser realizada sem coação física ou moral. 
 - Voluntariedade pode ser por orientação de familiares, amigos ou advogado, 
ou mesmo pelo receio de suportar a sanção penal. 
- A pessoalidade pode ser quebrada em circunstâncias extremas, a exemplo do 
réu preso ou internado em hospital, circunstância em que a terceira pessoa irá 
representa-l0 (se a família entregar ou policial apreender não vale). 
- Integral significa que a restituição não pode ser parcial. O STJ já aceitou a 
restituição parcial como montante de diminuição de pena (um a dois terços). 
 c) Limite Temporal: deve ser efetuada até o recebimento da denúncia ou da 
queixa (juízo de admissibilidade da petição inicial). É irrelevante o momento do 
oferecimento da denúncia ou queixa. Se a reparação do dano for após o recebimento da 
denúncia ou queixa e antes do julgamento, aplica-se a atenuante genérica prevista no 
artigo 65, III, b, parte final do CP. 
 
16.3. Comunicabilidade do Arrependimento Posterior no Concurso de 
Pessoas 
- A reparação do dano ou restituição da coisa tem natureza objetiva. Isso 
significa que comunica-se aos demais coautores e partícipes do crime, na forma definida 
no artigo 30 do CP. 
 
 
30 
 
16.4. Critério para Redução de Pena 
 - A redução de pena dentro dos parâmetros legais de um a dois terços deve ser 
calculada na celeridade e na voluntariedade da reparação do dano ou da restituição da 
coisa. O STF entende que a redução maior deve ocorrer se a reparação for integral. 
 
16.5. Recusa do Ofendido em Aceitar a Reparação do Dano ou a Restituição 
da Coisa 
- Seja qual for o motivo que leve a vítima a recusar o objeto ou a reparação do 
dano, o agente não pode ser privado da diminuição da pena se preencher os requisitos 
legalmente previstos para a concessão do benefício. A coisa pode ser entregue para a 
autoridade policial que, após lavrar auto de apreensão, remeterá ao juízo competente. 
 
16.6. Dispositivos Especiais Acerca da Reparação do Dano 
a) Peculato Culposo: art. 312, §3º do CP, no peculato culposo, a reparação do 
dano, se anterior à sentença irrecorrível, extingue a punibilidade, se posterior, reduz de 
metade a pena. Essa regra afasta a regra do artigo 16 do CP em relação ao crime 
culposo. Se o peculato for doloso aí sim vai na regra geral do artigo 16 do CP (redução 
de um a dois terços). 
- Ocorre peculato na forma culposa quando o funcionário público encarregado 
da guarda e segurança do patrimônio da administração, por negligência, imprudência ou 
imperícia, infringe o dever de cuidado, permitindo, involuntariamente, que outro 
funcionário aproprie-se de qualquer bem público de que tem a posse em razão de sua 
função. 
 
17. CRIME IMPOSSÍVEL 
 - Crime impossível previsto no artigo 17 do CP. Se verifica quando, por 
ineficácia absoluta do meio ou por absoluta impropriedade do objeto, jamais ocorrerá a 
consumação. Também conhecido como crime oco. 
 - Parece com o crime tentado, pois o agente inicia em seu plano interno a 
execução da conduta criminosa, mas não alcança a consumação. 
 - Natureza jurídica do crime impossível: é causa de exclusão de tipicidade, eis 
que o fato praticado pelo agente não se enquadra em nenhum tipo penal. 
 - A doutrinadecidiu chamar o crime impossível de tentativa inadequada, 
tentativa inidônea, tentativa impossível, tentativa irreal ou tentativa supersticiosa. 
31 
 
 17.1. Teorias Sobre o Crime Impossível 
 - Teoria Objetiva: a responsabilização de alguém pela prática de determinada 
conduta depende de elementos objetivos e subjetivos (dolo e culpa). Elemento objetivo 
é o perigo de lesão para os bens jurídicos tutelados. Quando a conduta não tem 
potencialidade para lesar o bem jurídico, sejam em razão do meio empregado pelo 
agente, seja pelas condições do objeto material, não se configura a tentativa. É o que se 
chama de inidoneidade. 
 Teoria Objetiva Temperada: para a configuração do crime impossível e para o 
afastamento da tentativa, os meios empregados e o objeto do crime devem ser 
absolutamente inidôneos a produzir o resultado idealizado pelo agente. Se a 
inidoneidade for relativa haverá tentativa. Adotada pelo Código Penal. 
 - Teoria Subjetiva: leva em conta a intenção do agente, manifestada pela sua 
conduta, pouco importado se os meios empregados ou o objeto do crime eram ou não 
idôneos para a produção do resultado. Nesse caso, mesmo havendo inidoneidade 
absoluta ou relativa, haverá tentativa, pois o que vale é a vontade do agente, seu aspecto 
psíquico. 
 
17.2. Espécies de Crime Impossível 
- Ineficácia Absoluta do Meio: palavra voltada para o meio de execução, ou 
seja, o meio é incapaz de produzir o resultado, pois mais reiterado que seja o seu 
emprego. Ex: matar o desafeto com arma de brinquedo ou munição de festim. 
- Essa inidoneidade tem que ser analisada no caso concreto, e jamais em 
abstrato, como o exemplo do emprego de açúcar no lugar de veneno para matar alguém, 
pode constituir em meio absolutamente ineficaz em relação à maioria das pessoas. Mas 
é capaz de eliminar a vida de um diabético. 
- Se a ineficácia for relativa estará caracterizada a tentativa. Ex: Abreu desejando 
matar seu desafeto, nele efetua disparos de arma de fogo. O resultado naturalístico não 
se produz porque a vítima trajava colete de proteção balística. 
- Impropriedade Absoluta do Objeto: aqui a análise é feita sobre o objeto 
material, ou seja, a pessoa ou a coisa sobre a qual recai a conduta do agente. Isso ocorre 
quando inexiste antes do início da conduta da prática da conduta ou ainda quando, nas 
circunstâncias em que se encontra, torna impossível a sua consumação, como nas 
situações em que se tenta matar pessoa já falecida, ou se procura abortar o feto de uma 
mulher que não está grávida. 
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- Estaremos diante da tentativa se houver impropriedade relativa do objeto. Ex: o 
larápio, mediante destreza, coloca a mão no bolso direito da calça da vítima, com o 
propósito de furtar o aparelho de telefonia celular, mas não obtém êxito, porque o 
celular estava no bolso esquerdo. 
17.3. Momento Adequado Para Aferição da Inidoneidade Absoluta 
- Tanto a ineficácia absoluta do meio e a impropriedade absoluta do objeto 
devem ser analisadas depois da prática da conduta com a qual se deseja consumar o 
crime, para que se possa verificar se houve tentativa punível ou crime impossível. 
- O STF entende que os sistemas de vigilância de estabelecimentos comerciais 
não tem o condão de impedir totalmente a consumação do crime. Também previsto na 
Súmula 567 do STJ. 
 
FIM DO CONTEÚDO PARA A PROVA NP1 
NÃO DEIXEM PARA ÚLTIMA HORA. ESTUDEM!!!! BOA SORTE.

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