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Seção 3 
SUA PETIÇÃO 
DIREITO 
PENAL 
 
 
 
 
 
 
 
Olá, operadores do Direito! 
 
Mais uma vez sua atuação é digna de elogios. Afinal, o Exmo. Sr. Juiz da Vara 
Criminal da Comarca de Conceição do Agreste/CE, ao analisar sua resposta preliminar, 
acatou parcialmente as teses por você arguidas e recebeu a denúncia apenas em 
relação ao delito de corrupção passiva (artigo 317 do CP). 
No tocante à imputação de associação criminosa (art. 288 do CP), a denúncia foi 
rejeitada, nos termos do artigo 395, III do CPP, por ausência de justa causa para a ação 
penal. 
Concordando com os argumentos por você trazidos, o Exmo. Sr. Juiz entendeu 
ausentes os indícios de materialidade em relação ao delito de associação criminosa, 
uma vez que a acusação narra apenas um único fato e, portanto, um crime único, o 
que afasta por completo a tipicidade do artigo 288 do CP, por não existir o caráter de 
estabilidade e durabilidade indispensável para a caracterização da referida associação. 
O promotor de Justiça Titular da Comarca de Conceição do Agreste/CE, ao ser 
intimado desta decisão (em 24 de maio de 2018), inconformado, interpôs, em 30 de 
maio de 2018, recurso em sentido estrito, com fundamento no artigo 581, I do CPP. 
Em suas razões recursais, requereu a reforma da decisão para que a denúncia seja 
recebida também em relação ao crime de associação criminosa, sob o argumento de 
Seção 3 
DIREITO PENAL 
Sua causa! 
 
que, por se tratarem todos os denunciados de membros da Câmara dos Vereadores, 
havia estabilidade e durabilidade na associação. 
 Ao receber o recurso interposto pela acusação no dia 05 de junho de 2018, o juízo 
de primeira instância intimou a defesa de Zé da Farmácia para apresentar a medida 
cabível, dentro do prazo legal. 
 
ADVOGADO: Qual a medida cabível para rebater os argumentos trazidos pela 
acusação? Date sua peça com o último dia do prazo 
 
 
No caso hipotético apresentado, você, caro aluno, deve apresentar a medida 
cabível para rebater os argumentos trazidos pelo Ministério Público no recurso em 
sentido estrito por ele interposto. 
Preste bastante atenção! Nesta seção, não esperamos a interposição de um 
recurso (afinal, a decisão que recebe a denúncia é irrecorrível). A intimação realizada 
referiu-se tão somente ao recurso interposto pelo órgão acusatório. 
Deste modo, sua missão se limita a refutar os argumentos trazidos pelo 
Ministério Público no recurso interposto de modo que a decisão não seja modificada 
para receber a denúncia também em relação ao crime de associação criminosa. 
Por isso, deve-se apresentar nesta seção uma resposta recursal, como 
efetivação da garantia constitucional do contraditório, que, em uma perspectiva 
democrática, deve ser entendido como a garantia de participação das partes, em 
igualdade de condições, na construção do provimento jurisdicional. 
Fundamentando! 
 
Logo, para que o Tribunal possa apreciar o recurso interposto por uma das 
partes, é indispensável garantir à outra parte oportunidade de rebater os argumentos 
apresentados no recurso interposto. 
Para isso, sugerimos que verifique o conteúdo dos artigos 581 a 592 do CPP, que 
tratam do recurso em sentido estrito. 
 
Quadro 1.5 | Recursos em processo penal 
CAPÍTULO II 
DO RECURSO EM SENTIDO ESTRITO 
Art. 581. Caberá recurso, no sentido estrito, da decisão, despacho ou sentença: 
I - que não receber a denúncia ou a queixa; 
II - que concluir pela incompetência do juízo; 
III - que julgar procedentes as exceções, salvo a de suspeição; 
IV - que pronunciar o réu; 
V - que conceder, negar, arbitrar, cassar ou julgar inidônea a fiança, indeferir 
requerimento de prisão preventiva ou revogá-la, conceder liberdade provisória ou 
relaxar a prisão em flagrante; 
VI - (Revogado pela Lei nº 11.689, de 2008) 
VII - que julgar quebrada a fiança ou perdido o seu valor; 
VIII - que decretar a prescrição ou julgar, por outro modo, extinta a punibilidade; 
IX - que indeferir o pedido de reconhecimento da prescrição ou de outra causa 
extintiva da punibilidade; 
X - que conceder ou negar a ordem de habeas corpus; 
XI - que conceder, negar ou revogar a suspensão condicional da pena; 
XII - que conceder, negar ou revogar livramento condicional; 
XIII - que anular o processo da instrução criminal, no todo ou em parte; 
 
XIV - que incluir jurado na lista geral ou desta o excluir; 
XV - que denegar a apelação ou a julgar deserta; 
XVI - que ordenar a suspensão do processo, em virtude de questão prejudicial; 
XVII - que decidir sobre a unificação de penas; 
XVIII - que decidir o incidente de falsidade; 
XIX - que decretar medida de segurança, depois de transitar a sentença em julgado; 
XX - que impuser medida de segurança por transgressão de outra; 
XXI - que mantiver ou substituir a medida de segurança, nos casos do art. 774; 
XXII - que revogar a medida de segurança; 
XXIII - que deixar de revogar a medida de segurança, nos casos em que a lei admita 
a revogação; 
XXIV - que converter a multa em detenção ou em prisão simples. 
Art. 582 - Os recursos serão sempre para o Tribunal de Apelação, salvo nos casos 
dos ns. V, X e XIV. 
Parágrafo único. O recurso, no caso do no XIV, será para o presidente do Tribunal 
de Apelação. 
Art. 583. Subirão nos próprios autos os recursos: 
I - quando interpostos de ofício; 
II - nos casos do art. 581, I, III, IV, VI, VIII e X; 
III - quando o recurso não prejudicar o andamento do processo. 
Parágrafo único. O recurso da pronúncia subirá em traslado quando, havendo dois 
ou mais réus, qualquer deles se conformar com a decisão ou todos não tiverem sido 
ainda intimados da pronúncia. 
Art. 584. Os recursos terão efeito suspensivo nos casos de perda da fiança, de 
concessão de livramento condicional e dos ns. XV, XVII e XXIV do art. 581. 
§ 1o Ao recurso interposto de sentença de impronúncia ou no caso do no VIII do 
art. 581, aplicar-se-á o disposto nos arts. 596 e 598. 
§ 2o O recurso da pronúncia suspenderá tão-somente o julgamento. 
§ 3o O recurso do despacho que julgar quebrada a fiança suspenderá unicamente 
o efeito de perda da metade do seu valor. 
Art. 585. O réu não poderá recorrer da pronúncia senão depois de preso, salvo se 
prestar fiança, nos casos em que a lei a admitir. 
Art. 586. O recurso voluntário poderá ser interposto no prazo de cinco dias. 
 
Parágrafo único. No caso do art. 581, XIV, o prazo será de vinte dias, contado da 
data da publicação definitiva da lista de jurados. 
 Art. 587. Quando o recurso houver de subir por instrumento, a parte indicará, no 
respectivo termo, ou em requerimento avulso, as peças dos autos de que pretenda 
traslado. 
Parágrafo único. O traslado será extraído, conferido e concertado no prazo de cinco 
dias, e dele constarão sempre a decisão recorrida, a certidão de sua intimação, se 
por outra forma não for possível verificar-se a oportunidade do recurso, e o termo 
de interposição. 
Art. 588. Dentro de dois dias, contados da interposição do recurso, ou do dia em 
que o escrivão, extraído o traslado, o fizer com vista ao recorrente, este oferecerá 
as razões e, em seguida, será aberta vista ao recorrido por igual prazo. 
Parágrafo único. Se o recorrido for o réu, será intimado do prazo na pessoa do 
defensor. 
Art. 589. Com a resposta do recorrido ou sem ela, será o recurso concluso ao juiz, 
que, dentro de dois dias, reformará ou sustentará o seu despacho, mandando 
instruir o recurso com os traslados que Ihe parecerem necessários. 
Parágrafo único. Se o juiz reformar o despacho recorrido, a parte contrária, por 
simples petição, poderá recorrer da nova decisão, se couber recurso, não sendo 
mais lícito ao juiz modificá-la. Neste caso, independentemente de novos 
arrazoados, subirá o recurso nos próprios autos ou em traslado. 
Art. 590. Quando for impossível ao escrivão extrair o traslado no prazo da lei, 
poderá o juiz prorrogá-loaté o dobro. 
Art. 591. Os recursos serão apresentados ao juiz ou tribunal ad quem, dentro de 
cinco dias da publicação da resposta do juiz a quo, ou entregues ao Correio dentro 
do mesmo prazo. 
 Art. 592. Publicada a decisão do juiz ou do tribunal ad quem, deverão os autos ser 
devolvidos, dentro de cinco dias, ao juiz a quo. 
Fonte: adaptado do Código de Processo Penal (CPP), Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941. 
 
Após essa análise, temos certeza de que já identificou a peça a ser redigida, não 
é mesmo? 
Como em qualquer outra peça, é fundamental o cuidado com a sua estrutura 
lógica, composta de narração dos fatos, fundamentos jurídicos e pedidos. 
 
Lembre-se de que seu objetivo é, em primeiro lugar, convencer o Tribunal de 
Justiça de que o recurso interposto pela acusação não merece ser conhecido (apesar 
do recebimento do recurso pelo juízo a quo, que pode ter sido realizado de forma 
equivocada). 
Assim, deve-se alertar sobre a ausência de qualquer um dos requisitos recursais 
(objetivos e subjetivos), em especial tempestividade, legitimidade, cabimento e 
interesse. 
No processo penal, ao contrário do processo civil, além de não haver prazos em 
dias úteis (mas em dias corridos), a contagem do prazo se inicia com o ato em si (seja 
ele de citação, intimação ou publicação) e não com a juntada aos autos do respectivo 
mandado, nos termos do art. 798, §5º “a” do CPP. 
Além disso, de acordo com a jurisprudência pátria, no processo penal, o 
Ministério Público não possui prazo em dobro para recorrer e/ou contrarrazoar: 
 
AGRAVO REGIMENTAL EM EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA PENAL E PROCESSUAL 
PENAL. INTERPOSIÇÃO DE AGRAVO INTERNO APÓS O PRAZO DE 5 (CINCO) DIAS 
PREVISTO NO ART. 258 DO REGIMENTO INTERNO DO STJ. PRAZO EM DOBRO PARA 
O MINISTÉRIO PÚBLICO EM MATÉRIA PENAL. INEXISTÊNCIA. PRAZO SIMPLES 
CONTADO DA ENTREGA DO ARQUIVO ELETRÔNICO. PRECEDENTES. I – O 
entendimento pacífico desta Corte Superior é no sentido de que o Ministério 
Público, em matéria penal, não goza da prerrogativa da contagem dos prazos 
recursais em dobro. II – No caso dos autos, a intimação ocorreu com a entrega do 
arquivo digital contendo cópia do processo eletrônico em 17⁄08⁄2012 e o Agravo 
Interno foi protocolado somente em 27⁄08⁄2012, extrapolando o quinquênio legal, 
previsto no art. 258 do Regimento Interno do Superior Tribunal de Justiça. III – 
Agravo Regimental não conhecido. (STJ – AgRg nos Embargos de Divergência em 
Resp. n.º 1.187.916-SP – Relatora Ministra Regina Helena Costa – dj. 27/11/2013, 
grifo nosso) 
 
 
Ultrapassada essa etapa, no mérito, objetivando o não provimento do recurso 
interposto, espera-se que as teses apresentadas pela acusação sejam devidamente 
rebatidas para que a decisão de primeiro grau seja mantida. 
Para tanto, deve-se, mais uma vez, realizar uma análise detalhada do crime de 
associação criminosa objeto de discussão do presente recurso. 
Como sabemos, nos termos do artigo 288 do Código Penal, para a caracterização 
do delito de associação criminosa, é indispensável a associação (reunir-se em 
sociedade, agregar-se ou unir-se) de três ou mais pessoas para o fim específico de 
cometer crimes. 
A lei 12.850/2013 deu nova redação ao art. 288 do Código Penal, abolindo o 
antigo título do delito (quadrilha ou bando) para adotar a nova denominação de 
associação criminosa. Inseriu-se a expressão “fim específico” apenas para sinalizar o 
caráter de estabilidade e durabilidade da referida associação, distinguindo-a do mero 
concurso de pessoas para o cometimento de um só delito. Quem se associa (pelo 
menos três agentes) para o fim específico de praticar crimes (no plural, o que 
demonstra a ideia de durabilidade), assim o faz de maneira permanente e indefinida, 
vale dizer, enquanto durar o intuito associativo dos integrantes1. 
Deste modo, havendo a prática de um único fato e, portanto, de um único crime, 
não estará caracterizada a tipicidade específica do artigo 288 do CP. Esse é, inclusive, 
o entendimento da jurisprudência pátria: 
 
STF: DIREITO PENAL. HABEAS CORPUS. CRIME DE QUADRILHA. CONFIGURAÇÃO 
TÍPICA. REQUISITOS. Para a configuração do crime de associação criminosa do art. 
288 do Código Penal brasileiro, exige-se a associação de mais de três pessoas "para 
 
1 NUCCI, Guilherme Souza. Manual de direito penal. 13. ed. São Paulo: Forense/Grupo GEN, 2017, p. 971. 
 
 
a prática de crimes", não sendo suficiente o vínculo para a prática de um único ato 
criminoso. É o que distingue, principalmente, o tipo de associação criminosa da 
figura delitiva assemelhada do crime de conspiracy do Direito anglo-saxão que se 
satisfaz com o planejamento da prática de um único crime. Se, dos fatos tidos como 
provados pelas instâncias ordinárias, não se depreende elemento que autorize 
conclusão de que os acusados pretenderam formar ou se vincular a uma associação 
criminosa para a prática de mais de um crime, é possível o emprego do habeas 
corpus para invalidar a condenação por esse delito, sem prejuízo dos demais. 
Habeas corpus concedido e estendido de ofício aos coacusados em idêntica 
situação. (HC 103.412/SP – Rel. Min. Rosa Weber – dj. 19/06/2012) 
 
Observe no quadro a seguir a síntese dos fundamentos legais: 
 
Quadro 1.6 | Síntese dos fundamentos legais 
Recurso em sentido estrito Arts. 581 a 592 do CPP. 
Prazos no processo penal Artigo 798 do CPP. 
Crime de associação criminosa Artigo 288 do CP. 
Fonte: elaborado pelo autor. 
 
Com todos os elementos fornecidos, vocês agora já estão aptos a responder: Qual 
é a medida processual cabível? Quais as teses a serem arguidas? 
Com certeza vocês já sabem quais os passos que devem ser seguidos! 
 
Mãos à obra! 
 
 
 
 
 
Questão 01 
 
Eliane, acusada do crime de maus-tratos (artigo 136 do Código Penal), teve sua 
punibilidade extinta pela prescrição pela pena em perspectiva. Inconformado, o 
Ministério Público interpôs recurso em sentido estrito, requerendo a reforma da 
decisão. 
 
Uma vez interposto o recurso e apresentadas as razões recursais, o juiz a quo deverá: 
 
a) analisar o mérito do recurso, julgando-o procedente ou improcedente. 
b) remeter os autos à superior instância para julgamento. 
c) não conhecer o recurso. 
d) conhecer o recurso. 
e) intimar a parte recorrida para oferecer as suas razões. 
 
Resposta: e. 
Comentário: Artigo 588 do CPP. 
 
Questão 02 
 
Lucas, denunciado pela prática do crime de apropriação indébita, teve a denúncia 
rejeitada por inépcia, nos termos do art. 395, I do CPP. Inconformado, o Ministério 
Público interpôs o recurso cabível dentro do prazo legal. 
 
Considerando a situação narrada, é correto afirmar que o recurso cabível e o prazo de 
interposição serão: 
Primeira fase! 
 
 
a) Apelação, no prazo de 05 (cinco) dias. 
b) Recurso em sentido estrito, no prazo de 08 (oito) dias. 
c) Apelação, no prazo de 08 (oito) dias. 
d) Recurso em sentido estrito, no prazo de 05 (cinco) dias. 
e) Recurso em sentido estrito, no prazo de 02 (dois) dias. 
 
Resposta: d. 
Comentário: Artigo 581, I c/c Art. 586 do CPP. 
 
 
 
Ao contrário das demais seções, você não está diante de uma decisão 
completamente desfavorável. A decisão que gerou o recurso em sentido estrito 
acatou, ainda que parcialmente, a tese por você defendida desde o início do processo. 
Mas nem por isso você deve se acomodar, afinal existe a possiblidade de reforma 
da decisão. É justamente por isso que sua manifestação nos autos é fundamental para 
convencer o Tribunal a manter a decisão proferida pelo magistrado de primeira 
instância. 
 Para tanto, você deve examinar atentamente as teses trazidas pela acusação. 
Identifique e destaque os argumentos utilizados para embasá-las. Será necessário 
rebatê-los, um a um. 
Busque na legislação, na doutrina e na jurisprudência, a fundamentação plausívelpara seus questionamentos. Não se esqueça de que, caso seja necessário, a discussão 
poderá seguir até os tribunais superiores e, para isso, é essencial que o caminho seja 
preparado desde já. 
Vamos peticionar! 
 
Você já sabe que qualquer peça começa pelo endereçamento e este, obviamente, 
não pode estar errado. 
Como em qualquer outra peça, é fundamental o cuidado com sua estrutura lógica, 
composta de narração dos fatos, fundamentos jurídicos (questões preliminares e teses 
de mérito) e pedidos. 
Com relação aos pedidos, deve-se atentar para que todas as teses arguidas ao 
longo da peça tenham seu respectivo pedido. 
Por fim, não se esqueça da correta contagem do prazo de apresentação da peça. 
Lembre-se de que no “Exame de Ordem” você será avaliado pela correta indicação 
do foro competente, preâmbulo, qualificação das partes, fundamentação jurídica, 
pedidos e requerimentos, lógica e argumentação, além de ortografia e gramática. 
Parece uma tarefa complexa? É, mas fique tranquilo: leia cuidadosamente o 
material, lembre-se das dicas das seções anteriores sobre como redigir, agregue às 
expostas acima e mãos à obra! Com confiança, você consegue. Vamos peticionar?

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