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Sociologia Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Profa. Dra. Vivian Fiori Revisão Textual: Profa. Ms. Luciene Oliveira da Costa Santos Introdução à Sociologia e às Ciências Humanas • Introdução • A Construção do Conhecimento • A Formação das Ciências Humanas e Sociais • Os Meios de Produção e as Transformações Sociais · Discutir a base teórica e metodológica das principais teorias socioló- gicas que se empenham em explicar as estruturas, os processos e os fenômenos sociais. · Evidenciar alguns conceitos usados nas Ciências Humanas e principalmente na Sociologia. · Discutir algumas teorias e conceitos propostos por pensadores que foram importantes para a Sociologia. OBJETIVO DE APRENDIZADO Introdução à Sociologia e às Ciências Humanas Orientações de estudo Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem aproveitado e haja uma maior aplicabilidade na sua formação acadêmica e atuação profissional, siga algumas recomendações básicas: Assim: Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e horário fixos como o seu “momento do estudo”. Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar, lembre-se de que uma alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo. No material de cada Unidade, há leituras indicadas. Entre elas: artigos científicos, livros, vídeos e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você também encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados. Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discussão, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e aprendizagem. Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Determine um horário fixo para estudar. Aproveite as indicações de Material Complementar. Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar, lembre-se de que uma Não se esqueça de se alimentar e se manter hidratado. Aproveite as Conserve seu material e local de estudos sempre organizados. Procure manter contato com seus colegas e tutores para trocar ideias! Isso amplia a aprendizagem. Seja original! Nunca plagie trabalhos. UNIDADE Introdução à Sociologia e às Ciências Humanas Introdução Nesta unidade, vamos tratar do conhecimento científico e do senso comum, bem como discutiremos o processo de formação das Ciências Humanas, em especial, da Sociologia. Vamos iniciar o estudo introdutório à Sociologia, buscando a compreensão de sua importância, por meio da análise da evolução histórica dessa ciência. A Construção do Conhecimento A seguir, discutiremos algumas diferentes concepções existentes, relacionadas ao conceito de conhecimento. Senso Comum Ao longo da história humana, os grupos humanos – na sua mediação com a natureza, com o meio no qual vivia e na relação com outros homens – construíram formas de explicar a existência do planeta, do mundo, das coisas da natureza e de sua própria existência. Num primeiro momento, quando a relação com a natureza era maior, vivia-se num meio denominado por Milton Santos (2006) de “meio natural”. Nesse período, homens e mulheres dependiam mais da natureza, explicando sua existência por meio de componentes sobrenaturais, de superstições, crenças e explicações míticas, que podem ser denominadas de senso comum. Tais explicações variavam conforme o grupo ou povo, e também foram sendo modificados ao longo da história do mundo, de acordo com as mudanças na história da humanidade e suas frações, grupos e povos. O que é senso comum? Um conjunto de conhecimentos culturais populares elaborados ao longo da história para explicar a existência do mundo, do planeta, da humanidade, do universo, entre outros. Essa visão de mundo era comum entre os primeiros povos e mesmo as pri- meiras civilizações – caso da Grécia antiga, Egito, Mesopotâmia, Roma etc. – nas quais predominavam as explicações sobrenaturais, como o uso da força dos deuses, entes sobrenaturais, que teriam criado os fenômenos da natureza e a própria humanidade. Se chovia, era porque os deuses queriam, se havia seca, era uma repressão divina, e por isso a explicação dos fenômenos naturais era obtida a partir de crenças e superstições. 8 9 Ao longo da história humana, mediante as relações do ser humano com a natureza, em suas atividades de trabalho, nas interações intergrupais, socioculturais, ou intragrupais, homens e mulheres foram adquirindo conhecimento em suas vivências cotidianas. Esse saber é denominado de conhecimento popular, ou senso comum. Tal conhecimento passava de pais para filhos, de geração em geração, por meio de conselhos, recomendações, normas, tabus, proibições e práticas socioculturais, que variavam também conforme o lugar. Figura 1 Fonte: iStock/Getty Images À medida que a sociedade foi se tornando mais complexa e as relações sociais deixaram de ser mediadas apenas pela natureza, homens e mulheres foram estabelecendo normas de convivência, definindo padrões de moral daquele grupo, o que seria considerado aceitável socialmente e o que não seria, práticas e convenções que ajudariam a fundamentar os costumes, a vida diária, as tradições de cada grupo humano. Com as sociedades mais complexas, o mundo foi passando de relações que eram tribais e de clãs, mediadas por chefes, por estruturas sociais de forte laço de proximidade, de família, de relação intragrupal, para situações de representativi- dade por meio de pessoas mais distantes, de normas que não são mais oriundas daquele grupo. Este foi o caso da existência e constituição do Estado-Nação, que marca definitivamente o chamado “mundo moderno” – com a criação de um Estado delimitado, com soberania política, com normas específicas para os que lá habitam. Agora, as normas não eram mais apenas da família, ou de um grupo sociocultural, mas vinha do Estado, por meio de leis, que também são normas, agora escritas, definidas pelas formas de poder de cada Estado. O saber e conhecimento popular e do senso comum, no entanto, não desapareceram. Mesmo atualmente, com um mundo cada vez mais articulado por meio das redes sociais, ainda temos orientações, normas, formas de explicar o mundo que são do senso comum. 9 UNIDADE Introdução à Sociologia e às Ciências Humanas Os meios de comunicação, as mídias televisivas, das redes sociais da internet, dos jornais e revistas também se utilizam das formas de concepções populares, tornando-se muitas vezes formadores de opinião, cujo embasamento é originário deste chamado senso comum. As formas de explicação pelo senso comum não devem ser caracterizadas como menos importantes, pois é a partir dele que se desenvolve a possibilidade de buscar entendimento sobre o cotidiano da vida, procurando discernir erros e acertos do passado, na medida em que iam vivendo e produzindo explicações, tanto em sociedades mais simples como nas mais complexas. O saber das sociedades e comunidades que hoje chamamos de “tradicionais” – caso das indígenas – é o conhecimento acumulado de muitas gerações, sobre a natureza, o uso de plantas e da biodiversidade, que são fundamentais para a existência dessa e de outras gerações. Esse conhecimento tradicional tem servido também como base para o conhecimento científico, indústria farmacêutica, alimentícia, entre outros. Desse modo, não se trata de uma forma menos importante de saber, embora possa ser contestado por outras maneiras de conhecimento. São notáveis, por exemplo, os conhecimentos e práticas desenvolvidos por povos indígenas: conhecimentos, domíniose práticas cobiçados pelas multinacionais, principalmente em questões medicinais. Reconhecendo que o senso comum é um saber qualitativamente diferenciado do saber científico e acadêmico, devemos nos colocar, contudo, na disposição de reconhecer os méritos que necessitam ser atribuídos ao senso comum, que muito tem acrescentado à construção de novos saberes para a vida humana em sociedade. Portanto, não se trata de negar no cotidiano o bom senso, o conhecimento popular, pois dele depende a vida de milhões de pessoas sobre a Terra, desde aqueles que não tiveram e continuam não tendo acesso à escola de qualidade e à convivência social mínima, até aqueles que se julgam “portadores de verdades absolutas”. Logo, não precisamos desconsiderar o conhecimento popular ou o definirmos como menos importante. Há alguns casos em que tais saberes são transformados também em conhecimento científico mediante pesquisas em laboratório e confirmado pela ciência, muito depois de já conhecidos pelo saber popular. Quantas vezes nos disseram que deveríamos tomar um chá de certa planta que faria bem para um determinado problema? Isso é conhecimento cumulativo, passado por várias gerações pela experiência, pela vivência empírica. A empiria – experiência obtida pela vivência prática do cotidiano – ajuda-nos a ter exemplos que, embora não sejam conduzidos pelo pensamento e normas científicas, podem conduzir-nos à razão, ao bom senso, à verdade. 10 11 Conhecimento Científico O conhecimento científico, por outro lado, é mais cheio de formalidades, normas, regras, procedimentos e maneiras de explicar as coisas, os objetos, os fatos, os fenômenos buscando a verdade científica, mediante provas, teorias e hipóteses. Trata-se de um produto da atividade humana que, ao refletir, questionar, pensar sobre a existência das coisas, elaborou formas de explicação que foram sendo incor- poradas por parte da sociedade, sobretudo mediante o processo de educação formal a que tinham acesso principalmente nobres e burgueses num primeiro momento. Com o advento da Ciência Moderna, principalmente a partir dos séculos XVIII- XIX, houve avanços significativos no conhecimento científico, impulsionados pelos processos de colonização e neocolonialismo que os europeus empreenderem pelo mundo, que trouxe à tona lugares, culturas, natureza com características bastante diferentes dos conhecidos até então pelos povos europeus. Esse conhecimento empírico abriu possibilidades de se buscar explicações para tais diferenças na natureza e no mundo. Tal período moderno, situado após a Idade Média na Europa, fez com que tais explicações saíssem do senso comum e do cunho das explicações religiosas que permearam a Europa Ocidental na Idade Média – com a ascensão e consolidação do cristianismo católico romano. Figura 2 Fonte: iStock/Getty Images Se antes, em grande medida, um Deus único era o responsável pelo o que ocorria no mundo e na natureza, agora, havia a busca por outras explicações para compreender tudo o que acontecia. O que diferencia essa forma de conhecimento era o método – o caminho escolhido para explicar a “verdade”. Sobre a concepção de mundo, por exemplo, os procedimentos metodológicos precisariam ser perseguidos, com regras de conduta para que o investigador, o pesquisador, o cientista pudesse comprovar a veracidade de suas afirmações. 11 UNIDADE Introdução à Sociologia e às Ciências Humanas Esses procedimentos iriam variar conforme o objeto de análise da ciência, conforme as transformações tecnológicas, conforme os métodos existentes. Logo, o conhecimento científico também é mutável, ou seja, foi mudando conforme as sociedades foram se sofisticando, bem como as próprias técnicas e tecnologias puderam ajudar no aprimoramento do conhecimento de certas áreas do conhecimento. O que seria, por exemplo, da Astronomia e da Física sem o incremento das novas tecnologias? Ou mesmo da engenharia genética? Mas se a Ciência Moderna se difundiu da Europa para o mundo tornando-se universal, é fato que até hoje nem todos têm acesso ou explicam a realidade dos homens, da natureza e dos fatos somente pelo viés científico. A busca pela prova, mediante um método, com um conjunto de pressupostos, de criação de leis gerais, de hipóteses que precisam ser comprovadas, está no cerne do conhecimento científico. A coleta de dados, a investigação por meio da observação, da descrição dos fatos e da experiência foram muito comuns nos séculos XVIII e XIX e ajudaram a consolidar o discurso científico. É preciso considerar a importância do conhecimento científico teve e tem para a humanidade, mas fazendo ressalvas, pois nem sempre os propósitos da investigação foram usados para beneficiar a humanidade em geral. Desse modo, o conhecimento científico não é melhor do que as outras formas de produção de conhecimento. O método é imprescindível para a ciência. Trata-se da concepção teórica, da visão de mundo que conduz o pensamento do pesquisador. A partir dele buscam-se procedimentos metodológicos compatíveis com o método- caso da experiência, da entrevista, da observação, do raciocínio lógico, da comparação, entre outros procedimentos. Contudo, existem outras formas de definir o conhecimento científico. A Ciência moderna, que foi difundida pela Europa para praticamente todo o mundo, tornou- se uma Ciência universal. Tal Ciência é formal e esse formalismo é, portanto, exigido dentro do conhecimento científico por meio da elaboração de regras, métodos, procedimentos, hipóteses e teorias. Cada Ciência possui uma forma de compreender a realidade, cada Ciência tem um objeto de estudo, ou seja, é a forma daquela Ciência buscar compreender a realidade. Mas nunca se deve confundir a própria realidade com o modo de tentar entendê-la. O ser humano, por exemplo, é alvo de interesse de inúmeras ciências, caso da Antropologia Cultural, da Sociologia, da Psicologia, da Ecologia, da Geografia, mas todas estas têm objetos de estudos diferentes e podem também ter diferentes métodos e procedimentos de pesquisa. 12 13 A Formação das Ciências Humanas e Sociais As chamadas Ciências Humanas e Sociais têm como premissa básica o estudo do ser humano. Existem diferentes Ciências Humanas, entre elas, citamos: · Sociologia – como o estudo da sociedade, considerando as relações sociais ao longo do tempo, as normas sociais, as classes sociais, as formas de organizações sociais, os conflitos sociais, as formas nas quais a sociedade influencia o comportamento das pessoas, entre outras temáticas; · Antropologia Cultural – estuda o homem enquanto ser cultural, em seus hábitos, costumes, crenças e modos de vida; · Ciência Política – estuda as formas de poder ao longo da história, o papel do Estado, as formas de organização política, as formas de governo, a autoridade, as relações internacionais; · Geografia – estuda o espaço geográfico, o homem no espaço em suas múltiplas relações; · Economia – estuda as atividades produzidas pelo homem, relativas à produ- ção e distribuição de bens e serviços. Tem como pesquisas estudos sobre ren- da, políticas econômicas, planos econômicos, micro e macroeconomia etc. A Sociologia é uma ciência que estuda a sociedade, as estruturas e processos sociais, políticos, econômicos e culturais da sociedade. É uma ciência que se originou principalmente nos séculos XVIII-XIX, quando na Europa a ascensão do Estado Moderno e a sociedade foram se tornando mais complexas. Já no período após a Idade Média europeia (século XV), denominado pelos pesquisadores de Renascimento, houve uma busca de romper com a ordem teológica do cristianismo católico na Europa Ocidental. A visão de que o homem deveria ser o centro do mundo (antropocentrismo), a fé no indivíduo, na experiência empírica para provar os fatos deu origem a um movimento que ficou conhecido como Humanismo. Podemos dizer que as origens das preocupações com a sociedade moderna estão baseadas principalmentenesta concepção de mundo que permeou parte das obras e do pensamento intelectual da época do séculos XVI-XVII. As tentativas de explicações das relações sociais vigentes no período pós Idade Média, e também da explicação da existência humana por meio da razão, procurando se distanciar dos dogmas e das explicações religiosas deu a este período da história europeia um novo momento, denominado pelos historiadores de Iluminismo. A fé pautada na razão, buscando lançar “luzes” ao que antes pareceria encoberto por explicações religiosas ou do senso comum. A ciência moderna torna-se universal, a partir do modelo europeu de expansão mediante os processos de colonialismo (séculos XVI-XVIII) e imperialismo (principalmente após o século XIX), assim como o próprio conhecimento da Sociologia e sua sistematização como ciência é difundido a partir da Europa. 13 UNIDADE Introdução à Sociologia e às Ciências Humanas Sob a égide da fé na ciência e na razão e que o progresso dependeria do conhecimento científico, sobretudo, a partir do século XVIII, a ciência europeia difunde-se pelo mundo. O conjunto de ideais fundamentados num novo modo de compreender o mundo, principalmente a partir das existências vividas pelos europeus, tanto das relações sociais e políticas quanto pelo conhecimento da natureza, é fundado no que alguns autores denominam de Iluminismo. O período denominado por historiadores de Iluminismo foi um dos que ampliaram o rompimento do conhecimento com a concepção teológica, das concepções sobrenaturais, com críticas ao poder da igreja e também aos reis absolutistas. Com um discurso que via na ciência a possibilidade de conhecer o mundo, explicá-lo mediante o uso de regras, de um método, que segue uma lógica que pode ser explicada com certo grau de precisão. O Iluminismo foi um movimento intelectual do século XVIII que procurou romper com as concepções e visões do mundo da época, impulsionando o avanço do conhecimento científico na leitura do mundo e das relações humanas e sociais. Figura 3 - Encyclopédie (1772), desenho de Charles-Nicolas Cochin que representa alguns símbolos do Iluminismo Fonte: Wikimedia/commons Tal movimento fundado na concepção de modernidade tem alguns expoentes e entre eles destacamos: René Descartes, com sua obra “Discurso do método” de 1637; Montesquieu com o “Espírito das leis” em 1748; Jean Jacques Rousseau com “Do contrato social” em 1762; Voltaire com “Cartas inglesas” em 1734. 14 15 Alguns pensadores da época passaram a escrever obras que retratavam esta nova concepção do mundo, visto a partir da opinião destes intelectuais europeus. Citamos, por exemplo, o francês Voltaire (1694-1778), considerado um importante Iluminista. Em suas obras, fez críticas às formas de conduta da nobreza e também da Igreja Católica, pedindo reformas sociais. Outro pensador desse período foi Jean Jacques Rousseau (1712-1778), em sua obra “Contrato Social”, faz uma proposta de revisão das formas de existência da sociedade em suas formas de vida e política, defendendo a liberdade do homem na busca de uma sociedade que pudesse se basear nas formas antigas de democracia, de consenso e de cidadania. Como explica o sociólogo, Reinaldo Dias: Um dos mais destacados iluministas foi Jean-Jacques Rousseau (1712- 1778) que tem entre suas obras O contrato social. Nesse livro, Rousseau concebe as pessoas no estado de natureza como seres livres bons, e iguais entre si, e que são as sociedades que as corrompem. Mas, como no estado de natureza existem dificuldades para satisfazer todas as necessidades, os indivíduos precisam associar a sua vontade a serviço de todos. Segundo ele, essa é uma vontade geral, e a obedecê-la o indivíduo obedece a si mesmo. O resultado institucional desse contrato é o estado democrático de direito representativo onde o parlamento é um instrumento fundamental da vontade geral que se expressa por meio da lei. (DIAS, 2014, p. 20) Tais autores foram precursores na Europa Moderna (do Estado absolutista – da burguesia nascente – do capitalismo) de estudos da organização da vida em sociedade, o que ajudou nas formulações do que viria a ser a Sociologia. Importante caracterizar o período entre os séculos XVIII-XIX na Europa. Vivia-se um mundo de Revolução Industrial em parte da Europa, com muitas pessoas sendo expropriadas do campo (com uso da mecanização nas atividades rurais) e vindo morar na cidade para trabalhar em fábricas, morando quase sempre em cortiços. Figura 4 Fonte: Wikimedia/commons 15 UNIDADE Introdução à Sociologia e às Ciências Humanas Além da Revolução Industrial, houve também a Revolução Francesa (1789), que depôs do poder a nobreza francesa, sendo considerada uma revolução burguesa. A Revolução Francesa transformou a sociedade e serviu de exemplo para outros países, nos quais a monarquia era a principal forma de organização político-social. Desse modo, os parâmetros de organização social e política no mundo ocidental pautaram-se em parte pela Revolução Francesa. A consolidação da burguesia, do ideário capitalista, do individualismo, torna-se exemplos para o mundo. Figura 5 Fonte: Wikimedia/commons A modernidade vem com a mudança do paradigma cristão católico – com as explicações religiosas para um mundo que, embora continue religioso pauta a vida também pelo ganhar dinheiro, – pela luta pela sobrevivência nos moldes capitalistas. Como comenta o sociólogo sobre a modernidade: A Revolução Francesa representou a consolidação da Modernidade como perspectiva histórica identificada com a industrialização. As características desse novo período, ao qual se denominou Modernidade incluem: o declínio das pequenas Comunidades; a expansão do individualismo; o aumento da diversidade social; o predomínio de uma orientação para o futuro (progresso); e o aumento da racionalização. Essa evolução do pensamento humano, que levou à utilização da razão para o livre exame da realidade, inclusive a social, juntamente com os problemas originados pela Revolução Industrial foram as duas principais circunstâncias que possibilitaram o surgimento da sociologia. Sua preocupação Inicial foi organizada a sociedade. (DIAS, 2014, p. 21) Tais transformações sociais, políticas e econômicas engendraram mudanças na sociedade de países como Inglaterra e França, entre outros, trazendo à tona a questão da sociedade como foco das discussões da época. 16 17 O próprio capitalismo como processo gerou mudanças nas formas de trabalho, nas formas de apropriação da terra, nas relações sociais, culminando na segunda metade do século XIX e início do século XX, com protestos de trabalhadores que tinham condições de vida e moradia insalubres e de trabalho bastante precário transformaram a sociedade. Os trabalhadores, por exemplo, que antes trabalhavam como artesãos, e eram donos dos meios de produção, agora passavam também a ser assalariados, trabalhando com máquinas e vendendo sua força de trabalho em fábricas. Outro aspecto a ser destacado foram as mudanças técnicas no período que ajudaram nessas transformações sociais – caso do advento da máquina a vapor, da ferrovia, dos telégrafos, da energia elétrica, das máquinas que transformaram as maneiras de produzir. Assim, o trabalho passou a ter um ritmo de trabalho que é mediado pelo tempo, pela quantidade produzida, pelos usos de tecnologias e de sistemas técnicos. De pessoas que viviam principalmente no campo, passou-se a ter cidades apinhadas de pobres operários em alguns lugares na Europa, num modo de vida totalmente transformado em relação ao anterior. De camponeses a operários, da agricultura à indústria, do modo de vida no campo à cidade. Logo, todas essas situações tornaram-se temas interessantes para estudos da Sociologia. A Sociologia tornou-se a ciência que estuda a sociedade e de como os grupos sociais e a sociedade afetam a vida das pessoas, tendo como foco as relações sociais. De um lado, os homens vivendo criam, elaborame mantêm relações sociais, de outro, estas relações agem sobre as pessoas. Por exemplo, uma dada sociedade cria normas sociais de comportamentos – do que é o certo a ser feito em certas situações – normas de conduta sobre a vida cotidiana –, algumas se tornam leis, de outro lado, estas mesmas leis moldam a vida daquela sociedade. O homem passa a ser objeto de estudo e também sujeito da história e da sociedade que é produzida. A Sociologia é considerada uma ciência sistematizada, sobretudo, nos séculos XVIII-XIX, passou a ter vários pensadores e tornou-se ciência estudada no Ensino Superior. Os termos e conceitos oriundos da Sociologia passaram a ser usados indistintamente, tanto pelos cientistas sociais quanto também por parte da população em geral, no caso de termos como: classes sociais, redes sociais, sociedade, ideologia, burguesia, entre tantos outros. Desse modo, a Sociologia vem contribuindo para a compreensão dos fenômenos sociais, as formas de relações sociais existentes, tornando-se uma ciência social e humana importante. 17 UNIDADE Introdução à Sociologia e às Ciências Humanas Os Meios de Produção e as Transformações Sociais A sociedade, ao longo da história, passou por inúmeras mudanças nas formas de produzir, distribuir e consumir bens e serviços. As chamadas formas de produzir e suas forças produtivas mais as relações existentes nesta produção são chamadas de “modos de produção”. A cada momento da história e em diferentes lugares do mundo, houve diferentes modos de produção que alteraram o modo de vida em sociedade. Pelo modo de produção e de seu sistema econômico, podemos evidenciar as características de uma determinada sociedade. Ou seja, não importa somente o que se produz, mas o modo como se produz, as formas de trabalho social, as condições e relações sociais existentes. O modo de produção não é alheio à sociedade de cada época, às formas de se estruturar jurídico-politicamente, dos códigos sociais. Por exemplo, no modo de produção escravista – havia uma repressão e discurso que aceitava a escravidão como algo aparentemente “normal”, apoiado pelo regime social e político e até mesmo religioso em alguns casos. Esta estrutura social e política legitimaram o próprio modo de produção. Marx e Engels são um dos autores que definiram o conceito de modos de produção. Sobre isso, Marx afirma: [...] na produção social da sua vida os homens contraem determinadas relações necessárias e independentes da sua vontade, relações de produção que correspondem a uma determinada fase de desenvolvimento das suas forças produtivas materiais. [...] O modo de produção da vida material condiciona o processo da vida social, política e espiritual em geral [...] Ao mudar a base econômica, revoluciona-se, mais ou menos rapidamente toda a imensa superestrutura erigida sobre ela. (MARX, 2008, p. 201) Logo, a cada mudança de um modo de produção, alteram-se as formas de vida, de trabalho, de produção, ou seja, mudam a sociedade e suas relações. Os pesquisadores sobre o tema definem alguns tipos de modos de produção que existiram ou existem e que trouxeram características específicas às formas de vida em sociedade. Destacamos, a seguir, alguns modos de produção: · Primitivo: tem relação com uma forma de produzir e de uma sociedade que abrange todo o período inicial da história humana no qual o homem tinha maior relação com a natureza. Neste caso, havia uma divisão social de trabalho, mas, em geral, homens e mulheres trabalhavam em conjunto e os frutos do trabalho e a propriedade eram de todos e, portanto, não havia uma organização social mais complexa como Estado. Ainda existem sociedades assim, vivendo de modo isolado e com maior contato com a 18 19 natureza, caso de algumas sociedades indígenas que ainda foram pouco alteradas pelo modo de produção atual. · Escravista: os meios de produção e a forma de trabalho são realizados pelo escravo, sendo que ele é propriedade de um senhor. O escravo, portanto, era considerado um objeto, o instrumento e o próprio meio de produção e os “senhores” eram proprietários de sua força de trabalho. Tal modo de produção ocorreu, por exemplo, na Idade Antiga (Egito, Grécia, Roma etc.) e também em países colonizados pelos europeus, na América, a partir do século XVI principalmente. · Feudal: é baseado na servidão. O servo trabalha para o senhor feudal em troca de um lugar para morar. O poder político era descentralizado em “feudos”, foi muito comum, durante o período da Idade Média, na Europa Ocidental. · Capitalista: trata-se de um modo de produção que se tornou universal, sobretudo após o século XIX, no qual há a exploração do homem pelo homem, constituindo duas classes sociais, a burguesia, que detém os meios de produção, e os proletários, que são a força de trabalho explorada. O modo capitalista de produção revolucionou as formas de acesso a terra, que passou a ser privada, as formas de trabalho (assalariado) e as formas de produção passaram a ter uma mediação cada vez maior das técnicas e tecnologias, formando os sistemas técnicos. Logo a sociedade passaria por inúmeras mudanças a partir do capitalismo – que chegou mais claramente primeiro às cidades, com a industrialização, e depois se tornou o m odo de produção universal no campo e na cidade. Figura 6 Fonte: iStock/Getty Images Esse é um trabalho que vai se tornando mais alienado, com normas mais distantes da vida local, cada vez mais artificial. Se, no modo de produção primitivo, as pessoas, por exemplo, sabiam o que produziam, tinham conhecimento sobre todas as partes de seu trabalho, atualmente, cada um faz uma parte do trabalho e é, inclusive, complicado definirmos nosso papel na divisão social do trabalho. 19 UNIDADE Introdução à Sociologia e às Ciências Humanas É uma sociedade que concentra terras, capital, diversificadas formas de dinheiro e na qual os que são explorados não conseguem acesso a terra e nem aos meios de produção para sobreviver. Como comenta Leonardo Boff: [...] o núcleo desta sociedade não está construído sobre a vida, o bem comum, a participação e a solidariedade entre os humanos. O seu eixo estruturador está na economia de corte capitalista. Ela é um conjunto de poderes e instrumentos de criação de riqueza - e aqui vem a sua característica básica – mediante a depredação da natureza e a exploração dos seres humanos. A economia é a economia do crescimento ilimitado, no tempo mais rápido possível, com o mínimo de investimento e a máxima rentabilidade. Quem conseguir se manter nessa dinâmica e obedecer a essa lógica acumulará e será rico, mesmo à custa de um permanente processo de exploração. (BOFF, 1999, p. 42) Desse modo, os diferentes modos de produção alteraram os modos de vida da sociedade ao longo da história e em diferentes lugares. Não podemos dizer que todos os lugares do mundo passaram pelas mesmas situações e modo de produção, nem tampouco que cada modo de produção sucedeu ao outro de forma progressiva e linear. Há, também, formas híbridas de viver, e nem todos que vivem atualmente par- tilham o mesmo modo de vida. Podemos dizer sim que existem universalidades, formas de vida e sociedades que são hegemônicas, mas nem todas são completa- mente iguais. Sempre há diferentes temporalidades – formas e tempos de vida que são específicos, mesmo num mundo cada vez mais global. Então, cabe à Sociologia desvendar esses processos e relações sociais, evidencia- dos nas formas de trabalho, na urbanização, no processo de globalização, nas for- mas de organização social e política. Tudo isso é mote para estudos da Sociologia. 20 21 Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Livros O que é Sociologia MARTINS, C. B. O que é Sociologia. São Paulo: Brasiliense, 2000. Filmes O nome da Rosa O nome da Rosa (1980, EUA, direção: Jean Jacques Annaud) Leitura Introdução à Sociologia VIANA, N. Uma Introdução à Sociologiaem Grande Estilo. Belo Horizonte: Autên- tica, 2006. Resenha disponível em: https://goo.gl/Y3Tm52 Novas perspectivas para as Ciências Sociais no Brasil PINTO FERREIRA, S. J. (Organizador). Novas perspectivas para as Ciências Sociais no Brasil. https://goo.gl/riuMwC 21 UNIDADE Introdução à Sociologia e às Ciências Humanas Referências BOFF, L. Ética da Vida. Brasília: Letraviva, 1999. DIAS, R. Sociologia clássica. São Paulo: Biblioteca Pearson, 2014. (e-book). LAKATOS, E. M; MARCONI, M. A. Metodologia científica. São Paulo: Atlas, 1982. P. 27. MARX, K. Contribuição à crítica da economia política. Trad. Florestan Fernandes. São Paulo: Expressão Popular, 2008. PAIXÃO, A. I. da. Sociologia geral. Curitiba: InterSaberes, 2012. (e-book). 22
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