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APOSTILA PERSONALIDADE E CAPACIDADE

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Direito Civil – Aula 04 
Código Civil 1916 – Código de Beviláqua – preocupado com o patrimônio. Havia a dicotomia entre direito público e direito privado. 
Alemanha – década de 40/50 – Caso Luth – em que Luth ingressou com ação pedindo indenização pelos danos causados por outro cineasta devido à manifestação de pensamento a respeito de sua pessoa. Ao ser condenado, o réu ingressou com Reclamação na Suprema Corte Alemã alegando que os direitos fundamentais deveriam ser observados em todas as relações jurídicas, tanto públicas quanto privadas. Foi o chamado efeito irradiante dos Direitos Fundamentais nas relações privadas. 
Desse julgamento surgiram várias teorias, momento em que começou a aproximação do direito público com o direito privado. 
No Brasil, precisou-se de uma Humanização do Direito Civil = consciência das transformações + releituras dos institutos + compromisso ético = sociedade mais justa e digna. Momento em que os fundamentos e princípios básicos saem do papel e são incorporados ao direito privado. 
PRINCÍPIOS NORTEADORES DO CÓDIGO CIVIL 
CF/88 – releitura dos institutos civilistas a luz dos direitos fundamentais. 
RE 201.819/RJ – aplicação dos direitos fundamentais nas relações privadas. Caso da UBC, em que expulsaram um associado da Associação por meio de uma Assembleia Geral. O associado expulso ingressou com a ação alegando que não poderia ser feito sem que lhe fosse dado o direito de manifestação e defesa. A tese foi de que os direitos fundamentais também teriam uma aplicação horizontal, entre particulares, e não apenas vertical. 
O STF entendeu que não se pode expulsar membro sem que lhe seja assegurado o contraditório e a ampla defesa. Aplicação horizontal dos direitos fundamentais. 
O Código Civil de 2002 se preocupa com a dignidade da pessoa humana + solidariedade social + igualdade substancial. São os três pilares para se interpretar e solucionar os chamados hard cases. 
O CPC/15 também está voltado, preocupado com a dignidade da pessoa humana e com os direitos fundamentais. 
- Princípio da Socialidade: valores coletivos; rompimento com o individualismo do Código de 1916. Prevalência da função social em institutos privados. 
- Princípio da Eticidade: justiça e boa fé – valorização da ética e da boa fé objetiva – condutas violadoras constituem abuso de direito. 
Boa fé subjetiva é a proveniente dos ensinamentos, consciência pessoal de cada um; regras de vida. 
Boa fé objetiva é o experimentado pelo comportamento padrão ético exigido. Não é um princípio exclusivo dos contratos, mas de todo o Código Civil. 
- Princípio da Operabilidade ou Concretude: direito de ser executado facilmente; também chamado de princípio da simplicidade ou efetividade. Sistema de cláusulas gerais e conceitos abertos (Ex.: função social e boa fé). 
O texto legal deve ser efetivado, operacionalizado, logo não pode ser feito para dificultar a sua aplicação. 
PESSOA NATURAL 
Sujeito de direito (gênero) e pode ser: 
- com personalidade jurídica (pessoa natural e pessoa jurídica); 
- sem personalidade jurídica (nascituro, condomínio, massa falida, sociedade irregular). 
Princípio da Legalidade, no Direito Civil, para os sujeitos de direito com personalidade jurídica é a ideia de que eles podem tudo o que o direito não proibir. 
Em contra partida, em relação aos sujeitos que não possuem personalidade jurídica, este apenas podem atuar quando a lei permitir. É a mesma ideia do direito administrativo. 
-PERSONALIDADE – aptidão genérica para se titularizar direitos e obrigações (deveres). 
Art. 2o A personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida; mas a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro. 
Início da personalidade jurídica -> nascimento com vida (basta a respiração). 
No Brasil, não se exige forma humana (aceita deformidades físicas), viabilidade (aceita deficiência nos órgãos internos. Ex.: anencéfalos), nem sobrevida (não se exige qualquer lapso temporal para se adquirir a personalidade, basta a respiração). 
Natimorto: quando sai do útero materno já sem vida; não é considerado óbito. Possui certidão específica e tem acento no livro auxiliar ‘c’ no registro de cartório civil. 
Tanto essa certidão, quanto a de óbito e a de nascimento da pessoa natural possuem natureza declaratória com efeitos ex tunc. 
-> Se o nascituro tem direitos, não seria ele uma pessoa, não teria personalidade jurídica? Teorias: 
- NATALISTA: adquire personalidade jurídica se houver o nascimento com vida (funcionamento do aparelho cardiorrespiratório). 
Considera o nascituro uma coisa. 
- PERSONALIDADE CONDICIONAL: a depender da situação, o nascituro pode ser considerado pessoa ou não. 
- CONCEPCIONISTA: Pablo Stolze. Nascituro é considerado pessoa humana desde a concepção. 
- Qual é a teoria adotada pelo CC/02? Pela letra da lei, o CC/02 adota a teoria natalista. 
Ressalta-se que o ordenamento jurídico como um todo (outras leis, jurisprudência e doutrina) está caminhando para a teoria concepcionista, reconhecendo cada vez mais direitos ao nascituro. 
Para a personalidade adota-se a teoria natalista, mas para os direitos de personalidade adota-se a teoria concepcionista. 
Nascituro é titular de direitos da personalidade (direitos inerentes à condição humana). 
STJ – possibilidade de dano moral ao nascituro (REsp 299.028/SP) (REsp 1.487.089 – caso Rafinha Bastos). 
Nascituro tem direito de receber alimentos gravídicos – Lei 11.804/08. Há divergências quanto à legitimidade ativa. 
Informativo 547 STJ – direito de pagamento do seguro DPA pela morte de nascituro. 
- Nascituro pode ser beneficiado por herança e legado. 
- Pode ser nomeado curador para defesa dos seus interesses. 
- CP tipifica o crime de aborto. 
- Desnecessidade de intervenção do MP como curador ao nascituro no ato em que os nubentes definem o regime de bens do casamento (REsp 178.254). 
CAPACIDADE 
- Capacidade de direito (de gozo): aptidão genérica para se titularizar direitos e deveres. 
- Capacidade de fato (de exercício): aptidão para exercer esses direitos sozinho (maioridade). 
Capacidade civil plena = capacidade de direito + capacidade de exercício. 
Capacidade de direito e personalidade jurídica são conceitos semelhantes. 
- Capacidade X Legitimidade: legitimidade é capacidade específica para atos específicos. Já a capacidade é a genérica. 
A incapacidade ocorre quando não há capacidade de fato, a de direito sempre se terá. 
O ponto de referência é a autonomia da vontade. 
- NOVO SISTEMA DE INCAPACIDADES – Estatuto da Pessoa com Deficiência (Lei 13.146/15). Valorização da dignidade- liberdade em detrimento da dignidade- vulnerabilidade. 
Art.3º - menores impúberes = absolutamente incapazes. 
Art. 3o São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil os menores de 16 (dezesseis) anos. 
Art. 4o São incapazes, relativamente a certos atos ou à maneira de os exercer: 
I - os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos; 
II - os ébrios habituais e os viciados em tóxico; 
III - aqueles que, por causa transitória ou permanente, não puderem exprimir sua vontade; 
IV - os pródigos. 
- Pessoas incapazes podem praticar atos da vida civil, mas como não tem capacidade de fato devem praticar mediante auxílio do representante legal. 
Representante legal é gênero e pode ser feita por meio da assistência (relativamente incapazes - curador) e da representação (absolutamente incapazes - tutor). 
- Se o absolutamente incapaz pratica ato sem o representante, este ato é considerado nulo (art.166, I CC). Se o relativamente incapaz pratica ato sem o representante, o ato é anulável (art.171,I CC). 
- Atos que o menor de 16 a 18 anos (púberes) podem praticar sem o representante e ser considerados válidos: fazer testamento, aceitar mandato (art.666 CC) e ser testemunha. 
Enunciado 138 da JDC - A vontade dos absolutamente incapazes, na hipótese do inc. I do art. 3º é juridicamente relevante na concretização de situações existenciais a eles concernentes, desde que demonstrem discernimento bastantepara tanto. 
Confeccionado antes do Estatuto da Pessoa com Deficiência. Continua valendo. 
- Índios – Lei 6.001/73, art.8º - atos civis praticados pelos índios não inseridos em sociedade serão considerados nulos. 
- Surdo-mudo é capaz, desde que demonstre ter discernimento. Surdo mudo, pó si só não é considerado incapaz. 
- Ausente: quem some sem deixar vestígios, tem não presença e não notícia. Tem capacidade. 
- Benefício do restitutio in integrum- benefício de restituição integral; não está previsto no CC/02. Instituto que possibilita a restituição ou anulação pelo menor após a celebração de negócio jurídico, mesmo com atuação do representante ou assistente. 
- Embrião excedentário: embriões que sobraram da fertilização in vitro. Não são considerados nascituros. Para os concepcionistas esses embriões são considerados pessoas. 
Lei de Biossegurança – possibilidade de tratamento com células troncas obtidas a partir de embriões excedentários, desde que não tenham utilidade para inseminação ou que estejam congelados há 03 anos ou mais. 
ADI 3510 – constitucionalidade do art.5º da Lei de Biossegurança, possibilidade de tratamento com células tronco. 
Embrião excedentário possui direitos? Para os civilistas sim, o direito a presunção de paternidade e direitos sucessórios, condicionados a introdução do embrião no ventre materno. 
- Marco civil da primeira infância – Lei 13.257/16: 
Art. 2o Para os efeitos desta Lei, considera-se primeira infância o período que abrange os primeiros 6 (seis) anos completos ou 72 (setenta e dois) meses de vida da criança. 
Súmula 342 STF - Cabe agravo no auto do processo, e não agravo de petição, do despacho que não admite a reconvenção. 
- Mútuo feito a menor não pode ser reavido (art.588 CC), salvo art.589 CC. 
- Pode o menor ou interdito cobrar dívida de jogo paga voluntariamente (art.814 CC). 
- Não é possível partilha amigável se houver incapaz. 
- Perde a proteção o menor púbere que ocultar dolosamente a idade ao obrigar-se (art.180 CC). 
- Os incapazes podem ser responsabilizados subsidiariamente pelos atos lesivos praticados a terceiros (art.928 CC). 
- Aos incapazes serão nomeados curadores especiais para atuação em juízo (art.72 CPC). Exercida pela Defensoria Pública, para questões processuais. 
Súmula 358 STJ – não há exoneração automática da obrigação de alimentos. 
Súmula 358 STJ - O cancelamento de pensão alimentícia de filho que atingiu a maioridade está sujeito à decisão judicial, mediante contraditório, ainda que nos próprios autos. 
- O novo CC ao reduzir a idade da capacidade civil, não revoou o artigo 121, parágrafo único, do ECA, que fixa a idade de 21 anos para a liberação compulsória do infrator (HC 28.332/RJ). 
Enunciado 3 da I JDC – a redução do limite etário para a definição da capacidade civil aos 18 anos não altera o disposto no art.16,I da Lei nº 8.213/91, que regula específica situação de dependência econômica para fins previdenciários e outras situações similares de proteção, previstas em legislação especial. 
-> Emancipação: antecipação da capacidade de fato (art.5º CC). 
- Emancipação voluntária: concedida pelos pais, ao menor com 16 anos, em caráter irrevogável. Direto no cartório por escritura pública. É discricionariedade dos genitores, o menos não pode exigir a emancipação. Não desobriga os genitores a prestação alimentar. A responsabilidade civil dos genitores passa a ser solidária. 
Embora seja irrevogável, é possível a anulação por existência de vício. 
- Emancipação judicial: é a concedida pelo juiz, quando o menor tiver 16 anos e for tutelado. O tutor não pode emancipar voluntariamente. Deve ser ouvido o MP e o tutor. 
- Emancipação legal: acontece automaticamente pelos casos previstos em lei: casamento, emprego público efetivo, colação de grau em curso superior e por estabelecimento civil ou comercial ou pela relação de emprego, desde que o menor tenha economia própria (cláusula geral a ser interpretada no caso concreto). 
Nem todos os casos de emancipação legal exigem a idade de 16 anos (casamento, emprego público efetivo, colação de grau em curso superior). 
- O único caso que depende de manifestação do juiz é a emancipação judicial. 
- O divórcio não apaga o resquício do casamento, não exclui a emancipação. Entretanto, se o casamento for considerado nulo/ inválido, o menor de 18 anos volta a ser considerado incapaz. 
- Atenção ao casamento putativo, em que o casamento é contraído mesmo havendo algum vício ou sendo considerado inválido, nulo ou anulável. Neste caso, o casamento produz efeitos em relação aos que estavam de boa fé, bem como fica resguardado os direitos de terceiros de boa fé. 
Atenção à emancipação por estabelecimento civil ou comercial ou pela relação de emprego com economia própria, ela é automática, mas poderá ser requerida ao magistrado a declaração de que este fato existe para meros fins de prova. 
CESPE - O ato de emancipação pelos pais não é revogável, embora possa ser anulável

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