Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO DE QUÍMICA MESTRADO EM ENSINO DE QUÍMICA DISCIPLINA :FILOSOFIA E SOCIOLOGIA DA QUÍMICA Professora: Rodrigo Volcan FILME ENTRE OS MUROS DA ESCOLA Nome: Bruna Brígido da Motta Data: 14/07/2019 2 1. IDENTIFICAÇÃO DA OBRA Einstein e Eddington. Direção de Philip Martin. Roteiro de Peter Moffat. Company Pictures, 2008. Principais Autores: Andy Serkis ( Albert Einstein), David Tennant (Arthur Eddington). 2. REFLEXÃO DO FILME O filme acontece entre os anos 1914 a 1919, narrado nas cidades de Londres, no Reino Unido e Berlin, na Alemanha durante o período da primeira guerra mundial. A história mostra a relação entre dois cientistas de países oponentes durante o período de guerra, que se juntam para provar a O filme retrata a vida adulta de Einstein, mostrando suas relações familiares, sua rotina e seu local de trabalho. Einstein estava no começo do filme “desacreditado”, pois até o momento não fora provado sua tese sobre a Teoria Geral da Relatividade. Em meio a uma guerra a corrida pela inovação cientifica era notória. Em Berlin a preocupação com a produção de nitrogênio como fertilizante e o desenvolvimento de armas químicas, gases tóxicos, se tornaram foco de estudo dos grandes cientistas do pais. Einstein nesse período se encontra na Suiça, onde reside com sua esposa e filhos e recebe um convite de Marx Planck para ir se juntar a Academia Prussiana de ciências em Berlin. O convite é aceito visando retomar e direcionar os seus estudos sobre a teoria geral da relatividade. Em Londres, os homens foram convocados para a grande guerra, Arthur Eddington é um astrônomo de sucesso e não se junta ao exército inglês devido as suas convicções religiosas. Após sua recusa em lutar, Eddington recebe uma tarefa de seu superior, estudar e descobrir quem é Albert Einstein, cientista que tenta provar que as leis da gravidade de Newton estavam equivocadas. Uma cena marcante do filme, é quando Eddington vai a 3 biblioteca e pede tudo que existe sobre Albert Einstein e para sua surpresa existe apenas um único trabalho. Ao mesmo tempo Albert Einstein chega a Academia Prussiana e se depara com um cenário extremamente diferente. A guerra dominou o cenário cientifico. O nacionalismo se tornara mais forte que a ciência universalista. Os cientistas passavam a colocar suas ideologias políticas, seus valores nacionais a frente do desenvolvimento cientifico. Segundo Boaventura (1978), a política científica e tecnológica tem por finalidade o fomento da investigação. A sociologia crítica da ciência parte do princípio de que a ciência deve ser analisada no seu contexto sócio- económico-político levando em consideração o contexto dialético do imperialismo ou nacionalismo. A ciência sempre foi influenciada pelo imperialismo e pelo nacionalismo. O filme Einstein e Eddington é possível entender a relação de poder exercida pelo estado dentro da academia cientifica, uma cena que evidencia essa relação é a cena em Planck leva Einstein para um restaurante para encontrar o “responsável”, a pessoa que pagaria seu salário, pelo sua vinda a Berlin. A primeira pergunta que Einstein recebe é o que ele iria “produzir”. Nessa cena fica claro a influência da guerra na contratação de Einstein, em nenhum momento o homem do restaurante pensou em ciência e na teoria estudada por Einstein, sua contratação fora meramente um ato político, influenciada por Planck que afirmava que Einstein era um gênio. A ciência parece nada ter a ver nem com um nem com outro. O conhecimento científico é habitado pelo mais puro espírito universalista, a ruptura das barreiras nacionais é feita em nome de uma comunidade universal onde não há dominadores nem dominados (BOAVENTURA, 1978). A definição de Boaventura sobre ciência retrata uma ciência internacionalista, uma ciência sem fronteiras políticas, uma ciência inexistente. O autor acredita que a ciência nunca foi internacionalista, que a neutralidade da ciência e a ideia de ciência 4 para todos nunca existiu e ainda não existe. A ciência falseia a ideia de internacionalista, a prática cientifica, quer nível interno, que nível internacional é delimitada por ideologias que buscam na ciência a construção de um aparelho de legitimação das ordens internas e internacionais instituídas. (BOAVENTURA, 1978). No filme o pedido que foi feito a Eddington a respeito de Einstein nunca teve a intenção de revolucionar a ciência, mas o objetivo era provar que Einstein estava errado em suas análises, que a ciência Newtoniana era a correta. Fato importante é lembrar que Newton era Inglês, uma vez que Einstein provasse sua teoria, o “mérito” da ciência inglesa e o seu domínio na academia seriam descontruídas. Boaventura em seu texto afirma que após a primeira guerra mundial, e a ligação da ciência à máquina da guerra, tornou a química, a física cada vez mais íntima a preparação e produção de instrumentos militares, armas, explosivos cuja capacidade destrutiva era medida pela rentabilidade do investimento tecnológico aplicado. “ à prostituição da ciência para objetivos de guerra.” No filme é possível perceber o início dessa tendência cientifica nas cenas que grandes nomes da academia Prussiana utilizam vestimentas de militares mesmo não se encontrando na guerra. Nesse cenário Boaventura afirma que começaram a surgir questionamentos sobre as ciências e sua importância. A fé nas ciências passou a ser questionada uma vez que a ciência estava a serviço da morte e das guerras. Surgem regras e critérios para fazer ciência, o paradigma de Merton é o primeiro conjunto de valores e normas vinculado a ciência. A ciência deveria seguir quatro pilares, universalismo, comunismo, desinteresse e organização, a violação desses valores ou normas são punitivas com indagações morais. Einstein no filme chega a ser expulso da academia Prussiana de ciências por não colaborar com a guerra. Eddington entra em contato com 5 Einstein tentando entender a sua teoria e as deformações causadas pela orbita de Mercúrio e suas novas concepções sobre Sa ideia de espaço/tempo. Eddington, intrigado pelas concepções de Einstein promove um pesquisa de campo para conseguir suprir as dúvidas quanto a veracidade da teoria geral da gravidade. No filme é possível perceber que dentro da universidade em que Eddington trabalhava muitos cientistas eram contra o desenvolvimento do trabalho. O filme mostra Eddington fotografando com um telescópio o eclipse solar, buscando assim ver o movimento de estrelas a partir do deslocamento que a massa do sol aplica sobre elas. Suas fotografias provariam quem estava certo Einstein ou Newton. A cena em que Eddington revela a todos as fotos encontradas e explica o resultado mostra claramente a influência do nacionalismo na ciência. Seu superior teve o filho morto na guerra, este não aceitou que Eddington fosse trabalhar com Einstein provando que Newton estava errado. A ciência “trocaria” de lado. Newton gerava importância aos ingleses, Einstein colocaria a ciência Alemã a frente da ciência Inglesa. O filme foca em como as questões cientificas eram influenciadas. Negligenciavam qualquer mudança ao tradicional, o que importava era o nacionalismo gerado pelos tempos de guerra. Eddington prova a teoria de Einstein, mesmo com todas as problemáticas que poderiam surgir após sua pesquisa deixando claro que a ciência e o conhecimento estavam acima de rivalidades políticas e ideológicas. 3. ANÁLISE CRÍTICA. O Filme tem como foco a “exaltação” da ciência como ferramenta de poder e de segregação. Ao mostrar Einstein antes e depois da sua teoria ser provada, o filme deixa claro que não existiam espaços para mudanças em meio a um cenário de guerra. Segundo Boaventura a sociologia da ciências estuda arelação dos contextos sócio-econômicos-políticos nos avanços tecnológicos. A ciência não é algo linear e descontinuo do “mundo”, a ciência 6 evolui junto com a sociedade, mudanças no cenário político e econômico levam a mudanças no cenário cientifico. Boaventura afirma, que as ciências conseguiam seu “poder” máximo de desenvolvimento nas sociedades democráticas e liberais. Todas as guerras, o surgimento de problemas e doenças geraram desenvolvimento acelerado nas ciências, portanto não existe ciência sem um contexto sociológico a ser refletido. O paradigma de Kuhn buscam entender as crises geradas pelas novas descobertas. A ciência não é isolada, as mudanças no cenário das ciências geram transformações políticas. A ciência e a Política sempre estiveram juntas. A violência das transformações ao nível quer das aplicações quer da organização da ciência levou a pôr o problema do conteúdo da ciência. O contexto sociológico que o conhecimento científico passara a ser produzido tinha que refletir neste, independentemente do estatuto epistemológico do conhecimento (BOAVENTURA, 1978) Portanto o desenvolvimento da ciência não é, e nunca foi cumulativo e internacionalista. A escola das ideologias, paradigmas sempre permearam os avanços científicos levadas pelas guerras ou por qualquer mudança política enfrentada pela sociedade. 4. REFERÊNCIAS SANTOS, Boaventura, “Da Sociologia da ciência a política científica.” Revista Crítica de Ciências Sociais nº1, Julho 1978. 7 8
Compartilhar