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História da Ciência e da Técnica Patrícia Albano Maia Revisada por Fabio Fetz de Almeida (setembro/2012) É com satisfação que a Unisa Digital oferece a você, aluno(a), esta apostila de História da Ciência e da Técnica, parte integrante de um conjunto de materiais de pesquisa voltado ao aprendizado dinâmi- co e autônomo que a educação a distância exige. O principal objetivo desta apostila é propiciar aos(às) alunos(as) uma apresentação do conteúdo básico da disciplina. A Unisa Digital oferece outras formas de solidificar seu aprendizado, por meio de recursos multidis- ciplinares, como chats, fóruns, aulas web, material de apoio e e-mail. Para enriquecer o seu aprendizado, você ainda pode contar com a Biblioteca Virtual: www.unisa.br, a Biblioteca Central da Unisa, juntamente às bibliotecas setoriais, que fornecem acervo digital e impresso, bem como acesso a redes de informação e documentação. Nesse contexto, os recursos disponíveis e necessários para apoiá-lo(a) no seu estudo são o suple- mento que a Unisa Digital oferece, tornando seu aprendizado eficiente e prazeroso, concorrendo para uma formação completa, na qual o conteúdo aprendido influencia sua vida profissional e pessoal. A Unisa Digital é assim para você: Universidade a qualquer hora e em qualquer lugar! Unisa Digital APRESENTAÇÃO SUMÁRIO INTRODUÇÃO ............................................................................................................................................... 5 1 hISTóRIA E cIêNcIA - hISTóRIA DA cIêNcIA: DEFINIÇõES .............................. 7 1.1 A Crise da História da Ciência .....................................................................................................................................8 1.2 Resumo do Capítulo ....................................................................................................................................................11 1.3 Atividades Propostas ...................................................................................................................................................12 2 NOVA hISTóRIA cULTURAL: hISTóRIA DA cIêNcIA ................................................. 13 2.1 Resumo do Capítulo ....................................................................................................................................................15 2.2 Atividades Propostas ...................................................................................................................................................16 3 cIêNcIA E TÉcNIcA ............................................................................................................................ 17 3.1 A Técnica Faz Progredir a Ciência ...........................................................................................................................18 3.2 A Ciência Faz Progredir a Técnica ...........................................................................................................................20 3.3 Resumo do Capítulo ....................................................................................................................................................22 3.4 Atividades Propostas ...................................................................................................................................................22 4 INTERcÂMBIOS cIENTÍFIcOS ..................................................................................................... 23 4.1 A Ciência na Antiguidade ..........................................................................................................................................23 4.2 A Ciência na Idade Média ..........................................................................................................................................26 4.3 A Ciência na Idade Moderna ....................................................................................................................................27 4.4 Resumo do Capítulo ....................................................................................................................................................31 4.5 Atividades Propostas ...................................................................................................................................................32 5 cONSIDERAÇõES FINAIS ............................................................................................................... 33 RESPOSTAS cOMENTADAS DAS ATIVIDADES PROPOSTAS ..................................... 35 REFERêNcIAS ............................................................................................................................................. 37 Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 5 INTRODUÇÃO Caro(a) aluno(a), O texto a seguir faz parte do elenco de disciplinas oferecidas no 9º módulo do curso de licenciatura plena em História. Este material é o texto básico elaborado para a disciplina História da Ciência e da Técnica e nele você encontrará todo o conteúdo que será discutido ao longo do curso. Esta disciplina pretende familiarizar o(a) aluno(a) com a multiplicidade de interpretações históricas, a partir de uma historiografia multifacetada e pluridisciplinar, recorrendo-se à historiografia clássica e às novas tendências das pesquisas de cunho histórico, privilegiando a análise reflexiva e crítica. Visa ainda a romper com as interpretações tradicionalistas de cunho puramente factível e de me- morização. Buscaremos chegar a um conceito de História da Ciência. Faremos a relação entre história cultural e História da Ciência. Discutiremos a relação entre conhecimento científico e técnica. Por fim, veremos os intercâmbios científicos que ocorreram desde a Antiguidade até os dias de hoje. Iniciaremos nosso curso discutindo os conceitos de Ciência, História e História da Ciência. Depois, faremos um breve histórico da História da Ciência, desde seu nascimento até os dias de hoje. Apresenta- remos a relação entre ciência e técnica. Finalizaremos o curso vendo os intercâmbios científicos desde a Antiguidade até a época moderna. Ao final da apostila, você encontrará a seção “Para saber mais”; nela, estão indicados filmes, peças de teatro, literatura e fontes iconográficas que tratam do tema “ciência”. Essas indicações podem se tornar fonte de pesquisa para os que se interessarem pelo tema ou informações complementares para os que quiserem ampliar seus conhecimentos sobre o tema “ciência” no desenrolar da história da humanidade. Creio que, ao finalizar a leitura desta apostila, você terá um panorama do que é a História da Ciência e da técnica e poderá escolher qual modelo mais lhe agrada. Finalmente, desejo que você faça um ótimo módulo, que estude e aprofunde seu conhecimento. Eu e toda a equipe da Unisa Digital estamos à disposição para o que se fizer necessário. Com os melhores cumprimentos, Patrícia Albano Maia Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 7 hISTóRIA E cIêNcIA - hISTóRIA DA cIêNcIA: DEFINIÇõES1 Caro(a) aluno(a), Neste capítulo, você ficará sabendo que, para chegar ao conceito de História da Ciência, não basta juntar os conceitos de História e Ciên- cia. Estudará as mudanças pelas quais passou a História da Ciência desde a sua criação até nossos dias. Qualquer pessoa que tenha cursado a edu- cação básica imagina que tenha condição de sa- ber o que estuda a História da Ciência. Por intui- ção, essa pessoa entende ou tem um conceito de ciência. Segundo Alfonso-Goldfarb (2004), se a pessoa escuta a frase: a cura para tal doença está sendo cientificamente estudada, ela intui que estão tentando chegar à cura dessa doença por meio de estudos sérios e objetivos. O mesmo acontece com o vocábulo “histó- ria”; por intuição, essa pessoa sabe que se trata de algo que aconteceu no passado. Para Alfonso- -Goldfarb (2004), mesmo que a pessoa confunda Alexandre Magno com Carlos Magno, ela sabe que são personagens que existiram deverdade e que, portanto, não são personagens de ficção. O problema é que, por meio da intuição do que é ciência e do que é história, não se chega ao que seria o mais óbvio: à definição de História da Ciência. Segundo Alfonso-Goldfarb (2004), não é suficiente juntar conceitos de História e Ciência para chegar à definição de História da Ciência. E isso ocorre apenas porque a união ou a combi- nação de duas coisas diferentes quase sempre faz surgir uma terceira coisa, com características próprias, mesmo assemelhando-se com as que lhe deram origem. Isso vale, por exemplo, para o caso de você, sua mãe e seu pai e, também, para a união de teorias. Porém, no caso da História da Ciência, isso é um pouco mais complicado, pois a História da Ciência nasceu no interior da Ciên- cia e tinha como objetivo responder a problemas relacionados à epistemologia. Sendo assim, no momento em que a História da Ciência foi criada, ela era essa união de História + Ciência; hoje em dia, não é mais desse modo. Vejamos, a seguir, o que outros estudiosos da História da Ciência têm a nos dizer a respeito dessa expressão. Para Acot (2001, p. 9), a expressão ‘história das ciências’ pode ser entendida de duas maneiras: num pri- meiro sentido, significa o desenvolvimen- to de determinadas ciências na história. Esta história das ciências trata do desen- volvimento, no passado da matemática, da física, da biologia, etc. [...] Num se- gundo sentido, a expressão ‘história das ciências’ remete para a própria disciplina e para os problemas filosóficos e episte- mológicos que se levantam, quando ten- tamos realizar estas histórias sectoriais. Se você analisar bem, verá que os dois con- ceitos não são estranhos um ao outro. Conforme nos ensina Acot (2001), a função da História da Ciência é auxiliar pesquisadores modernos a ul- trapassarem dificuldades semelhantes às que fo- ram vividas por pesquisadores do passado. Já Dominique Pestre (1996) diz que, a partir do final do século XX, ciência passou a ter várias definições e que o objeto da História da Ciência modifica-se conforme o conceito de ciência que se utiliza. Ainda para esse autor, hoje, a visão mais aceita de História da Ciência é a que promove um tratamento histórico das ciências. Os estudos que seguem essa vertente buscam realizar uma aná- lise crítica da produção de saberes científicos, ou Patrícia Albano Maia Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 8 seja, as produções científicas são tratadas como sistemas de proposições e ações, como explica- ções do mundo construídas em determinadas so- ciedades e em determinadas épocas pelos seres humanos. O papel do historiador seria, portanto, o de decodificar e descrever cosmologias, colocar em evidência as condições culturais, políticas e sociais que permitiram a criação das cosmologias. Repare que as visões de Acot (2001) e Pestre (1996) são bem distintas. A concepção do segun- do é a mais aceita por historiadores de um modo geral. A visão de Acot (2001) é mais aceita apenas entre aqueles que fazem histórias das disciplinas, mas que não são historiadores de formação, ou seja, são físicos, químicos, matemáticos, médicos etc., que escrevem histórias edificantes de suas áreas de atuação e formação. Você deve estar se perguntando: mas, afinal, o que é dar um tratamento histórico às ciências? É entender a ciência e o conhecimento científico como produções humanas inseridas nas socieda- des, ou seja, Einstein desenvolveu a Teoria da Re- latividade porque ele vivia em um ambiente que possibilitava o estudo e a pesquisa. Se ele vivesse na mesma época, mas na região do Pantanal bra- sileiro, ele não teria desenvolvido tal teoria. Essa forma de interpretar a produção científica enten- de que, para compreender a criação ou desen- volvimento da ciência, é mais importante o meio em que esta foi produzida do que o próprio gênio criador. Ainda para Pestre (1996, p. 9), a explicação dada por um historiador da ciência deveria ser uma explicação histórica cuja função se- ria harmonizar o cosmológico e o social, o científico e o contextual, dar conta do conteúdo das ciências pelo seu continen- te, sendo que seu enfoque trataria das produções científicas igualmente a todas as outras produções culturais geradas pe- los humanos. Até chegar a essa proposta de Pestre (1996), a História da Ciência teve que percorrer um longo caminho. Vejamos, a seguir, qual foi essa trajetó- ria. AtençãoAtenção A visão mais aceita de História da Ciência é a que promove um tratamento histórico das ciências. 1.1 A Crise da História da Ciência A partir de meados dos anos 1970, a História da Ciência aproximou-se da História, incorporan- do métodos e procedimentos do historiador, mas, quando isso aconteceu, a área de conhecimento “História da Ciência” já estava bem consolidada como algo distinto da História. Quem produzia, até então, História da Ciência fazia sem se valer dos métodos do historiador. Vejamos o que aconteceu com a História da Ciência depois que ela se chegou à História, no último quartel do século XX. A partir desse mo- mento, surgiu um novo modo de se produzir His- tória da Ciência; eu chamo essa aproximação da História da Ciência com a História, ou esse novo modo de produzir História da Ciência, de a crise da História da Ciência, pois tal encontro só ocor- reu porque o modo como se produzia História da Ciência precisou ser repensado, assim como ocor- reu com a História um pouco antes; aliás, quase todas as ciências humanas passaram por uma cri- se, que redefiniu seus métodos e conceitos, em algum momento do século XX. A História da Ciência ficou muito tempo como uma estranha no ninho do fazer histórico, pois, apesar de esse ramo do conhecimento se chamar História, ele não partilhava dos mesmos métodos e procedimentos do historiador. Depois que foi assimilando e adaptando os elementos da História aos seus objetivos, também passou a combinar ao seu novo modo de proceder concei- História da Ciência e da Técnica Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 9 tos e métodos da Antropologia, da Filosofia, da Sociologia e de outras ciências humanas. A entra- da desses novos modos de produzir conhecimen- to deu uma nova cor à História da Ciência. O resultado desses encontros é que, hoje, temos uma História da Ciência complexa e mul- tifacetada. Criou-se, assim, um novo campo de pesquisa, que está em constante diálogo com as demais áreas de conhecimento, que empresta- ram seus conceitos, métodos e procedimentos à História da Ciência. Já foi dito anteriormente que a História da Ciência precisou criar um novo modo de produzir seu discurso; mas por que isso ocorreu? Para che- garmos a uma resposta, será necessário contar a história da própria disciplina. Ciência e conhecimento científico sempre existiram, desde a Pré-história até os dias de hoje. Porém, antes da chamada Revolução Científica, o conhecimento científico não era produzido se- guindo os mesmos critérios de hoje; aliás, nem as áreas de conhecimento eram divididas como atualmente, ou seja, não existiam a Física, a Geo- grafia, a História, a Astronomia, a Química etc. Todos esses ramos do conhecimento existiam e eram estudados por homens que se dedicavam a explicar o mundo no qual estavam inseridos, mas não estavam separados entre si como faze- mos hoje. A partir do momento que costumamos chamar de Revolução Científica, entre os sécu- los XVI e XVII, o conhecimento científico recebeu vários nomes: filosofia natural, magia universal, nova ciência, filosofia experimental. Nesse mo- mento, a ciência moderna estava nascendo e ha- via um debate muito grande sobre o que ou quais seriam seus pontos de apoio, seus temas princi- pais. Foi exatamente nesse momento que nasceu o ramo do conhecimento “História da Ciência”; as- sim como a Ciência, a História da Ciência também estava criando o caminho que iria seguir. Alguns cientistas achavam que o conheci- mento científico deveria voltar-separa o conhe- cimento clássico. Outros achavam que os conhe- cimentos do passado deveriam ser deixados de lado e que os cientistas deveriam partir da estaca zero e ouvir da própria natureza o que ela queria contar. Por exemplo, alguns achavam que a Ciên- cia deveria retomar os conhecimentos clássicos. Aqueles que surgiram na Grécia Clássica – por pensadores que vão de Ta- les de Mileto e Aristóteles – e passaram para a civilização helenística e o mundo romano (daí que alguns estudiosos cha- mem esse período de clássico Greco-ro- mano). Já outros pensavam que o melhor seria acabar com os conhecimentos clás- sicos, começar da estaca zero e ouvir da própria natureza o que ela teria a contar. (ALFONSO-GOLDFARB, 2004, p. 10). Essas duas posições representam os dois ex- tremos de visões sobre o caminho a ser seguido pela produção do conhecimento científico. Entre elas, houve uma série de opiniões intermediárias. Isso mostra que o nascimento da Ciência moder- na não foi tranquilo; existiram vários debates, nos quais cada visão ou corrente de pensamento queria se impor sobre as demais e fazer valer sua visão de Ciência. A História da Ciência nasceu durante esse período de indefinições e intenso debate sobre o que é conhecimento científico. Ela surgiu como uma justificativa utilizada pelas várias correntes durante os debates sobre os caminhos a serem seguidos pela Ciência que estava se constituin- do; sendo assim, a História da Ciência apresenta em sua formação as características do debate da época. Como se pode notar, a História da Ciência nasceu ligada à própria ideia de ciência que es- tava se formando durante os séculos XVI e XVII. Ela nasceu como uma justificativa da ciência, que também estava nascendo, e tem, desse modo, um perfil cada vez mais próximo da ciência pro- priamente dita do que da História. DicionárioDicionário Revolução Científica: é o período que se dá a partir de quando Galileu, Kepler, entre outros pensado- res do século XVII, iniciam suas descobertas. Patrícia Albano Maia Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 10 Entre os séculos XVIII e XIX, o debate sobre o que é ciência vai chegando ao final e vai ficando cada vez mais nítido o que é ciência, pelo menos o que o século XX chama de Ciência. No século XIX, o termo “ciência” passa a ter o sentido moderno, principalmente após o Posi- tivismo. A partir dessa época, a palavra “cientista” passa a designar aqueles que se dedicam a um tipo específico de estudo. Não se confunde mais filósofo com cientista. A ciência, nesse momen- to, já tinha um objetivo na sociedade; ela ditava mudanças nos currículos escolares e determinava o desenvolvimento dos países. Ela não precisava mais ser justificada e significava o futuro. Quem dominava a ciência tinha mais poder do que os que não produziam conhecimento científico; isso valia tanto para pessoas quanto para nações. Do século XIX em diante, a História da Ciên- cia tornou-se uma espécie de crônica interna da ciência. Essa forma de produção do discurso ser- via de exemplo a ser seguido por aqueles que se dedicavam à ciência. A História da Ciência servia de exemplo edificante aos estudantes e de orgu- lho para os mestres. Mas, como a ciência era o fu- turo, esse passado edificante foi ficando cada vez mais para trás, tornando-se uma espécie de enfei- te da ciência; sendo assim, a História da Ciência foi perdendo o interesse daqueles que se dedica- vam à ciência. A História da Ciência, sempre ligada à Ciência, passa também por transforma- ção. Novamente ela não será uma forma de História, mas uma crônica interna a Ciência. Essa espécie de crônica serviria para ajudar os mestres que ensinavam Ciência, tanto por meio de livros quanto ao vivo, a dar exemplos edificantes do que fora certo e do que fora errado no desenvolvimento da Ciência. E certo era tudo aquilo que se transformara na Ciên- cia daquele momento; errado, tudo aqui- lo que atrapalhou a Ciência para chegar àquele estágio e, portanto, deveria ser evitado, ou no mínimo esquecido. (AL- FONSO-GOLBFARB, 2004, p. 12). A História da Ciência foi um exemplo edifi- cante para os aprendizes e causa de altivez para os cientistas. Através dela, foi possível conhecer e difundir como a Ciência foi vitoriosa em muitas disputas contra a ignorância, o misticismo e a re- ligião. Lembre-se de que, nesse período, a Ciência era vista como o futuro; esse passado prestigioso foi ficando cada vez mais para trás. Como se fosse um adorno que glorificava o passado, a História da Ciência foi se transformando em algo com pe- quena importância para quem quisesse aprender e produzir ciência de verdade. No século XX, a ciência passou por mais uma modificação; se, no século XIX, ela era vista como o futuro do planeta, no século XX, ela pas- sou a ser a responsável pelas mazelas pelas quais a sociedade estava passando, como, por exemplo, guerras mais destrutivas e poluição. Sendo assim, era necessário fazer uma crítica, uma revisão do conhecimento científico. Apesar do lado negativo da Ciência que passou a ser mostrado à comuni- dade não científica, a ciência não deixou de ter um papel importante na melhora da qualidade de vida da população; veja, por exemplo, as pesqui- sas feitas na área da saúde e da agricultura. O que se mostrou sobre a Ciência nesse período é que ela tinha dois lados, ou seja, a mesma Ciência que produzia melhoras na qualidade de vida também podia destruir a vida. A partir dessa perspectiva, a ciência deixou de ser vista como um deus que nunca erra, para ser vista como algo que, no de- correr de seu percurso, pode errar; errar aqui deve ser entendido como algo que não leva à melhora na qualidade de vida da humanidade. Essa nova visão que se passou a ter da Ciência fez com que fosse necessária uma crítica, uma revisão dos mé- todos, procedimentos e critérios da Ciência. Criticar é empregado aqui como analisar os critérios (normas, regras, princípios) de alguma coisa. Se esses critérios tiverem problemas, incluir Assista ao filme Madame Curie. Direção de MervynLeRoy. EUA, 1943 (DVD 1999). 124 min. MultimídiaMultimídia História da Ciência e da Técnica Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 11 sugestões para modificar. Criticar não é pichar algo com o qual não se concorda. Desse modo, a área de estudo mais instrumentalizada para fazer essa crítica era a História da Ciência, pois, tendo nascido e convivido durante todo o tempo no in- terior da própria Ciência, sabia, como nenhuma outra área de conhecimento, os processos inter- nos dela. Para que a História da Ciência assumisse o papel que estavam lhe atribuindo, era preciso que ela incorporasse os métodos e procedimen- tos da História, assumindo, desse modo, sua di- mensão histórica, e pudesse fazer sua crítica ao processo percorrido pela Ciência. Por meio da análise feita pela História da Ciência, foi possí- vel compreender problemas, falhas e avanços da Ciência que haviam ficados esquecidos “pela aparente continuidade do progresso científico” (ALFONSO-GOLDFARB, 2004, p. 13), ou seja, aqui- lo que não era contado pela História da Ciência edificante, pois não era nem um grande feito, que deveria ser enaltecido, nem um erro, que deve- ria ser apagado. Isso, que faz parte do cotidiano da pesquisa científica, foi recuperado e ajudou a explicar os caminhos que foram escolhidos no desenvolvimento da ciência, ou seja, esse resgate transformou o desenvolvimento científico em um processo, deu inteligibilidade ao percurso científi- co. A História da Ciência deixou de apenas contar os grandes feitos e passou a tentar entender por que a Ciência era tal e qual se apresentava. Essa nova abordagem da História da Ciência recuperou para a Ciência seu papel de conheci- mento cultural, ou seja, mostrou que o conheci- mento científico foi, é e será sempre construído pelo homem. Desse modo, a Ciência passou a ser vista como algo humano e não sobrenatural; que os avanços que ocorreram,ocorrem e ocorrerão na melhora da qualidade de vida da população dependem de um trabalho contínuo e coletivo de cientistas de todos os países e não dependem apenas de gênios, que do nada criam suas des- cobertas. O trabalho científico sempre parte do trabalho que foi realizado por outro cientista. A História da Ciência que surgiu por volta de meados dos anos 1970 ajudou a apagar a ima- gem da Ciência como um processo de grandes descobertas de grandes gênios que pairam acima da capacidade dos pobres mortais. Para finalizar este capítulo, gostaria de en- fatizar que a História da Ciência resgatou para a Ciência seu papel de conhecimento produzido pela cultura humana, ou seja, transformou a Ciên- cia em algo cultural e não em um saber absoluto. No próximo capítulo, ver-se-á em mais detalhes o lado cultural da História da Ciência. 1.2 Resumo do Capítulo Neste capítulo, você pôde acompanhar que a História da Ciência surgiu em um período de debates e de profundas indefinições sobre o que era o conhecimento científico durante os séculos XVI e XVII. Do século XIX em diante, a História da Ciência tornou-se uma espécie de crônica interna da ciência e, no século XX, ela assumiu uma dimensão histórica, possibilitando a realização de críticas ao processo per- corrido pela ciência. A partir dessa transformação, a História da Ciência procurou compreender qual o papel ocupado pela Ciência em cada contexto histórico e o reconhecimento de que ela é resultado da ação humana e, portanto, é cultural, e não um saber absoluto. Patrícia Albano Maia Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 12 1.3 Atividades Propostas Prezado(a) aluno(a), agora vamos verificar o seu aprendizado. Responda às questões a seguir: 1. A partir de 1970, houve alguma mudança no modo de se produzir a História da Ciência? Que modificação foi essa? 2. O que é a Revolução Científica? Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 13 NOVA hISTóRIA cULTURAL: hISTóRIA DA cIêNcIA2 Caro(a) aluno(a), No capítulo anterior, você ficou sabendo que a História da Ciência passou a ver a Ciência como algo cultural; neste capítulo, você estudará o processo que transformou a História da Ciência edificante em História Cultural. Já foi visto que as transformações na ma- neira de a sociedade se relacionar com a ciência fizeram com que esta repensasse sua forma de atuação na sociedade na qual está inserida. Nes- se momento, a História da Ciência foi chamada para participar desse repensar da prática cientí- fica. Para que pudesse cumprir esse objetivo, foi necessário que ela passasse a utilizar os métodos e procedimentos do historiador, ou seja, ao invés de ficar narrando crônicas sobre as diversas áreas do conhecimento, era preciso que ela passasse a questionar o papel desempenhado pela ciência na sociedade. A partir desse momento, a Histó- ria da Ciência passou a perceber a ciência como uma criação humana, que produzia coisas boas e coisas más, que a ciência não era um deus todo- -poderoso que não podia ser questionado. Como se disse anteriormente, a partir de meados dos anos 1970 e início dos anos 1980, a História da Ciência conheceu um grande modifi- cação. Segundo alguns historiadores, como Do- minique Pestre (1996), ela teria passado por uma profunda renovação; mais precisamente, conhe- ceu uma inflexão que encontra suas origens nas abordagens contestatórias desenvolvidas a partir dos anos 1970 e que visa a redefinir a natureza das práticas científicas. Tais abordagens foram o resultado do trabalho de um grupo que atuou de maneira bastante coordenada até a metade dos anos 1980, grupo esse formado por jovens so- ciólogos, antropólogos, filósofos e historiadores, cujo núcleo foi principalmente inglês. Um grande grupo norte-americano a ele se juntou nos anos 1990 e Michel Callon, Bruno Latour, Karin Knorr- -Cetina, entre outros, contribuíram para lhe con- ferir um sabor continental. Durante um período, a revista Social Studies of Science foi o ponto de união do grupo. Para Pestre (1996), nos últimos anos, a de- finição de Ciência que esse grupo oferecera, ou melhor, o conjunto de proposições que ele arti- culara a respeito do que seriam as práticas cientí- ficas, formou um quadro de referência novo para numerosos historiadores. Tendo sido o objeto da investigação (a Ciência) radicalmente definido, novas maneiras de abordá-lo surgiram, objetos diferentemente recortados apareceram, novas questões legítimas apareceram. Num certo sen- tido, guardadas as devidas proporções para uma disciplina de menor amplitude, a História da Ciên- cia se encontra hoje numa posição similar àquela que prevaleceu nos anos 1930 para a História em seu conjunto. Seja porque Marc Bloch, Lucien Fèbvre e outros redefiniram o que eram os objetos legítimos da disciplina, seja porque pro- punham submeter a seu domínio uma gama de atividades até então mantidas fora de sua jurisdição, seja ainda porque anexavam outras práticas disciplinares, eles abriram espaço novo a conquistar, ofereciam á sagacidade do historiador a possibilidade de historicizar práticas até então não consideradas por ele. (PESTRE, 1996, p. 5). DicionárioDicionário Social Studies of Science: Estudos Sociais da Ciência. Patrícia Albano Maia Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 14 As transformações que esse período da Es- cola dos Annales tem para a disciplina História, por analogia, podem ser comparadas com as mo- dificações propostas pelo grupo da Revista Social Studies of Science para a História da Ciência. O novo quadro de referências proposto pe- los estudiosos da Social Studies of Science entrou amplamente no meio dos historiadores da ciên- cia dos Estados Unidos e, sobretudo, da Ingla- terra, os dois principais focos dinamizadores da História da Ciência. Novas revistas, como a Scien- ce in Context, foram criadas com o objetivo de di- fundir e aumentar ainda mais o debate que vinha sendo feito pela Revista Social Studies of Science. No caso inglês, o debate provocado pelo grupo de pesquisadores ligado tanto à Social Studies of Science quanto à Science in Context promoveu um encontro com grandes nomes da historio- grafia, como Christopher Hill, Eric Hobsbawn, E. P. Thompson e outros, conduzindo ao surgimento de novos laços intelectuais e institucionais com o meio dos historiadores. Enquanto isso acontecia na Inglaterra, na França, os historiadores da ciência pouco partici- pavam do debate que girava ao redor das propos- tas feitas pelas revistas Social Studies of Science e Science in Context e continuaram a produzir uma História da Ciência edificante. A historiografia francesa de História da Ciência quase não se en- controu com os historiadores, que se mostravam muito pouco curiosos com as transformações propostas pelos ingleses e norte-americanos. Os encontros entre os historiadores da ciên- cia ingleses e norte-americanos com os historia- dores sociais e culturais das mesmas regiões fize- ram aumentar o interesse pelo tema “ciência”, que deixou de ser tratado apenas pelos especialistas e passou a incorporar trabalhos de história social e cultura. Um bom exemplo disso é os trabalhos de Christopher Hill, que passaram a ter ao menos um capítulo discutindo e relacionando ciência com as revoluções inglesas do século XVII. Falou-se, até aqui, muito sobre as transfor- mações ocorridas na História da Ciência depois que esta incorporou os métodos e procedimen- tos da História. Foi dito também que essa incor- poração transformou os estudos de História da Ciência e de história cultural. Mas o que é história cultual? A historiografia contemporânea entende que a história cultural é, na verdade, a história da pluralidade cultural, pois não existe uma única cultura e sim várias culturas distintas, que não po- dem ser hierarquizadas. O que seria o objeto da história da cultura? Os produtos intelectuais apenas ou também a cultura material? A história da cultura obriga o historiador a ter uma visãomais abrangente do período que estuda, pois relaciona a produção da sociedade com o momento no qual está inserida. A história cultural é uma questão de abor- dagem e não de objeto. Podemos dizer que o que unifica os historiadores culturais está centrado na preocupação com o simbólico e nas suas inter- pretações. Símbolos podem ser encontrados em todos os lugares, da arte à vida cotidiana, mas a abordagem do passado em termos do simbolis- mo é apenas uma entre tantas outras. Uma histó- ria cultural das calças é diferente de uma história econômica do mesmo objeto. Partindo desses conceitos, podemos dizer que História da Ciência pode ser uma história cul- tural se abordar o seu objeto como tal, ou seja, se considerar que a ciência, assim como a arte, é um objeto cultural. Já foi visto que, a partir do século XX, a ciência deixou de ser uma espécie de deus todo- -poderoso, que não podia ter suas afirmações questionadas, para se tornar uma criação huma- na passível de críticas, questionamentos e erros. Pense nesses erros ou males decorrentes do uso inadequado, por exemplo, da energia atômica, no desequilíbrio causado ao meio ambiente pela poluição e pela ocupação dos espaços de forma AtençãoAtenção O que faz um trabalho ser considerado de Histó- ria Cultural é uma questão de abordagem e não de objeto. História da Ciência e da Técnica Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 15 devastadora, sem falar nos problemas causados pela imposição da aceitação da ciência e da técni- ca ocidentais em outros tipos de culturas. A História da Ciência, depois de meados dos anos 1970, recuperou para a ciência seu pa- pel de conhecimento cultural e mostrou como a ciência passou a ser utilizada como fonte de po- der e dominação. Saber é poder. Segundo Pierre Bourdieu (1989), o espaço da produção científica – o campo científico – é um campo social como outro qualquer, cheio de relações de força, dispu- tas e estratégias, que visam a beneficiar interesses específicos dos participantes desse campo. A história da cultura deu à História da Ciên- cia a possibilidade de apresentar o conhecimento científico em sua relação com a sociedade na qual está inserido, apagando a imagem da Ciência como grandes descobertas feitas por grandes gê- nios, que pairam acima da capacidade dos pobres mortais. A história da cultura deu a possibilidade de a ciência ser vista como um processo contínuo de tentativas realizadas por homens comuns, que às vezes são bem-sucedidas. O historiador da ciência deve decidir qual o seu objetivo ao produzir o seu discurso histó- rico, pois há pelo menos 2 objetivos bem claros e distintos. Um que é produzir as histórias setoriais da ciência, pois seu conhecimento é importante para aqueles que estão iniciando seus estudos em uma determinada área científica; e outro que busca entender a ciência dentro de um contexto mais geral que o da sociedade que a criou. Ter um ou outro objetivo é uma questão de abordagem do objeto ciência. Eu posso achar que uma His- tória da Ciência com uma abordagem cultural é mais interessante e útil, pois busca relacionar o objeto ciência com a sociedade que o produziu, dessa maneira contribui para que tenhamos uma visão mais abrangente do que foi uma determi- nada sociedade. Para um químico, por exemplo, pode ser mais útil e interessante conhecer a his- tória da sua própria disciplina; saber quem desco- briu um determinado elemento e quando, saber de que modo essa descoberta fez progredir o co- nhecimento químico. Sugerimos que você assista ao filme O Ponto de Mutação. Direção de Bernt Capra e Floy Byars. EUA, 1990. 112 min. MultimídiaMultimídia 2.1 Resumo do Capítulo Neste capítulo, você viu que a História da Ciência ganhou espaço entre os historiadores a partir das pesquisas realizadas pelos historiadores ingleses e norte-americanos. Aos poucos, pesquisadores ligados à história social e da cultura lançaram o seu olhar sobre a História da Ciência. Você ficou sabendo que a área de conhecimento História da Ciência é multifacetada e que a produ- ção de uma história com abordagem cultural não invalida a produção de histórias setoriais edificantes. As duas formas de produzir o discurso histórico são válidas e importantes. Quisemos apenas mostrar que, para o historiador, a abordagem cultural traz mais benefícios, pois ajuda a compreender melhor uma determinada sociedade. Patrícia Albano Maia Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 16 Caro(a) aluno(a), Vamos, agora, avaliar sua aprendizagem. Responda às questões a seguir: 1. A História da Ciência pode ser um trabalho de história cultural? 2. Os trabalhos de História da Ciência edificante ainda são produzidos no século XXI? Dê um exemplo. 2.2 Atividades Propostas Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 17 cIêNcIA E TÉcNIcA3 Caro(a) aluno(a), Neste capítulo, você verá a relação entre ciência e técnica. Buscaremos conceituar esses dois termos, que muitos acham ser a mesma coi- sa. Antes, devemos lembrar que a história da téc- nica passou também por uma revisão nos seus modos de proceder, na mesma época que a His- tória da Ciência. Nas relações entre ciência e técnica, esta faz as vezes de prima pobre daquela. Como veremos, a diferenciação entre ciência e técnica é muito su- til de ser feita e isso não é um problema que se apresenta apenas nos dias de hoje, frente às úl- timas criações da tecnologia moderna. A história da técnica será tratada, neste capítulo, apenas nos aspectos teóricos das suas relações com a História da Ciência. Deve-se lembrar de que a separação tradi- cional entre ciência e técnica é que a ciência é um conhecimento discursivo, teórico, que estabelece relações universais e necessárias entre os objetos de uma linguagem, como, por exemplo, a mate- mática, ou entre fenômenos físicos, como, por exemplo, as ciências físicas e naturais, ou entre fatos humanos, como, por exemplo, as ciências humanas (ACOT, 2001). É bom lembrar que, quando se faz a escolha por uma definição, como foi feito anteriormente, sempre existe coisa nova a se dizer sobre deter- minadas distinções conceituais demasiadamente acentuadas, ou seja, a definição que apresento aqui é apenas uma entre tantas outras. Depois que essa definição foi criada, provavelmente ou- tra foi criada apresentando distinções em relação à que escolhi. A técnica (do grego technikos, de techne, arte) é um saber prático, em oposição à ciência, que é um saber teórico (episteme). A técnica é um conjunto de operações visando a satisfazer ne- cessidades (BARTHOLY; ACOT, 1976). No início, na Antiguidade, a essência da técnica era transformar a natureza (agricultura, criação de gado, olaria etc.) ou o corpo (medici- na, ginástica etc.). Atualmente, isso continua a ser verdade, mesmo se muitas técnicas surgem pri- meiro como formas de acelerar processos com- plexos; é o caso da informática. Acot (2001) diz que, geralmente, as técnicas antecipam a ciência: criaram-se “raças” domésti- cas por cruzamento e seleção artificial, muito an- tes de Darwin ter apresentado sua teoria sobre a evolução das espécies e de Mendel ter criado as leis fundamentais da genética. Ainda segun- do o autor, isso é também verdade para as ciên- cias físicas; segundo afirma, já se sabia disparar um canhão com relativa precisão, muito antes de Galileu e Descartes terem formulado as leis da queda dos graves. Tal como escreve o historiador das técnicas Maurice Daumas (apud ACOT, 2001, p. 86), as máquinas a vapor já funcionavam há cerca de 70 anos, quando se tentou ela- borar sua teoria [...]. Da mesma forma, a construção das máquinas-ferramentas precedeu os trabalhos teóricos dos me- cânicos do século XIX, o fabrico de ácidos minerais precedeu, de forma idêntica, o sistema químico de Lavoisier. AtençãoAtenção Ciência é um conhecimento discursivo, teórico. Técnica é um saber prático. Patrícia Albano Maia Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 18 Ao que tudo indica,a distância entre as ciências e as técnicas contemporâneas tende a reduzir-se, como mostra a utilização de vocábu- los que aproximam as duas áreas de conheci- mento, por exemplo, designando-as por ciências teóricas, para dizer ciência propriamente dita, e ciências aplicadas, referindo-se à técnica; ou o uso da palavra ‘tecnologia’ para técnicas conside- radas muito complicadas, como, por exemplo, a miniaturização dos computadores. No Brasil, tem se difundido o uso do termo high tech para desig- nar determinadas tecnologias anglo-nipo-taiwa- nesas. Uma central nuclear, um Concorde e um Trem-Bala não são high tech; um computador que se torna ultrapassado num espaço de 6 meses e um programa de computador vendido no mundo inteiro com 600 erros de programação são high tech. Como se pode perceber, é difícil separar ciência teórica de ciência aplicada de tecnologia. Seja como for, a história ensina que as relações entre ciência e técnica nunca foram unilaterais: as técnicas fizeram progredir a ciência, assim como a ciência fez progredir a técnica. Em vários casos, os dois movimentos reforçam-se mutuamente. 3.1 A Técnica Faz Progredir a Ciência O melhor exemplo da influência da técnica sobre o desenvolvimento do pensamento cientí- fico é o da luneta de Galileu. No século XVI, Jac- ques Baudourère falou a Galileu sobre uma lune- ta inventada na região dos Países Baixos, no final do século XVI. A respeito da tal luneta, Galileu possuía apenas algumas informações fornecidas por Baudourère; sabia que tratava de associar 2 lentes, uma convergente e outra divergente, em dois tubos corrediços. Galileu aperfeiçoou a lune- ta dos artesãos holandeses e com seu instrumen- to observou o céu. Sabemos que, a partir dessa observação, ele fez descobertas que mudaram a astronomia. Descobriu as montanhas lunares, as fases de Vênus, satélites de Júpiter. Na constela- ção de Órion, mais especificamente na bainha da espada, descobriu 80 estrelas, enquanto a olho nu apenas podem-se contar 7. Essas descobertas feitas por Galileu em alguns meses foram mais numerosas e importantes do que durante os dois milênios precedentes, pois modificaram o olhar que nessa época se lançava sobre o mundo, as- sim como havia ocorrido cem anos antes, com a descoberta da América. Hoje em dia, o objetivo da História da téc- nica e da ciência é entender as dificuldades de aceitação das descobertas de Galileu por parte de seus contemporâneos. De nada adianta ficar fri- sando e refrisando que a concepção da astrono- mia anterior aos homens do Renascimento estava equivocada, o que importa é conseguir explicar a resistência em aceitar as novas ideias. Sugerimos que você assista ao filme Quase Deu- ses. Direção de Joseph Sargent. EUA, 2004. MultimídiaMultimídia História da Ciência e da Técnica Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 19 Figura 1 – Instrumento (técnica) aperfeiçoado por Galileu (conhecimento científico). Fonte: Wikipédia (2011). Você já ouviu e sabe que Galileu foi um dos responsáveis pelas mudanças que ocorreram em sua época. Podemos não localizar em sua obra uma filosofia sistemática, mas sua biografia, suas obras na área das ciências e seu método de pes- quisa formam um quadro de referências impor- tante na passagem da ciência medieval para a ciência moderna. Galileu nasceu na cidade italiana de Pisa, em uma família que tinha condições financeiras e intelectuais para bancar seus estudos. Desde o início de sua vida escolar, esteve presente em instituições de renome e excelente qualidade. Es- tudou no colégio dos jesuítas em Florença; quan- do foi para a universidade, frequentou o curso de medicina na Universidade de Pisa. Durante esse curso, buscou conhecer melhor os textos clássi- cos, como, por exemplo, os de Arquimedes (sécu- lo III a.C.). Foi durante essa época que descobriu que um pêndulo oscila com frequência constante (lei do isocronismo). Abandona o curso de medi- cina e volta para casa, mas continua a estudar os textos clássicos e matemática. É nesse momento que cria a balança hidrostática. Seu grande conhecimento matemático pos- sibilitou que, em 1589, se tornasse professor des- sa disciplina na Universidade de Pisa, transferin- do-se depois para a Universidade de Pádua. Nesta universidade, passou a estudar o movimento dos corpos em queda, utilizando planos inclinados. Desenvolveu as primeiras ideias sobre o princípio da inércia. Muda-se para a cidade de Veneza e, em 1609, desenvolveu a luneta e fez várias descober- tas, como já vimos. A partir de 1610, o Duque de Florença torna-se mecenas de Galileu; este trabalhava no Palácio do duque, mas também estudava e fazia suas pesquisas. Foi nessa época que confirmou a hipótese heliocêntrica de Copérnico. Você deve estar se perguntando: por que a autora resolveu falar da vida de Galileu? Resolvi abrir esse parêntese para corroborar a ideia de Pestre (1996) de que o meio é o grande respon- sável pelas criações científicas. Como você viu, Galileu esteve em várias universidades, lugares onde pôde estudar e discutir com outros homens de ciências como ele. Como sabemos, Galileu foi um homem inteligente, mas só isso não basta Patrícia Albano Maia Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 20 para explicar toda a contribuição que ele fez para a ciência moderna. É preciso ver onde ele fez suas descobertas e com quem dialogava. Como vimos, ele esteve em várias universidades, locais privile- giados para produção e troca de conhecimento, ou seja, Galileu não estava sozinho pensando e pesquisado. Repare que, enquanto Galileu este- ve a serviço do Duque de Florença, ele confirmou a hipótese heliocêntrica de Copérnico. Para que isso acontecesse, era necessário que as ideais cir- culassem, colocando, desse modo, os homens em contato com os estudos de outros. Os estudos e pesquisas não partiam do zero e sim de etapas já dadas por outros pesquisadores. Note que as transformações ocorridas com relação à Astro- nomia, mais especificamente sobre a Teoria Geo- cêntrica, só foram confirmadas após o desenvol- vimento da luneta de Galileu; exemplo da técnica fazendo progredir a ciência. A teoria já existia, porém não tinha técnica para comprová-la empi- ricamente; após a invenção da luneta de Galileu, isso foi possível. Mais adiante, você voltará a ler a respeito das teorias Heliocêntrica e Geocêntrica. Por hora, voltemos a tratar da relação ciên- cia e técnica. As Histórias da ciência e da técnica estão repletas de exemplos semelhantes aos da- dos anteriormente. Podemos lembrar-nos de ou- tros, como, por exemplo, o nascimento e, depois, o desenvolvimento da microbiologia no século XIX estiveram relacionados com o aperfeiçoa- mento do microscópio. Do mesmo modo, a viro- logia atual ficou a dever muito ao aperfeiçoamen- to do microscópio eletrônico. Exemplos mostrando que a técnica ajudou no desenvolvimento da ciência não faltam. Vários estudos já foram feitos sobre esse tema, como já dissemos antes. Hoje, o que mais interessa para o historiador de ciência e da técnica é compreen- der o contexto em que surgiram as técnicas e de que modo foram assimiladas, tanto pelo mundo científico quanto pelos homens que não fazem ciência, mas se beneficiaram dela. 3.2 A Ciência Faz Progredir a Técnica Pascoal Acot (2001) afirma que o papel motor da atividade científica no desenvolvimen- to das técnicas é intuitivamente mais evidente. Embora insistam sempre na anterioridade das técnicas, desde logo captadas como práticas empíricas, os historiadores não negam de forma alguma o papel motor da ciência. Todavia, Mau- rice Daumas (apud ACOT, 2001), historiador das técnicas, observou que a contribuição da ciência para a técnica não começa a se manifestar de maneira nitidamente perceptível antes do final do século XVI. Um bom exemplo da ciência fazendo pro- gredir a técnica é novamente capitaneado por Galileu e diz respeito ao isocronismo das oscila- ções pendulares. Você já leu sobre issono mo- mento em que estávamos falando da vida de Ga- lileu. Quando, em 1595, Galileu Galilei, ao assistir a uma cerimônia na catedral de Pisa, observava a oscilação de um lustre, formalizou a sua famo- sa teoria sobre os pêndulos, concluindo que, se estes tivessem o mesmo comprimento e massa, demoravam sempre o mesmo período de tempo a realizar a sua oscilação total ou completa (iso- cronismo). No século XIX, essa teoria de Galileu foi utilizada por Huygens para a regulação dos reló- gios. Talvez uma boa pergunta que os historiado- res da ciência e da técnica possam fazer à história narrada nesse exemplo seja: por que houve um espaço de tempo tão grande entre a descoberta científica e a sua aplicação a uma técnica ou a um instrumento? História da Ciência e da Técnica Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 21 Figura 2 – Relógio a pêndulo criado após a explicação (isocronismo) de Galileu. Fonte: Wikipédia (2011). Segundo Acot (2001), desde finais do sé- culo XIX, as relações entre técnica e ciência, em numerosas áreas de conhecimento, parecem ter se invertido. Assim, todas as tecnologias liga- das à eletrônica, incluindo a dos lasers e da óti- ca eletrônica, tornaram-se possíveis graças ao nascimento e aos progressos da física quântica, cujos fundamentos foram lançados pelo físico alemão Max Planck (1858-1947), em 1900. Como princípio, o microscópio eletrônico utiliza as pro- priedades ondulatórias dos elétrons acelerados; a retaguarda teórica dessa utilização é formada pelos trabalhos de Max Planck e de Louis de Bro- glie (1892-1987). De maneira comparável, não há hoje ne- nhuma área da indústria nuclear, seja ela civil ou militar, que não tenha derivado, e isso sem o intermédio de uma técnica que a tivesse ante- cedido, da teoria atômica, desenvolvida desde o início do século. Esta foi, inicialmente, marcada pelos trabalhos de Ernest Rutherford (1871-1937) sobre a estrutura do núcleo atômico. A física atô- mica encontra-se intimamente ligada à mecâni- ca quântica desenvolvida por Niels Bohr (1855- 1962), Werner Heisenber, Paul Dirac (1902-1984), Erwin Schrödinger (1887-1961), Max Born (1882- 1970) e Louis de Broglie. A identidade tecnológica do século XX – eletrônica e nuclear – está ligada aos progressos estritamente teóricos na sua ori- gem (ACOT, 2001). No entanto, a separação entre as ciências e as técnicas parece diminuir. Existem já áreas de conhecimento em que se torna difícil traçar uma fronteira; por exemplo, como qualificar o aperfei- çoamento das técnicas de recorte enzimático de sequência do DNA? As biotecnologias derivam da ciência ou da tecnologia? A construção da palavra sugere a segunda opção, mas não resultam elas diretamente da genética molecular? Patrícia Albano Maia Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 22 Se, no início, a técnica é que fez progredir a ciência, a partir da revolução científica da época moderna, os dois tipos de conhecimento passa- ram a se ajudar mutuamente. Exemplos como os que foram dados ante- riormente existem muitos, mas o objetivo deste capítulo não foi fazer uma história edificante da técnica. Queremos aqui, além de enfatizar a dis- tinção entre ciência e técnica, lembrar que uma história da técnica com abordagem cultural aju- dará a entender melhor algumas sociedades do passado. Porém nosso interesse maior foi apre- sentar, em termos teóricos, a relação entre a his- tória da técnica e a da ciência. 3.3 Resumo do Capítulo Caro(a) aluno(a), neste capítulo, você conheceu as diferenças entre a ciência e a técnica. A primeira é um saber prático, que compreende um conjunto de operações que satisfazem determinadas necessi- dades. Já a ciência é um saber teórico. Cabe ressaltar que, apesar das diferentes concepções, o limiar entre essas duas áreas é muito sutil, pois temos que considerar que a técnica colabora para o desenvolvimento da ciência. Qual seria, então, o papel do historiador da ciência e da técnica? Podemos destacar que um deles é compreender o contexto em que surgiram as técnicas e de que modo foram assimiladas, tanto pelo mundo científico quanto pelos homens que não fazem ciência, mas se beneficiam dela. 3.4 Atividades Propostas Para finalizar este capítulo, vamos avaliar sua aprendizagem. Responda às questões a seguir: 1. Ciência e técnica são a mesma coisa? Defina cada um dos termos. 2. Qual é o objetivo comum da História da Ciência e da História da Técnica? Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 23 INTERcÂMBIOS cIENTÍFIcOS4 Caro(a) aluno(a), O objetivo deste capítulo é apresentar al- guns exemplos de conhecimentos científicos e de técnica produzidos desde a Antiguidade até a época moderna. Buscaremos mostrar o conheci- mento científico como um processo contínuo e, também, desconstruiremos algumas imagens ou interpretações que são comumente difundidas na educação básica. 4.1 A Ciência na Antiguidade Veremos, nesta parte, alguns casos de co- nhecimento científico e alguns exemplos de téc- nicas utilizadas durante a Antiguidade. Para que ocorra a produção de um conheci- mento científico, é necessário que quem o produz tenha uma imaginação criadora, misturada com uma grande disciplina, que seja observador para criar um corpo consistente de observações com- provadas. O conhecimento científico não é ape- nas coleta de fatos, embora isso seja importante. O saber científico é formado por um sistema de correlações lógicas dos fatos, que juntos consoli- dam uma hipótese ou o corpo de uma teoria. Difícil estudar a História da Ciência sem se defrontar com a magia. A magia foi um modo le- gítimo de expressar uma síntese do mundo natu- ral e da relação deste com o homem. Por exem- plo, em uma sociedade primitiva, quando o mago se propõe a provocar chuva por meios artificiais, ele mostra sua compreensão da ligação da chuva e das plantas. Nessa relação que ele faz, existe a ideia de que, para a sobrevivência dos homens, é necessário controlar as forças da natureza e colo- cá-las a seu dispor. Nas sociedades primitivas, a magia expri- miu, de modo geral, uma visão anímica da nature- za. O mundo era povoado e controlado por espíri- tos e forças espirituais ocultas, que habitavam os animais, as árvores, o mar, o vento etc. A função do mago era submeter essas forças ao seu obje- tivo, ou seja, convencer os espíritos a colaborar com a sobrevivência dos humanos. O Mago fazia invocações, lançava feitiços e preparava poções, pois enxergava um mundo de afinidades e soli- dariedade. Segundo Colin A. Ronan (2001, p. 13), quando se pensava que o mundo era construído de afinidades, dominado por espíritos e forças anímicas, o ponto de vista mágico era um meio apropriado de correlacionar os fenômenos do mundo natural. Mas com o desenvolvimento da sociedade no Antigo Oriente Médio, um interesse pelos detalhes dos fenômenos AtençãoAtenção Magia não é ciência. A magia é uma das formas pela qual os homens se valem para tentar explicar a relação do mundo natural com o ser humano. Patrícia Albano Maia Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 24 naturais deu origem a uma forma de co- nhecimento mais sólida. Enquanto isso, a magia foi sendo lentamente rebaixa- da: suas qualidades místicas foram mal empregadas para fins particulares, dan- do origem à feitiçaria, ou para interesse público, criando uma poderosa casta sacerdotal capaz de dominar os ignoran- tes e crédulos. Essa degradação, por sua vez, levou os filósofos da antiga Grécia a adotarem uma orientação total contrária à magia. Assim, eles criaram a atitude de pensamento que permaneceu central na cultura científica ocidental. Ainda segundo o autor, no Egito antigo, os sacerdotes obtinham poder por meio da sua função de guardiães do conhecimento científi- co. Este estava fortemente ligado ao calendário e ao ano agrícola, sendo assim esse conhecimen- to conferia poder sobre a população, através de regulamentos e controles. Desse modo, alguns ramos do conhecimento científico,como a astro- nomia, eram considerados segredos de Estado, guardados a sete chaves. Possuir esse conheci- mento dava distinção social. Os egípcios antigos tinham pouco interesse pela filosofia e possuíam um gosto todo especial pelo aspecto prático, ou seja, pela técnica. Um bom exemplo desse interesse prático é a astrono- mia. Para eles, a astronomia era a base necessária para a marcação do tempo, pois estavam muito preocupados com o cálculo do tempo. Talvez esse interesse se devesse à administração eficiente, preocupada com acontecimentos previstos ante- cipadamente, ou com tributos devidos em tem- pos específicos. Qualquer que fosse a razão, os astrônomos egípcios não estavam preocupados com teorias a respeito do Sol e da Lua, nem com qualquer ideia sobre o movimento dos planetas, embora soubessem que os planetas se movimen- tavam entre as estrelas fixas. Segundo Ronan (2001), para os astrônomos do antigo Egito, o céu servia para a determina- ção do tempo. As constelações eram usadas para marcar o movimento do Sol no céu durante o ano. Eles organizaram um calendário satisfatório, embora astronomicamente não sofisticado; con- tudo, era o calendário civil mais desenvolvido dos tempos antigos. Figura 3 – Calendário egípcio. Fonte: Wikipédia (2011). Desde cedo, os sacerdotes astrônomos do Egito antigo perceberam que a inundação do Nilo coincidia com o aparecimento de Sirius no hori- zonte oriental; passaram a chamar esse momento de “o iniciador do ano”. O calendário civil foi a ele associado e tinha 12 meses, com 29 ou 30 dias. Quando o país começou a ter um sistema admi- nistrativo mais rigoroso, houve a necessidade de criar um calendário mais preciso, que passou a ser baseado nas estações do ano. Calcularam o ano como sendo o período entre um solstício de ve- rão e o seguinte. Já na Mesopotâmia, os sumérios1 inven- taram a escrita, de grande importância para o desenvolvimento da ciência abstrata e para a sua difusão. Os sumérios talvez tenham sido os DicionárioDicionário Solstício de verão: o dia mais longo do ano. 1 Sumérios: povo de origem desconhecida que se fixou na região da Baixa Mesopotâmia, entre 3.200 e 2800 a. C. História da Ciência e da Técnica Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 25 primeiros a divisar o desenvolvimento da lingua- gem, criando sinais especiais. A escrita era feita em plaquetas de barro. O mais antigo desses re- gistros parece ter sido iniciado por sacerdotes, an- tes do ano 3.000 a.C., com a finalidade de preparar o registro do estoque de grãos e outros produtos armazenados nos templos. Provavelmente, fize- ram alguma forma de representação pictográfica, como, por exemplo, uma espiga para representar o trigo, cabeças de bois para representar o gado. Temos a seguir um exemplo da escrita su- méria feita em uma plaqueta de barro. Figura 4 – Lista de deuses feita pelos sumérios, a partir de escrita cuneiforme, do século 24 a.C. Mais um exemplo de conhecimento cien- tífico produzido durante a Antiguidade é do es- tudo sobre as cônicas. Apolônio foi um dos inte- grantes da escola de matemática de Alexandria. Ele é lembrado como autor do livro Sobre as cô- nicas, um estudo das curvas obtidas quando se corta um cone para produzir a elipse, a parábola e a hipérbole. Na época moderna, vários outros estudos feitos pela escola de matemática de Ale- xandria foram de fundamental importância para Kepler e Newton estudarem/teorizarem sobre as órbitas dos planetas. No século III a.C., o progres- so de Apolônio foi ter gerado todas as curvas por meio do duplo cone circular oblíquo; esta era uma nova concepção, possibilitando à matemática ser um modo de conhecimento mais geral. Em suma, ele lançou os princípios de um tema que viria a ter grande importância para os matemáticos da Europa no século XVIII. Os três exemplos citados mostram que o conhecimento científico era um trabalho coletivo não só no momento em que estava sendo gera- do, mas também no tempo. Apolônio era um dos integrantes da escola de matemática da Alexan- dria; isso quer dizer que, com ele, existiam outros estudiosos pesquisando, fazendo experiências e criando teorias que ajudassem a compreender melhor o mundo. Os sacerdotes sumérios que inventaram a escrita precisaram que todos os sacerdotes do templo ou um grupo deles se de- dicassem a criar alguma forma de registro que ajudasse a controlar os produtos que estocavam. Dessa necessidade específica, a escrita espalhou- -se para outros setores da sociedade suméria e desta para outras sociedades, que foram intro- duzindo mudanças na forma dos registros até chegarmos à representação fonética usada hoje pelas sociedades ocidentais. A escrita foi se trans- formando de sociedade para sociedade, de épo- ca para época; ela não precisou ser inventada por todas as sociedades, ela simplesmente foi sendo adaptada conforme as necessidades. Isso mos- tra como o conhecimento científico ultrapassa fronteiras e perpassa várias épocas. Sem dúvida nenhuma, este é um dos grandes exemplos de trabalho coletivo na produção do conhecimento científico. Não podemos nos esquecer de que a escrita é uma das grandes responsáveis pela difu- são do conhecimento científico. Patrícia Albano Maia Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 26 4.2 A Ciência na Idade Média Falaremos, neste item, a respeito da produ- ção científica durante a Idade Média. Por meio dele, desmistificaremos a imagem que foi cons- truída a respeito da Idade Média com sendo a idade das trevas, ou seja, que durante seus 1.000 anos não teria se produzido conhecimento na Eu- ropa, que durante todo esse período a população europeia teria se dedicado apenas à questão reli- giosa. Durante a Idade Média, ao menos duas cor- rentes de intelectuais disputavam qual delas dita- ria a atitude da nova religião em relação à ciência. Um grupo defendia que todos os estudos secu- lares deveriam ser deixados de lado e que toda a atenção deveria ficar concentrada no tema da sal- vação da alma. O outro grupo dizia que, se Deus fez o mundo e viu que estava bom, então estudar seu trabalho através da ciência só poderia provo- car uma sensação de esplendor diante de tão di- vina sabedoria. Estudar essa obra de Deus só po- deria trazer aumento da consciência em relação à onipotência e à sabedoria de Deus. Ao contrário do que normalmente se ensina na escola, a Idade Média foi uma época produtora de conhecimento científico. O debate sobre qual deveria ser o procedimento da religião católica frente à ciência foi muito intenso. A maioria dos homens que se dedicou à produção do conhecimento científico durante a Idade Média pertencia à Igreja católica, provavel- mente porque a população laica estava compro- metida com a própria sobrevivência, não tendo tempo, portanto, nem para se dedicar ao estudo de maneira geral, nem para se dedicar à produção de ciência. Durante essa época, o conhecimento cientí- fico desenvolveu-se em todos os ramos de saber conhecidos, porém desenvolveram-se mais as ciências ligadas ao lado prático da vida cotidiana, como a medicina, a engenharia naval e a astrono- mia. O encontro de culturas proporcionado pe- las Cruzadas propiciou ainda mais o desenvolvi- mento da ciência, pois o encontro ocorrido entre o mundo árabe e o europeu colocou em conta- to culturas distintas. Esse encontro provocará questionamentos por parte de filósofos e cientis- tas, tanto a respeito de suas respectivas práticas quanto a respeito do que era feito pelo outro. Além do encontro cultural provocado pelas Cruzadas, o surgimento das Universidades deu um grande impulso à pesquisa científica medie- val. Essas instituições dedicavam-se ao ensino e à pesquisa, ou seja, produziam novos conhecimen- tos e não eram apenas meras reprodutoras dos ensinamentos da Antiguidade clássica e da Bíblia. Vejamos, a seguir, alguns homens que se dedica- ram ao conhecimento científico durante a Idade Média. Um dos principais defensores de estudos quese dedicassem a conhecer melhor o mundo criado por Deus foi Santo Agostinho; ele acredita- va que, quanto mais se conhecesse o mundo cria- do por Deus, melhor se poderia servir a ele. Outro intelectual que defendia a mesma posição era Santo Tomás de Aquino. Além desses dois famo- sos teólogos, encontramos também Alberto Mag- no, Robert Grossetest, Roger Banco, Duns Scot, Jean Buridan, Willian de Occan, Nicole d’Oresme e outros. Você deve estar pensando que, para 1.000 anos, a lista de cientistas até que é pequena. Di- gamos que você pode até ter razão, mas ela serve para mostrar que, durante a Idade Média, hou- ve sim produção de conhecimento científico. A Assista ao filme O nome da Rosa. Direção de Je- an-Jacques Annaud. Alemanha, 1986. 130 min. MultimídiaMultimídia História da Ciência e da Técnica Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 27 maioria desses homens foi professor universitá- rio; isso quer dizer que eles difundiram suas pes- quisas e concepções de mundo. As universidades medievais foram grandes centros de debates e in- tercâmbio de conhecimento científico. Era muito comum o professor de uma universidade passar algum tempo dando aula em uma universidade diferente da que ele fazia parte; isso deu uma di- nâmica grande à circulação do saber científico, principalmente antes da invenção da imprensa com tipos móveis. Aliás, esta é também uma das grandes responsáveis pela divulgação do conhe- cimento científico desde então. 4.3 A Ciência na Idade Moderna Caro(a) aluno(a), Neste item, você verá a produção científica do período compreendido entre o final da Idade Média (Renascimento) e a época moderna pro- priamente dita. Não há um consenso entre os historiadores sobre a data de início e fim do renascimento cul- tural da época moderna. O recorte cronológico mais aceito é o que compreende o final do século XIII até meados do século XVII. O renascimento cultural engloba modifica- ções nas artes e na ciência. Durante esse período, foram criados vários instrumentos científicos, que provocaram novas descobertas científicas. Na pintura, descobriu-se a forma de pintar usando- -se a técnica da perspectiva, o que conferiu um maior naturalismo às cenas retratadas. O racionalismo característico do Renasci- mento fez com que essa época conhecesse um fenomenal desenvolvimento científico. O grande artista Leonardo da Vinci descobriu como prova- velmente deveriam funcionar máquinas como o helicóptero, o submarino, o moinho de vento, a roda d’água etc. Por meio do racionalismo e do experimen- talismo, o renascimento científico criou uma nova abordagem do conhecimento humano, provo- cando uma série de questionamentos, entre eles, o geocentrismo. Figura 5 – Modelo da teoria geocêntrica. Ptolomeu (85-165) foi o último grande as- trônomo da Antiguidade. Credita-se a ele a re- presentação geométrica do sistema solar geo- cêntrico. Ele aprofundou o modelo proposto por Aristóteles e criou a Teoria Geocêntrica, que afir- mava em seu modelo que a Terra era o centro do Universo e que o Sol e os demais planetas orbita- vam à sua volta, conforme você pode verificar na Figura 5. Durante o Renascimento científico, época de grandes transformações, Copérnico retoma uma explicação de sistema planetário que era distinta da de Ptolomeu. Aristarco de Samos acre- ditava que era o Sol e não a Terra que ocupava o centro do Universo. Como você sabe, passaram- -se muitos anos até que a teoria de Aristarco fosse demonstrada. Copérnico, em seu livro Sobre a re- volução das órbitas celestes, expôs a teoria de Aris- tarco. Galileu tinha a mesma interpretação que Aristarco e Copérnico: o geocentrismo, e conse- guiu provar que a Teoria Geocêntrica estava erra- da valendo-se da sua invenção (a luneta de Gali- Patrícia Albano Maia Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 28 leu), mas sua equação matemática ainda estava errada. Foi Kepler quem conseguiu provar que a trajetória seguida pelos planetas ao girarem em torno do Sol era elíptica e não circular como afir- mavam os outros astrônomos. Figura 6 – Modelo heliocêntrico de Copérnico e Galileu. A seguir, você verá o modelo correto da Teoria Heliocêntrica demonstrada por Kepler, que, assim como Galileu, também foi professor de matemática em universidade. Figura 7 – Modelo da teoria heliocêntrica. Fonte: http://www.dannybia.com/danny/pens/johannes_kepler.htm. A medicina foi outra área do conhecimento que sofreu várias modificações em seus modelos explicativos a partir do Renascimento científico. Paracelso defendia que cada região do mundo ti- nha suas próprias doenças e que a cura para elas estava na natureza, principalmente nas plantas dessas mesmas regiões. Andreas Vesálios, no sé- culo XVI, escreveu o primeiro atlas da anatomia humana, o De Humani Corporis Fabrica (1563); fez seus estudos a partir de corpos de cadáveres. As- sim como Kepler e Galileu, também foi professor universitário. A partir dos estudos de Vesálios que começaram a ter mais informações e pesquisas sobre o funcionamento do corpo humano. Em seu atlas do corpo humano, encontramos vários desenhos mostrando como é o corpo humano. História da Ciência e da Técnica Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 29 Vesálios conseguiu produzir essa obra porque fez várias dissecações de cadáveres, prática que não era usual na época. Figura 8 – Desenhos de Vesálios. Fonte: http://www.microsiervos.com/archivo/ciencia/dibujos-anatomicos-andres-vesalio.html. Outro nome que merece destaque nos es- tudos de Medicina na época moderna é Miguel de Servet, que descobriu a pequena circulação do sangue. É interessante conhecer o motivo de seu interesse pela circulação pulmonar. Segundo Roy Porter (2006), está escrito na Bíblia que “a alma da carne é o sangue” (Lev. 17.11) e que “o sangue é a vida” (Deut. 12.23). No livro dos Salmos (104.29), por sua vez, a importância da respiração para a manutenção da vida é ressaltada nas seguintes palavras: “se lhes tira a respiração, morrem, e vol- tam para o seu pó”. Esses trechos bíblicos levaram Servet a estudar a circulação pulmonar, na qual o sangue e o ar se misturam, pois, no seu entender, o conhecimento da circulação pulmonar condu- ziria a uma melhor compreensão da natureza da alma. Sua descrição da circulação pulmonar está assim na sua obra Christianismi restitutio: A força vital provém da mistura, nos pul- mões, do ar aspirado e do sangue que flui do ventrículo direito ao esquerdo. Toda- via, o fluxo do sangue não se dá, como geralmente se crê, através do septo inter- ventricular. O sangue flui por um longo conduto através dos pulmões, onde a sua cor se torna mais clara, passando da veia que se parece a uma artéria, a uma artéria parecida com uma veia. (apud PORTO et al., 1991, p. 43). Figura 9 – Desenho de circulação sanguínea segun- do Miguel de Servet. Fonte: http://www.xtimeline.com/evt/view.aspx?id=313596. Outro nome muito lembrado quando se fala de ciência na época moderna é Leonardo da Vinci. Como você já sabe, ele foi um homem que se dedicou a várias áreas do saber. A seguir, vere- mos algumas imagens de trabalhos científicos de Patrícia Albano Maia Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 30 Da Vinci. Na primeira imagem, vemos um estudo que fez sobre os embriões. Ele acompanhou di- versas dissecações de cadáveres e, a partir dessa sua experiência, fez vários desenhos que tenta- vam explicar o funcionamento do corpo humano. Nessa sequência de desenhos sobre a for- mação do feto humano, você pode perceber que Leonardo da Vinci retrata com acerto a posição do embrião. Figura 10 – Estudos de embriões (1510-1513). Fonte: http://www.triada.com.br/cultura/historia/aq180-245- 1013 -1-os-varios-talentos-de-da-vinci.html. A seguir, você vê desenhos de Da Vinci so- bre o esqueleto humano. Repare na precisão e na riqueza de detalhes que ele colocou em sua ilustração. Até hoje, esses desenhos são muito respeitados por anatomistas. Alguns historiado-res da cultura acreditam que Da Vinci participava de dissecações de cadáveres e fazia desenhos do que via durante essa prática para que sua produ- ção artística ficasse o mais próxima possível da realidade. Figura 11 – Desenho de esqueleto humano feito por Leonardo da Vinci. Fonte: http://www.triada.com.br/cultura/historia/aq180-245- 1013 -7-os-varios-talentos-de-da-vinci.html. Entre as obras consideradas científicas de Leonardo da Vinci, temos aquelas que são ligadas às máquinas. Veja, a seguir, o desenho da precur- sora da metralhadora. Repare que é uma máqui- na móvel, que é alimentada pela culatra e dispara uma sequência de tiro de uma só vez. Figura 12 – Desenho de uma máquina que dá tiros. Fonte: http://www.triada.com.br/cultura/historia/aq180-245- 1013 -8-os-varios-talentos-de-da-vinci.html. História da Ciência e da Técnica Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 31 Nas duas últimas imagens, você vê outras invenções de Da Vinci. A primeira seria uma es- pécie de helicóptero; essa máquina não chegou a ser construída na época de Da Vinci e é compos- ta por uma hélice em espiral de linho engomado. A segunda é um protótipo de asa delta. Ao que tudo indica, ele se inspirou nas asas de um mor- cego para criar essa máquina, que se movia por meio de alavancas e manivelas e podia ser susten- tada no ar. Figura 13 – Modelos de máquinas voadoras planeja- dos por Leonardo. Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Leonardo_da_Vinci. Todos os exemplos que citamos estão inse- ridos no chamado renascimento científico ou re- volução científica da época moderna e não foram aqui colocados com o propósito de se construir uma História da Ciência edificante, mas com o objetivo de mostrar que esses homens trocavam informações entre si, frequentavam o univer- so universitário e tiveram acesso aos meios e às oportunidades para realizar suas obras científicas. Essas só se proliferaram tanto nessa época porque havia um grupo de pessoas interessadas em pro- duzir e consumir esse tipo de conhecimento. Esse conhecimento não foi gerado apenas por gênios; foi gerado porque havia uma comunidade pro- duzindo e discutindo matéria científica, seja por interesse prático, seja por interesse religioso, seja por curiosidade, seja para entender melhor a obra criada por Deus ao explicar a natureza. Não se es- queça de que, durante a época moderna, ainda não havia a distinção entre ciência e religião que nós fazemos hoje. Na História da Ciência, revolução científica é o período que se dá a partir de quando Galileu, Kepler, entre outros pensadores do século XVII, iniciaram suas descobertas. A partir desse perío- do, a Ciência, que até então estava atrelada à Fi- losofia, separa-se desta e passa a ser um conhe- cimento mais estruturado e prático, misturando ainda o que é ciência e o que é técnica. 4.4 Resumo do Capítulo Prezado(a) aluno(a), neste capítulo, você viu diferentes exemplos de conhecimentos científicos e de técnica produzidos desde a Antiguidade até a época moderna. A partir desses exemplos, demonstra- mos que o conhecimento científico é resultado de um processo contínuo. Ao longo do capítulo, destacamos que, ao contrário do que normalmente se ensina na escola, a Idade Média foi uma época produtora de conhecimento científico. Essa visão sobre esse período foi for- temente influenciada pelo Iluminismo, que enfatizava que a Idade Média era uma época em que a popu- lação vivia envolta nas trevas. Por fim, cabe destacarmos que a produção científica é um processo coletivo e, portanto, são neces- sárias condições para que exista diálogo entre os sujeitos que se dedicam a essa atividade. Patrícia Albano Maia Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 32 4.5 Atividades Propostas Caro(a) aluno(a), vamos, agora, avaliar seu aprendizado? Responda às questões a seguir: 1. Por que foi difícil convencer os homens da Época Moderna de que suas concepções sobre a astronomia estavam equivocadas? 2. Você concorda com a afirmação que diz que o conhecimento científico é um processo contí- nuo e coletivo? Justifique sua resposta. Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 33 Prezado(a) aluno(a), Com este material, pretendemos apresentar a História da Ciência, mostrando como hoje está pro- duzindo um conhecimento muito distante daquele que produzia no momento da Revolução Científica, até os anos 1970. Os exemplos que demos visam a mostrar que o conhecimento científico é um trabalho contínuo e coletivo e não fruto único e exclusivo de gênios. Entendemos que a História da Ciência deve relacionar o conhecimento científico com o contexto que o produziu ou com o contexto de quem está enaltecendo ou fazendo crítica a um determinado saber científico. Não achamos que a História de Ciên- cia deve contar apenas os exemplos bem-sucedidos dos trabalhos e experimentos científicos; acredita- mos que todo o processo de produção científica deve ser analisado. Esperamos ter colaborado com seu crescimento e lembramos que mais informações a respeito do assunto você poderá obter lendo as obras indicadas nas Referências. cONSIDERAÇõES FINAIS5 Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 35 Caro(a) aluno(a), A seguir, você lerá as sugestões de respostas para as atividades propostas ao final de cada capítulo. CAPÍTULO 1 1. Fique atento(a), pois foi a partir da década de 1970 que grande parte dos historiadores da História da Ciência incorporou os métodos do historiador para produzir o seu discurso. Isso fez com que a História da Ciência passasse a relacionar o seu objeto com a sociedade na qual ele estava inserido, tratando, desse modo, o seu objeto como uma produção sociocultural, ou seja, a ciência deixou de ser vista como algo produzido fora da sociedade, deixou de ser vista como algo realizado por gênios que ficam trancafiados em seus gabinetes e laboratórios e não se relacionam com a sociedade. A essa modificação no modo de se produzir damos o nome Crise da História da Ciência. 2. Observe com atenção: damos o nome Revolução Científica ao período compreendido a partir de quando Galileu, Kepler, entre outros pensadores do século XVII, iniciam suas descobertas. A partir desse período, a Ciência, que até então estava atrelada à Filosofia, separa-se desta e passa a ser um conhecimento mais estruturado e prático, misturando ainda o que é ciência e o que é técnica. CAPÍTULO 2 1. Sim, o que faz a História da Ciência ser um trabalho de História Cultural é a abordagem que o historiador dá ao seu objeto, ou seja, se o historiador considerar Ciência um conhecimento que só pode ser compreendido por meio da sociedade que o produziu, este será um trabalho de História Cultural. 2. Sim, principalmente com o objetivo de ensinar aos jovens pesquisadores das diversas áreas do conhecimento os caminhos trilhados por um determinado ramo do conhecimento, desde a sua criação até os dias de hoje. RESPOSTAS cOMENTADAS DAS ATIVIDADES PROPOSTAS Patrícia Albano Maia Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 36 CAPÍTULO 3 1. Observe que, apesar de o senso comum entender que Ciência e Técnica têm o mesmo signifi- cado, demonstramos durante a disciplina que não são a mesma coisa. Ciência é um conheci- mento teórico, enquanto técnica é um conhecimento prático. 2. Hoje, o objetivo do historiador de ciência e do historiador da técnica é compreender o contex- to em que surgiram as teorias científicas e as técnicas. A partir desse entendimento, eles bus- cam compreender de que modo foram assimiladas as teorias científicas e as técnicas, tanto no âmbito do mundo científico quanto no universo dos homens que não fazem ciência nem produzem técnica, mas que se beneficiam delas. CAPÍTULO 4 1. Observe com atenção, porque se trata de uma questão cultural e não técnica. É muito difícil e leva muito tempo mudar a cultura de um indivíduo. Por mais que experimentos astronômicos e equações matemáticas provassem que era a Terra que girava em torno do Sol e não o con- trário, era difícil que os
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