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Aula 8 - Liberalismo e democracia na contemporaneidade em Habermas

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01/10/2020 Disciplina Portal
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Filoso�a Jurídica
Aula 8 - Liberalismo e democracia na
contemporaneidade em Habermas
INTRODUÇÃO
Nesta aula, abordaremos os pressupostos básicos da �loso�a moral social democrática de Jürgen Habermas.
Trataremos dos pontos principais de sua ética discursiva, da forma e da função do direito moderno: o direito como
mecanismo de integração social, as características que legitimam o direito como integrador social, a legitimidade como
fundamento da validade normativa, a legitimidade e a moral.
Teremos a oportunidade de estudar um pouco mais a respeito dos direitos humanos e de como Habermas o relaciona
com a Soberania Popular: a colocação do problema.
De igual modo veremos que o autor irá se posicionar em relação ao problema dos direitos humanos e à autonomia, tanto
privada quanto em nível público, quando aborda a Soberania Popular.
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Assim, tendo como base o livro texto do professor Marcelo Lima disponível no ambiente virtual do SAVA,  conheceremos
a relação interna como solução habermasiana, as formas argumentativas do direito ou as racionalidades aplicáveis ao
direito.
OBJETIVOS
Identi�car a ética discursiva habermasiana, a forma e a função do direito moderno (o direito como mecanismo de
integração social).
Descrever as formas argumentativas do direito ou as racionalidades aplicáveis ao direito.
Explicar a legitimidade como fundamento da validade normativa, a legitimidade e a moral e as relações possíveis com os
direitos humanos.
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JÜRGEN HABERMAS
Jürgen Habermas faz parte, junto com Otto Apel, dos �lósofos contemporâneos que defendem a chamada “ética do
discurso”, surgida no século XX, dentro da �loso�a alemã do pós-Segunda Guerra.
Naquela época, acontecia uma destruição paulatina da visão de mundo a partir da religião que a sociedade em geral
partilhava. Além disso, vivia-se a passagem do que �cou denominado como “transição das sociedades tradicionais” para
as “pós-tradicionais”.
Assim, faltava fundamentar a base sobre a qual os sujeitos contemporâneos reais buscavam justi�car suas ações morais
e suas decisões.
O discurso e o agir comunicativo na ética de Habermas foram desenvolvidos a partir de sua obra intitulada Consciência
moral e agir comunicativo.
Nessa obra, o autor desenvolve sua teoria, a partir do
discurso e do consenso desenvolvidos pela comunicação,
caracterizado como uma ética deontológica, cognitiva, foral
e universal.
CARACTERÍSTICAS DA ÉTICA DO DISCURSO
COGNITIVISTA
A moral é um saber racional apoiado em argumentos e não uma expressão de emoções, interesses e preferências
meramente individuais.
DEONTOLÓGICA
Moral concebida a partir de normas obrigatórias que impõem deveres (neokantiano), e não em termos de
aspirações pessoais, valores sociais ou considerações de utilidade.
FORMALISTA
Não apresenta normas para ação moral, mas um procedimento (discurso moral) para que os próprios afetados
determinem essas normas.
UNIVERSALISTA
Não externa  as intuições de uma dada cultura ou época, mas pretende valer para qualquer sujeito racional e livre.
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AGIR COMUNICATIVO
O autor diverge dos autores pós-modernistas (Lyotard, por exemplo), pois espera que conceitos de justiça ou liberdade
possam ser aplicados globalmente ou em uma dada sociedade, desde que sejam devidamente incorporados em
instituições solidamente democráticas.
O instrumento para a busca desse projeto do Iluminismo (esclarecimento) seria a ação comunicativa ou o agir
comunicativo, cuja força coercitiva e legítima é o direito.
O agir comunicativo nasce na tentativa de fundamentar a ética a partir do discurso, levando em consideração a
comunicação entre os sujeitos. Assim, a ética pautada no agir comunicativo busca a legitimidade das normas morais na
intersubjetiva (HABERMAS, 2003).
Todavia, para isso, Habermas (1989, p. 79) esclarece o signi�cado fundamental de interação comunicativa como:
“Chamo comunicativa as interações nas quais as pessoas envolvidas se põem de acordo
para ordenar seus planos de ação, o acordo alcançado em cada caso medindo-se pelo
reconhecimento intersubjetivo das pretensões de validez”.
A ideia fundamental do agir comunicativo é norteada pela interação entre os interlocutores dando oportunidades para que
a ação seja exercida por todos sem que haja repreensão.
Fonte: Rawpixel.com / Shutterstock
Diante disso, só se alcança a validez das normas se houver um consenso entre os interlocutores. E esse consenso surge
como a ação comunicativa de maneira racional exercida por todos aqueles que fazem parte da comunidade.
Com isso, a validez nasce da discussão (essa por sua vez irá justi�car os argumentos) e da ação elaborada pelos
participantes (SANTOS, 2007).
O agir comunicativo vai dar possibilidades à existência da validade das normas dentro da comunidade e possibilitar uma
ética ligada à linguagem. Por isso, a ética se torna dependente da linguagem, pois somente diante da linguagem
coordenada que se compreende e se chega ao entendimento mútuo.
Contudo, não é qualquer discurso que se torna válido e nem muito menos qualquer participação por parte dos falantes. Já
que toda ação deve ser coordenada e exercida racionalmente (SANTOS, 2007).
AGIR COMUNICATIVO X AGIR ESTRATÉGICO
Em relação à maneira como deve ser apreendida a ação exercida sobre as questões normativas, Habermas (1989, p. 79)
esclarece e faz a distinção entre o agir comunicativo e o agir estratégico.
Agir estratégico
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Que um falante possa motivar racionalmente um ouvinte à aceitação de semelhança não se explica pela validade do que é
dito, mas, sim, pela garantia assumida pelo falante, tendo um efeito de coordenação, de que se esforçará, se necessário,
para resgatar a pretensão erguida (HABERMAS, 2003).
Para �ns de entendimento da teoria de Habermas, é preciso fazer a seguinte distinção entre as razões:
OS TRÊS TIPOS DA RAZÃO PRÁTICA
Habermas trabalha com a razão prática, mas a distingue o seu uso em três tipos:
Um atua sobre o outro para ensejar a continuação desejada de uma internação.
Agir comunicativo
Um é motivado racionalmente pelo outro para uma ação de adesão em virtude do efeito de comprometimento que um ato de fala
suscita.
Razão teórica
É o adquirir um saber, cujo propósito é conhecer as coisas no mundo.
Razão prática
É o agir a partir de um saber, cujo propósito é orientar a ação em vista de certos �ns ou em conformidade com
certas regras.
Pragmático
Consiste em, já tendo em vista certos �ns previamente assinalados, encontrar os meios mais adequados para
realizá-los no mundo.
Ético
Consiste em determinar, da perspectiva da primeira pessoa (singular ou plural) para nós mesmos, quem somos
(autocompreensão) e quem queremos ser (autoprojeção) a longo prazo e de modo geral na vida.
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Fonte: senk / Shutterstock
ÉTICA E MORAL
Um comparativo que o �lósofo faz é entre ética e moral:
Adentrando no tema sobre discurso moral, Habermas a�rma que é um discurso em torno de um enunciado moral que se
tenha tornado problemático. Para que seja válido o eventual consenso obtido ao �nal, para que tenha valor racional, são
necessárias certas condições, quais sejam:
DOIS PRINCÍPIOS DE HABERMAS
Moral
Consiste emdeterminar, da perspectiva da terceira pessoa (para todos e qualquer um), quais são os deveres que
os seres livres e racionais têm uns perante os outros, independentemente de suas autocompreensões e
autoprojeções.
Enquanto a ética se ocupa de quem se é e de quem se quer ser a longo prazo e em geral na vida, a moral ocupa-se do que
se deve fazer ou deixar de fazer, com relação aos outros, a �m de tratá-los como seres livres e racionais, merecedores de
respeito.
Racionalidade
Para cada a�rmação feita e problematizada, é preciso oferecer argumentos em sua defesa.
Inteligibilidade
É preciso que ambos os falantes estejam compreendendo da mesma forma e na mesma medida o sentido das
a�rmações e dos argumentos que estão sendo usados.
Sinceridade
É preciso que sejam sinceras as revelações sobre crenças, desejos e necessidades no mundo subjetivo de cada
falante.
Verdade e Correção
É preciso que sejam verdadeiras as a�rmações feitas sobre fatos e leis no mundo objetivo em que os falantes
habitam.
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Além dessas condições, ele também cita dois princípios.
Princípio do Discurso (D)
Princípio do Discurso (D) que diz que são válidas aquelas normas que puderem receber
assentimento de todos os afetados em um discurso racional.
Princípio da Universalização (U)
Princípio da Universalização (U) que diz que só são válidas aquelas normas que puderem
receber o assentimento de todos em um discurso racional, levados em conta todos os
possíveis efeitos de sua observância geral para os interesses de todos os afetados, tanto da
perspectiva de todos como da perspectiva de cada um.
A ação comunicativa implica em diálogo, em crítica e no embate das ideias. Nem sempre será consensual, mas �ndará
alcançando o resultado acordado entre os interlocutores.
Nesse debate, a mediação das instituições do direito — seja como ideal na forma de dever-ser, seja como as regras para o
próprio debate — realizaria um papel vital.
FORMA E FUNÇÃO DO DIREITO MODERNO: O DIREITO COMO
MECANISMO DE INTEGRAÇÃO SOCIAL
O professor Marcelo Lima (2017) nos indica que, segundo Habermas, é possível elencar a forma e a função do direito
moderno no seguinte sentido:
Exatamente por isso Habermas a�rma que o que gera essa integração é o direito:
I
A relação entre direito e moral no âmbito da exigência de legitimidade normativa.
II
A relação interna entre direitos humanos e soberania popular.
III
As razões a que se submete a argumentação jurídica.
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Para Habermas, é o direito que torna possível a integração
de uma sociedade plural (LIMA 2017).
O DIREITO NO AGIR COMUNICATIVO
A teoria de Habermas rebate as teorias positivistas e jusnaturalistas nas quais o direito existe como um sistema
independente, com uma lógica própria.
Semelhante ao Sociologismo Jurídico e à Teoria Tridimensional do direito (Miguel Reale), Habermas dá importância aos
fatores sociais, relevando os fatores de comunicação, no processo e manutenção do ordenamento jurídico.
Utiliza-se para isso a ética de Aristóteles e a dialética de Hegel na discussão da �loso�a do direito por meio da razão
comunicativa. Considera, numa sociedade plural cujos valores se tornaram pouco rígidos, a redução da hegemonia de um
único sistema religioso na maioria das sociedades ocidentais. Então, o direito se revela o principal meio organizador da
vida social.
Não é a economia
(pensemos nos blocos econômicos, cada vez mais presentes no mundo contemporâneo);
Não é a religião
(principalmente em países que adotam a liberdade religiosa);
Não são as administrações
(organizadas em torno de uma grande e complexa burocracia);
Não é a política
(categoria normal para o entendimento na esfera pública);
Não é nem mesmo a comunicação face a face ou o
compartilhamento de valores
(como entenderiam os comunitaristas).
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EM DESTAQUE
Habermas, em sua obra Direito e Democracia (Faktizität und Geltung), menciona dois modelos de democracia os quais ele
pretende superar, conciliando-os:
SAIBA MAIS
, Antes de encerrar seus estudos, leia trechos retirados da excelente tradução do artigo do autor Georg Lohmann intitulado “As
de�nições teóricas de direitos humanos de Jürgen Habermas: o princípio legal e as correções morais
(galeria/aula8/docs/de�nicoes_dh_habermas.pdf)”.
ATIVIDADE
1 - Assista ao vídeo “Habermas – Teoria da Comunicação (glossário)”.
Agora responda, como o autor vê papel da comunicação nas relações de poder na sociedade?
Resposta Correta
2 - Jürgen Habermas, na obra Direito e democracia (Faktizität und Geltung), menciona dois modelos de democracia os
quais ele pretende superar, conciliando-os: o primeiro é o sugerido por I. Kant, mais próximo do liberalismo, centrado na
autonomia do indivíduo; o segundo é o de J-J. Rousseau, mais próximo do republicanismo, centrado na comunidade ética.
O terceiro modelo, proposto por Habermas, consiste:
a) Na síntese entre direito legítimo e opinião pública.
b) Na constituição discursiva de uma vontade geral.
c) No modelo procedimental da política deliberativa.
d) Na salvaguarda institucional do uso público da razão.
Justi�cativa
3 – Leia a trecho a seguir:
A Corte Constitucional deve “entender a si mesma como protetora de um processo legislativo democrático, isto é,
como protetora de um processo de criação democrática do direito, e não como guardiã de uma suposta ordem
suprapositiva de valores substanciais. A função da Corte é velar para que se respeitem os procedimentos
democráticos para uma formação da opinião e da vontade políticas de tipo inclusivo, ou seja, em que todos
possam intervir, sem assumir a mesma o papel de legislador político”. 
(Más Allá del Estado Nacional. Madrid: Trotta, 1997, p. 99)
O trecho citado, acerca da postura de um Tribunal Constitucional durante o seu processo de interpretação da
Constituição, corresponde à obra e concepção:
a) Moral contratual de Locke, com base no direito de resistência.
b) Contratual com base na democracia indireta não participativa rousseauniana.
c) Procedimental de Jürgen Habermas da teoria do discurso.
d) Mista de John Hart Ely de democracia.
e) Procedimental de John Rawls do fórum público de princípios.
http://estacio.webaula.com.br/cursos/gon934/galeria/aula8/docs/definicoes_dh_habermas.pdf
https://www.youtube.com/watch?v=0sTlrcHIA1I
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Justi�cativa
4 - Leia o texto a seguir. (UEL 2011):
Habermas distingue entre racionalidade instrumental e racionalidade comunicativa. A racionalidade comunicativa
ocorre quando os seres humanos recorrem à linguagem com o intuito de alcançar o entendimento não coagido
sobre algo, por exemplo, decidir sobre a maneira correta de agir (ação moral). A racionalidade instrumental, por
sua vez, ocorre quando os seres humanos utilizam as coisas do mundo, ou até mesmo outras pessoas, como meio
para se alcançar um �m (raciocínio meio e �m).
Com base no texto e nos conhecimentos sobre a teoria da ação comunicativa de Habermas, é correto a�rmar que:
a) Contar uma mentira para outra pessoa buscando obter algo que desejamos e que sabemos que não receberíamos se
disséssemos a verdade é um exemplo de racionalidade comunicativa.
b) Realizar um debate entre os alunos de turma da faculdade buscando decidir democraticamente a melhor maneira de arrecadar
fundos para o baile de formatura é um exemplo de racionalidade instrumental.
c) Um adolescente que diz para seu pai que vai dormir na casa de um amigo, mas, na verdade, vai para uma festa com amigos, é
um exemplo de racionalidadecomunicativa.
d) Alguém que decide economizar dinheiro durante vários anos a �m de fazer uma viagem para os Estados Unidos da América é
um exemplo de racionalidade instrumental.
e) Um grupo de amigos que se reúne para decidir democraticamente o que irão fazer com o dinheiro que ganharam em um bolão
da Mega Sena é um exemplo de racionalidade instrumental.
Justi�cativa
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