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TRABALHO sobre contratos em época de pandemia

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RESCISÃO DE CONTRATO EM ÉPOCA DE PANDEMIA – TEORIA DA IMPREVISÃO
-PREÂMBULO
Apesar das incertezas sobre a magnitude dos reflexos da pandemia na sociedade, já é certo os danos causados na economia em virtude do fechamento de comércio (atividades não essenciais), cancelamento de eventos, isolamento domiciliar, entre outros fatores gerados pela “quarentena”. Os impactos econômicos serão imensos para uma boa parte das relações civis, comerciais e de consumo.
-INTRODUÇÃO
E diante dessa nova realidade econômica surgem questionamentos acerca da possibilidade de suspensão, rescisão e/ou revisão contratual. Tal possibilidade dependerá da análise de cada caso, devendo ser observado o que foi convencionado contratualmente como consequência para o inadimplemento das obrigações diante das circunstâncias imprevisíveis e inevitáveis, do reflexo no equilíbrio contratual e do grau do impacto sofrido pelas partes.
 Juntamente com a análise contratual, será preciso avaliar qual a área do direito aplicável ao contrato, por exemplo a lei do inquilinato.
Cada modalidade de obrigação ou contrato pode gerar consequência diferente para as partes.
Como nunca houve no universo jurídico contemporâneo precedentes de uma pandemia dessa magnitude, é natural que existam incertezas em como proceder nas relações contratuais.
-DESENVOLVIMENTO/ DOUTRINA/ JURISPRUDENCIA
Primeiramente as partes devem observar o princípio da colaboração, solidariedade contratual e da boa-fé, para que se tente ao máximo a composição pacífica entre os contratantes, para se evitar o poder judiciário nas relações contratuais.
 
Porém, não sendo possível a composição das partes, devemos seguir algumas normas e princípios aplicáveis para solucionar o assunto.
 
Em demandas específicas, o Poder Público poderá regular obrigações contratuais, como por exemplo,a normatização da restituição das passagens aéreas em até 12 meses (art. 3° da MP 925/2020), como também, a determinação de suspender o corte de serviço de energia elétrica residencial no Estado de São Paulo. Todavia, não devemos esperar que todas as relações contratuais sejam resolvidas por medidas provisórias ou ajustes governamentais.
 
Outro ponto a ser observado é que no contrato uma das partes pode ter assumido o risco de eventual caso fortuito ou força maior, conforme previsto no artigo 393 do Código Civil, o que impediria de invocar essa situação para descumprir ou modificar os termos do contrato.
 
Sendo assim, o primeiro ponto é identificar qual a natureza do contrato, para que se entenda em que medida este contrato está inserido nas atividades econômicas que possam ter sido afetadas por atos governamentais, a saber: (i) se o contrato se inviabilizou por conta da atividade que foi interrompida por ato normativo (p. ex.: locação de lojas em shopping centers), (ii) se o contrato perdeu o interesse ou sofreu restrição decorrente de recomendações governamentais, ainda que a atividade esteja total ou parcialmente operacional (por exemplo: viagem de avião); ou (iii) se o contrato é decorrente de uma atividade essencial não interrompida (contrato de conta corrente, plano de saúde, seguro); ou (iv) contrato continuado (por exemplo: escola, provedor de internet).
 
Para cada situação apresentada, podemos ter soluções jurídicas diferentes no tocante a penalidade ou consequência decorrente da suspensão, rescisão ou revisão do contrato.
 
Sobre a suspensão dos contratos, entendemos que podem ser suspensos os contratos cuja finalidade não tenha propósito no momento ou que não possam ser cumpridos, mas que as partes tenham a intenção de retomar tão logo seja possível. A suspensão depende do ajuste das partes, uma vez que qualquer das partes pode optar pela rescisão contratual, seja pelo mesmo fundamento de força maior, seja por não concordar com as razões da suspensão do contrato.
 
Sobre a rescisão contratual, entendemos que os contratos afetados pela força maior podem ser rescindidos sem aplicação de multa, desde que não haja previsão expressa no contrato de que alguma das partes deve suportar as consequências do contrato mesmo na hipótese de força maior. A consequência de quem pleitear a rescisão contratual sem justo motivo é de suportar as penalidades previstas no contrato, bem como as perdas e danos decorrentes.
 
Sobre a revisão contratual, entendemos ser o ponto mais polêmico, uma vez que precisa ser reconhecida a manutenção do contrato, com a respectiva revisão de algumas de suas obrigações. A  Lei não nos dá solução imediata, mas apresenta princípios que ajudam a solucionar o caso concreto:
 
• Onerosidade excessiva para uma das partes
• Quebra do equilíbrio contractual
• Teoria da imprevisão e a ocorrência de fatos supervenientes
 
Do ponto de vista da onerosidade excessiva, há possibilidade de encerramento ou revisão do valor das prestações contratuais, em virtude de acontecimentos extraordinários e imprevisíveis (art. 478 e 479 CC).
E no tocante ao próprio equilíbrio contratual em conjunto com o princípio da boa-fé objetiva, deve ser verificado se as medidas tomadas pelas partes contratantes, frente ao novo cenário, podem ser consideradas razoáveis. Isso porque muitas vezes os contratos possuem longa duração e os valores e cláusulas são ajustadas sob o ponto de vista momentâneo.
 
No caso da teoria da imprevisão e do fato superveniente, o resultado que pode ser alcançado é, em princípio, a revisão dos valores e multas pré-ajustadas no contrato, com o objetivo de reestabelecer o equilíbrio econômico prejudicado pela pandemia (artigo 317 CC), bem como o juiz pode reduzir a multa que entenda ser muito onerosa (art. 413 CC). 
A teoria da imprevisão decorre da constatação de que o contrato, celebrado para ser respeitado e cumprido, segundo as mesmas condições existentes no momento da celebração, pode ser alterado, excepcionalmente, se ocorrerem fatos supervenientes imprevisíveis que estabeleçam o desequilíbrio entre as partes, onerando sobremaneira uma delas, com proveito indevido da outra. Nesta hipótese, incide a cláusula rebus sic stantibus, mediante a qual se retorna ao estado de equilíbrio anterior, afastando- se qualquer hipótese de supremacia e de vantagem indevida de uma das partes, em desfavor da outra que ficaria prejudicada. Segundo a doutrina de Orlando Gomes, "... quando acontecimentos extraordinários determinam radical alteração no estado de fato contemporâneo à celebração do contrato, acarretando conseqüências imprevisíveis, das quais decorre excessiva onerosidade no cumprimento da obrigação, o vínculo contratual pode ser resolvido ou, a requerimento do prejudicado, o juiz altera o conteúdo do contrato, restaurando o equilíbrio desfeito. Em síntese apertada: ocorrendo anormalidade da álea que todo contrato dependente do futuro encerra, pode-se operar sua resolução ou a redução das prestações" \ Para Cunha Gonçalves, há como que um defeito do ato jurídico (segundo o conceito do Direito Brasileiro): 
"...é tão injusto e imoral aproveitar um contraente, excessivamente, de circunstâncias que para o outro ou para ambos eram imprevisíveis no momento do contrato. (...)” (TJSP; Apelação Com Revisão 9142407-42.2001.8.26.0000; Relator (a): Carvalho Viana; Órgão Julgador: 3ª Câmara (Extinto 1° TAC); Foro de São Caetano do Sul - 1ª. Vara Cível; Data do Julgamento: 19/03/2002; Data de Registro: 15/05/2002).
AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. ARRENDAMENTO MERCANTIL. JUROS REMUNERATÓRIOS. ONEROSIDADE EXCESSIVA. REVISÃO. DIVISÃO EQUITATIVA. 1. A jurisprudência desta Corte é de que os juros remuneratórios cobrados pelas instituições financeiras não sofrem a limitação imposta pelo Decreto nº 22.626/33 (Lei de Usura), a teor do disposto na Súmula nº 596/STF. 2. Consoante jurisprudência desta Corte, a desvalorização súbita da moeda brasileira ocorrida em janeiro de 1999 configura onerosidade excessiva a afetar a capacidade de o consumidor adimplir suas obrigações contratuais, mas, diante da previsibilidade de modificação da política cambial, a significativa valorização do dólar norte-americanodeve ser suportada por ambos os contratantes de forma equitativa. Precedentes. 3. Agravo regimental não provido” (STJ - AgRg no REsp: 716702 RS 2005/0004864-8, Relator: Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, Data de Julgamento: 13/05/2014, T3 - TERCEIRA TURMA, Data de Publicação: DJe 02/06/2014).
O fundamento da Teoria da Imprevisão e da Onerosidade Excessiva está, desse modo e nas precisas palavras de Nelson Rosevald, na necessidade de "atender ao princípio da justiça contratual, que impõe o equilíbrio das prestações nos contratos comutativos, a fim de que os benefícios de cada contratante sejam proporcionais aos seus sacrifícios".
E no tocante ao próprio equilíbrio contratual em conjunto com o princípio da boa-fé objetiva, deve ser verificado se as medidas tomadas pelas partes contratantes, frente ao novo cenário, podem ser consideradas razoáveis. Isso porque muitas vezes os contratos possuem longa duração e os valores e cláusulas são ajustadas sob o ponto de vista momentâneo.
 Entretanto, não basta a existência da pandemia a permitir a suspensão, o encerramento de contratos e/ou a sua revisão sem penalidade ou consequência. Dependerá da análise da natureza do contrato, do real impacto das novas circunstâncias e da capacidade da parte cumprir as suas obrigações.
 
 
-CONCLUSÃO
Tais preceitos podem de certa forma embasar a modificação ou encerramento do contrato, flexibilizando o chamado “pacta sunt servanda” (cumprimento de deveres contratuais entre as partes nos limites da Lei), mas não se trata de regra, quanto mais se analisado sob o aspecto da Lei da Liberdade Econômica (Lei 13.874/2019) que prevê, entre outros fatores, o “princípio da intervenção mínima” e à “excepcionalidade da revisão contratual” (CC, artigo 421, parágrafo único), bem como a determinação de que “a revisão contratual somente ocorrerá de maneira excepcional e limitada” (CC, artigo 421-A, inciso III).
 Em outros cenários de crise, a jurisprudência já reconheceu alguns eventos como fatos imprevisíveis, se baseando na teoria da imprevisão, como quando ocorreu a desvalorização do Real frente ao Dólar (TJSP, nº 0187919-94.2007.8.26.0000), bem como durante a greve dos caminhoneiros em que, por exemplo, a companhia aérea foi exonerada de qualquer responsabilidade pelo cancelamento de voo, por falta de combustível (TSJP, nº 1083583-27.2018.8.26.0100).
 Assim, diante do atual cenário, a possibilidade de suspensão, rescisão ou revisão contratual é possível, porém, dependerá de análise das circunstâncias de cada caso.
BIBLIOGRAFIA
https://raphaelgfaria.jusbrasil.com.br/artigos/830080027/pandemia-de-coronavirus-e-a-revisao-ou-rescisao-do-contrato
http://cepeda.law/blog/suspensao-rescisao-e-revisao-dos-contratos-decorrente-da-calamidade-publica-causada-pelo-covid-19/
ROSENVALD, Nelson. Código civil comentado. Coord.: Cezar Peluso. 7ª ed. Barueri: Manole, 2013, p. 530.
Há uma corrida para as suspensões dos contratos em tempos de pandemia, como há que estamos passando, porém, será que todos os contratos poderão ser suspensos ou rescindidos? E se sim, será que a força maior ou o caso fortuito é a solução para tais problemas? É o que se abordará neste artigo.
Antes de tudo, cumpre destacar o que a doutrina tradicional define como sendo caso fortuito e força maior. Para Álvaro Villaça Azevedo[1] afirma que caso fortuito é o evento da natureza, enquanto a força maior é um fato ligado ao homem. Já a mestre Maria Helena Diniz[2] afirma que força maior é o evento inevitável, como fato da natureza, e o caso fortuito é o imprevisível. Sílvio Rodrigues[3], por sua vez, lembra que pode haver sinonímia. O Prof. Pablo Stolze[4] diz que força maior é o evento inevitável, como fatos da natureza, e o caso fortuito é o imprevisível (sequestro, relâmpago, p.ex.). E o vírus, se enquadraria como sendo força maior ou caso fortuito? Deixamos o leitor em sua meditação.
Pois bem, ao contrato enquanto as condições estabelecidas permanecerem iguais não há razão alguma para modificar. É lícito o rompimento antecipado do contrato (resolução) ou a alteração das suas condições (revisão) em razão da pandemia do Coronavírus? A resposta é sim, pode. Pois por causa da pandemia, estamos enfrentando uma crise sem precedentes. Como fechamento de fronteiras, controle de entrada e saída de pessoas, confinamento obrigatório, suspensão de atividades que aglomeram pessoas, restrições atividades comerciais. Os impactos econômicos são inegáveis. Porém, precisa atender alguns requisitos, como sendo:
· Bilateral, Oneroso e Cumulativo;
· Execução Prolongada, de Trato Sucessivo e de Execução Diferida;
· Existência de fato superveniente, extraordinário e imprevisível (fato este que deve atingir a todos na relação contratual).
Por inexecução involuntária caracteriza-se pela impossibilidade superveniente de cumprimento do contrato. Há de ser objetiva, isto é, não concernir à própria pessoa do devedor, pois deixaria de ser involuntário se de alguma forma este concorre para que a prestação se torne impossível.
Para que haja a possibilidade de rescisão ou revisão contratual, há de ser atingido a base econômica do contrato, pois se não há do que falar nestes institutos.
Será um erro imaginar, no entanto, imaginar que para todos os tipos de contratos, em qualquer situação, será possível revisar ou extinguir os contratos de forma genérica em razão da situação de crise.
Em geral, a impossibilidade temporária acarreta apenas e tão somente a suspensão do contrato. Somente se justifica a resolução, neste caso, se a impossibilidade persistir por tanto tempo que o cumprimento da obrigação deixa de interessar ao credor. Mas quanto tempo? Dependerá do caso em concreto.
O inadimplente não fica, no caso de inexecução involuntária, responsável pelo pagamento de perdas e danos, salvo se expressamente se obrigou a ressarcir os prejuízos resultantes de caso fortuito ou força maior, ou já estiver em mora com o advento do fato extraordinário, superveniente e imprevisível (art. 393 e 399 do Código Civil).
Assim sendo, quando ultrapassado um grau de razoabilidade, que o jogo da livre concorrência tolera, e é atingindo o desequilíbrio do contrato na seara econômica, não pode omitir-se o direito, e deixar que em nome da ordem jurídica e por amor ao princípio da obrigatoriedade do contrato um dos contratantes leve o outro a ruína completa, e extrai para si o máximo benefício. Situado que este desequilíbrio na economia do contrato afeta o próprio conteúdo de juridicidade, entendeu que não deveria permitir a execução do ajuste contratual, quando a força das circunstancias ambientes viesse a criar um estado contrário ao princípio da justiça no contrato. E assim, despertou de seu sono milenar um velho instituto que a desenvoltura individualista havia relegado ao abandono, elaborando então a tese da resolução do contrato em razão da onerosidade excessiva da prestação.
Aqui cabe a nós esclarecer o que é a famigerada cláusula rebus sic stantibus. Consiste resumidamente, em presumir, nos contratos comutativos, uma cláusula que não se lê expressa, mas figura implícita, segundo o qual os contratantes estão adstritos ao seu cumprimento rigoroso, no pressuposto de que as circunstancias ambientais se conservem inalteradas no momento da execução, idênticas às que vigoravam no da celebração.
A discussão sobre a incidência da chamada teoria da imprevisão no direito brasileiro foi em parte resolvida pelo Código de Defesa do Consumidor (Lei nº 8.078/90), que no seu artigo 6º, V, erigiu como princípio da relação de consumo o do equilíbrio econômico do contrato, e explicitou ser direito do consumidor a modificação das cláusulas contratuais que estabeleçam prestações desproporcionais, ou sua revisão em razão de fatos supervenientes que tornem excessivamente onerosas. O Código Civil, por sua vez, equacionou o problema ao disciplinar a resolução por onerosidade excessiva nos seus art. 478 à 480.
Será um erro imaginar que tudo será resolvido pela teoria da imprevisão ou pela teoria da onerosidade excessiva.Os contratantes, ao celebrarem o contrato, tiveram em vista o ambiente econômico contemporâneo e previram razoavelmente para o futuro, o contrato tem de ser cumprido, ainda que não proporcione o beneficio esperado para ambas as partes. Mas, se tiver ocorrido modificação profunda nas condições objetivas contemporânea a execução, em relação às partes envolventes e o objeto na ocasião da celebração, sobrevier circunstâncias imprevistas e imprevisíveis em tal momento, e geradoras de onerosidade excessiva para um dos contratantes, ao mesmo passo para que o outro proporcione lucro desarrazoados, cabe ao prejudicado insurgir-se e recusar a prestação, bem como tem que ter repercussão econômica direta no contrato trazendo onerosidade excessiva para qualquer das partes ou para ambas, afetando fundamentalmente o sacrifício econômico representado pelas obrigações assumidas.
Assim sendo, a ocorrência de um acontecimento extraordinário, que tenha operado a mutação do ambiente de forma objetiva, em tais termos que o cumprimento do contrato implique em si mesmo e por si só, o enriquecimento de um e empobrecimento do outro. Para que se possa invocar a resolução por onerosidade excessiva é necessário que ocorram os requisitos de apuração certa, explicitadas no artigo 478 do Código Civil[5].
O contratante prejudicado ingressara em juízo no de produção dos efeitos do contrato, pois que se este já estiver executado não tem mais cabimento qualquer intervenção. É igualmente necessário a postulante exija em juízo a resolução do contrato. Mesmo em caso de extrema onerosidade, é defeso ao queixoso cessar os pagamentos e proclamar diretamente a resolução. Terá de ir a justiça, e esta deverá apurar com rigor os requisitos de aplicação da teoria revisionista.
Uma vez concedida, opera a liberação do devedor. As prestações efetuadas antes do ingresso em juízo não podem ser revistas, mesmo comprovadas a alteração no quadro econômico porque a solutio espontânea do devedor produziu os seus efeitos, por isso é importante solicitar ao juiz a tutela provisória de urgência. Como porém, não é possível ao contratante cessar o pagamento ou recebimento, o pretexto da onerosidade excessiva pois que a intervenção na economia do contrato é obra do poder judiciário, as prestações dadas ou recebidas na pendencia da lide estão sujeitas a modificação na execução da sentença que for proferida. Se o não fossem, o princípio da justiça estaria ferido, uma vez reconhecida a onerosidade excessiva e mesmo assim proclamada a intangibilidade da prestação realizada. Demais disso, a lentidão do processo judicial poderia dar um resultado contrário, vindo a sentença a decretar a resolução por aplicação da teoria no momento em que o contrato já estivesse com seu curso de efeitos terminados.
Ao credor, o artigo 479 do Código Civil, adota expressamente a oportunidade do credor de evitar a resolução do contrato, oferecendo a modificação equitativa das condições de execução do contrato. Assim em suma, o que a lei concede ao contratante é a resolução. A alteração das cláusulas de cumprimento será iniciativa do credor, que voluntariamente aquiesce em oferecer oportunidade de solução menos onerosa ao devedor, com meio de salvar a avença (o acordo). Esta posição referenciada no Enunciado 367 da Jornada de Direito Civil do Conselho da Justiça Federal/STJ que indica, na interpretação do artigo 479 do Código Civil, que “em observância ao princípio da conservação do contrato, nas ações que tenham por objeto a resolução do pacto por excessiva onerosidade, pode o juiz modifica-lo equitativamente, ‘desde que ouvida a parte autora, respeita de sua vontade e observado o contraditório’”.
Destaca-se que nunca haverá lugar para a aplicação da teoria da imprevisão naqueles casos em que a onerosidade excessiva provém da álea normal e não do acontecimento imprevisto, como ainda nos contratos aleatórios, em que o ganho e a perda não podem estar sujeitos a um gabarito predeterminado.
Assim sendo, destaca-se o artigo 396 do Código Civil:
Art. 396. Não havendo fato ou omissão imputável ao devedor, não incorre este em mora.
Portanto, se a prestação se impossibilita, não pelo fato do devedor, mas por imposição de acontecimentos estranhos ao seu poder, extinguir-se a obrigação, sem que caiba ao credor o ressarcimento.
Assim sendo, pela corrente objetiva, assentado a imputabilidade como regra e concedendo a liberação do devedor somente na hipótese de surgir um evento cuja fatalidade se evidencie ao primeiro surto ocular, obstando a execução e afastando a ideia de responsabilidade.
É importante observar que o imponderável quebra o desdobramento normal dos acontecimentos, o que motiva a não responsabilização de qualquer pessoa na hipótese[6].
Aprofundado na dissecção do princípio, a doutrina sustenta que o legislador pátrio filiou-se ao conceito objetivista. Basta, pois, apurar os requisitos genéricos:
· Necessidade visto que não é qualquer acontecimento, por mais grave e ponderável, bastante para liberar o devedor, porém, aquele impossibilita o cumprimento da obrigação. Se o devedor não pode prestar por uma razão pessoal, anda relevante, nem por isto fica exonerado, de vez que estava adstrito ao cumprimento e tinha de tudo prever e prover, para realizar a prestação. Se este se dificulta ou se torna excessivamente onerosa, não há força maior ou caso fortuito. Para que se ache exonerado, é indispensável que o obstáculo, seja estranho ao seu poder.
· Inevitabilidade não bastando à sua vontade ou à sua diligencia se anteponha a força do evento extraordinário. Requer-se, ainda, que não haja meios de evitar ou impedir os seus efeitos, e estes interfiram com a execução do obrigado. Muito frequenta é, ainda, encontra-se, entre os doutrinadores, referencia à imprevisibilidade do acontecimento, como termo de sua extremação. Porém, não nos parece cabível tal exigência, porque, mesmo previsível o evento, se surgiu como força indomável e inarredável, e obstou ao cumprimento da obrigação, o devedor não responde pelo prejuízo. As vezes a impressibilidade determina a inevitabilidade, e, então, compõe a etiologia desta. O que não há é mister ser destacado como elemento de sua constituição[7].
Entrementes, a formulação de seus contornos e da análise de seus extremos não se pode munir o julgador de um padrão abstrato a que ajustar ao fato, para decretar a exoneração do devedor. Ao contrário, cada hipótese terá de ser ponderado segundo as circunstâncias que lhe são peculiares, e em cada uma ter-se-á de examinar a ocorrência do obstáculo necessário e peculiares, inevitável à execução do devido. Pode até acontecer que o mesmo, que facultou a um devedor o cumprimento, para outro já se erija com aquelas características de impedir a prestação. Os critérios devem ser elásticos, flexíveis. Se a inevitabilidade fosse absoluta, então o caso extraordinário não precisaria de apuração. Por ser relativa, e por admitir que o que um devedor tem força para vencer outro não domina, é que o critério de apuração dos requisitos obedece a um confronto com as circunstancias especiais de cada caso. Daí, admitir-se, mais modernamente, a necessidade de aliar à concepção objetivista um certo tempero subjetivo, resultado a concepção mista de fortuito, sustentado com galhardia por boa sorte de juristas[8].
Aos efeitos de regra exime-se o devedor de cumprir a obrigação ou de responder pelos prejuízos, uma vez demonstrado que a inexecução se deu à verificação do evento extraordinário. Apurada a ocorrência do acontecimento necessário e inevitável, à vista da circunstâncias particulares à espécie, desaparece, para o credor, o direito a qualquer indenização. Esta ausência de direito, envolve os casos em que a prestação não pode ser cumprida, objetiva ou ausência de direito, envolve os casos em que a prestação não pode ser cumprida, objetiva ou subjetivamente.
Destaca-se que, se o devedor já estava em mora antes do evento extraordinário, sujeitar-se-á o devedor às consequências do inadimplemento, ocorre a responsabilidade pelo casus ou vismaior, salvo se demonstrar que não teve culpa no atraso, ou que o dano sobreviria, mesmo se a obrigação fosse oportunamente desempenhada.
Se o acontecimento extraordinário não trouxer a impossibilidade total da prestação, eximir-se-á o devedor da porte atingida ou se forrará da mora, se apenas tiver como consequência o atraso na execução. Mas não poderá invocar, o caso extraordinário para exoneração absoluta, beneficiando-se fora das marcas.
O princípio da responsabilidade pelo risco criado, admitiu a consequente escusativa, desde que seja provado a adoção de todas as medidas idôneas e evita-lo, e, desta forma, o excesso que se critica na doutrina desaparece no preceito.
https://raphaelgfaria.jusbrasil.com.br/artigos/830080027/pandemia-de-coronavirus-e-a-revisao-ou-rescisao-do-contrato
Em meio à pandemia ocasionada pela rápida propagação da Covid-19, bem assim diante da necessidade de isolamento social para evitar/mitigar o contágio entre a população, o mercado financeiro mundial já sente os fortes impactos da crise que se avizinha, de modo que, nada obstante a crise sanitária, todos se preparam para uma provável recessão após esse período.
O Poder Executivo, nas suas mais diversas esferas e atuações, vem promovendo uma série de medidas no intuito de minimizar o impacto da pandemia no mercado. A produção legislativa, nessa toada, também tem sido grande. Há projetos de lei em trâmite visando a alterar ou flexibilizar disposições legais até então vigentes com o objetivo de mitigar os efeitos da recessão e adequar circunstâncias jurídicas a essa nova crise global, sem precedentes.
O Projeto de Lei nº 1.179/2020 ("PL 1.179/2020"), de autoria do senador Antonio Anastasia, é uma dessas produções legislativas, cuja tramitação segue acelerada no Congresso Nacional. Em síntese, o projeto propõe alterações significativas em diversos dispositivos que constam regulados na Lei nº 10.406/2002 ("Código Civil"), sob a exegese de um Regime Jurídico Emergencial e Transitório das relações jurídicas de Direito Privado ("RJET"). Nada obstante o PL 1.179/2020 se volte para assuntos como prescrição e decadência, direito de família e sucessão, entre outros, preocupa-nos nesse momento a proposição a respeito das regras para revisão dos contratos que, no final das contas, afeta diretamente as relações civis e empresariais em tempos de crise.
Com efeito, em seu "Capítulo IV - Da Resilição, Resolução e Revisão dos Contratos", o PL 1.179/2020 propõe que "não se consideram fatos imprevisíveis, para os fins exclusivos dos art. 478, 479 e 480 do Código Civil, o aumento da inflação, a variação cambial, a desvalorização ou substituição do padrão monetário" (art. 7º).
Nesses termos, o PL 1.179/2020 limita em muito — para dizer o mínimo — a aplicabilidade da Teoria da Imprevisão aos Contratos, disciplinada nos artigos 317[1], 478[2], 479[3] e 480[4], todos do Código Civil, no ambiente empresarial e, principalmente, no mercado financeiro. A bem da verdade, o projeto de lei, se aprovado com esse texto, acaba por ser contraditório. Isso porque, de um lado, reconhece que há uma crise mundial sem precedentes que afeta a todos os mercados e demanda intervenções drásticas na legislação; de outro, procura limitar os efeitos da revisão contratual e da Teoria da Imprevisão, como se o câmbio, a inflação ou a desvalorização monetária não guardassem nenhuma relação com a pandemia.
Como cediços – o que foi recentemente bem abordado por Rogério Lauria Marçal Tucci em artigo publicado sobre o tema[5] –, os contratos firmados no âmbito do direito privado podem ser revisados (e até mesmo resolvidos) se e quando eventos imprevisíveis, não conhecidos quando da celebração da avença, tornarem suas prestações excessivamente onerosas a um dos contratantes. Note-se que o elemento essencial e indispensável para que seja determinada a rescisão e a resolução contratual é a presença de fato imprevisível.
Nesse sentido, a doutrina especializada entende como evento imprevisível "acontecimentos estranhos, independentes da vontade das partes, que elas não podem prever e que de tal forma alteram as circunstâncias que, na execução, o contrato deixa de corresponder, não só à vontade dos contratantes, como à natureza objetiva dele"[6]-[7]. Ainda, na IV Jornada de Direito Civil, aprovou-se o Enunciado nº 366, segundo o qual "o fato extraordinário e imprevisível causador da onerosidade excessiva é aquele que não está coberto objetivamente pelos riscos próprios da contratação".
O fundamento da Teoria da Imprevisão e da Onerosidade Excessiva está, desse modo e nas precisas palavras de Nelson Rosevald, na necessidade de "atender ao princípio da justiça contratual, que impõe o equilíbrio das prestações nos contratos comutativos, a fim de que os benefícios de cada contratante sejam proporcionais aos seus sacrifícios"[8].
No sentido puramente técnico, portanto, tem-se que pandemias, guerras, grandes e globais depressões econômicas — e os consectários decorrentes desses eventos — devem ser entendidas como eventos imprevisíveis, que impactam nas negociações privadas, elevando os custos envolvidos em todo e qualquer contrato, desequilibrando as prestações obrigacionais inicialmente entabuladas entre as partes e, assim, inviabilizando — ou ao menos sobrecarregando — a manutenção das avenças firmadas, na forma inicialmente imaginada.
A pandemia da Covid-19, nesse cenário, nos parece exemplo mais claro — típico de doutrina — acerca da necessidade de aplicação da Teoria da Imprevisão e da Onerosidade Excessiva aos contratos de prestação continuada vigentes nas relações civis, empresariais e, principalmente, financeiras. A situação global decorrente da pandemia vem causando um efeito avassalador nas grandes economias mundiais, tais como China, EUA e Alemanha, além de diversos países de Europa, Ásia e Américas. Diante de sua extensão global, sem precedentes e sem previsão para término, a Covid-19 traz, inevitavelmente: (I) variação de inflação em razão da crise; (II) a variação cambial sem precedentes e diretamente vinculada aos efeitos negativos da crise; e (III) a desvalorização do padrão monetário. Consequências puramente financeiras, jamais previstas nessa amplitude.
Ou seja, como bem reconhece o Poder Legislativo, a pandemia não foi prevista e nem esperada por ninguém, demandando medidas drásticas. Os efeitos no mercado financeiro, como inflação e variação cambial, decorrentes da pandemia, não podem passar batidos. Com todo o respeito ao projeto de lei, não há explicação lógica, financeira ou econômica para essa exclusão quando, amplamente, reconhece-se que estamos diante de uma situação imprevisível e sem precedentes no mundo.
Não se desconhece que a jurisprudência pátria, até o momento, tenha se mostrado relutante à revisão dos contratos, com amparo em eventos econômicos locais (tais como variação cambial e desvalorização da moeda). Nos termos desses precedentes, tais fatos não seriam de todo imprevisíveis no nosso cenário econômico nacional[9] (ex.: a crise cambial não é imprevisível no Brasil e todos deveriam considerar essa variável para a realização de negócios no país). Esse raciocínio, todavia, não se aplica à hipótese enfrentada decorrente da Covid-19.
A questão que ora se coloca — cuja resolução deve ser diversa daquela até então posta no projeto — é que a pandemia e seus efeitos macroeconômicos globais vão muito além de tudo o que se viu no mundo nos últimos tempos (o que, repise-se, o Poder Legislativo reconhece). E, mais do que isso, os efeitos diretos dessa pandemia geram efeitos na inflação, no câmbio e na desvalorização do padrão monetário, atingindo premissas contratuais econômicas que, certamente, irão tornar contratos impossíveis de serem cumpridos.
Nessas circunstâncias — da crise "sem precedentes" —, é inviável, por definição, aplicar entendimento da jurisprudência a respeito de câmbio, inflação ou desvalorização da unidade monetária. Não é possível que, ao mesmo tempo, a crise seja sem precedentes e, de outro lado, pretenda-se aplicar julgados que supostamenteseriam "análogos". Daí, portanto, o questionamento ao projeto de lei.
Assim, o PL 1.179/2020, ao propor que o aumento de inflação, a variação cambial e a desvalorização do padrão monetário não serão considerados fatos imprevisíveis, impossibilita a revisão contratual frente à desenfreada oscilação do mercado e resulta na manutenção da desproporção entre as partes e na impossibilidade de cumprimento das obrigações, na forma acordada originalmente. Sob o ponto de vista de mercado financeiro, d.v., parece-nos que implicaria, em grande parte, na inaplicabilidade da Teoria da Imprevisão, mormente o fato de que câmbio, inflação e padrão monetário são, provavelmente, alguns dos primeiros fatores que são afetados no caso de uma crise mundial como a que se coloca nesse momento.
Desse modo, considera-se que o PL 1.179/2020, embora tenha o escopo de manter as relações comerciais em tempos obscuros, acaba, em seu artigo 7º, inviabilizando a revisão/rescisão contratual diante do cenário da Covid-19, pois as consequências que advém da referida pandemia são exatamente as hipóteses excluídas no artigo 7º, de severa variação do câmbio e descontrole inflacionário, sem prejuízo de outras consequências advindas das restrições decorrentes da crise.
Adotar a posição sugerida no PL 1.179/2020, no sentido de que "não se consideram fatos imprevisíveis, para os fins exclusivos dos artigos 478, 479 e 480 do Código Civil, o aumento da inflação, a variação cambial, a desvalorização ou substituição do padrão monetário" (artigo 7º), no cenário da pandemia, além de parecer uma visão simplista do problema grave que enfrentamos torna, em grande parte, letra morta a Teoria da Imprevisão no âmbito do mercado financeiro, no momento da história da humanidade em que ela teria maior e mais necessária aplicação. Não nos parece proposta razoável no momento em que a revisão dos contratos se torna premente.
 
[1] Art. 317. Quando, por motivos imprevisíveis, sobrevier desproporção manifesta entre o valor da prestação devida e o do momento de sua execução, poderá o juiz corrigi-lo, a pedido da parte, de modo que assegure, quanto possível, o valor real da prestação.
[2] Art. 478. Nos contratos de execução continuada ou diferida, se a prestação de uma das partes se tornar excessivamente onerosa, com extrema vantagem para a outra, em virtude de acontecimentos extraordinários e imprevisíveis, poderá o devedor pedir a resolução do contrato. Os efeitos da sentença que a decretar retroagirão à data da citação.
[3] Art. 479. A resolução poderá ser evitada, oferecendo-se o réu a modificar eqüitativamente as condições do contrato.
[4] Art. 480. Se no contrato as obrigações couberem a apenas uma das partes, poderá ela pleitear que a sua prestação seja reduzida, ou alterado o modo de executá-la, a fim de evitar a onerosidade excessiva.
[5] https://www.conjur.com.br/2020-abr-01/rogerio-tucci-alteracoes-imprevisiveis-circunstancias
[6] NERY JÚNIOR, Nelson; NERY, Rosamaria de Andrade. Código civil comentado. 8ª ed., São Paulo: RT, 2011. p. 589.
[7] “A teoria da imprevisão decorre da constatação de que o contrato, celebrado para ser respeitado e cumprido, segundo as mesmas condições existentes no momento da celebração, pode ser alterado, excepcionalmente, se ocorrerem fatos supervenientes imprevisíveis que estabeleçam o desequilíbrio entre as partes, onerando sobremaneira uma delas, com proveito indevido da outra. Nesta hipótese, incide a cláusula rebus sic stantibus, mediante a qual se retorna ao estado de equilíbrio anterior, afastando- se qualquer hipótese de supremacia e de vantagem indevida de uma das partes, em desfavor da outra que ficaria prejudicada. Segundo a doutrina de Orlando Gomes, "... quando acontecimentos extraordinários determinam radical alteração no estado de fato contemporâneo à celebração do contrato, acarretando conseqüências imprevisíveis, das quais decorre excessiva onerosidade no cumprimento da obrigação, o vínculo contratual pode ser resolvido ou, a requerimento do prejudicado, o juiz altera o conteúdo do contrato, restaurando o equilíbrio desfeito. Em síntese apertada: ocorrendo anormalidade da álea que todo contrato dependente do futuro encerra, pode-se operar sua resolução ou a redução das prestações" \ Para Cunha Gonçalves, há como que um defeito do ato jurídico (segundo o conceito do Direito Brasileiro): "...é tão injusto e imoral aproveitar um contraente, excessivamente, de circunstâncias que para o outro ou para ambos eram imprevisíveis no momento do contrato. (...)” (TJSP; Apelação Com Revisão 9142407-42.2001.8.26.0000; Relator (a): Carvalho Viana; Órgão Julgador: 3ª Câmara (Extinto 1° TAC); Foro de São Caetano do Sul - 1ª. Vara Cível; Data do Julgamento: 19/03/2002; Data de Registro: 15/05/2002).
[8] ROSENVALD, Nelson. Código civil comentado. Coord.: Cezar Peluso. 7ª ed. Barueri: Manole, 2013, p. 530.
[9] “AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. ARRENDAMENTO MERCANTIL. JUROS REMUNERATÓRIOS. ONEROSIDADE EXCESSIVA. REVISÃO. DIVISÃO EQUITATIVA. 1. A jurisprudência desta Corte é de que os juros remuneratórios cobrados pelas instituições financeiras não sofrem a limitação imposta pelo Decreto nº 22.626/33 (Lei de Usura), a teor do disposto na Súmula nº 596/STF. 2. Consoante jurisprudência desta Corte, a desvalorização súbita da moeda brasileira ocorrida em janeiro de 1999 configura onerosidade excessiva a afetar a capacidade de o consumidor adimplir suas obrigações contratuais, mas, diante da previsibilidade de modificação da política cambial, a significativa valorização do dólar norte-americano deve ser suportada por ambos os contratantes de forma equitativa. Precedentes. 3. Agravo regimental não provido” (STJ - AgRg no REsp: 716702 RS 2005/0004864-8, Relator: Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, Data de Julgamento: 13/05/2014, T3 - TERCEIRA TURMA, Data de Publicação: DJe 02/06/2014).
https://www.conjur.com.br/2020-abr-12/opiniao-pandemia-teoria-imprevisao-revisao-contratos
SUSPENSÃO, RESCISÃO E REVISÃO DOS CONTRATOS DECORRENTE DA CALAMIDADE PÚBLICA CAUSADA PELO COVID-19
Apesar das incertezas sobre a magnitude dos reflexos da pandemia na sociedade, já é certo os danos causados na economia em virtude do fechamento de comércio (atividades não essenciais), cancelamento de eventos, isolamento domiciliar, entre outros fatores gerados pela “quarentena”.
Os impactos econômicos serão imensos para uma boa parte das relações civis, comerciais e de consumo.
 
E diante dessa nova realidade econômica surgem questionamentos acerca da possibilidade de suspensão, rescisão e/ou revisão contratual. Tal possibilidade dependerá da análise de cada caso, devendo ser observado o que foi convencionado contratualmente como consequência para o inadimplemento das obrigações diante das circunstâncias imprevisíveis e inevitáveis, do reflexo no equilíbrio contratual e do grau do impacto sofrido pelas partes.
 
Juntamente com a análise contratual, será preciso avaliar qual a área do direito aplicável ao contrato, isto é, se o contrato se sujeita ao direito civil, direito do consumidor, direito do trabalho, direito administrativo, regulatório, internacional, dentre outros, e ainda se são regidos por leis gerais ou especiais (p ex. Lei do Inquilinato).
 
Cada modalidade de obrigação ou contrato pode gerar consequência diferente para as partes.
 
Como nunca houve no universo jurídico contemporâneo precedentes de uma pandemia dessa magnitude, é natural que existam incertezas em como proceder nas relações contratuais.
 
O primeiro ponto é que as partes devem observar o princípio da boa-fé, da colaboração e da solidariedade contratual, no sentido de tentar ao máximo a composição entre os contratantes, para não judicializar as relações contratuais.
 
Contudo, quando não for possível a composição, devemos nos ater a algumas normas e princípios aplicáveis para solucionar o tema.
 
Em casos específicos, o Poder Público poderá regular algumas obrigações contratuais, como a normatização da restituição das passagens aéreas em até 12 meses (art. 3° da MP 925/2020), bemcomo determinação de suspender o corte de serviço de energia elétrica residencial no Estado de São Paulo. Contudo, não podemos esperar que todas as relações contratuais sejam resolvidas por medidas provisórias ou ajustes governamentais.
 
Outro ponto relevante é que no contrato uma das partes pode ter assumido o risco de eventual caso fortuito ou força maior, conforme previsto no artigo 393 do Código Civil, o que impediria de invocar essa situação para descumprir ou modificar os termos do contrato.
 
Desta forma, o primeiro ponto é identificar qual a natureza do contrato e entender em que medida este contrato está inserido nas atividades econômicas que possam ter sido afetadas por atos governamentais, a saber: (i) se o contrato se inviabilizou por conta da atividade que foi interrompida por ato normativo (p. ex.: locação de lojas em shopping centers), (ii) se o contrato perdeu o interesse ou sofreu restrição decorrente de recomendações governamentais, ainda que a atividade esteja total ou parcialmente operacional (p. ex.: viagem de avião); ou (iii) se o contrato é decorrente de uma atividade essencial não interrompida (contrato de conta corrente, plano de saúde, seguro); ou (iv) contrato continuado (p. ex.: escola, provedor de internet).
 
Para cada situação apresentada, podemos ter soluções jurídicas diferentes no tocante a penalidade ou consequência decorrente da suspensão, rescisão ou revisão do contrato.
 
Sobre a suspensão dos contratos, entendemos que podem ser suspensos os contratos cuja finalidade não tenha propósito no momento ou que não possam ser cumpridos, mas que as partes tenham a intenção de retomar tão logo seja possível. A suspensão depende do ajuste das partes, uma vez que qualquer das partes pode optar pela rescisão contratual, seja pelo mesmo fundamento de força maior, seja por não concordar com as razões da suspensão do contrato.
 
Sobre a rescisão contratual, entendemos que os contratos afetados pela força maior podem ser rescindidos sem aplicação de multa, desde que não haja previsão expressa no contrato de que alguma das partes deve suportar as consequências do contrato mesmo na hipótese de força maior. A consequência de quem pleitear a rescisão contratual sem justo motivo é de suportar as penalidades previstas no contrato, bem como as perdas e danos decorrentes.
 
Sobre a revisão contratual, entendemos ser o ponto mais polêmico, uma vez que precisa ser reconhecida a manutenção do contrato, com a respectiva revisão de algumas de suas obrigações. A  Lei não nos dá solução imediata, mas apresenta princípios que ajudam a solucionar o caso concreto:
 
• Onerosidade excessiva para uma das partes
• Teoria da imprevisão e a ocorrência de fatos supervenientes
• Quebra do equilíbrio contratual
 
Do ponto de vista da onerosidade excessiva, há possibilidade de encerramento ou revisão do valor das prestações contratuais, em virtude de acontecimentos extraordinários e imprevisíveis (art. 478 e 479 CC).
 
No caso da teoria da imprevisão e do fato superveniente, o resultado que pode ser alcançado é, em princípio, a revisão dos valores e multas pré-ajustadas no contrato, com o objetivo de reestabelecer o equilíbrio econômico prejudicado pela pandemia (artigo 317 CC), bem como o juiz pode reduzir a multa que entenda ser muito onerosa (art. 413 CC).
 
E no tocante ao próprio equilíbrio contratual em conjunto com o princípio da boa-fé objetiva, deve ser verificado se as medidas tomadas pelas partes contratantes, frente ao novo cenário, podem ser consideradas razoáveis. Isso porque muitas vezes os contratos possuem longa duração e os valores e cláusulas são ajustadas sob o ponto de vista momentâneo.
 
Entretanto, não basta a existência da pandemia a permitir a suspensão, o encerramento de contratos e/ou a sua revisão sem penalidade ou consequência. Dependerá da análise da natureza do contrato, do real impacto das novas circunstâncias e da capacidade da parte cumprir as suas obrigações.
 
Tais preceitos podem de certa forma embasar a modificação ou encerramento do contrato, flexibilizando o chamado “pacta sunt servanda” (cumprimento de deveres contratuais entre as partes nos limites da Lei), mas não se trata de regra, quanto mais se analisado sob o aspecto da Lei da Liberdade Econômica (Lei 13.874/2019) que prevê, entre outros fatores, o “princípio da intervenção mínima” e à “excepcionalidade da revisão contratual” (CC, artigo 421, parágrafo único), bem como a determinação de que “a revisão contratual somente ocorrerá de maneira excepcional e limitada” (CC, artigo 421-A, inciso III).
 
Em outros cenários de crise, a jurisprudência já reconheceu alguns eventos como fatos imprevisíveis, como quando ocorreu a desvalorização do Real frente ao Dólar (TJSP, nº 0187919-94.2007.8.26.0000), bem como durante a greve dos caminhoneiros em que, por exemplo, a companhia aérea foi exonerada de qualquer responsabilidade pelo cancelamento de voo, por falta de combustível (TSJP, nº 1083583-27.2018.8.26.0100).
 
Assim, diante do atual cenário, a possibilidade de suspensão, rescisão ou revisão contratual é possível, porém, dependerá de análise das circunstâncias de cada caso.
 
Nosso escritório se encontra à disposição para auxiliar nossos clientes nos itens abordados neste informativo.
 
 
Este informativo foi elaborado exclusivamente para nossos clientes e apresenta informações resumidas, não representando uma opinião legal. Dúvidas e esclarecimentos específicos sobre tais informações deverão ser dirigidas diretamente ao nosso escritório.
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