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Texto 4 - Educação no Ocidente Medieval

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Educação no Ocidente Medieval
Nailda Marinho da Costa Bonato
2
 • EducaçãonoOcidenteMedieval
Meta
Apresentar a evolução da Educação na Idade Média e a atuação da Igreja 
Católica nesse contexto. 
Objetivos 
Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de:
1. 1.caracterizar a Educação no contexto das Escolas Monacais como 
possibilidade de difusão de uma universalidade cristã;
2. 2. apontar os tipos de instituições escolares que se constituíram na 
Idade Média, tendo em vista a atuação e a função da Igreja Católica 
no campo educacional; 
3. 3. identificar elementos das universidades medievais presentes nas 
atuais universidades do Ocidente.
3
Hisória da Educação
Introdução
Na aula anterior você estudou sobre a Educação no Império Romano, ou 
seja, suas características, seus processos pedagógicos, alguns formuladores 
e pensadores da Educação da época, assim como a influência grega na 
Educação daquele povo – suas semelhanças e diferenças. 
Desse modo, no final da aula você aprendeu que, com a fragmentação 
do Império Romano, no Ocidente, o Cristianismo vai se firmando como 
elemento agregador no período medieval, após as invasões dos povos 
bárbaros, por volta do século V, sem contudo, perder de vista a Educação 
greco-romana. 
Assim, nesta Aula 4 trataremos da Educação na Idade Média. Entretanto, 
é bom que você saiba que, se nesse período histórico, em um primeiro 
momento, há uma forte dependência do clero para se conseguir certa 
formação intelectual. Em um segundo momento, os dogmas religiosos 
começam a ser questionados e novas ideias vão surgir. O primeiro Período 
da Idade Média é conhecido como Alta Idade Média e o segundo como 
Baixa Idade Média que se inicia na virada do ano mil. 
Nesse processo de cristianização, surge, na Idade Média, a Igreja Católica 
que exerce, além de influência religiosa, influência política. O mundo 
Clássico e Antigo, calcado em uma sociedade escravista, foi sendo subs-
tituído por um mundo novo ligado pelo ideal cristão e calcado no modo 
feudal de produção – onde o poder é medido pela quantidade de terras 
que cada um possui. 
O Período Medieval dura cerca de mil anos. Inicia-se com a queda do 
Império Romano no ano 476 d.C e termina com a tomada de Constanti-
nopla – atual Istambul; Capital da Turquia (Ásia) – pelos turcos em 1453.
Assim, se no Período Medieval vamos encontrar as Escolas monacais, 
episcopais ou catedrais e as Escolas palatinas, é nesse Período que sur-
ge uma nova instituição educativa que persiste até os dias atuais – a 
Universidade. É importante ressaltar que, naquele momento, a palavra 
universidade possuía outro significado. Então, vamos saber mais sobre 
esse assunto nesta aula? 
Para seu melhor entendimento desta aula, veja a cronologia.
•	 395 d.C – Divisão do Império Romano em Império Romano do Oci-
dente e Império Romano do Oriente;
•	 395 a 1453 – Império Romano do Oriente;
4
 • EducaçãonoOcidenteMedieval
•	 476 d.C. – Queda do Império Romano do Ocidente, marcando o 
início da Idade Média;
•	 1054 – Cisma do Oriente. Cisma = cisão, separação, dissidência reli-
giosa ou política. Aqui se refere à criação da Igreja Cristã Ortodoxa 
Grega – os bizantinos recusaram a autoridade do papa de Roma e as 
duas Igrejas se separaram;
•	 1378 a 1417 – Cisma do Ocidente. Havia dois papas: um em Roma e 
o outro em Avinhão, na França; 
•	 1453 – Queda do Império Romano do Oriente ou Império Bizanti-
no com a tomada de Constantinopla, capital do Império Bizantino, 
pelos turcos;
•	 476 a 1453 – Período correspondente à Idade Média do Ocidente.
A Sociedade Medieval
Embora na Idade Média tenham sido produzidos novos conhecimen-
tos culturais amplamente ancorados pela fé cristã, a época ficou sendo 
entendida por alguns como a Idade das Trevas, Período obscuro, A idade 
dos mil anos, sendo todas estas expressões, renascentistas. 
Conforme Maria Lúcia de Arruda Aranha (2006, p.101) “a cultura 
medieval é um amálgama de elementos greco-romanos, germânicos e 
cristãos, sem esquecer as Civilizações de Bizâncio e do Islã, que fecun-
daram a primeira fase da Idade Média.” 
Islã 
No século VII, o profeta Maomé fundou a religião islâmica ou mul-
çumana. De cunho monoteísta, seu livro sagrado, Alcorão ou o 
Corão, traz a palavra de Alá, que orienta a conduta moral e religiosa 
dos fiéis. Com isso, Maomé conseguiu unificar as tribos árabes, que 
viviam em constante conflito (prejudicando o comércio). Apesar de 
instaurar um governo teocrático (sem separar Religião e Estado), 
não despreza a ação guerreira. Após a morte de Maomé ocorre a 
expansão islâmica, criando-se um grande império que se estendeu 
renascentista
A expressão renascentista 
tem origem no termo 
Renascimento ou 
Renascença – Movimento 
artístico e científico 
dos séculos XV e XVI 
que pretendeu ser um 
retorno à Antiguidade 
Clássica. Você verá 
sobre a Educação nesse 
Período, na Aula 5. 
5
Hisória da Educação
pelo Oriente Médio, norte da África até à Península Ibérica, na Eu-
ropa. A Civilização Islâmica assimilou a dos povos vencidos. Dessa 
forma, os árabes conheceram a Filosofia, a Ciência e a Literatura 
dos gregos antigos, traduzindo obras clássicas – algumas chegando 
posteriormente aos latinos, como você poderá notar ainda nesta aula.
Alcorão – Manuscrito do 
Al-Andalus (Península Ibérica)/
século XII 
Fonte: http://pt.wikipedia.org/
wiki/Ficheiro:AndalusQuran.JPG
Nesse contexto, os árabes se destacaram nas áreas de Matemática, 
Medicina, Geografia, Astronomia e Cartografia. Por volta do sé-
culo X, criaram escolas primárias para ensinar a leitura e a escrita. 
Nessas escolas aprendia-se o Alcorão de cor. Mas também havia 
preceptores particulares. Durante a influência árabe, as cidades 
de Córdoba, Toledo, Granada e Sevilha, na Espanha, tornaram-se 
grandes centros irradiadores de cultura (ARANHA, 2006, p.105). 
Na Filosofia, Avicena (século XI) e Averróis (século XII) foram 
responsáveis pela divulgação da obra de Aristóteles no Ocidente.
No dizer de Aranha (2006), enquanto no Ocidente o Império Romano 
era dividido em diversos reinos pelos povos bárbaros, provocando uma 
retração econômica, social e cultural, os “povos do Oriente mantiveram 
uma cultura viva e efervescente”. Em 395 da era cristã, ainda na Antigui-
dade, o Império Romano se divide em Império do Ocidente e Império 
do Oriente (ou Império Bizantino). 
6
 • EducaçãonoOcidenteMedieval
O Império Bizantino se expande pela Grécia, Ásia Menor, Oriente 
Médio, parte da Itália, norte da África e sul da Espanha. Com o 
passar do tempo, retomam costumes anteriores ao Império Bizantino 
como, por exemplo, o uso da língua grega. No campo religioso, os 
imperadores tomam decisões que provocam divergências com a 
Igreja. Em 1054 ocorre o Cisma do Oriente, quando se cria a Igreja 
Cristã Ortodoxa Grega. No Cisma do Oriente, os bizantinos recu-
sam a autoridade do Papa de Roma e as duas Igrejas se separaram. 
Conforme Aranha (2006), há pouca documentação sobre a Educa-
ção Bizantina, mas é certo de que havia o predomínio do Ensino 
Religioso nas escolas e que os clássicos pagãos eram estudados 
sem restrições. A meta da Educação era a formação humanista e 
a preparação de funcionários capacitados para a administração 
do Estado. Sobre as escolas superiores destaca-se a Universidade 
de Constantinopla, importante centro cultural de 425 a 1453. Por 
volta do século XV, esse Império é reduzido a pequenos territórios 
na Grécia, além da cidade de Constantinopla. Após a Conquista 
Turca, o Império Bizantino entrou em declínio, assim como ocor-
rera com o Ocidente no início da Idade Média. 
Você deve ter estudado no Ensino Médio, nas aulas de História, que o 
modo de produção existente na Idade Média era assentado no Feudalismo, 
certo? Deve estar se perguntado como ocorreu a transição do escravismo, 
modo de produção do período grego-romano, para o feudalismo, modo 
de produção instituído na Idade Média, e antes de falarmos da Educaçãoe das escolas é necessário que você entenda isso. 
Por volta do século V da era cristã, a sociedade ocidental europeia pas-
sou por várias mudanças. Com a queda do Império Romano, a sociedade 
se torna agrária e autos-suficiente na atividade agrícola e no artesanato 
caseiro. Isto ocorre devido ao fato de muitos senhores romanos deixarem 
suas casas na cidade e irem morar no campo. Dessas propriedades rurais 
– burgos – surgem os feudos, que eram propriedades que o senhor de 
certos domínios concedia mediante a condição de submissão e prestação 
de serviços e rendas. Este nome, feudo, deu origem ao modo de produção 
Burgos 
refere-se a castelo, casa 
nobre ou mosteiro 
e suas cercanias – 
rodeados por muralhas 
de defesa. Muitas 
dessas propriedades 
se transformaram 
em cidades. 
Feudo
O feudo diz respeito 
à propriedade nobre 
que o senhor de certos 
domínios concede 
mediante a condição de 
vassalagem e prestação 
de serviços e rendas.
7
Hisória da Educação
que se disseminou na Idade Média, Muitas pessoas procuraram proteção 
e trabalho ao lado do castelo dos senhores feudais. As escolas, o Direito 
Romano e as moedas quase desaparecem. No comércio, predominam os 
negócios à base de troca. 
No Feudalismo, o poder central se enfraquece, no caso, o rei. De carac-
terística aristocrática, na sociedade medieval, a condição dos homens era 
dada pela quantidade de terras que cada um possuía. Conforme Angela 
Maria Souza Martins,neste Período,“Cria-se uma rígida hierarquia social, 
na qual a nobreza (senhores feudais) e o clero ocupam o topo e na base 
estão os servos da gleba” (2004, p.34).
Figura 4.1: Na Idade Média a estrutura social beneficiava a nobreza e o clero. 
Trabalhadores, até hoje, ficam na base da pirâmide social.
Fonte: http://hgp-recursos.blogspot.com.br/2008/03/pirmide-dos-grupos-sociais-sculo-xiii.html 
A alta e a pequena nobreza se constituíam de duques, marquesas, 
condes, viscondes, barões e cavaleiros, que disputavam entre si e, com 
isso, alguns senhores feudais ao acumularem terras foram se tornando 
mais poderosos do que o rei. Porém, essa nobreza torna-se dependente 
do clero, diante da falta de formação intelectual necessária para gerir os 
negócios dela. Geralmente mantinha-se um clérigo em sua residência 
para as necessidades de escrita e leitura. Na falta deste, o pároco da igreja 
local era a alternativa. 
Na sociedade medieval, surge, no lugar do escravo, um novo sujeito 
social – o servo da gleba – parte de um feudo. Embora livre, dependia 
8
 • EducaçãonoOcidenteMedieval
do seu senhor. Se por um lado o servo tinha todos os direitos dos homens 
livres (casar, fundar uma família, passar a terra para os filhos depois de sua 
morte, assim como os bens que tivesse adquirido), por outro lado, o seu 
trabalho era em troca de um pedaço de terra para plantar, colher e extrair, 
apenas para o seu sustento, de modo que o resto era entregue ao senhor 
feudal, ficando dependente deste. Assim configurava-se o Feudalismo. As-
sim funcionava o Sistema de vassalagem e suserania. Na sociedade feudal, 
estabelece-se, entre suseranos e vassalos, uma relação de dependência. O 
suserano é o senhor feudal, ou seja, aquele que possui um feudo do qual 
outros dependem, e vassalo é aquele que depende do senhor feudal, a 
quem se vincula por juramento de fé e homenagem: é o súdito. 
Nessa sociedade medieval, estática e hierarquizada, acreditava-se que 
Deus determinara a cada um o seu lugar. O que era oferecido ao povo, 
mesmo sem saber ler, era a poesia e a música, “com predominância de 
temas religiosos. As canções populares e a literatura lendária contavam 
as histórias de santos e ensinavam a devoção e o comportamento cristão 
ideal”, diz Aranha (2006, p.112). 
Diante da forma como a sociedade feudal foi se montando, vejamos 
agora o porquê de a Igreja Católica ter se constituído, nesse Período, 
um elemento unificador do saber. Com a queda do Império Romano do 
Ocidente (476 d.C.), o Cristianismo vai se firmando e ascendendo como 
religião oficial do Estado. Nesse processo de mudança, vai surgindo uma 
instituição social que, além de religiosa, adquire também força política. 
Você deve estar se perguntando que instituição social é essa, correto? A 
resposta é a Igreja Católica. Assim, no campo da Educação, vai desapare-
cendo a escola clássica pagã, da Antiguidade, e surgindo a escola cristã. 
Por parte do clero, a Igreja Católica era grande detentora de terras. 
Além de influência religiosa conseguiu também influência política. Na 
sociedade medieval o conhecimento reconhecido era o da Igreja Cató-
lica ou aquele por ela aceito e ligado às ideias divinas. Caso contrário, 
toda forma de conhecimento era considerada heresia. O conhecimento 
era como um instrumento utilizado para a conversão dos hereges à fé 
cristã. Aliada a isso, estava a possibilidade de domínio e detenção dos 
bens econômicos e posse de terras. 
Apesar dos conflitos e das heresias, a herança cultural greco-latina 
foi guardada nos mosteiros que tinham, dessa maneira, o monopólio da 
ciência e da cultura medieval. Nessa nova concepção de mundo os monges 
eram os letrados. Assim, traduziam, reinterpretavam e adaptavam obras 
gregas para o latim à luz do Cristianismo. 
Hereges
aqueles que professam 
doutrinas contrárias 
a fé cristã; ao que foi 
estabelecido pela Igreja.
9
Hisória da Educação
Mosteiros e monges
Mosteiro beneditino de Santo Domingo de Silos – Burgos/Espanha.
Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Sto_Dom_de_Sil-0.JPG 
Etimologicamente, as palavras mosteiro (monasterion) e monge 
(monachós) são formadas pelo mesmo radical grego monos, que 
significa só, solitário. Monge é o religioso que procura a perfeição 
na solidão, afastando-se da vida mundana. Crendo que o corpo é 
a morada do pecado, submetiam-se a mortificações, como o uso 
do flagelo (castigo), repudiavam os prazeres sensuais, faziam abs-
tinência sexual, jejuavam e dedicavam o tempo às orações – para 
atingir a espiritualidade. Por isso, são chamados ascetas. A palavra 
ascese, segundo o Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa, 
de Aurélio Buarque de Holanda Ferreira, significa exercício prático 
que leva à efetiva realização da virtude, à plenitude da vida mo-
ral. Ascetismo é uma moral que desvaloriza os aspectos corpóreos e 
sensíveis do homem. 
Ju
er
ge
n 
K
ap
p
en
b
er
g
10
 • EducaçãonoOcidenteMedieval
Os cristãos, ao contrário dos gregos, subordinavam os valores mundanos 
aos supremos valores espirituais. Tendo em vista a vida após a morte, as 
noções de mal e de pecado tornaram-se centrais. Assim, os monges temiam 
o acesso dos fiéis à produção intelectual da Antiguidade, entretanto não 
podiam ignorar essa herança cultural. A solução era adaptá-la à fé cristã. 
Aos poucos, à luz do cristianismo, as bibliotecas dos mosteiros foram 
ampliando seus acervos com o trabalho de monges copistas, ou seja, de 
tradutores que vertiam para o latim os textos selecionados da literatura 
e da filosofia gregas. Reinterpretaram e adaptaram a partir da leitura de 
bibliotecários, que controlavam leituras permitidas ou proibidas, os textos 
que integram a nossa literatura clássica. 
Para saber mais sobre os mosteiros e a Educação na Alta Idade Média 
veja, também, o texto de OLIVEIRA, Terezinha. Os mosteiros e a 
institucionalização do ensino na Alta Idade: uma análise da histó-
ria da educação. Disponível em: http://www.ucdb.br/serieestudos/
publicacoes/ed25/S_Estudos_n25_inteira.pdf 
Atividade 1
Atende ao Objetivo 1
Os monges copistas
Se conhecemos importantes tratados filosóficos, médicos ou textos 
literários da Antiguidade greco-romana, muito se deve ao traba-
lho realizado nos mosteiros beneditinos durante a Idade Média. 
Ali, os chamados monges copistas passavam seus dias copiando, 
restaurando ou traduzindo os textos clássicos que sobreviveram às 
invasões germânicas. Usavam para isso um novo tipo de escrita, 
a minúscula Carolina, que facilitava sensivelmente a leitura, pois 
empregavaletras pequenas e arredondadas. Os pergaminhos nos 
11
Hisória da Educação
quais eram copiados os manuscritos eram ricamente ilustrados 
com desenhos em miniatura chamados iluminuras, retratando 
cenas do cotidiano e imagens religiosas. Em uma época na qual 
a maior parte da população era analfabeta, mosteiros e abadias 
funcionavam como um dos poucos centros da cultura letrada. 
Suas bibliotecas reuniam os maiores acervos da Europa Medieval. 
(FAVIER, Jean. Carlos Magno. São Paulo: Estação Liberdade, 
2004, p. 429)
O texto que você acabou de ler descreve o trabalho dos monges copistas, 
tão importante para a preservação dos textos clássicos. Caracterize o 
contexto histórico e as condições para o surgimento do Monaquismo, 
destacando a necessidade da atividade pedagógica.
Resposta Comentada
Se você, ao caracterizar o contexto histórico da época, levou em conta a 
decadência das escolas romanas e leigas, após a queda do Império Ro-
mano, seguida do crescimento do Cristianismo no período Medieval e 
sua influência na Educação, com destaque para o surgimento e a atuação 
das escolas monacais, catedrais e palatinas, o perfil do aluno aceito, tipo 
de ensino ministrado e a presença dessas escolas no período Carolíngio, 
você bem desenvolveu a sua resposta. 
12
 • EducaçãonoOcidenteMedieval
O Monaquismo, então, surge como um movimento religioso relacionado 
com a necessidade de o Império contar, tanto com clero mais bem quali-
ficado, quanto com nobres capazes de garantir uma boa administração. 
A atividade pedagógica passou a ser uma necessidade na medida em que 
monges, que se dedicavam à preservação e transmissão cultural, atuando 
como guardiães da ciência e da cultura medieval ao preservar e difundir 
o conhecimento de textos clássicos, contribuíram para a criação de um 
projeto educacional e de Escolas episcopais e palatinas. 
É fato que no contexto de fim do Império Romano, os mosteiros atuaram 
como espaços de disseminação de uma comunidade de pertencimento, 
em um mundo em desagregação, ao difundir a ideia de uma universa-
lidade cristã. Ao mesmo tempo, atuaram como espaços de preservação 
da vida, da escrita, da memória e dos saberes humanos, sagrados e 
profanos, durante a Idade Média. Também foram espaços de proteção 
contra ataques e pilhagens, assim como espaços de ensino tanto para 
monges quanto para a comunidade. 
Desse modo, você poderá ressaltar o papel dos monges na difusão dos 
valores cristãos, ou seja, que não possuíam apenas uma vida contemplativa 
e sim ativa. Os monges copistas expressavam o trabalho, conservavam o 
conhecimento humano e disseminavam o evangelho, contribuindo assim 
para a harmonia social. 
Por fim, você também poderá ressaltar a atualidade desses valores uni-
versais pregados nos mosteiros ao ressaltar um espírito de comunidade e 
convívio social, tal como percebemos como um dos objetivos da institui-
ção escolar de hoje em dia, considerando as diferenças de tempo e lugar.
Constate, agora, como se dava a transmissão do saber nesse Período 
marcado pela instauração da fé católica. Inicialmente temos, como exemplo, 
o que ficou conhecido como o período da Patrística. Iniciado ainda na An-
tiguidade, esse Período teve como principal representante Santo Agostinho.
A Filosofia Cristã: o Período da 
Patrística – Santo Agostinho 
Na passagem da concepção pagã de mundo para a concepção cristã 
era preciso prevenir os desvios da fé. Era preciso harmonizar razão e fé, 
13
Hisória da Educação
sendo que a primeira deve se subordinar a segunda. O Homem ideal 
deveria abdicar do mundo terreno e controlar, racionalmente, as suas 
paixões valorizando o mundo espiritual. Estudiosos começaram a adap-
tar o Pensamento grego à concepção cristã. Na luta contra os pagãos e 
no trabalho de conversão, fazia-se necessário demonstrar que a fé não 
contrariava a razão. O ponto de partida era sempre a verdade revelada 
por Deus; a autoridade indiscutível do texto sagrado. Embora a fé fosse 
considerada mais importante, e a razão apenas seu instrumento, impôs-se 
uma sistematização, conhecida como “filosofia cristã”, que se estendeu 
por dois grandes períodos: o da Patrística e o da Escolástica. 
O período da Patrística, assim chamado por se referir à Filosofia 
dos Padres da Igreja, visando à expansão do Cristianismo, teve início 
no período de decadência do Império Romano, – ainda no século II. 
Embora iniciada ainda na Antiguidade, é significativa por influenciar a 
Educação na Idade Média. A Patrística caracterizava-se pela defesa da fé 
absoluta em Deus e a conversão dos não cristãos e o combate à heresia, 
–de modo que textos em defesa da Igreja Católica e do Cristianismo eram 
permanentemente elaborados. A união entre fé e razão era discutida, 
onde a razão era subordinada à fé. Neste movimento, teólogos retomam 
a Filosofia Platônica, dando destaque a alguns temas, adaptando-os à 
ótica cristã de valorização do supra-sensível, a fim de fundamentar uma 
moral rigorosa, que defendia a abdicação do mundo e o controle racional 
das paixões. Podemos citar como representantes da Patrística Clemente 
de Alexandria, Orígenes e Tertuliano. Mas seu principal representante 
é Santo Agostinho. Vamos saber um pouco mais sobre ele e suas ideias?
Figura 4.2: Santo Agos-
tinho – Afresco de San-
dro Botticelli 
Fonte: http://pt.wikipedia.
org/wiki/Ficheiro:Sandro_
Botticelli_050.jpg
14
 • EducaçãonoOcidenteMedieval
Aureliano Agostinho (354 a 430 d.C.) nasceu em Tagaste, Província 
romana situada na África. Faleceu em Hipona, localizada na Argélia, 
onde ocupou o cargo de bispo da Igreja Católica. De família burguesa, 
seu pai, Patrício, era pagão, recebendo o batismo pouco antes de morrer, 
e a sua mãe, Mônica, era uma cristã fervorosa e exercia sobre o filho uma 
notável influência religiosa. Agostinho faleceu em Hipona (hoje Annada, 
na Argélia), onde ocupou o cargo de bispo da Igreja Católica. [Fonte: 
www.mundodosfilosofos.com.br/agostinho.htm]
Santo Agostinho destacou-se entre os Padres e se inspirou na filo-
sofia de Platão. Ele pertenceu à seita persa dos maniqueus, do final da 
Antiguidade. Para eles o mundo era dividido entre o bem e o mal. Santo 
Agostinho se preocupou com a origem do mal. Antes de se converter 
ao Cristianismo, também foi influenciado pela Filosofia Estóica que 
contestava uma divisão rígida entre o bem e o mal. Antes da conversão 
vivia em crise existencial. Deu aulas de retórica em Tagaste, Roma e 
Milão, onde entrou em contato com o neoplatonismo. Ao converter-se 
ao Cristianismo, dedicou-se à elaboração da filosofia cristã. Escreveu, 
entre outras obras, A cidade de Deus e Confissões. Sobre a Educação 
escreveu De Magistro (Do Mestre), obra na qual dialoga com seu filho, 
Adeodato, de 16 anos. 
Santo Agostinho viveu o conflito de ter sido criado dentro da pedagogia 
pagã e a necessidade de adaptá-la às novas necessidades que a ela se co-
locava da construção de uma nova fé – a cristã. Em Agostinho, o conflito 
foi resolvido, fazendo da cultura clássica um instrumento de adaptação 
às novas ideias. Assim, influenciado pela filosofia de Platão, distingue 
dois tipos de conhecimento: (a) o que advém dos sentidos é imperfeito, 
mutável; (b) o outro é o perfeito conhecimento das essências imutáveis. 
Este último provém do pensamento filosófico de Platão. 
Filosofia de Platão
Platão começa explicando o conhecimento através da alegoria da 
caverna, propondo, em seguida, a Teoria da Reminiscência. Nes-
ta Teoria, a alma teria contemplado as essências no mundo das 
ideias antes da vida presente. Se você quiser conhecer a alegoria 
da caverna indicamos PLATÃO. A república. Livro VII. Apresen-
Neoplatonismo
Movimento filosófico 
desenvolvido, no século 
III, por pensadores 
inspirados nos 
ensinamentos de Platão. 
O Neoplatonismo 
defendia o universo 
pagão, ao invés do cristão.
15
Hisória da Educação
tação e comentários de Bernard Piettre; tradução de Elza Moreira 
Marcelina. 2ª ed. Brasília: Editora Universidade de Brasília,1996.
Agostinho reinterpretou o pensamento platônico à Teoria da Ilumi-
nação. Maria Lúcia de Arruda Aranha nos ajuda a entender melhor o 
pensamento agostiniano.
O ser humano receberia de Deus o conhecimento das verdades 
eternas, o que significa não desprezar o próprio intelecto, pois, 
como o Sol, Deus ilumina a razão e torna possível o pensar cor-
reto. O saber, portanto, não é transmitido pelo mestre ao aluno, 
já que a posse da verdade é uma experiência que não vem do 
exterior, mas de dentro de cada um. Isso é possível porque Cristo 
habita no homem interior. Toda educação é, desta forma, uma 
auto-educação, possibilitada pela iluminação divina. (ARANHA, 
2006, p.113)
Para Santo Agostinho o Homem deveria ser submetido a uma intensa 
educação religiosa. Ele defendeu a superioridade da alma humana, a 
supremacia da alma sobre o corpo e reconheceu a diferença entre a fé e 
a razão, pois a fé nos faz acreditar em coisas que nem sempre podemos 
entender pela razão. (MANCINI, 2006). Resumindo, Agostinho cria a 
Teoria da Iluminação e, nesta Teoria, Deus ilumina a razão humana e, 
assim, por Iluminação o Homem tem acesso à verdade.
Neste cenário, outro teórico da filosofia cristã é São Tomás de 
Aquino. Principal expoente do Período da Escolástica – assim chamado 
por se referir à filosofia das escolas cristãs ou dos doutores da Igreja, 
viveu na Baixa Idade Média – no século XIII. Antes de falarmos de 
Tomás de Aquino se faz necessário conhecer o período carolíngio de 
Carlos Magno. 
16
 • EducaçãonoOcidenteMedieval
A Educação no Império Carolíngio 
Figura 4.3: Império Carolíngio 
Fonte: http://www.mundovestibular.com.br/articles/4857/1/Origem-e-declinio-do-Imperio-
Carolingio/Paacutegina1.html 
Após o declínio do Império Romano do Ocidente era necessário unificar 
a Europa que se encontrava dividida em vários reinos devido às invasões 
bárbaras. Entre os vários reinos se destaca o de Carlos Magno (c. 2 
de Abril de 747 - 28 de janeiro de 814) que, para contar com o apoio da 
Igreja, se converteu ao Cristianismo. 
A dinastia carolíngia foi entregue a Carlos Magno em 768 iniciando 
o período conhecido como Renascimento Carolíngio, que foi até o ano 
de 814, no qual mudanças importantes vão surgir. Carlos Magno foi o 
monarca responsável pelo apogeu da dominação dos francos na Europa 
Medieval. Formou um vasto território e o organizou administrativamente. 
Foi o momento de maior esplendor do Reino Franco que ocupava a 
região central da Europa. 
Nesse sentido, realizou a doação de terras a todos os nobres que o 
auxiliavam durante as batalhas e dividiu todos os domínios imperiais 
em duzentos condados administrados por um nobre e um bispo. No 
ano 800, Carlos Magno se aproximou da Igreja Católica sendo coroado, 
pelo papa Leão III, o primeiro imperador do Sacro Império Romano-
Carlos Magno 
Foi rei dos Francos (de 
771 a 814) e rei dos 
Lombardos (a partir de 
774). Ao assumir o trono 
em 768, empenhou-se em 
expandir seus domínios. 
Anexou o norte da Itália, 
em mãos dos lombardos, 
submetendo a Saxônia, 
a Baviera e a Bretanha. 
Estabeleceu o controle 
franco sobre o nordeste 
da Península Ibérica, 
derrotando os ávaros 
e obtendo a submissão 
de boêmios, morávios 
e croatas. Dividido o 
reino em condados, nas 
regiões fronteiriças criou 
as Marcas, sob o controle 
de um funcionário, 
o que originou o 
termo “marquês”. Suas 
ações favoreceram o 
desenvolvimento dos 
poderes jurídico-militares 
regionais localizados.
Franco
conforme o Novo 
Dicionário Aurélio da 
Língua Portuguesa, o 
termo franco é relativo 
aos indivíduos dos 
francos, entendido 
como confederação 
dos povos germânicos 
que conquistaram 
parte da Gália.
17
Hisória da Educação
-Germânico, restaurando, assim, o antigo Império Romano do Ocidente 
e, consolidando, desta forma, o Império Carolíngio. Este Império ia dos 
Pirineus – uma cordilheira no sudoeste da Europa, formando uma fron-
teira natural entre França e Espanha – à metade do norte da Itália. Carlos 
Magno lutou contra os muçulmanos e os povos saxões da Germânia, 
impondo sua dominação.
Desse modo, o Período conhecido como Renascimento Carolíngio se 
inicia no século VIII, em que mudanças importantes vão surgir e marcar, 
profundamente, o processo de expansão do Cristianismo na Europa. O 
Imperador consagrado passa a ser um defensor e disseminador da fé 
cristã pelas terras por ele dominadas. Assim, o chamado Renascimento 
Carolíngio foi um fenômeno cultural apoiado pela Igreja Católica.
Carlos Magno leva para o seu reino muitos intelectuais, entre eles o 
anglo-saxão Alcuíno de York (735-804). Diretor da Escola do Palácio e 
conselheiro de Carlos Magno, em tudo que era relativo às questões de 
educação, era como uma espécie de Ministro da Educação, como diz Gal 
(1989). Segundo este Autor, Alcuíno fora criado em uma escola episcopal 
na Inglaterra. Por isso era um gramático e um professor impregnado por 
um programa de Estudos Clássicos baseado nas sete artes liberais. 
As Sete Artes Liberais (cerca de 1180)
Fonte: http://pt.wikipedia.
org/wiki/Ficheiro:Septem-
artes-liberales_Herrad-
von-Landsberg_Hortus-
deliciarum_1180.jpg 
H
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ra
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d
sb
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g
18
 • EducaçãonoOcidenteMedieval
As sete artes liberais eram assim chamadas por serem as Artes 
dos indivíduos livres. O conteúdo do ensino nas escolas na Idade 
Média era o estudo clássico das sete artes liberais, com base nos 
ensinamentos dos tempos gregos na Antiguidade. Na Idade Média, 
constituem o trivium e o quadrivium. O primeiro é composto pelas 
seguintes matérias: Gramática, Retórica e Dialética. Já o segundo é 
composto por: Aritmética, Geometria, Música e Astronomia. Este 
Currículo sofreria acréscimos e remodelações com o aparecimento 
das universidades – como veremos adiante. 
A Reforma Educacional de Carlos Magno manteve os conhecimentos 
clássicos greco-romanos sendo Alcuino o responsável pelo desenvolvimento 
do projeto escolar. Escolas foram fundadas e aristocratas estimulados a 
se alfabetizarem. A corte torna-se um centro de homens sábios e parte 
do passado cultural romano é recuperado. 
As escolas funcionavam junto aos mosteiros (escolas monacais), aos 
bispados (escolas catedrais) e às cortes (escolas palatinas). Nessas escolas 
eram ensinadas as sete artes liberais. 
Carlos Magno ambicionava a reforma da vida eclesiástica e do sistema 
de ensino. Homem de pouca instrução, chegou a estudar com Alcuíno, 
mas não conseguiu aprender a escrever. Quanto a isso, nos diz Anibal 
Ponce (1998), ao discutir a violência utilizada pelos senhores feudais, que 
preocupados em aumentar suas riquezas, desprezavam a instrução e a 
cultura. “O próprio Carlos, que foi aluno de Pedro, de Pisa e de Alcuíno, 
e que se esforçou tanto para preparar juristas hábeis, tentou aprender a 
escrever, mas não o conseguiu.” (PONCE, 1998, p.91) De fato, Carlos 
Magno fundou em seu palácio uma escola que serviu de modelo. Ao lado 
da igreja, escolas para o povo e, nos mosteiros, escolas para sacerdotes. 
As Escolas Monacais 
Surgidas por volta do século V com o gradual desaparecimento das 
escolas leigas pagãs, as escolas monacais - assim chamadas por se locali-
zarem junto aos mosteiros, se mantêm no período de Carlos Magno. A 
educação dada nos mosteiros era a alternativa não só para quem quisesse 
seguir a vida religiosa, mas também para aqueles que se interessavam, de 
19
Hisória da Educação
alguma forma, em estudar. Criar escolas não era o objetivo primeiro dos 
mosteiros, porém a atividade pedagógica torna-se necessária para instruir 
novos irmãos. O aspirante, para ser aceito nessa escola, já deveria saber 
ler e escrever, além de ser capaz de cumprir o lema do mosteiro: orar e 
laborar. Nas escolas monacais eram ensinados o Latim e as Humanidades, 
Filosofia e Teologia para os melhores alunos.
Nessas escolas, são fundadas as primeiras bibliotecas, onde os monges 
copiavam os manuscritos de escritores gregos e romanos à luz do Cris-
tianismo. Dentro dessa estrutura,“de um lado os monges, dedicados ao 
culto e ao estudo, do outro, os escravos, os servos e os conversos [con-
vertidos], destinados ao trabalho” (PONCE, 1998, p.89). Nesta divisão do 
trabalho, existiam aqueles monges convertidos que realizavam atividades 
manuais, como cultivar, cozinhar e lavar; por aqueles monges “que não 
tinham condições de frequentar uma escola e se convertiam na fé católica 
para ter um lugar onde morar e servir a Deus”. (MANCINI, 2006, p.67). 
Por sua vez, concordando com Ponce, para Mancini, existiam dois 
tipos de educação nos mosteiros: uma destinada à formação dos futuros 
monges e outra destinada à plebe. Esta, destinada a familiarizar as massas 
campesinas com as doutrinas da fé cristã, e, assim, mantendo-as dóceis 
e conformadas; por outro lado, havia ainda aqueles que cuidavam da 
vida espiritual e cultural das abadias. Entretanto, não se pode deixar 
de reconhecer que grande parte dos escritos da Antiguidade chegou até 
nós graças ao trabalho desses monges copistas. 
Ressalte-se que entre os mosteiros se destaca o dos beneditinos. Em 
529, São Bento funda, em Monte Cassino, na Itália, a Ordem Benedi-
tina – considerada a primeira em importância na Idade Média. Esses 
monges, os beneditinos, eram submetidos a uma disciplina rigorosa e 
se dedicavam ao trabalho intelectual e manual. As Regras de São Bento 
consistiam num conjunto de postulados para o convívio social, dentro 
de um projeto cristão de sociedade (Oliveira, 2008).
Escolas Episcopais ou Catedrais
Nas cidades, as escolas episcopais funcionavam junto a uma 
catedral. Comuns no século VI, se multiplicaram na época de Carlos 
Magno. Inicialmente, seus alunos e mestres eram majoritariamente clérigos. 
O bispo exercia a disciplina e o controle da doutrina cristã. Na ausência 
deste, esse poder era delegado a um representante da Igreja denomina-
do scholasticus, que tinha como função zelar e dirigir a escola-catedral. 
Abadia
Circunscrição (divisão 
territorial) eclesiástica 
sob a jurisdição de um 
abade ou abadessa. O 
termo pode ser entendido 
também como um 
mosteiro governado por 
abade ou abadessa. 
Episcopal
Conforme o Novo 
Dicionário Aurélio da 
Língua Portuguesa, 
o termo episcopal é 
relativo ou pertencente 
a bispo. Igreja Episcopal 
de uma diocese é 
entendida como uma 
circunscrição territorial 
sujeita à administração 
eclesiástica de um bispo 
ou, por vezes, arcebispo 
ou de um patriarca. 
Catedral
é relativo à principal 
igreja de um bispado 
ou arcebispado. 
20
 • EducaçãonoOcidenteMedieval
Embora não recebesse nenhuma remuneração, alguns mestres aceitavam 
presentes e às vezes até dinheiro dos estudantes. Essas escolas coexistiram 
com a Educação dada nos mosteiros. 
Escolas Palatinas
A Escola Palatina, assim chamada porque funcionava ao lado do palá-
cio, era anexada à corte e funcionava para servir à formação dos filhos e 
filhas dos nobres, tornando-se modelo de educação para todos os países 
da Europa Ocidental (GAL, 1989). Distintas das artes mecânicas dos 
servos, o conteúdo do ensino nessas escolas era o estudo clássico das sete 
artes liberais. Diferentes das artes liberais, próprias dos homens livres, as 
artes mecânicas eram consideradas como arte menor por sua origem no 
trabalho dos servos, ligados a trabalhos manuais e pesados.
Após o Período Carolíngio ou do Império de Carlos Magno e o de-
senrolar de seu fim, em torno de 987 (século X), deu-se a fragmentação 
do Império com novo período de retração. É fato que:
A partir do século VIII, com as conquistas do Islã, os europeus 
perderam o acesso ao mar Mediterrâneo, e, com isso, o comércio 
declinou ainda mais, provocando regressão econômica e intensi-
ficando o processo de feudalização. As pessoas se desinteressaram 
de aprender a ler e a escrever, e mesmo na Igreja muitos padres 
descuidavam-se da cultura e da formação intelectual. Apesar des-
ses fatores, cada vez mais o Estado precisava do clero culto nas 
atividades administrativas. (ARANHA, 2006, p.107)
Após a morte de Carlos Magno, em 814, o Império Carolíngio per-
deu força. As terras do Império foram divididas entre os seus três 
filhos: Carlos, o Calvo, ficou com a França Ocidental (que deu origem 
ao Reino da França); Luís, o Germânico, com a França Oriental (a 
futura Alemanha); Lotário, com a França Central, repartida após a 
sua morte, em 870, entre Carlos e Luís o que contribuiu para a sua 
desintegração territorial, tendo em vista o enfraquecimento militar 
e novas invasões bárbaras. Em 987 morre Luís V, o último soberano 
carolíngio da França Ocidental. Com isto, os aristocratas escolhem 
Hugo Capeto, Conde de Paris, como rei marcando o fim da Dinastia 
Carolíngia sobre a França, dando origem à Dinastia Capetíngia, que 
governou o País até o século XIV. 
21
Hisória da Educação
A Formação do Cavaleiro, as Corporações de 
Ofícios e o Surgimento das Universidades 
Com o tempo os burgos, inicialmente relativos a “castelo, casa no-
bre, fortaleza ou mosteiro, incluindo as cercanias, transformaram-se em 
cidades, cujos arredores abrigavam os servos libertos que se dedicavam 
ao comércio que passaram a ser chamados burgueses” (ARANHA, 2006, 
p.107), que eram pessoas que se dedicavam ao comércio. Como isso acon-
teceu? Com o fim das invasões, as Cruzadas liberaram a navegação no 
Mediterrâneo, reiniciando-se o desenvolvimento do comércio e maior 
contato com o Oriente. 
Figura 4.4: Captura de Jerusalém durante a Primeira Cruzada (1099) 
Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:1099jerusalem.jpg
A partir do século XI, na Baixa Idade Média – Período que se inicia na 
virada do Ano Mil –, a atividade da burguesia comercial em expansão co-
meçava a provocar o reaparecimento das cidades e, consequentemente, dos 
burgueses citadinos. Durante esse período, os burgueses faziam movimentos 
contra as autoridades locais (senhores feudais e bispos), reivindicando a 
autonomia administrativa das cidades. Estas, quando emancipadas, passavam 
a ser denominadas comunas, constituindo as primeiras municipalidades 
Cruzadas 
Expedição militar de 
caráter religioso que se 
fazia naquele período 
histórico contra hereges 
e infiéis, provocando 
o contato com outros 
povos. Estes movimentos 
estenderam-se entre os 
séculos XI e XIII para 
recuperar Jerusalém – que 
estava sob o domínio 
dos turcos muçulmanos. 
A ideia era reunificar 
o mundo cristão que 
estava dividido pelo 
“Cisma do Oriente”. 
“Com as cruzadas, 
surgiram as ordens de 
cavalaria, como as dos 
hospitaleiros e a dos 
templários”. (BOTELHO; 
REIS, 2008, p. 61)
22
 • EducaçãonoOcidenteMedieval
de um governo laico, ou seja, autônomo em relação à religião e à Igreja. 
Assim, a partir dos anos mil, mudanças importantes fecundaram o período 
subsequente, mas sempre com ênfase na cristianização da paideia grega, 
no dizer de Aranha (2006); ou seja, uma releitura do pensamento grego à 
luz dos valores cristãos, aliada à revitalização das cidades. 
Por volta daquele século, o comércio ressurgiu, as moedas voltaram 
a circular e os negociantes formaram ligas de proteção. Como resul-
tado das lutas contra o poder dos senhores feudais, aos poucos, as 
vilas se libertaram e se transformaram em comunas ou cidades livres. 
(ARANHA, p.107-8). A terra deixou de ser a base principal da riqueza 
e o dinheiro ocupa lugar como base de troca. Os artesãos vão para as 
cidades em busca de compradores e matéria-prima. É um momento de 
crescimento econômico e de prosperidade, mas também de turbulências, 
tendo em vista o poder e o controle dos senhores feudais, sobre a terra 
onde as cidades estavam se estabelecendo. Neste processo, surgem as 
Corporações de Ofícios. No momento, é importante que você entenda 
quais os motivos de sua existência, o que foram e como se constituíram 
essas Corporações.
Repare como foi se dando a construção de campos de saber, a separação 
de funções mais manuais, a forma como a possibilidade de estudar vai 
se impregnando lentamente na rede social, dentreoutros movimentos. 
Todos estes acontecimentos contribuem para o nascimento futuro da 
Universidade, que englobará, de diferentes formas, funções manuais 
assim como o pensamento teórico que envolve as mesmas. É assim que, 
dessa arquitetura de escolas de pensamento na Idade Média, cria-se 
uma espécie de embrião para a cena universitária que vivenciamos hoje 
com tanta naturalidade. Estando a sociedade medieval organizada dessa 
maneira, vejamos como se davam as formas de formação e a educação 
dos homens e mulheres que podiam estudar.
A formação do cavaleiro: uma formação militar
Sobre a formação dos cavaleiros, Aranha (2006) nos informa que até o 
século X, os senhores feudais recrutavam seus soldados entre os homens 
livres. Com o descentralização da autoridade monárquica e a fragmentação 
dos reinos em inúmeros ducados e condados (respectivamente, territórios 
de Duques e de Condes), recorria-se ao cavaleiro – soldado que possuía 
cavalo e roupa adequada, armadura e era habilidoso com as armas.
Corporação
Trata-se de uma 
associação de pessoas do 
mesmo credo religioso 
ou profissão sujeitas 
às mesmas regras, 
obrigações, direitos, 
deveres, privilégios etc.
Cavaleiro
moço que, na Idade 
Média, sozinho ou 
acompanhado, “corria 
terras em busca de 
aventuras, a fim de 
defender os fracos, lutar 
pela igreja, pela justiça, 
desagravar damas e 
donzelas” etc. (Novo 
Dicionário Aurélio da 
Língua Portuguesa, 1986)
23
Hisória da Educação
A cavalaria era uma instituição da nobreza. De acordo com os costu-
mes da época, o primogênito herdava as terras e a seus irmãos restava o 
caminho do clero ou da cavalaria. 
Para Aníbal Ponce (1998), na Idade Média, a nobreza pode ter carecido 
de escolas, mas não de educação. No caso da formação dos cavaleiros, o 
autor a descreve relacionando-a com um sistema parecido ao dos efebos 
da nobreza grega. 
Para que você entenda melhor, veja nas palavras desse autor, como ele 
descreve essa formação do cavaleiro, que passava por sucessivas iniciações, 
desde a condição do menino como pajem, passando a escudeiro, até a 
sua sagração como cavaleiro. 
O jovem nobre vivia sob a tutela materna até os sete anos, 
ocasião em que entrava como pajem ao serviço de um cava-
leiro amigo. Aos quatorze, era promovido a escudeiro e nessa 
qualidade acompanhava o seu cavaleiro às guerras, torneios e 
caçadas. Por volta dos vinte e um anos, era armado cavaleiro. 
(PONCE, 1998, p.92)
Das corporações de ofícios, as escolas 
episcopais ou catedrais, a universitas studii
Nas cidades, com a expansão do comércio, o que antes era reservado 
apenas ao consumo familiar amplia-se. O contato com outros povos, so-
bretudo com o Oriente, devido às Cruzadas, provoca também o aperfeiço-
amento das técnicas dos trabalhos realizados. Dessa forma, organizam-se 
corporações de ofícios para regular a produção e as ocupações de alfaiate, 
ferreiro, boticário, sapateiro, tecelão, marceneiro, entre outras.
Desse modo, para possuir uma oficina era preciso dispor de dinheiro 
e provar, através de exames, ser capaz de produzir uma obra em sua 
especialidade. Se aprovado pela corporação, o aspirante pagava uma 
taxa, recebia o título de mestre e a licença para montar o negócio ou 
mesmo empregar-se. Os aprendizes viviam na casa do mestre e não 
recebiam e nem pagavam qualquer valor pelos ensinamentos e pelo 
trabalho que exerciam na aprendizagem, porém eram alimentados 
por ele. (ARANHA, 2006)
Efebo
Na Grécia antiga, rapaz 
que atingiu a puberdade. 
Em Atenas, aqueles 
entre 18 e 20 anos 
submetidos à educação. 
24
 • EducaçãonoOcidenteMedieval
Para saber mais sobre as Corporações de Ofício, veja SANTONI 
RUGIU, Antonio. Nostalgia do mestre artesão. Tradução de Ma-
ria de Lourdes Menon. Campinas, SP: Autores Associados, 1998. 
(Coleção memória da educação). O autor é professor emérito na 
Universidade de Florença (Itália). Prefácio de Dermeval Saviani.
Nesse processo, proliferaram-se as corporações de ofícios – universi-
tas, denominação geral para associações juridicamente organizadas e 
reconhecidas por todos, que visavam controlar e regular a produção de 
diversas profissões surgidas na Idade Média. Essas Associações congrega-
vam pessoas de um mesmo ofício submetidas a estatutos próprios. Dessa 
forma, a palavra universidade (universitas) não significava, inicialmente, 
um estabelecimento de ensino, mas qualquer assembleia corporativa seja 
de marceneiro, curtidores, sapateiros, carpinteiros, tecelões, herboristas, 
entre outras. Essas corporações de ofícios “exerceram um papel educativo 
fundamental e de ‘massa’, especialmente nas cidades, emancipando o 
trabalhador de uma ética apenas religiosa e eclesiástica, e marcando a sua 
mentalidade em sentido laico, técnico, racionalista.” (CAMBI, 1999, p.175)
Entre essas corporações, vamos encontrar um tipo especifico - as Cor-
porações de Estudos, constituídas inicialmente de mestres e alunos que 
cultivavam as ciências e que se reuniam para discussões sem a preocupa-
ção de uma aplicabilidade imediata desses estudos - a universitas studii. 
Segundo outro autor chamado Roger Gal (1989), essas corporações de 
estudos eram, em parte, associações de apoio mútuo e, de igual modo, 
confrarias religiosas visando defender direitos de mestres e alunos. Com 
o tempo, essas corporações de estudos vão tomando outra configuração. 
Para continuarmos a nossa conversa sobre a origem das Universidades, 
a seguir tomaremos como ponto de referência a obra História da educação: 
da Antiguidade aos nossos dias, de Mario Alighiero Manacorda. É 
importante ressaltar que à época de sua produção, esta obra destinava-
-se a ser difundida através de uma série de transmissões radiofônicas da 
Rádio-Televisão Italiana, sob o título A Escola nos Séculos, como conta 
Paolo Nosella na orelha do livro. 
Mario Alighiero 
Manacorda 
(1914-2013)
Lecionou Pedagogia e 
História da Pedagogia 
nas Universidades de 
Cagliari, Viterbo, Florença 
e Roma. É considerado 
na Itália um dos maiores 
representantes italianos 
no campo da Pedagogia. 
25
Hisória da Educação
Agora você já sabe que a palavra universidade (universitas) se referia 
às diversas corporações de ofícios e que desta universitas surgiu um tipo 
muito especifico, a universitas studii. Agora vamos entender um pouco 
como era essa Corporação de Estudo? Com o surgimento da economia 
mercantil das cidades e a organização em comuna na Europa, surgem 
para a instrução os mestres livres - clérigos não ordenados ou leigos 
que atuavam junto às Escolas Episcopais sob a tutela jurídica da Igreja e 
também do Império. Munidos da licentia docendo (licença para lecionar) 
concedida pelo scholasticus, fora dos muros das escolas e de forma 
itinerante, esses mestres livres, que mudavam de um lugar para outro, 
ensinavam também aos leigos. Assim, satisfaziam as exigências culturais 
da burguesia e de uma nova sociedade em construção. 
Os clérigos não ordenados ou leigos ensinavam especialmente as ar-
tes liberais do trivium - composto pelas seguintes matérias: Gramática, 
Retórica e Dialética - e do quadrivium - composto por: Aritmética, Geo-
metria, Música e Astronomia. Em conformidade com a tradição clássica 
que remonta, por exemplo, a Santo Agostinho, a meta desse Currículo era 
preparar o estudante para os estudos teológicos, aos quais se somariam 
as faculdades de Direito e Medicina.
Para Manacorda, é provável que esses mestres livres tenham contribu-
ído para o surgimento das universidades devido a sua futura organização 
em corporações de estudo. Ele nos informa que, em Salerno, já antes do 
ano 1000, existia uma tradição da prática médica que foi assumindo, 
paulatinamente, o caráter de uma escola teórica. Dois séculos depois foi 
reconhecida como Studium generale, significando, com isso, que o título 
concedido era reconhecido em qualquer lugar, elemento característico de 
uma universidade. Esse reconhecimento favorecia a circulação dos mes-
tres, pois com a autorização docente, podiam lecionar em qualquerlugar. 
Um outro tipo de ensino, iniciado no século XI, também se desenvol-
veu sobretudo nas universidades italianas: a Ars Dictandi, que ensinava a 
escrever cartas e atos oficiais, diplomas, privilégios papais etc., e, às vezes, 
cartas familiares, do pai ao filho, do sobrinho estudante ao tio tutor etc. 
Este tipo de ensino teve seu apogeu no século XIII com alguns mestres 
em Bolonha. Foi em Bolonha, na segunda metade do século XI, que teve 
início o ensino de Direito Romano Civil, pelo qual “se costuma começar 
a história das universidades medievais” (MANACORDA, 1995, p.146). 
No século XII, o ensino do direito romano passou a abranger também 
o ensino do direito canônico. Portanto, percebem-se três campos de 
estudos distintos: as Artes Liberais, a Medicina e a Jurisprudência. 
Scholasticus e 
magister
Escolásticos – 
denominação para os 
clérigos vinculados ao 
ensino. Esses clérigos 
introduziram para o 
estudo da Língua Latina 
o procedimento de 
retirar dos textos da 
Antiguidade Clássica 
apenas os trechos em que 
se evidenciava o aspecto 
formal da língua ou 
modelos de estruturação 
da ordenação lógica do 
discurso, como matéria de 
reflexão e ensinamento. O 
Scholasticus é o professor 
das Artes Liberais e mais 
tarde também professor de 
Filosofia e Teologia, sendo 
oficialmente chamado 
magister (mestre).
Direito 
Canônico
O direito canônico é o 
conjunto das normas 
que regulam a vida na 
comunidade eclesial. 
Está diretamente 
relacionado ao dia a dia 
dos católicos no mundo.
Jurisprudência 
é um termo jurídico 
que significa as 
decisões reiteradas 
de um determinado 
tribunal sobre uma 
matéria de Direito.
26
 • EducaçãonoOcidenteMedieval
Acrescenta-se a eles, no início do século XIII, o ensino da Teologia 
pelos dominicanos, como Santo Tomás de Aquino, que eram frades per-
tencentes à Ordem de São Domingos. Essas quatro Faculdades (facultas) 
compõem as universidades medievais. As faculdades de artes tiveram 
por muito tempo função propedêutica, ou seja, base para qualquer outro 
estudo e sem muita distinção das escolas de gramática. 
Nesse momento, a igreja Católica, que mantivera a hegemonia religio-
sa, cultural e espiritual no Ocidente, passa a ser afrontada pelas heresias 
disseminadas com o ressurgimento das cidades. Temerosa, a igreja con-
servadora instala a Inquisição ou Santo Ofício, cujos Tribunais se espalham 
a partir do século XII na Europa para apurar os “desvios da fé”. 
Inquisição ou Santo Ofício
O termo Inquisição refere-se a várias instituições dedicadas à elimi-
nação da heresia no interior da Igreja Católica. Fundada em 1184, 
no sul da França, a Inquisição foi criada inicialmente para combater 
alguns grupos religiosos, que praticavam a adoração de plantas 
e animais. O condenado era muitas vezes responsabilizado por 
uma “crise da fé”, por pestes, terremotos, doenças e miséria social, 
sendo entregue às autoridades do Estado para que fosse punido. 
Confisco de bens, perda de liberdade e até mesmo a pena de morte, 
muitas vezes na fogueira, são exemplos de penas aplicadas àqueles 
que eram acusados por “desvios da fé”. O delator que apontava o 
“herege” muitas vezes garantia a sua fé e status perante a sociedade. 
 
Na mesma época, a erudição, ou seja, o saber aprofundado em um ramo 
do conhecimento, que até então havia sido uma prerrogativa da esco-
lástica, tornava-se dia a dia mais leiga. Nas universidades, os estudantes 
eram castigados por, entre outros motivos, não falarem apenas o latim.
Assim, no início do século XIII, quando as universidades se conso-
lidam e se difundem, surgem as novas ordens religiosas: as ordens de 
Pregadores, os dominicanos, e de Mendicantes, os franciscanos, que 
Escolástica
Refere-se ao ensino 
filosófico próprio da 
Idade Média Ocidental, 
fundamentado na tradição 
aristotélica e inseparável 
da Teologia. Chama-se 
Escolástica por ser a 
filosofia ensinada nas 
escolas daquele período.
Mendicantes
São ordens religiosas 
que fazem voto de 
pobreza, vivendo 
apenas de esmolas.
27
Hisória da Educação
renovam as escolas e os estudos. Os dominicanos dedicam-se à Teologia 
e os franciscanos às Artes Liberais. 
Essas ordens assumiram o trabalho de manter a ortodoxia religiosa, 
implantada pela Inquisição, com censura e rigor, determinando a puni-
ção dos dissidentes da fé católica, a queima de livros e dos seus autores. 
Foram responsáveis pelo modelo de teorização do pensamento medieval: 
o modelo típico dos dominicanos - ligados à valorização da razão em si 
e como instrumento para penetrar e desenvolver o significado da fé, e o 
modelo dos franciscanos – destinado a sublinhar a superioridade da fé 
em relação à razão. 
Com título homônimo da obra literária de Umberto Eco de 1980, 
o filme O nome da rosa estrelado por Sean Conery e dirigido por 
Jean-Jacques Annaud, de 1986, é ambientado em um mosteiro be-
neditino do Norte da Itália que continha o maior acervo cristão do 
mundo. O filme conta a história de um monge franciscano, William 
de Baskerville que chega a esse mosteiro acompanhado de um 
noviço, Adso Von Melk, e pretende participar de uma assembleia 
para decidir se a Igreja Católica devia doar parte de suas riquezas. 
Porém, a atenção de todos é desviada por muitos assassinatos que 
ocorrem no mosteiro. William de Baskerville começa a investigar 
o caso, mas os mais religiosos acreditam que tal fato é obra do 
Demônio. Antes que ele conclua suas investigações, Bernardo Gui, 
o Grão-Inquisidor, chega ao local pronto para torturar qualquer 
suspeito de ter cometido assassinatos em nome do Diabo. Por não 
gostar de Baskerville, o Inquisidor o coloca no topo da lista dos que 
são diabolicamente influenciados. Esta batalha, junto a uma guerra 
ideológica entre franciscanos e dominicanos, é travada enquanto o 
motivo dos assassinatos é lentamente solucionado. Ficou interes-
sado no filme? Então, prepare a pipoca que a seção vai começar!
Fonte: http://www.adorocinema.com/filmes/filme-2402/ 
Ortodoxia 
religiosa
que está conforme a 
doutrina religiosa; é rígida 
em suas convicções.
28
 • EducaçãonoOcidenteMedieval
Nesta Seção, então, você viu como foi o surgimento das universidades 
medievais, a universitas studii, e quais eram, a princípio, seus diferentes 
campos de estudo. Na próxima Seção você ficará por dentro de como foi 
a expansão dessas universidades pela Europa Ocidental. 
Atividade 2
Atende ao Objetivo 2
Daça um pequeno texto, explicando como se deu a formação do homem 
medieval cristão tendo em vista a atuação da Igreja Católica no campo 
da educação e do surgimento das escolas cristãs. 
Resposta comentada
De início, é preciso dizer que, na passagem da concepção pagã de mundo 
para a concepção cristã, era preciso prevenir os desvios da fé. O Homem 
medieval deveria abdicar do mundo terreno e controlar, racionalmente, as 
suas paixões valorizando o mundo espiritual. Os pensamentos de Santo 
Agostinho e de Santo Tomás de Aquino, eram representativos desse ideal. 
Se você entendeu que para disseminação dessa visão de mundo e a for-
mação desse novo Homem, as escolas se tornariam necessárias, prossiga. 
Assim, no lugar das escola pagã, vão surgindo,por volta do século V, as 
escolas monacais - assim chamadas por se localizarem junto aos mosteiros. 
Como você já sabe, nessas escolas, foram fundadas as primeiras biblio-
tecas e nelas os monges copiavam os manuscritos de escritores gregos e 
romanos à luz do Cristianismo. 
Outro tipo de escola que merece destaque são as Escolas Episcopais ou 
Catedrais, assim chamadas por funcionarem nas cidades junto a uma 
29
Hisória da Educação
catedral, sendo comuns no século VI. O bispo exercia a disciplina e o 
controle da doutrina cristã e na sua ausência esse poder era delegado a 
um representante da Igreja denominado scholasticus. 
Destacam-se ainda, no período, as Escolas Palatinas - assim chamadas 
porque funcionavam ao lado do palácio para servir á formação dos filhos 
e filhas dos nobres.
Essas escolaspermaneceram no período do Império Carolíngio. Por 
volta do ano 800, Carlos Magno se aproximou da Igreja Católica sendo 
coroado, pelo papa Leão III, o primeiro imperador do Sacro Império 
Romano-Germânico. A conversão dessa imperador marcou o processo 
de expansão do Cristianismo na Europa.
A difusão da universidade na Europa 
Ocidental e seus estudantes
Após o surgimento das universidades, a expansão pela Europa Ociden-
tal foi rápida e enorme! Os dados trazidos por Franco Cambi (1999) são 
significativos. Vejamos: na Itália, por volta de 1200, havia studii de Artes 
Liberais em Pávia, Verona, Vicenza, Florença, Siena e Pádua; em 1300, já 
havia onze universidades e, em 1400, outras sete. Neste ano, na França, se 
contavam nove universidades; sete na Espanha (a começar por Salamanca); 
duas na Inglaterra (Oxford e Cambridge); em Portugal, na Alemanha e 
nos Países Eslavos. Esses números variam um pouco de autor para autor. 
Cintia Greyve Veiga (2007), em seu estudo sobre o surgimento das 
universidades nos séculos XII e XIII, recorre a Jacques Verger. 
De acordo com o modo como foram criadas, Verger classifica as Uni-
versidades em três modalidades: as espontâneas, as formadas por migração 
e as instituídas por autoridades religiosas ou pela nobreza. 
1. As universidades espontâneas: foram aquelas oriundas de escolas 
preexistentes. São exemplos,a Universidade de Oxford, na Inglaterra; 
as de Montpellier e Paris, na França; Bolonha, na Itália. 
2. As universidades formadas por migração: são aquelas universidades 
que se organizaram pela instalação de uma corporação de mestres 
e alunos dissidentes de outra. É o caso da Universidade de Pádua, 
na Itália, nascida de um movimento dissidente da Universidade de 
Jacques Verger 
Nascido em 1943, em 
Telence Gironde, na 
França, é especialista 
em estudo dos saberes 
na Idade Média. Doutor 
em letras e professor 
na Universidade de 
Paris XIII. O estudo de 
Verger aborda os reflexos 
da intelectualidade 
medieval e sua ligação 
com a criação de uma 
nova instituição de 
ensino: a Universidade.
30
 • EducaçãonoOcidenteMedieval
Bolonha; da Universidade de Cambridge, na Inglaterra, nascida da 
separação da Universidade de Oxford. 
3. As universidades criadas por papas, imperadores, reis, príncipes: estas 
universidades traziam estatutos e privilégios definidos nas bulas ou 
cartas de fundação. Exemplos dessa modalidade são a Universidade 
de Nápoles, na Itália; as de Salamanca e Valladolid, na Espanha; a de 
Lisboa, em Portugal; as primeiras universidades germânicas. 
No fim da Idade Média, a Europa Ocidental, já contava com aproxima-
damente um número de oitenta universidades, cada qual com sua história 
de origem. Mas, vamos nos aprofundar mais nesse assunto, conhecendo 
agora a vida universitária das Corporações de Estudos. 
É bom que você saiba que, inicialmente, a universitas studii não se vin-
culava a um prédio ou estabelecimento escolar especifico, na forma que você 
conhece hoje, mas a um agrupamento de indivíduos, alunos e/ou professores 
com atividades de estudos leigos ou clérigos, com exceção dos estudos de 
Teologia. Os mestres ministravam suas aulas em qualquer lugar – salas 
alugadas, na própria casa ou mesmo em espaços das igrejas (VEIGA, 2007). 
De acordo ainda com a autora, na Europa, os primeiros prédios destinados 
especificamente às chamadas universitas studii datam do século XV. 
Assim, como vimos, os poderes papal e imperial (ou régio) agiram 
para regulamentar as universidades, criando algumas delas. A origem 
dessas instituições está “na confluência espontânea de clérigos de várias 
origens para ouvir aulas de algum douto famoso”. (MANACORDA, 1999, 
p.147). Naquela época, havia clérigos vagantes que não dispunham de 
muito dinheiro, mas havia também os que não deixavam de levar uma 
vida dissoluta de jogos, bebidas e mulheres. Dessas desordens e do desejo 
de levar uma vida de aventuras própria da juventude, nasceu o tipo de 
estudante “vagabundo” – o goliardo. 
Os goliardos não eram estudantes agradáveis para as cidades onde se 
instalavam. 
Os cantos goliárdicos remanescentes, especialmente da coletânea 
dos Carmina burana, falam mais de mulheres, vinho, caça deses-
perada ao dinheiro, conflitos com os mestres e os cidadãos, do 
que de estudos sérios. (MANACORDA, 1999, p.147). 
Assim, aproveitavam a licença, obtida ou arrancada, para afastar-se 
de seus mosteiros. 
Goliardo
talvez de Golias, 
o gigante filisteu, 
símbolo de Satanás – 
explica Manacorda. 
31
Hisória da Educação
A Roda da Fortuna – no Codex dos Carmina Burana
Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:CarminaBurana_wheel.jpg 
Carmina burana, compilados em um manuscrito do século XIII, 
são textos poéticos de provável autoria dos goliardos. O Códex 
(manuscrito em pergaminho semelhante a um livro) contém com-
posições poéticas em latim, do Período Medieval, em folhas de 
pergaminho decoradas com miniaturas. Atualmente, o Manuscrito 
encontra-se na Biblioteca Nacional de Munique. Carl Orff (1895-
32
 • EducaçãonoOcidenteMedieval
1982), compositor alemão, teve acesso a esse Códex e arranjou 
alguns dos poemas em canções seculares para solistas e coro. A 
palavra Carmina é o plural de Carmen (em português, Canção). 
O título inteiro significa literalmente: Canções dos Beurens; esta 
última palavra se refere ao fato de que os textos escolhidos por 
Orff para a cantada foram descobertos em um mosteiro beneditino 
da Baviera, em Benediktbeuren, no sudoeste da Alemanha. Os 
Carmina Burana exaltam o jogo, o amor e o vinho. É, portanto, 
uma obra coral baseada em poemas e canções profanas escritos 
em latim e alemão medievais, provavelmente entre os séculos XII 
e XII. Foi apresentada pela primeira vez na Alemanha em 1937. 
Fontes: http://www.bachiana.com.br/site/images/stories/arquivos/tradu-
cao_carmina_burana_scm.pdf
http://www.filologia.org.br/ixcnlf/13/04.htm
http://www.das.ufsc.br/~sumar/perfumaria/Carmina_Burana/carmi-
na_burana.htm
Assim, esses estudantes vagantes criticavam a ordem social, religiosa e 
laica - atacavam os nobres e os frades, por exemplo. Como vimos, foram 
eles que constituíram associações, societates scholarium, que se tornaram, 
por volta do século XII, a universistas studii à semelhança das Corporações 
de artes e ofícios e com estatuto próprio garantidor de sua autonomia. 
Este estatuto variava de acordo com as Corporações de cada localidade e 
regulamentava os procedimentos dos sujeitos cujas atividades se ligavam 
ao studium: além de professores e alunos, bedéis, livreiros, copistas, 
barbeiros e boticários (vinculados ao estudo da Medicina). 
Cynthia Greive Veiga (2007, p.22) nos informa que as corporações de 
estudos possuíam algumas características comuns, como as “assembleias 
para tomada de decisões (realizadas em igrejas ou conventos), eleição de 
representantes, garantia dos privilégios, ritual de exames e colação de grau.” 
As universidades criadas por papas, imperadores, reis e príncipes traziam 
estatutos e privilégios definidos nas bulas ou cartas de fundação. Sucessivas 
bulas papais estabeleceram a proteção e os privilégios dos cooperados, 
como é o caso das prebenhas (renda eclesiástica que garantia o sustento dos 
mestres), e limitaram bastante os poderes locais dos bispos e chanceleres. 
Bedéis
Mensageiros dos 
estudantes, aqueles que 
anunciam as festas, 
convocam reuniões e 
mediavam a compra 
e venda de livro.
33
Hisória da Educação
Entretanto, esse controle das universitas através de privilégios, não era 
apenas pela autoridade eclesiástica (o papa), mas também pela nobreza 
(reis e príncipes) e/ou pelos dirigentes municipais. Os privilégios ou re-
galias incluíam obter das cidades isenção de serviço militar, de impostos 
e taxas, aluguéis mais baixos, tanto para alunos quanto para os mestres. 
Alguns mestres também ocupavam cargos administrativos, prestavam 
serviços a soberanos ou exerciam o oficio em âmbito particular. 
Muitos reis fundaram universidadese concederam-lhes privilégios 
– como foi o caso, por exemplo, da Universidade de Bolonha que, já no 
início de 1100, apresentava sua vocação para tornar-se centro de estudo de 
Direito. Os estudantes vagantes honestos ou vagantes goliardos receberam 
apoio, em Bolonha, do imperador Frederico I, que reconheceu a univer-
sitas (ou corporação estudantil) bolonhesa em 1158. No ano seguinte, o 
papa Alexandre III também a reconheceu. 
Inicialmente a expressão Universidade de Bolonha, por exemplo, 
era apenas uma abreviação da expressão Universidade dos Mestres 
e Estudantes de Bolonha.
Outras intervenções do poder político acontecem, sancionando no-
vos privilégios acadêmicos. Em Castela e Leão são sancionadas leis por 
Afonso X, o Sábio (1252-1284), estabelecendo o que era estudo, os tipos 
de estudo e por ordem de quem deveria ser feito. Dessas leis, destacamos 
as que se seguem para sua melhor compreensão e conhecimento de como 
deveria ser a vida universitária naquele momento nas universitas studii. 
Estudo é união de mestres e estudantes, que se realiza em qualquer 
lugar com a vontade e o objetivo de aprender as ciências. Existem 
duas espécies de estudo: a primeira é aquela que chamamos de 
‘estudo geral’, em que há mestres das artes, como gramática, ló-
gica, retórica, aritmética, geometria, música e astronomia, como 
também há mestres de decretos e senhores de leis; este estudo 
dever ser estabelecido por mandado do Papa, do imperador ou 
do Rei. A segunda espécie é aquela que chamamos de ‘estudo 
34
 • EducaçãonoOcidenteMedieval
particular’, que é o ensino que um mestre ministra numa cidade 
qualquer, privadamente, a alguns alunos...(Lei I apud MANA-
CORDA, 1999, p.151).
A lei fala no estudo geral (studii generale) e em faculdades. Porém, 
neste caso, trata-se inicialmente de, apenas, duas: Artes e Direito (canô-
nico e civil). Fundada em 1230 e consolidada em 1242, a Universidade 
de Salamanca, por exemplo, também oferecia Teologia e Medicina. 
As leis ainda mencionam também o papel dos livreiros. 
É necessário que em cada estudo geral, para que seja completo, 
existam livreiros que tenham em suas livrarias livros bons, legíveis 
e verazes no texto e nas glossemas, que os estudantes possam tomar 
por empréstimo esses livros, pra, copiando-os, fazer novos livros 
ou emendar os velhos (Lei XI, Ibid., p.153) 
Fala também sobre o direito de associação de mestres e estudantes: 
Os antigos proibiam que se fizessem associações e confrarias nas 
cidades e nos reinos, porque nada de bom nasce nelas; todavia, 
julgamos justo que os mestres e estudantes no estudo geral possam 
organizar-se, já que eles se unem com boas intenções, e são, de fato, 
forasteiros e de lugares distantes; convém, portanto, que de acordo 
com o direito que eles têm, todos se ajudem mutuamente naquilo que 
é necessário ao estudo, a si mesmos e às suas coisas. (Lei VI, Ibid). 
Como em Bolonha, em Paris, o afluxo de estudantes levou-os a reu-
nirem-se em nações – picardos, normandos, ingleses e franceses – 
segundo suas origens. 
Em 1245, essas quatro nações das Artes elegeram um Reitor, que se 
tornou pouco a pouco o chefe da Universidade e o seu principal funcio-
nário. O reitor que governava a universidade devia controlar a qualidade 
dos livros e seus preços. Possuindo jurisdição civil, convocava e presidia 
assembléias e era assistido por um conselho submetido às decisões das 
assembléias gerais e composto por delegados das nações de alunos e por 
alguns funcionários. 
Os estatutos de 1317 da Universidade de Bolonha impunham que o 
Reitor fosse um eclesiástico erudito, solteiro e usasse batina. Aníbal Ponce 
Picardos 
são pessoas naturais 
ou habitantes de 
Picardia, região da 
França, localizada 
ao norte do País. 
Normandos 
são os naturais ou 
habitantes de Normandia 
– região histórica do 
noroeste da França.
Reitor
Como herança da Idade 
Média, você sabe que 
a universidade atual 
tem um reitor ou uma 
reitora que a dirige. 
Mas também é o título 
que recebe o pároco de 
certas freguesias (divisão 
própria da igreja católica 
– povoação); o prior. 
35
Hisória da Educação
(1998, p.100) nos diz que, na época de Inocêncio II (1130-1143), – Papa 
que instituiu o celibato – a Universidade de Paris teve um atrito com o 
Chanceler da Catedral, que pretendia que os candidatos à licenciatura lhe 
jurassem fidelidade, além de se referir com indignação às assembleias de 
professores. O Papa, prevendo a importância futura da universidade, se 
pronunciou a favor do Chanceler. A exigência de que o reitor fosse clérigo 
foi, aos poucos, caindo em desuso e os interesses intelectuais, que a prin-
cípio eram exclusivamente religiosos, passaram a ser filosóficos e lógicos. 
Mesmo com esse apoio político, a igreja Católica mantinha as uni-
versidades sob sua influência através da concessão, com exame prévio 
dos títulos de estudo, da autorização para ensinar. “A ‘conventatio’ era a 
cerimônia pública que sucedia a da concessão da ‘licencia’, interna da uni-
versidade. Portanto, na ação dos mestres livres nota-se uma continuidade 
ininterrupta, pelo menos na direção política, entre as escolas episcopais 
e as universidades.” (MANACORDA, 1999, p.150). 
Assim se organizaram as faculdades de artes (que aglutinavam mestres 
e alunos das Sete Artes Liberais) e as faculdades de estudos superiores de 
Teologia, Direito e Medicina. Quanto aos estudantes clérigos vagantes estes 
constituíram por muito tempo problemas para as cidades hospedeiras, 
para o Poder Público e para a Igreja. Esta instituiu que aqueles estudantes 
que se tornassem goliardos e não se corrigissem perderiam os privilégios 
concedidos. Se os goliardos chegavam até a mendigar para farrear, havia 
aqueles estudantes que trabalhavam para estudar. 
Agora você já sabe como se organizavam as universidades medievais, por 
quem elas eram compostas, todos os privilégios e concessões que lhes eram 
dadas e a influência da Igreja Católica sobre elas. Vamos, então, saber mais 
um pouco sobre como os estudos terminavam e os títulos que os alunos rece-
biam, bem como perceber a importância da Universidade para a Burguesia.
A obtenção do grau 
Como qualquer corporação, na corporação da universitas studdi há a 
exigência de provas para obter os títulos de bacharel, licenciado e doutor, 
assim como o artesão que desejava trabalhar num ofício qualquer devia 
se inscrever no grêmio respectivo, trabalhando primeiro como aprendiz 
e depois como oficial até chegar a mestre. 
Para que você entenda melhor o que significava cursar uma faculdade 
na Idade Média, vejamos agora o que dizem Cynthia Greive Veiga (2007), 
36
 • EducaçãonoOcidenteMedieval
Franco Cambi (1999) e Aníbal Ponce (1998). Como já vimos, fazer uma 
faculdade e se graduar significava frequentar as aulas de um professor 
da corporação de estudos – universitas studii e praticar os atos prescritos 
para se tornar um mestre (Faculdades de Artes) ou um doutor (Medicina, 
Teologia e Direito). 
Para concluir a Faculdade de Artes, os estudos duravam em média 
seis anos e os de Teologia até 15 anos. Cursar a Faculdade de Arte não 
era uma exigência legal para ingressar nos Estudos Superiores, porém o 
conhecimento prévio das disciplinas dessa Faculdade era uma exigência. 
De igual modo, para ingressar na mesma Faculdade era necessário o co-
nhecimento de latim, adquirido numa escola ou com mestres particulares. 
Nesse sentido, a Universidade de Paris, por exemplo, foi se organizan-
do em colégios para acolher os jovens estudantes, e em nações, segundo 
a práxis bolonhesa, como você já sabe: francesa, normanda, picarda e 
inglesa. Estes estudantes, “passando das artes liberais para as três facul-
dades superiores, desempenhavam também um papel de docentes na 
faculdade inferior”. (CAMBI, 1999, p.183). Porém, ocorreram conflitos 
entre as corporações estudantis e as dos docentes das corporações supe-
riores (Teologia, Direito e Medicina). 
Os estudos terminavam com uma “cerimônia de disputa oudebate” 
(determanatio) que designava o estudante como bacharel. Com mais dois 
anos de estudos, era designado magister (através da licentia docendo). 
Seis meses depois, era licentiatus. Os títulos de mestre e doutor eram 
antecedidos de debates com alunos e mestres. “O candidato recebia a 
insígnias de seu titulo – barrete, anel e livro e oferecia presentes e um 
banquete” (VEIGA, 2007, p. 27). Devido ao custo da solenidade, muitos 
deles se contentavam apenas com a licença e não recebiam o grau. 
Concretamente, a cerimônia final da aprovação – a conventatio - exigia 
muitos gastos. Vejamos o que diz Aníbal Ponce: 
O diplomado devia dar vários presentes ao promotor (correspondente 
ao nosso orientador de tese), aos doutores que integravam a sua 
banca examinadora e ao doutor que havia pronunciado o sermão 
de encerramento. E, se isso acontecia por ocasião da formatura, o 
mesmo acontecia quando do ingresso na universidade. Os próprios 
estudantes exigiam que o “calouro” patrocinasse um lauto festim, 
como parte do trote a que o submetiam. (PONCE, 1998, p.101).
Insígnias
Sinal distintivo de uma 
função, de dignidade, 
de posto, de comando, 
de poder e de nobreza. 
Também símbolo, 
emblema e divisa. No 
caso são representativos 
o barrete (chapéu 
quadrangular usado por 
clérigos), o anel e o livro. 
37
Hisória da Educação
Aníbal Ponce (1998) destaca a importância da Universidade para a 
burguesia, considerando que a conquista de um título universitário elevava 
o burguês quase ao nível da nobreza, ao ostentar os signos da dignidade 
doutoral – a borla, o capelo, o anel e o livro. Assim, a Universidade era 
uma instituição que permitia à burguesia participar de muitas vantagens, 
da Nobreza e do Clero, até então não tidas. Para o autor, a riqueza dos 
comerciantes criava nas universidades medievais um clima adequado para 
o aparecimento dos doutores, assim como no século V a.C., em Atenas, 
essa riqueza tinha feito surgir os sofistas e, em Roma, os retores, ou seja, 
destinados a quem pudesse pagar. 
Sofistas e retores 
Na Aula 2 você viu que os Sofistas eram os mestres do Período 
Clássico (séculos V e IV a.C). Foi com eles - sábios itinerantes que 
se encontravam em Atenas - que surgiu a docência propriamente 
dita, ou seja, a atividade específica de ensinar. Eram mestres na 
arte denominada Retórica e cobravam pelos seus ensinamentos.
 
Figura 4.5: Estudantes obtendo o Grau de Doutor (1725) 
Fonte: http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Dendrono_-_Der_zum_Doctorat_
gelangende_Student.jpg
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38
 • EducaçãonoOcidenteMedieval
Nesta seção, você conheceu como os alunos obtinham o grau na 
universidade durante a Idade Média. Na próxima seção, você ficará 
sabendo sobre um método de ensino utilizado na universidade: o Mé-
todo Escolástico. 
O Método Escolástico e seus mestres 
O ensino fornecido nas universidades caracterizava-se, em primeiro 
lugar, pelo enciclopedismo, em consonância com o seu tempo. Sua in-
tenção era religiosa, assim subordinado à Teologia. Quanto às técnicas, 
o recurso à memória, às classificações e ao verbalismo justifica-se, em 
parte, pela ausência de livros. 
A atividade docente na universidade é desenvolvida conforme o mé-
todo da Escolástica, sendo esta a expressão mais fiel da Filosofia Cristã 
Medieval. De acordo com Maria Lucia de Arruda Aranha (2006), o perí-
odo áureo da Escolástica ocorre nos séculos XII e XIII, tendo seu apogeu 
neste século e entrando em decadência até o Renascimento, Período que 
você estudará na Aula 5.
No período da Escolástica, os teólogos procuravam apoiar a fé na 
razão e desta forma, justificar as crenças, converter os não crentes e 
combater os infiéis. No ensino oral, as duas principais atividades eram 
a lectio – prelação e a disputatio - debates entre mestres e alunos ou 
entre os próprios alunos. 
No período da Escolástica, na universitas studii, a Filosofia se torna 
estudo obrigatório do teólogo, sendo considerada “serva da teologia”, por-
que a razão encontrava-se a serviço da fé. As argumentações se pautavam 
pela Lógica Aristotélica, sobretudo pelo silogismo – forma acabada do 
pensamento dedutivo. 
Você já estava por dentro de questões relativas à vida na universidade 
da Idade Média, como: a forma de organização e sua importância para 
a sociedade; como os alunos se formavam. Agora, conheceu também o 
método de ensino utilizado, o método Escolástico. Aqui destacaremos 
dois mestres da escolástica, bastante representativos da cultura medieval, 
cujo pensamento foi influenciado pelas ideias de Aristóteles. Você poderá 
saber mais sobre outros mestres da Escolástica consultando as referências 
bibliográficas apresentadas no final desta aula. 
Silogismo
Nas palavras de Cinthya 
Greive Veiga, no 
Silogismo “elaborava-se 
uma dedução formal a 
partir da apresentação 
de duas proposições 
(premissas) e retira-se 
uma terceira premissa 
logicamente implicada”. 
Para nosso melhor 
entendimento trás como 
exemplo de silogismo: 
“Deus criou o universo; 
o universo é integrado 
por criaturas; logo, todas 
as criaturas são criação 
divina”. (VEIGA, 2007, 
p.25). No Novo dicionário 
Aurélio da língua 
portuguesa encontra-se 
a seguinte definição para 
silogismo: “Dedução 
formal tal qual que, 
postas duas proposições, 
chamadas premissas, 
delas se tira uma terceira, 
nelas logicamente 
implicada, chamada 
conclusão”. (1986, p.1585)
39
Hisória da Educação
Pedro Abelardo (1079-1142) 
As universidades atraíam milhares de estudantes vindos de diversos 
países. O papel era muito raro. Assim, os alunos quase não dispunham de 
livros e cadernos. Ouvia-se o mestre ler, falar, explicar e discutia-se. Nas 
universidades, o estudante podia ligar-se ao mestre que quisesse. Disputava-
-se a audiência dos mais famosos, entre eles Pedro Abelardo. Este mestre 
nasceu em 1079 em Le Pallet, perto de Nantes, na França e faleceu em 
Chalon-sur-Saône – a 21 de abril de 1142. Em 1100, tornou-se discípulo 
de Guilherme de Champeaux, na Escola da Catedral, em Paris. Em 1102, 
fundou a Escola de Melun, onde se encontrava a corte do rei da França, Es-
cola que foi transferida posteriormente para Corbeil, nos arredores de Paris. 
Clérigo não ordenado – filósofo comprometido com o celibato, Abe-
lardo atuou em Paris, junto à escola episcopal, por volta de 1150. Mestre 
da pedagogia escolástica é conhecido pelo discurso caloroso e pelas po-
lêmicas que enfrentou na vida pessoal. Instituiu um curso referente ao 
trivium (artes liberais), depois à Teologia, ao Direito e à Medicina, que 
vinham constituir o nível superior de ensino. 
MultimidiaMestre da pedagogia escolástica - Para saber mais 
sobre o pensamento de Pedro Abelardo, leia o artigo de Margarita 
Victoria Rodriguez intitulado “O pensamento filosófico medieval 
de Pedro Abelardo: educação e docência” 
Fonte: http://www.hottopos.com/notand18/pensfilabel.pdf
De influência aristotélica, Abelardo delineará um quadro inovador dos 
processos educativos. Ao narrar o seu atormentado amor por Heloísa – 
amor que fora condenado pela Igreja, em sua obra autobiográfica Historia 
calamitatum mearum, põe em destaque uma nova identidade humana, 
mais individual, mais racional, mais livre, que se propõe também como 
modelo formativo. (CAMBI, 1999). 
 
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 • EducaçãonoOcidenteMedieval
Figura 4.6: Aberlardo e Heloísa 
Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Abelard_and_Heloise.jpeg 
Abelardo e Heloísa 
Para entender melhor o que estamos dizendo, assista ao filme “Em 
nome de Deus” - Direção de Clive Donner, 1988 – que conta a his-
tória do conturbado romance entre Abelardo e Heloisa na Paris do 
século XII. Respeitado filósofo, professor em Paris e comprometido 
com o celibato, Abelardo, tutor da bela e inteligente Heloisa, por 
ela se apaixona sendo correspondido. Por conta de sua “vocação” 
precisam manter seu relacionamento escondido de todos. 
Fonte: http://www.youtube.com/watch?v=3CXEw6bp8Bo
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Hisória da Educação
Santo Tomás

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