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HIPOLIPEMIANTES Metabolismo lipídico Do ponto de vista fisiológico e clínico, os lípides biologicamente mais relevantes são os fosfolípides, o colesterol, os triglicérides (TG) e os ácidos graxos. Os fosfolípides formam a estrutura básica das membranas celulares. Lipoproteínas: As lipoproteínas permitem a solubilização e transporte dos lipídes, que são substâncias geralmente hidrofóbicas no meio aquoso plasmático. DISLIPIDEMIA: É uma alteração no perfil lipídico do organismo. Colesterol total < 190 mg/dL LDL < 130 mg/dL HDL > 40 mg/dL Triglicérides < 150 mg/dL As dislipidemias podem ser classificadas em hiperlipidemias (níveis elevados de lipoproteínas) e hipolipidemias (níveis plasmáticos de lipoproteínas baixos). HIPERLIPIDEMIAS São alterações metabólicas que ocorrem quando níveis de lipídes circulantes estão aumentados na corrente sanguínea. Podem ser classificadas em hipercolesterolemia, hipertrigliceridemia e hiperlipidemia mista. A hiperlipidemia está associada com doenças como: aterosclerose, coronariopatia, doença vascular periférica, doença vascular encefálica isquêmica. A expressão dos LDLR nos hepatócitos é a principal responsável pelo nível de colesterol no sangue e depende da atividade da enzima Hidroximetilglutaril Coenzima A (HMG-CoA) redutase, enzima-chave para a síntese intracelular do colesterol hepático. Com a queda do conteúdo intracelular do colesterol, ocorrem o aumento da expressão do LDLR nos hepatócitos e a maior captura de LDL, IDL e VLDL circulantes por essas células. Classificação etiológica Tanto as hiper quanto as hipolipidemias podem ter causas primárias ou secundárias. ✓ Causas primárias: são aquelas nas quais o distúrbio lipídico é de origem genética. ✓ Causas secundárias: a dislipidemia é decorrente do estilo de vida inadequado, de certas condições mórbidas ou de medicamentos. FARMACOTERAPIA A decisão para o início da terapia medicamentosa da dislipidemia depende do: ✓ Risco cardiovascular do paciente: em pacientes de muito alto ou alto risco cardiovascular, o tratamento deve incluir medicamentos já em associação com as modificações do estilo de vida a serem propostas. Para pacientes de risco moderado ou baixo, o tratamento será iniciado apenas com medidas do estilo de vida. A associação a medicamentos deve ser feita em uma segunda etapa, se necessário, para obtenção das metas definidas do LDL-c. O tempo de reavaliação após a implantação de modificações do estilo de vida pode ser de 3 a 6 meses. ✓ Tipo de dislipidemia presente: define a escolha da classe terapêutica. Os medicamentos hipolipemiantes costumam ser divididos nos que agem predominantemente nas taxas séricas de colesterol e naqueles que agem predominantemente nas taxas de TG. ESTATINAS Na hipercolesterolemia isolada, os medicamentos recomendados são as estatinas, que podem ser administradas em associação a ezetimiba, à colestiramina e, eventualmente, aos fibratos ou ao ácido nicotínico. As estatinas são inibidoras da HMG-CoA redutase que catalisa a conversão de HMG-CoA em ácido mevalônico (biossíntese de colesterol). O efeito principal é a redução de LDL, mas podem também aumentar o receptor de LDL no fígado. É a classe que mais reduz LDL (21 a 63%). É o medicamento mais frequentemente utilizado, porém que deve ser instituído após, pelo menos, 6 meses de intensivas mudanças de estilo de vida. Deve ser iniciado inicialmente acima de 10 anos (em casos especiais, acima de 7 anos). Fármacos: sinvastatina, lovastatina, pravastatina, atorvastatina, rosuvastatina, fluvastatina. As estatinas diferem nas suas características farmacocinéticas. A sinvastatina é um pró-fármaco ativada na parede intestinal, no fígado e no plasma. Os alimentos diminuem a biodisponibilidade de pravastatina, fluvastatina e atorvastatina. Farmacocinética: A administração é recomendada à noite. As estatinas se ligam intensamente às proteínas plasmáticas e, com exceção da pravastatina, são metabolizadas pelas enzimas do citocromo P450. Desta forma, interage com medicamentos inibidores e indutores da CYP450, como: ✓ Inibidores: cimetidina, ciclosporina A, tacrolimus, itraconazol, cetoconazol, fluconazol, eritromicina, claritromicina, verapamil, diltiazem, ritonavir, saquinavir e indinavir. ✓ Indutores: fenitoína, fenobarbital, barbitúricos, rifampicina, ciclofosfamida e carbamazepina. As reações adversas são: elevação de CPK (miopatia), hepatotoxicidade (acúmulo no fígado), resultando em elevação das transaminases reversivelmente. INIBIDORES DA PSCK9 A PSCK9 é uma enzima que degrada os receptores hepáticos de LDL. A inibição dela provoca aumento dos receptores LDL, aumentando a captação e diminui a síntese. (PSCK9: proprotein convertase subtilisin/kexin type 9). Fármaco: REPATHA® (evolocumabe). SEQUESTRADORES DE ÁCIDOS BILIARES Fármacos: Colestiramina e colestipol. Os ácidos biliares são metabólitos do colesterol normalmente absorvidos de modo eficiente no jejuno e no íleo. Os sequestradores de ácidos biliares são resinas poliméricas permutadoras de cátions que se ligam aos ácidos biliares na luz intestinal impedindo a absorção de ácidos biliares. Por sua vez, os sequestradores não são absorvidos pelo intestino. Os sequestradores possuem carga positiva, enquanto os ácidos biliares, carga negativa. Os sequestradores de ácidos biliares determinam uma redução de cerca de 15% a 30% do colesterol LDL e um aumento de 3% a 5% do colesterol HDL. As concentrações de triglicerídeos não sofrem alterações ou aumentam. Pode diminuir a absorção de vitaminas lipossolúveis e de alguns fármacos, tais como, estatinas, ácido nicotínico, digoxina e levotiroxina. Esta classe de fármacos deve ser administrada quatro horas antes ou uma hora depois da administração de outros fármacos. Podem ser utilizados em qualquer idade, e também associado a estatinas, em horários diferentes. Pelo risco de desnutrição relacionado às vitaminas lipossolúveis, recomenda-se monitoração nutricional e suplementação, segundo critérios objetivos de deficiência. As reações adversas mais frequentes envolvem o TGI, como: constipação, flatulência, dor abdominal, sensação de enfartamento e náuseas. Efeitos atenuados com: doses baixas com aumento gradual e ingestão de água. SEQUESTRADORES DE ÁCIDOS BILIARES X ESTATINAS: ✓ Benéfica em doentes com concentrações muito elevadas de colesterol LDL; ✓ Ou em casos de risco cardiovascular elevado e que não toleram ou não conseguem atingir o alvo terapêutico com doses altas de estatinas em monoterapia. NIACINAS (ÁCIDO NICOTÍNICO – B3) As niacinas podem ser utilizadas como monoterapia ou em associação. São responsáveis por inibir a DGAT-2 (diacilglicerol acetiltransferase 2), enzima chave na síntese de TG hepático. A diminuição de TG resulta na diminuição de VLDL e LDL. Reduz também a ação da lipase tecidual nos adipócitos, porém o mecanismo é incerto. Diminui a liberação de AG para a corrente sanguínea e o catabolismo de Apo A-I no fígado, resultando em aumento de HDL. Ou seja, reduz o LDL-c em 5 a 25%, aumenta o HDL-c em 15 a 35% e diminui o TG em 20 a 50%. Possui menor tolerabilidade com a forma de liberação imediata, produzindo rubor e prurido, mas em liberação lenta pode causar hepatotoxicidade. Desta forma, a liberação intermediária é apontada como melhor perfil de tolerabilidade. Recomenda-se dose inicial de 500 mg ao dia com aumento gradual; 750 mg e, depois, para 1.000 mg, com intervalos de 4 semanas a cada titulação de dose, buscando-se atingir 1 a 2 g diárias. Os efeitos adversos incluem principalmente os efeitos cutâneos como rubor e prurido, explicados em razão da produção de prostaglandinas D2 (mastócitos), porém a ação não é descrita. É comum no início do tratamento. O uso após a alimentaçãoreduz o rubor. DERIVADOS DO ÁCIDO FÍBRICO Fármacos: fenofibrato, bezafibrato e ciprofibrato. Os derivados do ácido fíbrico estimulam os receptores peroxissômico (PPAR) que, estimulados, aumentam os níveis de LPL (lipoproteinolipase). Esse aumento causa hidrólise de TG, VLDL e QM. Os receptores ativados por proliferador de peroxissoma, conhecidos como PPAR, são um grupo de proteínas receptoras nucleares que funcionam como fatores de transcrição que regulam a expressão dos genes. INIBIDORES DA ABSORÇÃO INTESTINAL DE COLESTEROL Fármaco: Ezetimiba. A ezetimiba é rapidamente captada pelas células intestinais após ingestão oral. Ocorre glucuronidação na parede intestinal, originando um glucuronídeo farmacologicamente ativo que, é absorvido e atinge concentração plasmática máxima cerca de uma hora depois. É captada pelo fígado e retorna a luz intestinal, onde vai permanecer na borda vilosa dos enterócitos, bloqueando a captação do colesterol. A ezetimiba reduz o colesterol total e o LDL-c, pela inibição da absorção do colesterol pelos enterócitos no intestino delgado. É uma terapia adjuvante às estatinas, porém não pode ser administrado com sequestradores de ácidos biliares, que inibem sua absorção. O metabolismo não inclui as enzimas do citocromo P450, proporcionando um baixo risco de interação medicamentosa. Não interfere na absorção de triglicerídeos, vitaminas lipossolúveis e de hormônios componentes de contraceptivos ou de reposição hormonal. Não altera a ação de anticoagulante das varfarinas, nem a ação glicêmica dos hipoglicemiantes orais ou a absorção dos digitálicos. EXERCÍCIOS 1- Encontre as respostas no caça-palavras. a) Lipídeos que formam a estrutura básica das membranas. b) Substâncias hidrofóbicas que permitem a solubilização e transporte dos lipídes. c) Lipoproteína de origem intestinal composta de 90-95% de TG. d) Alteração no perfil lipídico do organismo. e) Classe de fármaco inibidor da HMG-Coa redutase. f) Fármaco sequestrador de ácidos biliares. g) Fármaco inibidor da absorção intestinal de colesterol. 2- São lipídes biologicamente relevantes, exceto: a) Fosfolipídes b) Colesterol c) Cortisol d) Triglicerídes e) Ácidos graxos 3- Sobre as hiperlipidemias, assinale a alternativa INCORRETA. a) São alterações metabólicas que ocorrem quando os níveis de lipídes circulantes estão aumentados na corrente sanguínea. b) Está associada a doenças como diabetes tipo 1, aterosclerose, coronariopatia, doença vascular periférica e encefálica isquêmica. c) Podem ser causas primárias e secundárias. d) Pode ser classificada em hipercolesterolemia, hipertrigliceridemia e hiperlipidemia mista. 4- As estatinas podem ser administradas: a) Em associação a ezetimiba b) Em associação a colestiramina c) Em associação aos fibratos ou ao ácido nicotínico. d) Todas as anteriores. 5- As estatinas são inibidoras da HMG-Coa redutase que: a) Catalisa o ácido mevalônico em HMG-Coa, o precursor da biossíntese do colesterol. b) Seu principal efeito é diminuir os receptores de LDL no fígado. c) Seu principal efeito é redução de LDL. d) A administração é recomendada pela manhã. 6- Assinale a alternativa correta quanto as interações medicamentosas das estatinas. a) As estatinas são inibidoras da cimetidina, eritromicina, cetoconazol e claritromicina. b) As estatinas são inibidoras da fenitoína, ciclosporina A, tacrolimus e carbamazepina. c) As estatinas são indutoras da cimetidina, fenobarbital, verapamil, diltiazem e ritonavir. d) As estatinas são indutoras da fenitoína, eritromicina, tacrolimus, rifampicina, ritonavir e diltiazem. 7- Os sequestradores de ácidos biliares são: a) Metabólitos dos triglicerídeos que agem facilitando a absorção de ácidos biliares. b) Carga positiva enquanto os ácidos biliares são carga negativa. c) Resinas que se ligam aos ácidos biliares e são completamente absorvidos pelo intestino. d) Podem aumentar a absorção de vitaminas lipossolúveis. 8- Sobre os derivados do ácido fíbrico, assinale a alternativa INCORRETA. a) Os fármacos são fenofibrato, bezafibrato e ciprofibrato, por exemplo. b) Estimulam os receptores peroxissômicos que aumentam os níveis de LPL. c) O aumento dos níveis de LPL causam hidrólise de TG, VLDL e QM. d) A dose recomendada de ciprofibrato é de 600-1200mg/dia. 9- Sobre as niacinas, assinale a alternativa correta. a) Inibem a DGAT-2, enzima chave na síntese de TG hepático. b) Devem ser usadas exclusivamente por monoterapia. c) Diminuem a liberação de AG para a corrente sanguínea que resulta em aumento da LDL. d) Caso o paciente apresente efeitos cutâneos como o rubor e prurido, o uso das niacinas deve ser descontinuado permanentemente, pois é um efeito extremamente incomum que pode levar a graves complicações. 10- A ezetimiba é um inibidor da absorção intestinal de colesterol que: a) Atua na facilitação da captação do colesterol. b) É uma terapia que deve ser administrada com ácidos biliares. c) Reduz o colesterol total e o LDL-c pela inibição da absorção do colesterol pelos enterócitos no intestino delgado. d) Não deve ser usada com estatinas.
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