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Fisiopatologia Grupo de distúrbios metabólicos comuns que compartilham o fenótipo da hiperglicemia. Distúrbio crônico caracterizado pelo comprometimento do metabolismo da glicose Vários tipos distintos de DM são causados por uma interação complexa de fatores genéticos e ambientais. A desregulação metabólica associada ao DM acarreta alterações fisiopatológicas secundárias em muitos sistemas orgânicos que impõem uma enorme sobrecarga aos indivíduos com diabetes, assim como ao sistema de assistência de saúde. Existem duas categorias amplas, designadas como tipo 1 e tipo 2. Entretanto, há um reconhecimento cada vez maior de outras formas de diabetes. Ambos os tipos são precedidos por uma fase de homeostase anormal da glicose à medida que os processos patogênicos progridem. Fisiopatologia INSULINA O gene que codifica a insulina humana está no cromossomo 11. A insulina inicialmente é sintetizada pelas células B pancreáticas como pró-insulina (86 aa). A clivagem subsequente remove um filamento da ligação, formando o peptídeo-C e a insulina (51 aa). Insulina e peptídeo-C são embalados em grânulos de armazenamento ligados à membrana. Um estímulo de secreção de insulina resulta na liberação de quantidades equimolares de ambos na circulação porta. Enquanto a insulina é intensamente metabolizada, o peptídeo-C escapa do metabolismo hepático. Assim, os níveis periféricos de peptídeo- C constituem um marcador de secreção endógena de insulina. A concentração de glicose é o regulador-chave da secreção de insulina. Para a ativação da secreção, uma molécula de glicose primeiramente deve ser transportada pela GLUT-2 para o interior das células B, monofosforilada pela enzima glicoquinase e metabolizada. Outros secretagogos incluem aminoácidos, estímulo vagal, drogas sulfonilureias, repaglinida, nateglinida e agentes que modulam sistema de incretina. No sistema venoso portal, 50% ou mais da insulina é removida pela primeira passagem pelo fígado. Assim, os níveis de insulina na veia porta são, pelo menos, 2 a 4 vezes mais altos do que os níveis na circulação periférica. Isso, faz com que a insulina administrada perifericamente não consiga aumentar adequadamente os níveis portais de insulina e, portanto, pode ser menos eficiente na indução de efeitos hepáticos. A insulina age sobre seus tecidos-alvo (fígado, músculo e tecido adiposo) através de receptor insulínico específico. Esse receptor desencadeia uma série de reações de fosforilação e desfosforilação que geram os efeitos finais da insulina. Hormônios contrarregulatórios: glucagon, cortisol, catecolaminas e hormônio do crescimento (GH). Glucagon: secretado em resposta à hipoglicemia pelas células alfa pancreáticas, por aminoácidos e pela ativação do sistema nervoso autonômico. Os principais efeitos são no fígado, onde estimula a glicogenólise, a gliconeogênese e a cetogênese. Geralmente, é inibida pela hiperglicemia, mas está aumentada na diabetes. Hormônio de crescimento: inadequadamente elevada na diabetes tipo I. As principais ações estão nos tecidos periféricos onde promove a lipólise e inibe uso da glicose. Se houver baixo nível portal de insulina há estímulo para a produção hepática da glicose. EFEITOS METABÓLICOS Após jejum noturno, os baixos níveis de insulina resultam em diminuição da captação de glicose pelos Diabetes Diabetes 2 tecidos periféricos sensíveis à insulina. Assim, a maior parte da captação de glicose ocorre em tecidos insensíveis à insulina, primariamente, o cérebro. Cérebro é incapaz de usar ácidos graxos livres de cadeia longa, portanto é criticamente dependente de suprimento constante de glicose para metabolismo oxidativo. A manutenção de níveis estáveis de glicose é obtida através da liberação de glicose pelo fígado (e rim). Os processos hepáticos envolvidos são a glicogenólise e a gliconeogênese. Os níveis portais reduzidos de insulina diminuem a síntese de glicogênio, permitindo que o efeito estimulador do glucagon sobre a glicogenólise prevaleça. A predominância do glucagon também estimula a gliconeogênese, enquanto os níveis baixos de insulina promovem mobilização periférica de precursores gliconeogênicos e de fontes alternativas de energia. A ingestão de grande carga de glicose desencadeia múltiplos mecanismos visando minimizar as variações da glicose, incluindo a supressão da produção endógena de glicose, o estímulo ao armazenamento hepático de glicose e a aceleração da captação de glicose pelos tecidos periféricos. Fígado: níveis de insulina estimulados pela refeição suprimem rapidamente a produção de glicose. Cerca de 30% da glicose ingerida é depositada diretamente no fígado através da síntese e armazenamento de glicogênio. A síntese hepática de triglicerídeos aumenta. Periferias: transporte de glicose (GLUT-4) é estimulado pela insulina no músculo e no tecido adiposo. No músculo, glicose pode ser metabolizada ou convertida em glicogênio para armazenamento. No tecido adiposo, forma alfa- glicerofosfato que é necessário para esterificar ácidos graxos livres para formar triglicerídeos para armazenamento. Se a quantidade de carboidratos consumidos e a resposta insulínica resultante forem pequenas, a homeostasia da glicose será mantida, em grande parte, pela reduzida produção hepática de glicose e não por um aumento da captação de glicose. Aumento da insulina que acompanha o consumo de refeições mistas também facilita armazenamento de proteínas e gorduras. DEFEITOS METABÓLICOS NO DIABETES A hiperglicemia de jejum, presente nos dois tipos de diabetes, resulta de um aumento inadequado da produção hepática de glicose que é causada por uma gliconeogênese acelerada. A perda do efeito repressor da insulina sobre a célula à leva a um aumento relativo dos níveis portais de glucagon, resultando em aumento da captação e da conversão dos substratos glicogênicos em glicose no fígado. No tipo 1, esse efeito é ampliado devido absoluto déficit insulínico portal. A hipersecreção de hormônio do crescimento também acentua a superprodução de glicose. Acentuada hiperglicemia pós-prandial também é uma característica do diabetes. No diabetes tipo 1, pacientes exibem elevações mais acentuadas e prolongadas da glicose sanguínea após ingestão de carboidratos. Pelos baixos níveis de insulina na veia porta, durante a hiperglicemia o fígado não consegue interromper a produção de glicose e falha na captação adequada de glicose para armazenamento como glicogênio. Já no diabetes tipo 2, a secreção retardada de insulina e a resistência hepática à insulina comprometem tanto a supressão da produção hepática de glicose como a capacidade do fígado de armazenar glicose e glicogênio. Os níveis de ácidos graxos livres de jejum também se encontram elevados no diabetes devido à mobilização acelerada dos depósitos adiposos. No diabetes tipo 2, os níveis elevados de ácidos graxos livres ocorrem na presença de níveis de insulina normais, sugerindo que os adipócitos se 3 Diabetes Tipo 1 tornem resistentes ao efeito inibitório da insulina sobre a lipólise. Pacientes com diabetes tipo 1, na ausência da elevação normal da insulina, a ingestão da refeição pode produzir hiperaminoacidemia, devido à incapacidade de estimular a captação líquida de aminoácidos pelo músculo, e hipertrigliceridimia, através da atividade reduzida da lipoproteína lipase – assim, diabetes 1 é distúrbio de tolerância à glicose, proteína e gordura. Diabetes Tipo 1 Também conhecido como diabetes de início juvenil ou insulinodependente – produção de insulina é muito pequena ou ausente. Pode ser de natureza autoimune ou idiopática. Primariamente, é provocada pela destruição das células beta-pancreáticas que leva a uma deficiência absoluta de insulina – falência profundadas células-B com resistência insulínica secundária. Geralmente, é uma interação entre fatores genéticos, ambientais e autoimunes. PATOGÊNESE O papel dos fatores genéticos no diabetes tipo 1 é uma taxa de 30 a 40%. Assim, fatores ambientais são importantes para a expressão da doença. Embora muito dos genes vinculados ao diabetes tipo 1 não tenham sido identificados, alguns são conhecidos. Como o gene HLA, no entanto, existe uma heterogeneidade genética e nenhum gene HLA classe II é isoladamente responsável pela suscetibilidade à doença. Outros genes contribuem para a suscetibilidade genética ao diabetes tipo I. O IDDM2 (cromossomo 11p), uma região promotora não codificadora do gene insulina, pode influenciar a expressão gênica do timo, podendo, portanto, afetar a seleção tímica das células T reativas à insulina. O CTLA4 (cromossomo 2q) desempenha papel na ação e regulação das células T. Muitos outros genes foram implicados, ressaltando a natureza poligênica. Embora fatores ambientais como dieta e toxinas tenham sido propostos como desencadeadores do diabetes, a maior parte da atenção científica se concentrou nos vírus suspeitos. Assim, é provável que infecções virais líticas agudas sejam responsáveis por casos esporádicos de diabetes. Cerca de 80% dos pacientes com diabetes do tipo I recente apresentam anticorpos para diversos constituintes das células das ilhotas (células-ß). Esses anticorpos parecem constituir marcadores antes de causar lesão das células-ß. Assim, a destruição da célula-ß (por mecanismos apoptóticos e citotóxicos) é mediada por uma variedade de citoquinas ou pela atividade direta dos linfócitos T. Normalmente, na medida em que a doença progride, as ilhotas se tornam completamente destituídas de células-ß e de infiltrados inflamatórios; células alfa, iota e polipeptídios pancreáticos são deixados intactas, ilustrando a especificidade do ataque autoimune. A afirmação que o diabetes tipo 1 é uma doença autoimune é sustentada pela sua associação com genes específicos de resposta imune (HLA) e pela presença de auto anticorpos para as células das ilhotas e seus constituintes (ex: insulina, ICA 512, descarboxilase do ácido glutâmico). A natureza crônica latente desse tipo de diabetes sugere a presença de influências regulatórias ou protetoras. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Pouca ou nenhuma capacidade secretória de insulina e dependem da insulina exógena para prevenir a descompensação metabólica e o óbito. Sintomas surgem abruptamente (dias ou semanas) em adultos jovens previamente saudáveis, não obesos, que podem ter parentes próximos com a doença, mas que, mais comumente, não os têm. Possui prolongada fase assintomática pré-clínica (muitas vezes durando anos), durante a qual as 4 células-ß pancreáticas são gradualmente destruídas por um ataque autoimune influenciado pelo HLA ou outros fatores genéticos e ambiente. COMPLICAÇÕES CETOACIDOSE DIABÉTICA (CAD) Pode comunicar início de diabetes tipo 1, e mais frequente, ocorre em diabetes estabelecido como o resultado de doença intercorrente ou redução inadequada da dosagem de insulina. Precipitantes comuns: infarto de miocárdio, AVC, abuso alcoólico, influenza, etc. As características bioquímicas fundamentais são hiperglicemia (>250 mg/dL) e cetoacidose (pH <7,3) que resultam dos efeitos combinados de atividade insulínica circulante deficiente e secreção excessiva de hormônios contra regulatórios. Além de uma diurese osmótica que promove a desidratação e perda eletrolítica. Manifestações clínicas: progressão da poliúria, polidipsia e outros sintomas de hiperglicemia progressiva. Além de fraqueza, letargia, náusea e anorexia. Vômitos e mobilidade reduzida do TGI. Dor periumbilical podendo simular abdome agudo. Achados físicos secundários à desidratação e à acidose, pele e membranas mucosas secas, pressão venosa jugular reduzida, taquicardia, hipotensão ortostática, função mental deprimida, respiração Kussmaul (profunda e rápida) e hálito com cheiro adocicado. Diagnóstico geralmente óbvio e precisa ser feito imediatamente. Quadro clínico e presença de hiperglicemia devem alertar o clínico a pesquisar as cetonas, avaliar a condição ácido- base e dosar o pH arterial. HIPOGLICEMIA Complicação mais frequente resultante da insulinoterapia para diabetes tipo 1. Quase todos os pacientes são sintomaticamente afetados pelo menos uma vez ao ano e uma significativa porcentagem é grave exigindo assistência. Sintomas resultam de alterações da atividade autonômica e da função cerebral. Os sinais precoces são sudorese, tremor e palpitações. Os sinais e sintomas de deficiência de glicose no SNC, denominados neuroglicopenia, podem ser inespecíficos (ex: fadiga e fraqueza) ou mais claramente neurológicos (ex: visão dupla, parestesias orais, distúrbios comportamentais). Pacientes com diabetes tipo 2 também podem sofrer com a hipoglicemia, mas os do tipo 1 são mais propensos por 3 motivos: 1. Insulina injetada na circulação a partir de uma fonte não fisiológica não é afetada pela resposta contrarregulatória à queda dos níveis de glicose. Além disso, pacientes com diabetes do tipo 1, em geral, são sensíveis à insulina, contrário dos pacientes com o tipo 2. 2. Pacientes tipo1 perdem a resposta do glucagon à hipoglicemia (de 2 a 5 anos após o diagnóstico), após o qual a contrarregulação dependerá decisivamente da liberação de epinefrina. Infelizmente, 50% dos pacientes do tipo 1 também sofrem diminuição estímulo- específica da resposta da epinefrina à hipoglicemia, predispondo-os à casos graves. 3. Capacidade de identificação da hipoglicemia e a tomada de ações corretivas pelos pacientes também pode se encontrar comprometida. Em alguns casos, a irritabilidade e a confusão podem impedir que o paciente tome consciência da causa. 5 Diabetes Tipo 2 Diabetes Tipo 2 Responsável pela maioria do diabetes encontrado na prática clínica. Varia de predominância de resistência insulínica com relativa deficiência de insulina a um defeito predominantemente secretório, com ou sem resistência insulínica. Não são dependentes de insulina para a sobrevivência imediata e raramente desenvolvem cetose, a não ser sob condições de grande estresse físico. Apresenta alto índice de penetrância genética não relacionada aos genes HLA (antígeno leucocitário humano) e está associado à idade mais avançada, obesidade e falta de atividade física. É mais comum em nativos americanos, hispano- americanos e afro-americanos do que em brancos; os pacientes também se apresentam em idade precoce, Se recomendações referentes a modificações saudáveis do estilo de vida forem seguidas pelos pacientes em alto risco, isso necessariamente se traduziria em menos complicações microvasculares com o tempo. FISIOPATOLOGIA Resulta de interações genéticas complexas, cuja expressão é modificada por fatores ambientais, como peso corporal e exercício. No momento da detecção da hiperglicemia, quase todos os pacientes e tipo 2 mostram tanto secreção defeituosa como resistência à insulina; isso dificulta a determinação de qual desses dois fatores é primariamente responsável pelo círculo vicioso que leva à doença. Mostra clara agregação familiar, mas não na forma mendeliana clássica; isso sugere que a doença resulte ou da combinação de defeitos genéticos ou da presença simultânea de genes da suscetibilidade múltipla e de fatores ambientais predisponentes. O defeito de secreção da insulina geralmente está correlacionado com a gravidade da hiperglicemia em jejum sendo mais evidente após a ingestão de carboidratos. Em estágio inicial, o defeito de células-ß é específico para a glicose; outros secretagogos mantêm sua potência e a deficiência de insulina é, portanto, menos pronunciada durantea ingestão de refeições mistas. Pacientes com hiperglicemia em jejum mais grave perdem a capacidade de responder a outros secretagogos insulínicos. Desse modo, o defeito secretório piora, conforme a doença progride. O tipo 2 caracteriza-se por comprometimento da ação insulínica. A curva de dose-resposta da insulina para aumentar a captação de glicose nos tecidos periféricos desvia-se para a direita, representando diminuição da sensibilidade à insulina, enquanto a resposta máxima está reduzida, particularmente no quadro e hiperglicemia grave. O mecanismo responsável pela resistência permanece pouco conhecido. Estudos sugerem que um importante fator contribuinte seja a função mitocondrial prejudicada e o resultante acúmulo de ácidos graxos livres nos tecidos responsivos à insulina. Estudos apoiam a visão de que a resistência à insulina geralmente anteceda a sua deficiência, a presença isolada de resistência à insulina é geralmente insuficiente para gerar a doença; isso sugere que para ocorrer diabetes, é necessária a secreção prejudicada de insulina. É possível que o aparecimento do defeito secretório seja fenômeno secundário resultante da “exaustão da célula alfa” ou 6 liberação excessiva de ácido graxo ou acúmulo de amilina. Provavelmente, a secreção diminuída de insulina resulte de um defeito independente que só se torna evidente à estimulação crônica da célula alfa, como um sutil defeito genético na sinalização da insulina ou na replicação. COMPLICAÇÕES SÍNDROME HIPERGLICÊMICA HIPEROSMOLAR (SHH) Caracterizado por cetoacidose, que pode estar presente em vários níveis, e alterações sensoriais ocorrem com mais frequência na ausência de coma. Apenas 10% apresentam coma manifesto, e igual porcentagem não mostra sinais de qualquer alteração do estado mental. As características são hiperosmolaridade (.>220 mOsm/L) e hiperglicemia (>600 mg/dL). A hiperglicemia grave ocorre porque os pacientes não podem ingerir líquido suficiente para acompanhar uma diurese osmótica. A gravidade clínica e os níveis de consciência geralmente se correlaciona com a gravidade e duração da hiperosmolaridade. Sinais clínicos indicam profunda desidratação; sintomas gastrintestinais são vistos com menos frequência que na CAD. Várias anormalidades neurológicas, geralmente reversíveis, podem existir, incluindo convulsões focais ou toniclônicas, reflexos do extensor plantar, afasia, hemissensorial ou déficits motores e piora da síndrome mental orgânica preexistente. Quadro laboratorial: efeitos diabetes não controlado e desidratação; a função renal está comprometida, a hemoglobina elevada e os resultados do teste de função hepática podem ser anormais em razão da esteatose hepática basal. HIPOGLICEMIA Encontrada com pouca frequência em pacientes com diabetes tipo 2 por razões biológicas e práticas. Pacientes mantém alguma secreção de insulina endógena residual, assim o desenvolvimento de discreta hipoglicemia conduzirá à sua abrupta redução. Assim, podem se autorregular. É mais comum que pacientes do tipo 2 sejam tratados com agentes orais do que com insulina. Muitas dessas drogas reduzem os níveis de 7 Outros Tipos Complicações Crônicas glicose por meio de mecanismos não pancreáticos e, portanto, não predispõem à hipoglicemia quando utilizadas como monoterapia ou em combinação entre si. . Outros Tipos Essa categoria engloba ampla variedade de síndromes diabéticas atribuídas a uma doença, droga ou condição específica. As categorias incluem defeitos genéticos da função da célula ou da ação da insulina, do pâncreas exócrino (ex: pancreatite crônica), outras endocrinopatias, diabetes induzido por droga ou substância química (ex: glicocorticoide), infecções e outras síndromes imunomediadas e genéticas associadas ao diabetes mellitus. A diabetes mellitus gestacional descreve mulheres com tolerância à glicose anormal nos quais o diabetes aparece ou foi detectado durante a gravidez – ocorre em cerca de 7% das gravidezes. Geralmente aparece no 2º ou 3º trimestre, quando os fatores antagonistas da insulina, associados à gravidez (muitos dos quais derivados placentários), atingem seu pico. Após o parto, a tolerância à glicose geralmente reverte-se ao normal. Ainda que as pacientes com diabetes gestacional apresentem hiperglicemia discreta, assintomática, é indicado o tratamento rigoroso para protege-las contra a morbidade fetal associada à hiperglicemia. Frequentemente, a insulina é necessária. Complicações Crônicas As complicações relacionadas afetam muitos sistemas orgânicos e são responsáveis pela maior parte da morbidade da doença. As complicações crônicas relacionadas com a diabetes em geral só aparecem na 2ª década de ocorrência de hiperglicemia. Como o diabetes tipo 2 com frequência apresenta um longo período assintomático de hiperglicemia antes do diagnóstico, muitos indivíduos com DM tipo 2 já sofreram complicações antes do diagnóstico. Muitas complicações podem ser evitadas ou adiadas com detecção precoce, controle agressivo da glicemia e com os esforços para minimizar os riscos de complicações. A hiperglicemia crônica é um fator etiológico importante responsável pelas complicações, porém o mecanismo pelo qual ela induz uma disfunção celular e orgânica tão diversificada é desconhecido. Uma hipótese emergente sustenta que a hiperglicemia leva a alterações epigenéticas que influenciam a expressão gênica nas células afetadas. As complicações vasculares do DM são subdivididas em microvasculares (retinopatia, neuropatia, nefropatia) e macrovasculares (doença arterial coronariana (DAC), doença arterial periférica (DAP), doença vascular cerebral). As complicações microvasculares são específicas do diabetes, enquanto as complicações macrovasculares se assemelham àquelas de indivíduos não diabéticos, porém ocorrem com maior frequência nos pacientes portadores de diabetes. As complicações não vasculares incluem gastroparesia, infecções, alterações cutâneas e perda auditiva RETINOPATIA DIABÉTICA É a principal causa de cegueira nas pessoas entre 20 e 74 anos nos EUA. Aproximadamente, 10 a 15% dos pacientes com diabetes tipo 1 se tornarão legalmente cegos. No diabetes tipo 2, embora a incidência da cegueira seja mais baixa, a maior prevalência da doença resulta em um número ainda maior de pacientes afetados com uma grave perda visual. A duração da diabetes mellitus e o grau de controle glicêmico constituem preditores mais adequados do desenvolvimento de retinopatia (proliferativa ou não); a hipertensão e a nefropatia também representam fatores de risco. 8 NÃO PROLIFERATIVA Alterações mais precoces. Primeiros sinais são micro aneurismas, que surgem com mais frequência em áreas de oclusão capilar. Subsequentemente, o aumento da permeabilidade vascular produz manchas. Caracterizadas por micro aneurismas retinianos, exsudatos hemorrágicos (de bordas mal definidas, arredondados) e exsudatos algodonosos (infartos de fibra nervosa – edemaciações esbranquiçadas ou acinzentadas). Nesse estágio precoce, a acuidade visual geralmente não está afetada e o risco de progressão para uma retinopatia diabética proliferativa de alto risco é cerca de 15% aos cinco anos. Os mecanismos fisiopatológicos envolvidos na retinopatia não proliferativa incluem desaparecimento dos pericitos retinianos, aumento da permeabilidade vascular retiniana, alterações no fluxo sanguíneo retiniano e microvasculatura retiniana anormal, que resultam em isquemia retiniana PROLIFERATIVA Envolve neovascularização, o crescimento de finos tufos de novos vasos sanguíneos e de tecido fibroso a partir da superfície retiniana interior do disco óptico. Quanto mais grave for a doença nãoproliferativa, maior será a probabilidade de evolução para uma retinopatia proliferativa em 5 anos. EDEMA MACULAR SIGNIFICATIVO Resulta do extravasamento vascular da mácula, podendo ocorrer igualmente com ou sem estágios de retinopatia. O edema macular clinicamente significante é sugerido por exsudatos maculares duros ao exame fundoscópio, sendo confirmados pela biomicroscopia de lâmpada de fenda. Em geral, a maculopatia é mais comum nos pacientes do tipo 2, nos quais constitui um importante contribuinte para a perda de acuidade visual. NEFROPATIA DIABÉTICA Diabetes é a principal causa de doença renal terminal (DRT) nos EUA, contabilizando mais de 1/3. Importante causa de morbidade e mortalidade, particularmente em pacientes com diabetes tipo 1, dos quais 30 a 35% estão suscetíveis a esta complicação. Embora o risco seja menos frequente nos diabéticos do tipo 2, esses ainda constituem a maioria dos pacientes diabéticos que buscam tratamento para a DRT. Fatores de risco: duração da doença, níveis elevados de glico-hemoglobina, hipertensão, hiperlipidemia, uso de tabaco concomitante, raça e componente familiar. Um método simples para o monitoramento da progressão da insuficiência renal é a criação de um gráfico mostrando reciprocidade da concentração de creatinina sérica em função do tempo. Além da detecção da albuminúria. – Pacientes DM 1 e 2. Os mecanismos pelos quais a hiperglicemia crônica resulta em nefropatia diabética envolvem os efeitos dos fatores solúveis, alterações hemodinâmicas da microcirculação renal e alterações estruturais no glomérulo. MANIFESTAÇÃO CLÍNICA Período imediatamente posterior ao diagnóstico é caracterizado por hiperfiltração glomerular. Há hipertrofia renal, aumento do fluxo sanguíneo renal, aumento do volume glomerular 9 e aumento do gradiente de pressão transglomerular, todos contribuindo para elevação da taxa de filtração glomerular. Entre 3 e 5 anos após o diagnóstico, aparecem as lesões glomerulares iniciais, caracterizadas pelo espessamento das membranas basais glomerulares, expansão da matriz mesangial e arteriolesclerose. À medida que as alterações patológicas aumentam, os glomérulos perdem sua integridade funcional, resultando em defeitos da filtração glomerular e em aumento da permeabilidade glomerular. Nessa fase, os resultados dos exames de rotina para função renal (concentração de creatinina e análise de urina) ainda permanecem normais, surgimento de microalbuminúria (30 a 300 mg/dia). Após vários anos, a maioria dos pacientes diabéticos exibe glomeruloesclerose difusa, embora uma minoria venha apresentar lesões nodulares patognomônicas de Kimmelstiel- Wilson. Embora, as alterações patológicas continuem a aumentar ao longo do curso da doença, uma glomeruloesclerose extensa o suficiente para provocar DRT se desenvolve em uma minoria de pacientes; nesses casos, uma albuminúria se manifesta (>300mg/dia) se inicia cerca de 15 anos após diagnóstico. Após período variável, taxa de filtração glomerular começa um inexorável declínio, o que reflete em aumento da concentração sérica de creatinina. O surgimento de proteinúria maciça e da síndrome nefrótica é comum nesse contexto e, muitas vezes, anuncia a progressão para o DRT. NEUROPATIA DIABÉTICA Causa mais comum de neuropatia nas nações desenvolvidas e a principal causa de úlcera cutâneas não cicatrizantes e de amputação de membros. Normalmente é simétrica, mas pode ser focal e frequentemente envolve igualmente o SNA. Afeta cerca de 50% dos pacientes diabéticos. A prevalência de neuropatia simétrica é semelhante nos diabetes tipo 1 e 2; as síndromes focais são mais comuns nos pacientes idosos com diabetes tipo 2. Descreve ampla variedade de síndromes clínicas que representam uma complexa interação de fatores patogênicos. Devido à natureza multifacetada, os esquemas de classificação atual são amplamente baseados na apresentação clínica. Fatores de risco: duração da diabetes, controle glicêmico, IMC, tabagismo, níveis elevados de triglicerídeos e hipertensão. 10 Como as manifestações clínicas da neuropatia se assemelham àquelas de outras neuropatias, o diagnóstico só deve ser estabelecido após se descartar a possibilidade de outras etiologias DIABÉTICA FOCAL (MONONEUROPATIA) Se apresentam tipicamente com dor, mas as perdas motoras e os reflexos tendinosos profundos anormais podem estar presentes. Geralmente tem início súbito, indicando causa vascular. Os locais mais comuns incluem os nervos radial, mediano, poplíteo lateral e oculomotor. Radiculopatia dolorosa também pode ocorrer na distribuição de uma ou mais raízes espinhais, podendo ser facilmente confundida com doença de órgãos internos ou neuralgia pós-herpética. Geralmente, são autolimitadas, com duração média de 6 a 8 semanas; a cronicidade pode ocorrer, mas é menos comum. POLINEUROPATIASIMÉTRICA DISTAL Síndrome neurológica mais comum. Envolve todos os nervos somáticos, mas possui uma forte predileção pelos nervos distais dos pés e das mãos sensoriomotores. As fibras sensórias geralmente são afetadas preferencialmente; doença afeta tanto pequenas fibras C desmielinizadas (dor e temperatura) quanto as fibras maiores e mielinizadas (toque, vibração e propriocepção). Inicialmente, pacientes assintomáticos, com anomalias sutis ao exame, incluindo perda do sentido vibratório, do toque leve e da discriminação entre dois pontos, assim como sensibilidade térmica. Uma vez sintomáticos, pacientes descrevem dormências e formigamentos nas extremidades distais, muitas vezes distribuição “bota e luva”. Dores lancinantes graves, espontâneas, de curta duração também podem ocorrer – costuma afetar extremidades inferiores, em geral manifesta-se em repouso e piora a noite. Os estágios finais da doença podem envolver as mãos os pés, ataxia sensória e artropatia neuropática (articulações de Charcot). A neuropatia sensória aguda, uma variante de início rápido, geralmente ocorre no contexto de controle metabólico alterado (ex: CAD) ou durante o início do tratamento insulínico (neurite insulínica). Possui um melhor prognóstico. NEUROPATIA MOTORA PROXIMA (AMIOTROFIA) Afeta primariamente os pacientes idosos do tipo 2, sendo mais comum em homens. Classicamente se inicia com dor bilateral nas coxas, quadris e nádegas, seguida por fraqueza e atrofia dos grupos musculares pélvicos proximais. Pode ser secundária a uma série de outras doenças mais comuns nos diabéticos, mas não diretamente relacionadas à hiperglicemia. Estas incluem a polineuropatia desmielinizante inflamatória crônica, gamopatia monoclonal e vasculite, todas devem ser descartadas antes que o diagnóstico da amiotrofia diabética seja feito. Bom prognóstico, a maior parte dos casos se resolvendo espontaneamente em 12-24 meses. NEUROPATIA AUTONÔMICA A autonômica simpática possui pior prognóstico. Os indivíduos com DM tipo 1 ou 2 de longa duração podem desenvolver sinais de disfunção autonômica com acometimento dos sistemas colinérgico, noradrenérgico e peptidérgico As anomalias cardiovasculares comuns incluem taquicardia de repouso, diminuição da variabilidade da frequência cardíaca, isquemia miocárdica silenciosa e hipotensão ortostática. A alteração da função gastrointestinal nos diabéticos é comumente observada. A constipação é a síndrome clínica mais comum. A diarreia é outra queixa frequente, podendo ser causada por uma diversidade de condições, incluindo hipermotilidade, hipomotilidade com crescimento bacteriano excessivo, insuficiência 11 Condições Associadas Diagnóstico pancreática e irritação por sais biliares. A gastroparesia é uma condição incapacitante, muitas vezes se apresentando com distensão abdominal,saciedade precoce, náuseas e vômito. Comprometimento da inervação parassimpática produz hipotonia vesical, esvaziamento vesical incompleto e incontinência por excesso de fluxo. A disfunção erétil também é observada em pacientes do sexo masculino. Produção anormal de suor pelos pacientes pode resultar em xerose e rachaduras de pele, predispondo ainda mais esses pacientes a infecções cutâneas. É comum a anidrose distal com sudorese tronco facial. PÉ DIABÉITCO Cerca de 15% dos pacientes diabéticos sofrem com ulceração significativa dos pés. Caracterizado por úlceras plantares de cicatrização lenta que resultam de um trauma aparentemente insignificante. Deixadas sem tratamento, as úlceras superficiais podem penetrar nos tecidos subjacentes, produzindo complicações que incluem celulite, sepse articular, formação de abscessos e osteomielite. Em casos graves, pode ocorrer gangrena e a amputação pode ser necessária. Fatores de risco: diabetes de longa duração, controle glicêmico deficiente e complicações concomitantes ao diabetes. A perda visual e a obesidade grave também podem contribuir para dificuldades com cuidados pessoais. Combinação de neuropatia sensoriomotora crônica, doença vascular, neuropatia autonômica e comprometimento da função imune. Condições Associadas HIPERTENSÃO A prevalência de hipertensão em paciente do tipo 2 é duas vezes mais que o da população não diabética, em grande parte em decorrência do agrupamento de ambas as doenças em pacientes com obesidade e resistência à insulina. Os pacientes do tipo 1, em contrapartida, são geralmente normotensos na ausência de doença renal. Importante cofator no desenvolvimento de doença cardiovascular, nefropatia e retinopatia. DISLIPDEMIA A alteração lipídica mais comum associada ao diabetes é o aumento do nível de lipoproteínas ricas em triglicerídeos, baixos níveis de HDL e a presença de partículas densas, pequenas e, consequentemente, mais aterogênicas, de LDL. O perfil lipídico característico no paciente diabético, é elevada concentração de triglicerídeos e supressão de HDL-colesterol, ambos fatores de risco para doença arterial coronariana. Passos iniciais do tratamento da dislipidemia diabética devem englobar a otimização do controle glicêmico, reforço dietético e prescrição de exercícios aeróbicos. Diagnóstico Na maioria das vezes, estabelecido quando paciente apresenta um dos seguintes sintomas clássicos: poliúria, polidipsia e perda ponderal inexplicada, acompanhados por aumento da concentração da glicemia plasmática. Cerca de 50% das pessoas com diabetes tipo 2 desconhecem serem portadoras dessa doença, havendo um hiato de 4 a 7 anos entre as primeiras anormalidades glicêmicas e o diagnóstico. O que explica pelo menos parcialmente o fato de em alguns casos o diagnóstico ser feito a partir de uma complicação crônica. A identificação de pessoas com risco de ter diabetes e a realização de exames apropriados para confirmar ou não essa afecção deve ser estimulada pelos profissionais de saúde. 12 Fatores de risco: indivíduos com mais de 45 anos, sobrepeso, obesidade central, dislipidemia, história prévia de hiperglicemia (diabetes gestacional), hipertensão arterial, antecedente familiar (1º grau), história de ovário policístico, portadores de doença aterosclerótico-cardíaca, ser ou ter parentes de primeiro grau de origem asiática. SINTOMAS E SINAIS Além dos sintomas clássicos, pacientes podem apresentar infecções de repetição, incontinência urinária, nictúria, enurese noturna, insuficiência vascular periférica, doença cardiovascular, acidente vascular cerebral, retinopatia, nefropatia, neuropatia periférica, disfunção erétil, letargia, cansaço e desânimo. No diabetes tipo 1, pela rápida e intensa capacidade de secreção de insulina, por vezes o diabetes é diagnosticado por quadro de cetoacidose, caracterizada por desidratação, respiração acidótica, hiperglicemia (>250mg/dL), acidose metabólica (pH < 7,3), cetonemia e cetonúria. ANAMNESE E EXAMES A anamnese deve ser orientada para os seguintes pontos: Hábito alimentar, uso exagerado do álcool, aumento de peso, sedentarismo, estresse, antecedentes pessoais de hipertensão, gota, doença renal, doença cerebrovascular, cardíaca e diabetes gestacional. Utilização de corticosteroides, estrógenos, betabloqueadores e diuréticos. Questionamentos sobre sintomas sugestivos de complicações crônicas como edema, parestesias, alteração visual, hipertensão arterial e paralisias. Tratamento medicamentoso utilizado anteriormente e reações às drogas. História familiar para diabetes, hipertensão arterial, dislipidemia, doença renal, doenças cárdio e cerebrovasculares. O exame físico deve ser orientado para avaliação de peso/altura, exame segmentar de rotina, aferição de pressão arterial, bem como de presença de sinais de complicações relacionadas ao diabetes como neuropatia (sensibilidade vibratória, reflexos), vasculopatia (palpação de pulsos periféricos) e inspeção da pele e dos pés. Os exames de rotina para o seguimento diabético são realizados visando: Controle metabólico – glicemia de jejum e hemoglobina glicada Identificação precoce das complicações agudas (se sugestivo) – glicemia, gasometria arterial e dosagem de cetonas Avaliação de complicações crônicas Avaliação de outros fatores de risco: triglicerídeos, colesterol total, HDL-colesterol, hormônio estimulante da tireoide. Ainda que a glicosúria seja fortemente sugestiva de diabetes, os resultados de testes urinários nunca devem ser utilizados exclusivamente para diagnosticar diabetes porque um limiar renal alterado para glicose pode produzir resultado igual. Uma medida de glicose plasmática em jejum de 8 horas (na noite anterior) é mais conveniente; o diabetes está estabelecido se os níveis de glicose em jejum forem de 126 mg/dL ou acima em duas ocasiões diferentes. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL O diabetes tipo 1 caracteriza-se pela presença de auto anticorpos: anti-ilhota, antidesidrogenase do ácido glutâmico e anti-insulinoma. Os anticorpos anti- insulina podem ser dosados, mas perdem seu valor diagnóstico após início do tratamento com insulina exógena. A medida dos anticorpos é indicada para definir o tipo de diabetes de um paciente já com o diagnóstico estabelecido, para evitar o início de tratamento equivocado com agentes orais em pacientes com diabetes tipo 1.
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