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1 Prova I – Atenção Clínico-Cirúrgica I Instrumentação PARAMENTAÇÃO E ESCOVAÇÃO Dentro do centro cirúrgico é necessário trajar roupas específicas – calça comprida e jaleco de manga curta sem roupas por baixo. Após troca de roupas colocação de gorro ou touca. Uso de máscara deve abranger o nariz e a boca. Antes de entrar na zona limpa colocar os pró-pés. Para aqueles que atuarão no campo operatório, escovação das mãos e antebraços é etapa fundamental para remoção da flora bacteriana transitória e permanente – assepsia. Utiliza-se escova e solução degermante. Ponta dos dedos > palma da mão > face palmar dos dedos > dorso da mão > face radial dos dedos > face cubital dos dedos > espaços interdigitais > face anterior do punho > face anterior do antebraço > face dorsal do punho > face dorsal do antebraço > cotovelos. Duração: cerca de 6 minutos – 2x cada 3 min. Posição de antebraços e mãos para cima, a fim de evitar que água escorra de local contaminado para áreas já escovadas. Após escovação, efetua-se a paramentação (avental e luvas), manter antebraços acima da cintura e cuidado para não esbarrar em local contaminado. Secagem de mãos > avental estéril > luva estéril D ISPOS IÇÃO EQUIPE Varia de acordo com a cirurgia a ser realizada, o segmento anatômico do corpo do paciente a ser operado e a dominância manual do cirurgião. O 1º auxiliar fica à frente do cirurgião, com o instrumentador ao lado. Já o 2º auxiliar, fica ao lado do cirurgião. Em termos gerais, nas laparotomia medianas supra umbilicais, cirurgião destro fica à direita do paciente e, nas laparotomia infra umbilicais à esquerda. Cirurgião: coordena, escolhe via de acesso, planeja e táticas cirúrgicas. 1º auxiliar: apresenta as estruturas para cirurgião poder melhor operar e organizar instrumental 2º auxiliar: cirurgias mais complexas – afasta estruturas anatômicas e propicia maior liberdade ao 1º auxiliar nas manobras de hemostasia e síntese. Instrumentador: monta a mesa de instrumentos, solicita matérias de síntese e hemostasia – pode atuar no campo operatório se solicitado. INSTRUMENTAL C IRÚRGICO Todos os procedimentos cirúrgicos podem ser decompostos em 3 operações fundamentais: diérese, hemostasia e síntese. Instrumentos dispostos conforme operação fundamental da qual participam. Diérese: visam a abertura, o corte e exposição dos tecidos a serem operados. Instrumentos: bisturi e tesouras. Hemostasia: interrompe sangramento ocasionado pela diérese. Instrumentos: pinças de Halsted, Kelly, Crile, Rochester e Moyniham. Síntese: visa reconstruir, recompor e restituir a integridade de estruturas exploradas. Instrumentos: porta-agulhas, pinças anatômicas e dente de rato, as agulhas e os fios cirúrgicos. 2 Prova I – Atenção Clínico-Cirúrgica I Instrumentos auxiliares dependem do tipo de cirurgia. Os mais utilizados são: afastadores de Volkmann, pinça de Backaus e Kocher. Mesa cirúrgica dividida em 4 quadrantes: diérese, síntese, hemostasia e instrumentos auxiliares. De maneira geral, instrumentos mais delicados e menores estão no quadrante mais próximo do cirurgião e paciente. Fios e suturas As agulhas para sutura cirúrgica, conforme seu ângulo interno podem ser classificadas em curvas, semirretas e retas. De acordo com a secção transversal de sua ponta, podem ser classificadas em cilíndricas, triangulares e prismáticas. Agulhas podem ser traumáticas, quando for necessário montar fio na base, ou atraumáticas quando fio vier montado pelo fabricante. Os fios podem ser utilizados para hemostasia e para síntese. Para hemostasia, são utilizados de forma isolada e para síntese vêm montados em agulhas. Escolha do tipo de fio deve levar em conta tecido a ser suturado, resistência tênsil do fio, versatilidade e reação tecidual que provoca. Fio de sutura deve ser tão forte quanto o tecido que está sendo suturado. Fio ideal: esterilizável, não alergênico, fácil manuseio, não carcinogênico, baixa reação tecidual, boa tensão, resistente a infecção, absorção completa e baixo custo. Os fios de sutura podem também ser caracterizados por sua configuração física. Aqueles constituídos de um único filamento são ditos monofilamentares e os formados por múltiplas fibras, trançadas ou torcidas, são chamados multifilamentares. O nylon e o aço são exemplos de fios disponíveis tanto como monofilamentares quanto multifilamentares. Os monofilamentares são vistos como mais vantajosos, pois multifilamentares dão condição propícia para desenvolvimento de infecção. Fios sintéticos possuem menor reação tecidual, já os fios biológicos possuem uma grande reação. Os fios absorvíveis naturais (catgut) são responsáveis pela reação inflamatória mais intensa, além de apresentarem um tempo de absorção curto e imprevisível. Deve dar preferência aos fios sintéticos, pois desencadeiam reações inflamatórias menores, mantêm resistência, disponíveis em vários tempos de absorção e qualidade mecânica dos nós Os fios de sutura podem ser classificados em não absorvíveis e absorvíveis (fagocitose ou hidrólise). O de algodão é inabsorvível enquanto o de nylon é absorvido em 5 anos. Quanto maior a quantidade de zeros, menor é o diâmetro do fio. Nó cirúrgico é a unidade fundamental da hemostasia definitiva e da síntese. 3 Prova I – Atenção Clínico-Cirúrgica I Anastomoses As anastomoses intestinais são suturas entre dois segmentos do tubo digestivo para a reconstituição do trânsito intestinal. Indicadas após ressecção de segmento do tubo digestivo, que ocorrem em razão de neoplasias, isquemia por torção de alça, embolia, trombose, doenças inflamatórias e doença diverticular. Indicações: fechamento enterotomia (íleo e colo), ferimento penetrante, derivação interna e após cirurgia de resssecção. Na anastomose ideal, a sutura deve ser a prova de vazamentos, ter boa irrigação em ambas extremidades, livre de tensão ou estiramento, sem grande desproporção de calibre entre as alças. A sutura da anastomose intestinal ocorre através da técnica de sutura seromuscular extramucosa em plano único com pontos separados simples. Vantagens técnica: vascularização maior no local, evita formação de esporão, adequada coaptação das bordas, com facilitação da cicatrização. Para descrever as anastomoses intestinais cita-se inicialmente o segmento proximal e depois o distal. Sutura pode ser feita entre as duas bocas terminais, chamada de anastomose término terminal, ou entre as bordas laterais dessas extremidades, conhecida como anastomose látero- lateral. Quando a boca terminal é do lado proximal e de outro lado é a borda lateral, é denominada anastomose término-lateral, se oposto, será anastomose látero-terminal. Término-terminal: feita quando calibre das alças é semelhante. Já a látero-lateral: feita quando o calibre das alças é muito diferente; unindo primeiro a parede posterior e depois a anterior. Distúrbios hidroeletrolíticos O sódio (Na+) é o cátion predominante no líquido extracelular (LEC). Já o cátion preponderante no líquido intracelular (LIC) é o potássio. A diferença na composição de eletrólitos entre LIC e LEQ é mantida pela atividade de enzimas de transporte embutidas na membrana celular – enzima Na+/K+-ATPase. Na+/K+-ATPase liga-se a 3 íons de sódio e usa energia fornecida pela hidrólise do ATP (transporte ativo) para mudar conformação e retirar as moléculas, enquanto 2 íons potássio LEC entram – carga negativa no final. A resposta ao aumento da concentração de sódio intracelular é a aceleração da atividade da Na+/K+- ATPase. Regulação da concentração eletrolítica é executada no interior das células por mecanismos locais de feedback em conjunto com hormônios circulantes,incluindo aldosterona e agentes adrenérgicos. A bomba Na+/K+-ATPase encontra-se em atividade contínua e consome energia permanentemente para a manutenção do potencial de repouso da membrana. Quando não há oxigênio suficiente para manter o metabolismo aeróbico e, consequentemente, há queda dos níveis de ATP celular, a função da bomba de sódio fica prejudicada. SÓDIO A concentração sérica do íon sódio está entre 136 e 145 mEq/L. H IPONATREMIA A hiponatremia pode ser: Leve: 130-136 mEq/L Moderada: 120-130 mEq/L v Raramente manifestam sinais 4 Prova I – Atenção Clínico-Cirúrgica I Grave: abaixo de 120 mEq/L – se manifesta sintomas deve ser tratado como grave. A queda no (Na+) indica hiposmolaridade que leva a edema. O principal problema é o edema das células intracranianas que causa dores de cabeça e letargia (sonolência), podendo ocorrer evolução rápida para coma ou convulsões. Quanto maior o tempo de instalação, menor a sintomatologia. Sintomas decorrem da hiposmolaridade e são principalmente neurológicos. Na vigência de hiposmolaridade, cessa o estímulo da sede e há secreção de hormônio antidiurético (ADH), prejudicando a excreção do excesso de água. Para o diagnóstico diferencial das hiponatremia realizar osmolaridade sérica e urinária. Na prática clínica diária, o ADH sérico não é medido, mas a presença é inferida a partir da avaliação da urina. A urina concentrada sugere presença de ADH. A hiponatremia hipovolêmico é resultado de grande perda de sal e água, através de diarreias e queimaduras extensas. O tratamento é realizado com reposição de líquido com soro 0,9%. Quando a volemia é corrigida ¸ o soro fisiológico remove o estímulo barorreceptor para secreção de ADH, o que faz com que a osmolaridade urinária caia e o excesso relativo de água seja excretado. A hiponatremia normovolêmica resulta de alterações endócrinas, síndrome de secreção inadequada de ADH (SIADH) e uso de diuréticos. O tratamento é realizado com identificação e remoção do agente causal, além de NaCl 3% junto com furosemida. Quando NaCl 3% é utilizado a excreção da sobrecarga de solutos promoverá excreção obrigatória de grande quantidade de água livre A hiponatremia hipervolêmica é consequência de retenção de líquidos e sais, através de insuficiência cardíaca congestiva, cirrose e síndrome nefrótica. O tratamento ocorre por restrição da ingestão de água, uso de furosemida (diurético) e diálise. A SIADH é uma causa crônica que deve ser investigada caso o paciente esteja com hiponatremia normovolêmica ou apresente volume sanguíneo expandido. Esses pacientes necessitam sódio suplementar, bem colo líquido para compensar as perdas fixas diárias de sódio e água. A rápida correção do (Na+) em pacientes com hiponatremia crônica pode levar à miólise pontina central, uma alteração neurológica grave e permanente caracterizada por quadriparesia espástica. Não exceder 12 mEq/L em 24 horas. Pacientes com hiponatremia leve e moderada podem ser tratados com restrição da ingesta de água. É essencial tratar os casos agudos rapidamente para que o organismo não crie mecanismos compensatórios. H IPERNATREMIA A hipernatremia pode ser: Moderada: 146-159 mEq/L Grave: acima de 160 mEq/L A hipernatremia de início agudo aumenta a osmolalidade do LEC e diminui o tamanho do LIC – desidratação e perda de água. A lesão neurológica resultante da contração do volume das células cerebrais é o principal risco associado à hipernatremia. A hipernatremia hipovolêmica ocorre por perda de água e tem como causa febre, diabetes insipidus e uso de diuréticos osmóticos (manitol). Os sintomas são hipotensão, oligúria, irritação e taquicardia. O tratamento é realizado com hidratação 0,45%. Já a hipovolêmica ocorre por excesso de reposição de Na+, sendo isso iatrogênica. Os sintomas são hipertensão, irritação e taquicardia. O tratamento é feito através de restrição hídrica. É importante que no tratamento a (Na+) não reduza mais de 8 mEq/L por dia para evitar edemas. POTÁSS IO A concentração normal de potássio no líquido extracelular equivale a 4,5 mmol/L. O (K+) não pode aumentar nem diminuir em mais que 3 mmol/L. O eixo hormonal renina-angiotensina-aldosterona desempenha papel fundamental no controle renal da depuração de potássio. H IPOCALEMIA É definida como concentração de (K+) inferior a 3,5 mmol/L. v 5 Prova I – Atenção Clínico-Cirúrgica I Sintomas: fraqueza, arritmia, parada cardíaca, distensão abdominal e rabdomiólise (destrói fibras). Alterações do ECG: ondas T deprimidas e onda U. Pode ser causada por alterações no balanço interno, como alcalose, soluções hipertônicas de glicose, comum em alcoólatras com excessiva eliminação pelo fígado. Além disso, pode haver alterações no balanço externo como aporte insuficiente (baixa ingestão), perda digestiva e excreção excessiva nos rins (diuréticos – comum em pacientes hospitalizados). Pacientes requerem reposição de potássio feita através de sal cloreto lentamente para não causar hipercalemia, infundir 20 mEg/h (no máximo 40). H IPERCALEMIA É definida como concentração de (K+) superior a 5 mmol/L. Quando excede 6 mmol/L, ocorrem alterações no potencial de repouso da membrana celular que prejudicam a despolarização e repolarização normais. Potássio predominantemente fora da célula. Sintomas: debilidade muscular, paralisia flácida, distensão abdominal, arritmia e parada cardíaca. Alterações no ECG podem proporcionar a primeira indicação clínica, alterações variam com a faixa: 6-7 mmol/L: ondas T elevadas apiculadas e simétricas. Excede 7 mmol/L: amplitude onda P diminui, segmento PR aumenta e QRS fica alargado. Excede 8 mmol/L: arritmias subitamente legais, como assistolia, fibrilação ventricular ou ritmo idioventricular largo sem pulso Causada por alterações no metabolismo interno (acidose, lise tumoral) e externo (aporte excessivo e insuficiência renal aguda) O efeito adverso mais grave da hipercalemia é a alteração da atividade despolarizante muscular levando às arritmias cardíacas. A administração endovenosa de cálcio altera rapidamente essa atividade despolarizante elevando o limiar do potencial de membrana em repouso tornando as células cardíacas menos excitáveis – não altera (K+) somente estabiliza a membrana. O tratamento consiste na suspensão de K+, antagonizam efeitos musculares e neurológicos (gluconato de Ca+), redistribuir K+ internamente e aumentar eliminação (hemodiálise e diurético). A administração endovenosa de bicarbonato de sódio tem mecanismo de ação semelhante aos beta-agonistas e à glicoinsulina, levando potássio do extra para o intracelular. Acesso venoso Para escolher é importante saber: via de acesso exclusiva, pontos de inserção, técnicas de posicionamento, multiplicidade de lúmen e tempo de utilização. São necessários múltiplos lúmens, pois devido a diferença de osmolaridade o sangue e a nutrição parenteral usam lúmens distintos A nutrição parenteral total (NPT) apresenta osmolaridade superior a 700 mOsm e, portanto, deve ser feita através de acesso venoso central. O acesso ao sistema venoso para quimioterapia, nutrição parenteral, administração de antibióticos e hemoderivados é feito em veias centrais como subclávia, jugular interna, jugular externa ou basílica. Observar o posicionamento. Geralmente, a jugular externa é utilizada para hidratação. Roubo da subclávia: cateter ocluído ao levantar o braço, ao abaixar toda solução é liberada de uma vez. Para nutrição parenteral não há problema, mas reposição de K+ tem. O acesso deve ser confiável, indolor e tolerar repetidas infusões. Essencial que haja confirmação por radio-imagem, principalmente se alguma coisa além de líquido de hidrataçãofor ministrada. A curto prazo (até 14 dias) os acessos são feitos na veia subclávia e outras periféricas (basílica, cefálica ou femoral) na beira do leito. Entre 14 e 30 dias, se necessário, repetir o acesso venoso de curta duração. A longo prazo (superior a 30 dias) acesso é realizado em centro cirúrgico com uso de porta de infusão implantável e tunelização subcutânea – utilizado em terapias endovenosas intermitentes. Cuidados na inserção: anatomia venosa, volume intravascular, plaquetas, coagulação, infecção, tolerância ao procedimento e uso de medicação. Se paciente perde todos os acessos possíveis para NPT ganha prioridade nacional para transplante multivisceral. 6 Prova I – Atenção Clínico-Cirúrgica I Complicações precoces: hemorragia, embolia gasosa, pneumo/hemo/quilotórax, tamponamento pericárdico, arritmia cardíaca, falha na canulação e infecção. Complicações tardias: trombose venosa, infecção, oclusão, fragmentação e deslocamento. Nutrição artificial Indicações gerais de suporte nutricional: jejum de duração superior a 7 dias, perda de peso maior que 10-15% e IMC abaixo de 18,5 kg/m³. Importante para prevenir e tratar desnutrição que deve ser corrigida antes da cirurgia para facilitar a cicatrização. As duas vias de administração possíveis são enteral (estômago e intestino delgado) e parenteral (intravenosa, intramuscular e subcutânea). A via enteral é considerada mais fisiológica, pois passagem do sangue portal pelo fígado permite processar e armazenar vários nutrientes e a liberação de hormônios intestinais e de insulina é facilitada – necessário TGI íntegro. Desvantagens nutrição parenteral: preço, não protege de translocação bacteriana e infecção. Avaliação nutricional é feita para estimar a composição nutricional corpórea, para prever riscos da operação ou outra atividade terapêutica agressiva. Procurar no exame físico edema, caquexia, anemia, perda de fâneros, sarcopenia e descamação da pele. Métodos: história clínica, análise da composição corporal (bioimpedância), calorimetria indireta, medições antropomórficas, medida do balanço de nitrogênio (nos desnutridos é negativo devido baixa reserva energética), medida da função imunológica e medições bioquímicas A nutrição artificial é indicada para pacientes desnutridos moderadamente e graves. Cicatrização A cicatrização de primeira intenção ocorre nos ferimentos em que os bordos são apostos cirurgicamente logo após a lesão (menos de 6 horas), havendo menor deposição de tecido fibrótico e melhor resultado estético final – lesão de bordas próximas unidas através de sutura. Na cicatrização de segunda intenção, as bordas da ferida não são aproximadas, ocorrendo um prolongamento exacerbado das fases de cicatrização, principalmente da inflamação e da fibroplasia, com formação de tecido cicatricial de má qualidade e grande hipertrofia. Contração da lesão pelos miofibroblastos pode evoluir posteriormente com contraturas, bridas e sinéquias. A de terceira intenção é conhecida como de primeira intenção retardada, pois é uma ferida na qual a sutura dos bordos é postergada por alguns dias com intuito de melhorar condições locais. A reepitelização ocorre nas lesões que afetam apenas epiderme até a derme superficial, são lesões que se fecham pela migração e multiplicação de queratinócitos com mínimo estímulo cicatricial. Assim, cursam com ausência de cicatriz ou apenas alterações pigmentares. Fatores que contribuem para cicatrização: vitamina C, A e complexo B, zinco, ferro, cobre e oxigênio (princípio da câmara hiperbárica). Tipo CVC Vantagens Desvantagens Percutâneo Beira do leito, monitora infecção, até 3 lúmens Remoção acidental, heparinização diária, pneumo ou hemotórax Longo prazo Menor infecção, vida útil indefinida, até 3 lúmens Trombose venosa, difícil remoção, heparinização de rotina, ponta de cateter sem cultura Periférico Baixo custo de inserção, baixo índice de infecção, fácil remoção e beira do leito Baixo fluxo, curativos diários, heparinização diária Porta Implantáveis Menor infecção, heparinização mensal, 2 lúmens, baixo custo manutenção Difícil acesso e monitoria de infecção, alto custo de inserção e remoção, vida útil de até 2.000 punções. 7 Prova I – Atenção Clínico-Cirúrgica I Fatores que prejudicam a cicatrização: infecções, alguns fármacos, hipoalbuminemia, obesidade, diabetes, obesidade e radiação (relevante em cirurgias de reconstituição da mama). FASES Processo de cicatrização é didaticamente dividido em três fases: inflamatória, proliferativa e de maturação; embora essas três fases se sobreponham e se complementem. Enquanto houver tecido dérmico pode haver cicatrização. INFLAMATÓRIA Início imediato e protagonistas são plaquetas e macrófagos. Objetivos principais: remoção do tecido lesado, restauração dos mecanismos de defesa locais e estabelecimento de sinais adequados. A lesão de vasos locais faz com que as plaquetas entrem em contato com colágeno subendotelial, ativando via intrínseca da cascata de coagulação para estancar o sangramento. Assim, ocorre agregação de plaquetas e entrelaçamento em rede de fibrina, formando o coágulo. Coágulo, além de função hemostática, prove uma matriz extracelular provisória, por onde se deslocam células inflamatórias, fibroblastos e fatores de crescimento. No momento da hemostasia, há vasoconstrição local mediada pelas aminas vasoativas liberadas por células lesadas e ativação do SN simpático local. Agregação e degranulação de plaquetas libera vários fatores de crescimento como PDGF, FGF, IGF, EGF, TGF-alfa e TGF-beta, junto com os mediadores inflamatórios das células lesadas – início do processo inflamatório devido gradiente quimiotáxico para atração e migração de células inflamatórias, além de vasodilatação e aumento da permeabilidade vascular no local. Neutrófilos são as primeiras células inflamatórias, que atingem seu pico entre 24 e 48 horas. São responsáveis pela limpeza do local, liberação de mediadores (interleucinas e TNF-alfa) para amplificar processo e atrair mais células inflamatórias. Monócitos se diferenciam no local em macrófagos ativos, atingindo pico populacional em 48 a 72 horas e permanecendo por semanas. Além de ação fagocitária, produzem citocinas e fatores de crescimento que estimulam a angiogênese, a reepitelização, a migração e multiplicação de fibroblastos e produção de colágeno, além de manter processo inflamatório local. Supressão dos macrófagos implica inibição quase total do processo cicatricial. PROL IFERAT IVA Início em 2 a 4 dias com os protagonistas fibroblastos, macrófagos, queratinócitos e células endoteliais. Objetivos principais: restauração da cobertura epidérmica, produção da MEC, contração da ferida e angiogênese. Os fibroblastos presentes na ferida advêm da migração de fibroblastos maduros da vizinhança e da diferenciação de células-tronco mesenquimais locais. Ambas, são estimuladas por citocinas liberadas pelos macrófagos como PDGF, TGF-beta, FGF e CTGF. A MEC cicatricial é sintetizada pelos fibroblastos, que são os responsáveis pela produção de todos os elementos estruturais: colágeno, glicosaminoglicano e proteoglicanos. Elastina não é produzida, o que faz com que haja perda de flexibilidade do tecido cicatricial em relação à pele normal. Alteração na proporção de colágeno I e III. Na pele normal é 90% para 10%, já nessa fase tipo 3 chega a 30%. Alta taxa de produção (fibroplasia) pode ser observada como elevação ou hipertrofia transitória da cicatriz. Contração da ferida tem início com 4 a 5 dias e se prolonga por 2 a 3 semanas. É promovida pela alteração fenotípica dos fibroblastos para miofibroblastos (mediada por PDGF e TGF-beta1). v 8 Prova I – AtençãoClínico-Cirúrgica I A multiplicação das células endoteliais, sua penetração na MEC e o posterior processo de tubulização constituem a angiogênese. Os fatores que estimulam esse processo são lactato elevado, baixa tensão de oxigênio e baixo Ph, além de fatores de crescimento como FGF-2 e VEGF. Essa proliferação vascular é responsável pelo aspecto avermelhado da cicatriz imatura A ruptura da integridade do epitélio precipita processo de reepitelização, com estímulo adicional por parte dos fatores de crescimento como FGF (7 e 10), TGF-beta, NGF e EGF Em uma ferida fechando por segunda intenção, a migração de queratinócitos em direção a borda oposta divide progressivamente o coágulo numa porção superficial, que se torna a crosta, e outra profunda, que se torna o tecido de granulação. A presença de epitélio sobre a ferida exerce influência sobre a fibroplasia – quanto antes cobertura de queratinócitos se estabelecer menor a fibrose no local. Enxertia precoce de queimaduras de 2º/3º grau e debridamento. REMODELAÇÃO Início em 6 a 8 semanas com os protagonistas fibroblastos e macrófagos. Objetivo principal: remodelação da MEC. O excesso de colágeno produzido na fase proliferativa de forma desorganizada e aleatória é degradado e substituído por fibras de colágeno com maior número de ligações cruzadas. Reduz volume da cicatriz e aumenta força tênsil Principal agente é fibroblasto que, além de produzir colágeno, glicosaminoglicano e proteoglicanos, é responsável pela sua degradação mediante produção de metaloproteinases (MMP). Enzimas abrem caminho para migração celular no interior da MEC – “limpa-trilhos”. Redução na densidade de capilares e no número de fibroblastos e macrófagos residentes mediante apoptose, tornando cicatriz madura quase acelular. C ICATRIZAÇÃO PATOLÓGICA CICATRIZ H IPERTRÓFICA Elevadas, tensas, lisas, sem sulcos, poros ou pelos, coloração avermelhada. Não ultrapassam limites da lesão original. Tendem a regredir, total ou parcialmente, ao longo do tempo. Decorrentes de distúrbios fibroproliferativos da derme, por trauma ou inflamação local. Desequilíbrio entre a síntese exagerada de colágeno e outros elementos e a degradação e o remodelamento inadequado da MEC. Prurido e eritema relacionados com maior número de mastócitos (histamina). Tratamento: medidas locais, pois tendem a regredir espontaneamente – substâncias de uso tópico (silicone 20%), compressão, infiltrações intralesionais de corticoide (20 mg/mL) e cirurgia. QUELO IDE Cicatrizes de forma tumoral, de consistência endurecida, superfície lisa, dolorosas. Ultrapassam limites lesão inicial, apresentando recidivas frequentes após excisão. Decorrentes de distúrbios fibroproliferativos da derme, por trauma ou inflamação local. Exceto nos casos relacionados a síndrome de Rubinstein-Taybi. Mais comuns na raça negra e oriental e acometem mais pacientes jovens. Queloide Cicatriz hipertrófica Extensão Além das bordas da ferida inicial Mantém-se nos limites da lesão inicial Início Menor infecção, vida útil indefinida, até 3 lúmens Trombose venosa, difícil remoção, heparinização de rotina, ponta de cateter sem cultura Periférico Baixo custo de inserção, baixo índice de infecção, fácil remoção e beira do leito Baixo fluxo, curativos diários, heparinização diária Porta Implantáveis Menor infecção, heparinização mensal, 2 lúmens, baixo custo manutenção Difícil acesso e monitoria de infecção, alto custo de inserção e remoção, vida útil de até 2.000 punções. 9 Prova I – Atenção Clínico-Cirúrgica I Mais frequentes em indivíduos com história familiar positiva, porém não há padrão genético estabelecido ligado ao sexo. Presença de feixes hialinizados irregularmente dispersos ou em arranjos nodulares persistentes. Tratamento: associações de métodos terapêuticos – compressão, infiltrações intralesionais de corticoide (40 mg/mL), radioterapia (betaterapia profilaxia), crioterapia e cirurgia. CONTRATURA Contração cicatricial é um processo fisiológico no reparo das lesões, visando à coaptação de suas bordas. Persistência da contração além do período de reepitelização gera contratura dos tecidos, que deforma e causa resultados estéticos insatisfatórios, limitações na movimentação de membros e articulações e perda de funções. Tratamento: dilatações, massagens, ressecção cicatricial, fisioterapia e zetaplastia ENXERTOS Enxerto é o transplante tecidual que não tem conexão vascular entre área doadora e receptora. Transplante pode ser autógeno, alógeno (homo – mesma espécie) e xenógeno (hetero – espécies diferentes). Devido elastina e o colágeno presente na derme, o enxerto cutâneo apresentará: Contração primária: secundária à ação imediata de elastina sobre segmento removido – maior contração quanto maior espessura. Contração secundária: devido ação de miofibroblastos durante processo de cicatrização no leito receptor – quanto mais fina a camada de derme maior será a deformação por influências externas. Um enxerto cutâneo de espessura parcial é formado epiderme e parte da derme (basilar), permitindo cobertura de extensas áreas corporais. Derme basilar e reticular influencia cicatrização. Quanto mais fino, apresenta menor contração primária e maior secundária – pior resultado estético, maior facilidade de integração ao leito receptor e maior comprometimento funcional. Enxerto cutâneo de espessura total formado pela epiderme e totalidade da derme. Não permitem a cobertura de áreas extensas. Após retirada, necessário fazer fechamento em 1ª intenção Maior contração primária e menor secundária – melhor resultado estético, maior dificuldade de integração ao leito receptor e menor comprometimento funcional. Indicações: curativo temporário de extensos ferimentos, cobertura de extensos ferimentos no caso de escassez de tecidos adjacentes e cobertura de ferimentos secundários ao tratamento oncológico. A área doadora de pele parcial cicatriza por segunda intenção. É possível a realização de várias retiradas na mesma área; entretanto, deve-se aguardar a reepitelização desta. Já a área doadora de pele total é retirada com extensão limitada, uma vez que não ocorre reepitelização da área doadora. A área receptora deve ter boa vascularização, precisa estar limpa, sem tecidos desvitalizados ou infecção bacteriana e controle da hemostasia. Preferência para enxertos parciais em áreas com leito receptor de vascularização incerta. MECANISMOS DE INTEGRAÇÃO Embebição plasmática: enxerto se nutre (48h), por embebição no plasma do leito receptor – pode ser guardado no sangue. Inosculação: após 48h, estabelecem-se conexões vasculares entre enxerto e leito receptor – inicia-se a irrigação sanguínea do enxerto, com início da eliminação do edema. Neovascularização: indução de angiogênese com formação de novos capilares. Complicações: não integração do enxerto, alteração da pigmentação do enxerto ou da área doadora, hipertrofia da área doadora e infecção da área doadora, crosta hemática e infecção. RETALHOS Retalho é o transplante tecidual cuja vascularização é proporcionada por um pedículo, que o mantém ligado à área doadora. Retalho livre é aquele transplante que perde a conexão vascular com a área doadora e mantém sua nutrição através de vasos da área 10 Prova I – Atenção Clínico-Cirúrgica I OBS: Hipotensão permissiva: deixa pressão baixa até dar sangue e parar sangramento – não pode em TCE receptora, que são anastomosados, através de microcirurgia, com vasos do retalho. Os fatores que influenciam a circulação dos retalhos são reperfusão e radicais livres, drogas que influenciam a microcirculação, expansão tecidual, tabagismo, câmara hiperbárica e radiação. São classificados de acordo com suprimento sanguíneo, localização, região anatômica e composição dos retalhos. Indicações: cobertura de estruturas nobres, cavidades e matérias aloplásticos, reforça pressão, reconstrução de mama, áreas de infecção e estética. O melhor tratamento é a zetaplastia usada na brida cicatricial (contratura) e articulações para alongar e reposicionar cicatrizes. A melhor é de 60º em que se ganha 75% de movimento na articulação. Choque Condição clínica de perfusão tissular inadequada, onde um desequilíbrio entre a oferta e a demanda de oxigênio e nutrientes pode resultar em distúrbios metabólicos celulares graves, com disfunções orgânicas e choque – hipoperfusão que gera hipóxia tecidual. A síndrome do choque circulatório é o conjunto de sinais e sintomas que caracterizam a falência circulatória aguda. Esse quadro pode advir de causas distintas e, por isso, ter fisiopatologias distintas. No entanto, a má perfusão tecidual é o que define o choque, independentemente de sua causa. Atenção: grávidas, atletas, medicamentos e idade. Os órgãos responsáveis por promover a circulação são o coração, que recebe o sangue e o bombeia para o corpo, e os vasos sanguíneos (veias, artérias e capilares). O retorno venoso ao coração é chamado de pré-carga, e a resistência vascular periférica que o coração vence para permitir que o sangue circule é chamada de pós-carga. Monitorização: estado mental, diurese, enchimento capilar, pulso cianose, temperatura central e periférica, PA, FC, PVC, PCP, DC, VO2, DO2, SvO2, oximetria, lactato, pH, glicemia, bilirrubinas, ureia, creatina, culturas. H IPOVOLÊMICO Caracterizados por baixo volume intravascular relativo à sua capacitância, ou seja, hipovolemia relativa ou absoluta. Hemorragia, desidratação e sequestro de líquidos (tecidos inflamados e drenagem de grandes volumes de transudato). Redução da pré-carga. Para recuperar a perfusão tecidual, há ativação simpática. As respostas principais são: contração arteríolas (aumento resistência vascular periférica), contração das veias (aumento pré- carga), aumento da frequência cardíaca e da força de contração do coração. Aumento da pressão arterial (PA=DC x RVP) Aumento FC > produção catecolaminas (aumento RVP) > aumento permeabilidade vascular (edema celular e lesão). Com hipóxia celular, começa regime anaeróbico com a finalidade de produzir energia, com produção de ácido lático (lactato e íons H+) – acidose. Tríade mortal: hipotermia, coagulopatia e acidose Os pacientes podem estar em choque grau I sem apresentar sintomas devido resposta fisiológica. Diferença entre classe III e IV é a mudança no estado de consciência, de ansiedade para letargia. Rebaixamento nível de consciência devido má perfusão cerebral I II III IV Perda sanguínea <750 750-1.500 1.500-2.000 >2.000 Perda sanguínea % <15% 15-30% 30-40% >40% Frequência pulso <100 >100 >120 >140 Pressão arterial Normal Normal Diminuída Diminuída Frequência respiratória 14-20 20-30 30-40 >35 Diurese >30 20-30 5-15 Desprezível Reposição volêmica Cristaloide Cristaloide Cristaloide e sangue Cristaloide sangue Estado mental Ansiedade leve Ansiedade moderada Ansiedade e confusão Confusão e letargia Tratamento consiste em reposição volêmica perdida e controle da perda. Reposição volêmica através de acesso venoso periférico calibroso (14 ou 16 – fluxo de 250 a 325 mL) e curto. Se acesso periférico indisponível, realizar dissecção de venosa profunda (flebotomia) ou DSxFC 11 Prova I – Atenção Clínico-Cirúrgica I via intraóssea (tíbia é local mais comum – esterno, úmero e bacia A reposição volêmica deve ser rápida com solução em equipo aberto, com temperatura ao redor de 39ºC (sangue transporta calor, hemorragia leva a hipotermia). A reposição só com solução cristaloide é realizada com Ringer lactato ou soro fisiológico a 0,9%. Em graus mais elevados de sangramento repor com soluções cristaloides e hemoderivados. Sangue tipo específico (sem provas cruzadas) em paciente instável com a presença de banco de sangue. Sangue não tipado (universal, O negativo) na ausência de banco de sangue com impossibilidade de tipagem rápida. Reposição volêmica de cristaloide deve ser 1,5 vez do volume perdido estimado, mais que isso leva a hemodiluição e consequente hipóxia (máximo 1L de cristaloide). Já com hemoderivados, repõe-se de todos os graus na proporção de 1:1:1:1 (cristaloide, concentrado de hemácias, plasma fresco congelado e pool de plaquetas). Os pacientes mais graves são os que tem maior chance de morrer em decorrência do sangramento e não os em choque grau IV – protocolo de transfusão maciça. ABC score positivo com 2 ou mais critérios. ABC score FC >120 bpm PAS <90 mmHg FAST Positivo Mecanismo trauma Penetrante Transfusão mais agressiva: dobrado hemoderivados e medicação antifibrinolítica (ácido tranexâmico). CARDIOGÊN ICO Há limitação primária no desempenho cardíaco. Insuficiência cardíaca, defeitos mecânicos, lesões valvares, aneurisma ventricular, arritmias e distúrbios de condução. Diminuição do volume sistólico Hipoperfusão decorre da não adequada distribuição volêmica – volume normal, mas distribuído de forma inadequada ou impedido de circular Existe limitação primária no desempenho cardíaco, diminuição débito cardíaco e aumento da pós-carga. Haverá ativação simpática desencadeada pelos barorreceptores e quimiorreceptores. Importante lembrar que nesse caso, o coração está afetado. Com os efeitos simpáticos sobre o coração, este quadro se agrava. Além de a oferta estar diminuída, a demanda metabólica do miocárdio aumentará, já que contração e frequência cardíaca aumentadas consumirão mais oxigênio. No pneumotórax hipertensivo, há desvio do mediastino com consequente impedimento do retorno venoso – toracocentese. No tamponamento cardíaco, há presença de sangue no espaço pericárdico impedindo batimento cardíaco adequado. Decorre principalmente de trauma penetrante. Diagnóstico realizado pelo FAST, sangue positivo no pericárdio – esvaziamento cirúrgico ou pericardiocentese (punção de Marfan) Tríade de Beck: hipotensão, turgência jugular e presença de ausculta cardíaca diminuída com abafamento de bulhas. Uma possível terapêutica é a administração de dobutamina para melhor a contratilidade caso IC menor que 2,5L/min. D ISTR IBUT IVO Há inadequação entre demanda metabólica tecidual e a oferta local de oxigênio proporcionada pela microcirculação. Séptico, neurogênico, anafilático e doenças endócrinas. Diminuição na pós-carga. Débito cardíaco encontra-se preservado, dado que não há qualquer problema nem com a bomba cardíaca, nem com volume circulante de sangue. ÚNICA modalidade em que ocorre vasodilatação. Em todos os outros tipos de choque vai ocorrer uma vasoconstrição reflexa, que ocorre como mecanismo compensatório determinado pela ativação simpática. Mecanismo compensatório não consegue atuar, já que musculatura lisa arteriolar se encontra seriamente lesada, não respondendo ao estímulo simpático. Tipo de choque mais grave, apresentando pior prognóstico e maiores índices de mortalidade. 12 Prova I – Atenção Clínico-Cirúrgica I SÉPT ICO Decorrente de uma infecção grave, disseminada para todo o organismo. Uma infecção local é transmitida a outros tecidos pela corrente sanguínea, adquirindo caráter sistêmico (sepse). Em uma infecção acometendo todo o organismo, uma vasodilatação generalizada diminui a RVP e, consequentemente a PA e a PEC. Os mediadores inflamatórios liberados durante a sepse condicionam também aumento da permeabilidade vascular. Isso resulta numa perda de plasma para os espaços intersticiais, além de perda concomitantede proteínas. Paciente não apresentará esse tipo de choque ao ser admitido após um trauma – não é agudo. SIRS (antigo): temperatura superior a 38º ou inferior a 36º, frequência cardíaca superior a 90 bpm, frequência respiratória superior a 20 ipm e leucócitos superiores a 12.000. QSOFA (novo): frequência respiratória superior a 22 ipm, cognição alterada e pressão sistólica inferior a 100mmHG – críticas por identificar muito tarde o evento. Choque séptico: pressão sistólica inferior a 65mmHG e lactato acima de 18 mg/dl Tratamento: cultura e repor volemia. NEUROGÊN ICO Possíveis causas: anestesia geral profunda, anestesia espinhal, uso de drogas que o SNC ou transecção medular completa em traumatismo raquimedular. Tônus vascular é um estado de ligeira contração mantido nos vasos sanguíneos pelo sistema nervoso autônomo, e é crucial para manutenção da PA e da PEC. Forma sistêmica causa dilatação das arteríolas (diminui RVP) e vênulas (diminui retorno venoso). Há perda do tônus simpático de todo o organismo, que gera uma vasoplegia, ou seja, os vasos não apresentam uma contratilidade normal. Exame físico: hipotensão sem taquicardia (possível bradicardia), alteração sensitivo-motora abaixo da lesão medular, perda de tônus no esfíncter anal e presença de ereção involuntária. ANAFILÁT ICO Vasodilatação generalizada ao ser exposto a um antígeno, a que é previamente sensível. Ocorre degranulação de mastócitos com consequente liberação de histamina. A histamina produz: Venodilatação, diminuindo o retorno venoso; Vasodilatação arteriolar, diminuindo RVP; Aumento da permeabilidade vascular, causando extravasamento de plasma e proteínas dos capilares para os espaços intersticiais. Grande aumento da permeabilidade pode produzir o edema de glote, que muitas vezes leva ao óbito antes mesmo que o choque se instale. CR ISE ADRENAL Possíveis causas: defeitos congênitos, usuários crônicos de corticosteroides e hemorragia adrenais. Cortisol é o hormônio mais importante para a manutenção do tônus vascular. Além disso, a presença de níveis adequados de cortisol é indispensável para que a adrenalina consiga atuar. Se há insuficiência de cortisol, ocorrerá uma vasodilatação generalizada com consequente redução da PEC. OBSTRUT IVO Resulta de um bloqueio mecânico ao fluxo sanguíneo na pequena circulação ou na circulação sistêmica. Embolia pulmonar, tamponamento cardíaco, pneumotórax hipertensivo e coartação aórtica Resulta de bloqueio mecânico ao fluxo sanguíneo na pequena circulação ou na circulação sistêmica – ocasionado por uma obstrução ou compressão dos grandes vasos ou próprio coração. Um pneumotórax hipertensivo pode levar ao choque obstrutivo por ser uma situação aguda de aumento da pressão intratorácica. Não é necessária uma diminuição muito grande no calibre do vaso para que seu fluxo diminua significativamente. O tamponamento cardíaco é outra causa de choque obstrutivo. Ocorre um acúmulo de líquido entre as lâminas parietal e visceral do pericárdio seroso do coração, logo há aumento concêntrico do pericárdio comprimindo o coração. Na diástole, compromete volume diastólico final. Tromboembolismo pulmonar também causa. O atrito entre o trombo e o fluxo sanguíneo acaba por destacar pequenos êmbolos. Esses êmbolos seguem para o coração direito, ganham as artérias 13 Prova I – Atenção Clínico-Cirúrgica I pulmonares e chegam aos capilares pulmonares. O pequeno calibre destes vasos faz com que os êmbolos fiquem estacionados, formando microtrombos e obstruindo capilares pulmonares. Isso ocorre em milhares de capilares. Drenagem tórax e traqueostomia A punção da caixa torácica é denominada de toracocentese. Este procedimento com agulha é indicado na vítima com trauma de tórax que apresenta pneumotórax hipertensivo, alivia ou descomprime precedendo a drenagem torácica, que é o tratamento definitivo – 5º espaço intercostal na linha axilar média ou posterior. Precede qualquer abordagem invasiva na cavidade torácica para verificar se o local contém o que se está procurando. Importante prestar atenção ao local de punção para não afetar diafragma, pulmão ou fígado. O dreno de tórax proporciona um conduto para a drenagem de ar, sangue e outros líquidos do espaço intrapleural ou mediastinal e restabelecimento de pressão negativa no espaço intrapleural. Para manter pressão negativa, frasco do dreno deve estar abaixo do paciente. A região deve ter todos os seus planos infiltrados (pele, tecido subcutâneo, músculos e pleura) com anestésico local. A incisão deve ser maior que o tamanho do dedo e sempre próxima à borda superior da costela do espaço escolhido, pois abaixo das costelas se encontram os vasos e nervos intercostais. O tecido subcutâneo, músculos intercostais e pleura parietal devem ser divulsionados com uma pinça Kelly. Segue-se a exploração digital da cavidade torácica à procura de aderências ou vísceras. Violação da cavidade pleural > palpação digital > vestir dreno com a Kelly > introdução dreno póstero-superior > visualização da oscilação > fixação (ponto U e bailarina). Indicações: derrame pleural (hemotórax, hidrotórax, empiema, quilotórax), pneumotórax (espontâneo, traumático ou iatrogênico) e pacientes que passaram por cirurgia torácica com abertura do espaço pleural. Drenagem profilática em pacientes que vão para ventilação mecânica com a costela quebrada. Não existe contraindicação absoluta, mas deve-se tomar cuidado em casos de aderências pleurais, distúrbios de coagulação, bolha gigante e atelectasia. Complicações: orifício do dreno fora do espaço pleural, dreno no espaço peritoneal ou na parede torácica, lesões de vísceras abdominais, lesões intratorácicas, enfisema subcutâneo, hemorragia, empiema e neurite intercostal. CR ICOT IREO IDEOSTOMIA No acesso cirúrgico de urgência à via aérea, o procedimento indicado é a cricotireoideostomia. Ajuda de oximetria durante a intubação. Localizar membrana pela palpação digital, realizar antissepsia local e anestesia local, posicionar os dedos indicador e polegar de uma das mãos sobre a transição das cartilagens tiróidea e cricotireóidea, fixando a laringe, realizar incisão horizontal na pele e alcançar a membrana cricotiróidea, onde se faz outra incisão. A cricotireoideostomia cirúrgica não é indicada em crianças menores de 12 anos de idade, pois a cartilagem cricoide é a estrutura que oferece sustentação da arquitetura anatômica da laringe e não deve ser lesada TRAQUEOSTOMIA A traqueostomia temporária pode ser feita tanto pela técnica cirúrgica clássica aberta como pela técnica percutânea. Cuidados para realização da traqueostomia: Cânula não faça contato com cartilagem cricoide, sendo o sítio ideal de inserção entre os 2º e 3º anéis traqueais. Evitar istmo da tireoide Evitar fratura dos anéis traqueais Não é um procedimento indicado durante o atendimento ao politraumatizado na sala de emergência, exceto no trauma grave da laringe. Escolha do local de traqueostomia fica cerca de 3 cm abaixo da cricoide. Incisão pele e subcutâneo na 14 Prova I – Atenção Clínico-Cirúrgica I linha de força. Divulsão da musculatura na linha média com Kelly. Identificação visual da traqueia. Palpação digital. Incisão entre os anéis traqueais suficiente para introdução da cânula. Retirada parcial do tubo orotraqueal Procedimento deve ser realizado em Centro Cirúrgico, com material e equipamento apropriado, pelos riscos de complicações, como hemorragias. Atendimento inicial do traumatizado Trauma é a terceira causa de morte no Brasil, perdendo somente para doenças cardiovasculares e neoplasias. Protocolo ATLS: conhecer e sistematizar o atendimento do traumatizado, com objetivode realizar atendimento adequado, com diagnóstico precoce e a adoção de medidas para minimizar a taxa de mortalidade e sequelas. Sequência de prioridades de forma a avaliar as situações que geram maior risco de morte Sequência ABCDE, caso alguma anormalidade seja detectada deverá ser resolvida antes da progressão para a próxima letra. A Airway Vias aéreas com proteção da coluna cervical B Breathing Ventilação e respiração C Circulation Circulação com controle da hemorragia D Disability Disfunção, estado neurológico E Exposure Exposição com controle da hipotermia Tentativa de iniciar um diálogo, se as respostas forem satisfatórias, paciente não apresenta comprometimento grave de A, B, C e D. O primeiro passo do atendimento ao traumatizado é avaliar os 3 “S”: segurança, cena e situação. Segurança da cena e individual (avental, óculos de proteção, máscara e luvas). A (A IRWAY) Iniciar a conversa com o paciente de forma a avaliar a situação de suas vias aéreas. Em caso de ausência de resposta/ insatisfatória, há a possibilidade de estar diante de uma obstrução de vias aéreas. Determinar se há algo obstruindo o fluxo aéreo, como corpos estranhos e depois observar se paciente apresenta “queda da língua”. Inconsciência faz com que língua em estado relaxado “caia” obstruindo o fluxo se ar devido à obstrução a orofaringe – elevação de mento ou tração da mandíbula. Tratamento temporário da queda da língua, é o uso da cânula de Guedel. Definir a necessidade ou não de via aérea definitiva através de intubação orotraqueal (IOT) ou nasotraqueal (INT). Na impossibilidade ou contraindicação, obter via aérea cirúrgica (cricotireoideostomia ou traqueostomia). Na impossibilidade de IOT, mas possibilidade de ventilação usar dispositivo supra glótico como a máscara laríngea. Sempre manter a proteção da coluna cervical, cabeça não pode ser rodada e pescoço não pode ser hiperextendido ou hiperfletido. Nos casos sem via aérea definitiva, ofertar oxigênio a todos os pacientes traumatizados. Oferta de oxigênio deve ser feita com máscara com reservatório, com fluxo de 10 a 15 L/min. B (BREATHING) Semiologia pulmonar: Inspeção: deformidades, assimetria ventilação e ferimentos. Palpação: crepitações ósseas e enfisema subcutâneo. Ausculta: simetria, ausência Percussão: hipertimpanismo (ar espaço pleural) e macicez (presença de líquido). Pneumotórax hipertensivo ocorre quando há escape aéreo, de forma que o pneumotórax aumenta progressiva até o colabamento pulmonar. O diagnóstico é clínico com ausculta pulmonar abolida no hemitórax acometido, hipertimpanismo à percussão, possível estase jugular e sinais de choque. Casos mais graves: desvio do mediastino para lado contralateral e consequentes sinais de choque devido retorno venoso comprometido. Tratamento: toracocentese e drenagem tórax. 15 Prova I – Atenção Clínico-Cirúrgica I Pneumotórax aberto acontece quando há grande ferimento penetrante no tórax, com diâmetro maior ou igual a 2/3 do diâmetro da traqueia do paciente. Ocorre, pois ar tende a entrar pela porção com menor resistência (ferimento e não vias aéreas), gerando colabamento pulmonar. Tratamento: curativo de três pontas gera um mecanismo valvulado. Hemotórax é dito maciço quando acomete hemitórax inteiro, e para isso é necessário mais de 1500 mL. Devido acúmulo de sangue no espaço pleural, paciente não terá ausculta desse lado, apresentando macicez à percussão. Paciente terá sinais de choque, em decorrência do sangramento Tratamento: drenagem de tórax Tórax instável ocorre na presença de fratura em duas ou mais costelas consecutivas em dois ou mais lugares, gerando tórax “flutuante”. Na inspeção, identifica-se respiração paradoxal, uma assincronia do movimento da parede torácica com a ventilação. Tratamento: analgesia agressiva associada ao suporte ventilatório – via aérea definitiva não é obrigatório. C (C IRCULAT ION) A perda de sangue faz com que não ocorra oxigenação adequada dos órgãos e tecidos, que vão funcionar num regime de baixa oxigenação, produzindo ácido lático e consequente acidose sistêmica. No trauma, até que se prove o contrário, a etiologia do choque é hipovolemia. Pode ser classificado em classes de I a IV, a reposição volêmica deve se basear nessa classificação. Importante determinar os sinais vitais através de adequada monitorização, determinar grau de choque e estimar perda volêmica. I II III IV FC Normal Taquicardia Taquicardia Taquicardia PA Normal Normal Diminuída Diminuída Estado Mental Normal Normal Normal Deprimida Reposição volêmica do paciente, para isso é necessária a aquisição de dois acessos venosos calibrosos e periféricos. Para evitar hemodiluição, o máximo que podemos usar de solução cristaloide são 2 L. O 4º passo é determinar o local do sangramento e propor e adotar estratégias para pará-lo. Em casos de hemorragia externa, realizar compressão manual. Em casos de grandes ferimentos em extremidades, uso de torniquetes é uma última alternativa. Em casos de hemorragia interna, há necessidade de investigação adicional, podendo estar localizada no tórax, abdome, bacia, extremidades e retroperitônio. O abdome é o principal local de hemorragia interna secundária a trauma. Exame físico: Inspeção: hematomas ou marca do cinto de segurança. Palpação dor ou peritonite. Identificado através de ultrassom FAST, avaliando a presença de líquido livre (provável sangramento) dentro da cavidade peritoneal (baço, fígado, pelve e pericárdio). Na indisponibilidade, pode ser realizado o lavado peritoneal diagnóstico (LPD). A investigação do tórax consiste na reavaliação do exame físico. Na ausência de hemotórax, sangramento ainda pode ser proveniente do tórax, pelas estruturas mediastinais. Radiografia do tórax realizada no leito pode ser um método de triagem para esse sangramento, através de sinais como alargamento do mediastino. A bacia tem capacidade de conter cerca de 3.000 mL de sangue até toda a volemia do paciente. Avaliar pressionando os trocanteres no sentido anteroposterior medial, se houver bacia instável deve-se realizar fechamento do anel pélvico através de imobilização com lençol. Os ossos longos, caso apresentem fraturas, podem conter uma grande quantidade de sangue. Devem ser alinhados por profissional experiente e fixados com talas. Uma fratura de fêmur pode levar a sangramento de até 1.500 mL. 16 Prova I – Atenção Clínico-Cirúrgica I Alguns pacientes não apresentam sinais de choque clássicos por possuírem maior reserva fisiológica ou usuários de medicações inibidoras do sistema cardiovascular. Quando descartadas outras causas de sangramento, como abdome (FAST negativo), bacia (estável à palpação), tórax (ausculta normal e radiografia no leito sem alargamento do mediastino) e extremidades (sem deformidades), resta somente o retroperitônio. D (D ISABIL ITY ) Avaliação neurológica deve ser rápido na avaliação primária, sendo observado o nível de consciência do paciente, o tamanho e a reatividade das pupilas, sinais de lateralização e o nível da lesão da medula espinhal. Nível de consciência determinado com escala de coma de Glasgow – TCE grave quando menor ou igual a 8. Abertura ocular Espontânea 4 Estímulo verbal 3 Estímulo doloroso 2 Sem resposta 1 Resposta verbal Orientado 5 Confuso 4 Palavras inapropriadas 3 Sons incompreensíveis 2 Sem resposta 1 Melhor resposta motora Obedece comandos 6 Localiza dor 5 Flexão normal (retirada) 4 Flexão anormal (decorticação) 3 Extensão (descerebração) 2 Sem resposta 1 Em casos de TCE grave, paciente não é capaz de manter oxigenação adequada e a perviedade das vias aéreas, devendo proceder-se à via aérea definitiva. Avaliaçãoda pupila (herniação do lobo temporal) e anisocoria (nervo oculomotor comprimido). E (EXPOSURE) Paciente deve ser avaliado completamente, com cautela para evitar hipotermia adicional pela exposição. Hipotermia aumenta quadro de coagulopatia, visto que os fatores de coagulação, são enzimas e, como tal, funcionam em condições adequadas de temperatura. AVALIAÇÃO SECUNDÁRIA Medidas auxiliares à avaliação primária: Sonda vesical: avaliar conteúdo da bexiga. Presença de hematúria indica possível lesão no sistema urinário. Contraindicada em suspeita de lesão de uretra (equimose perineal, próstata não palpável ao toque retal). Sonda gástrica: contraindicada em suspeita de fraturas de base de crânio. Utilizada para diminuir a distensão gástrica, prevenindo broncoaspiração, além de avaliar conteúdo gástrico. Radiografias: incidências anteroposteriores de tórax e pelve. Se Glasgow alterado, realizar radiografia de coluna cervical. Radiografia de extremidades para avaliar fraturas (pelo menos 2 incidências) A avaliação secundária consiste na reavaliação minunciosa do paciente da “cabeça aos pés”. História e passado clínico determinados através do mnemônico SAMPLA: S Sintomas A Alergia M Medicamentos em uso P Passado médico / prenhez L Líquidos e alimentos ingeridos recentemente A Ambiente e eventos relacionados ao trauma Vias aéreas O rápido reconhecimento de um problema nas vias aéreas, associado ao seu rápido manejo, tanto pelo suporte básico quanto pelo suporte avançado, permite que as vítimas possam sobreviver aos primeiros minutos, já que a obstrução das vias áreas impede a respiração e leva a uma consequente parada respiratória. Vias aéreas superiores são compostas por cavidade nasal, faringe, laringe e porção superior da traqueia. Administrar oxigênio suplementar para todos os pacientes traumatizados. 17 Prova I – Atenção Clínico-Cirúrgica I Obstrução de vias aéreas, em uma situação de trauma, pode ocorrer por: Objetos em cavidade oral – retirados assim que identificados. Presença de sangramento – aspirar secreção com aspirador de ponta rígida. Vômitos persistentes – paciente lateralizado em bloco protegendo a coluna. Depressão neurológica – relaxamento da musculatura e diminuição da consciência. As manobras de liberação das vias aéreas são elevação do mento e tração da mandíbula (permite com auxílio do polegar, adaptar a máscara do oxigênio para boa vedação). A cânula de Guedel é indicada para manter a perviedade das vias aéreas e evitar que o paciente esteja com tubo orotraqueal o morda. Não usar em pacientes conscientes ou que, ao tentar, apresentem reflexo de vômito. Via aérea definitiva é quando uma cânula endotraqueal é introduzida com o balão insuflado, devidamente fixada e conectada à fonte de oxigênio em ventilação assistida. Intubação orotraqueal, intubação nasotraqueal e vias aéreas cirúrgicas. Indicações de via aérea definitiva: necessidade de proteção das vias aéreas (proteção vômitos frequentes, risco comprometimento e TCE grave) e necessidade de ventilação para adequada oxigenação (apneia, TCE grave e incapacidade de manter oxigenação adequada). Sequência rápida de intubação (SIR) compõe o conjunto de ações que auxiliam no sucesso da intubação, incluindo conhecimento de dose e farmacologia de medicamentos a serem utilizados. Material adequado, testado e preparado > pré oxigenar o paciente 100% > medicamento que diminua o reflexo vagal (lidocaína ou fentanil) > compressão da cartilagem cricoide (manobra de Sellick – reduz chance de broncoaspiração) > administrar relaxante muscular (succionilcolina) > aguardar relaxamento do paciente > intubação orotraqueal > insuflar balonete > confirmar posição da cânula com ausculta (epigastro) > interromper compressão cricoide > ventilar paciente > fixar o tubo Via aérea difícil deve proceder com duas tentativas de intubação antes de considerar que não conseguimos intubar. Depende da anatomia do paciente, sangramento em grande quantidade e fraturas de face. Os dispositivos supraglóticos estão indicados em situações de impossibilidade de intubação, porém com possibilidade de ventilação. A máscara laríngea fica localizada na laringe, de forma que não há um tubo inserido endotraqueal com cuff insuflado, não sendo uma via aérea definitiva. Sinais de possível obstrução da via aérea: torpor, agitação, retrações, corpo estranho, ruídos anormais, desvio de traqueia e hematoma. Primeira hipótese para agitação/agressividade é hipóxia. A via aérea cirúrgica está indicada em condições de impossibilidade de intubação e ventilação. Cricotireoidostomia cirúrgica: membrana cricoide é avascular, necessária anestesia local, incisar a pele e membrana para introdução de cânula – via aérea definitiva. Não é recomendado para crianças menores de 10-12 anos, pois membrana cricoide forma, junto com cartilagem cricoide, o único arcabouço que sustenta traqueia superior. Trauma de tórax O trauma torácico é a causa de 25% das mortes de trauma geral. Já a mortalidade especificamente de trauma torácico é cerca de 10%. Grande maioria dos casos é tratado por procedimentos simples, não cirúrgicos. Anatomia do tórax: arcabouço torácico (clavículas, esterno, escápulas, coluna torácica e costelas) e órgãos internos (traqueia, brônquios, pulmões, diafragma, coração, grandes vasos e esôfago). As lesões traumáticas estão divididas em dois grandes grupos. No primeiro grupo estão as lesões que causam risco de vida iminente e, portanto, estão incluídas como máxima prioridade – 18 Prova I – Atenção Clínico-Cirúrgica I diagnóstico e tratamento são realizados quase ao mesmo tempo. Já no segundo grupo estão as lesões identificadas no exame secundário. R ISCO IMEDIATO DE MORTE Conhecer mecanismo do trauma, entender biomecânica e atendimento ABCDE. Essas lesões devem ser reconhecidas no atendimento inicial e já promover as primeiras medidas – diagnóstico clínico, não se deve esperar por métodos complementares. PNEUMOTÓRAX H IPERTENS IVO Uma das lesões torácicas mais rapidamente fatais no trauma – diagnóstico clínico. Sistema de válvula unidirecional provoca o acúmulo progressivo de ar no espaço pleural, ocasionando grave distúrbio ventilatório e circulatório. Entrada de ar persistente e unidirecional levando a colabamento do pulmão do lado acometido e deslocamento das estruturas centrais (mediastino) para lado contralateral. Causas: lesões traumáticas da parede torácica, fraturas com grande desvio da coluna torácica, lesão pulmonar extensa ou lesão na árvore traqueobrônquica. Diagnóstico: desconforto respiratório grave, dor torácica, distensão das veias do pescoço (turgência jugular), desvio da traqueia, hipotensão, timpanismo à percussão e ausência de murmúrio vesicular na ausculta. Tratamento: descompressão imediata pela inserção de agulha de grosso calibre no 5º espaço intercostal na linha axilar média ou posterior. Essa manobra deve ser seguida de drenagem torácica com dreno tubular. PNEUMOTÓRAX ABERTO Lesão menos encontrada na vida civil – causada por projeteis de alta energia cinética. Falha na parede torácica condiciona a rápido equilíbrio da pressão intratorácica e atmosférica, resultando em ventilação inadequada seguida de hipóxia e hipercabia – entrada de ar pelo orifício e não pelas vias aéreas. Diagnóstico: inspeção e ferimento “soprante” (traumatopneia). Tratamento: curativo de 3 pontas (mecanismo de válvula), drenagem pleural longe do ferimento e cirurgia para correção da abertura torácica HEMOTÓRAX MACIÇO Originado por lesão de algum vaso intratorácico que origine grande sangramento – ferimentos penetrantes. Diagnóstico: ausência de ausculta pulmonar no lado acometido,com submacicez ou macicez. Resulta de acúmulo rápido de sangue no espaço pleural – volume maior do que 1.500 mL, além de resultar em choque hemorrágico, interfere na mecânica ventilatória, pois hemotórax comprime o pulmão ipsilateral, podendo desviar o mediastino. Tratamento: drenagem torácica se possível com “autotransfusão”. TÓRAX INSTÁVEL Ocorre quando um segmento da parede torácica não tem mais continuidade óssea com o resto da caixa torácica – múltiplas fraturas em dois pontos da mesma costela e em costelas subsequentes. Achado clínico: movimento paradoxal, crepitação das fraturas costais. Exame radiológico: fraturas múltiplas de costelas. Insuficiência respiratória depende do grau de instabilidade da caixa torácica, intensidade da dor e extensão da lesão pulmonar subjacente. Cuidados gerais: melhorar oferta de oxigênio, reexpandir o oxigênio, administrar líquidos cautelosamente, fornecer analgesia para melhorar a ventilação e promover a reeducação respiratória. Tratamento: suporte ventilatório e analgesia adequada. TAMPONAMENTO CARDÍACO Ferimentos penetrantes na área precordial ou transfixantes de mediastino são as principais causas do derrame pericárdico – lesão cardíaca ou coronariana que sangra para o interior do espaço pericárdico. Menos frequentemente, o trauma contuso pode romper as câmaras cardíacas. Atenção a área de Sauer-Murdock ou Ziedler já que de 20% a 40% dos pacientes com ferimentos nessas áreas podem evoluir. Tríade diagnóstica de Beck (menos de 30%): elevação da pressão venosa (distensão das veias cervicais – estase jugular), diminuição da pressão 19 Prova I – Atenção Clínico-Cirúrgica I arterial (sinais de choque) e abafamento das bulhas cardíacas. Além do quadro clínico, a falta de resposta à reposição de fluidos endovenosos sugere fortemente tamponamento cardíaco. Estudo do saco pericárdico faz parte do exame ultrassonográfico na sala de emergência. O ultrassom FAST pode evidenciar a presença de líquido livre na janela pericárdica. Tratamento: pericardiocentese com auxílio de ultrassonografia – punção de Marfan. R ISCO POTENCIAL DE MORTE São aquelas que podem ser diagnosticadas após exames complementares, ou seja, podem ser suspeitadas no atendimento primário e confirmadas posteriormente. PNEUMOTÓRAX S IMPLES Ocorre tanto no ferimento penetrante como no trauma contuso. Colapso pulmonar devido acúmulo de ar no espaço pleural altera a relação ventilação/ perfusão. Não deve ser feita toracocentese para o esvaziar, nem para diagnostica-lo. Tratamento depende do tamanho e sintomatologia Pequenos: menor que 30% - não precisa de drenagem torácica. Drenagem de tórax: maior que 30%, sintomático, ventilação mecânica e transporte aéreo. HEMOTÓRAX S IMPLES Devido efeito fibrinolítico da pleura, normalmente o sangue não coagula dentro da cavidade pleural, exceto nos sangramentos agudos de grande volume, quando coágulos são formados. Diagnóstico: radiológico ou tomográfico – volumes maiores de 300mL são visíveis na radiografia. Tratamento: drenagem torácica, videotoracoscopia e absorção natural. Todo hemotórax deve ser drenado, visto que sua presença no tórax pode gerar complicação. FRATURA Pode haver fratura do arcabouço torácico sem que ocorra o acometimento de estrutura intratorácica, pois junto com musculatura absorvem impacto. Em crianças, devido elasticidade – lesão sem fratura no arcabouço. Fratura de costela é o mais frequente, leva a suspeita de lesões internas. Nos primeiros arcos, costais investigar lesões de grandes vasos (aorta). Já fratura dos últimos arcos costais pode ocasionar lesões intra-abdominais (fígado e baço). Fratura de clavícula é frequente e indica avaliação complementar da perfusão e pulsos do lado acometido, com comparação contralateral. Fraturas de escápula e esterno são pouco frequentes e necessitam de mecanismos de alta energia – suspeitar lesões de vasos mediastinais e contusão miocárdica. CONTUSÃO PULMONAR Se desenvolve, em geral, de modo pouco evidente, agravando-se progressivamente, e pode culminar em insuficiência respiratória grave e fatal, até 72 horas após o trauma. Impacto sobre a caixa torácica se transmite para as estruturas intratorácicas, sendo o pulmão o órgão mais facilmente afetado. Impacto pulmonar leva à ruptura de vasos e consequente extravasamento de líquidos e sangue para interstício pulmonar e intra alveolar. Fraturas costais múltiplas e principalmente das três primeiras costelas, da escápula e do esterno e do esterno. Diagnóstico: opacificações difusas, que não respeitam a anatomia segmentar do pulmão, hemoptise ou sangue pelo tubo endotraqueal. Diferenciar de broncoaspiração – contusão respeita limites de lobos e segmentos. Tratamento: suporte ventilatório, fisioterapia respiratória. Não é recomendado esteroides e antimicrobianos profiláticos. CONTUSÃO CARDÍACA Decorre do impacto sobre o coração, diretamente ou dele em relação ao arcabouço torácico, principalmente o esterno Vão desde a contusão do miocárdio até a ruptura da câmara cardíaca. Lesão mais comum é a transmural – pode manifestar como tamponamento cardíaco. 20 Prova I – Atenção Clínico-Cirúrgica I AVALIAÇÃO RAIO X DE TÓRAX 1º avaliar identificação da radiografia. A: observar coluna de ar na traqueia, se está centrada e se possui algum dispositivo. B: parênquima pulmonar bilateral, observar se está presente até a periferia, se há lesão no parênquima. C: coração e grandes vasos – área cardíaca e mediastino D: diafragma, se está linear bilateralmente ou derrame E: esqueleto F: fios e dispositivos Manifestação clínica: incaracterística – dor torácica e pressão venosa elevada. ECG: arritmias e alterações do segmento ST. Realizar dosagem laboratorial de troponina, que é o marcador mais sensível de injúria miocárdica. Dosagem de CKMB não tem valor, pois está aumentada devido injúria muscular sistêmica pelo impacto do trauma. RUPTURA TRAUMÁTICA DA AORTA Lesão com alta mortalidade imediata devido rápida exsanguinação da vítima. Mecanismo é desaceleração brusca. Hematoma periaórtico é contido temporariamente pela camada adventícia e pela pleura mediastinal resultando em hemomediastino. Mecanismo de trauma, assimetria na pressão arterial dos membros superiores e a contusão da parede torácica Alargamento de mediastino é o achado radiológico mais frequente, mas o mais confiável é a perda da silhueta do botão aórtico. Angiotomografia é o exame padrão-ouro. 10 sinais radiográficos: alargamento mediastino, apagamento botão aórtico, hematoma pleural apical, desvio da traqueia lateralmente, depressão brônquio principal esquerdo, desvio do tubo nasogástrico no esôfago, fraturas de esterno ou escápula, fraturas dos primeiros arcos costais, perda da faixa pleural paravertebral, hemotórax à esquerda e alargamento da faixa paratraqueal. Correção cirúrgica: endovascular com colocação de stent recoberto via artéria femoral ou aberto. RUPTURA DO D IAFRAGMA Pode ser causada por ferimento penetrante (pequena extensão) ou trauma contuso (grandes lacerações do diafragma). Raio X (25-50% casos contusos): vísceras ocas herniadas para o tórax, sonda nasogástrica no hemitórax esquerdo e cúpula frênica elevada com atelectasia do lobo inferior. Raio X e tomografia computadorizada auxiliam no diagnóstico, mas geralmente há necessidade da confirmação por laparoscopia. Tratamento: cirúrgico visto que vísceras abdominais tendem a herniar como resultado da diferença da pressão entre as duas cavidades serosas – risco maior é hérnia estrangulada. LESÃO TRAQUEOBRÔNQUICA Realizado por trauma contuso (região carinal) e ferimento penetrante (segmento cervical). Sinais clínicos: tosse,hemoptise, dor cervical e enfisema subcutâneo. O mecanismo de trauma associado aos achados clínicos e radiológicos específicos (ar peribrônquico, enfisema cervical profundo e colapso pulmonar com ápice ao nível do hilo) são altamente sugestivos da lesão traqueobrônquica. Em pacientes estáveis, a broncoscopia confirma a lesão e espera-se para correção cirúrgica eletiva. Em pacientes descompensados ou instáveis, a indicação cirúrgica deve ser imediata. TRANSF IXANTE DO MEDIAST INO Causados por projéteis de arma de fogo podem atingir o coração, os grandes vasos, a árvore traqueobrônquica ou o esôfago Trajetória do agente penetrante sempre deve ser estudada. Alterações neurológicas periféricas podem decorrer de ferimentos mediastinais quando medula espinhal for acometida. 21 Prova I – Atenção Clínico-Cirúrgica I Trauma de abdome Abdome, pelas suas proporções e pelos órgãos e vasos que abriga, constitui frequente sede de hemorragia abundante. O abdome interno é dividido em: Cavidade peritoneal: fígado, baço, estômago, intestinos delgado e grosso, porção da bexiga, útero, reto, vesícula biliar e baço Cavidade pélvica Espaço retroperitoneal: rins, ureteres, porção da bexiga, porção do duodeno, porção do reto, pâncreas e estruturas vasculares (aorta, veia cava, artérias e veias ilíacas). Lesões abdominais e pélvicas não diagnosticadas são importante causa de morte evitável em pacientes politraumatizado. Lesões abdominais por traumatismos fechados: Por impacto direto: compressão/esmagamento de vísceras sólidas abdominais e pélvicas. Alças de intestino delgado, pâncreas e duodeno retroperitoneal, quando comprimidas pela parede anterior do abdome contra a coluna vertebral, pode apresentar roturas. Por desaceleração: ocorrem nos pontos de fixação de estruturas intra-abdominais com as paredes internas – mesentério do baço e rins. Por compressão: elevação da pressão intra- abdominal pode levar à rotura do diafragma com herniação torácica de órgãos abdominais. 1º baço, 2º fígado, 3º intestino delgado Trauma penetrante Por arma branca: 1º fígado, 2ºintestino delgado, 3º diafragma e 4º colo. Por arma de fogo: 1º intestino delgado, 2º colo, 3º fígado e 4º estruturas vasculares. AVALIAÇÃO IN IC IAL A lesão de órgão parenquimatoso ou de estruturas vasculares apresentará quadro de sangramento e consequente choque hemorrágico. Trauma de abdome é principal causa de choque hipovolêmico. Órgãos ocos podem ser responsáveis por choque em lesões graves, mas geralmente a clínica apresentada decorre da eliminação de conteúdo na cavidade peritoneal – enzimas digestivas, alimentos, fezes, bactérias intestinais, urina ou bile. Clínica: dor abdominal e irritação peritoneal. Lesões de bexiga e vesícula biliar levam a peritonite tardia, pois apresentam conteúdo estéril. As lesões de vísceras ocas podem ser pequenas, com pouca eliminação do conteúdo intracavitário, apresentando peritonite tardiamente. Na inspeção, observar hematomas abdominais, presença da marca do cinto de segurança abdominal, orifícios de entrada e saída em traumas penetrantes. Na palpação, notamos a presença de dor e sinais de peritonite (irritação peritoneal), com descompressão brusca presente. Ao realizar a ausculta, a presença de sopros ou ausência de ruídos gastrointestinais sugere lesões. Quando realizada a percussão, achados iniciais como hipertimpanismo e presença de líquidos podem ser encontrados. Atenção para componentes que alteram validade do exame físico: álcool e outras drogas, TCE, inconsciência, lesão medular e fratura de ossos. MÉTODOS D IAGNÓST ICOS Radiografia convencional tem pouca aplicação em traumas fechados, mas nos casos de arma de fogo pode contribuir na identificação do trajeto do projétil. Radiografia da pelve AP pode ser útil na investigação da origem de sangramento. Indicações: trauma fechado multissistêmico, trauma penetrante por arma de fogo ou branca em região toracoabdominal. A lavagem peritoneal diagnóstica é usada para identificar lesões de vísceras ocas, mas atualmente é pouco utilizada se há acesso a US e TC. Exame é positivo na aspiração imediata de volume igual ou superior a 10mL de sangue ou conteúdo gastrintestinal. Quando não ocorre, procede-se à análise laboratorial de amostra de aspirado pós infusão de solução fisiológica (>100.000 glóbulos vermelhos/mm3 é considerado positivo) Indicações: hipotensão inexplicada, trauma abdominal com diminuição do nível de consciência ou trauma raquimedular. 22 Prova I – Atenção Clínico-Cirúrgica I Desvantagens: falta de especificidade, baixa sensibilidade em lesões diafragmáticas e retroperitoneais, possibilidade de indicar laparotomia desnecessária e é um método invasivo. A ultrassonografia pode detectar líquido livre na cavidade abdominal, bem como diagnosticar lesões abdominais específicas, como as hepáticas, esplênicas e retroperitoneais, ou extra-abdominais. Indicações: hipotensão inexplicada, trauma abdominal com diminuição do nível de consciência ou trauma raquimedular. Desvantagens: dificuldade de realização do exame na presença de enfisema subcutâneo, obesidade ou distensão de alças intestinais A tomografia computadorizada em pacientes hemodinamicamente estáveis proporciona alta sensibilidade para identificação de líquido livre na cavidade intra-abdominal e pneumoperitônio. Contraindicações: indicação óbvia de cirurgia e instabilidade hemodinâmica. Laparoscopia é um procedimento pouco invasivo e que oferece uma perspectiva para o diagnóstico diferencial e o tratamento de diferentes lesões intra-abdominais. Indicações: ferimentos penetrantes nas áreas de transição toracoabdominal e tangenciais (flanco, toracoabdominal e dorso) e, ainda, na comprovação da penetração na cavidade peritoneal. Uma medida que pode auxiliar no diagnóstico do trauma abdominal é a introdução de dedos e sondas em todos os orifícios. A sondagem pode detectar a presença de sangramento, e a avaliação tátil permite avaliar a integridade da mucosa retal e vaginal – sangramento detectado no toque retal ou vaginal, na sonda nasogástrica ou vesical indica presença de lesão a ser confirmada. Os exames contrastados visam descartar lesões de órgãos específicos. Entre eles, os mais realizados no contexto de trauma são a cistografia, para descartar lesões de bexiga, e a uretrocistografia, para descartar lesões de uretra. Lesões de uretra sinais: uretrorragia, próstata não palpável e hematoma de bolsa escrotal. Endoscopia digestiva alta indicada para avaliação de esôfago distal, estomago e duodeno CONDUTA As indicações de cirurgia (laparotomia exploradora) são: peritonite ao exame físico, presença de evisceração, pneumoperitônio, instabilidade hemodinâmica com FAST negativo (descartar outras causas de sangramento restando o retroperitônio), trauma penetrante do abdome por arma de fogo e trauma penetrante do abdome por arma branca que tenha penetrado a cavidade abdominal. Cirurgia de controle de danos está indicada quando há presença da tríade letal: coagulopatia, hipotermia e acidose. Avaliação pré-operatória A consulta pré-operatória deve ser abrangente, contemplando informações gerais sobre a saúde do indivíduo. No entanto, como se trata de contato com um objetivo específico, deve ser focada na detecção de condições que interfiram na morbidade perioperatória. Dados gerais de identificação, história pessoal e familiar de eventos cirúrgicos ou anestésicos, alergias, história de sangramento anormal, possibilidade de gravidez, presença de condições clínicas e uso de medicamentos, FAST (focused assessment sonography for trauma) Positividade baseada na presença de líquido livre intracavitário, e não na identificação
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